158 Dissertações -1993 # O PERIIDEÔN E A CRÍTICA ARISTOTÉLICA À TEORIA DAS FORMAS DE PLATÃO por M a r i a J o s é M a r q u e s de Figueiredo (Universidade de Lisboa) D i s s e r t a ç ã o de Mestrado em Filosofia, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa, 1992. A q u e s t ã o das r e l a ç õ e s entre as filosofias de Platão e de Aristóteles chamou, desde sempre, a a t e n ç ã o dos comentadores e dos críticos, especialmente dos do estagirita. Como é sabido, o Filósofo faz, em diversas passagens da sua obra, duras críticas à filosofia platónica, particularmente à teoria das Formas. Estas críticas encontram-se, no entanto, particularmente condensadas no Peri Ideôn, obra perdida de A r i s t ó t e l e s , em dois livros, a que apenas temos acesso através das referências que a ela fazem Alexandre de Afrodísias e o Pseudo-Alexandre, nos seus c o m e n t á r i o s à Metafísica, Neste texto, Aristóteles expõe e discute sete argumen- tos p l a t ó n i c o s a favor das Formas e as suas próprias contra-argumentações, argumentos esses que n ã o encontramos, descritos com a mesma clareza e concis ã o , em nenhuma outra passagem do corpus de qualquer dos dois filósofos. São eles o argumento « d a s c i ê n c i a s » , « d o um sobre muitos», « a partir do p e n s a r » , « d o s relativos», « d o terceiro h o m e m » , « d a mistura das formas e « d o uno e da d í a d e indefinida». O enorme interesse deste documento p r o v é m , pois, de nele encontrarmos concentradas algumas das principais teses, tanto do platonismo quanto do aristotelismo, e mesmo de nele vermos nascer a tradição da filosofia ocidental. A dissertação inclui uma t r a d u ç ã o dos fragmentos do Peri Ideôn, tal como são compilados por D a v i d Ross, e um c o m e n t á r i o desse mesmo texto. A tese por n ó s defendida — que procura, fundamentalmente, responder à intrigante questão de saber por que r a z ã o Aristóteles, que foi durante vinte anos discípulo de Platão, desvirtua como o faz os argumentos do seu mestre, apresentando-os como privados de sentido e razoavelmente i n c o m p r e e n s í v e i s — é a de que as filosofias de P l a t ã o e Aristóteles s ã o , nomeadamente nos aspectos cobertos pelos argumentos de Peri Ideôn, i n c o m p a t í v e i s , o que resulta numa tota! incapacidade — q u i ç á v o l u n t á r i a — , por parte de Aristóteles, de compreender as teses discutidas por P l a t ã o . *