BEM-ESTAR ANIMAL NA CADEIA PRODUTIVA BOVINA: DA PROPRIEDADE
RURAL AO ABATE
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APRESENTACAO ORAL-Economia e Gestão no Agronegócio
JULIANA FATIMA DE MORAES HERNANDES; LUCIANE DA SILVA RUBIN;
MATHEUS DHEIN DILL; SUELLEN MOREIRA DE OLIVEIRA; TÂNIA NUNES DA
SILVA.
UFRGS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.
BEM-ESTAR ANIMAL NA CADEIA PRODUTIVA BOVINA: DA
PROPRIEDADE RURAL AO ABATE
ANIMAL WELFARE IN CATTLE PRODUCTION CHAIN: FROM
FARM TO SLAUGHTER
Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio
Resumo:
O bem-estar animal tem sido preocupação crescente entre os consumidores de todo o mundo
que passaram a exigir uma conduta humanitária no tratamento dos animais, no que diz
respeito à produção, transporte e abate. O preço não é mais o único fator determinante na
escolha do consumidor. As novas variáveis e preocupações dos consumidores devem ser
consideradas em todo o processo produtivo da cadeia, a fim de que sejam satisfeitas essas
novas exigências. Desta forma, o presente trabalho tem o objetivo de analisar os diversos
métodos da prática do bem-estar animal na propriedade rural, transporte e frigorífico.
Realizaram-se entrevistas com produtores do Rio Grande do Sul, bem como uma visita
técnica ao Frigorífico Mercosul e à Fazenda Guatambu, onde foram identificadas ações
referentes ao bem-estar animal e melhorias significativas no manejo e criação dos bovinos o
que resultou em agregação de valor ao produto.
Palavras chave: bem-estar animal, qualidade, estratégia.
Abstract:
Animal welfare has been increasing concern among consumers around the world now require
a conduct humanitarian treatment of animals, as regards the production, transport and
slaughter. The price is not the only determining factor in consumer choice and the new
variables and these concerns should be considered throughout the production process chain in
order to meet these new requirements. Thus, this paper aims to examine the various methods
of practice for animal welfare in rural property, transport and in the animals slaughter. There
were interviews with Rio Grande do Sul producers and a technical visit to the Mercosul
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Fridge and the Farm Guatambu, where actions for animal welfare have been identified and
also significant improvements in the management and creation of cattle, adding, by that one,
value to the product.
Key-words: animal welfare, quality, strategy.
1. INTRODUÇÃO
A produção mundial de proteína de origem animal vem crescendo constantemente, ao
mesmo passo que as exigências dos consumidores por produtos que satisfaçam suas
necessidades e desejos. Os países importadores de proteína animal, principalmente os países
com maior capital, em especial a União Européia, seguido pelo Canadá e Estados Unidos da
América, também estão exigindo melhores condições de produção, transportes e abate, a fim
promover o bem-estar animal (ZANELLA, 2007). Assim é de fundamental importância o
entendimento dos benefícios a serem alcançados com a introdução de programas que visam o
bem-estar animal (BEA) na cadeia produtiva bovina, pois os produtores, transportadores e os
frigoríficos poderão usufruir dos melhoramentos deste sistema.
Os benefícios da prática de BEA são mútuos para os integrantes da cadeia da carne
bovina devido à diminuição de perdas na produtividade da pecuária. De acordo com Amaro
(2003), atualmente, é entendido que o BEA exerce impacto direto e indireto na segurança e
qualidade dos alimentos, tendo como exemplo deste fato, o transporte animal, da propriedade
rural ao frigorífico, que, uma vez conduzido segundo práticas de BEA, diminui seus
problemas referentes ao stress animal, hematomas e fraturas, proporcionando ao frigorífico
um produto com qualidade e ainda fortalecendo a imagem de seus produtos. Estes fatores
diminuem problemas referentes a barreiras não-tarifárias comerciais de exportação e
promovem o aumento do markchair da indústria em âmbito nacional e internacional,
estabelecendo vantagem competitiva em relação aos outros mercados concorrentes.
