ESCOLA, FAMÍLIA E SOCIEDADE: DIFERENTES ESPAÇOS NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ASSIS, Graciano Júnio de - FURG [email protected] DE LIMA, Edenilson Ernesto - FURG [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho tem por objetivo realizar uma breve reflexão sobre a importância da escola, da família e da sociedade no processo de construção da cidadania. Para tal, optou-se por uma pesquisa bibliográfica, a qual contou com a colaboração de Marshall (1967), Alencar (1993) e Carvalho (2008). Abordaremos aqui como diferentes espaços constituem-se como meio de se alcançar a formação de um cidadão ativo, participativo, que coopera e influencia diretamente na decisão da sociedade no qual está inserido. Como diferentes espaços dessa conquista, citaremos a família, a escola e a sociedade. A família faz parte do primeiro contato do ser humano com o mundo que ele agora faz parte. Sendo assim, nos relacionamos durante toda a nossa vida com conhecimentos adquiridos na infância, na primeira etapa da vida advindos da família. Esses conhecimentos, essas experiências, além de refletirem nossa personalidade, influenciarão também no processo de desenvolvimento da cidadania. A escola tem um papel extremamente importante nesse processo, pois é um espaço institucionalizado de ensino. Não podemos esquecer que, para que ela desempenhe com êxito sua função, faz-se necessário a participação da família e da sociedade. Seus interesses não devem se conflitar, pois a união de forcas é necessária para que as dificuldades sejam superadas, através da educação. A sociedade, como sendo o outro espaço de educação não institucionalizado, contribui na formação de caráter do individuo através do aprendizado, seja com os amigos, com os colegas, com as pessoas significativas do meio habitado, do cotidiano. A união desses eixos educacionais – institucionalizados ou não – contribuem e influenciam diretamente na educação e na formação do cidadão. Palavras-chave: Educação. Família. Sociedade. Cidadão. Escola. Introdução Neste texto discutiremos brevemente como a Educação, nos mais variados espaços de convivência, influencia (ou não) na sua formação do sujeito e na construção da cidadania. 13109 Abordaremos o papel da Educação nesse processo, não esquecendo que ela não é a única responsável pela conquista da cidadania, mas um dos pilares centrais. Sendo assim, a Educação e a escola devem representar "espaços privilegiados" para o aluno, dentro da pluralidade de idéias e da vivência de diferentes concepções pedagógicas, para ter suas concepções de forma crítica, responsável, autônoma. Nesse contexto e nesse tempo, entendemos que a escola precisa, urgentemente, se transformar em espaço que oportunize ao aluno se desenvolver como um cidadão reflexivo, analítico, capaz de viver e de conviver, desenvolver-se, continuar aprendendo, agir, interagir e ser feliz. O que mobiliza e deve dar vida a essa escola deve ser o do professor aberto ao convívio, permeável às mudanças, evoluções e interações: o professor deve ser o autor da ruptura da relação de dominação professor/aluno. O professor não pode mais ser só o "sujeito que ensina", porque os alunos não são mais apenas os "sujeitos que aprendem". Ensinar/aprender é uma ação continuada e compartilhada entre professores e alunos. A essência do ato de aprender está no diálogo, do entendimento dos diferentes pontos de vista e compreensão dos alunos. Freire (1970) afirma que: Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca da, idéias a serem consumidas pelos permutantes ( p. 45). O diálogo adotado como cerne do ato educacional pode fazer com que se consiga, na prática, cidadãos críticos e dialogantes. Esse diálogo desenvolvido nas mais tenras fases contribui na construção permanente do cidadão. Ressaltamos ainda que o contexto de cidadania empregado ao longo desse texto tem como referencial teórico as definições adotadas por Marshall (1967) e Carvalho (2008). Sendo assim, destacaremos a seguir as contribuições tais autores a respeito do assunto. Conceito de cidadania: direitos dos cidadãos. Para que discutamos sobre cidadania, se faz necessário que a entendamos. Aqui a conceituaremos na visão de Marshall (1967) e Carvalho (1998). A história da cidadania mostra bem como esse valor encontra-se em permanente construção. A cidadania constrói-se 13110 e conquista-se. Para tal, o exercício da cidadania plena pressupõe ter direitos básicos, segundo Carvalho (2008). Ao analisar a sociedade Inglesa, Marshall (1967) “[...] divide a conquista do status de cidadania em três aspectos, a conquista dos direitos civis, os políticos e por fim os sociais” (Martins, 2010). Mas Carvalho (2008) ressalta que, esse modelo adotado por Marshall referese ao padrão inglês, e que “o percurso inglês foi