UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA CURSO DE MATEMÁTICA DANIELE TRENTIN BUSETTO PROPOSTAS AO ESTUDO DE PROBABILIDADE NO ENSINO MÉDIO ERECHIM 2010 DANIELE TRENTIN BUSETTO PROPOSTAS AO ESTUDO DE PROBABILIDADE NO ENSINO MÉDIO Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática, do Departamento de Ciências Exatas e da Terra, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim. Profª. Orientadora: Simone Maffini Cerezer. ERECHIM 2010 RESUMO A presente pesquisa de revisão bibliográfica buscou analisar diferentes estratégias de ensino de probabilidade para o Ensino Médio, visando identificar se atendiam às orientações curriculares presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), e em que pontos suas aplicações eram favoráveis à formação do educando como um ser pensante e ativo na sociedade atual. Num primeiro momento, fez-se necessário a leitura e análise dos documentos que regulamentam a educação nacional, buscando a compreensão dos objetivos gerais e específicos do Ensino Médio, destacando e elencando as habilidades e competências em que se almeja desenvolver com os alunos deste nível de Ensino. As propostas que atenderam com maior respaldo os objetivos do Ensino Médio previstos nos PCN foram as que envolvem situações cotidianas do educando. Aliar o estudo de probabilidade aos fatos da rotina do educando não é uma tarefa difícil, pois o pensamento probabilístico está presente em várias situações no dia-a-dia do educando. Além disso, o estudo das probabilidades proporciona também ao educando o desenvolvimento do raciocínio lógico e abstrato, habilidades estas previstas nas orientações curriculares do Ensino Médio. Constatou-se também que a busca por novas estratégias de ensino deve ser constante, pois precisará estar adequada à realidade do educando. Palavras-chave: Ensino de Probabilidade; Ensino Médio; Parâmetros Curriculares Nacionais. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 6 2.1 LEI DE DIRETRIZES E BASES: ALICERCE DA EDUCAÇÃO NACIONAL...6 2.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS................................................7 2.3 ENSINO MÉDIO: HABILITAÇÃO DO EDUCANDO PARA A VIDA...............8 2.4 MATEMÁTICA: CIÊNCIA QUE PERMEIA TODAS AS CIÊNCIAS ..............10 2.5 O ESTUDO DE PROBABILIDADE .....................................................................11 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE PROPOSTAS DE ESTUDO ............... 14 3.1 TITANIC................................................................................................................14 3.2 PASSEIOS DE ANDRÉ .......................................................................................16 3.3 INTUIÇÃO E PROBABILIDADE........................................................................20 3.4 PROBLEMA DOS DISCOS..................................................................................22 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................27 5 1 INTRODUÇÃO As habilidades e competências que os educandos devem desenvolver são cada vez mais desafiantes, uma vez que o mundo está em constante transformação e, portanto, a necessidade de adaptar-se e readaptar-se é obrigatória, ou corre-se o risco de isolar-se no mundo globalizado em que estamos inseridos. Um dos questionamentos constantes que surgem em rodas de conversa entre os “pensantes” em educação é: “Que conteúdos devemos abordar nas aulas para formação crítica e analítica de nossos estudantes?” ou então “Como fazê-los cidadãos conscientes e racionais?” Para tentar resolver estas questões, inseriu-se na disciplina de Matemática, o estudo de probabilidades. Embora tenha sido inserida ainda nos meados dos anos 90, observa-se que um número ainda reduzido de professores fez a inclusão em suas práticas pedagógicas. Para que esta dificuldade seja resolvida, faz-se necessário uma formação atualizada de profissionais da área. O estudo de probabilidade é uma ferramenta fundamental em estudos por amostragem, onde envolvam interferências de qualquer forma. A tentativa de medir a incerteza proporcionou o surgimento de diferentes conceitos de probabilidade, pois ela