Os benefícios para os consumidores são estabelecidos por meio de um produto com
um novo padrão de qualidade, no qual o requisito é a qualidade de vida do animal. Entende-se
que estas reivindicações quanto ao BEA, por parte do consumidor final, são exigências
intimamente relacionadas às suas preocupações com o animal. Neste contexto o fator preço,
muitas vezes, não é o mais preponderante na escolha do produto a ser comprado. Com isso
emergem novas variáveis que devem ser incorporadas para a análise e reestruturação da
cadeia produtiva, com o intuito de adaptar-se às novas exigências a fim de aumentar ou
manter consumidores.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar os diversos métodos de
BEA na produção dentro da propriedade rural, no transporte e no frigorífico. Foi realizada
uma visita técnica ao Frigorífico Mercosul, localizado na região de Bagé, no Rio Grande do
Sul, onde foram identificadas ações referentes ao tema central deste trabalho. Também
realizou-se uma visita técnica na propriedade Guatambu, localizada na mesma região, a qual
adota práticas de BEA e comercializa seus animais diretamente com o frigorífico Mercosul. O
trabalho contou também com entrevistas a produtores gaúchos a fim de verificar como o tema
de BEA tem sido tratado em suas propriedades.
1.2. REVISÃO DA LITERATURA
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É necessária uma conceituação precisa do termo “bem-estar”, para fins científicos, a
fim de que seja medido ou comparado em diferentes situações de forma objetiva. Broom
(1986) define bem-estar de um indivíduo como o estado em que este se encontra em relação
às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente e o quão bem o indivíduo está passando em
determinada fase de sua vida.
O bem-estar animal está relacionado diretamente com o conforto físico e mental do animal,
sendo possível identificar por meio de análises técnicas, se o animal está sofrendo. Devido à
complexidade do assunto é difícil evidenciar certos desconfortos e conforme Hölzel &
Machado Filho (2004) o animal pode estar em ótimas condições físicas, estar saudável e bem
nutrido, mas com desconforto mental.
Os autores Broom & Johson (1993) definem critérios de avaliação e indicadores do
bem-estar. Os critérios de avaliação seriam medidos por testes de esquiva e preferência, e
demonstrariam o grau em que os animais têm de conviver com situações ou estímulos dos
quais preferem esquivar-se e a disponibilidade para conviver com aquilo que é preferido.
Colocam, ainda, que ao considerar como avaliar o bem-estar de um indivíduo, é necessário
haver um bom conhecimento da biologia do animal para chegar ao conhecimento mais
acertado do grau de bem-estar.
Broom & Molento (2004) verificaram que alguns sinais de bem-estar precário podem
ser evidenciados por mensurações fisiológicas, por meio da observação do aumento de
freqüência cardíaca e da atividade adrenal, por exemplo. Comportamentos anormais, tais
como automutilação e excessiva agressividade, entre outros, bem como doença, ferimento,
dificuldades locomotoras e anormalidades de crescimento, podem indicar que há um baixo
grau de bem-estar.
A prática do bem-estar animal é estabelecida a partir do seu nascimento até o seu
abate, sendo necessárias normas que indiquem como proceder, desde as instalações da
criação, seguidas pela alimentação, manejo adequado, aspectos sanitários, genéticos,
transporte e abate, proporcionando assim, aos animais, melhor qualidade de vida.
O estresse pode ser uma característica importante para avaliar se o animal está em
condições favoráveis em termos do seu bem-estar. Neste contexto Hölzel & Machado Filho
(2004) constatam que o animal em um estado de estresse provoca a liberação de hormônio
prejudicial à qualidade de sua carne. Pode-se citar como exemplo a situação em que aparece
um predador e desencadeia-se o mecanismo “luta e fuga”, sendo que esse mecanismo envolve
o sistema simpático adrenal e a secreção de hormônios tais como: catecolaminas, adrenalina e
noradrenalina (noraepinefrina e epinefrina). O estresse não é uma causa e sim uma
conseqüência do organismo em reação à ameaça do ambiente.
Assim, faz-se necessário estabelecer princípios da prática do bem-estar, a partir da
criação do animal na propriedade rural, que possam ser repassados à toda a cadeia produtiva.