apenas um entre outros. [...] cada país seguiu seu próprio caminho. O Brasil não é exceção” (p.11). Segundo Martins (2010), para ser considerado um cidadão pleno, o sujeito tem que exercer plenamente os três direitos acima citados. Caso isso não ocorra, podemos ter o cidadão – aquele que possui apenas alguns deles – ou ainda o não-cidadão, que é aquele que não possui nenhum dos três direitos. Carvalho (2008) ressalta ainda que, os direitos civis “são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei” (p. 9). Os direitos políticos “se referem à participação do cidadão no governo da sociedade” (Ib. Idem.). Por fim, salienta que, “[...] os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria” (Carvalho, p.10). Evolução histórica da escola frente à construção da cidadania no Brasil. Para falar da construção histórica da cidadania temos que traçar uma linha do tempo sobre a história da educação do Brasil. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, a educação brasileira sofreu uma nova ruptura. Neste período foram abertas academias militares, escola de medicina e escola de direito, bibliotecas e o jardim botânico. Nesta época, a escola só atendia a determinada classe social e não estava preocupada com a formação de todos os cidadãos. Segundo Ribeiro (1995, p. 33), “do ponto de vista educacional, a orientação adotada na administração de Pombal foi de formar o perfeito nobre, agora negociante”. Com a saída da família real do Brasil em 1889, é proclamada a República. Dois anos depois é promulgada a Primeira Constituição do período republicano, que prioriza o ensino laico em oposição ao ensino religioso no país que perdurou durante todo período colonial. Assim o país entra no século XX realizando diversas reformas educacionais, onde cada estado do Brasil passou a elaborar a sua, de acordo com as necessidades locais. Estas reformas 13111 tentam reconduzir a educação para novos métodos de ensino e assim fazer com que as pessoas alcancem a cidadania. Em 1930, Getúlio Vargas assumiu o governo e dissolveu o congresso. Este período ficou conhecido como o período da Segunda República, quando a prioridade passa a ser a mão de obra especializada. Neste mesmo ano é criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, e no ano seguinte ele passa a organizar através do decreto lei 19.850, o ensino secundário e universitário. Depois de governar durante quatros anos Getúlio Vargas promulga a terceira Constituição brasileira em 1934, onde pela primeira vez o ensino público passa a ser direito de todos, que ficaria a cargo do governo e da família assinalando assim uma preocupação, ainda que superficial, com a cidadania. Em 1937, há uma nova ruptura na historia da educação que levaria a cidadania ficar mais distante do povo, ou seja, há um retrocesso, pois, a Constituição redigida por Francisco Campos, retirava do texto o seguinte: “a educação é direito de todos e dever do governo”, neste momento a cidadania mais uma vez é retirada do povo só que legalmente. Neste mesmo ano (1937) nasce a UNE (União Nacional dos Estudantes) que passou a lutar pela educação como forma de criar cidadania e identidade do povo. Só em 1945, que a educação brasileira passou por reformas significativas; quando os militares, através de um golpe, destituíram Vargas, criando assim a nova república. A nova redemocratização cria uma nova Constituição em 1946, promulgada por Eurico Gaspar Dutra. Nesta nova constituição volta o texto retirado anteriormente. No ano de 1948 inicia a aprovação da LDB (porém aprovada 13 anos depois, em 1961); em 1951, Getúlio Vargas volta ao poder. Neste mandato deu-se inicio à discussão sobre (escola classe e escola parque), foi neste período que as idéias de Jean Piaget assumiram as bancas escolares. Em 1953, foi “criado” também o MEC (Ministério da Educação e Cultura). Na verdade, o a educação era atrelado ao Ministério da Saúde, mas essa vinculação foi desfeita pela Lei n.° 1.920, de 25 de julho de 1953. Em 1956, JK (Juscelino Kubitschek) assume. Neste momento houve um crescimento econômico, mas no seu plano de metas para o governo, a educação, como forma de cidadania, não está priorizada o foco era formação técnica. A falta de incentivo com a educação trouxe revolta popular dos educadores brasileiros. A cidadania, que tem seu berço na educação, estava ameaçada. O papel da escola pública é de crucial importância na educação para a cidadania: é que a escola pública, por definição, acolhe todos, é parte integrante da vida da cidadania democrática. Nesta época, mais de 189 educadores publicaram um manifesto que 13112 ficou conhecido como “manifesto dos pioneiros da educação nova”, exigindo que a educação pública, obrigatória, laica e gratuita fosse dever do Estado. Os educadores estavam comprometidos