Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 III- Séries 1. Sucessões ( breves revisões) Def. 1.1 Chama-se sucessão de números reais, ou sucessão, a uma aplicação de N → ℜ (por vezes considera-se Ν 0 = Ν {0} ). u: N → ℜ Utiliza-se a notação u n para designar u(n) (expressão geradora) e ( u n ) para a sucessão, isto é o conjunto das imagens da aplicação u: u1, u2 , u3 ,..., u n ,.... Exemplo n 2 1 2 3 n ( u n ) = , , ,..., ,... 2 2 2 2 u(n)= u n = Def.1.2 Uma sucessão ( u n ) diz-se convergente para um número real a , se e só se lim u n = a n →+∞ - Soma dos termos de uma sucessão Def. 1.3 Dada uma sucessão (un ) , chama-se soma dos n primeiros termos da sucessão a S n = u1 + u2 + u 3 +...+ u n = n ui i =1 Def. 1.4 A sucessão (a n ) de termo geral a n = a n −1 + r designa-se progressão aritmética e ( g n ) de termo geral g n = g n −1 × r , com r constante real designa-se progressão geométrica. 6 ª aula teórica pág.29 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 Exemplos n 1 1 1 1 1 ,... ( u n ) = , , , ,..., 2 4 8 16 2 ( u n ) =1,3,5,7,9,…,(2n-1),… P. G. de r=1/2 P.A. de r=2 Teorema 1.5 Sejam (a n ) progressão aritmética e ( g n ) progressão geométrica de razão r, então as somas dos n primeiros termos são respectivamente: n a +a (1) S n = a i = 1 n n 2 i =1 (2) 1− rn S n = g i = g1 1− r i =1 Obs.: n numa progressão geométrica podemos ter: 1 − r n +1 Sn = gi = g0 1− r i=0 n 2. Séries 2.1 Séries numéricas O que é uma série ? Def.2.1 A série é a soma, se existir, de todos os termos de uma sucessão. Sendo ( u n ) uma sucessão de números reais, chama-se série de termo geral u n a qualquer das expressões: +∞ u n = u1 + u2 + u 3 +... n =1 Def.2.2 Ao símbolo +∞ u n denomina-se série numérica n= 0 6 ª aula teórica pág.30 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 Mas faz sentido falar da soma de infinitos termos? É impossível encontrar uma soma para a série seguinte +∞ n =1+2+3+4+5+6+...+n+... n =1 porque se começarmos a adicionar os termos obtemos as somas cumulativas 1,3,6,10,15,21..., 1+ n n ,... que se torna muito 2 grande quando n aumenta. Contudo, se começarmos a adicionar os termos da série +∞ 1 2 1 n =1 2 1 4 1 8 = + + + n 1 1 1 1 + + + ... + n + ... 16 32 64 2 1 3 7 15 31 63 1 obteremos: , , , , , ,..., 1 − 2 4 8 16 32 64 2 n note que à medida que n aumenta a soma aproxima-se de 1. Parece razoável dizer que a soma dessa sequência infinita é 1 e escrever: +∞ 1 n =1 2 n = 1 1 1 1 1 + + + + ... + n + ... = 1 2 4 8 16 2 Associada à série numérica, temos a sucessão S n , de termo geral S n = u1 + u2 + u 3 +...+ u n = n ui i =1 A série diz-se convergente se existir e for finito lim S n n →+∞ 6 ª aula teórica pág.31 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 Def. 2.3 Chama-se soma da série +∞ u n ao limite da sucessão n= 0 associada S n (S= lim S n ). n →+∞ Séries Geométricas Como foi referido a soma dos primeiros n termos de uma progressão geométrica é dada por: Sn = ( g1 1− r n 1− r ), com r ≠ 1 Logo a soma de uma série geométrica é obtida pelo seguinte limite: ( g1 1− r n n → +∞ 1− r S = lim S n ⇔ S = lim n → +∞ ) (note: se o limite existe e for finito a série diz-se convergente e a soma é o resultado do limite). É sabido que: +∞ se r >1 1 se r =1 lim r n = 0 n → +∞ se - 1 < r < 1 se r = −1 ∞(sem sinal) se r < -1 não existe Portanto, com r ≠ 1, o único caso em que Sn tem limite finito é se r ∈ ]− 1,1[ . 6 ª aula teórica pág.32 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 Conclusão: Uma série geométrica soma é s = (1) (2) a1r n −1 converge sse r < 1 e nesse caso a n =1 a1 primeiro termo (o mesmo que: soma = ). 