ENERGIA E MEIO AMBIENTE: APLICAÇÕES GEOESTATÍSTICAS Vandeir Robson da Silva Matias [email protected] Professor do CEFET-MG Doutor em Geografia pelo IGC/UFMG 1374 Resumo As diversas fontes de energia são elementos importantes e indispensáveis à nossa vida cotidiana, ao desenvolvimento econômico e à melhoria da qualidade de vida da população. Atualmente, cerca de cinco milhões de domicílios do Brasil não possuem energia elétrica. Grande parte desses domicílios pertence às regiões nacionais mais opacas como o Norte e o Nordeste. O problema é complexo, Contudo, a única solução permanente que poderá manter um desenvolvimento sustentável, não durante 20 ou 30 anos, mas durante muitas décadas, é o uso de fontes renováveis de energia. O presente artigo utilizou os recursos da geoestatística para tratar banco de dados sobre a questão energética do Brasil, ou seja, pretende-se conhecer e aplicar técnicas para coleta, tratamento estatístico, representação gráfica e análise espacial de dados energéticos. A partir desses bancos é possível desenvolver projetos para conservação e preservação ambiental a partir da modelagem de sistemas ambientais. Palavras-chaves: Energia; Meio ambiente; Desenvolvimento socioeconômico . ABSTRACT The various energy sources are important and essential to our everyday life, economic development and improved quality of life elements. Currently, about five million households in Brazil do not have electricity. Most of these households belong to more opaque national regions as the North and Northeast. The problem is complex; however, the only permanent solution that can maintain sustainable development, not for 20 or 30 years, but for many decades, is the use of renewable energy sources. This article used the resources of geostatistics to address database on the energy issue in Brazil, we intend to learn and apply techniques for collection, statistical analysis, graphing and spatial analysis of energy data. From these banks can develop projects for environmental conservation and preservation from the modeling of environmental systems. Keywords: Energy; Environment and Socioeconomic; Development Eixo temático: Geografia econômica ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Introdução Podemos dizer que a história da energia inicia-se há cerca de um milhão de anos, quando o homem primitivo, no leste da África, possuía como única fonte de energia disponível aquela oriunda dos alimentos que consumia, já que ainda não se usava o fogo. Essa energia química dos alimentos coletados e ingeridos pelo homem primitivo garantia suas necessidades básicas de sobrevivência, correspondendo a um consumo muito baixo de energia (cerca de 2.000 kcal por dia). De acordo com Goldember (2003): 1375 A conexão energia- meio ambiente tem sido o objeto de muitos estudos e algumas vezes é possível estabelecer uma relação “causa e efeito” entre o uso da energia e os danos ao meio ambiente. Em 400 a.C., por exemplo, Platão lamentou as florestas perdidas, descritas por Homero séculos antes, que haviam coberto as montanhas estéreis da Grécia. Nesse caso particular, foi o uso da madeira, principalmente para a construção de navios e fornalhas usadas para produzir armas, que levou à destruição das antigas florestas gregas. Um exemplo mais recente é a degradação do solo e desertificação que ocorrem em algumas áreas da África, devido ao uso da lenha como combustível. (GOLDEMBERG, 2003, p.21) Há aproximadamente cem mil anos, o homem caçador europeu dispunha de mais alimentos e também obtinha energia térmica resultante da queima da madeira, que era utilizada para o aquecimento e o preparo dos alimentos. O homem primitivo agricultor, no Oriente Médio no ano 5000 a.C., cultivava a terra e utilizava a tração animal para gerar energia mecânica. Já na Idade Média, em 1400, o homem agricultor avançado, no noroeste da Europa, queimava carvão para obter calor e vapor; empregava os animais como meio de transporte e tração; usava o vento para mover barcos a vela, acionar moinhos e quebrar grãos. A partir desse momento, entre o final do século XVI e a segunda metade do século XVII, Galileu Galilei e Isaac Newton estabeleceram os fundamentos da Mecânica. Seus estudos compuseram a base para a compreensão das diversas formas de energia mecânica, como a cinética, a potencial gravitacional e a potencial elástica. No século XIX, na Inglaterra em 1875, o homem industrial já possuía conhecimento mais amplo sobre a energia, utilizando intensamente a energia térmica, resultante da queima de combustíveis fósseis, nas máquinas a vapor. Nos Estados Unidos, em 1970, o homem tecnológico consumia uma energia química proveniente