em garantir o direito ao ensino público para todos, para formar, assim, uma identidade de cidadania no povo brasileiro. Neste período surgem os defensores da escola privada, argumentando que tipo de ensino as famílias queriam para seus filhos, esta discussão perdurou até a promulgação da LDB em 1961 – Lei 4.024 de 20/10/1961 – mas as regulamentações foram desconsideradas, e os educadores da “educação nova” criticavam os incentivos dados as escolas particulares, e a pouca atenção a rede oficial de ensino. Vale ressaltar que o objetivo de se criar escola privada deve-se ao fato do ideal de melhorias na educação. Com esse pretexto, iniciou-se uma série de processos desenfreados de privatizações. Essas ações tiveram contaram a seu favor com o abandono da educação pelo Estado, consequentemente, o abandono da cidadania. Nesta época na cidade do Recife-PE, criou-se um movimento popular de cultura que tinha como alvo a alfabetização de jovens e adultos. Este movimento tomou conta do país, realizando a inclusão do cidadão. Este movimento tinha a frente um jovem educador chamado Paulo Freire. Foi também elaborado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização. Mas este caráter de redemocratização educacional seria sufocado através do golpe militar em 1964, sobre o pretexto que as propostas eram agitadoras, e com isto mais uma vez, a cidadania encontrava-se atada, pois neste período ela passou a não ter mais voz. A cidadania nos diferentes espaços A Escola e a Cidadania A escola é um lugar institucional de educação para a cidadania, de uma importância cívica fundamental, não como uma antecâmara para a vida em sociedade mais constituindo os primeiros degraus de uma caminhada que a família e a comunidade se enquadram. Deve proporcionar a «cultura do outro» como «necessidade de compreensão de singularidades e diferenças», a responsabilidade pessoal e comunitária, o conhecimento rigoroso e metódico da vida e das coisas e a compreensão de culturas, de nações, do mundo. A escola fornece um horizonte mais amplo no qual a criança ou o jovem inscrevem as suas vidas. 13113 A escola, agente de mudança e fator de desenvolvimento tem que se assumir basicamente não só como um potencializador de recursos, mas também como um lugar de abertura e de solidariedade, de justiça e de responsabilização mútua, de tolerância e respeito, de sabedoria e de conhecimento. O papel da escola pública é de crucial importância na educação para a cidadania: é que a escola pública, por definição, acolhe todos, é parte integrante da vida da cidade democrática. Grande parte da nossa educação falha porque esquece o princípio fundamental da escola como modo de vida comunitária. Sarmento (2006) corrobora estas idéias afirmando ser a escola o primeiro pilar da socialização pública das crianças e a importância da construção da experiência escolar pelos próprios atores sociais como importante fator de aprendizagem da cidadania. Simultaneamente há que sublinhar, numa perspectiva de educação e formação ao longo da vida, a importância estratégica da educação não-escolar, da educação não-formal, da educação de adultos, especificando a importância educativa de instituições não escolares tais como os meios de comunicação, a publicidade, as redes sociais, o bairro, as igrejas, os grupos e associações de moradores. Marshall (1967, p.73) afirma que “O direito á educação é um direito social de cidadania genuíno porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva”. Com essa fala, Marshall deixa bem claro que, o adulto que se almeja no futuro, começa a ser moldado, “fabricado” na infância e que nesse sentido, a escola tem um papel crucial. Quando o Estado assume, garante a educação das crianças, “Está tentando estimular o desenvolvimento de cidadãos em formação” (Marshall, 1967, p.73). Esse deveria realmente ser o papel da educação: formar cidadãos. A escola deve proporcionar às novas gerações aquilo a que Polakow (1993) chama “um sentido de lugar”. E acrescenta: [...] um lugar é mais do que a soma das suas rotinas, regras, horários, resultados de avaliação […] um lugar onde as crianças e os jovens sintam que são importantes, não instrumentalmente, porque estão presentes e fazem parte de um número determinado, mas existencialmente, porque se trata de uma paisagem em que elas têm significado e um sentido de pertença (POLAKOW, 1993, p. 159). Contudo, variados espaços contribuem para a construção e aperfeiçoamento da cidadania. Todas as experiências, os fatos vivenciados, colaboram de alguma forma para esse crescimento, essa evolução como homem e como cidadão. 