MITO:
Uma das formas, entre outras, que o homem usa para explicar o mundo, a origem das
coisas e o sentido da existência. Assim, fortalece as regras sociais, ou seja: justifica a cultura.
O mito revelado (por deuses ou seres especiais) é apresentado à comunidade como algo
inquestionável, sagrado. Também é caracterizado por sua formação ser “eterna”, “sem princípio”.
Para os gregos da antiguidade, no início de sua cultura, a única forma de compreensão do
mundo era através de mitos. Na sociedade de então, punia-se as pessoas que não se
comportavam segundo o que os mitos orientavam (segundo os deuses).
A Filosofia surge por um processo de reflexão e contestação desta postura.
FILOSOFIA (sentidos de aplicação):
i) Sinônimo de pensar;
ii) Designa uma forma de vida (sábia);
iii) Sentido próprio, reflexão sobre a realidade e conceitos.
A filosofia surgiu no sec VI a.c. (aproximadamente).
Pensando na Natureza (físicos)
Pensando no Homem;
Com isto há um rompimento na
forma de pensar, de agir
segundo os Deuses. Crítica a
cultura posta.
O Mito objetiva a manutenção do poder local.
Com a expansão grega, são descobertas novas terras. Outras crenças são incorporadas, ou
seja, os gregos expandem seu território e conhecem novos domínios com outros mitos, outras
formas de poder.
Tales:
Tales caminhava em todas as direções do conhecimento, da geometria aprendida
inicialmente no Egito, por ele transmitida para os gregos, ao uso do relógio solar para
dimensionar o tempo; da percepção das diferentes estações do ano, aos estudos sobre a alma
humana. Foi também o pioneiro na compreensão do eclipse solar, chegando a prever um destes
fenômenos.
Tales de Mileto percebia a constante mudança das coisas, que se convertiam umas nas
outras. Sendo assim, ele concluía que tudo partia de um princípio basilar, conhecido também
como arché.
Negava a aparência múltipla das coisas. Para ele não havia múltiplas, várias coisas, haveria
algo, um Princípio fundamental (arche ou arqué): água – o que o tornava um físico Natural.
Pregava a unicidade do mundo, tudo é uma única coisa: água.
Escola Jônica:
Anaximandro de Mileto - discípulo de Tales (611 - 546 a.C.):
Filósofo e matemático, foi o primeiro grego a fazer mapas astronômicos, a inventar os
mapas geográficos e escrever tratados sobre geografia, astronomia e cosmologia, que
perduraram por vários séculos.
Concordava com Tales que deveria haver um princípio único para todas as coisas.
Entretanto acreditava que este princípio não poderia ter uma origem física, se não, não teria
como explicar a multiplicidade. Deveria ser algo indeterminado, ilimitado o que chamou de
Apeiron ( ἄπειρον).
Descreveu o mundo como um conflito entre os opostos.
Acreditava na evolução das espécies (mesmo que com uma teoria rudimentar).
Sua arche, portanto, é o indeterminado (Ápeiron).
Anaxímenes de Mileto:
Anaxímenes também fez parte da Escola Jônica. Foi o primeiro a afirmar que a luz
da Lua é proveniente do Sol. Foi discípulo de Anaximandro e como este, também afirmou
ser uma só a natureza ou princípio (arché) por trás de todas as coisas. No entanto,
mesmo que ele acreditasse ser este princípio ilimitado, não o pensou ser indefinido
como Anaximandro.
Anaxímenes acreditava ser o AR o princípio que originava todas as coisas no
universo. Conforme seu pensamento, por um processo de condensação, o AR se
transformava em objetos líquidos e sólidos (pedras, metais, terra, água e etc.). E por
outro processo, a rarefação, o AR se transformava em gases, ventos, oxigênio e fogo.
O filósofo também pensou ser a alma feita de ar, observando que o vivente
respira (refrigera o corpo) enquanto que o morto não o faz. Por isso, até hoje temos o
costume de dizer “saúde” a quem espirra. É que para os seguidores de Anaxímenes, o
espirro é como se a alma tivesse saindo do corpo e desejar saúde é um modo de orar, de
pedir aos deuses para que ela retorne ao corpo, restabelecendo a harmonia do ser. E
mesmo não tendo consciência disso, herdamos o costume, como também herdamos
muito do pensamento grego em nossa cultura ocidental. Identificado com a alma, o ar
anima não só o corpo do homem, mas o mundo todo.
Anaxímenes usou as suas observações e o raciocínio para providenciar as causas de
outros fenômenos naturais. Terremotos, dizia, eram o resultado da falta de umidade,
que causa que a terra sofra fraturas de tão seca que está, ou por excesso de umidade,
que também causa fratura pelo excesso de água. Em ambos os casos, a terra torna-se
fraca pelas fraturas e os montes colapsam, causando terremotos. Os relâmpagos são
causados por uma separação violenta, desta vez de nuvens pelo vento, causando uma
iluminação brilhante semelhante a fogo. O arco-íris, é formado quando ar densamente
comprimido é tocado pelos raios do sol. Estes exemplos mostram como Anaxímenes,
como os outros milésios, procuravam uma visão mais completa da natureza, procurando
unificar causas para diversos eventos que ocorressem, em vez de tratar cada um por si ou
atribuindo as causas a deuses ou a uma natureza personificada.
