PERDA DE CARGA EM CIRCUITOS HIDRÁULICOS DE PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS – PCH´S André L. T. Fabiani, José J. Ota – LACTEC/UFPR David T. da Silva e Celso V. Akil – AMPLA Objetivos • Metodologia para analisar se a tubulação adutora adotada em uma usina antiga atende aos critérios atuais de projeto e operação, propondo correções, se necessárias; • Usinas-piloto com quase 100 anos de operação, com pequenas atualizações: – Piabanha – 1908 – 9 MW – Fagundes – 1923 – 4,8 MW Fórmulas básicas • Perda de carga clássica: p1 2 2 V p V 1 1 z1 2 2 2 z2 hP12 hL12 2g 2g V2 hL K L . 2g L V2 hp f D 2g 9,35.D k 2. log 1,14 2. log(1 ) D f Re .k. f 1 • Dificuldade: definir o valor dadas perdas localizadas e contínuas, após mais de 70 anos de uso das tubulações Metodologia básica • Passo 1: Coletar informações geométricas e operacionais antigas e atuais • Passo 2: Reavaliar os aspectos hidrológicos e energéticos • Passo 3: Definir alternativas a serem estudadas • Passo 4: Verificação das novas condições hidráulicas de operação da usina, • Passo 5: Quantificação econômica das alternativas estudadas, a fim de determinar a viabilidade econômica de alterações na usina. Dados das usinas-piloto • Piabanha: geração de 9 MW, com três máquinas iguais, engolindo cada uma 8,79 m3/s, com uma queda líquida de 49,7 m (rendimento médio de 53,5%). A adução se dá por três condutos paralelos, com 2 km de comprimento e diâmetros entre 1,78 m e 2,49 m e desnível final de 8,5 m, terminando em um tanque de compensação, com vertedouro lateral; a espessura dos condutos varia entre 1/4" e 5/16”. A partir desse tanque, partem três condutos forçados independentes, com comprimento de 94 m e diâmetro de 2,94 m; • Fagundes: um conduto adutor único, com 1,6 km de extensão e diâmetro de 1,7 m; a espessura varia entre 1/4" e 5/8”. Ao final do conduto existe uma chaminé de equilíbrio, de 2,13 m de diâmetro, de onde partem dois condutos forçados independentes, com 1,25 m de diâmetro, espessura de 5/8” e comprimento de 206 m. Duas máquinas com engolimento de 2,68 m3/s (Rendimento médio de 69,6%) • Rendimentos de máquinas modernas giram em torno de 89 % Piabanha Fagundes Estudos Hidrológicos e Energéticos • Foram estudadas 4 estações pluviométricas com mais de 30 anos de observações; • Vazões médias resultaram iguais a 35,65 m3/s em Piabanha e 5,52 m3/s em Fagundes; • As energias firmes das usinas giram em torno de 3,72 MW médios em Piabanha e de 1,88 MW médios em Fagundes; Curvas de permanência 120 100 80 Vazão (m3/s) • Piabanha 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 60 70 80 90 100 Permanência (%) 20 18 16 14 Vazão (m3/s) 12 • Fagundes 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 Permanência (%) Alternativas estudadas • continuar utilizando os condutos atuais; • recuperá-los, revestindo-os internamente com uma resina de poliuretano aromático elastomérico e sem solvente de alta resistência – denominada comercialmente de POLIBRID® • trocar os condutos atuais por condutos novos de aço soldável. • A troca do tanque de compensação existente na PCH Piabanha por chaminés de equilíbrio, incrustada na rocha ou exposta foi também analisada. Cálculo Hidráulico • • • • • Envelhecimento dos condutos Colapso dos condutos Diâmetro Equivalente Diâmetro Econômico Transientes Envelhecimento do conduto • O envelhecimento dos condutos impõe uma perda de carga adicional ao sistema, diminuindo a energia gerada. A medida desse envelhecimento é dada pela espessura de rugosidade equivalente, e baseado em testes de rendimento: • – – – • Início em 0,9 mm - conduto de aço rebitado Final em 10,5 mm para Piabanha e 9,1 mm para Fagundes Os resultados indicam que a taxa anual de crescimento da rugosidade equivalente nas duas usinas é de 0,1 mm, coerente com a literatura