Emerson Antonio dos Santos ESTILOS E PAPÉIS DE NEGOCIAÇÃO: estudo de caso no sindicato dos metalúrgicos de Taubaté Taubaté 2003 1 Emerson Antonio dos Santos ESTILOS E PAPÉIS DE NEGOCIAÇÃO: estudo de caso no sindicato dos metalúrgicos de Taubaté Monografia apresentada para obtenção do Certificado de Especialização pelo MBA em Gerência Empresarial Departamento de e Economia, Negócios do Contabilidade, Administração e Secretariado da Universidade de Taubaté Orientadora: Prof. Drª. Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro Taubaté – SP 2003 Santos, Emerson Antonio dos Estilos e papéis de negociação: estudo de caso no sindicato dos metalúrgicos de Taubaté / Emerson Antonio dos Santos. - - Taubaté: UNITAU, 2003. 81f. Orientadora: Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro Monografia (Especialização) – Universidade de Taubaté, Departamento de Economia, Contabilidade e Administração, 2003. 1. Negociação. 2. Sindicalismo. 3.Sindicato. 4. Metalúrgicos Taubaté. 5. Gerenciamento Empresarial – Monografia. I. Universidade de Taubaté. Departamento de Economia, Contabilidade e Administração . II. Ribeiro, Maria Júlia Ferreira Xavier (orient.) III. Título. Ficha catalográfica elaborada por Maria de Fátima G. Marcondes CRB/8-5758 1 EMERSON ANTONIO DOS SANTOS ESTILOS E PAPÉIS DE NEGOCIAÇÃO: estudo de caso no sindicato dos metalúrgicos de Taubaté UNIVERSIDADE DETAUBATÉ, TAUBATÉ, SP Data:________________________________ Resultado:____________________________ COMISSÃO JULGADORA Professor:__________________________________ Assinatura:__________________________________ Professor:__________________________________ Assinatura:__________________________________ Professor:__________________________________ Assinatura:__________________________________ 2 A minha namorada Suemara, pela compreensão e apoio constante. A minha mãe Inês e meu pai Antonio, pelos finais-de-semana em que não pude vê-los. Aos colegas de curso que permitiram minha caminhada até aqui, principalmente ao Marcos, ao Luis Cláudio, ao Flávio e à Tânia. Aos amigos Luis Pastorelli Braga e Joaquim Alves dos Santos Neto, que me incentivaram a iniciar essa jornada. Ao meu avô Sebastião e à minha tia Lourdes, que deram muito apoio e me acolheram em seu lar. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por permitir o acerto de minhas escolhas até o atual momento de minha vida e por permitir que eu tivesse força e vontade para concluir esse trabalho. Agradeço à minha orientadora, Professora Doutora Maria Júlia Ferreira Xavier Ribeiro, que teve muita paciência e disposição em me ajudar e tirar as todas minhas dúvidas, e à sua família, que me acolheram tantas vezes em seu lar. Além de dedicar, também agradeço à minha namorada Suemara, que me ajudou muito e que soube compreender as noites e os finais-de-semana em que estive ausente. Agradeço aos entrevistados, que deixaram suas atividades de lado para colaborar com esse trabalho cientifico. Agradeço à minha amiga Tânia Espíndola, que sempre me incentivou. 4 “Nada há no mundo que seja repartido mais eqüitativamente do que a razão. Todos são convencidos de tê-la em quantidade suficiente”. Descartes “É calando que se aprende a ouvir; é ouvindo que se aprende a falar; depois, é falando que se aprende a calar”. (Autor desconhecido) 5 SANTOS, Emerson A. Estilos e Papéis de Negociação: estudo de caso no sindicato dos metalúrgicos de Taubaté. 2003. 81 f. Monografia (MBA em Gerência Empresarial e Negócios) – Departamento de Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado, Universidade de Taubaté, Taubaté. RESUMO Este trabalho tem como um dos objetivos, identificar as técnicas de negociação utilizadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. Outro objetivo foi elaborar dois questionários que identificassem os estilos e os papéis desempenhados numa negociação pelos dirigentes sindicais. Foram entrevistados três dirigentes sindicais que participaram diretamente das negociações dos últimos três anos realizadas com as grandes empresas da cidade. As respostas foram categorizadas considerando-se quatro estilos de negociação (caloroso, duro, números e negociador) e quatro papéis desempenhados durante a negociação (analítico, relativo, intuitivo e efetivo). Os entrevistados variaram quanto aos estilos e papéis. Descrevem um dos estilos e um dos papéis como dominante, mas observam que durante as negociações podem apresentar formas de comportamento característico a outro estilo ou papel. Os negociadores agem de maneira ordenada e planejada para atingir seus objetivos. Os dirigentes sindicais praticam os estilos e papéis descritos, mas não de modo absoluto ou mutuamente exclusivo. Conclui-se que a literatura da área é útil na descrição de estilos e papéis desempenhados numa negociação e que a pessoa que entrar numa negociação com um dirigente sindical deve estar atenta às categorias propostas, pois permitem identificar as características do negociador e, em certa medida, prever suas ações. Palavras-chave: negociação, questionário de estilos de negociação, questionário de papéis desempenhados na negociação, sindicato, sindicalismo, sindicato dos metalúrgicos de Taubaté 6 SANTOS, Emerson A. Negotiation Styles and Roles: a case study in the metallurgists' union of Taubaté. 2003. 81 f. Monografia MBA em Gerência Empresarial e Negócios – Departamento de Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado – ECASE, Universidade de Taubaté, Taubaté. ABSTRACT This report has as one of the goals, identifying the negotiation techniques used by the Metallurgists' Union of Taubaté. Another goal is the elaboration about two questionnaires which identifies the styles and the represented roles in the negotiation by the labor union directors. Three labor union directors, who announce directly of the negotiations in the last three years with the city’s big company, were interviewed. The answers are categorized considering four negotiation styles (warm, hard, numbers and negotiator) and four negotiations represent role (analytical, relative, intuitive and effective). The interviewed varied about the styles and roles. They describe of one of the styles and one of the roles as dominant, but they observe that during the negotiations they may show particular ways of behave to another style or role. The negotiators proceed as an ordinate and planned form to achieve their goal. The labor union directors put into practice the styles and roles described, but not like an absolute form or exclusive mutual. Conclude that the literature of field is useful in the description of styles and represented roles in the negotiation and that person that inside in the negotiation with a labor union director must be on stand by to the proposal categories, because they permit to identify the negotiators’ characteristics and, to some extent, foresee their actions. Key words: (negotiation, negotiation styles questionnaire, negotiation represents role questionnaire, labor union, syndicalism, Taubaté metallurgists' union) 7 SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................. 5 ABSTRACT ......................................................................................................... 6 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 13 2.1 Negociação ............................................................................................................ 13 2.1.1 Conceitos de negociação ........................................................................ 13 2.1.2 Negociação Coletiva................................................................................ 16 2.1.3 Negociação Sindical ................................................................................ 17 2.1.4 Aspectos variáveis numa negociação ..................................................... 20 2.1.5 As estratégias empregadas numa negociação........................................ 22 2.1.6 Os papéis desempenhados numa negociação........................................ 23 2.1.7 Os estilos aplicados numa negociação ................................................... 24 2.1.8 Conclusão de Negociação....................................................................... 25 2.2 Elaboração de instrumentos de pesquisa .............................................................. 26 2.2.1 O questionário ......................................................................................... 26 2.2.2 A Entrevista ............................................................................................. 38 2.2.3 Conclusão de Elaboração de Instrumento de Pesquisa.......................... 39 3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 40 3.1 Objetivo Geral............................................................................................. 40 3.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 40 4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...................................................................... 41 4.1 Questionários ......................................................................................................... 41 4.1.1. Questionário de Estilos de Negociação.................................................. 41 4.1.2 Questionário de Papéis Desempenhados na Negociação ...................... 43 4.2 Entrevista ............................................................................................................... 45 4.3 Aplicação do questionário de pesquisa e entrevista .............................................. 45 5 RESULTADOS .......................................................................................................... 47 5.1 Estilos de Negociação ............................................................................................ 47 5.1.1 Escores obtidos no Questionário de Estilos de Negociação ................... 47 5.1.2 Os Estilos de Negociação apresentados na entrevista ........................... 49 5.2 Papéis Desempenhados numa Negociação .......................................................... 51 5.2.1 Escores obtidos no Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação................................................................................................. 52 5.2.2 Os Papéis Desempenhados numa Negociação apresentados na entrevista .................................................................................................... 54 5.3 Tempo, informação e estratégia............................................................................. 55 5.3.1 A variável “tempo” presente no discurso dos entrevistados .................... 55 5.3.2 A variável “informação” presente no discurso dos entrevistados ............ 56 5.3.3 A “estratégia” presente no discurso dos entrevistados............................ 57 5.4 O Questionário de Estilos de Negociação e o Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação: análise preliminar do instrumento ............... 57 6 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 59 7 CONCLUSÃO............................................................................................................ 62 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 64 8 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ESTILOS DE NEGOCIAÇÃO............... 66 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE PAPÉIS DE NEGOCIAÇÃO ................. 71 APÊNDICE C – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DURO .............................. 73 APÊNDICE D – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO CALOROSO .................... 74 APÊNDICE E – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DOS NÚMEROS.............. 75 APÊNDICE F – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO NEGOCIADOR................. 76 APÊNDICE G – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR EFETIVO .................................................................................................................... 77 APÊNDICE H – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR ANALÍTICO................................................................................................. 78 APÊNDICE I – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR RELATIVO .................................................................................................. 79 APÊNDICE J – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR INTUITIVO .................................................................................................. 80 APÊNDICE L - QUESTÕES ORIENTADORAS DA ENTREVISTA.................. 81 9 Lista de Tabelas Tabela 1 Identificação das tendências para os Estilos de Negociação...................................... 43 Tabela 2 - Identificação das tendências para os papéis desempenhados numa negociação ... 44 Tabela 3 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 1 ........................................ 47 Tabela 4 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 2 ........................................ 48 Tabela 5 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 3 ........................................ 48 Tabela 6 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 1 ....... 52 Tabela 7 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 2 ....... 52 Tabela 8 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 3 ....... 52 10 Lista de Figuras Figura 1 Escores dos sujeitos nas características positivas dos estilos de negociação............ 48 Figura 2 Escores dos sujeitos nas características negativas dos estilos de negociação .......... 49 Figura 3 Escores totais dos sujeitos nos estilos de negociação................................................. 49 Figura 4 Escores dos sujeitos nas características positivas dos papéis desempenhados numa negociação .......................................................................................................................... 53 Figura 5 Escores dos sujeitos nas características positivas dos papéis desempenhados numa negociação .......................................................................................................................... 53 Figura 6 Escores totais dos sujeitos nos papéis desempenhados numa negociação ............... 54 11 1 INTRODUÇÃO De negociar quem vai até a padaria buscar o pão até quem vai recolher a louça suja depois da refeição, a negociação está presente em muitos momentos da vida humana. As decisões que se derivam das negociações estão intimamente ligadas ao bem estar das pessoas, e isto é verdadeiro também para o resultado de negociações das quais elas não participaram ativamente. Devido a isso e ao fato de grande parte da mão de obra ativa da região do Vale do Paraíba trabalhar para as grandes empresas, entender como se dá a negociação sindical com elas pode favorecer o entendimento, de um lado, do processo de negociação, e de outro, cooperar para entender como deve se preparar quem negocia. Portanto, essa pesquisa tem o objetivo de mostrar ao gestor um campo de conhecimento que, por força de tais acontecimentos, torna-se cada vez mais importante: as relações trabalhistas. Primeiro, porque o conhecimento da administração das relações trabalhistas não deve e nem pode ser privilégio de especialistas, mas deve estar ao alcance de todos os gestores. Segundo, porque é impossível assumir uma posição completamente imparcial e objetiva em se tratando dessas relações. Portanto, sendo essa pesquisa para gestores, a perspectiva adotada é a conveniência do empregador e não a do sindicato. Não que no mundo empresarial a primeira perspectiva exclua a segunda, ou seja, conseguida às custas dela, apenas que aquela vem primeira e esta outra depois. Então essa pesquisa identificará quais são as características de negociação utilizadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté na condução dos acordos: como o sindicato utiliza as variáveis da negociação, as estratégias, os estilos e quais papéis ele desempenha na condução dessas negociações. Com o levantamento das informações, sua classificação e análise, pretendemos disponibilizar o resultado da pesquisa para que gestores possam compreender melhor como funcionam as negociações sindicais e auxiliar os leitores a entender como ocorre o gerenciamento dessas negociações pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. Mais ainda, negociações podem ocorrer em quaisquer relações humanas, e encontrar meios de avaliar o modo como pessoas se portam em negociações pode ajudar a prepará-las para o exercício dessa atividade. A organização deste trabalho segue a seguinte seqüência. O capítulo Revisão da Literatura define as variáveis tempo e informação de uma negociação, as estratégias que podem ser utilizadas e os estilos e os papéis que podem ser aplicados 12 numa negociação, assim como as informações necessários que tornam possível a construção de um questionário de pesquisa. O objetivo deste trabalho é apresentado no capítulo 3 e o método de estudo no capítulo 4. Os resultados observados foram relatados no capítulo 5 e discutidos no capítulo 6. O capítulo 7 encerra o trabalho, com as conclusões. 13 2 REVISÃO DA LITERATURA Para podermos identificar as variáveis em uma negociação, as estratégias empregadas, os papéis desempenhados e os estilos aplicados, devemos buscar as definições e conceitos destes itens na literatura. Como a negociação é definida? O que caracteriza a negociação? Que características tem a negociação coletiva? E a negociação sindical? Mas a identificação das variáveis em uma negociação depende também de instrumentos que permitam ao avaliador descrevê-las e observá-las. Por isso, a revisão da literatura que se segue está dividida em duas partes: a primeira aborda questões conceituais e empíricas da negociação. A segunda explana prescrições e cuidados metodológicos referentes à elaboração e à utilização de questionários. 