Heráclito:
Tudo está em movimento. O mundo é um eterno devir (vir a ser, o que está vindo, novo).
Tudo se transforma o tempo todo.
O cosmos, ou seja, o mundo que conhecemos, é um só.
Tudo nasce do fogo (arché) e, de novo, é pelo fogo consumido, em períodos
determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.
Para Heráclito, o fogo, quando condensado, se umidifica e, com mais consistência, tornase água; e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas as coisas do
mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo "para baixo".
Derretendo-se a terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na
evaporação do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o
caminho "para cima".
Pitágoras de Samos
Para Pitágoras, o mundo tinha as mesmas regras matemáticas dos números pois eles
simbolizavam a harmonia.
Essa harmonia ou ordem eles perceberam analisando os astros do céu e a natureza.
Para eles o cosmos é organizado através de uma ordem matemática e a prova disso são
os movimentos perfeitos das estrelas, as mudanças de estações e a alternância entre o dia e a
noite. Assim como a oposição entre o dia (claro) e a noite (escura), existem diversas oposições
no mundo, o que concilia a oposição entre essas coisas é o princípio da harmonia e o princípio
da harmonia é regido pelos números.
Assim, Pitágoras julgava que haveria uma espécie de algo indeterminado, ou seja
concordava com o Apeiron (de Anaximandro), mas afirmava que a existência das coisas se
dava por uma limitação harmônica que surgia através do número. Desta oposição Apeiron x
limite, ou seja deste dualismo surgem as coisas do mundo.
Pitágoras foi quem criou a palavra "Filósofo" e "Matemática".
Existem
ainda outros representantes da escola Itálica, como: Filolau de Crotona e Arquitas de Tarento.
Parmênides 530 a.C. Eleia (atual Novi Velia - Itália) c. 460 a.C.
Parmênides é considerado o fundador da escola Eleática.
Parmênides foi o mais influente dos filósofos que vieram antes de Platão. Em sua
doutrina se destacam o monismo e o imobilismo. Ele propôs que tudo o que existe é eterno,
imutável, indestrutível, indivisível e, portanto, imóvel.
Parmênides considera que o pensamento humano pode atingir o conhecimento
verdadeiro e a compreensão das coisas.
A compreensão do que é uma coisa, o “ser” em si, só é feita por meio da razão, ou seja,
pela mente. O que é percebido pelos sentidos, ou seja, pelas sensações é enganoso e falso, e
pertence ao domínio do “não-ser”. Portanto a filosofia de Parmênides é uma oposição direta ao
mobilismo (devir) defendido por Heráclito de Éfeso, para quem "tudo passa, nada permanece".
Seu pensamento influenciou a chamada "teoria das formas", de Platão.
Ao contrário da maioria dos filósofos anteriores, que divulgaram seus pensamentos em
prosa, Parmênides era um poeta e escreveu sua grande obra, "Da Natureza", em versos
hexâmetros (arranjo de sílabas que dão musicalidade ao verso) semelhantes aos de Homero.
Além disso, ele atribuiu suas ideias a uma revelação divina.
Fornece as bases para o que seria o Princípio de Não Contradição (princípio básico da
lógica aferido por Aristóteles). Em outras palavras, se eu afirmar uma coisa, como está chovendo,
não posso afirmar o seu oposto, como não está chovendo no mesmo momento e sob o mesmo
aspecto, se não estarei entrando em contradição. Então afirmar está chovendo e não está
chovendo agora ali no pátio da escola é contraditório, ou as frases estão em oposição de sentido.
Parmênides ainda irá se perguntar: Como um ser pode se transformar em tantos outros
(multiplicidade)? Sua resposta aponta para o seguinte caminho:
O que é, não pode deixar de ser. O ser é, o não ser, não é. (ontologia)
Agora tente descrever alguma coisa que não existe. Impossível. Como é impossível falar
de algo que não é, ou falar do não ser, vamos perceber que só o ser permite conhecimento.
Bem, se só o ser permite ciência, que deve ser buscada pela razão (caminho da verdade –
alétheia → desvelamento/descoberta), nossos sentidos nos oferecem uma ilusão da qual
extraímos uma opinião (caminho da opinião - doxa) e esta nos leva ao engano, portanto deve ser
desprezada.
Segundo os sentidos, o mundo estaria em constante transformação.
Mas o filósofo afirma que a essência do ser permanece, nunca muda.
Tudo é uno, contínuo, imutável, único, eterno, imóvel, indestrutível, indivisível e pleno. A
multiplicidade é uma ilusão.
Observe, então, que para Parmênides, tudo é fixo em oposição a Heráclito, que afirma
que tudo muda.
Zenão de Eleia (510 – 450)
Tudo é fixo.
Aquiles e a Tartaruga
Aquiles nunca pode alcançar a tartaruga, porque na altura em que atinge o ponto donde a
tartaruga partiu, ela ter-se-á deslocado para outro ponto; na altura em que alcança esse segundo
ponto, ela ter-se-á deslocado de novo; e assim sucessivamente, ad infinitum.