dos alimentos de 230.000 kcal por dia. Na atualidade, as diversas formas de energias descobertas ao longo da história ainda continuam a ser usadas, mas também há o ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 grande interesse em se desenvolver novas fontes energéticas, que sejam mais eficientes e menos danosas ao meio ambiente e à sociedade em geral, gerando-se menos poluição. Podemos citar como exemplos dessas novas fontes energéticas os combustíveis renováveis: biocombustíveis, biogás, biomassa, energia eólica, energia geotérmica, energia hidrelétrica, energia do mar e energia solar. Observa-se que na sociedade atual, também existem aquelas energias que facilitam a comunicação e o acesso às mais variadas informações, como a proveniente de pilhas e baterias portáteis, que tornaram possível o desenvolvimento do telefone celular e do computador portátil. A natureza, sob determinadas circunstâncias, pode fornecer recursos naturais que dão origem a um determinado tipo de energia, como a energia mecânica, elétrica, térmica ou química. As diversas fontes de energia são elementos importantes e indispensáveis à nossa vida cotidiana, ao desenvolvimento econômico e à melhoria da qualidade de vida das pessoas. As fontes de energia podem classificar-se em primárias e secundárias, dependendo da sua origem. A fonte de energia primária, também conhecida como fonte de energia natural, é encontrada ou captada diretamente da natureza, sendo fornecida por ela. As fontes de energia primária são classificadas em renováveis e não renováveis. As energias renováveis são uma infinita fonte geradora mesmo que sejam utilizadas pelo Homem, possuindo a capacidade de se regenerar naturalmente. Elas nunca se esgotam, isto é, são fontes contínuas de energia. Como exemplos de energias renováveis, podemos citar os biocombustíveis, biogás, biomassa, energia eólica, energia geotérmica, energia hidrelétrica, energia do mar e energia solar. As energias não renováveis são os recursos naturais que, quando utillizados, não podem ser repostos pela ação humana ou pela natureza, e as suas quantidades tornam-se cada vez mais reduzidas com o consumo por parte do Homem, ou seja, são esgotadas com o seu uso. Os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) e a energia nuclear são exemplos de energias não renováveis. Já a fonte de energia secundária são aquelas resultantes de um ou mais processos de transformação das fontes primárias. Como exemplos, podemos citar o óleo diesel, óleo combustível, gasolina (automotiva e de aviação), GLP (gás liquefeito de petróleo), querosene (para iluminação e de aviação), gases siderúrgicos (de altoforno e de coqueria), coque de carvão mineral, eletricidade, carvão vegetal, álcool etílico (anidro e hidratado) e alcatrão. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1376 Observa-se que a energia possui um papel importante no desenvolvimento dos países, pois é um dos elementos mais importantes dos sistemas de engenharia, assim como o transporte e a comunicação. Observam-se acessos desiguais aos recursos energéticos assim como estratégias no âmbito empresarial para garantir os recursos e minimizar o seu impacto no meio ambiente. Segundo Hinrichs (2011): A energia permeia todos os setores da sociedade- economia, trabalho, ambiente, relações internacionais, assim como as nossas próprias vidas- moradia, alimentação, saúde, transporte, lazer e muito mais. O uso dos recursos energéticos nos libertou de muitos trabalhos penosos e tornou nossos esforços mais produtivos. (HINRICHS, 2011, p.2). A falta de acesso à energia, especialmente à eletricidade, é um fator chave na perpetuação da pobreza no mundo. Inversamente, o acesso à energia significa mais oportunidade econômica. Na África do Sul, por exemplo, são criados de 10 a 20 novos negócios para cada 100 domicílios eletrificados. A eletricidade liberta o homem de tarefas de sobrevivência diária. Em países pobres em recursos, simplesmente encontrar lenha ou estrume suficiente para aquecer a casa ou cozinhar pode levar horas de cada dia. Objetivo O projeto visa utilizar os recursos da geoestatística para tratar banco de dados sobre a questão energética do Brasil, ou seja, pretende-se conhecer e aplicar técnicas para coleta, tratamento estatístico, representação gráfica e análise espacial de dados energéticos. Muitas das atividades do profissional de geografia são desenvolvidas com o aporte de banco de dados ambientais. A partir desses bancos é possível desenvolver projetos para conservação, preservação ambiental, além de modelagem de sistemas ambientais que, por conseguinte agrega valor a qualidade de vida das mais diversas populações. Utilizarse-á o banco de dados gerado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIBGE e o Balanço Energético Nacional (2013). Pretende-se realizar uma análise exploratória de dados para subsidiar futuros projetos de pesquisa da área ambiental. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1377 Fundamentação teórica As expectativas para o futuro, não muito distante, apontam para a dependência de combustíveis fósseis pelos países industrializados em quantidades que tendem a crescer. O desafio será conseguir aumentar a independência dessas energias não renováveis e substituí-las por energias renováveis, para também diminuir a emissão de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa e outras mudanças climáticas que prejudicam a sociedade e todo o planeta. A preocupação global com o consumo de combustíveis fósseis é tão crescente que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que até 2030, 35% da demanda mundial de combustíveis deve ser suprida com o uso de energias renováveis. A situação é complexa já que a utilização da energia está relacionada á qualidade de vida das pessoas. Atualmente, cerca de cinco milhões de domicílios do Brasil não possuem energia elétrica. Grande parte desses domicílios pertence às regiões nacionais mais ignoradas pelo governo, como o Norte e o Nordeste, com pessoas de classes sociais menos favorecidas e que habitam regiões rurais isoladas. Prover energia elétrica a essas pessoas significa melhorar a qualidade de vida delas e impedir sua saída do campo rumo à cidade, diminuindo o êxodo rural. Em 2008, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN), o consumo energético nacional cresceu 5,2%. E também em 2008 o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional foi de 5,1%. Ou seja, podemos concluir que o crescimento do consumo de energia está diretamente relacionado ao crescimento econômico do país. Na maioria dos países nos quais o consumo de energia comercial per capita está abaixo de uma tonelada equivalente de petróleo (TEP) por ano, as taxas de analfabetismo, mortalidade infantil e fertilidade total são altas, enquanto a expectativa de vida é baixa. Ultrapassar a barreira de 1 TEP/per capita parece ser, portanto, essencial para o desenvolvimento. Na medida em que o consumo de energia comercial per capita aumenta para valores acima de 2 TEP (ou mais), como é o caso dos países desenvolvidos, as condições sociais melhoram consideravelmente. O consumo médio per capita nos países industrializados da União Europeia é de 3.22 TEP/per capita, sendo que a média mundial é de 1.66 TEP/per capita. As reservas brasileiras de combustíveis fósseis não são muito grandes, mas deverão ser capazes de suprir as necessidades nacionais durante 20 a 30 anos. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1378 Decorrido esse período de tempo, o país terá de aumentar drasticamente suas importações de países vizinhos ou do Oriente Médio. No caso da hidroeletricidade, há boas possibilidades de interligar vários países da América Latina, principalmente Argentina e Venezuela, aumentando portando o suprimento nacional. A importação de gás da Bolívia e da Argentina é outra solução que está em execução e poderá ser ampliada. O problema é complexo, Contudo, a única solução permanente que poderá manter um desenvolvimento sustentável, não durante 20 ou 30 anos, mas durante muitas décadas, é o uso de fontes renováveis de energia, como os biocombustíveis, biogás, biomassa, energia eólica, energia geotérmica, energia hidrelétrica, energia do mar e energia solar. De toda a energia renovável utilizada nos dias atuais, 13% a 14% são obtidas a partir da biomassa, representando cerca de 25 milhões de barrir de petróleo por dia. Nos países em desenvolvimento, essa porcentagem é ainda maior, representando cerca de 30% do total. Estima-se, que em alguns países, a biomassa representa 90% ou mais da energia total. Por ser considerado um combustível inferior, a biomassa é raramente incluída em estatísticas energéticas. Este é um grave erro, pois esta deveria ser considerada uma fonte renovável e equivalente aos combustíveis fósseis. As maneiras de obtenção e utilização são variadas. A biomassa pode ser queimada diretamente para produzir eletricidade ou calor, ou pode ser convertida em combustíveis sólidos, gasosos e líquidos por meios de tecnologias de conversão, como a fermentação. Os resíduos industriais, agrícolas e florestais também podem ser usados para este fim. Não resta dúvida de que essa fonte potencial de energia armazenada deve ser cuidadosamente levada em consideração em qualquer discussão sobre o fornecimento de energia