Inovação e desenvolvimento Vicente de Paula Oliveira (*) O atual governo foi eleito com base na promessa, entre outras, de criar empregos. Continua sendo salutar a preocupação, sobretudo quando se tem em conta o grande potencial da economia para ampliar possibilidades de criação de postos de trabalho via exportações de manufaturados com alto valor agregado. Tais possibilidades, para se tornarem reais, necessitam de crédito, baixo custo de transporte, simplificação do processo burocrático de liberação e, principalmente, de inovações e ganhos de produtividade. Isso sem falar em marcas e em canais (próprios) de comercialização. Assim, aumentar as exportações de manufaturados, criar empregos e, a partir daí, estabelecer condições para o desenvolvimento econômico e social são objetivos que devem estar assentados na promoção das inovações em relação ao produto, ao processo produtivo, às formas do marketing ou, ainda, às técnicas de gestão. No Brasil, ao contrário do que ocorre em países industrializados, as empresas nacionais, de um modo geral, têm dificuldades para manter centros ou departamentos de pesquisa e desenvolvimento, fonte das inovações tão necessárias. Vivemos de soluções vindas de fora, pelas quais pagamos "royalties" ou, então, vamos na onda da aculturação. O desejo manifesto de criar empregos e a necessidade de aumentar o volume de exportação de manufaturados com valor agregado exigem atuação dinâmica e moderna por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, que pode se concretizar na mudança do seu titular e, quem sabe, de reorientação da pasta. Mas a forte razão para justificar uma nova postura é o relatório divulgado pela Organização Mundial de Propriedade Industrial (Ompi), onde se revela que o Brasil ocupa posição insignificante na ino vação tecnológica no mundo. Em 2003, o País registrou apenas 0,2% das patentes internacionais. Dos 113 mil registros de propriedade intelectual feitos naquele período, apenas 221 patentes são do Brasil, 611 da Índia, 376 da África do Sul, 1,2 mil da China, 41 mil dos EUA. Os norte-americanos têm 37% dos registros, seguidos por Japão (15%), Alemanha (12%) e Inglaterra (5%). A mobilização dos institutos oficiais de pesquisa, favorecidos por créditos e políticas dirigidas, e a firme articulação com a empresa nacional podem propiciar avanços em ciência e tecnologia. Não se trata de reinventar a roda, mas de adotar medidas que não nos deixem à margem da criação tecnológica. O que se propõe é ousadia, amplitude e dinamismo, associados ao trabalho "no atacado", ágil, mas com foco, fazendo convergir as variáveis inovação e exportação. Nesse caso, promover o encontro da procura (empresários) com a oferta (institutos oficiais de pesquisa), intensificando o produtivo intercâmbio entre institutos de pesquisa e desenvolvimento vinculados às universidades ou ao Estado e as empresas, em busca de inovações que configurem novos padrões tecnológicos para a indústria brasileira, proporcionará resultados positivos nesse campo. A Petrobras, líder mundial em prospecção de petróleo em águas profundas, é "cliente" constante do Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica da USP. Há outros exemplos marcantes. Um sistemático (re)conhecimento das condições da economia industrial brasileira, identificação das possibilidades do orçamento público e adequado programa de crédito liderado por bancos oficiais, notadamente BNDES, Banco do Nordeste e Banco do Brasil, articulando os órgãos de pesquisa das universidades e do Estado com as lideranças empresariais, garantiriam o sucesso da empreitada e poderia nos tirar daquela insignificância apontada pela Ompi. (*) Vicente de Paula Oliveira - Economista e diretor do Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa (Ipep) Fonte: Gazeta Mercantil - Disponibilizado em 19/03/ 2004