Devido à alta competitividade do setor produtivo bovino, onde a competição é
marcada por meio da diminuição dos custos, a produção intensiva adotada deve resultar em
maior interação entre homem e animal, entendido que o ser humano é responsável pela saúde
dos animais, alimentação, entre outras atuações. Assim, uma interação mal sucedida pode
gerar perdas econômicas, se a realização de tais ações não estiverem de acordo com o BEA.
O manejo dos animais dentro da propriedade é de grande importância para assegurar o
BEA, e essa prática pode promover ganhos diretos e indiretos na produtividade, devido à
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forma cautelosa, tranqüila e rotineira de trabalho que pode estabelecer a docilidade dos
animais e diminuição dos riscos de acidentes (PARANHOS DA COSTA et al., 1998).
Para a efetiva criação dos animais segundo as premissas do bem-estar, os criadores devem
entender e saber diagnosticar os estímulos integrantes entre o animal e o homem, e assim
tomar as devidas medidas visando atender todas as necessidades do animal.
Um manejo inadequado do transporte dos animais, que inicia no embarque e vai até o
desembarque, também pode ser fator gerador de estresse e sofrimento dos animais e de
grandes perdas na qualidade da carne e do couro.
Entre os problemas de manejo inadequado relativo ao transporte, destaca-se a falta de
preparo e de conhecimento dos responsáveis pelo manejo (produtor, peão, motorista),
privações de alimento e água, alta umidade, direção perigosa e densidade de animais.
As longas distâncias percorridas até chegar ao destino, a falta de qualidade das
estradas, o formato e manutenção das carrocerias, a falta de proteções contra o vento, sol e
chuvas, também são fatores que interferem na qualidade do BEA. A mistura de lotes de
animais, sem o tempo necessário de adaptação, é, do mesmo modo, fator predisponente ao
estresse animal, ocasionando brigas e conseqüentemente lesões.
Outro fator importante é a inadequação das rampas, freqüentemente escorregadias,
muito inclinadas e sem grades de proteção laterais (AMARAL, 2008). O veículo de transporte
pode não oferecer segurança adequada, como piso escorregadio ou quebrado ou com
proteções laterais comprometidas. Fatores como estes conduzem a acidentes como contusões
graves, luxações de articulações ou até fraturas dos membros.
O efeito da distância do transporte rodoviário de bovinos no metabolismo post
mortem, foi verificado por Batista de Deus, Silva & Soares (1999). Os autores avaliaram este
efeito por meio da análise de pH, Valor R (IMP/ATP)1 e lactato no músculo, em três
distâncias distintas, entre os municípios Pedro Osório (46Km), Dom Pedrito (240Km) e
Quarai (468 km) até o Frigorífico Extremo Sul S/A, situado no município de Capão do
Leão/RS2. Os principais resultados revelaram que houve diferenças significativas entre a
distância percorrida e o aumento do pH e diminuição do lactato nos músculos dos animais
analisados, após 24 horas post mortem. Para os autores, o estresse causado pela maior
distância de transporte em bovinos está associado ao aumento do tempo de jejum e da redução
da concentração de ácido lático no plasma, nas 24 horas do post mortem. Os autores
recomendam que os frigoríficos busquem animais mais próximos possíveis de sua planta e
intensifiquem o controle sobre o mecanismo: transporte-estresse-jejum, considerando suas
implicações na qualidade final da carne.
O processo de abate de bovinos representa um elevado grau de estresse ao animal.
Desta forma, é oportuno o desenvolvimento de diretrizes que proporcionem ao animal um
menor índice de estresse. Dentre estas diretrizes configuram-se melhorias no deslocamento,
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Razão entre Quantidade de Monofosfato de Inosina (IMP) e Trifosfato de Adenosina (ATP).
No Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), artigo 110, diz
que os bovinos devem permanecer em descanso, jejum e dieta hídrica nos currais, por 24 horas, podendo esse
tempo ser reduzido em função da distância percorrida, pois animais cansados originam carne com menor tempo
de conservação em virtude do desenvolvimento incompleto da acidez muscular e conseqüente invasão precoce da
flora microbiana. Essa carne mostra-se escura e pouco brilhante, devido às alterações fisico-químicas do músculo
e decréscimo da oxigenação da hemoglobina (Batista de Deus, Silva e Soares,1999).