2.1 Negociação A todo momento estamos negociando. Assim, não resta a menor dúvida que negociar é uma das habilidades mais importantes para o sucesso pessoal e profissional de qualquer pessoa. WANDERLEY Como existe considerável diversidade na definição do fenômeno Negociação, esse será o primeiro foco. 2.1.1 Conceitos de negociação Martinelli e Almeida (1998, p.18) compilaram algumas definições, que são mostradas a seguir: Uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento dentro de uma ‘rede de tensão’. Cohen (1980) Processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta. Fisher e Ury (1985) Processo pelo qual as partes se movem de suas posições iniciais divergentes até um ponto no qual o acordo pode ser estabelecido. Steele et al. (1989) Negócio que pode afetar profundamente qualquer tipo de relacionamento humano e produzir benefícios duradouros para todos os participantes. Nierenberg (1968) 14 Embora todas as definições acima sejam reconhecíveis como referentes à negociação, na primeira o foco é o poder, na segunda, a comunicação, na terceira, a mudança, e na quarta, o intercâmbio. Fells (1998, p. 2) define negociação como “um processo pelo qual duas (ou mais) partes que têm diferenças para resolver e que sentem que eles terão melhores resultados negociando do que por algum outro meio, empenhando-se no diálogo para alcançar um acordo”. Wanderley (2003), consultor de negociação do Instituto MVC, utiliza a seguinte definição: “negociação é o processo de alcançar objetivos através de um acordo nas situações em que existam interesses comuns e conflitantes”. De acordo com Junqueira (2003a), vice-presidente do Instituto M. Vianna Costacurta (MVC), Negociação é o processo de buscar aceitação de idéias, propósitos ou interesses visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidade de apresentar toda a sua argumentação e que o produto final seja maior do que a soma das contribuições individuais. Ele também relatou que ao lançar um dos primeiros programas de negociação no Brasil, em 1980, muitas pessoas acreditavam que essa “’habilidade’ ou era inata ou algo que se desenvolvia de forma assistemática, especialmente através do convívio com pessoas mais experientes”, e completou afirmando que se quisermos saber se somos bons negociadores, temos que estar cientes de que “a primeira constatação é que o juízo sobre o que é ser um bom negociador não deve vir de nós mesmos, mas das pessoas com quem negociamos”. Nas décadas de 1960 e 1970, a negociação foi abordada por muitos trabalhos na área da psicologia social e “primeiramente focou-se sobre dois subdomínios: diferenças individuais dos negociadores e características situacionais” (RUBIN; BROWN, 1975, apud BAZERMAN et al, 2000, p. 280). A abordagem das diferenças individuais dos negociadores revelou-se limitada, de um lado porque não favorece boas predições dos resultados das negociações, e de outro, porque diferenças individuais não podem ser controladas pelo negociador. Já as variáveis situacionais são as que definem o contexto da negociação. Bazerman et al (2000, p. 281) elencaram como variáveis situacionais a presença de clientes, incentivos e pagamentos das partes, poder, prazos-limite, o número de pessoas de cada parte, e a presença de terceiros. 15 Nas décadas de 1980 e 1990 o foco dos estudos deslocou-se para o entendimento de como os negociadores tomam decisões, e apóia-se na crença de que os desvios que os negociadores fazem das decisões ótimas e racionais pode ser explicado e contará não apenas para o sucesso da negociação, mas para a compreensão do processo e dos resultados. Essa fase das pesquisas sobre a negociação realizada entre duas partes permitiu entrever as seguintes tendências: [...] o negociador tende a (a) ser mais concessionário para uma especificação positivamente armada da negociação do que uma especificação negativamente armada; (b) ser impropriamente afetado por âncoras na negociação; (c) ser impropriamente afetado por informações prontamente avaliadas; (d) ser demasiadamente confiante e excessivamente otimista sobre a probabilidade de atingir resultados que favoreçam eles mesmos; (e) falsamente assumir que o assunto da negociação está fixado e não notar oportunidades para trade-offs mutuamente benéficos entre as partes; (f) falsamente assumir que suas preferências sobre problemas são incompatíveis com aqueles de seus oponentes; (g) incrementar conflitos mesmo quando uma análise racional decretaria uma mudança na estratégia; (h) ignorar a perspectiva de outras partes, e (i) reativamente desvalorizar qualquer concessão feita pelo oponente” (Bazerman et al, 2000, p. 283). O relacionamento numa negociação é muito importante e ele tem sido estudado através da história, mas ressurgiu fortemente a partir da década de 90. Como pode ser constatado na afirmação de Wanderley (2003), “toda negociação é um processo de relacionamento entre pessoas. E todo relacionamento importa em comunicação. Assim, saber ouvir, perguntar e apresentar as próprias idéias de forma convincente é básico”. Bazerman mostra que “o estudo de relacionamentos e negociação podem ser tricotomizados em três níveis básicos: o individual, a díade, e a rede de contatos”. No nível individual estão “os estudos de como julgamentos e preferências de negociadores individuais são influenciados por contextos sociais”. No segundo nível, estão os estudos sobre “como relacionamentos sociais dentro de díades podem influenciar o processo de negociação e os resultados. [...] certos comportamentos que parecem irracionais da perspectiva individual podem ser racionais da perspectiva de díade”. No terceiro nível incluem-se os estudos que avaliam a influência de relacionamentos sobre uma extensa rede de atores” (BAZERMAN et al, 2000, p. 284). Os mesmos autores trataram também dos julgamentos dos negociadores, que não são imparciais e nem puramente objetivos. Quando analisam suas atuações, as partes tendem a sobrecarregar as visões de seus próprios benefícios, tendência motivacional chamada egocentrismo. 16 Thompson e Loewenstein (1992) descobriram que os negociadores são egocêntricos, e quanto mais egocêntricas as partes são, mais dificuldades eles têm para chegar a um acordo. Este modelo tem sido encontrado tanto em estudos que usam incentivos financeiros para performance e através dos contextos de negociação (Babcock et al 1995, Camerer; Loewenstein, 1993, Loewenstein et al, 1993). Além disso, Thompson e Loewenstein (1992) descobriram que o fornecimento de mais informações (neutras) aumenta o egocentrismo. Aqueles participantes que recebem esta informação neutra adicional tendem a fazer estimativas mais exageradas de um resultado justo. Participantes também mostraram viés das recordações, recordando melhor aqueles fatos que favorecem eles próprios (Bazerman et al, 2000, p. 284). As pessoas tendem a perceber o mundo melhor do que ele realmente é, e a si próprias como melhores do que as outras, com uma auto-avaliação positiva de modo irrealístico (Bazerman et al, 2000, p. 285). “Ilusões positivas, especialmente quando acompanhadas de egocentrismo e difamação dos oponentes, provavelmente aumentam os custos do conflito, inibindo ganhos integrativos e atrasando acordos” (De Dreu et al, 1995, apud Bazerman et al, 2000, p. 285). Bazerman et al (2000, p. 287) afirmam: Muitos dos trabalhos sobre negociação assumem que a estrutura de negociação é exógena para as partes e que a cognição e afeto das partes é exógena para a estrutura. Mas trabalhos sobre modelos mentais de negociação sugerem que a percepção das estruturas de negociação das partes é critica e endógena para a negociação e que, similarmente, a cognição e o afeto das partes são críticos e endógenos para a negociação. Essas afirmações entendem o homem apenas como referido ao contexto e o contexto só interessa referido ao homem. Assim, o negociador e o contexto da negociação são ambos partes indissociáveis e a negociação tem que ser compreendida assim. 2.1.2 Negociação Coletiva A negociação coletiva constitui um tópico especial da negociação, já que nela os negociadores representam os interessados. Pode ser feita pela contratação de negociadores profissionais ou por indicação, quando um pequeno número de interessados representa um grande número de interessados sobre os quais recairão as conseqüências da negociação. Assim, em negociações coletivas poucos negociadores discutem a distribuição dos benefícios e dos ônus, para um grupo maior de indivíduos. Ao discutir o assunto, Lobos (1985, p. 175) afirma: A negociação coletiva é um tipo específico de negociação pelo qual interesses antagônicos de oferta e procura, de um vendedor e de um 17 comprador, se ajustam num ato de intercâmbio”. [...] “‘vendedor’ é o coletivo dos trabalhadores, representado pelo sindicato respectivo, e ‘comprador’ é a empresa, representada pelos seus prepostos, diretores ou gerentes. A finalidade da negociação coletiva é evitar que o empregador se aproveite de pessoas que estão dispostas a vender sua mão-de-obra a qualquer custo, fazendo desta forma que o empregador se ajuste aos desejos de um grupo ou classe de trabalhadores (LOBOS, 1985, p. 176). Lobos (1985, p. 177) nos informa que “todo relacionamento entre pessoas baseia-se em certas premissas ou pressupostos relativos à maneira com que essas pessoas devem pensar ou agir, pelo menos, no contexto desse seu relacionamento”, e completa dizendo que no caso da negociação coletiva, essas premissas exigem dos negociadores as seguintes características: a) Aceitar ou, pelo menos, não agir contra os princípios da sociedade capitalista; b) Estabelecer consenso sobre o significado e a importância do bem-estar social, incluindo-o como parâmetro ao negociar; c) Possuir uma área de interesse comum: a sobrevivência da empresa; d) Estar disposto a agir de boa-fé, antes, durante e depois da negociação; e) Estar em condições de se causarem prejuízos reciprocamente; f) Concordar naquilo que pode (e não pode) ser negociado; g) Interessar-se em preservar a instituição da negociação coletiva. 2.1.3 Negociação Sindical No continente europeu, onde as condições de trabalho eram as piores possíveis, surgiu no século XVI a instituição sindical com as Guildas. A impulsão dos trabalhadores a essas associações deve-se mais a recusa dos poderes públicos e privados de aceitar a associação do que as melhorias propostas pela associação. Contudo, a partir do século XX os interesses sindicais passaram a tomar outros focos além dos salários justos. O teor da preocupação passou a ser então a proteção do trabalhador, vindo daí então a única função do sindicato, que é representar os interesses dos trabalhadores, visto que individualmente, esses trabalhadores alcançariam resultados insatisfatórios (LOBOS, 1985, p. 9, 34-35). A hierarquia sindical, segundo Lobos (1985, p. 21), pode ser vista através do quadro a seguir: 18 ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS ATIVIDADES POLÍTICAS (I) Líderes eleitos, pagos pelo sindicato ou pelas empresas, dedicados exclusivamente à função sindical. Funcionários contratados pelos líderes, destinados a executar atividades administrativas. Assessores jurídicos e econômicos, ligados direta ou indiretamente ao sindicato. Delegados sindicais não pagos, eleitos pelos membros do sindicato nos níveis de base. Eles mantêm os seus empregos. Ativistas de base, sem nenhum cargo ou função sindical específica, mas que comparecem permanentemente às reuniões e assembléias. Participantes passivos, que comparecem apenas ocasionalmente a reuniões e assembléias. (II) (III) (IV) (V) (VI) Quadro 1: A hierarquia sindical Fonte: LOBOS, JÚLIO. Sindicalismo e negociação, 1985, p. 21 Dentre os movimentos sindicais surgem três tipos de organizações sindicais: territorial, profissional ou industrial que correspondem respectivamente aos trabalhadores de uma mesma localidade, profissão ou indústria. Essas formas foram se sucedendo na história, começando pela territorial no século XVIII, que é muito mais rápida para desenvolver-se que a profissional, e depois pela profissional que predominou até o início do século XX, quando finalmente surgiu a divisão por indústria, que é a mais utilizada na atualidade (LOBOS, 1985, p. 38). Sindicalismo e sindicato nem sempre caminham harmoniosamente juntos na vida real. Para o sindicalismo é muito fácil ser revolucionário e promover mudanças no nível da sociedade global, afinal as idéias são intangíveis. Já o sindicato é uma entidade social concreta que está obrigada a apresentar permanentemente resultados. Num regime capitalista, o sindicato luta, mas reconhece que o seu oponente tem de existir: agride, grita, mas permanece sempre à espera da resposta; exige, mas não domina. “Baseado no sentido etimológico da palavra, SINDICATO vem de ‘SYN-DICOS’, que quer dizer ‘aquele que defende com justiça’ uma determinada coletividade” (SEHNEM, 1994, p. 4). “Ao conceito-chave SINDICALISMO que é o sistema de organização político-social dos trabalhadores por meio de sindicatos, acrescentamos outro conceito fundamental que é a CIDADANIA, onde cidadão quer dizer sujeito de direitos” (SEHNEM, 1994, p. 4). Metalúrgicos são pessoas que trabalham com a transformação do metal em indústrias e o sindicato destes trabalhadores representam todas as pessoas que trabalham, citando como exemplo algumas categorias, em indústrias automobilísticas, em caldeirarias, em autopeças, entre outras. 19 A evolução do sindicalismo no Brasil foi resumida no quadro a seguir: ANO ACONTECIMENTO 1824 O sindicalismo começa no Brasil com associações do tipo mutualista. 1888 Encerra-se o Período Mutualista e inicia-se o “Período de Desenvolvimento do Movimento Sindical”. 1917 Greve mais importante desse período, numa grande empresa do ramo de fiação e tecelagem. 1919 Fim do “Período de Desenvolvimento do Movimento Sindical”. 1920 Fundação do Partido Comunista no Brasil. 1943 Consolidadas as Leis do Trabalho (C.L.T.). 1945 Surgimento de importantes partidos políticos, como PSD (Partido Social Democrático), a UDN (União Democrática Nacional) e o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). 1945 Organizada a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil, a CGT, e o Movimento Unitário dos Trabalhadores (MUT). 1946 Decreto põe fim ao “direito de greve”. 1947 Partido Comunista, o MUT e a CGT são colocados na ilegalidade. 1953 Grande greve no setor têxtil leva Vargas a nomear João Goulart para o Ministério do Trabalho. 1955 Juscelino Kubitscheck ganha as eleições contando com a proteção dos sindicatos e fortifica trabalhadores em setores não tradicionais. 1963 Declarada greve em 78 sindicatos de São Paulo durante 4 dias. Seria a última ‘vitória’ do sindicalismo brasileiro em muito tempo. 1964 Ocorre o Golpe Militar e a partir disso o movimento sindical passa por grande repressão. Início do Período conhecido como “Época Escura”. 1977 Fim da “Época Escura”. Nesta época foram eliminados alguns partidos, entre eles o PCB e o PTB. 1978 Ocorrem algumas paralisações pacíficas comandadas por comissões de trabalhadores em automobilísticas e autopeças. 1979 Luís Inácio da Silva lidera a greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. 1980 Criação do Partido dos Trabalhadores (PT). 1983 Criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). 1986 Fundação da Central Geral dos Trabalhadores (CGT). 1991 Fundação da Força Sindical. 1995 Unificação da data-base de toda a categoria no Estado de São Paulo. 19982003 Queda das vendas na Indústria Automobilística, marcada por greves e implantação do acordo de semana reduzida, evitando demissões em massa. Quadro 2: Evolução do sindicalismo no Brasil Fonte: elaborado pelo autor Se admitirmos a hipótese de que o sindicato brasileiro funciona preferencialmente com base em atividades reivindicatórias, existem dois caminhos que convém comentarmos. O primeiro deles afirma que uma reivindicação pode ser 20 emitida em termos de reclamação, denunciando que algo que deveria ser cumprido pela empresa não o está sendo. No outro, o sindicato pode reclamar também com o intuito de negociar com a empresa uma solução para o problema levantado. A reclamação, neste caso, é uma primeira etapa de um processo de negociação mais complexo e demorado. O sindicato pode concentrar as suas reivindicações em qualquer momento da negociação coletiva (LOBOS, 1985, p. 13). 2.1.4 Aspectos variáveis numa negociação Segundo Martinelli e Almeida (1998, p. 24), tempo e informação são duas variáveis básicas que condicionam o processo de negociação, independente de qual seja o objetivo da negociação, sua importância e oportunidade. Eles ainda complementam que “para se ter uma negociação efetiva, é importante ter [...] as duas variáveis presentes e, se possível, interligadas, além de saber utilizá-las corretamente”. Quanto ao tempo, Martinelli e Almeida (1998, p. 25-26) afirmam que: Na negociação, o tempo deve ser cuidadosamente analisado, verificando como ele afeta o processo. O tempo deve ser ponto de apoio para se projetar o negócio e conseqüente satisfação dos envolvidos, além de permitir a conclusão de que é ilimitado, podendo, entretanto, ser controlado. [...] quando se aproxima o prazo-limite, pode ocorrer uma troca de poder entre as partes, bem como uma solução criativa para o acordo, ou, então, o outro lado muda 180º o rumo da negociação. Conclui-se assim que as pessoas podem não mudar, mas com o passar do tempo, as circunstâncias mudam. “Informação é o ato ou efeito de informar-se acerca de alguém ou de algo” (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 26). O ponto-chave no processo de negociação é saber ouvir, escutar o que está sendo dito, entender o que está sendo omitido, além de observar a expressão dos outros negociadores, como se comunicam, suas expressões faciais, seus olhares, gestos, entonação ou ênfase, ou seja, as deixas que utilizam. Márcio Miranda (2003), presidente da Associação Brasileira de Negociadores, adverte sobre ‘saber ouvir’. Ele diz que: Infelizmente, poucos negociadores são bons ouvintes. E negociadores que não sabem ouvir perdem inúmeras oportunidades de fazer melhores negócios. As estatísticas mostram que o ouvinte normal só consegue entender e se lembrar de 50% de uma conversação. Esta porcentagem que já é bem baixa cai ainda mais – para 25% - 48 horas mais tarde. Isto quer dizer que o que lembramos de uma conversa é algo impreciso e incompleto. 