ABORDAGEM INTEGRADA SAÚDE-AMBIENTE EM ÁREAS CONTAMINADAS Joyce Maria de Araujo (*) Socióloga. Especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP). Mestre em Saúde Pública - Área Saúde Ambiental, pela FSP/USP. Doutoranda em Saúde Pública - Área Saúde Ambiental, na FSP/USP. Wanda Maria Risso Günther Professora e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (*) Endereço: Joyce Maria de Araujo - Caixa Postal 004 - CEP 06700-970 - Cotia - SP, Brasil E-mail: [email protected] RESUMO A ocorrência crescente de episódios de áreas contaminadas, especialmente em regiões brasileiras urbano-industriais, refere-se a uma das conseqüências mais graves para a saúde pública e ambiental. É crescente o dispêndio de recursos materiais, físicos, financeiros e humanos, do setor público e privado, para recuperar áreas contaminadas e a saúde de grupos da população expostos à contaminação ambiental. A questão das áreas contaminadas representa graves riscos à população, ao ambiente e aos ecossistemas, constituindo-se em um sério e atual problema de saúde pública. Diversos empreendimentos e instalações que representam fontes de contaminação ambiental adotam programas de prevenção, de avaliação, gerenciamento e comunicação de riscos e outros. Entretanto, mesmo atendendo à legislação e normas técnicas, a abordagem interativa saúde-ambiente nessas atividades ainda é empreendida de forma incipiente. Propõe-se a metodologia interativa saúde-ambiente para propiciar, nos estudos e intervenções em áreas contaminadas, a incorporação integrada de aspectos sanitário-epidemiológicos e ambientais, iniciando-se por meio da formulação, aplicação e teste de roteiro para observação de campo que contemple esses aspectos. Palavras-chave: Resíduos sólidos, áreas contaminadas, saúde ambiental. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DAS ÁREAS CONTAMINADAS Uma das conseqüências mais graves para a saúde pública e ambiental refere-se à ocorrência crescente de episódios de áreas contaminadas, especialmente em regiões brasileiras urbano-industriais, situação que representa graves riscos à vida e a saúde da população, ao ambiente e aos ecossistemas, constituindo-se em um sério e atual problema de saúde pública (Günther, 1998). Segundo o órgão estadual de meio ambiente do Estado de São Paulo conceitua-se “área contaminada” como a área, local ou terreno onde há, comprovadamente, poluição ou contaminação causadas por quaisquer substâncias ou resíduos ali depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados, com impactos negativos e/ou riscos sobre os bens a proteger, na área e nos arredores (CETESB, 1999). A intensificação do crescimento urbano e industrial acelerado nos municípios brasileiros, não acompanhado da implementação de instrumentos de planejamento urbano e ambiental em escala similar; a inexistência de uma política integrada e global para tratar a questão dos resíduos sólidos nos países latino-americanos (Durán de la Fuente, 1997); a desativação crescente de instalações industriais nas regiões urbano-industriais brasileiras, 1 destinadas a outros usos após a desinstalação industrial, sem observar parâmetros sanitário-ambientais legalmente exigidos (Sánchez, 1998); a desinformação da sociedade sobre os riscos sanitários-ambientais associados aos resíduos sólidos e, de forma particular, aos resíduos perigosos e outros contaminantes (Günther, 1998), são fatores, dentre outros, que vêm favorecendo o aumento de episódios de contaminação de áreas. É bastante elevado o dispêndio de recursos materiais, físicos, financeiros e humanos, sejam privados ou governamentais, para recuperar áreas contaminadas e a saúde de grupos da população expostos à contaminação ambiental. O Brasil ainda não conta com políticas públicas voltadas especificamente ao equacionamento do problema das áreas contaminadas (Sánchez, 1998) e a questão ainda não constitui objeto específico de tratamento legal-normativo no país (Günther, 1998). JUSTIFICATIVA: ABORDAGEM SAÚDE-AMBIENTE EM ÁREAS CONTAMINADAS Muitos empreendimentos, instalações e atividades que representam fontes de contaminação ambiental adotam programas de prevenção, de avaliação, gerenciamento e comunicação de riscos e outros. Todavia, mesmo atendendo à legislação e normas técnicas, a abordagem interativa saúde-ambiente, nessas iniciativas, ainda é empreendida de forma tímida. Portanto, no entorno de instalações perigosas, de fontes geradoras e potencialmente geradoras de contaminação ambiental, considera-se relevante desenvolver estudos e intervenções com enfoque sanitário e epidemiológico, abrangendo aspectos de saúde e ambiente, de forma a abordar condições de saúde dos grupos humanos assentados nessas áreas, do seu ambiente e dos ecossistemas (FUNASA, 2001). Estudos sobre métodos interativos saúde-ambiente vêm sendo promovidos por órgãos sanitário-ambientais internacionais, como Organização Mundial da Saúde - OMS (WHO - World Health Organization); Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA - United States Environmental Protection Agency) e Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP - United Nations Environment Programme), em atuação conjunta (Briggs et al, 1996). No Brasil, a concepção interativa saúde-ambiente vem sendo desenvolvida e debatida no contexto da implementação programática de ações de vigilância ambiental em saúde, no âmbito institucional de órgãos nacional e estaduais de saúde, como Ministério da Saúde e Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), com