subsidia o estudo de fenômenos aleatórios que permeiam nossa rotina. Existe ainda grande dificuldade dos profissionais da educação matemática em encontrar propostas para se trabalhar este conceito. Este trabalho visa analisar estratégias de ensino que atendam às orientações curriculares presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais. A pesquisa foi realizada em duas etapas. No primeiro momento, fez-se uma revisão geral dos documentos que regulamentam e educação em nível nacional, com enfoque para o Ensino Médio, com o objetivo de tornar clara a compreensão dos objetivos em geral, desde os mais específicos, até os mais amplos, que norteiam esta etapa do ensino. No segundo momento, apresentou-se algumas atividades que envolvem o estudo de probabilidade, fazendo em seguida, a análise e relacionando aos objetivos previstos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. 6 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 LEI DE DIRETRIZES E BASES: ALICERCE DA EDUCAÇÃO NACIONAL Com a promulgação da Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) anterior foi considerada ultrapassada, e não atendia mais a demanda e os interesses da população (Lei 4024/61), mas apenas em 1996, o debate sobre a nova lei foi concluído, e assim surgiu a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, que é a lei vigente atualmente. A LDB foi sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da Educação Paulo Renato, em 20 de dezembro de 1996. Baseada no princípio universal de direito à educação para todos, esta lei trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores. O texto aprovado em 1996 foi resultado de uma série de debates abertos com conselhos, ministérios, diversas pessoas que representavam as mais variadas instituições de ensino. Estas trocas de idéias duraram em média 6 anos. A principal divergência era em relação ao papel do Estado na educação. A versão final foi influenciada pelas tendências partidárias do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, vigente nos últimos anos de sua tramitação. A LDB é interpretada e respeitada como a lei maior que orienta os princípios e fins da educação como um todo, em todo território nacional, abrangendo todos os níveis e modalidades educacionais. É a lei que regulamenta desde a responsabilidade da União, do Estado, municípios, instituições de ensino, corpo docente, até mesmo do educando no sistema educacional. Dentre as características básicas da LBD estão: Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (art. 4). Carga horária mínima de 800 horas distribuídas em 200 dias na educação básica (art.24). Núcleo comum para o currículo do Ensino Fundamental e Médio, e parte diversificada em função das peculiaridades locais (art. 26). Prevê que a União deve gastar 18% e os municípios, no mínino 25% de seus respectivos orçamentos no desenvolvimento do ensino público (art. 69). Prevê a criação do Plano Nacional de Ensino (PNE) (art. 87). 7 Esta lei também expressa de uma forma bastante clara os princípios gerais que orientaram a reformulação do Ensino Médio. São eles: busca pela formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las, selecioná-las; a capacidade de interpretar, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização. São estes os princípios responsáveis pelas mudanças estruturais provindas da chamada “revolução do conhecimento”. Estas mudanças trouxeram alterações no modo de trabalho e das relações sociais, a expansão crescente da rede pública, que deverá atender os padrões de qualidade de acordo com as exigências da sociedade. (BRASIL, 2000). 