21 Em virtude disso, ele recomenda que o desenvolvimento de habilidades de negociação inclua o treinamento para ‘ouvir bem’, que inclui atentar não apenas ao conteúdo, mas a aspectos não verbais da comunicação. Muitos problemas de comunicação em negociação podem ser atribuídos à falta de treinamento específico para se ouvir bem. Para ouvir bem, você tem que ser objetivo. Isto quer dizer que você tem que entender as intenções do seu oponente, o que ficou nas entrelinhas, e não somente aquilo que você quer ouvir. A cada nova frase dele você deve se perguntar: "Por que ele me disse aquilo? Como ele pensou que seria minha reação? Ele estava sendo honesto?" e daí por diante. Os melhores negociadores invariavelmente são os melhores ouvintes. Por que existe esta correlação? Quando eles estão negociando, prestam muita atenção à entonação, ritmo, altura e demais detalhes da voz. Negociadores experientes também observam atentamente os sinais não verbais, e analisam se os mesmos são condizentes com o que está sendo falado. “Não se pode negociar sem informações” (LOBOS, 1985, p. 280). Esta afirmação parece ser óbvia, mas Lobos afirma que é comum presenciar negociações em que os participantes estão completamente desinformados que até parecem que foram convocados a participar da negociação na última hora. O negociador deve fazer esforço para coletar todas as informações possíveis, pertinentes à negociação, principalmente em relação ao ambiente da negociação, à personalidade dos negociadores e às pressões informais emanadas de terceiros, assim como outras. A negociação coletiva também comporta variações, e Lobos (1985, p. 192-194) classifica essas variações em sete aspectos, apresentados a seguir: 1. A natureza dos organismos sindicais: existem muitos tipos de organizações sindicais, e cada um desses tipos “exerce influências totalmente diferentes sobre as relações entre trabalhadores e empregadores, sobre a estrutura sindical, sobre a vida do movimento trabalhista e o seu papel junto à massa operária”; 2. Unidade de negociação: “pode ser o estabelecimento empresarial local (ou mesmo uma fração deste), toda a empresa ou ainda uma associação local, regional ou nacional dos empregadores”; 3. Campo de aplicação dos resultados: em alguns países os contratos só abrangem os empregados sindicalizados, mas na maioria dos países, como o Brasil, o sindicato representa todos os empregados de uma determinada empresa que esteja em negociação, independente se ele seja sindicalizado ou nãosindicalizado; 22 4. A qualidade dos negociadores: “trata-se de especialistas pertencentes à burocracia nacional do sindicato ou de delegados eleitos pelos trabalhadores na empresa ou, ainda, de uma combinação de ambos”; 5. Duração dos convênios assinados e a periodicidade das negociações: em alguns países como os Estados Unidos e países da Europa, “a introdução da prática da renovação a prazo fixo dos Contratos Coletivos teve uma influência evidente sobre a regularização dos contratos anuais por contratos de longa duração”; 6. Grau de formalismo: na Inglaterra, os representantes dos trabalhadores nas empresas não têm interesse em comprometer-se formalmente com a outra parte e, por isso os acordos são sempre verbais. Já nos Estados Unidos e países sulamericanos “a negociação coletiva e seus resultados são rigidamente regulamentados”; 7. O campo da negociação: Pode diferenciar muito, não somente de país, mas de mas de ramos profissionais ou até, de empresas. Os empregadores lutam para não se discutir numa negociação as prerrogativas gerenciais, mas com o tempo eles parecem ceder. Em alguns países são discutidos nas negociações coletivas, assuntos como promoções, problemas de disciplina e de organização interna, assim como até problemas de política geral da empresa. 2.1.5 As estratégias empregadas numa negociação Quando se assume a condução de uma negociação, é muito importante estruturar uma estratégia, que deverá ser seguida. “Planejar estrategicamente significa avaliar o ambiente em que se pretende sobreviver e os recursos com que se conta para tanto, estabelecendo em seguida, objetivos capazes de concretizar a condição de sobrevivência desejada” (LOBOS, 1985, p. 285). Martinelli e Almeida (1997 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 27) afirmam que há “cinco tipos básicos de estratégias possíveis no processo”, que são: Estratégia de evitar: [...] tende a levar a negociação para um perdeperde; Estratégia de acomodação: [...] tende a levar para uma negociação perde-ganha; Estratégia competitiva: [...] o negociador busca ganhar a qualquer custo, levando normalmente para uma negociação ganha-perde; Estratégia colaborativa: [...] priorizam-se tanto o relacionamento quanto os resultados, encaminhando a negociação para o ganhaganha; 23 Estratégia de compromisso: [...] quando as partes não conseguem atingir boa colaboração, mas ainda preferem atingir alguns resultados e/ou preservar o relacionamento. Eles ainda descrevem que “para escolher qual dessas estratégias deve ser usada, os negociadores devem levar em conta dois pontos considerados fundamentais”: a. “quão importante é o resultado a ser obtido com a negociação; b. quão importante é o relacionamento passado, presente e futuro com o oponente”. Pode-se ainda dizer que o raciocínio estratégico que uma empresa faz quando se analisa a expansão de seu mercado é perfeitamente aplicável ao campo da negociação. “Baseado em informações limitadas e imperfeitas, o negociador analisa a situação (ambiente externo, recursos, etc.) e formula aproximadamente os seus objetivos” (LOBOS, 1985, p. 285). 2.1.6 Os papéis desempenhados numa negociação Em uma negociação, os negociadores podem desempenhar vários papéis. Casse (1995 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 28-29) afirma que “os papéis possíveis desempenhados” são os seguintes: Negociador efetivo: [...] conhece detalhadamente os fatos relacionados à negociação; documenta todas as declarações; faz questões realistas (verificando fatos); responde questões para esclarecer pontos e proporcionar informações complementares, quando pedidas; é preciso, de maneira que pontos fundamentais não são perdidos ou permaneçam descobertos. Negociador analítico: costuma apresentar seus argumentos de negociação de maneira lógica, procurando ter certeza de que a estratégia está sendo corretamente implementada e adaptada, se necessário. Costuma negociar a agenda da reunião, estabelecendo as regras da negociação. Faz perguntas à outra parte para esclarecer a racionalidade de sua posição, verificando os impactos sobre seu próprio grupo de negociação, preparando eventuais adaptações ao seu enfoque. Negociador relativo: [...] é um facilitador das relações entre os membros dos grupos de negociação; estabelece e mantém boas relações com pelo menos uma parte dos membros do outro grupo; é sensível às reações dos negociadores (importância dos sentimentos e emoções); constrói a confiança; examina as forças e fraquezas do oponente. Negociador intuitivo: costuma ter habilidade para trazer idéias, novos caminhos para enfocar a negociação, opções potenciais, dentre outros. Costuma enxergar claramente quais os pontos essenciais da negociação, bem como os aspectos fundamentais dos seus detalhes. Examina sempre as implicações futuras de cada proposta. Tende a juntar as várias partes e a examinar a negociação no seu todo. 24 Normalmente supõe, por meio de palpites, qual o caminho que a negociação está tomando, verificando seus desdobramentos. Independente do papel que se aplique numa negociação, todo bom negociador deve reconhecer que ela é “um processo fundamental alicerçado em quatro fundamentos: o estabelecimento dos objetivos de negociação, a administração de informações, a apresentação de argumentos e a disponibilidade de alternativas de ação” (LOBOS, 1985, p. 279). 2.1.7 Os estilos aplicados numa negociação Martinelli e Almeida (1998, p. 78) afirmam que é muito importante conhecer os estilos de negociação, pois muitas pessoas negociam com base em um estilo e não em uma orientação da questão discutida. Reconhecendo o estilo da outra parte, os negociadores podem prever as ações que são parte dele. Gottschalk (1974, apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 88) definiu estilo de negociação como “a descrição de todas as características de comportamento de um indivíduo envolvido em um encontro de negociação”, e reconheceu quatro estilos: Estilo duro: [...] é dominante, agressivo e orientado para o poder; Estilo caloroso: [...] é apoiador, compreensivo, colaborador e orientado para as pessoas; Estilo dos números: trata-se de um estilo analítico, conservador, reservado e orientado para as questões; Estilo negociador: [...] tem como características [...] a flexibilidade, compromisso, integração e orientação para resultados. Já Marcondes (1993, apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 104) classifica os estilos de negociação em cinco tipos diferentes: Estilo afirmação: [...] o negociador alcança seus objetivos usando assertividade; Estilo persuasão: [...] caracteriza-se pelo uso de informação e raciocínio para que o negociador alcance seus objetivos; Estilo ligação: [...] caracterizado pelo uso da empatia para compreender os objetivos do outro; Estilo atração: [...] caracterizado por um conjunto de comportamentos que levam a um envolvimento do interlocutor; Estilo “destensão”: buscar a convergência em uma negociação [...], abordar pontos nos quais possa haver acordo ou até mesmo interromper a negociação, mesmo que momentaneamente, para poder preservar sua efetividade. 25 Junqueira (2003a) define o estilo de negociação como sendo “resultante das habilidades comportamentais do indivíduo. Portanto, cada indivíduo tem um estilo próprio de negociação, e não existe um estilo ideal para a prática de uma negociação”. Sobre o estilo ideal, Junqueira (2003b) também vai mais além, colocando a seguinte definição: Na realidade não existe um estilo ideal, o que pode existir é um estilo mais adequado para uma determinada situação. O bom negociador é aquele que no relacionamento com outras pessoas procura potencializar seus pontos fortes, usar argumentos que respeitem as características individuais de quem está do outro lado da mesa. E isso está presente em todos os estilos, é só utilizar. A seguir, Junqueira (2003a) classifica os estilos de quatro formas, tais como: Estilo catalisador: é criativo, empreendedor, sensível a elogios, superficial, exclusivista, inconstante; para obter apoio usa suas habilidades sociais, idéias novas; valoriza o reconhecimento; sob tensão fala alto e rápido, agita-se; precisa aprender a possuir autodisciplina e moderação. Estilo apoiador: é amável, compreensivo, prestativo, perde tempo, evita conflito; para obter apoio faz amizades, busca harmonia; valoriza a atenção que recebe; sob tensão finge concordar não se manifesta; precisa aprender a fixar metas e autodeterminação; Estilo controlador: é decidido, eficiente, objetivo, assume riscos, exigente, crítico, mandão; para obter apoio confia na eficiência em trabalho realizado dentro do prazo; sob tensão ele ameaça, impõe e torna-se tirânico; valoriza resultados e cumprimento de metas; precisa aprender a ser humilde e escutar os outros. Estilo analítico: é sério, organizado, paciente, controlado; indeciso meticuloso, teimoso e perfeccionista; para obter apoio mantêm-se a par do que acontece, especializa-se; sob tensão cala-se, retira-se ou evita conflito; valoriza a segurança e uma maior garantia; precisa aprender a tomar decisões mais rápidas e a arriscar mais. 2.1.8 Conclusão de Negociação Como podemos perceber nestes itens que acabaram de ser apresentados, há muitas definições sobre o tema “negociação” e todas são válidas, à medida que cada uma observa de focos diferentes este tema. A negociação coletiva possui uma definição exclusiva e muito importante para os objetivos deste trabalho. A negociação sindical mostra a evolução histórica do sindicato e que a negociação foi com certeza, uma importante ferramenta para as grandes conquistas conseguidas pelo sindicato. Além disso, podemos perceber que a literatura impõe algumas condições que devem ser observadas quando se está negociando ou se preparando para tal. Essas condições são conhecer e saber aplicar as variáveis básicas da negociação, como 26 tempo e informação, as estratégias, os estilos de negociação e os papéis que podem ser desempenhados. A seguir, poderemos perceber como se deve montar e aplicar um instrumento de pesquisa para que os dados obtidos possam ser considerados válidos para a pesquisa. 2.2 Elaboração de instrumentos de pesquisa 2.2.1 O questionário “Na essência da pesquisa está o processo de elaboração do questionário” (REA; PARKER, 2002, p. 39). Existem diversos instrumentos de coleta de dados que podem ser utilizados para obter informações acerca de grupos sociais, sendo talvez o mais comum entre eles, o questionário. Geralmente, os questionários cumprem duas funções: descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social (RICHARDSON et al, 1999, p. 189). A descrição apropriada de um grupo é muito importante, pois pode beneficiar tanto o pesquisador quanto outros especialistas, como planejadores, administradores e outros. Os questionários também podem ser usados para medir as variáveis individuais ou grupais. “Tais questionários podem incluir perguntas unidimensionais [...] ou perguntas múltiplas. [...] Esse último tipo de questionário é utilizado para medir diversos fenômenos atitudinais, tais como alienação, autoritarismo, religiosidade etc” (RICHARDSON et al, 1999, p. 190). Rea e Parker (2002, p. 39) nos informam que quase todos os questionários têm vantagens e falhas. Por isso o pesquisador tem que ter uma boa experiência, utilizando-se também de um critério profissional, para maximizar as vantagens e minimizar as falhas, pois nenhum questionário será ideal para obter todas as informações desejadas. É importante ressaltar que não há normas claras para avaliar a adequação de determinados questionários a clientelas específicas. Devido a isso, o pesquisador tem algumas responsabilidades, tais como “determinar o tamanho, a natureza e o conteúdo do questionário, de acordo com o problema pesquisado e respeitar o entrevistado como ser humano que pode possuir interesses e necessidades divergentes das do pesquisador” (RICHARDSON et al, 1999, p. 190). 27 Como Rea e Parker já mencionaram, todos os questionários têm vantagens, mas também têm limitações. Richardson et al (1999, p. 205) apresentam algumas dessas vantagens: 1. O questionário permitir obter informações de um grande número de pessoas simultaneamente ou em tempo relativamente curto. 2. Permite abranger uma área geográfica ampla. 3. Apresenta relativa uniformidade de uma medição a outra. 4. No caso do questionário anônimo [...], as pessoas podem sentir-se com maior liberdade para expressar suas opiniões. 5. O fato de ter tempo suficiente para responder ao questionário pode proporcionar respostas mais refletidas que as obtidas em uma primeira aproximação com o tema pesquisado. 6. A tabulação de dados pode ser feita com maior facilidade e rapidez que outros instrumentos (por exemplo, a entrevista). E limitações: 1. Muitas vezes não se obtém os 100% de respostas aos questionários. 2. Problema de validade. Nem sempre é possível ter certeza de que a informação proporcionada pelos entrevistados corresponde à realidade [...]. 3. Problema de confiabilidade. As respostas dos indivíduos variam em diferentes períodos de tempo. Hill e Hill (1998, p. 4) ressaltam que “é fácil elaborar um questionário, mas não é fácil elaborar um bom questionário”. Eles prescrevem que para se escrever um bom questionário é fundamental especificar primeiro em detalhes: objetivos da investigação; as hipóteses; as escalas de resposta das perguntas do questionário; os métodos para analisar dados. No início do processo é importante determinar as questões mais significativas para o estudo. Antes de elaborar as perguntas, os pesquisadores “precisam colher informações preliminares a respeito de questões importantes para as partes interessadas e os indivíduos-chave”. Questões essas que se originam, no todo ou em parte de três tipos de informações: descritivas, comportamentais e preferenciais (REA; PARKER, 2002, p. 40). Quando se conclui esse estágio, deve-se linear e especificar as questõeschave que surgiram, submetendo-as, então, “a membros dos grupos de discussão para esclarecimento, confirmação e explicações adicionais”. A partir “dessa revisão, os 28 pesquisadores podem preparar um rascunho do questionário ou instrumento de pesquisa” (REA; PARKER, 2002, p. 40). Uma parte muito importante deste processo é o pré-teste do questionário. Ele “identifica as questões que os respondentes têm dificuldade de compreensão ou que interpretam diferentemente do que o pesquisador pretendeu” (KROSNICK, 1999, p. 541). O pré-teste “refere-se à aplicação prévia do questionário a um grupo que apresente as mesmas características da população incluída na pesquisa” (RICHARDSON et al, 1999, p. 202) e serve para avaliar fatores críticos como clareza do questionário, abrangência do questionário e aceitabilidade do questionário (REA; PARKER, 2002, p. 40). Richardson et al (1999, p. 204) faz uma conclusão sobre o pré-teste que merece ser destacada: O pré-teste é um momento muito útil para revisar o processo de pesquisa [...]