nos dias atuais e no futuro uma vez que a produção fotossintética anual da biomassa é cerca de oito vezes maior que a energia total usada no mundo e que essa energia pode ser produzida e usada de forma ambientalmente sustentável, visto que não libera gás carbônico. A partir das progressões constata-se que, no ano 2050, aproximadamente 90% da população mundial estará vivendo em países em desenvolvimento, assim que o cultivo da biomassa para fornecer energia estará muito presente. O uso da biomassa energética, especialmente nas suas formas tradicionais, é difícil de ser quantificado, o que acarreta problemas adicionais e de utilização. As duas principais razões para isso são: A biomassa ser considerada um combustível inferior e dificuldades em medir, quantificar e manusear a biomassa, visto que se trata de uma ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1379 fonte de energia dispersa, e seu uso ineficiente resulta na obtenção de pouca energia útil. Apesar de todos os fatos anteriormente citados, a utilização da biomassa vem permanecendo estável ou apresenta ligeiro crescimento, devido, principalmente, a urbanização e a melhoria dos padrões de vida da população. Conforme os padrões de vida sobem, muitas pessoas nas áreas rurais e urbanas nos países em desenvolvimento passam a usar a biomassa de formas diferentes, como, por exemplo, o uso de carvão vegetal e madeira, em relação aos resíduos e gravetos, o emprego da biomassa na produção de matérias de construção e em casas pré-fabricadas, além de outros usos. Por conseguinte, a urbanização não leva necessariamente a uma substituição da biomassa por combustíveis fósseis. Percebe-se que, cada vez mais, a biomassa vem rompendo as fronteiras de seu uso somente doméstico e reafirmando seu papel como bom combustível, principalmente nas regiões mais humildes. Espera-se que a demanda por biomassa cresça consideravelmente no futuro por várias razões: ° Devido ao grande crescimento demográfico nos países em desenvolvimento, o que demandará mais energia; ° Em decorrência do maior uso nos países industrializados, destacando as questões ambientais; ° O desenvolvimento de tecnologias que permitirão a produção de novos combustíveis e o aperfeiçoamento dos já existentes ou da conversão de biocombustíveis em vetores energéticos mais eficientes, estimulando a forma e a demanda por matéria-prima. Nesse contexto, para considerar programas de produção de bioenergia em larga escala, deve-se levar em conta os seguintes fatores: ° Disponibilidade de terras em curto ou longo prazo; ° Produtividades; ° Espécies e variedades; ° Sustentabilidade ambiental; ° Fatores sociais; ° Viabilidade econômica; ° Benefícios indiretos; ° Desvantagens e problemas decorrentes; ° Modernização das técnicas e utilizações da biomassa. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1380 Sendo assim, muitos desses problemas socioeconômicos se minimizam quando a energia da biomassa é vista como uma forma de obtenção de vários benefícios locais e globais. Agrega-se assim ainda a oportunidade de empreendimentos em longo prazo, para o melhor manejo da terra, com base em boa produtividade, além de um investimento menor de recursos, enquanto se obtém benefícios ambientais e sociais. Metodologia O tema do artigo é complexo, pois envolve uma série de termos contemporâneos e dinâmicos da organização do espaço brasileiro. O método de investigação selecionado será misto, perpassando em alguns momentos pela dedução1, indução2 e análise-síntese. A proposta da pesquisa é utilizar duas correntes teórico-metodológicas. Primeiro, a empírico-analítica, a partir de técnicas de análise de conteúdo, análise de dados secundários, definição de variáveis para tratamento de dados e imparcialidade do pesquisador, (SPÓSITO, 2004). Segundo, a corrente crítico-dialética priorizando a análise do discurso, incorporação de dados contraditórios, análise do conflito de interesses, eleição de categorias e sua aplicação à realidade estudada e estabelecimento de possibilidades de mudanças. Entre os procedimentos utilizados, destaca-se primeiramente a revisão bibliográfica, pois a mesma permitirá resgatar temas como os sistemas energéticos, fontes energia renovável e não renovável balanço energético brasileiro e problemas ambientais. Agrega-se como instrumento metodológico o levantamento dos indicadores recentes do balanço energético do IBGE e do Ministério das Minas e Energia, tratados por técnicas estatísticas e pelo software EstatD+. A metodologia quantitativa é um método para chegar ao conhecimento sobre determinado fato, baseada em quantificação, cálculo, e na mensuração das possibilidades. A pesquisa quantitativa basea-se na experimentação e procupa-se com a validade referente às informações. Faz o uso intensivo de técnicas estatísticas, relacionando as variáveis e verificando o impacto e a validade do experimento. 