(Kirk e Raven, 1979, p. 301-302)
Deste modo, numa corrida, o perseguidor nunca poderia atingir o perseguido, mesmo que
fosse mais rápido que este. A teoria do espaço que está aqui implícita é a que o supõe
infinitamente divisível.
O problema de Aquiles e a Tartaruga
O problema da seta
Um objeto está em repouso quando ocupa um lugar igual às suas próprias dimensões.
Uma seta em voo ocupa, em qualquer momento dado, um espaço igual às suas próprias
dimensões. Por conseguinte, uma seta em voo está em repouso.
(Kirk e Raven, 1979, p. 302)
O objetivo deste argumento é provar que a seta voadora está em repouso, resultado de
se admitir a hipótese de que o tempo é composto de momentos; vários momentos em repouso
não resultam em movimento. Como do repouso não surge o movimento, o movimento não
existe.
Problema do estádio
É impossível atravessar o estádio; porque, antes de se atingir a meta, deve primeiro
alcançar-se o ponto intermédio da distância a percorrer; antes de atingir esse ponto, deve atingirse o ponto que está a meio caminho desse ponto; e assim ad infinitum.
(Kirk e Raven, 1979, p. 300-301)
Por outras palavras, se admitirmos que o espaço é infinitamente divisível e que, portanto,
qualquer distância finita contém um número infinito de pontos, chegamos à conclusão de que é
impossível alcançar o fim de uma série infinita num tempo finito.
A ESCOLA PLURALISTA (Séc. V):
A Escola Pluralista é a última das escolas em que os filósofos buscam arché, segundo a
História da Filosofia Antiga. Fizeram parte dela: Empédocles, nascido em Agrigento; Anaxágoras,
de Clazomene; Leucipo, da cidade de Mileto, e Demócrito, de Abdera. Empédocles e Demócrito
influenciaram as ciências de todos os tempos, principalmente a Química, a Medicina e a Física. A
expressão “pluralista” dá-se pelo fato deles defenderem a combinação de vários elementos
naturais como arché, elemento original de tudo aquilo que existe.
EMPÉDOCLES
Empédocles, nascido no século V a.C. (490 - 430 a.C.), usando um discurso mitológico,
assim escreveu: Houve primeiro das quatro raízes de todas as coisas: Zeus brilhante [símbolo do
fogo], Hera vivificante [terra], Aidoneus [água] e Nestis [ar], que deixa correr de suas lágrimas fonte
terrena. Em outras palavras, tudo o que existe teria surgido da combinação do fogo com a água e
da terra com o ar.
Ou seja, as diferentes coisas (a multiplicidade) existe porque baseia-se em 4 elementos
(ou raízes): quente, úmido, seco e frio (ou ainda, fogo, água, terra e ar). As coisas são o resultado
da mistura desses elementos em quantidades diferentes. Para ele, o amor constrói, une. A
discórdia destrói, desune. O mundo é uma constante e interminável batalha entre o Amor e ódio.
Então, aquilo que os sentidos me informam só faz sentido se a razão for usada.
DEMÓCRITO
Para Demócrito (460-370 a.C.), o mais conhecido de todos, o fundamento da vida reside
nos átomos, elemento que ele, sem ter um microscópio, assim definiu: Estas coisas são tão
pequenas que escapam aos sentidos. Têm as formas, figuras e grandezas mais variadas. [...] São
agitadas e transportadas no vazio por causa da sua dessemelhança e outras diferenças específicas.
Estes átomos são fixos, imutáveis, entretanto, o movimento constante destes explica a mudança,
através de choques, determinando a redistribuição dos átomos em outras coisas.
ANAXÁGORAS
Conforme Anaxágoras (499 - 428 a.C.), cada coisa surge quando vários elementos se
juntam, e desaparecem quando esses se separam. Ele pensava que as coisas ou seres eram
compostos com qualidades semelhantes que, ao serem divididas ao infinito, se repetiam em cada
porção. A esses elementos-qualidades, que associadas geram o ser, Anaxágoras chamou de Noûs
(espírito, pensamento, inteligência).
O Noûs é o princípio ou arché de todas as coisas. É ele que fornece as leis do pensamento
que se sobrepõe aos sentidos para conhecer e governar o universo. É preciso entender que o
pensamento está nas coisas também, não é algo separado delas. Tudo tem causa e essa é sempre
natural, física, ainda que o espírito aqui seja concebido materialmente.
Por exemplo: em um fio de cabelo, por menor que seja a partícula que o divide, nela
contém todos os elementos do universo. “Tudo está em tudo”, afirmou Anaxágoras. E com isso, o
Noûs é a matéria, a substância que causa tanto a agregação quanto a separação dos elementos
que constituem os seres.
Por seu pensamento inovador, Anaxágoras foi acusado de impiedade (não crer nos
deuses) e condenado à morte, mas conseguiu fugir antes de ser pego. Os deuses eram
descartáveis, segundo o filósofo, justamente porque o essencial para que cada coisa existisse já
estava contido no Noûs.
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MITO: Uma das formas, entre outras, que o homem