. Existem pesquisadores que, acreditando conhecer muito bem as características de uma população, planejam todo o trabalho, inclusive os instrumento de coleta, sem uma discussão inicial com representantes dessa população. Assim, utilizam o préteste para “traduzir” na linguagem da população suas idéias, sem se preocuparem com os interesses e necessidades das pessoas. É uma posição que não contribui em nada ao diálogo entre pesquisador e “pesquisado”. Indubitavelmente, à medida que se reforça esse diálogo, o pré-teste do instrumento servirá para uma discussão mais aprofundada dos temas pesquisados. Assim, tanto pesquisador quanto “pesquisado” experimentam nesse conjunto um processo de aprendizagem. Isso é muito importante de considerar quando se fazem pesquisas com populações de nível cultural e social diferente do pesquisador. Krosnick (1999, p. 545) relata que “um fenômeno bem-conhecido na pesquisa de coleta de dados é o superrelato de atitudes e comportamentos admiráveis e a subrelatação daquelas que não são socialmente respeitadas”. Esse viés ou tendência nas pesquisas é conhecido como ‘desejabilidade social’. O exemplo dado por Clausen, Granberg e Holmberg, e Traugott e Katosh (1968, 1991, 1979 apud KROSNICK, 1999, p. 545) ilustra isso. Eles constataram que “a porcentagem de respondentes que dizem que votaram na última eleição é usualmente maior do que a porcentagem da população que verdadeiramente votou”. Ao discutir as razões desse viés, podem ser consideradas duas possibilidades. A primeira possibilidade considera que o viés é intencionalmente provocado pelos respondentes. No caso da eleição, Krosnick (1999, p. 545) identificou que os respondentes fazem isso intencionalmente, porque dizer que votou é mais apreciável do que dizer que não votou. 29 A segunda possibilidade é do erro de memória. Krosnik (1999, p. 546) refere-se ao estudo de Belli et al (manuscrito não publicado), no qual o superrelato foi reduzido significativamente: [...] alertando claramente os respondentes para a confusão potencial de memória e encorajando-os a pensar cuidadosamente para evitar tal confusão. Estas instruções tiveram efeito benéfico crescente sobre a exatidão dos relatos à medida que era maior o intervalo de tempo entre o dia da eleição e o da entrevista. Assim, deve-se considerar que a tendência da desejabilidade social em pesquisas que se valem de questionário pode ser menos comum do que muitas vezes se considerou. Ainda assim, é prudente que ao se construir um questionário, separe-se os aspectos positivos de aspectos negativos, pois como visto, quando uma característica é percebida pelo sujeito como indesejável (do ponto de vista social), ela é subrelatada. Se as duas características são negativas (ou positivas), não há como escapar, tem que relatar. Ao finalizar o pré-teste, os pesquisadores devem revisar as questões de acordo com as necessidades. Se as revisões forem extensas, um segundo pré-teste pode ser efetuado, senão o questionário final pode ser implementado em um estudo real (REA; PARKER, 2002, p. 41). Quando se inicia o estudo, deve-se tomar muito cuidado com a sua apresentação aos entrevistados em potencial. Independente se a sua pesquisa será via correio, telefone ou pessoal, há algumas informações que devem ser expostas e esclarecidas aos entrevistados, afim de fazê-lo compreender o valor de sua pesquisa e aceitar participar dela. A pesquisa deve conter primeiro, a organização ou agência que conduz o estudo, podendo-se adquirir maior credibilidade para o estudo se o patrocinador for um órgão governamental. A seguir devem ser estabelecidos os objetivos e as metas do estudo, como também a base da seleção da amostra. “As características que levaram à inclusão do entrevistado na amostra devem ser claramente delineadas” (REA; PARKER, 2002, p. 42). Não há respostas corretas ou incorretas e o entrevistado deve saber que sua participação é valorizada e que está totalmente protegida em termos de confidencialidade. No caso das entrevistas por telefone e pessoais, o entrevistador deve identificar-se e obter permissão para realizar as perguntas da pesquisa, podendo inclusive, incluir uma estimativa do tempo necessário à conclusão do 30 questionário. No caso de um questionário enviado pelo correio, deve incluir instruções para retorno pelo correio, informando a data limite para devolução (REA; PARKER, 2002, p. 42). As perguntas de um questionário podem ser de duas maneiras: abertas ou fechadas, sendo que um questionário pode constituir-se em três categorias: questionário de perguntas abertas; questionário de perguntas fechadas; e questionário que combina os dois tipos (RICHARDSON et al, 1999, p. 190). Os questionários de perguntas abertas “caracterizam-se por perguntas ou afirmações que levam o entrevistado a responder com frases ou orações. O pesquisador não está interessado em antecipar as respostas, deseja uma maior elaboração das opiniões do entrevistado” (RICHARDSON et al, 1999, p. 192-193). “Uma das grandes vantagens das perguntas abertas é a possibilidade de o entrevistado responder com mais liberdade, não estando restrito a marcar uma ou outra alternativa” (RICHARDSON et al, 1999, p. 195). Isso ajuda muito o pesquisador quando ele “deseja realizar determinado assunto mas não está familiarizado com a população a ser entrevistada e não pode, portanto, antecipar possíveis respostas” (RICHARDSON et al, 1999, p. 194). Mas as perguntas abertas só devem ser usadas pelos pesquisadores quando, tanto para o pesquisador quanto para o entrevistado, as restrições às perguntas fechadas superam as inconveniências das abertas. Essas perguntas provocam um volume muito grande de informações irrelevantes e repetitivas e suas respostas, muitas vezes, são difíceis de entender e incoerentes. Torna difícil também a análise estatística, pois para isso precisa de um certo grau de padronização dos dados (REA; PARKER, 2002, p. 47). Já os questionários de perguntas fechadas “são aqueles instrumentos em que as perguntas ou afirmações apresentam categorias ou alternativas de respostas fixas e preestabelecidas. O entrevistado deve responder à alternativa que mais se ajusta às suas características, idéias ou sentimentos” (RICHARDSON et al, 1999, p. 191). Uma de suas vantagens é que o conjunto de alternativas de resposta é uniforme e portanto facilita comparações entre os entrevistados. Outra vantagem é que a lista fixa de possibilidades de resposta tende a tornar a pergunta mais clara para o entrevistado. Quando se trata de assuntos delicados, esse tipo de pergunta com opção de respostas pode trazer uma precisão muito melhor, pois se fazendo uma pergunta aberta poderia inibir o valor real da resposta. Também para assuntos associados à privacidade do entrevistado, a pergunta fechada com opções de resposta tem uma probabilidade de resposta muito maior do que teria a pergunta aberta. Entre as desvantagens, podemos dizer que no caso do entrevistado estar incerto diante de uma 31 resposta fixa, ele pode escolher uma ao acaso, sem usar um critério próprio. Ou se ele entender mal a pergunta, pode escolher a resposta errada. No geral, podemos dizer que os entrevistados escolhem a resposta mais próxima de sua realidade. Outra desvantagem, é que esse tipo de questionário restringe a amplitude da resposta (REA; PARKER, 2002, p. 44-47). Se o pesquisador achar necessário, poderá incluir perguntas abertas em seu questionário de perguntas fechadas. Essa mistura de tipos de pergunta caracterizam os questionários que combinam perguntas abertas e fechadas. Para tentar minimizar o erro nas respostas pode-se usar a opção “Outros”, mas somente se foi percebido durante o pré-teste a sua utilidade, senão, não deverá ser utilizado. Essa opção “permite que o entrevistado tenha mais liberdade de resposta, o que, na realidade, é difícil de ocorrer” (RICHARDSON et al; REA; PARKER; 1999, 2002, p. 193, p. 46-47). Paul Lazarsfeld (1987 apud KROSNICK, 1999, p. 543) concluiu em pesquisas “que a qualidade dos dados coletados de cada método pareceu ser equivalente, deste modo o maior custo de administração das perguntas abertas parece não valer a pena”. Smith (1987 apud KROSNICK, 1999, p. 543) completa informando que as “perguntas fechadas têm se tornado popularmente crescente, enquanto que as perguntas abertas têm sido usadas cada vez menos”. A seqüência em que as perguntas aparecem no questionário é muito importante. Um questionário mal organizado pode levar o entrevistado a enviesar sua resposta e colocar em risco a qualidade da pesquisa. As perguntas iniciais devem estar relacionadas ao assunto da pesquisa e devem ser fáceis de responder. “A principal finalidade das primeiras perguntas é estimular o interesse pela continuação do questionário sem ofender, ameaçar, confundir ou entediar o entrevistado” (REA; PARKER, 2002, p. 47). Quando a pesquisa tratar de assuntos delicados, recomenda-se colocar as perguntas, referentes a esses assuntos, no final do questionário. Isso porque se o entrevistado se recusar a responder essas perguntas e não quiser mais colaborar com a pesquisa, ele já terá respondido quase que todas as outras perguntas e as informações já obtidas podem ser utilizadas (REA; PARKER, 2002, p. 48). Para se estabelecer um projeto ideal de questionários, é necessário manter perguntas afins juntas, para não desconcentrar o entrevistado. Separando as categorias de perguntas através de um cabeçalho, se tornará mais fácil fazer isso. Embora seja desejável unir as perguntas afins, é importante criar uma séria 32 padronizada de respostas, com o intuito de minimizar as respostas automáticas, dadas sem reflexão (REA; PARKER, 2002, p. 49-51). É muito importante também que as perguntas tenham uma seqüência lógica, como uma seqüência de tempo, por exemplo. A pergunta deve ser feita da situação atual para as situações imediatamente anteriores, facilitando a resposta do entrevistado (REA; PARKER, 2002, p. 51). Há questionários em que as respostas às perguntas permitem identificar a força relativa de áreas diferentes que estão sob avaliação e à qual o questionário se dirige. Um exemplo desse modelo de questionário foi desenvolvido por três psicólogos: Allport, Vernon e Lindzey, no início do século vinte. Naquele momento, foi desenvolvido para aplicação num estudo de valores, obtendo resultados muito melhores e mais próximos da realidade em relação aos métodos de pesquisa existentes. Esse estudo “foi planejado para medir a relativa proeminência de seis interesses básicos, ou motivos, ou atitudes valorizadoras” (ANASTASI, 1972, p. 637). Os psicólogos, no entanto, nos alertam que “por causa da forma de item empregada neste teste, os resultados finais refletem apenas a força relativa nas seis áreas. Assim, seria impossível obter resultados altos ou baixos em todas as áreas” (ANASTASI, 1972, p. 639). Em algumas situações é preciso testar a confiabilidade das respostas de seus entrevistados, e isso pode ser feito realizando-se praticamente a mesma pergunta, mas de maneira diferente, em pontos distintos do questionário. Se as respostas forem semelhantes, pode ser considerada real. Ao contrário, as respostas devem ser descartadas. Ao final do questionário, para garantir que nada será esquecido ou omitido pelo entrevistado, pode-se fazer uma pergunta aberta de aspecto geral, solicitando ao entrevistado uma opinião complementar sobre algumas das questões por ele respondida, e incluir alguma coisa que eventualmente possa ter sido esquecido de se perguntar (REA; PARKER, 2002, p. 53-54). Quanto a sua extensão, o questionário deve ser o mais sucinto possível, mas abrangendo todo o assunto requerido pelo estudo. Deve-se evitar fazer perguntas periféricas ou fora do foco principal da pesquisa. Quanto ao tempo das entrevistas, deve ser o mais curto possível. “Idealmente, as pesquisas por telefone devem durar dez minutos, as pelo correio, cerca de 15 e as entrevistas pessoais devem durar menos de trinta minutos” (REA; PARKER, 2002, p. 55). Goode e Hatt (1973 apud 33 RICHARDSON, 1999, p. 197) completam dizendo que “todo questionário deve ter uma extensão e um escopo limitados”. Quando se redige as perguntas de uma entrevista, algumas diretrizes devem ser observadas para se obter sucesso na pesquisa. Um dos pontos a se observar é o nível de linguagem. Outra diretriz é o uso de palavras e frases não-específicas. As perguntas com múltiplas finalidades poderão confundir o entrevistado. Outro problema que pode ocorrer são as informações manipulativas, que podem influenciar indevidamente a resposta. O pesquisador deve somente solicitar opiniões do entrevistado e não distorcer suas respostas em nenhuma direção. Não se deve usar palavras em negrito, itálico, maiúsculas ou sublinhadas quando se elabora uma pergunta. Isso poderá dar uma ênfase inadequada a essa frase. Por último, deve-se evitar também o uso de palavras e frases emocionais, pois as perguntas devem ser tão neutras quanto possíveis (REA; PARKER, 2002, p. 57-63). Na elaboração das perguntas, Hill e Hill (1998, p. 14) nos deixam um aviso muito importante que deve ser respeitado: “Pense cuidadosamente qual é o objetivo geral (o tipo de informação que quer solicitar) de cada uma das perguntas que está a colocar no questionário. É muito fácil escrever perguntas que não solicitam o tipo de informação que pretende”. Devemos também ter muito cuidado na formatação das perguntas, pois enquanto as perguntas abertas exigem apenas algumas linhas em branco para serem preenchidas, as perguntas fechadas obrigam uma quantidade maior de considerações. A primeira delas é a distribuição das respostas no questionário, que devem “estar claramente delineadas para que não haja confusão para o entrevistado, nem para o pesquisador quando examinar as respostas” (REA; PARKER, 2002, p. 64). Quanto mais números de respostas alternativas houver numa questão, melhor será, desde que também esse número não se torne exagerado. Podemos encontrar alguns problemas na estrutura de categorias para variáveis de escala de intervalos, pois “pela natureza de sua escala, as variáveis nominais e ordinais possuem categorias claramente identificáveis, nas quais existe, em geral, pouca amplitude com relação à especificação de casos” (REA; PARKER, 2002, p. 66). Há algumas diretrizes que devem ser lembradas na hora de decidir como montar a questão de seu questionário: é ideal que as categorias na escala de intervalos sejam iguais em termos do tamanho dos seus intervalos; cada categoria deve conter um número razoável de respostas; os limites das categorias devem estar em conformidade com os pontos de divisão tradicionais; e cada categoria deve consistir de respostas uniformemente distribuídas por toda a sua gama de valores. No caso de dados ordinais, a ordem das 34 alternativas de resposta deve possuir uma ordem lógica inerente. Já para os dados nominais é interessante que se liste as alternativas ao acaso “para eliminar deliberadamente quaisquer efeitos potenciais de inclinação de determinada seqüência” (REA; PARKER, 2002, p. 68). Durante o questionário, o entrevistador pode inserir perguntas que solicitem respostas múltiplas, mas deixando claro ao entrevistado se é aceitável mais de uma resposta ou se é solicitada uma classificação. Outro mecanismo que pode ser utilizado pelo entrevistador são as respostas escalonadas, oferecendo ao entrevistado uma série contínua de alternativas de resposta. Alguns princípios devem ser seguidos para se utilizar as respostas escalonadas: o número de perguntas na série deve consistir de dois a dez itens; as perguntas escolhidas devem abranger tantos aspectos relevantes quanto possível; as perguntas devem ser unidimensionais; a escala deve ser lógica e coerente com uma série contínua; e para cada pergunta, a escala deve medir as dimensões da resposta na mesma ordem. E para finalizar, uma última consideração, também muito importante, é fornecer instruções ao entrevistado de maneira clara e visível (REA; PARKER, 2002, p. 73). Hill e Hill (1998, p. 52) completam essa última consideração alertando que o pesquisador não deve presumir que os respondentes sabem como responder às perguntas. Ele deve dar instruções e verificar sempre que as instruções sejam claras. Vale a pena pedir a um amigo(a) que leia as instruções (e as perguntas ) para verificar sua clareza. Processar os dados do questionário de forma não-computadorizada seria uma tarefa muito difícil e longa, por isso o uso de computadores é muito útil. E para facilitar a entrada dos dados no computador, devemos precodificar o instrumento de pesquisa, ou seja, estabelecer códigos numéricos para cada categoria de resposta. Esses códigos devem ser discretos tanto na aparência quanto na localização e seguir um padrão coerente ao longo do questionário. Também devem ser bem visíveis, para facilitar a entrada dos dados no computador. A precodificação antecipada serve somente para as perguntas fechadas, pois as perguntas abertas não são previsíveis (REA; PARKER, 2002, p. 77-78). Depois de redigir, formatar e precodificar as perguntas, devemos nos preparar para aplicar o questionário. Como já vimos anteriormente, as pesquisas podem ser realizadas pelo correio, por telefone ou pessoalmente. Vamos mostrar mais detalhadamente cada uma delas. Quando se realizam pesquisas pelo correio, algumas diretrizes devem ser seguidas: o questionário deve ser diagramado na forma de um livreto, evitando semelhanças com folhetos publicitários; as perguntas devem possuir espaço 35 adequado entre elas e não devem ser divididas em duas páginas; deve-se ter muito cuidado ao inserir figuras no questionário; a página inicial deve conter uma carta de abertura; a página final deve conter agradecimentos pela participação na pesquisa e, endereço e instruções para devolução do questionário; os questionários devem conter um número de identificação para facilitar seu acompanhamento, devendo ser informado ao entrevistado a sua garantia de privacidade e confidencialidade (REA; PARKER, 2002, p. 80). Deve-se marcar uma data-limite para a devolução dos questionários, que deve ser de aproximadamente três semanas após a data inicial de envio. Após duas semanas da data de envio, uma carta lembrete deve ser enviada aos que ainda não responderam o questionário. Após quatro semanas da data de envio, uma nova carta lembrete pode ser enviada. Historicamente, é razoável se esperar de 50 a 60% de índice de retorno dos questionários, mas se houver necessidade, pode-se enviar mais cartas lembretes nas próximas duas semanas e realizar um telefonema aos que ainda não responderam (REA; PARKER, 2002, p. 80-81). Além da desvantagem de ter uma baixa taxa de devolução, o pesquisador precisa estar atento ao “viés nas respostas dos questionários, pois, geralmente, os formulários são devolvidos pelas pessoas mais interessadas em colaborar. Portanto, a amostra não é aleatória, o que prejudica a análise dos resultados” (RICHARDSON et al, 1999, p. 197). Pode-se utilizar a pesquisa por telefone, pois ela tem implementação menos complexa que a pelo correio, sendo o aspecto mais importante dessa técnica, o uso de entrevistadores pessoais, onde sua seleção e treinamento adequados são essenciais para o sucesso do projeto de pesquisa (REA; PARKER, 2002, p. 81). O anúncio para seleção de entrevistadores deve ser feito contendo todas as informações necessárias para o bom andamento da pesquisa, como horas de trabalho, remuneração, local do trabalho e se é ou não necessário à fluência em outro idioma além do português. Depois de selecionados os entrevistadores, os pesquisadores devem fornecer treinamento geral em relação às técnicas fundamentais do processo de entrevista e, então, instruí-lo na utilização adequada do questionário. Os entrevistadores devem receber uma visão geral do objetivo do projeto de pesquisa. A organização patrocinadora da pesquisa também deve ser citada. Também é importante conscientizar os entrevistadores do papel que desempenham no processo de pesquisa como um todo; isto é, eles devem conhecer o tamanho da amostra, a técnica de seleção de amostra empregada e como seu papel se relaciona ao processo inteiro de pesquisa, inclusive a entrada e análise de dados e a preparação do relatório final (REA; PARKER, 2002, p. 83). 