2.2 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) visam, principalmente, adequar o ensino às demandas atuais do mercado globalizado. Embora os PCN tenham sido propostos apenas de maneira indicativa, nos últimos anos, eles passaram a exercer influência direta e de peso nos sistemas de ensino que sustenta a rede de relações de ensino-aprendizagem. Eles surgiram nos anos 90, com a finalidade de organizar as propostas curriculares das práticas pedagógicas docentes do território nacional, consolidando indicativos imprescindíveis para a educação. Este esforço recebeu de modo direto ou indireto, de instituições nacionais e internacionais, como o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e até do Fundo Monetário Internacional (FMI). Tais indicativos foram significativos porque contribuíram para a construção sóciohistórica do currículo, bem como nortearam o processo de reconstrução e recontextualização dos currículos. As diretrizes compreendidas nos PCN estão expressas em três áreas: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Cada uma das áreas, é retratada e norteada por abordagens de competências e habilidades como princípio organizacional do currículo. A integração curricular que os PCN almejam, visa formar sujeitos capazes de construir seus próprios saberes e, portanto, autores de suas próprias histórias, habilitando-os para um mundo competitivo em constante modificação. 8 Os PCN regulamentam a Educação Básica como um todo. O Ensino Médio, por sua vez, recebe uma versão especial, conhecida como Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), que surgiu em 1999. Afirma Alice Casimiro Lopes, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que o documento PCNEM “é a carta de intenções governamentais para o Ensino Médio, que orienta a produção do conhecimento oficial, ou seja, o conhecimento educacional construído e distribuído às redes de ensino pelo Estado, com intenção de recontextualizar o saber pedagógico”. As orientações curriculares presentes nos PCNEM tiveram como embasamento a LDB, partindo da idéia de que o Ensino Médio não seria mais nem estritamente profissionalizante e nem apenas preparatório para o curso superior, seria então, a união destas duas intenções, ou seja, preparar um cidadão capaz de refletir sobre a realidade, apto a desenvolver raciocínios lógicos e abstratos e a interpretar informações. A idéia é que o cidadão que conclui o Ensino Médio, dominando as habilidades e competências previstas para o Ensino Médio, estará capacitado tanto para a vida profissional, quando para seguir os estudos e ingressar no Ensino Superior. A intenção das orientações previstas nos PCNEM é produzir uma base favorável, positiva à mudanças, bem como orientar a produção e construção do conhecimento escolar. 2.3 ENSINO MÉDIO: HABILITAÇÃO DO EDUCANDO PARA A VIDA De acordo com a LDB e com os PCN, o Ensino Médio é a etapa final de uma educação de caráter geral que situa o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho. A nova LDB, determinou que o Ensino Médio é Educação Básica e a Constituição (Conselho Nacional de Educação) defendeu que é direito de todo cidadão. A partir disso, o Ensino Médio passou a não ser mais obrigatório, mas a sua oferta é dever do Estado, numa perspectiva de acesso a todos que desejarem. De acordo com as orientações curriculares presentes na LDB, o Ensino Médio tem por finalidade o aprimoramento do educando como ser humano, sua formação ética, desenvolvimento de sua autonomia intelectual e seu desenvolvimento crítico, sua preparação para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de competências para continuar seu 9 aprendizado. A lei também propõe uma organização curricular com os seguintes componentes: base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada que atenda especificidades regionais e locais da sociedade (art. 26); planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, superando a organização por disciplinas estanques (art. ); integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização (art. ); proposta pedagógica elaborada e executada pelos estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino (art. ); participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (art. ). A organização dos conteúdos, definição de estratégias de aprendizagem e a organização de todo currículo em si deve ser pensada de modo que o educando esteja capacitado para a vida em sociedade, atividade produtiva e experiências subjetivas. De acordo com os princípios previstos na LDB e segundo os PCNEM, espera-se que o aluno, nesta fase de escolaridade (ensino médio), ultrapasse a leitura de informações e reflita mais criticamente sobre seus significados. Neste sentido, o documento