sobre o assunto. Nos casos de condutos novos foram adotados: – – 0,046 mm no caso de aço novo soldável no caso de conduto revestido com resina adotou-se uma rugosidade de 0,9 mm (a mesma do aço rebitado, pois os rebitem continuarão interferindo no escoamento), além de reduzir o raio interno do conduto da espessura da camada, 2,5 mm, ao invés de considerar o tubo com plástico (rugosidade de 0,001524 mm). Colapso dos condutos • O colapso de condutos pode ocorrer por rebaixamento excessivo da pressão no interior do conduto. o limite mínimo de pressão de um tubo de aço: 6 3 e pc 8,9959225.10 , em m.c.A. D – as regiões onde forem observadas pressões inferiores a essa podem sofrer colapso. • Para as usinas-piloto, em operação normal, não foram observados pontos de pressões tão baixas, mas o grande comprimento e relativo pequeno número de ventosas e respiros – 23 – não impede colapso em todos os casos (operação de esvaziamento rápido) Exemplo: usina de Oigawa Potencial de Colapso - Fagundes 440 = 12,20 m = 6,15 m = 12,80 m 430 = 5,92 m = 13,48 m 420 = 10,64 m 410 400 Elevação (m) 390 = 13,00 m 380 370 360 350 340 = 12,65 m 330 Linha d e To p o Linha Piezo mét rica - Sup o rt ável p elo co nd ut o Linha Piezo mét rica - Po t encial máximo Resp iro s V álvulas V ent o sas Chaminé d e Eq uilí b rio 320 310 300 -100 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 100 0 110 0 Distância ao início (m) 120 0 130 0 140 0 150 0 160 0 170 0 180 0 Diâmetro Equivalente • Para Piabanha, temos três condutos, que podem ser tratados com um com diâmetro equivalente dado por: hP e hP1 hP 2 hP 3 Qe Q1 Q2 Q3 f .L D5 1 i 1,N Di5 f i .Li • O diâmetro equivalente resultou igual a 3,18 m. Diâmetro Econômico • Diâmetro que conduz à melhor relação custo de construção – custo de energia perdida – Manual da ELETROBRÁS – Critério de Nigam L D 0,8339.Q0,388 . 0,32 Hb f.k2 .Q 3 .t D6 9106.k1.b – Manual de projeto de PCH´s da ELETROBRÁS Q3 D 1,237. Ht 1 7 0 ,204 Diâmetros econômicos das usinaspiloto • Piabanha: diâmetro econômico de 3,54 m para o conduto adutor e 2,06 m para o conduto forçado; • Fagundes: diâmetro econômico de 1,61 m para o conduto adutor e 1,07 m para o conduto forçado. – Uma variação de 10 % no valor do diâmetro ótimo conduz a variações pequenas no custo total e na relação benefício/custo (segundo muitos autores, no máximo 1 %). Resultados hidráulicos para Fagundes • Recuperação dos condutos com resina permitirá o aumento da vazão máxima escoada de 5,36 m3/s para 7,31 m3/s, suficiente para instalar máquinas com potência total de 8 MW, ou invés dos 4,8 MW hoje instalados; • A chaminé de equilíbrio continuaria operando satisfatoriamente mesmo com este aumento de vazão; • Esta alteração permite o aumento da energia gerada na usina, apesar da perda de carga adicional gerada pelo aumento da vazão; o valor anual aumenta de 20.791 MWh/ano para 43.947 MWh/ano. • A troca dos condutos por condutos de aço novo soldável conduz a resultados um pouco melhores, mas o alto custo do aço torna esta opção pouco atraente economicamente. Resultados Hidráulicos Para Piabanha • A recuperação dos condutos com resina permitirá o retorno a condições seguras de operação e, ainda, o aumento da vazão máxima escoada de 26,37 m3/s para 29,88 m3/s, suficiente para instalar máquinas com potência total de 12 MW, ou invés dos 9 MW instalados atualmente; • O tanque de compensação e seu vertedouro continuam operando de maneira eficiente; • Esta alteração permite o aumento da energia gerada na usina sem um aumento substancial da perda de carga gerada pelo aumento da vazão; o valor anual eleva-se de 51.946 MWh/ano para 97.454 MWh/ano; • A troca dos condutos por condutos de aço novo soldável conduz a resultados um pouco melhores, mas o alto custo do aço torna esta opção pouco atraente