13114 A Família e Cidadania A família é o primeiro espaço de afeto, de segurança e de alteridade. Daí constituir-se num primeiro espaço de educação para a cidadania, pois é a instância matriz da socialização na vida das crianças. Tomamos aqui família num sentido muito amplo, podendo assumir as formas mais diversas: famílias tradicionais, famílias mono parentais, famílias de acolhimento. O importante é que a família seja exemplo de participação na vida social, de atenção ao que a cerca, de abertura e solidariedade. No entanto, as famílias podem também ser lugares problemáticos, de exploração e de vitimização. Os jornais inundam-nos diariamente com notícias a esse respeito, ultrapassando classes sociais e condições socioeconômicas. Encontramos também famílias fechadas sobre si mesmas, isoladas socialmente, que não têm condições para se tornar espaços de cidadania. A participação familiar no processo de construção da cidadania torna-se imprescindível quando entendemos que é nela que a criança tem o primeiro contato com o mundo. As relações que o bebê constrói desde esses primeiros instantes o acompanharam pelo resto da vida. Ana Bock (1999 p.108) afirma que “as crianças, desde o nascimento, estão em constante interação com os adultos [...]” e que “[...] à medida que a criança cresce, os processos acabam por serem executados dentro das próprias crianças – intrapsíquicos”. Sendo assim, esses processos influenciam diretamente na formação da criança enquanto ser humano, consequentemente, exerce influências na formação do cidadão. A Sociedade, a escola e a família no processo de construção da cidadania A família e a comunidade lançam visão e cobranças à escola. Mas a escola não é a exclusiva instância de formação de cidadania. Aperfeiçoar cidadãos supõe instituições onde se possa resgatar a subjetividade inter-relacionada com a grandeza social do ser humano, em que a produção e diálogo do conhecimento ocorram através de práticas participativas (sociedade, escola, família) e criadoras, inovadoras. Trata-se de uma instituição da sociedade na qual a criança atua efetivamente como sujeito particular e social. É um lugar concreto e principal para a formação de significados e para construção da cidadania: na medida em que aprove a aprendizagem de informação crítica 13115 e criativa, colabora para formar cidadãos que operem na junta entre Estado e a comunidade civil. A sociedade colabora e muito na constituição do sujeito em formação. Esta aliada aos outros dois fatores citados anteriormente – escola e família – podem formar, ou não, base para construção da cidadania. Sendo assim, elas podem incluir, mas também excluir seus participantes do processo de desenvolvimento integral. Segundo Alencar (1993) a produção do fracasso escolar advém de comprometimentos na estrutura da família e da escola e do próprio sistema político e econômico de nossa sociedade. Fracassando-se a educação, podemos interpretar que se dificulta, pra dizer que se fracassa também, o processo de construção da cidadania. Tornam-se praticamente impossível dicotomizar esses três pilares do processo educacional, pois entendendo o sujeito como aluno, filho e cidadão em formação ao mesmo tempo, a tarefa de ensinar não cabe somente à escola, até porque aprendemos também em outros espaços não institucionalizados de ensino. Nesse processo a sociedade e a família contribuem juntas com a escola. Os valores do mundo social (sociedade, família, escola) onde a criança está inserida auxiliam na definição desse mundo e servem de modelos para suas atitudes e comportamentos. Forma-se sua personalidade, seu desenvolvimento pessoal e intelectual, consequentemente reflete no perfil de cidadão que virá a ser. O ambiente familiar é o ponto primário da relação direta com seus membros, onde a criança cresce, atua, desenvolve e expõe seus sentimentos, experimenta as primeiras recompensas e punições, a primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos de comportamentos – que vão se inscrevendo no interior dela e configurando seu mundo interior. Isto contribui para a formação de uma “base de personalidade”, além de funcionar como fator determinante no desenvolvimento da consciência, sujeita a influências subseqüentes (DE SOUZA & JOSÉ FILHO, 2008). É trabalho principal tanto dos pais, como também da escola o trabalho de modificar a criança imatura e ingênua em cidadão amadurecido e participativo, influente, consciencioso de seus deveres e direitos. E que este ser em desenvolvimento seja em tempo futuro um homem consciente, crítico e autônomo expandindo valores éticos, espírito arrojado capaz de interatuar no meio em que habita. 