do MEC ao analisar o Ensino Médio de formação geral (MEC, Parecer CEB 15/98, 1998, p.32) sugere que: Não se trata nem de profissionalizar, nem de deitar na água para fazer mais rala a teoria. Trata-se, isso sim, de ensinar melhor a teoria – qualquer que seja – de forma bem ancorada na prática. As pontes entre a teoria e a prática têm que ser construídas cuidadosamente e de forma explícita. Essas pontes implicam em fazer a relação, por exemplo, entre o que se aprendeu na aula de matemática na segunda-feira com a lição sobre atrito na aula de física da terça e com a sua observação de um automóvel cantando pneus na tarde da quarta. Para a maioria dos alunos, infelizmente, ou a escola o ajuda a fazer estas pontes ou elas permanecerão sem ser feitas, perdendo-se assim a essência do que é uma boa educação. (MEC, 1998, p.32) 10 2.4 MATEMÁTICA: CIÊNCIA QUE PERMEIA TODAS AS CIÊNCIAS A matemática vem do grego máthēma, que significa ciência, conhecimento, aprendizagem. É a ciência caracterizada por compreender raciocínios lógicos e abstratos. É uma ciência precisa, que por tal motivo, se enquadra na área das Ciências Exatas. Embora muitas teorias descobertas há longos anos ainda hoje se mantenham válidas e úteis, a matemática continua permanentemente a modificar-se e a desenvolver-se. Medeiros (1985), afirma que a disciplina de matemática possui características muito próprias, sendo utilizada em praticamente todas as áreas do conhecimento científico, e principalmente, no cotidiano da sociedade. Porém, de acordo com estudos que vem sendo realizados sobre seu ensino nas escolas, pode-se concluir que está deixando muito a desejar, no que se refere à qualidade do aprendizado. Existem muitas pesquisas que afirmam a necessidade de contextualizar o estudo matemático, inclusive é uma das orientações dos PCN. No entanto, ainda existe um abismo entre a matemática escolar e a estudada no dia-a-dia. No mundo moderno, o conhecimento matemático é usado numa gama inimaginável de situações, como aporte a outras áreas do conhecimento, como instrumento para facilitar a resolução de situações problematizadoras no cotidiano ou simples e puramente para desenvolver a habilidade do pensamento lógico. O estudo matemático se destaca por possuir uma linguagem própria, fator que torna a disciplina “diferente”, quando comparada com as outras. É esta diferença que, no contexto social do aluno, evidencia a importância da matemática em seu dia-a-dia, considerando a presença do raciocínio matemático na resolução das situações problemas cotidianas. Sendo assim, a matemática vai além de seu caráter instrumental, colocando-se como ciência com características próprias de investigação e de linguagem e com papel integrador junto às demais disciplinas. Notoriamente, pode-se identificar que o fator que dificulta cada vez mais a percepção dos alunos sobre a importância da matemática é exatamente o que deveria exercer o efeito contrário, o modo como a matemática é explorada nas escolas. Martins (2009) destaca que 11 [...] aulas limitadas à exposição de conteúdos, em sua maioria sem nenhuma referência à história de sua construção são predominantes na sala de aula. E para fixação de conteúdos, os alunos são sujeitos a uma bateria de exercícios repetitivos, restritos à aplicação de fórmulas imediatas em várias questões com quase sempre os mesmos enunciados. Deste modo, a abstração, que é uma virtude do conhecimento matemático, tende a distanciar-se cada vez mais do aluno. (MARTINS, 2005) Aprender matemática de uma forma contextualizada traz em si o desenvolvimento de competências e habilidades que são essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e estruturam o pensamento do aluno, capacitando-o para compreender e interpretar situações, para se aprimorar de linguagens específicas, argumentar, analisar e avaliar, concluir, posicionar-se e tomar decisões, que são as habilidades e competências previstas nos PCN+, que é o documento complementar aos PCNEM, tendo surgido em 2002. 