I Congresso Internacional de Estudos do Discurso
A OPINIÃO NA REPRESENTAÇÃO DO PAPEL DA MULHER
EM CRÔNICA DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
Siomara Ferrite Pereira Pacheco (FMU/SP)
 Área:
Análise Crítica do Discurso (vertente
sociocognitiva).
 Tema: A representação do papel da mulher na crônica
de Chico Buarque, dos anos 1960 aos anos 1980
 Objetivos
 Geral: contribuir com os estudos sobre o discurso e a
representação social em textos da música popular
brasileira, consideradas, neste trabalho, crônicas
 Específico:examinar o contexto de linguagem do texto
selecionado; verificar como a seleção lexical orienta a
leitura, ativando modelos de representação dos papéis
da mulher na sociedade.
 JUSTIFICATIVA
Justifica-se a pesquisa na medida em que o texto em
análise foi produzido na época em que o Brasil
encontrava-se em regime de ditadura e, por isso, o
locutor oculta-se por meio da linguagem, utilizando-se
dos recursos linguísticos para expressar seu ponto de
vista, o qual se opõe ao(s) marco(s) de cognição
social(is).
 BASE TEÓRICA:
 Análise Crítica do Discurso na interrelação das
categorias Discurso, Cognição e Sociedade (v. Dijk,
1997) , além da noção de contextos de linguagem,
da sociedade e das cognições – (v. Dijk, 2011 e 2012)
 As noções de crônica, cultura e ideologia
(Silveira,2000; 2009)
 O conceito de gênero de Cháneton (2009)
 Discurso : práticas sociais .
 Sociedade: conjunto de grupos sociais, os quais se
constituem pela afinidade de objetivos, interesses e
atitudes.
 Cognição: conjunto de crenças, conhecimentos,
atitudes, normas, valores, ideologias , ou seja, de
modelos
(mentais) tanto sociais quanto
individuais.
TEORIA DOS CONTEXTOS
Van Dijk (2012) propõe uma teoria, considerando:
 Contexto de linguagem que decorre do uso efetivo da
variedade e variação da língua.
 Contexto cognitivo: as formas de conhecimento que são
ativadas no momento da interação – o que a pessoa faz
como inferência e processa para Memória de Trabalho a
informação. Pela relevância, ativa as inferências e constrói
o contexto.
 Contexto social = modelos sociais e individuais
 Contexto discursivo: contexto global. (participantes,
funções e ações)
GÊNERO (SOCIAL)
Segundo Cháneton, a hegemonia do gênero é ontologicamente
sexuada e está submetida à força reguladora heterossexual
dominante, que tem por base a oposição homem VS. mulher. E,
no contexto capitalista da organização social, masculino vs.
feminino
equivale
a
“público/masculino/produtivo¨vs
privado/feminino/reprodutivo”
CULTURA E IDEOLOGIA
De acordo com Silveira (2009), a cultura se define por um
conjunto de conhecimentos que também são representações
valorativas. Estas são transmitidas de pai para filho em sociedade
e não objetivam discriminação. A ideologia, ao contrário, é
composta de valores discriminatórios e imposta pelo Poder. Toda
ideologia nasce da cultura.
CRÔNICA
As crônicas, textos narrativos do cotidiano, instaurados
como textos do tipo opinativo, expressam em língua os
valores culturais e ideológicos presentes na formação
discursiva do locutor, guiando a orientação de leitura do
leitor.
São tanto do cotidiano quanto de notícia e situam-se no
Folhetim. No Brasil, esse tipo de texto circula em jornais,
por exemplo, que têm acesso a um público popular.
Chico Buarque não tem acesso ao público popular, mas sua
temática é o cotidiano dele.
Segundo Silveira (1999), na crônica há sempre polaridade,
e, nesse sentido, há unidades que se agrupam por axiomas
enunciativos, sendo que num polo está situado um pontode-vista que caracteriza a identidade cultural de um grupo
e no outro, o ponto-de-vista do cronista, que dialoga com
as cognições sociais.
Dessa forma, opinar implica construir uma circunstância
para os conhecimentos sociais, ou seja, representações
mentais contidas no marco de cognições sociais.
Cada grupo representa os fatos do mundo a partir de um
ponto de vista que é projetado para focalizar algo no
mundo a partir de interesses, objetivos e propósitos.
Valsinha
Chico Buarque/Vinícius de Moraes - 1970
Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre
chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre
costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de
sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto,
convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo
não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a
guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há
muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça
e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda
despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos
como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Os resultados são parciais e estes indicam que as relevâncias
no texto produzem estranhamentos que se resolvem na
relação entre os contextos. Tais resultados indicam, ainda,
que o contexto discursivo é orientado pelos outros
contextos. . Conclui-se que o contexto de linguagem favorece
a manifestação do ponto de vista do cronista, que avalia
negativamente o que é considerado positivo pelo marco de
cognição da sociedade machista – a condição de mulher
submissa, restrita ao espaço privado do lar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CHÁNETON, July. Gênero, poder y discursos sociales. 1 ed. 1
reimpr.Buenos Aires-Argentina, 2009.
SILVEIRA, Regina Célia Pagliuchi. “Marcos de Cognições Sociais e a
Construção Opinativa: a crônica brasileira”. Ensino de Português
para Estrangeiros-Ciclo de Palestras. Org. Nurimar Judice. Niteroi/RJ
Ed. da UFF, 2000.
_________________________ “Um outro olhar para as narrativas
de história: o suspense e o risível” IN CORRÊA, Lêda Pires;
BEZERRA, Antônio Ponciano; CARDOSO, Denise Porto (orgs.). O
texto em perspectiva. Aracaju-SE: Editora da Universidade Federal
de Sergipe, 2009.
Van Dijk, Teun. A. (1987).“El discurso y La reproduccion Del
racismo”. Racismo y analise de los médios. Trad. Esp. Paidós.
Barcerlona, 1997.
Sociedad y discurso: cómo influyen los contextos sociales sobre el
texto y la conversación. Gedisa Editorial, 2011.
________________ Discurso e Contexto: uma abordagem
sociocognitiva. São Paulo: Contexto, 2012.
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