36 Já as entrevistas pessoais, que no passado foi o método mais usado para coleta de dados de pesquisa, têm perdido sua popularidade por três razões principais: 1. Tem havido avanços tecnológicos significativos nas entrevistas por telefone, em especial com o advento da discagem randômica. 2. No passado, os entrevistadores eram, em geral, donas de casa que queriam trabalhar em tempo parcial. 3. O aumento da criminalidade tornou extremamente difícil encontrar pessoas para fazer entrevistas pessoais. Quanto à seleção dos entrevistadores, os critérios usados são os mesmos da entrevista por telefone, com exceção de uma ênfase maior para as características físicas, tais como, modo de vestir, asseio, boas maneiras e aparência geral, adquirem maior importância nas entrevistas pessoais e estabelecem o tom para a seriedade da pesquisa. No entanto, essas características precisam ser enfatizadas no processo de seleção. Outro fator importante que o pesquisador precisa estar atento no momento de selecionar seus entrevistadores, é o fato das pessoas se sentiram mais à vontade para responder à perguntas com entrevistadores de características físicas semelhantes à sua, como já foi mostrado em vários estudos realizados sobre essa situação. O treinamento para esses entrevistadores pode ser o mesmo usado para os entrevistadores de pesquisas por telefone, com uma ênfase maior na manutenção de uma boa aparência pessoal e o desenvolvimento de desembaraço para apresentar materiais visuais ao entrevistado, lembrando ainda que as entrevistas pessoais precisam ser pré-arranjadas para proteger a privacidade e a segurança tanto do entrevistador como do entrevistado, em contraste com as entrevistas por telefone, que são espontâneas (REA; PARKER, 2002, p. 86). É aconselhável enviar a todos os entrevistados em potencial uma carta, semelhante à da pesquisa pelo correio, informando o entrevistado sobre a pesquisa e a sua importância na participação da mesma. Essa recomendação, feita por Rea e Parker (2002, p. 86-87), deve ser acompanhada da informação de que ele receberá um telefonema para agendar a entrevista. Uma semana após o entrevistador ter enviado as cartas, ele deve começar a fazer os telefonemas. Essas entrevistas devem ser agendadas em local e horário conveniente para o entrevistado. Alguns pesquisadores e entrevistadores têm inovado no modo de fazer as entrevistas pessoais, utilizando novidades tecnológicas como laptop e webcam’s. Mas Krosnick (1999, p. 543) alerta que “talvez as inovações tecnológicas tenham dado um 37 passo grande demais, porque sem a presença do entrevistador, a entrevista pessoal é impossível”. Quando se verifica a taxa de resposta de um questionário, deve-se levar em consideração que para uma amostra ser significativa, essa taxa tem de ser alta. “Entretanto, a maior parte das entrevistas por telefone têm dificuldades de alcançar taxas de resposta maiores do que 60%, e a maior parte das entrevistas pessoais têm dificuldades de alcançar taxas de resposta maiores do que 70%” (BREHM, 1993 apud KROSNICK, 1999, p. 539). Todo projeto de pesquisa necessita de supervisão e monitoramento da pesquisa de campo. Num projeto de pequeno porte, este papel pode ser desenvolvido pelo próprio pesquisador, mas num projeto de grande porte há a necessidade de se contratar um supervisor, que possa trabalhar pelo menos 20 horas por semana no estágio inicial da pesquisa. A supervisão numa instalação centralizada de pesquisa dá ao supervisor uma oportunidade melhor de monitorar a pesquisa, mas se isso não for possível, ele deve selecionar 10% da amostra e ligar verificando se o entrevistado ficou satisfeito com a participação na pesquisa. Ele deve revisar o trabalho dos entrevistadores, estar à disposição para perguntas e ter contatos freqüentes com eles, por telefone ou em reuniões pessoais. Se necessário for, o supervisor deve redistribuir os casos entre os entrevistadores. Ele deve também monitorar para que as pesquisas sejam realizadas dentro do prazo estabelecido. “É responsabilidade do supervisor monitorar constantemente o desempenho dos entrevistadores nesses objetivos” (REA; PARKER, 2002, p. 87). Depois de realizada a pesquisa de campo, é necessário organizar o questionário preenchido. Antes de entregar os questionários ao pesquisador, o entrevistador deve verificar a exatidão dos mesmos, sua legibilidade e se estão completos. O pesquisador precisa revisar cada questionário para controlar a qualidade. Nos questionários enviados pelo correio, essa checagem, por parte do pesquisador, deve ter uma atenção maior ainda, já que não passa pela revisão de entrevistadores (REA; PARKER, 2002, p. 87). “Depois de preenchidos, editados e codificados, os questionários estão prontos para o processo de digitação dos dados. Os detalhes específicos desse processo dependem das instalações de hardware e do software à disposição do pesquisador” (REA; PARKER, 2002, p. 90). Há muitos tipos de programas que devem ser analisados e escolhidos de acordo com a pesquisa. 38 2.2.2 A Entrevista Em toda relação de pessoas é importante que ocorra uma interação entre elas. Richardson et al (1999, p. 207) cita a entrevista como uma técnica importante que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas. É um modo de comunicação no qual determinada informação é transmitida de uma pessoa A a uma pessoa B. Ele também define a expressão “entrevista” como sendo a união de duas palavras: entre e vista, sendo que Vista refere-se ao ato de ver, ter preocupação de algo, e Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre duas pessoas. Uma pessoa com um conjunto de perguntas preestabelecidas denomina-se entrevistador, enquanto que a pessoa que vai responder essas perguntas denominase entrevistado. As entrevistas são classificadas de duas maneiras: a entrevista estruturada, mais conhecida como questionário, é aquela construída com perguntas e respostas pré-estabelecidas e usada quando o “pesquisador deseja impor suas perguntas a outra pessoas e/ou conheça bem a população que será entrevistada” (RICHARDSON et al, 1999, p. 208). Já a entrevista não estruturada visa obter do entrevistado o que ele considera como aspectos mais relevantes de determinado problema: as suas descrições de uma situação em estudo. “A entrevista não estruturada procura saber que, como e por que algo ocorre, em lugar de determinar a freqüência de certas ocorrências, nas quais o pesquisador acredita” (RICHARDSON et al, 1999, p. 208). Durante uma entrevista, usam-se algumas técnicas as quais variam segundo o contexto no qual estão inseridas. Deve-se levar em conta que essas técnicas terão variação se apenas se deseja obter informação sobre certos acontecimentos, explorar as atitudes e motivações de um indivíduo ou modificar os comportamentos (RICHARDSON et al, 1999, p. 209). Nesse caso, destacam-se três tipos de entrevistas: a entrevista dirigida, que contém perguntas precisas, pré-formuladas e com uma ordem preestabelecida; a entrevista guiada, que utiliza um guia de temas a ser explorado durante o transcurso da entrevista; e a entrevista não diretiva, que permite ao entrevistado desenvolver suas opiniões e informações da maneira que ele estimar conveniente (RICHARDSON et al, 1999, p. 210). 39 2.2.3 Conclusão de Elaboração de Instrumento de Pesquisa Como podemos perceber, há muitos cuidados que devem ser tomados e muitas etapas que devem ser seguidas quando se está elaborando um instrumento de pesquisa. Após sua elaboração, ainda há também cuidados e etapas à serem seguidas para uma correta aplicação deste instrumento. A literatura estudada e aplicada é muito minuciosa e detalhista. Isto permite enriquecer as informações contidas nesta Revisão Bibliográfica e garantir qualidade ao instrumento de pesquisa aplicado. Porém, para avaliar se realmente o instrumento proposto teria validade, seria necessário primeiro definir os objetivos deste trabalho, e isso pode ser observado no capítulo 3. 40 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Este estudo pretendeu explorar maneiras de estudar características de negociação. Para isso, voltou-se a um caso: a negociação conduzida pelo sindicato dos metalúrgicos de Taubaté com as grandes empresas. Na abordagem do caso, como estratégias, empregou questionários e a entrevista semi-estruturada. 3.2 Objetivos Específicos A aplicação desses instrumentos teve como propósito, de modo mais específico: – Identificar, em caráter exploratório, como são trabalhadas as variáveis de tempo e informação, quais as estratégias, os papéis de negociação, os estilos de negociação nas negociações conduzidas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté com as grandes empresas; – Testar preliminarmente o Questionário de Estilo de Negociação e o Questionário de Papéis de Negociação. 41 4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 4.1 Questionários Para a realização desta pesquisa, o autor e a orientadora elaboraram um novo modelo de questionário com o objetivo de conseguir obter resultados mais próximos da realidade. Este novo modelo de questionário foi montado para se avaliar os estilos de negociação (ver Apêndice A) aplicados pelos negociadores que fazem parte do objeto de estudo desta pesquisa e também para identificar quais os tipos de papéis (ver Apêndice B) que eles desempenham numa negociação. Sua construção foi apoiada no modelo desenvolvido por Allport para um estudo de valores (ANASTASI, 1972, p. 637). Devido ao bom resultado que esse método produz, resolveu-se adaptá-lo a essa pesquisa, gerando assim um modelo de questionário para ser aplicado por outros projetos de pesquisas no levantamento de seus dados. 4.1.1. Questionário de Estilos de Negociação Na elaboração do primeiro questionário, que identifica os estilos de negociação de cada negociador (ver Apêndice A), utilizou-se como base a definição dada por Gottschalk (1974, apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 88-96), que classificou os estilos em quatro tipos de comportamento e os caracterizou com aspectos positivos e negativos. A partir disso, foram selecionadas 12 características positivas e 12 características negativas de cada estilo (ver Apêndices C, D, E e F). Com as características positivas foi montado um conjunto de questões de 24 questões com duas alternativas cada. Essas alternativas eram as características positivas de cada estilo. Isso significa que se os estilos de negociação fossem classificados como sendo “a”,”b”, “c” e “d” então para cada questão haveria dois tipos de estilos diferentes. Por exemplo: questão 1. “a” x “b”; questão 2. “c” x “d”; questão 3. “a” x “c”; questão 4. “b”x”d”; questão 5. “a” x “d”; questão 6. “b” x “c”; e assim sucessivamente até completar 24 questões. Portanto houve 4 cruzamentos de cada estilo com os outros 3 tipos, o que totaliza as 12 características positivas. Para responder a esse conjunto de questões, o entrevistado recebeu a seguinte instrução. Cada uma das 24 questões deveria ter um total de 3 pontos, ou seja, as duas qualidades deveriam somar três pontos, podendo-se utilizar para isso 42 somente os números 0, 1, 2 e 3. O entrevistado poderia dar 3 pontos para uma qualidade que ele percebesse ser constante nele e 0 ponto na seguinte, que ele não pratique tanto. No caso das duas opções serem aplicadas por ele, ele daria 2 pontos para a mais constante e 1 ponto para a outra. A pontuação máxima chegou a 72 pontos nesse item. Depois de respondidas as 24 questões de características positivas, o entrevistado deveria responder as questões de características negativas. Para as características negativas foi criado um conjunto de 16 questões com 3 alternativas cada, de modo similar ao das características positivas. Se os estilos de negociação fossem classificados como “a”, “b”, “c” e “d”, então para cada questão haveria três tipos de estilos diferentes, conforme o exemplo: questão 1. “a” x “b” x “c”; questão 2. “a” x “b” x “d”; questão 3. “a” x “c” x “d”; questão 4. “b” x “c” x “d”; e assim sucessivamente até completar 16 questões. Para responder a esse conjunto de questões, o entrevistado recebeu a seguinte instrução. Cada uma das 16 questões deveria ter um total de 6 pontos, ou seja, as três qualidades deveriam somar seis pontos, podendo-se utilizar para isso somente os números 1, 2 e 3. O entrevistado deveria dar 3 pontos para uma qualidade que ele percebesse ser constante nele, 2 pontos para outra também praticada por ele, mas numa freqüência menor e 1 ponto para a última, que provavelmente ele não pratique tanto. A pontuação máxima chegou à 96 pontos nesse item. Depois do preenchimento do questionário pelo entrevistado, o autor sumarizou os pontos a fim de identificar qual o estilo de negociação era preponderante no entrevistado. Isto foi feito criando –se uma tabela (ver Tabela 1) e inserindo os valores das características positivas conforme eles foram obtidos, totalizando 72 pontos na soma de todos os estilos. Para inserir os valores das características negativas, como ela totaliza 96 pontos, teve que se fazer uma equivalência dos valores, calculando para cada estilo qual foi o novo valor, proporcional a um total de 72 pontos. Somente fazendo-se isto, seria possível somar os valores das características positivas e negativas, descobrindo-se as tendências de cada entrevistado. Para ilustrar o que foi dito no parágrafo anterior apresentou-se a Tabela 1, na qual os valores inseridos não representam valores obtidos no questionário, eles são apenas exemplos. 43 Tabela 1 Identificação das tendências para os Estilos de Negociação Duro Caloroso Números Negociador TOTAL 25 20 15 12 72 Positivas Negativas TOTAL Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real 26 20 28 21 30 22 12 45 41 37 Equiv. Real Equiv. 9 21 96 72 144 4.1.2 Questionário de Papéis Desempenhados na Negociação A elaboração do segundo questionário, que identifica os tipos de papéis desempenhados pelo negociador numa negociação, baseou-se na definição dada por Casse (1995 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 28-29), que classifica os papéis desempenhados em quatro tipos e os caracteriza com aspectos positivos e negativos. A partir disso, foram selecionadas 6 características positivas e 3 características negativas de cada tipo de papel (ver Apêndices G, H, I e J). Para as características positivas foi construído um questionário de 8 questões com 3 alternativas cada. Identificando os papéis em “a”, “b”, “c” e “d”, então as questões foram montadas conforme o exemplo: questão 1. “a” x “b” x “c”; questão 2. “a” x “b” x “d”; questão 3. “a” x “c” x “d”; questão 4. “b” x “c” x “d”; e assim sucessivamente até completar 8 questões. Para responder a esse conjunto de questões, o entrevistado recebeu a seguinte instrução. Cada uma das 8 questões deveria ter um total de 6 pontos, ou seja, as três qualidades deveriam somar seis pontos, podendo-se utilizar para isso somente os números 1, 2 e 3. O entrevistado deveria dar 3 pontos para uma qualidade que ele percebesse ser constante nele, 2 pontos para outra também praticada por ele, mas numa freqüência menor e 1 ponto para a última, que provavelmente ele não pratique tanto. A pontuação máxima chegou a 48 pontos nesse item. Depois de respondidas as 8 questões de características positivas, o entrevistado deveria responder as questões de características negativas. Com as características negativas foi construído um questionário de 6 questões com duas alternativas cada. Identificando os papéis como sendo “a”,”b”, “c” e “d”, então para cada questão havia dois tipos de papéis diferentes, como o exemplo: questão 1. “a” x “b”; questão 2. “c” x “d”; questão 3. “a” x “c”; questão 4. “b”x”d”; questão 5. “a” x “d”; questão 6. “b” x “c”. 