apoio de representações da Organização Panamericana da Saúde, Organização Mundial da Saúde e de instituições de ensino e pesquisa (Faculdade de Saúde Pública/USP, Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Faculdade de Medicina/UFRJ, Universidade Federal Pernambuco (UFPE). A metodologia interativa saúde-ambiente caracterizou-se como um recurso metodológico adequado para abordar aspectos relacionados ao ambiente e à saúde da população humana (como emissão de poluentes, perda da cobertura vegetal e outros, associadas às características da ocupação e expansão populacional, urbano-industrial, de serviços), conforme proposto no enfoque integrado para a abordagem da saúde e ambiente (Briggs et al, 1996). Essa abordagem vem sendo empregada em uma observação de campo acerca das condições de saúde e ambiente, em áreas contaminadas ou potencialmente contaminadas na Região Metropolitana de São Paulo. OBJETIVOS Realizar uma caracterização de situações relacionadas à saúde ambiental em áreas contaminadas na Região Metropolitana de São Paulo, por meio de uma observação de campo, com emprego de roteiro preliminar previamente estruturado e registro, formulado com base em metodologia articulada e interativa saúde-ambiente, a fim de subsidiar, a partir da análise do material coletado na observação de campo e com suporte da metodologia acima citada, o desenvolvimento de um roteiero que subsidie abordagens interativas saúde-ambiente em áreas contaminadas, para aplicação em regiões urbano-industriais brasileiras. A finalidade do estudo é contribuir para o desenvolvimento de pesquisas e intervenções sobre saúde ambiental e gestão de resíduos sólidos em áreas contaminadas, a partir de abordagens interativas saúde-ambiente. 2 METODOLOGIA EMPREGADA Para realizar o estudo de campo em curso, vem sendo empregada a observação de campo, direta, de caráter exploratório, com roteiro preliminar estruturado e registro (Quivy e Campenhout, 1995; Triviños, 1995), para caracterizar situações relacionadas à saúde e ambiente em áreas contaminadas na Região Metropolitana de São Paulo, enfatizando aspectos concernentes aos resíduos sólidos. Um roteiro preliminar, formulado com base em metodologia articulada e interativa, proposta pela WHO/USEPA/UNEP para empreender análises integradas saúdeambiente (Briggs et al, 1996), vem sendo aplicado e testado em campo. A organização e análise do material de campo serão desenvolvidas segundo a metodologia articulada e interativa saúde-ambiente mencionada, de forma a possibilitar, como resultado final, a elaboração de roteiro, aplicável à realidade brasileira, que subsidie abordagens interativas saúde-ambiente em áreas contaminadas, em regiões urbanoindustriais brasileiras. ETAPAS DESENVOLVIDAS Foi formulado e aplicado o roteiro preliminar para a observação de campo em áreas contaminadas, estando em fase de reformulação, a partir de subsídios coletados em agências sanitárias e ambientais que atuam com o tema da vigilância ambiental em saúde. Foram realizados o levantamento bibliográfico e a revisão bibliográfica sobre o tema. A observação de campo encontra-se em fase de aplicação do roteiro reformulado, em etapa de teste. RESULTADOS PARCIAIS OBTIDOS Encontra-se na etapa de aplicação, em forma de teste, roteiro preliminar para observação de campo, desenvolvido segundo a metodologia articulada e interativa para desenvolver análises integradas saúde-ambiente (Briggs et al, 1996). CONCLUSÕES PRELIMINARES E PARCIAIS A formulação de roteiro para observação de campo, formulado com base na concepção da metodologia interativa saúde-ambiente, pode propiciar a incorporação integrada de aspectos sanitário-epidemiológicos e ambientais, nos estudos e intervenções em áreas contaminadas. A adoção de indicadores formulados com essa concepção pode favorecer, nos estudos e intervenções, a interação dinâmica saúde-ambiente e a obtenção de melhores condições de saúde ambiental às populações humanas expostas ao risco de contaminação nessas áreas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS Briggs D, Corvalán C, Nurminem M (editors). Linkage methods for environment and health analysis - general guidelines. Geneva: World Health Organization. Office of Global and Integrated Environmental Health; 1996. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB. Manual de áreas contaminadas.São Paulo: CETESB/GTZ - Cooperação Técnica Alemã, 1999. Durán de la Fuente H (compilador). Gestión ambientalmente adequada de residuos sólidos - un enfoque de política integral. Santiago de Chile: CEPAL-Comisión Económica para América Latina y Caribe de las Naciones Unidas/GTZCooperación Técnica Alemana 1997. Fundação Nacional de Saúde - FUNASA. Curso Básico de Vigilância Ambiental em Saúde - CBVA. Brasília: Ministério da Saúde/ FUNASA - Coordenação Geral de Vigilância Ambiental - CGVAM do Centro Nacional de Epidemiologia CENEPI; 2001. Günther WMR. Contaminação de resíduos sólidos por metais pesados decorrentes de processos industriais: estudo de caso. São Paulo; 1998. [Tese de Doutorado - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo]. Quivy R, Van Campenhoudt L. Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva Publicações; 1992. Sánchez LR. A desativação de empreendimentos industriais, um estudo sobre o passivo ambiental. São Paulo; 1998. [Tese de livre-docência - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1998]. Triviños ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas; 1995. Pesquisa Qualitativa; p.116-173. 3