1 Parte do geral para o particular disponibilizando pressupostos já conhecidos e trazidos como verdades universais. SPÓSITO, E.S. Geografia e Filosofia: Contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004, 219p. 2 Parte do particular para o geral é um exercício do pensamento podendo levar a generalizações. SPÓSITO, E.S. Geografia e Filosofia: Contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004, 219p. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1381 A pesquisa quantitativa nas ciências sociais se iniciou com a filosofia positivista de Auguste Comte, o considerado pai da sociologia. A filosofia positiva de Comte nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. A visão positiva dos fatos abandona a consideração das causas dos fenômenos e pesquisa suas leis, vistas como relações entre fenômenos observáveis. Adotando os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, da comparação e a classificação como métodos, para o conhecimento da realidade social. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, obedecendo a leis gerais. Nascia aí uma forma de pesquisa baseada em dados estatísticos, em regras, que posteriormente se tornou a metodologia quantitativa. É notória a importância dos métodos quantitativos, a utilização de modelos baseados em nestes métodos tem se tornado cada vez mais frequente, decorrente do rápido desenvolvimento da tecnologia da informação e da utilização corriqueira dos microcomputadores e seus programas, essa prática oferece aos usuários informações mais úteis e adequadas. O uso da estatística tem tornado possível à resolução de grande variedade de problemas, nos levando mais próximos da objetividade e, eliminando ou diminuindo, possíveis desvios de interpretação. É tarefa deste método transformar dados em informações, em números testados e comprovados. E com ele, chegamos a resultados universais e de fácil aplicação no meio socioeconômico. RESULTADOS O levantamento de dados ambientais é algo extremamente novo na nossa sociedade haja vista, que a preocupação mais sistemática com meio ambiente começa na década de 70. Ações, pesquisa e tecnologias que tendem minimizar impactos da urbanização e garantir um pouco mais de qualidade ambiental/de vida, para a população são pertinentes uma vez que, o consumo de carros e produtos aumentam gradativamente, incrementando o consumo de energia. Desvendar os dados do balanço energético significa desvendar a dinâmica socioambiental para melhor interagir e planejar o espaço em prol de um desenvolviemnto sustentável. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1382 O petróleo é na atualidade, a fonte energética mais consumida no mundo. A demanda por esse combustível fóssil tende a crescer, enquanto a sua quantidade tende a diminuir rapidamente, uma vez que ele é um recurso não renovável. Assim, possuir autonomia energética é uma das questões chave para o desenvolvimento econômico de qualquer nação. Quanto a essa fonte energética no Brasil observa-se a distribuição da produção no gráfico 1. Gráfico 1- Produção de Petróleo- 2000-2013 Fonte: Balanço energético nacional 2013. Analisando este gráfico, pode-se observar que o estado do Rio de Janeiro é responsável pela maior parte da produção de petróleo dos estados Brasileiros, deixando os outros demais em segundo plano. Tal fato deve-se à concentração de grandes bacias petrolíferas em seu estado, ou em seus arredores e à grande exploração feita por este. Sobre o gás natural gráfico 2 e quadro 1, podemos observar grande destaque dos estados do Amazonas e da Bahia como fornecedores de Gás Natural, diferindo-se assim do gráfico anterior. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1383 Gráfico 2- Produção gás natural 2000-2013 1384 Fonte: Balanço energético nacional 2013 Quadro 1- Estatística descritiva- Gás Natural-Brasil- 2003-2013 Estatísticas. Dados Brutos Tab. Freq. em classes Média 14192946,8 13444160,8 Mediana 10914020,5 9356412,7 Moda - 5640278,0 Primeiro Quartil 880064,8 4711244,3 Amplitude 44593616 - Intervalo interquartil 22447974,4 14864538,7 Desvio médio absoluto 11034281,5 - Variância populacional 195065182176000,0 125529780864768,0 Variância amostral 216739091306752,0 139477534294272,0 Desvio padrão populacional 13966573,7 112040007,4 Desvio padrão amostral 14722061,4 11810060,1 Coef. De variação amost. (%) 103,7 87,8 Assimetria 1,0 0,7 Curtose 0,3 0,2 ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Esse