1 − razão 1− r Seja ( u n ) uma progressão geométrica de Teorema 2.4 razão r, e +∞ +∞ u n uma série geométrica . Então, n= 0 +∞ a série a série u n é divergente para r ≥ 1 n=1 +∞ u n é convergente para r < 1 n=1 Exemplos (1) +∞ ( 2) n=1 n (div.) (2) +∞ 2 n + 3n (conv.) n n =1 6 Curiosidades! 1 - Uma bola de borracha é atirada ao chão de uma altura h e cada vez que ressalta perde 1/5 da altura. Determine a distância total percorrida pela bola até parar por completo. A distância total percorrida pela bola é: n 4 44 444 4 D = h+2 h+2 h+2 h + ... + 2 h + ... = ? 5 55 555 5 4 2 h +∞ 4 n D =h+ 2 h = h + 5 = h + 8h = 9 h 4 n =1 5 1− 5 A distância total percorrida pela bola é de 9h 6 ª aula teórica pág.33 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 2) O paradoxo de Zenão de Eleia (495-435 a.c.). Zenão, um filósofo da Grécia antiga, colocou o seguinte problema: “ Aquiles, colocado a dada distância da tartaruga, tenta alcança-la, correndo; - ora (dizia Zenão), apesar de Aquiles ser atleta olímpico, nunca poderá alcançar a tartaruga, porque, antes de percorrer toda a distância que o separa dela, terá de percorrer metade e antes de percorrer esta metade terá de vencer um quarto da distância e assim sucessivas e infinitas vezes “ Considerando Aquiles a percorrer a velocidade constante teríamos: +∞ 1 n T T T Tt = + + + ... = T mas esta é uma série geométrica 2 4 8 n =1 2 T 2 =T de razão ½ e primeiro termo T/2, cuja soma é : Tt = 1− 1 2 Considerando Aquiles a percorrer a velocidade decrescente, em que para percorrer a primeira metade do caminho, precisa de tempo T/2, no quarto seguinte, T/3, no oitavo seguinte, T/4, e assim sucessivamente. Tt = +∞ 1 T T T + + + ... = T 2 3 4 n n =1 (série divergente) assim jamais alcançaria a tartaruga. Séries de Riemann ou de Dirichlet As séries de Riemann ou de Dirichlet são séries cujo termo geral é +∞ 1 1 do tipo α ou seja . O critério do integral permite α n n =1n caracterizar todas as que têm α ≥ 1 de uma só vez. Com efeito: 6 ª aula teórica pág.34 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 n 1 α 1x ln n dx = se α = 1 1 1 −1 1 − α nα −1 se α > 1 A série é convergente se e só se α > 1 , pois só neste caso n 1 dx é finito. lim n→ +∞ 1 xα Para α < 1 aplicamos o Corolário da Condição Necessária de Convergência e conclui-se que as séries são divergentes. Teorema 2.5 Séries de Riemann ou de Dirichlet +∞ 1 Dada a série do tipo , α ∈ℜ , a série é : α n =1 n convergente para α > 1 divergente para α ≤ 1 Exemplos +∞ 1 (1) n=1 n +∞ 1 (2) (conv.) 2 n=1 n série harmónica (div.) Teorema 2.6 Dada uma sucessão ( u n ) , chama-se série Telescópica ou série de Mengoli à série +∞ ( u n − u n + k ) , k ∈Ν . n =1 Se lim u n existir e for finito a série converge e então a soma é n→+∞ dada por: +∞ ( u n − u n + k ) = u1 + u 2 +...+ u k − k lim u n n =1 n → +∞ 6 ª aula teórica pág.35 Análise Matemática II – ano lectivo 2006/2007 Exemplos (1) (2) (3) +∞ −π 4 1 1 1 sol. 1 + + ... + p 2 p 11 1 sol. × 24 4 arctg ( n ) − arctg ( n + 1) n =1 +∞ 1 n =1 n ( n + p ) sol. (p ∈Ν ) +∞ 1 n =2 (n − 1)(n + 1)(n + 3) Obs.: Quando u n é uma fracção, como no exemplo anterior, com mais de dois factores no denominador, pode-se escrever u n na forma u n − u n + k deixando na fracção que representa u n todos os outros factores, excepto o maior e na fracção que representa u n + k todos os factores, excepto o menor. Convergência de uma série de termos positivos critérios de convergência Vimos situações em que foi possível calcular directamente a convergência (e divergência) de séries. Em geral não é fácil determinar a soma da série ou concluir a sua divergência. Teorema 2.7 Se +∞ Condição Necessária de Convergência u n converge n=1 lim u n = 0 n→+∞ Corolário 2.8 Se lim u n não existe ou existindo lim u n ≠ 0 então a série n→+∞ é divergente. n→+∞ Exemplo: Estude a natureza da série +∞ n + 3 n − 7 n =1 n + 7 +∞ un n=1 . 6 ª aula teórica pág.36