2.5 O ESTUDO DE PROBABILIDADE Uma das principais dificuldades que se encontra quando busca-se a origem das probabilidades é que ela começou por ser uma ciência empírica e só mais tarde é que se desenvolveu associada à Matemática. É difícil determinar corretamente quando é que se registrou a alteração do empirismo para o formalismo matemático. Porém, todos os livros concordam que os "criadores" das probabilidade foram Pascal e Fermat (BAYER, et al. 2005). A necessidade deste estudo surgiu devido aos problemas com seguros, mas o grande interesse surgiu após os nobres consultarem os melhores matemáticos da época, para pedirem opiniões nos jogos de acaso com dados e cartas, principalmente. Mais tarde, no século XIX, Laplace escreveu uma obra grandiosa sob o título de Teoria Analítica das Probabilidades. Neste livro, Laplace diz o seguinte: “A teoria das probabilidades consiste na redução de todos os acontecimentos da mesma espécie a um certo número de casos igualmente prováveis, que são casos que estamos igualmente indecisos sobre a sua existência, e na determinação do número de casos que são favoráveis ao acontecimento do qual procuramos a probabilidade”. 12 No século XX, Kolmogorov constatou através de seus estudos que a probabilidade tornara-se uma teoria com inúmeras empregabilidades. E, ainda é possível citar Fisher, como colaborador na ampliação e utilização das probabilidades. Frases como “A probabilidade de um jogador de basquete acertar um lance livre é de 90%” indica que em aproximadamente cem lances arremessados, tal jogador acerta, aproximadamente 90 cestas. Ao fazermos este raciocínio, utilizamos o conceito frequencista de probabilidade. Os jogos de azar são popularmente citados no estudo das probabilidades. Ao lançar uma moeda ao ar, por exemplo, verifica-se que a probabilidade de cair cara é de 50%, pois como a moeda tem somente dois lados, irá cair em um destes dois lados. No lançamento de dados, por exemplo, são seis faces possíveis de serem sorteadas, ou seja, a probabilidade de 1 uma das faces ser sorteada é . Utilizar-se destes exemplos no ensino de probabilidade pode 6 facilitar a compreensão da teoria, de forma mais superficial, pois pode-se descobrir a probabilidade de um acontecimento apenas contando os fatos possíveis e os fatos favoráveis. No entanto, quando se quer saber a probabilidade de um evento acontecer, dentre infinitas possibilidades, este raciocínio não conseguirá mais auxiliar no cálculo com a precisão desejada. A regra que Laplace anunciou é a seguinte: A probabilidade de um acontecimento é dada pelo quociente número de casos favoráveis número de casos possíveis quando os casos possíveis são todos equiprováveis Baseado nesta regra, é que surgiu o conceito clássico de probabilidade. Em decorrência aos dois conceitos de probabilidade (o conceito frequencista e o clássico), surgiu uma dúvida: Como relacionar os dois conceitos de probabilidade? Em resposta, surgiu então a Lei dos Grandes Números, que dizia que quando se repete uma experiência muitas vezes, a frequência relativa com que determinado acontecimento se realiza, aproxima-se a probabilidade desse acontecimento. Retomando o exemplo dos dados, se lançarmos muitas vezes um dado ao ar, a face 3 sairá aproximadamente 1 6 das vezes. Além disso, quanto maior 13 for o número de lançamentos, mais próximo de 1 6 deverá ser a frequência relativa da saída da face 3. Outra análise interessante sobre estes dois conceitos de probabilidade é sobre a utilização de medicamentos. Tendo em vista que um medicamento pode trazer a cura para determinados sintomas para o qual é destinado, ou não. Considerando o conceito clássico de probabilidade, a chance de eficácia é de apenas 50%, fato que faria com que a maioria dos medicamentos perdesse a confiabilidade. No entanto, consideramos o conceito frequencista, poderíamos dizer que a cada 100 pessoas que utilizaram este medicamento, aproximadamente 95 foram curadas. Isso quer dizer que a probabilidade deste medicamento apresentar eficácia é de 95%, porém não garante que apenas 5% das pessoas que utilizaram o medicamento não obtiveram a cura. Mas, mesmo assim, neste exemplo, a interpretação pelo conceito frequencista mudaria a interpretação do consumidor, que baseado nesta probabilidade, apresentará maior confiabilidade frente a este medicamento. A