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carregamento ou descarregadas dos animais e separação por grupos sociais, idade e sexo
(BORGES & ALMEIDA, 2008).
Diante dessas considerações, ratifica-se a importância do BEA para o abate. Sob esta
perspectiva Hölzel & Machado Filho (2004) constataram que a liberação de hormônios
durante o estresse gerado no processo de “luta e fuga” diminuem a qualidade da carne.
Não somente na fase do abate mas em todo o processo produtivo é essencial que haja
premissas para diminuir a dor, ferimentos e doença, por meio da proteção animal a fim de
evitar os possíveis sofrimentos. Na fase do abate, segundo Borges & Almeida (2008), são
importantes mecanismos que venham estabelecer uma morte rápida e livre de sofrimentos
prolongados.
Desta forma, é essencial a preocupação, por parte dos profissionais da cadeia produtiva
bovina, com a prática do bem-estar animal, pois além de proporcionar uma diminuição dos
sofrimentos do animal, terá um produto de qualidade e com isto poderá obter um diferencial
competitivo em relação aos produtores que não seguem esta gestão.
Também
poderão
aumentar sua parcela de marketchair em âmbito nacional e internacional, pois conforme
Ferreira e Barcelos (2008), a razão do declínio do consumo de carne bovina está associada à
perspectiva do consumidor sobre a dieta, política de produção sustentável, bem-estar animal e
saúde.
Assim, é importante ressaltar que algum tipo de alteração do estado fisiológico ou
comportamental do animal poderá comprometer o seu bem-estar e prejudicar toda a cadeia
produtiva por meio de desagregação de qualidade da carne ao consumidor final (MOLENTO,
2005).
A fim de definir as normas de bem-estar na fase do abate, foi estabelecido o termo
“abate humanitário” que consiste em um conjugado de diretrizes e normas técnicas que visam
garantir o bem-estar no abatedouro até a etapa da sangria (FILHO& SILVA, 2004).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para atingir o propósito deste trabalho, realizou-se uma pesquisa de caráter qualitativo,
exploratório e descritivo. Conforme Minayo (1998) a pesquisa qualitativa desenvolve-se no
universo das ações humanas, trabalhando com valores, motivos e atitudes envolvidas em um
processo, que não podem ser reduzidas à operacionalização de variáveis estatísticas.
Por sua vez a pesquisa exploratória, de acordo com Vergara (1998), realiza-se quando
há conhecimento do assunto, porém busca-se um aprofundamento. Ainda este autor conceitua
a pesquisa descritiva como sendo utilizada quando já se tem algum conhecimento do assunto e
pretende-se descrever o fenômeno.
Tem-se assim, que estas modalidades de pesquisa são oportunas para avaliar e
interpretar as ações na incorporação do bem-estar animal, não apenas para atender as
exigências de mercado e/ou pelo caráter normativo, mas ainda, porque pode auxiliar na
conscientização de práticas de gestão ética por parte da empresa.
A pesquisa consistiu em três etapas e usou dados primários e secundários. A
primeira etapa consistiu em estudo bibliográfico a fim de procurar explicação para um
problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos” (CERVO & BERVIAN,
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2000, p.65). Nesta primeira parte os dados usados foram secundários, buscados no referencial
teórico disponível sobre o tema.
Na segunda etapa realizou-se uma pesquisa de campo com a finalidade de conseguir
informações ou conhecimento do problema abordado. (LAKATOS & MARCONI, 1996). A
pesquisa de campo foi realizada em duas empresas do estado do Rio Grande do Sul, sendo
uma do setor frigorífico, Frigorífico Mercosul, localizado na cidade de Bagé, e a outra a
empresa rural Guatambu, localizada em Dom Pedrito. Nas duas empresas fez-se uso de
entrevistas para a coleta de dados. As entrevistas foram aplicadas no dia 23 e 24 de outubro de
2008.
