A EDUCAÇÃO FISCAL E FORMAÇÃO CIDADÃ RUDÁ RICCI* Não é uma constatação rara entre educadores a percepção que as escolas brasileiras são defasadas, além de não dialogar com a linguagem, comportamento e hábitos dos alunos. Um espaço com pouco sentido e cuja lógica e razão parecem passar ao largo do seu cotidiano. A pesquisa “A Voz das Crianças” realizada pelo UNICEF na América Latina e Caribe sinalizou algo neste sentido. Revelou que mais da metade das crianças e adolescentes pesquisados afirma que não é ouvida em suas escolas. Também revelou que somente 8% vão à escola por prazer. Uma outra pesquisa da mesma organização, “A Voz dos Adolescentes”, desenvolvida no Brasil, indicou que 61% dos pesquisados disseram que a escola não é agradável, nem segura, e não possui espaço para atividades. Contudo, a UNESCO revelou, em 2004, que 13 milhões de jovens brasileiros participam ou participaram de alguma forma associativa. Não se trata, portanto, de apatia dos jovens. Enfim, a escola tem pouco sentido para o estudante e algum sentido para os adultos. No Brasil, 16% dos alunos saem da escola antes de completarem 8 anos de estudo. Segundo projeção do IPEA, 38% não concluem a 4ª série e 54% não concluem a 8ª série. Este problema vem ganhando atenção em virtude da queda quase generalizada de matrículas na educação básica brasileira, numa velocidade que impede imaginarmos que tenha relação com a diminuição do índice de natalidade. Os índices de trabalho infanto-juvenil também não crescem na mesma dimensão. Ficaria, assim, a possibilidade do descrédito ou inadequação da escola básica. Além do crescente abandono familiar, que limita o processo de socialização às “tribos” ou “pares de idade”. Por aí, avança o debate sobre escola em tempo integral ou mudança do tempo de intervalo entre aulas, introduzindo oficinas e multi-atividades culturais, esportivas, artísticas e de outras áreas de conhecimento. Documento recente da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) procura traçar um painel das experiências brasileiras de escola em tempo integral, com destaque para o município de Apucarana (PR). No passado, já tivemos experiências mais avançadas de escolas que envolviam alunos em atividades e espaços adequados, como a Escola Parque idealizada, nos anos 30, por Anísio Teixeira. Atualmente, uma experiência significativa é a da Educação Fiscal, transformado em programa nacional em 1996, vinculado inicialmente à Receita Federal, mas que hoje envolve uma rede de órgãos públicos federais, estaduais e municipais. Este programa oferece a possibilidade da criança e adolescentes compreenderem a lógica de sua cidade, do orçamento e políticas públicas. Supera a noção enfadonha de dever do contribuinte e avança no controle social e protagonismo juvenil. Do entorno escolar e estudam soluções. A educação passa a ter um sentido mais amplo que um compêndio a ser testado em concursos e vestibulares. Amplia o horizonte para além da mera instrumentalização imediata do estudo. Nos anos 90, os Parâmetros Curriculares Nacionais introduziram os “temas transversais”, que procuraram articular as várias disciplinas a temas sociais relevantes. Mas os temas sugeridos oficialmente não nasceram de práticas e experiências concretas do nosso país. Agora já temos um conteúdo avançado, mobilizador e desenvolvido em nossas terras. O Programa Educação Fiscal torna-se, assim, uma referência das mais auspiciosas para os educadores. E, melhor: também para os alunos. Associado aos programas de Orçamento Participativo Criança (como o de Recife) ou Orçamento Participativo Jovem (de Rio das Ostras), configura-se num conteúdo que confere significado ao estudo, onde alunos pesquisam os déficits sócio-ambientais *Sociólogo, 45, Doutor em Ciências Sociais, Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa. Autor de Orçamento Participativo Criança (Editora Autêntica).