probabilidade de eficácia de medicamentos é um exemplo explícito de que o estudo da probabilidade é comum na vida cotidiana, mesmo que de forma superficial. Em resumo, a Teoria das Probabilidades é basicamente o estudo teórico de fenômenos envolvendo a incerteza, se utilizando do Cálculo Matemático como ferramenta. Os fenômenos probabilísticos, também conhecidos como aleatórios, estocásticos ou não-determinísticos, são aqueles que, se em condições idênticas, as suas repetições produzem resultados diferenciados, ou seja, não é possível determinar, com exatidão, qual o seu resultado. Fenômenos como este, na verdade, são predominantes em todas as áreas do conhecimento. 14 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE PROPOSTAS DE ESTUDO Ao selecionar uma proposta de atividade para o estudo de probabilidade, o professor precisa analisá-la cautelosamente, verificando se é ou não adequada para seus alunos, considerando desde se dominam os conteúdos específicos envolvidos na atividade, a que faixa etária a atividade se destina, se o tema da atividade é compatível com realidade da vida cotidiana do grupo, e, por fim, a relevância que a proposta em questão representará no processo de ensino-aprendizagem. A opção por uma proposta adequada propicia que os alunos a desenvolvam com maior interesse, e, por consequência, melhor aproveitamento. A seguir, apresentaremos algumas propostas de estudo de probabilidade, seguidas de uma análise que tem como base os objetivos previstos pelos PCN. 3.1 TITANIC Proposta adaptada do artigo “Probabilidade na Escola”, de Arno Bayer, et al, 2005. “O filme Titanic tem atraído e emocionado multidões em todo o mundo. Outras tragédias mais recentes foram logo esquecidas, mas o caso Titanic continua causando impacto ainda hoje. O que se sabe é que os passageiros sobreviventes, devido ao número insuficiente de botes foram selecionados através de um critério onde a condição financeira era a que mais pesava...” As tabelas 1 e 2 mostram a distribuição dos passageiros sobreviventes e nãosobreviventes do Titanic por sexo e classe social Tabela 1: Passageiros Sobreviventes e Não-sobreviventes Sobreviventes Não- Sobreviventes Total Crianças 57 52 109 Mulheres 296 106 402 Homens 146 659 805 Total 499 817 1316 15 Tabela 2: Passageiros sobreviventes e não-sobreviventes por classe Classe Sobreviventes Não- Sobreviventes Total 1ª 203 122 325 2ª 118 167 285 3ª 178 528 706 Total 499 817 1316 Nesta atividade o professor poderá explorar as probabilidades dos eventos relacionados ao sexo/idade e à condição econômica dos passageiros. Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era uma criança? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era uma mulher? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era um homem? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era da 1ª classe? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era da 2ª classe? Qual foi a probabilidade de um passageiro sobreviver, sabendo que era da 3ª classe? Análise: Esta atividade pode ser utilizada como uma aplicação no estudo da probabilidade, detendo-se às noções básicas deste estudo. Os questionamentos proporcionam um espaço para que o educando possa reconhecer o caráter aleatório de fenômenos e eventos. Também propicia que o educando compreenda a importância da probabilidade como meio de prever resultados. No entanto, de acordo com os PCN, as estratégias de ensino devem abranger muito mais do que o simples cálculo mecânico e memorização através de repetições. O desenvolvimento desta atividade proporciona um espaço de reflexão ao educando, trazendo referências históricas sobre a tragédia do naufrágio do Titanic, referências culturais sobre o respaldo que o filme que foi baseado em fatos reais causou. E ainda faz referência sobre o peso que a desigualdade social teve como critério para salvar vidas. 16 Numa reflexão crítica sobre a desigualdade social, o educando é levado a posicionarse frente a tal fato, facilitando assim seu entendimento sobre a real situação da sociedade, em geral. Este posicionamento contribuirá para formação de um cidadão consciente de que a igualdade social é questão de justiça entre todos que compõem a sociedade. 