economicamente; • A troca do tanque de compensação por chaminés de equilíbrio apresentam resultados técnicos aceitáveis, mas incluem muitos custos adicionais que tornam essas alternativas inviáveis economicamente; Estudos Econômicos • Baseado em: – Vazão remanescente nula (situação próxima da atual); – Aço soldável: R$15,00/kg instalado; – recuperação completa e revestimento com resina: R$ 289,00/m2; – energia vendida a R$ 116,13/MWh; – Taxa de retorno: 10 % ao ano; – O valor da troca completa dos conjuntos turbina-gerador para as usinas foi obtido junto a fornecedores e avaliada a sua variação pelas equações da ELETROBRÁS. Usina Fagundes Piabanha Item Troca do conduto Recuperação dos condutos com resina Nova motorização para 7 MW Troca do conduto Recuperação dos condutos com resina Nova motorização para 12 MW Valor (R$) 15.136.970,00 2.829.870,00 3.708.889,00 35.662.055,00 11.990.445,00 7.278.072,00 Usina Fagundes Piabanha Item Potência a ser instalada Energia a ser gerada anualmente Receita anual Receita anual adicional (descontada a geração atual de 20.791 MWh/ano) Período de retorno Potência a ser instalada Energia a ser gerada anualmente Receita anual Receita anual adicional (descontada a geração atual de 51.946 MWh/ano) Período de retorno Valor 8,0 MW 43.947 MWh/ano R$ 5.103.511,00 R$ 2.689.052,00 /ano 40 meses 12,0 MW 97.454 MWh/ano R$ 11.317.291,00 R$ 5.284.802,00 /ano 60 meses Conclusões • Este artigo apresenta a pesquisa realizada no âmbito do projeto de P&D ANEEL 0383-021/2004, da AMPLA Energia e Serviços S. A.. • O procedimento mostrado neste trabalho permite analisar o estado em que se encontra uma pequena central hidrelétrica antiga indicando, entre outras características, falhas na operação, causas de colapsos de adutoras e o ganho possível no caso de repotenciação da usina. • A metodologia utilizada pode ser generalizada a partir de: – Estudos hidrológicos e energéticos – Estudos hidráulicos (perda de carga, envelhecimento, colapso, diâmetros equivalente e econômico, alternativas de projeto) – Estudos econômicos Conclusões para as usinas-piloto • A viabilidade da repotenciação de usinas como as PCH´s de Piabanha e Fagundes é de resultados imprevisíveis a priori. A metodologia proposta conduz a uma conclusão com base científica, eliminando dúvidas e evitando investimentos inadequados. Ela é ampla por englobar aspectos hidráulicos, hidrológicos, energéticos e econômicos, e pode ser útil em outras usinas cuja repotenciação esteja em questão. • A manutenção dos condutos atuais por mais um tempo em operação só é recomendável para a usina de Fagundes, tendo em vista o alto grau de deterioração dos condutos adutores de Piabanha. • A troca dos condutos atuais por condutos novos de aço soldado é economicamente desvantajosa, ou mesmo inviável, frente à recuperação dos condutos e revestimento interno com resina. Conclusões para as usinas-piloto • Com respeito ao colapso dos condutos, apenas a instalação de equipamentos adicionais de entrada de ar eliminará definitivamente a possibilidade da sua ocorrência. – Sugere-se a instalação de 7 ventosas de tríplice função no conduto adutor de Fagundes e de 14 equipamentos nos condutos adutores de Piabanha, com um custo de R$ 108.270,00, fora a instalação. • Nos estudos econômicos realizados, foi adotado que a vazão mínima remanescente para as duas usinas é nula, com o intuito de maximizar a geração de energia pelas usinas. Agradecimentos • Aos engenheiros Ricardo H. C. Magalhães e Márian C. Rohn que efetivamente trabalharam nesta pesquisa; • À ANEEL pelo seu programa de Pesquisa e Desenvolvimento, que permitiu o investimento de recursos para o desenvolvimento desta pesquisa. Esta apresentação estará disponível para download, a partir do dia 28/04/08, no site: www.cbdb.org.br/vispmch