44 Para responder a esse questionário, o entrevistado recebeu a seguinte instrução. Cada uma das 6 questões deveria ter um total de 3 pontos, ou seja, as duas qualidades deveriam somar três pontos, podendo-se utilizar para isso somente os números 0, 1, 2 e 3. O entrevistado poderia dar 3 pontos para uma qualidade que ele percebesse ser constante nele e 0 ponto na seguinte, que ele não pratique tanto. No caso das duas opções serem aplicadas por ele, ele daria 2 pontos para a mais constante e 1 ponto para a outra. A pontuação máxima chegou a 18 pontos nesse item. Depois do preenchimento do questionário pelo entrevistado, o autor sumarizou os pontos a fim de identificar qual o papel desempenhado numa negociação era preponderante no entrevistado. Isto foi feito adaptando–se a tabela (ver Tabela 2) usada para identificação dos estilos de negociação. Portanto a forma de utilização foi a mesma, primeiro inseriu-se os valores das características positivas conforme eles foram obtidos, totalizando 48 pontos na soma de todos os papéis. Para inserir os valores das características negativas, como ela totaliza 18 pontos, teve que se fazer uma equivalência dos valores, calculando para cada papel qual foi o novo valor, proporcional a um total de 48 pontos. Somente fazendo-se isto, seria possível somar os valores das características positivas e negativas, descobrindo-se as tendências de cada entrevistado. Para ilustrar o que foi dito no parágrafo anterior apresentou-se a Tabela 2, na qual os valores inseridos não representam valores obtidos no questionário, eles são apenas exemplos. Tabela 2 - Identificação das tendências para os papéis desempenhados numa negociação Efetivo Analítico Relativo Intuitivo TOTAL 18 15 9 6 48 Positivas Negativas TOTAL Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real 4 11 7 18 3 8 4 29 33 17 Equiv. Real Equiv. 11 17 18 48 96 O sistema de construção define, portanto, a força relativa dos estilos de negociação e dos papéis desempenhados nas negociações. 45 4.2 Entrevista As perguntas foram elaboradas de acordo com os objetivos desta pesquisa. Após a elaboração das perguntas, o próprio pesquisador respondeu-as para verificar se as respostas atendiam aos objetivos da pesquisa. Feito isso e o ajuste necessário para chegar as respostas que atendiam a pesquisa, o pesquisador realizou entrevistas com dois sujeitos, separadamente, para testar as perguntas. Esses dois sujeitos tinham que ser dirigentes sindicais que atuassem em negociações, mas não podiam ser do Sindicato dos Metalúrgicos, pois havia pouco sujeitos de pesquisa e não se poderia perdê-los com o teste. Então o pesquisador contactou o Sindicato dos Motoristas de Taubaté, explicando a eles a necessidade que havia de se testar as perguntas. Os dois sujeitos prontamente se ofereceram para colaborar com a pesquisa. Após a realização do teste, o pesquisador teve que fazer algumas modificações nas perguntas, tirando algumas, incluindo outras e reorganizar a estrutura delas. Então as perguntas estavam prontas para serem aplicadas aos sujeitos de pesquisa. Esse modelo pode ser visto no Apêndice L. 4.3 Aplicação do questionário de pesquisa e entrevista Os sujeitos foram 3 dirigentes sindicais que participavam ativamente dos processos de negociação com as empresas da região de Taubaté. Todos tinham aproximadamente 40 anos de idade e estavam no exercício de sua atividade. Outros dirigentes, que não participaram da pesquisa, informaram não ter experiência suficiente para colaborar com o estudo. Os dirigentes foram contactados pelo pesquisador pessoalmente, que expôs o propósito e as características da pesquisa. Nesse contato preliminar, todos os dirigentes aceitaram participar e então se agendou um dia e um horário para a realização da entrevista gravada, assim como do preenchimento dos Questionários de Estilos e Papéis Desempenhados numa Negociação, que ocorreu no sindicato onde trabalham. A entrevista foi realizada em local discreto e silencioso que, ao mesmo tempo em que permitiu a privacidade necessária ao sujeito, assegurou condições apropriadas para a coleta. Os sujeitos receberam um pacote contendo as perguntas que seriam executadas (Apêndice L), o Questionário de Estilos de Negociação (Apêndice A), o Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação (Apêndice B), acompanhado de uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi devolvida assinada. Essas providências foram conduzidas em atendimento aos cuidados éticos necessários por tratar-se de pesquisa com seres humanos. 46 As entrevistas e o preenchimento dos questionários foram realizados individualmente e tiveram duração de aproximadamente uma hora, conforme havia sido proposto pelo pesquisador ao sujeito. Após a realização das entrevistas gravadas, o pesquisador transcreveu todas as respostas a fim de identificar informações contidas na fala dos sujeitos que pudessem confirmar ou não as hipóteses da pesquisa. Também sumarizou os pontos dos questionários a fim de identificar qual o estilo de negociação e qual o papel desempenhado numa negociação eram preponderantes nos entrevistados. 47 5 RESULTADOS Esse capítulo apresenta os resultados obtidos. Eles foram organizados conforme se refiram aos Estilos de Negociação, aos Papéis Desempenhados numa Negociação e às variáveis Tempo, Informação e Estratégia. Nos dois primeiros itens apresenta-se o que foi observado pelo Questionário e pela Entrevista. Para Tempo, Informação e Estratégia aparecem os dados obtidos por Entrevista. Para assegurar o anonimato dos sujeitos, exigência ética, não foram descritos sexo, idade, tempo de atividade sindical, bem como foram feitas pequenas alterações no conteúdo da fala que, sem modificar o sentido original, excluíram qualquer informação que pudesse levar à identificação dos sujeitos. Essas cautelas foram necessárias por tratar-se de uma população restrita, em que todos se conhecem. 5.1 Estilos de Negociação Como visto no capítulo 2.1.7 e informado no capítulo 4.1.1, utilizou-se como base na identificação dos estilos de negociação de cada sujeito a definição dada por Gottschalk (1974 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 88-96). Ele classificou os estilos em quatro tipos de comportamento: duro, caloroso, números e negociador; e os caracterizou com aspectos positivos e negativos. 5.1.1 Escores obtidos no Questionário de Estilos de Negociação Como decorrência do modo como o questionário foi construído (apresentado no Capítulo 4.1), os escores dos sujeitos distribuíram-se entre os quatro estilos de negociação, e apresentaram uma tendência maior a um desses estilos. O escore de cada sujeito no Questionário de Estilos de Negociação foi obtido aplicando-se a metodologia explicada no capítulo 4.1 deste trabalho. As tabelas 3, 4 e 5 mostram os escores obtidos por cada um dos três sujeitos. Tabela 3 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 1 Duro Caloroso Números Negociador TOTAL 15 27 20 10 72 Positivas Negativas TOTAL Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 23 17 19 15 23 17 31 23 96 72 32 42 37 33 144 48 Tabela 4 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 2 Duro Caloroso Números Negociador TOTAL 23 12 22 15 72 Positivas Negativas Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 24 18 18 13 28 21 26 20 96 72 TOTAL 41 25 43 35 144 Tabela 5 - Valores dos estilos de negociação obtidos pelo Sujeito 3 Duro Caloroso Números Negociador TOTAL 20 14 19 19 72 Positivas Negativas Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 26 20 23 17 23 17 24 18 96 72 TOTAL 40 31 36 37 144 A Figura 1 mostra os escores dos sujeitos 1, 2 e 3 entre as características positivas dos estilos. 30 Escore 25 20 15 10 5 15 23 20 27 12 14 20 22 19 10 15 19 Duro Caloroso Números Negociador 0 Estilos de Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 1 Escores dos sujeitos nas características positivas dos estilos de negociação A Figura 2 mostra os escores dos sujeitos 1, 2 e 3 entre as características negativas dos estilos. 49 35 30 Escore 25 20 15 10 5 23 24 26 19 18 23 23 28 23 31 26 24 Duro Caloroso Números Negociador 0 Estilos de Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 2 Escores dos sujeitos nas características negativas dos estilos de negociação A Figura 3 mostra os escores totais dos sujeitos 1, 2 e 3, somando-se as características positivas e negativas dos estilos. 45 Escore 36 27 18 9 32 41 40 42 25 31 37 43 36 33 35 37 Duro Caloroso Números Negociador 0 Estilos de Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 3 Escores totais dos sujeitos nos estilos de negociação 5.1.2 Os Estilos de Negociação apresentados na entrevista A tendência pelo Estilo Caloroso, demonstrada pelo Sujeito 1, pode ser comprovada nas suas seguintes frases: [...] eu não sirvo para exercer cargo hierárquico dentro de empresa e sim defender os trabalhadores e eu adotei isso aí sobre mim [...]. Eu sou a fim de discutir qualquer assunto para defender o trabalhador. [...] a gente aprende muita coisa para passar informação para todos esses trabalhadores que não tem tempo suficiente para 50 pensar [...] e procurar uma melhor forma [de negociar] tanto para a empresa quanto para o empregado. Mas o Sujeito 1 também apresenta forte tendência ao Estilo dos Números, comprovada com as seguintes declarações: [...] numa mesa de negociação, eu sou a pessoa que eles pedem para fazer cálculos diante das negociações que estão sendo apresentadas [...]. [a minha função] é estar por dentro de todas as informações diante das cláusulas que são apresentadas nos acordos coletivos, [...] para a hora que a gente estiver sentado com a direção de qualquer empresa, eu estar passando informações para todo o grupo [sindical], o que as cláusulas garantem ao trabalhador, o que está fora e o que está dentro [do acordo coletivo]. A tendência pelo Estilo dos Números, demonstrada pelo Sujeito 2, pode ser comprovada nas suas seguintes frases: [...] eu procuro estudar as empresas, o que as outras empresas da mesma categoria andam fazendo [...]. [...]a gente tem que [...] fazer a pesquisa de uma negociação antes de sentar [na mesa para negociar]. As respostas curtas e rápidas, apresentadas pelo Sujeito 2, também demonstram sua tendência ao Estilo dos Números. Mas o Sujeito 2 também apresenta forte tendência ao Estilo Duro, comprovada com as seguintes declarações: [...] eu costumo ter a base do meu lado, os trabalhadores do meu lado e o meu ponto forte é ser um pouco radical. 51 [...] você tem que usar a transparência e a dignidade [numa mesa de negociação] para estar apto a ser um dirigente sindical. A tendência ao Estilo Duro, demonstrada pelo Sujeito 3, pode ser comprovada nas suas seguintes frases: Eu não posso dizer que meu ponto forte é a paciência [...]. [O negociador tem que] saber o que é possível de ser negociado [...] saber explorar o máximo possível [...]. Mas o Sujeito 3 também apresenta forte tendência ao Estilo Negociador, comprovada com as seguintes declarações: Eu, particularmente, gosto primeiro de sentir a visão da parte contrária sobre o assunto que nós estamos falando, sobretudo, olhar o que a pessoa tem de perspectiva e quais os pontos mais favoráveis que nós podemos discutir, quais são e onde eu posso achar mais dificuldade, para geralmente a gente começar num consenso e ir apertando até a gente chegar num acordo final. [...] o que nos caracteriza é a busca do diálogo e da compreensão até chegar à exaustão em torno do assunto e dos objetivos que nós estamos buscando [...]. 5.2 Papéis Desempenhados numa Negociação Como visto no capítulo 2.1.6 e informado no capítulo 4.1.2, utilizou-se como base na identificação dos papéis desempenhados por cada sujeito numa negociação, a definição dada por Casse (1995 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 28-29), que classificou os papéis desempenhados em quatro tipos: efetivo, analítico, relativo e intuitivo; e os caracterizou com aspectos positivos e negativos. 52 5.2.1 Escores obtidos no Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação O escore de cada sujeito no Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação foi obtido aplicando-se a metodologia explicada no capítulo 4.1 deste trabalho. Como já mencionado no Capítulo 4.1, nenhum entrevistado desempenhará um único papel de negociação, mas sim demonstrará uma tendência maior a um desses papéis. As tabelas 6, 7 e 8 mostram os escores obtidos por cada sujeito. Tabela 6 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 1 Efetivo Analítico Relativo Intuitivo TOTAL 13 14 10 11 48 Positivas Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 6 16 3 8 3 8 6 16 18 48 Negativas TOTAL 29 22 18 27 96 Tabela 7 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 2 Efetivo Analítico Relativo Intuitivo TOTAL 9 15 12 12 48 Positivas Negativas Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 2 6 6 16 5 13 5 13 18 48 TOTAL 15 31 25 25 96 Tabela 8 - Valores dos papéis desempenhados numa negociação obtidos pelo Sujeito 3 Efetivo Analítico Relativo Intuitivo TOTAL 9 14 13 12 48 Positivas Negativas TOTAL Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. Real Equiv. 3 8 8 21 3 8 4 11 18 48 17 35 21 23 96 A Figura 4 mostra os escores dos sujeitos 1, 2 e 3 entre as características positivas dos papéis desempenhados. Escore 53 16 14 12 10 8 6 4 2 0 13 9 9 Efetivo 14 15 14 10 12 13 11 12 12 Analítico Relativo Intuitivo Papéis Desempenhados numa Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 4 Escores dos sujeitos nas características positivas dos papéis desempenhados numa negociação A Figura 5 mostra os escores dos sujeitos 1, 2 e 3 entre as características Escore negativas dos papéis desempenhados. 8 7 6 5 4 3 2 1 0 6 2 3 Efetivo 3 6 8 3 Analítico 5 3 Relativo 6 5 4 Intuitivo Papéis Desempenhados numa Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 5 Escores dos sujeitos nas características positivas dos papéis desempenhados numa negociação A Figura 6 mostra os escores totais dos sujeitos 1, 2 e 3, somando-se as características positivas e negativas dos papéis desempenhados. 54 35 30 Escore 25 20 15 10 5 29 15 17 22 31 35 18 25 21 27 25 23 Efetivo Analítico Relativo Intuitivo 0 Papéis Desempenhados numa Negociação Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Figura 6 Escores totais dos sujeitos nos papéis desempenhados numa negociação 5.2.2 Os Papéis Desempenhados numa Negociação apresentados na entrevista A tendência pelo Papel de Negociador Efetivo, demonstrada pelo Sujeito 1, pode ser comprovada na sua seguinte frase: [eu estou] por dentro de todos os acordos coletivos [...], eu passo informação para todo o grupo do que as cláusulas garantem ao trabalhador [...]. A tendência pelo Papel de Negociador Analítico, demonstrada pelo Sujeito 2, pode ser comprovada na sua seguinte frase: [...] saber o que está discutindo, [...] ser bastante transparente. A tendência pelo Papel de Negociador Analítico, demonstrada pelo Sujeito 3, pode ser comprovada na sua seguinte frase: [...] [eu] gosto primeiro de sentir a visão da parte contrária sobre o assunto que nós estamos falando, sobretudo, olhar o que a pessoa tem de perspectiva e quais os pontos mais favoráveis que nós podemos discutir, quais são e onde eu posso achar mais dificuldade, para geralmente a gente começar num consenso e ir apertando até a gente chegar num acordo final. 55 5.3 Tempo, informação e estratégia As informações obtidas nas entrevistas são apresentadas a seguir. 5.3.1 A variável “tempo” presente no discurso dos entrevistados A variável “tempo” foi encontrada no discurso dos entrevistados. Deve-se ressaltar que os três sujeitos apresentam informações que tornam o “tempo” de duração benéfico ou prejudicial para a negociação. De suas entrevistas, destacaram-se os trechos abaixo: [...] dependendo da pauta apresentada pelos trabalhadores para uma negociação com a empresa, ela pode demorar [...]. A partir do momento que a empresa sente uma dificuldade em acertar essa pauta que está apresentada pelos trabalhadores, [...] a gente sente uma certa dificuldade em apresentar um resultado favorável para os trabalhadores, então ele [o tempo] pode prejudicar ou ele pode também ajudar numa negociação com as empresas. (Sujeito 1) [...] depende de cada negociação [...]. As Montadoras, geralmente têm mais facilidade de fazer uma negociação rápida, já as autopeças dependem muito das montadoras, então esse tempo demora mais. (Sujeito 2) [...] depende muito do que você está negociando, do cenário, do grau de relação que você tem com a empresa. Quando você tem um assunto que você já negocia há muito tempo com a empresa, as partes já se conhecem e muitas vezes é só ajustar o acordo, por isso pode ser um acordo muito rápido. Já acordos mais complexos, como um que nós celebramos na Volkswagen em 98, ele demorou aproximadamente 140 horas para ser celebrado. Então, tem acordo que a gente faz em 10 minutos e depende da complexidade. Agora quanto a favorecer ou prejudicar, depende da sua necessidade de cumprir o acordo. Muitos se você demorar além daquilo que era possível, você acaba prejudicando, como acordos menores, de pessoas que 56 querem deixar a empresa e precisam de certa urgência, se você demorar para fazer, acaba prejudicando a pessoa que é a maior interessada na negociação. (Sujeito 3) Portanto, as entrevistas mostram que o tempo pode tanto favorecer quanto prejudicar o acordo. Se o acordo ocorrer rapidamente, os negociadores podem tomar decisões precipitadas e não conseguirem chegar a um resultado satisfatório para ambas as partes. O mesmo pode acontecer se a celebração do acordo se estender demais. Portanto, somente a experiência numa mesa de negociação pode levar o negociador a conseguir atingir bons resultados no tempo esperado. 