3.2 PASSEIOS DE ANDRÉ Proposta adaptada do artigo “Estatística e Probabilidade através das Atividades Propostas de Alguns Livros Didáticos Brasileiros Recomendados para o Ensino Fundamental”, de Celi Aparecida Espadin Lopes, Regina Célia Carvalho Pinto Moran, 1999. Os participantes são organizados em pequenos grupos. Cada grupo receberá um tabuleiro, conforme a figura 1, e uma moeda. Figura 1: Tabuleiro da Atividade Passeios de André O professor contará a seguinte estória: André tem 5 amigos morando a 4 quadras de distância de sua casa: Bruna, Carlos, Daiane, Eduardo e Flávia, como mostra a figura 1. 17 Todo dia, depois da aula, ele volta pra sua casa, larga sua mochila, pega a bicicleta e vai até a casa de um deles para brincar. Para visitar seus amigos, a cada cruzamento, André para sua bicicleta, tira uma moeda do bolso e joga para cima: se der cara, ele anda uma quadra para Norte; se der coroa, vai para Leste. Assim, cada jogada, é uma quadra de percurso. E hoje? Qual amigo vai receber a visita de André? Neste momento, o professor orientará os participantes que joguem a moeda várias vezes, simulando todas as vezes que André sai para brincar anotando a sequência obtida e onde André chegou. Como sugestão os alunos poderão usar para a representação dos resultados dos lançamentos, N quando cair cara, pois ele anda uma quadra para o norte, e L quando cair coroa, pois ele anda uma quadra para o leste. Após estas orientações, o professor apenas circula pelos grupos avaliando, sugerindo caminhos ou simplesmente observando o direcionamento dos alunos. Os participantes jogarão a moeda e farão os registros. Com a repetição das jogadas, perceberão que alguns amigos são mais visitados que os outros. Alguns dos resultados obtidos são mostrados na Tabela 3. Tabela 3: Resultados obtidos dos Lançamentos da Moeda Sequência Obtida Destino N–L–L–N Daiane L–N–N–N Carlos L–N–L–L Eduardo N–N–L–L Daiane N–N–N–N Bruna ... ... 18 Após jogarem várias vezes, possivelmente alguns dos conceitos básicos da probabilidade irão começar a surgir dentre os comentários nos grupos. Para auxiliar na formação destes conceitos, o professor poderá proporcionar o seguinte questionamento: a. O que é mais provável: chegar à casa da Daiane ou da Bruna? Resposta: Daiane b. Quem é pouco provável que André visite? Resposta: Bruna e Flávia c. De quantas e quais maneiras André pode chegar à casa de: Bruna: Resposta: 1 maneira (N – N – N – N) Carlos: Resposta: 4 maneiras (N – N – N – L, N – N – L – N, N – L – N – N, L – N – N – N ) Daiane: Resposta: 6 maneiras (N – N – L – L, N – L – N – L, N – L – L – N, L – N – N – L, L – N – L – N, L – L – N – N) Eduardo: Resposta: 4 maneiras (N – L – L – L, L – N – L – L, L – L – N – L, L – L – L – N) Flávia: Resposta: 1 maneira (L – L – L – L) d. Quantos caminhos existem ao todo? Resposta:16 maneiras 19 e. Complemente a árvore de possibilidades (Figura 2). Figura 2: Árvore de Possibilidades Análise: Embora esta seja uma proposta voltada para o Ensino Fundamental, através de sua ludicidade, proporciona um espaço para que o educando crie seu próprio conceito de probabilidade, e por isso, pode ser adequada a qualquer nível de ensino em que se pretenda iniciar o estudo das teorias de probabilidade, desde que o educando tenho o domínio dos conceitos básicos quantitativos. Durante o desenvolvimento, o educando identificará todas as possibilidades que André pode deslocar-se em seus passeios, ou seja, os eventos possíveis. Com a repetição do lançamento da moeda, o educando poderá perceber qual amigo André, encontra com maior frequência. Esta etapa da atividade exige um raciocínio por parte do aluno sobre o 20 pensamento probabilístico, que será identificar os eventos favoráveis, e, sem seguida, o cálculo das probabilidades. Esta série de etapas proporciona ao educando um artifício para que possa desenvolver sua capacidade de argumentação, de elaborar posicionamentos que julga ser coerente. É a contextualização do pensamento probabilístico, inserido em uma situação cotidiana. 