Terça-feira, 18 de março, 2014 Brasil Econômico 7 Marcos Issa/Bloomberg INFLAÇÃO IGP-10 sobe puxado pelo atacado A inflação medida pelo Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10), em março, ficou em 1,29%, taxa superior ao 0,3% de fevereiro e ao 0,22% de março do ano passado. O indicador acumula taxas de 2,19% no ano e de 6,69% em 12 meses, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). A alta foi puxada pelos preços no atacado, com inflação de 1,65%, ante 0,07% em fevereiro. ABr Ag. Vale PRINCIPAIS DÚVIDAS ■ Qual será o preço teto estipulado pelo governo? ■ Se as geradoras estão vendendo energia a um valor elevado no mercado livre, porque teriam interesse em ofertá-la no certame de abril? ■ A energia será contratada por quantidade ou por disponibilidade? ■ Qual será o prazo de contratação? Hoje as geradoras de energia têm um lucro médio de pouco mais de R$ 800 por cada megawatt/hora comercializado no mercado livre Leilão de energia: pode sobrar para a Petrobras... Térmicas da estatal de petróleo são opção, mas podem causar prejuízo se preço for baixo Mariana Mainenti [email protected] Brasília A Petrobras pode ser a única saída para o governo ter êxito no leilão de energia marcado para dia 25 de abril. Analistas da área consideram improvável que as geradoras de energia, que hoje ganham R$ 822 no mercado livre por megawatt/hora, tenham interesse em abrir mão desse lucro para ofertar o produto a um preço inferior no certame que acontecerá no mês que vem. Na visão de analsitas ouvidos pelo Brasil Econômico, as térmicas da petrolífera terão de ser acionadas para que a estratégia do Executivo seja bem-sucedida. O problema é que, se o preço ficar abaixo de cerca de R$ 400, poderá representar perdas para a Petrobras. “Nossa avaliação é de que o governo terá de recorrer às termelétri- cas disponíveis na Petrobras, porque a energia hoje disponível é das hidrelétricas cujas concessões terminam no ano que vem. Ou seja, nesse prazo que está sendo colocado para os contratos previstos no leilão, de cinco a dez anos, não haverá energia disponível das hidrelétricas”, afirmou o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro. Segundo ele, com a energia sendo vendida a um custo tão alto no mercado livre, o preço teto estipulado pelo governo para o leilão não poderá ser baixo. “Se a energia for comercializada a um preço de R$ 350 a R$ 400 já estará havendo um ganho não desprezível para as distribuidoras”, considerou. Na visão do Gesel-UFRJ, é importante que essa energia seja ofertada por quantidade e não por disponibilidade. “Isso ajudaria a Petrobras a fazer o seu planejamento energético”, apontou Castro. O preço-teto do próximo leilão teria que ser muito alto para atrair as geradoras, que hoje realizam lucros maiores no mercado livre de energia elétrica O cálculo do preço-teto está demandando um esforço conjunto do Ministério das Minas e Energia (MME), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPL). Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires, o governo terá de ficar muito atento à questão. “O preço-teto teria de ser muito elevado para que as geradoras tivessem vontade de vender energia no leilão. A única saída que cabe ao Executivo é a Petrobras, que está ofertando 2 mil megawatts no mercado livre. Como a necessidade descoberta do setor elétrico é de 3.500 megawatts, mais da metade do problema já estaria resolvido se a petrolífera participasse do leilão. Mas, se o preço ficar abaixo de R$ 400, a Petrobras vai perder dinheiro”, afirmou. Fernando Villella, sócio do setor regulatório do Siqueira Castro Advogados, acredita que o modelo de leilão A-0, por contar somente com a participação de empreendimentos já incluídos, limita as possibilidades de oferta. “O governo quer reduzir o preço da energia, mas o leilão ocorrido no ano passado não foi bem sucedido e agora precisará tornar o certame atraente”, afirmou. Segundo Simone Paschoal Nogueira, sócia do setor ambiental do mesmo escritório, também não haveria margem para o governo acelerar licenciamentos para incluir mais projetos no leilão. “A maioria dos empreendimentos novos estão ainda em fase de licença previa ou instalação. E as licenças também passam pela avaliação dos governos estaduais”, lembrou. Em relatório elaborado pelo analista Lenon Borges, a Ativa Corretora apontou que o governo não deixou clara essa questão de como irá funcionar o certame e apontou dúvidas sobre a participação das empresas. “Acreditamos que os grandes geradores com energia descontratada, como Cemig, Copel e Cesp, dificilmente participarão do leilão, já que seus contratos terminam em meados de 2015 e, por enquanto, vale mais a pena continuar despachando no spot”, avaliou o analista da Ativa.