destaque deve-se à concentração de reservas brasileiras de gás natural se situarem principalmente na Região Sudeste (67%), nas Bacias de Campos, Espírito Santo e Santos, próximas dos grandes centros consumidores (São Paulo e Rio de Janeiro) e na Região Norte, que possui uma grande reserva concentrada na Bacia do Rio Solimões, entre os Rios Urucu e Juruá. Já a produção do biodiesel, apresenta melhor distribuição da participação por estado. A liderança está no Rio Grande do Sul, que vem seguido pelos estados de Goiás e Mato Grosso. O destaque dessas regiões está ligado, principalmente, aos investimentos feitos nessas áreas para tal fim e à disponibilidade de recursos para este tipo de geração de energia, gráfico 3. Gráfico 3- Produção de Biodiesel- 2005-2013 Fonte: Balanço energético nacional 2013 O Rio Grande do Sul pode vir a ser referência em padrões mundiais, pois em meados de 2007 se iniciou a produção de Biodiesel, sendo responsável, neste mesmo ano, por 10,61% (42.696 m3/ano) da produção nacional. No final de 2007, o Estado se consagrou como o maior produtor de biodiesel do país ao vender 20% de todo o ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1385 biodiesel negociado em leilões realizados para abastecer o mercado no primeiro semestre de 2008. Além disso, os produtores rurais gaúchos estão ampliando investimentos no cultivo do Biodiesel, fazendo com que, no ano de 2008, o plantio ocupasse uma área maior em relação à safra anterior e assim progressivamente. Isso se traduz na área plantada, que, no ano de 2007, foi de 22 mil hectares e, em 2008, chegou a 30 mil hectares, o que significa um aumento de 36% na área cultivada para tal fim. A soja vem se destacando como a principal matéria prima utilizada no Rio Grande do Sul para a produção de Biodiesel, muito em função do estado ser o terceiro maior produtor de soja no país, e por ter sua cadeia produtiva preparada para atender a demanda de Biodiesel a médio e em curto prazo. Este destaque demonstra que a cultura da soja está extremamente inserida no contexto produtivo gaúcho, devido ao domínio tecnológico da cultura e o reflexo dos bons preços pagos pelo mercado. Assim, observa-se que o Rio Grande do Sul está à frente dos demais estados da Federação, tanto na produção, quanto na comercialização e implementação da cultura do Biodiesel, localizando-se as principais empresas no estado, a Brasil Ecodiesel, em Rosário do Sul, a Granol em Cachoeira do Sul, a OLEOPLAN em Veranópolis e a BSBIOS em Passo Fundo. Juntas, essas empresas possuem uma capacidade instalada para a produção de 432,3 milhões de litros anuais, considerando uma operação de 300 dias/ano em capacidade plena. Considerações finais Durante os anos de 2012 e 2013, desenvolveu-se uma pesquisa sobre a distribuição energética dos estados brasileiros. Com base nos dados e através da metodologia quantitativa, procuramos traçar o perfil energético das principais fontes energéticas brasileiras. Focou-se, dentre os variados tipos de obtenção desta, na Biomassa, e para comparação e melhor análise, utilizamos também dados da obtenção por petróleo, gás natural e biodiesel. O papel que cada tipo desempenha no balanço energético geral brasileiro, a concentração por região de cada um e o motivo desta concentração, são os objetivos de nossa pesquisa. A espacialização da energia no Brasil se apresenta bastante desigual, consequentemente de acordo com o tipo de produção energética o impacto ambiental será específico também. Em relação ao petróleo destaca-se o estado do Rio de Janeiro, já no gás natural destaca-se o Estado do Amazonas. Já o Rio Grande do Sul ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1386 pode vir a ser uma referência dos padrões mundiais de biodiesel. Desde 2007 sua produção avançou e hoje ele responde por 10,61% da produção nacional. Com base em nossa pesquisa, observou-se que às energias renováveis vem tomando nosso mercado. Com características menos poluentes, com maior durabilidade (ou inesgotáveis) e às vezes com preços mais acessíveis, forma-se um combustível para o futuro. Tendo em vista as carências energéticas Brasileiras, espera-se investimentos urgentes nessa área e assim, o suprimento de uma necessidade tão básica ao nosso dia-a-dia. Referências bibliográficas GOLDEMBERG, José. Energia, Meio ambiente & Desenvolvimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. HINRICHS, Roger A. Energia e Meio ambiente. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SPÓSITO, E.S. Geografia e Filosofia: Contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004, 219p. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1387