5.3.2 A variável “informação” presente no discurso dos entrevistados A variável “informação” foi encontrada no discurso dos entrevistados. De suas entrevistas, destacaram-se os trechos abaixo: [...] sempre você tem que ter informações diante dos acordos que são firmados com todas as empresas metalúrgicas aqui de Taubaté, senão você se torna um dirigente sindical morto numa mesa de negociação. (Sujeito 1) [...] procuro estudar as empresas, o que as outras empresas da mesma categoria andam fazendo, para eu depois sentar numa mesa e começar a discussão. (Sujeito 2) Esse é o principal fator para você negociar qualquer situação. Geralmente, quando a gente não domina o assunto, buscamos as informações e respaldo em assessorias [...] para ser garantido que você faça o melhor acordo possível. (Sujeito 3) A informação é um elemento fundamental numa mesa de negociação. Como muito bem ilustrou o Sujeito 1, sem informação o dirigente sindical não tem como agir e reagir numa mesa de negociação. Em qualquer negociação que o negociador esteja atuando, ele precisa antes ter total conhecimento do que será discutido e das possibilidades de acordo que poderá ser atingido. Somente assim será possível obter sucesso e bons resultados nas negociações. 57 5.3.3 A “estratégia” presente no discurso dos entrevistados A importância de estruturar uma “estratégia” quando se assume uma negociação foi encontrada no discurso dos entrevistados. De suas entrevistas, destacaram-se os trechos abaixo: [...] nós trabalhamos muito através de estratégias, principalmente no setor de autopeças. (Sujeito 1) A estratégia que usamos numa negociação é saber discutir o assunto, então antes temos que nos prepararmos sobre o assunto, para depois sim sentar numa mesa de negociação. (Sujeito 2) Eu, particularmente, gosto primeiro de sentir a visão da parte contrária sobre o assunto que nós estamos falando, sobretudo, olhar o que a pessoa tem de perspectiva e quais os pontos mais favoráveis que nós podemos discutir, quais são e onde eu posso achar mais dificuldade, para geralmente a gente começar num consenso e ir apertando até chegar num acordo final. Essa é a estratégia. (Sujeito 3) Sem dúvida alguma, é primordial durante a preparação para se entrar numa mesa de negociação, definir a “estratégia” a ser usada. O Sujeito 1 confirma que o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté trabalha muito com as estratégias. O Sujeito 2 mostra que há uma preparação antes de cada processo de negociação. Já o Sujeito 3 revela que a estratégia pode ser definida depois que se analisa o comportamento do oponente. Descobrindo seus pontos fracos, fica mais fácil chegar ao resultado esperado. 5.4 O Questionário de Estilos de Negociação e o Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação: análise preliminar do instrumento Durante a execução deste trabalho, sentiu-se a necessidade de utilizar um instrumento de pesquisa que pudesse dar informações mais próximas da realidade possível e que deixasse o pesquisador e o leitor confiantes da veracidade das respostas. Os instrumentos e métodos de pesquisa existentes, e muito utilizados por 58 outros pesquisadores, parecia não ser suficiente para chegar a resultados satisfatórios. Então se resolveu dividir a entrevista em duas partes: a entrevista gravada, com perguntas abertas, e a aplicação dos Questionários de Estilo de Negociação e de Papéis Desempenhados numa Negociação. A entrevista gravada já foi discutida nas seções anteriores. Nesta seção discutiremos os questionários. Este trabalho teve como um de seus objetivos, desenvolver dois modelos de questionários que pudessem avaliar o estilo de negociação de cada sujeito e o tipo de papel que ele desempenha numa negociação. Após sua elaboração, realizou-se o préteste que, comparando com a entrevista gravada, teve o mesmo resultado e levou o autor às mesmas conclusões. Foram necessárias apenas algumas correções para tornar ainda melhor o entendimento do questionário e depois estava pronto para ser aplicado. Depois de aplicados os questionários nos três sujeitos, comprovou-se que os resultados obtidos demonstravam exatamente o que os sujeitos deixaram transparecer nas entrevistas gravadas. Com isso pode-se comprovar a eficácia destes questionários para esta pesquisa. No entanto, para validar estes questionários para aplicações em outras pesquisas, seria necessário um estudo maior, utilizando-se também mais sujeitos de pesquisa. Mas nesta pesquisa desenvolvida sobre o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté pode-se perceber os bons resultados e o valor que o questionário demonstrou. 59 6 DISCUSSÃO Neste estudo realizou-se a análise dos estilos e dos papéis desempenhados numa negociação pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, assim como as estratégias aplicadas e a forma de utilização de variáveis básicas da negociação, como tempo e informação. Também neste estudo, testou-se preliminarmente o Questionário de Estilos de Negociação e o Questionário de Papéis Desempenhados numa Negociação, proposto e adaptado pelo próprio autor. Os resultados apresentados pelos três sujeitos mostram que o tempo de negociação é fundamental para atingir os bons resultados esperados. Não se deve apressar demais um processo de negociação, para não omitir informações ou deixar de discutir pontos importantes do processo, como também não se deve perder um tempo precioso ao processo, discutindo questões que não irão beneficiar a negociação. Martinelli e Almeida (1998, p. 25-26) já afirmavam que o tempo deve ser cuidadosamente analisado, verificando como ele afeta o processo. Portanto, o negociador que conseguir administrar e controlar o tempo terá grandes probabilidades de atingir o objetivo planejado inicialmente. Quando o negociador está na fase de preparação para um processo de negociação, obter informações sobre tudo que será discutido é primordial para poder conduzir a negociação de maneira a conseguir atingir seus objetivos. Essa constatação é feita por Martinelli e Almeida (1998, p. 26) e Lobos (1985, p. 280), que afirmam que é praticamente impossível negociar sem informações. Os resultados apresentados pelos três sujeitos também mostraram que obter informações sobre o que será discutido é uma das primeiras etapas a serem seguidas quando o negociador está se preparando para participar de um processo de negociação. Sem as informações, o negociador não consegue elaborar uma estratégia de negociação, pois nem mesmo consegue saber o que será discutido e que caminhos a negociação poderá tomar. Lobos (1985, p. 285) já afirmava que é muito importante planejar estrategicamente um processo de negociação e que isso significa estabelecer objetivos capazes de concretizar a condição de sobrevivência desejada no processo de negociação. Os resultados apresentados pelos três sujeitos mostram que o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté também se preocupam com esta questão e sempre planejam suas estratégias antes de iniciarem os processos de negociação. No 60 entanto, os resultados mostraram que o Sindicato procura sempre chegar a resultados que beneficiem os dois lados da negociação. Em suas declarações, os sujeitos demonstram que esse também é o objetivo das empresas, pois nenhum dos dois lados entra na negociação com a intenção de “destruir” o outro lado, afinal um é dependente do outro, sem um não existiria o outro. Muitas vezes o objetivo dos dois lados não é atingido integralmente justamente para manter um bom relacionamento entre as partes, visto que futuramente, esses dois lados ainda se sentarão muitas vezes numa mesa de negociação. Esse comportamento é definido por Martinelli e Almeida (1998, p. 27) como uma Estratégia Colaborativa ou de Compromisso, onde os dois lados objetivam, além dos resultados, manter o bom relacionamento. Para atingir os bons resultados numa negociação, os negociadores desempenham vários papéis diferentes (CASSE, 1995 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 28-29). Mas dentre esses papéis, cada negociador tende a desempenhar um deles com maior freqüência, que seria o papel dominante, e em determinados momentos da negociação, também utilizar os outros para conseguir chegar ao objetivo. Os resultados apresentados pelos três sujeitos mostram que cada um tem uma tendência própria. O fato de possuírem uma formação de negociação muitas vezes bem parecida, não significa que os negociadores se identificarão melhor com o mesmo papel. Como já explicado anteriormente e demonstrado nos resultados obtidos, cada negociador seguirá sua direção. A formação requerida e fornecida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté para um dirigente sindical estar apto a negociar o ajudará, principalmente, a identificar sua tendência e trabalhá-la para se tornar eficaz numa mesa de negociação. Essa diferença nas tendências dos negociadores pode ser comprovada nesta pesquisa, onde apesar de dois sujeitos demonstrarem tendência a um mesmo papel, o terceiro demonstrou uma tendência totalmente diferente. Numa mesa de negociação, a soma desses papéis ajudará os negociadores a agir de forma mais adequada e coordenada para atingir os objetivos pretendidos inicialmente. Analisando de forma análoga à feita com os papéis desempenhados numa negociação, assim são os estilos que podem ser aplicados numa negociação. É importante conhecê-los não só para identificar o seu estilo de negociação, como para identificar também no oponente qual o estilo de negociação está sendo aplicado e com isso poder prever algumas de suas ações (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 78). Os estilos de negociação descrevem todas as características de comportamento de um indivíduo envolvido numa negociação, como afirmou Gottschalk (1974 apud MARTINELLI; ALMEIDA, 1998, p. 88), e são resultantes comportamentais de cada indivíduo, afirmou Junqueira (2003a). das habilidades 61 Como nos papéis, vários estilos podem ser aplicados numa negociação. No entanto, o negociador sempre tem uma identificação melhor com um dos estilos e o aplica muito nos processos de negociação, mas em certos momentos do processo, o negociador tem de aplicar outros estilos para conseguir persuadir o outro lado e atingir seus objetivos. Por isso, tanto nos estilos quanto nos papéis, afirmamos que os negociadores têm tendência maior a um deles e não que agem o tempo todo de acordo com o papel ou estilo dominante, pois durante o processo de negociação, os negociadores têm de se utilizar também dos outros para atingir os objetivos. Os resultados apresentados pelos três sujeitos mostram que cada um tem uma tendência própria, o que muitas vezes, como nos papéis, pode ser explicado pela sua formação e índole. Como já foi explicado nos papéis e demonstrado nos resultados obtidos, cada negociador seguirá a sua tendência natural, independente de terem uma formação bem parecida. Essa formação, fornecida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, ajudará o dirigente sindical, principalmente, a identificar sua tendência e trabalhá-la para se tornar eficaz numa mesa de negociação. Essa diferença nas tendências dos negociadores pelos estilos de negociação pode ser comprovada nesta pesquisa, onde os sujeitos demonstraram tendências totalmente diferentes uma das outras. Numa mesa de negociação, a soma dos estilos dos negociadores os ajudará a agir de forma mais adequada e coordenada para atingir os objetivos pretendidos inicialmente. Para chegar aos resultados que identificassem os papéis e os estilos predominantes em cada sujeito foi elaborado um novo modelo de questionário. Depois de uma análise, identificou-se que a entrevista não daria todas as respostas necessárias à pesquisa e os tipos e métodos de questionários existentes não eram satisfatórios para o resultado que se esperava obter. Respeitando o alerta de Hill e Hill (1998, p. 4), que afirmaram que construir um questionário é fácil, o difícil é construir um bom questionário, elaborou-se dois questionários que pudessem identificar os estilos de negociação e os papéis desempenhados na negociação. Os questionários, além de fornecerem resultados muito bons, como foi demonstrado nos Resultados, ainda cumpriram as duas funções apresentadas por Richardson (1999, p. 189), que diz que os questionários descrevem as características e medem determinadas variáveis de um grupo social. Utilizar todas as informações apresentadas por Rea e Parker (2002), Richardson (1999), Krosnick (1999) e Hill e Hill (1998) foram muito úteis para se chegar aos objetivos que foram pretendidos na construção dos questionários. 62 7 CONCLUSÃO Ao final desta pesquisa pode-se perceber que o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté utiliza variáveis básicas da negociação, como o tempo e a informação, para atingir os objetivos planejados antes de iniciarem o processo de negociação. Ficou evidenciado, tanto na revisão bibliográfica quanto na discussão, que tais variáveis são muito importantes num processo de negociação e o Sindicato, demonstrando levar muito a sério o título de “defensor dos trabalhadores”, se prepara adequadamente para não ser surpreendido. Outra forma de evitar ser surpreendido num processo de negociação é utilizar boas e eficazes estratégias. Para isso o Sindicato mostrou também estar preparado, estudando muito bem o processo em que irá participar e avaliando por onde poderá ser atingido com maior facilidade e rapidez os objetivos. Com isso, o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté demonstra sua total preocupação com as negociações, sabendo que é delas que suas conquistas virão, com o objetivo único de melhorar as condições de trabalho de todos os trabalhadores e suas relações com as empresas que os empregam. Essa pesquisa também revelou que o Sindicato reconhece os estilos de negociação que cada um pratica e se utiliza disso para definir que papel cada dirigente sindical desempenhará no processo de negociação. Tendo esse conhecimento, o dirigente sindical consegue elaborar melhor as suas estratégias para a negociação e também consegue identificar no oponente os seus estilos de negociação, o que facilita o dirigente a presumir que caminhos o oponente irá seguir. Mas só foi possível identificar os estilos e os papéis desempenhados por cada dirigente sindical, devido à proposição e elaboração de um questionário que permitisse essa identificação. Os questionários apresentaram um resultado muito próximo do resultado das entrevistas, o que faz acreditar que possui valor e pode ser aplicado em outras pesquisas. No entanto, para tal, é necessário que se faça um estudo mais apurado, abrangendo um número maior de sujeitos. Somente assim o questionário poderá ser validado cientificamente. De forma geral, essa pesquisa mostrou a todos os leitores que os dirigentes sindicais do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté se preocupam bastante com os processos de negociação, pois sabem que essa é a melhor forma de conseguirem melhorias para toda a classe trabalhadora. Portanto, qualquer negociador que tiver do lado oposto ao Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté deve também estar muito bem 63 preparado ou conseguirá um resultado muito pouco satisfatório. O questionário que permitiu identificar as características de estilos e papéis dos dirigentes sindicais também mostrou ter uma construção muito adequada para o resultado que se espera obter em relação a outros métodos de pesquisa. Desta forma, essa pesquisa deixa uma nova opção de ferramenta de pesquisa e a missão futura de validar esse novo instrumento. 64 REFERÊNCIAS ANASTASI, ANNE. Testes psicológicos. 2. ed. São Paulo: Herder, 1972. 762 p. BAZERMAN, M. H.; CURHAN, J. R.; MOORE, D. A.; VALLEY, K. L. Negotiation. Annual Reviews Psychology, n. 51, p. 279-314, 2000. FELLS, RAY. A critical examination of the process of workplace negotiation. Labor & Industry, v. 9, n. 1, p. 37-52, ago. 1998. HILL, M. M.; HILL, A. A construção de um questionário. Lisboa: Dinâmia, 1998. Disponível em: <http://www.dinamia.iscte.pt/Publicacoes_pro.asp?id=11>. Acesso em: 02 jul. 2003 JUNQUEIRA, L. A. C. Negociação: inverdades perigosas. Instituto MVC Estratégia e Humanismo. 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Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 334 p. 65 SEHNEM, M. A. O “novo” sindicalismo brasileiro nos anos 80-90: a cidadania ainda que tardia. 1994. 300 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. WANDERLEY, J. A. Negociação: conceitos fundamentais para a excelência. Guia de Logística, São Paulo. Disponível em: <http://www.guiadelogistica.com.br/ARTIGO17.htm>. Acesso em: 30 abr. 2003 66 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ESTILOS DE NEGOCIAÇÃO Este questionário tem o objetivo de identificar os estilos de negociação empregados pelo entrevistado num processo de negociação. Na parte 1, o entrevistado deve assinalar o campo no qual ele percebe ter uma atitude muito parecida, senão a mesma descrita na opção. Na parte 2, o entrevistado deve proceder conforme descrito no enunciado, devendo sempre pontuar as opções de forma sincera e refletida. Parte 1. Escolher somente uma opção: a) Sou dominante, agressivo e orientado para o poder; b) Sou apoiador, compreensivo, colaborador e orientado para as pessoas; c) Sou analítico, conservador, reservado e orientado para as questões; d) Sou flexível, compromissado, integrado e orientado para os resultados. Parte 2. A parte 2.1 compreende as características positivas dos estilos e a parte 2.2 compreende as características negativas: Parte 2.1. 01. Cada opção deve ter um total de 3 pontos, ou seja, os dois quadrinhos devem somar três pontos, podendo utilizar os números 0, 1, 2 e 3: Estabeleço posições firmes e claras; Enfatizo os interesses e as metas comuns; 02. Sou informativo, aberto, acessível; Sou membro valioso do grupo; 03. Falo rapidamente; Sou determinado a atingir sempre o melhor; 04. Tenho bom conhecimento de fatos e Aprecio negociar através de barreiras detalhes; culturais; 05. Tenho tendência de liderança; Sou persistente, paciente; 06. Não desisto facilmente; Mostro-me construtivo, auxiliador, cooperativo; 07. Peso as alternativas e valorizo minhas opções; Conheço bem meus objetivos; 67 08. Reconheço a interdependência dos Sou metódico, sistemático, ordenado; participantes; 09. 