A terceira etapa da pesquisa consistiu em entrevistas semi-estruturadas com
proprietários rurais a fim de verificar se as práticas de BEA eram adotadas em suas
propriedades. Realizaram-se quatro entrevistas, sendo dois proprietários da região Sul do
Estado, onde localizam-se o Frigorífico Mercosul e a Fazenda Guatambu, e outros dois de
Canoas e Capela Santana, região da Grande Porto Alegre, capital do Estado.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O frigorífico entrevistado inseriu a prática do BEA devido à exigência de seus clientes
por uma carne de qualidade e pelos benefícios trazidos por esta prática. Esta empresa vem
incentivando os seus fornecedores a usarem esta técnica, desde a criação até a entrega dos
animais ao frigorífico. A empresa tem como critério de pagamento, cálculos de rendimento e
qualidade da carcaça. Assim, o animal que apresentar maior índice de perda de qualidade,
devido a hematomas e lesões, proporcionados por técnicas rudimentares, irá proporcionar
perdas financeiras ao produtor.
Atualmente, o frigorífico vem abatendo em sua planta industrial 600 animais/dia ou
animais/hora, sendo que sua capacidade máxima compreende o total 800 animais/dia. Utiliza
em seus piquetes de descanso, lotação de 2,5m² por animal, cocho com água e, no verão,
oferece aos bovinos duchas diária de água para amenizar o calor, assim como sombra para os
animais.
Já, no aspecto do transporte, é realizada a separação entre 14 a 18 animais no
embarque do caminhão até o frigorífico e os funcionários têm a responsabilidade de agrupálos por idade, produtor, raça e sexo, e posteriormente direcionado o lote com base no critério
de agrupamento descrito anteriormente.
Conforme entrevista concedida por uma estagiária do frigorífico, a empresa
proporciona aos seus funcionários e criadores palestras e treinamentos sobre bem-estar
animal, nas quais os participantes aprendem técnicas para desempenhar suas práticas de
criação dentro dos parâmetros estabelecidos pelo tema.
Uma providência tomada pelo frigorífico foi a substituição de ferramentas de trabalho
que venham proporcionar algum tipo de dor e estresse ao animal, como a inserção de
chocalho ao invés do uso de guinchos, pois o uso deste instrumento desencadeia estresse ao
animal antes do seu abate .
Logo, no processo de abate animal, a empresa vem utilizando o “abate humanitário”
para proporcionar uma morte rápida e sem sofrimento ao animal.
Porém, para que este frigorífico continue a prática do BEA, é essencial que todos os
seus fornecedores utilizem a mesma técnica em sua produção.
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A empresa rural entrevistada, a Fazenda Guatambu, é um dos fornecedores do
frigorífico Mercosul. Esta empresa vem utilizado o BEA devido ao aumento da rentabilidade
econômica, melhora na qualidade da carcaça e para corresponder às exigências do frigorífico.
Atualmente, a Fazenda Guatambu possui um plantel de 8.000 bovinos da raça
Hereford e Braford, e ciclo produtivo completo.
Além disso, a empresa rural tem como uma de suas estratégias a integração da
agricultura com a pecuária e desempenha a inserção de um sistema pastoril intenso,
melhoramento genético, seleção por produção com fator delta G. Em relação aos aspectos de
pastagem, são compostos por consórcios entre várzea, com rotação de 1 a 2 anos; arroz, de 3 a
4 anos; coxilhas, 1 ano; soja ou sorgo, de 4 a 8 anos; e milho, semente de forrageiro e
leguminosa, no período de 2 anos, para posteriormente ser colocado a pastagem para a
pecuária de corte.
Com esta estratégia, a empresa consegue agregar valor nutritivo à pastagem do animal
e do solo, obtendo resultados benéficos para manter sua produção e a qualidade da carne
bovina para a comercialização.
A empresa vem adotando a prática do BEA animal devido a sua capacidade de obter
melhores rendimentos, sendo que o empresário teve o primeiro contato com esta gestão em
eventos da cadeia produtiva da carne bovina e, posteriormente, por meio de uma reunião com
o frigorífico Mercosul.
A empresa adota as técnicas de BEA com seus funcionários, porém uma das maiores
dificuldades encontradas pelos funcionários foi entender que as novas técnicas são mais
eficientes que as ditas tradicionais, passadas ao longo das gerações, e que estas novas técnicas
melhorariam a qualidade da carne, através da diminuição dos acidentes providos do mau
manejo.