13116 A cidadania esteve e está em permanente construção, sendo assim, não pode ser abandonada nem tampouco colocada a cargo de apenas uma esfera social. A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998, p.14). A constante integração entre a família, a escola, a sociedade e o ser em formação, constitui como elemento fundamental e indispensável. Sendo a convivência do ser humano em sociedade e família, torna-se essencial a participação dessas esferas no processo constituidor da cidadania. A escola no processo de construção da cidadania: o papel da educação Ao citarmos o termo “cidadão” devemos ter em mente quais são os direitos que estes podem possuir. Devemos também compreender que, para se tornar um cidadão pleno, faz-se necessário o gozo de todos esses direitos; mas que a falta de algum(s) deles, não o desqualifica totalmente, porem a falta de todos eles sim. Para isso, vamos nos valer da visão de Marshall (1967) e Carvalho (2008) acerca do assunto. Percebe-se que, para participar ativamente “da” e “na” sociedade, para tornar-se um cidadão pleno, a educação tem um papel fundamental. Sendo a educação, na visão de Marshall (1967) e Carvalho (2008), definida nos direitos sociais, faz-se necessário que a sociedade se auto-organize para que, através da educação, se conquistem outros direitos sociais básicos. Essa auto-organização está diretamente ligada à participação social coletiva na constituição do Estado. Essa constante luta pelos direitos leva à construção de uma identidade cada vez mais forte, uma particularidade que cada nação constrói, o que fatalmente a diferenciará das demais. Uma nação não terá o mesmo tipo de cidadão de outra nação. Alguns outros fatores como a história, a política, a religião e a cultura são determinantes na constituição do cidadão. [...] a construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e com a nação. As pessoas se tornavam cidadãs à medida que passavam a se sentir 13117 parte de uma nação e de um Estado. [...]. A maneira como se formam os Estadosnação condiciona assim a construção da cidadania (CARVALHO, 2008, p.12). A educação deve contribuir para que se forme a consciência sobre o papel do cidadão, sua função dentro da sociedade e como suas contribuições são significantes para a vida dessa sociedade. A independência de uma sociedade depende muito da consciência do cidadão sobre a sua tarefa desempenhada. Mas para essa conscientização, faz-se necessário que os educadores estejam engajados no processo para que se cumpra seu papel social e contribuição na formação do cidadão. A educação teórica, aquela praticada em sala de aula deve estar em conexão com a prática social. [...] na escola, a cidadania, enquanto aprendizagem e exercício social afetivo, precisa se referir, por exemplo, não somente ao acesso a diversas formas de conhecimento, mas também a uma prática social de respeito, de igualdade, de dignidade e de participação (GARCIA, 2008, p.70). Sendo a educação um processo de humanização que perdura por toda a vida e se constitui em vários espaços, estamos em constante construção de cidadania. Sempre nos educamos, consequentemente sempre nos constituímos como cidadãos. Conclusão Portanto, ser um cidadão é está inserido nos contextos vivenciado neste ensaio; é poder agir e interagir com a sociedade, extraindo dela e contribuindo para ela com toda potencialidade conveniente a um cidadão; é ser respeitado e respeitar, é falar e ser ouvido, é questionar, é participar dos atos públicos com autonomia. Ser cidadão é poder ir e vir sem restrições, ser cidadão e ter o direito a um ensino de qualidade, é ter um lar, é poder ter um trabalho digno que o remunere com equidade. E é dentro do seio familiar, da escola e da sociedade ao qual está inserido que o cidadão forma e toma consciência de seus direitos e deveres. Entretanto vemos que em todos os tempos em que se fez a historia da educação no Brasil, a cidadania esteve sempre à margem, pois na sociedade em que o governo usa a escola 13118 para ser instrumento de continuidade e perpetuação dos seus privilégios, onde o ter é maior que o ser. O cidadão que a sociedade tanto deseja, que tanto espera, começa a ser formado, a ser “moldado” logo nos primeiros dias de vida, e continua sendo formado por toda a vida. Logo, não se pode pensar em construção de cidadania a partir de um determinado período de vida de um sujeito. Todas essas questões devem ser pensadas e colocadas em práticas para que, consigamos uma sociedade mais ativa. Temos que viver em luta continuada pela cidadania plena fazendo com que a educação – mas não somente ela – seja o degrau para isso. Assim poderemos obter uma sociedade mais justa, mais participativa e com cidadãos bem mais conscientes. REFERÊNCIAS ALENCAR, Eunice. Novas contribuições da psicopedagogia de ensino e aprendizagem. São Paulo: Cortez, 1993. BOCK, Ana M. B., FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria L. T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo, Editora Saraiva, 1999. BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. 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