10. Seleciono as oportunidades quando as Dou más noticias sem identifico; relacionamento; Busco maneiras de viabilizar as afetar o Apóio os colegas; atividades; 11. 12. Sou bem preparado, executo bem as Evito concentrar-me em um único tarefas; ponto; Confio nos outros e estou sempre pronto Tenho presença ativa e arrojada; a colaborar; 13. Utilizo todos os fatos e argumentos Sou otimista; disponíveis; 14. 15. 16. Tenho tendência em dirigir e coordenar Mostro a praticidade de minhas idéias o trabalho dos outros; e contrapropostas; Sou modesto sobre minha contribuição e Aprecio habilidades; mudanças; Utilizo as habilidades sociais para variedades, surpresas, Insisto em números evidentes; persuadir; 17. Procuro ter e manter o controle; Sou rápido para identificar oportunidades; 18. Conheço a história dos relacionamentos Sou amigo, simpático com as outras e as situações, em detalhes; pessoas do processo de negociação; 19. Sou paciente, calmo, justo; Não me intimido diante do conflito; 20. Sou prático, preocupado com operacionalização das questões; a Evito ofender, mesmo quando digo não; 68 21. 22. Sou competitivo, assertivo, aprecio as Confio em mudanças; habilidades analíticas; Sou jovial, charmoso, fácil de lidar; Mostro-me bom minhas ouvinte próprias e tenho habilidade para fazer questões; 23. Aceito assumir riscos; Sou adaptativo, flexível, imaginativo; 24. Apóio propostas de outros tanto quanto Confirmo minhas próprias iniciativas; pessoas mais qualificadas e com meus objetivos com autoridades externas; Parte 2.2. 01. Cada opção deve ter um total de 6 pontos, ou seja, os três quadrinhos devem somar seis pontos, podendo utilizar os números 1, 2 e 3: Sou ansioso por ser ouvido e respeitado; Acredito que acesso e tempo irão resolver muitos problemas; Não tomo decisões rápidas; 02. Posso levar as pessoas a caminhos errados; Espero convencer os outros pelos fatos e detalhes apresentados por mim; Sou inflexível, obstinado, orgulhoso; 03. Sou dependente dos outros; Não permito que outros do grupo contribuam; Tenho tendência em perder a confiança de meu próprio grupo ou organização; 04. Acredito que as emoções atrapalham as negociações; Não me prendo demais a nada. Vou a diante mesmo não concordando totalmente com o interesse dos envolvidos; Reclamo muito quando surgem problemas que não foram previstos anteriormente; 05. Demonstro desconhecimento sobre os interesses da outra parte e tenho falta de disposição para identificá-los; Assumo que tudo está sempre ocorrendo conforme o planejado; Sou incapaz de dizer não; 69 06. Irrito-me com as pessoas que não adotam minhas perspectivas; Sou inseguro e me apoio muito nos outros; Sou supercompromissado, difícil de ser encontrado; 07. Normalmente sou frio com os outros; Não ouço as idéias e necessidades dos outros. Para mim o que conta são as minhas necessidades; Procuro evitar conflitos, tanto em questões pessoais quanto em itens-chave nas negociações; 08. Apresento comunicação mínima com as pessoas – respostas com uma única palavra; Aproveito as oportunidades mencionadas por outros no planejamento; Desiludo-me e desaponto-me facilmente; 09. Não analiso outros pontos de vista, a menos que sejam expressos em meus termos; Torno-me nervoso, transtornado; Tenho dificuldades em planejar e preparar um processo de negociação; 10. Antecipo problemas que podem nem vir a existir; Assumo tarefas que não são minhas; Digo aos outros como as coisas devem ser feitas; 11. Freqüentemente mantenho uma posição pouco flexível; Não sou imaginativo, inflexível, obsessivo; Não estou preparado para dizer não diretamente e assumir as conseqüências do risco; 12. Mostro-me desinteressado sobre o que os outros pensam a menos que eles possam impor seus pontos de vista; Tenho necessidade de esclarecer palavras e idéias; Às vezes não estabeleço claramente o que pretendo num processo de negociação; 13. Algumas vezes obrigo alguém a fazer alguma coisa com ameaças e pressões; Às vezes pareço artificial e pouco sincero; 70 Resisto às mudanças e a novos caminhos; 14. Tenho tendência em perder o senso de meus próprios interesses e objetivos; Às vezes sou muito hábil, mas não completamente; Sou dominador, agressivo e pronto para o combate; 15. Resisto em enfrentar o conflito; Sou muito apegado aos sucessos obtidos no passado e sempre me apóio neles; Busco sempre um acordo, quase que a qualquer preço; 16. Sou impulsivo, impaciente, manipulador; Algumas vezes perco-me nos detalhes; Resisto em assumir responsabilidades; 71 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO DE PAPÉIS DE NEGOCIAÇÃO Este questionário tem o objetivo de identificar os papéis desempenhados pelo entrevistado num processo de negociação. A parte 1 compreende as características positivas de cada papel e a parte 2 compreende as características negativas. O entrevistado deve proceder conforme descrito no enunciado, devendo sempre pontuar as opções de forma sincera e racional. Parte 1. Cada opção deve ter um total de 6 pontos, ou seja, os três quadrinhos devem somar seis pontos, podendo utilizar os números 1, 2 e 3: 01. Faço questões realistas, verificando os fatos; Apresento meus argumentos de negociação de maneira lógica; Procuro estabelecer e manter boas relações com pelo menos uma parte dos membros do outro grupo; 02. Procuro seguir as estratégias adotadas para garantir um resultado satisfatório no final da negociação; Enxergo claramente quais os pontos essenciais da negociação, e os aspectos fundamentais dos seus detalhes; Sou preciso, de maneira que pontos fundamentais não são perdidos ou permanecem descobertos; 03. Procuro construir a confiança entre as partes; Sempre examino as implicações futuras de cada proposta; Costumo negociar a agenda da reunião; 04. Gosto de juntar as várias partes e examinar a negociação no seu todo; Conheço detalhadamente os fatos da negociação; Sempre examino as forças e fraquezas do oponente; 05. Acredito que os sentimentos e as emoções atrapalham a negociação; Procura ter certeza de que a estratégia está sendo corretamente implementada e adaptada; Respondo às questões para esclarecer pontos e proporciono informações complementares, quando pedidas; 06. Procuro sempre ser um facilitador das relações entre os membros dos grupos; 72 Documento todas as declarações; Consigo supor qual o caminho que a negociação está tomando, verificando seus desdobramentos; 07. Faço perguntas à outra parte para esclarecer a racionalidade da sua posição, verificando os impactos sobre meu próprio grupo de negociação e me preparando para eventuais adaptações ao seu enfoque; Tenho habilidade para trazer idéias, novos caminhos para enfocar a negociação; Procuro ser amigável com as outras pessoas do processo de negociação; 08. Confio em minhas próprias habilidades analíticas; Tenho tendência para liderar o grupo de negociação; Sou rápido para identificar as oportunidades que o processo de negociação oferece; Parte 2. Cada opção deve ter um total de 3 pontos, ou seja, os dois quadrinhos devem somar três pontos, podendo utilizar os números 0, 1, 2 e 3: 01. Algumas vezes me atrapalho nos próprios detalhes da negociação; Envolvo- me demais em argumentos e contra-argumentos; 02. Algumas vezes tenho idéias não-realistas; Algumas vezes acabo dizendo coisas que só deveriam ser comentadas dentro do meu grupo de negociação; 03. Considerado-me uma pessoa fria, sem sentimentos e sem emoções; Dificilmente percebo defeitos em minhas idéias; 04. Envolvo-me emocionalmente em excesso nas questões; Às vezes chego a argumentar contra os próprios membros do meu grupo; 05. As pressões me atrapalham na hora de conduzir os objetivos e aplicar as estratégias da negociação; Acredito que a lógica das questões é a chave para boas negociações; 06. Sou uma pessoa difícil de ser controlada; Sou insensível às reações emocionais e aos sentimentos da outra parte; 73 APÊNDICE C – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DURO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Estabeleço posições firmes e claras; Sou ansioso por ser ouvido e respeitado; Sou determinado a atingir sempre o Demonstro desconhecimento sobre os melhor; interesses da outra parte e tenho falta de disposição para identificá-los; Tenho tendência de liderança; Torno-me nervoso, transtornado; Conheço bem meus objetivos; Aproveito as oportunidades mencionadas ESTILO DURO por outros no planejamento; Seleciono as oportunidades quando as Não ouço as idéias e necessidades dos identifico; outros. Para mim o que conta são as minhas necessidades; Tenho presença ativa e arrojada; Sou inflexível, obstinado, orgulhoso; Tenho tendência em dirigir e coordenar Não permito que outros do grupo o trabalho dos outros; contribuam; Aprecio variedades, surpresas, Digo aos outros como as coisas devem ser mudanças; feitas; Procuro ter e manter o controle; Mostro-me desinteressado sobre o que os outros pensam a menos que eles possam impor seus pontos de vista; Não me intimido diante do conflito; Algumas vezes obrigo alguém a fazer alguma coisa com ameaças e pressões; Sou competitivo, assertivo, aprecio as Sou dominador, agressivo e pronto para o mudanças; combate; Aceito assumir riscos; Sou impulsivo, impaciente, manipulador; 74 APÊNDICE D – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO CALOROSO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS Apóio propostas de outros tanto quanto CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Resisto em assumir responsabilidades; minhas próprias iniciativas; Mostro-me bom ouvinte e tenho Resisto em enfrentar o conflito; habilidade para fazer questões; Sou paciente, calmo, justo; Sou dependente dos outros; ESTILO CALOROSO Sou modesto sobre minha contribuição e Às vezes não estabeleço claramente o que habilidades; pretendo num processo de negociação; Sou otimista; Não estou preparado para dizer não diretamente e assumir as conseqüências do risco; Confio nos outros e estou sempre pronto Antecipo problemas que podem nem vir a a colaborar; existir; Apóio os colegas; Desiludo-me e desaponto-me facilmente; Reconheço a interdependência dos Sou inseguro e me apoio muito nos outros; participantes; Mostro-me construtivo, auxiliador, Reclamo muito quando surgem problemas cooperativo; que não foram previstos anteriormente; Sou informativo, aberto, acessível; Sou incapaz de dizer não; Enfatizo os interesses e as metas Tenho tendência em perder o senso de comuns; meus próprios interesses e objetivos; Sou amigo, simpático com as outras Acredito que acesso e tempo irão resolver pessoas do processo de negociação; muitos problemas; 75 APÊNDICE E – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO DOS NÚMEROS CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Confirmo meus objetivos com pessoas Apresento comunicação mínima com as mais qualificadas e com autoridades pessoas – respostas com uma única externas; palavra; Confio em minhas próprias habilidades Sou muito apegado aos sucessos obtidos analíticas; no passado e sempre me apóio neles; Sou prático, preocupado com a Resisto às mudanças e a novos caminhos; ESTILO DOS NÚMEROS operacionalização das questões; Conheço a história dos relacionamentos Não analiso outros pontos de vista, a e as situações, em detalhes; menos que sejam expressos em meus termos; Insisto em números evidentes; Não sou imaginativo, inflexível, obsessivo; Mostro a praticidade de minhas idéias e Tenho necessidade de esclarecer palavras contrapropostas; e idéias; Sou bem preparado, executo bem as Acredito que as emoções atrapalham as tarefas; negociações; Sou metódico, sistemático, ordenado; Normalmente sou frio com os outros; Peso as alternativas e valorizo minhas Irrito-me com as pessoas que não adotam opções; minhas perspectivas; Sou persistente, paciente; Algumas vezes perco-me nos detalhes; Tenho bom conhecimento de fatos e Espero convencer os outros pelos fatos e detalhes; detalhes apresentados por mim; Sou membro valioso do grupo; Não tomo decisões rápidas; 76 APÊNDICE F – CARACTERÍSTICAS DO ESTILO NEGOCIADOR CARACTERÍSTICAS POSITIVAS Sou adaptativo, flexível, imaginativo; CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Busco sempre um acordo, quase que a qualquer preço; Sou jovial, charmoso, fácil de lidar; Às vezes sou muito hábil, mas não ESTILO NEGOCIADOR completamente; Evito ofender, mesmo quando digo não; Às vezes pareço artificial e pouco sincero; Sou rápido para identificar Freqüentemente mantenho uma posição oportunidades; pouco flexível; Utilizo as habilidades sociais para Posso levar as pessoas a caminhos persuadir; errados; Utilizo todos os fatos e argumentos Tenho dificuldades em planejar e preparar disponíveis; um processo de negociação; Evito concentrar-me em um único ponto; Procuro evitar conflitos, tanto em questões pessoais quanto em itens-chave nas negociações; Busco maneiras de viabilizar as Sou supercompromissado, difícil de ser atividades; encontrado; Dou más noticias sem afetar o Assumo que tudo está sempre ocorrendo relacionamento; conforme o planejado; Não desisto facilmente; Não me prendo demais a nada. Vou a diante mesmo não concordando totalmente com o interesse dos envolvidos; Aprecio negociar através de barreiras Tenho tendência em perder a confiança de culturais; meu próprio grupo ou organização; Falo rapidamente; Assumo tarefas que não são minhas; 77 APÊNDICE G – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR EFETIVO PAPEL DE NEGOCIADOR EFETIVO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Confio em minhas próprias habilidades Sou insensível às reações emocionais e analíticas; aos sentimentos da outra parte; Conheço detalhadamente os fatos da Às vezes chego a argumentar contra os negociação; próprios membros do meu grupo; Faço questões realistas, verificando os Algumas vezes me atrapalho nos próprios fatos; detalhes da negociação; Documento todas as declarações; Sou preciso, de maneira que pontos fundamentais não são perdidos ou permanecem descobertos; Respondo às questões para esclarecer pontos e proporciono informações complementares, quando pedidas; 78 APÊNDICE H – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR ANALÍTICO PAPEL DE NEGOCIADOR ANALÍTICO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Tenho tendência para liderar o grupo de Acredito que a lógica das questões é a negociação; chave para boas negociações; Apresento meus argumentos de Considerado-me uma pessoa fria, sem negociação de maneira lógica; sentimentos e sem emoções; Costumo negociar a agenda da reunião; Envolvo- me demais em argumentos e contra-argumentos; Procura ter certeza de que a estratégia está sendo corretamente implementada e adaptada; Procuro seguir as estratégias adotadas para garantir um resultado satisfatório no final da negociação; Faço perguntas à outra parte para esclarecer a racionalidade da sua posição, verificando os impactos sobre meu próprio grupo de negociação e me preparando para eventuais adaptações ao seu enfoque; 79 APÊNDICE I – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR RELATIVO PAPEL DE NEGOCIADOR RELATIVO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Procuro ser amigável com as outras Envolvo-me emocionalmente em excesso pessoas do processo de negociação; nas questões; Procuro sempre ser um facilitador das As pressões me atrapalham na hora de relações entre os membros dos grupos conduzir os objetivos e aplicar as de negociação; estratégias da negociação; Procuro estabelecer e manter boas Algumas vezes acabo dizendo coisas que relações com pelo menos uma parte dos só deveriam ser comentadas dentro do membros do outro grupo; Sempre examino as forças e fraquezas do oponente; Procuro construir a confiança entre as partes; Acredito que os sentimentos e as emoções atrapalham a negociação; meu grupo de negociação; 80 APÊNDICE J – CARACTERÍSTICAS DO PAPEL DE NEGOCIADOR INTUITIVO CARACTERÍSTICAS POSITIVAS Gosto de juntar as várias partes e CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS Sou uma pessoa difícil de ser controlada; PAPEL DE NEGOCIADOR INTUITIVO examinar a negociação no seu todo; Sempre examino as implicações futuras Dificilmente percebo defeitos em minhas de cada proposta; idéias; Consigo supor qual o caminho que a Algumas vezes tenho idéias não-realistas; negociação está tomando, verificando seus desdobramentos; Sou rápido para identificar as oportunidades que o processo de negociação oferece; Tenho habilidade para trazer idéias, novos caminhos para enfocar a negociação, dentre outros; Enxergo claramente quais os pontos essenciais da negociação, e os aspectos fundamentais dos seus detalhes; 81 APÊNDICE L - QUESTÕES ORIENTADORAS DA ENTREVISTA Este questionário tem o objetivo de manter o foco da entrevista, durante a sua realização, nos objetos de pesquisa. O questionário não deve levar o entrevistado a uma resposta concisa e curta, mas sim a uma reflexão sobre a mesma e uma explanação que possa refletir as experiências vividas pelo entrevistado. 01 - Quanto tempo demora aproximadamente uma negociação, e esse tempo favorece ou prejudica o acordo? 02- Você busca informações sobre o que será discutido? 03 - Que estratégias você usa numa negociação e como é a preparação para decidir qual a estratégia a ser usada? 04 - Como você age numa negociação e qual é o seu ponto forte? 05 - Como é a preparação de um dirigente sindical para torná-lo apto a participar de negociações com as empresas? 06 - Há critérios para denominar quem irá participar das negociações com as empresas? 07 - O que você teve que aprender para estar apto a ser um dirigente sindical, um negociador? 08 - Quando foi que você decidiu ser um dirigente sindical? O que lhe motivou a isto? 09 - Como você administra os momentos de conflito durante uma negociação, para que ela continue avançando sem travar? 10 - O que você acha mais importante para um dirigente sindical na negociação? 11 - Durante as negociações há muitos momentos de conflito. Como você se beneficia desses momentos? 12 - Qual a sua formação, idade, profissão?