Desta forma, a empresa passou por uma série de treinamentos com os funcionários e
mudou alguns aspectos em suas instalações, como o aumento dos bretes para evitar a
superlotação.
Outro ponto que passou por reestruturação foi a inserção de chocalhos para tocar os
animais, também foi introduzido piso antiderrapante no transporte e a separação de animais
por lotes segundo sexo, idade e raça.
Após as mudanças a empresa constatou ganhos significantes no que se refere à
diminuição de acidentes no transporte de animais e ainda o couro apresentou qualidade
superior devido à diminuição de arranhões e cortes.
Os proprietários rurais entrevistados, criadores de bovinos, responderam que adotam
as práticas de bem-estar animal em suas propriedades.
Quanto às melhorias observadas na propriedade desde a adoção destas práticas, foram
citadas:
a) Animais visivelmente mais calmos
b) Facilidade e rapidez de manejo
c) Melhora na carcaça
Diante da interrogativa sobre a iniciativa de adotar as práticas de bem-estar animal foi
unânime a resposta de que foi própria e de que os frigoríficos, aos quais entregam o gado, não
exigiram a adoção destas práticas.
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Quanto ao incentivo dos frigoríficos apenas o entrevistado da região de Canoas revelou não
ter contato com incentivos. Neste aspecto destaca-se a citação dos proprietários de Bagé e
Dom Pedrito, que entregam os animais ao frigorífico Mercosul, de que este frigorífico sempre
os incentivou nas práticas de bem-estar.
Os entrevistados de Capela Santana e Dom Pedrito relataram dificuldades para que as
práticas de BEA sejam aplicadas por seus funcionários, dentre as quais: a) Dificuldade com o
transporte dos animais até o abatedouro, pois as estradas não estão em boas condições;
b) Consciência do profissional que dirige o caminhão de transporte. Um dos entrevistados já
teve animal que chegou sem vida no abatedouro devido ao excesso de velocidade do
motorista do caminhão e, conseqüentemente, aos choques a que os animais estão sujeito
dentro do veículo;
c) Consciência do profissional no campo, que valoriza mais a prática do trabalho do que a
qualidade do trabalho em si. Em uma das propriedades em que o guizo foi trocado por
bandeirinha, o proprietário percebeu que na ponta da bandeirinha havia um pequeno guizo,
que continuava sendo usado para conduzir o gado;
d) Pressa do profissional do campo em conduzir o gado ao caminhão, o que dificulta o
tratamento humanitário com o animal.
Quanto ao treinamento dos funcionários sobre as práticas de BEA os proprietários de
Dom Pedrito e Bagé proporcionaram a um dos funcionários responsáveis pela entrega do
gado ao frigorífico, uma aula oferecida pelo Sindicato Rural de suas regiões sobre o BEA. Os
entrevistados, da região da Grande Porto Alegre, colocaram que não houve treinamento
oficial mas que os proprietários ensinaram e estimulam os funcionários às práticas do BEA.
Dentre as práticas estimuladas foram citadas:
a) Tratar os animais com calma;
b) Não gritar;
c) Dar atenção especial ao rebanho de cria (evita-se manejar um alto número de ventres
prenhes - superlotação - a fim de evitar abortos e perdas reprodutivas;
d) Proibição do uso de guizos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os animais devem ser criados o mais próximo possível de suas características naturais,
proporcionando-lhes equilíbrio e harmonia em seu habitat natural, pois os animais possuem
sentimentos, emoções e preferências. Devem dispor de espaços amplos que permitam sua
movimentação, um abrigo que proporcione conforto térmico, água e alimentação de qualidade
que satisfaçam suas necessidades fisiológicas.
Uma vez que o bem-estar animal, na cadeia de produção de bovinos, contribui para a melhoria
do produto final, o tema em questão tem ocupado espaço de destaque entre as instituições e
empresas, as quais estão cada vez mais interessadas em satisfazer as necessidades e exigências
dos consumidores.
Nas visitas técnicas ao frigorífico Mercosul e à Fazenda Guatambu foram identificadas
ações que permeiam a utilização dos conceitos de bem-estar animal, revelando que ambas
estão adotando a prática do BEA, proporcionando vantagens econômicas e competitivas.
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