3.3 INTUIÇÃO E PROBABILIDADE Proposta Adaptada do artigo de Raul F. W. Agostino, disponível na Revista do Professor Fe Matemática – SBM, nº 27. De tudo que ensinamos aos nossos alunos, os assuntos que despertam mais interesse são os que envolvem situações do cotidiano. Nestes tempos de AIDS, o problema a seguir tem servido de boa fonte de motivação e participação, em sala de aula. Num país, 10% da população é portadora de um vírus. Um teste para detectar ou não a presença do vírus dá 90% de acertos quando aplicado a portadores e dá 80% de acertos quando aplicado a não portadores. Qual o percentual de pessoas realmente portadoras do vírus, dentre aquelas que o teste classificou como portadoras? Vejamos uma solução que pode ser dada sem citar teoremas de probabilidade ou estatística. Tabela 4: Resultados do Teste Positivo Negativo Total Portadores 0,09 0,01 0,1 Não-Portadores 0,18 0,72 0,9 Total 0,27 0,73 1,0 Considere que o teste foi aplicado aos I habitantes do país. O número de testes que indicou a presença do vírus foi: 0,9 x 0,1I 90% dos que são portadores + 0,2 x 0,9I 20 % não são portadores = 0,09I + 0,018I = 0,027I 21 Destas, são portadoras: 0,09I. Assim, são realmente portadoras do vírus 0,09I/0,27I = 1/3 ≅ 33,3% das pessoas que o teste classificou como portadoras. Esse número é no mínimo curioso e mostra que uma pessoa que fez o teste e foi classificada como portadora tem grande possibilidade de ser um “falso-positivo” (normalmente, quando uma pessoa faz um teste desse tipo e o resultado é positivo, os médicos recomendam um novo teste). No entanto, o número de testes que indicaram a ausência do vírus foi 0,73I e, dentre esses, 0,72I não são portadores, o que dá 0,72I / 0,73I = 98,6% de não portadores dentre os classificados como não portadores. Análise: Se compararmos o respaldo de atividades que exigem apenas a simples aplicação de regras e cálculos mecânicos, daquelas que abordam assuntos cotidianos do educando, com certeza, envolver a realidade desperta muito mais interesse. O tema “AIDS”, não é mais novidade nas propostas pedagógicas, porém, o seu enfoque principal geralmente é baseado na prevenção. Esta atividade faz referência sobre um teste que é usado para identificar portadores do vírus. Os resultados são baseados no cálculo da probabilidade frequencista, e as conclusões que esta atividade busca questionar é a confiabilidade deste teste, levando em conta seus resultados. O desenvolvimento desta proposta possibilita que o educando identifique na situaçãoproblema dada, as informações ou variáveis relevantes, assim como possíveis estratégias de resolvê-la. Ao realizar esta etapa, o educando estará desenvolvendo sua capacidade de interpretação de dados, bem como a sistematização dos mesmos. Analisando no sentido em que os PCN orientam que as metodologias de ensino utilizadas no Ensino Médio devem preconizar o aprimoramento do educando como ser humano, sua formação ética, o desenvolvimento de sua autonomia intelectual e seu desenvolvimento crítico, esta estratégia de ensino atende tanto ao que se refere aos PCN, quanto ao objetivo de destacar a aplicabilidade do estudo de probabilidade. 22 3.4 PROBLEMA DOS DISCOS Atividade adaptada do artigo “O problema dos Discos”, de Roberto Ribeiro Paterlini. Disponível na “Coleção Explorando o Ensino – vol. 3 – Matemática – Ensino Médio”, publicado pela Secretaria de Educação Básica (SEB), em 2005. Uma escola estava preparando uma Feira de Ciências e foi pedido aos estudantes que inventassem um jogo que servisse para arrecadar fundos. Os estudantes observaram que no salão da Feira o piso era feito com quadrados de 30 cm de lado, desses quadrados de Paviflex. Pensaram então em construir discos de papelão de um certo diâmetro d que seriam comprados pelos visitantes por R$ 1,00 cada um. O visitante jogaria o disco aleatoriamente no piso. Se o disco, depois de pousar no piso, tocasse um lado de um quadrado, ele perderia para a escola o que tinha pago. Se, ao contrário, acertasse o disco inteiramente dentro de um quadrado, ele receberia R$ 2,00 (R$ 1,00 como devolução e mais R$ 1,00 como prêmio), conforme a Figura 3 Figura 3: Posições em que os discos poderiam cair O problema dos estudantes consistia em determinar o diâmetro d dos discos de modo que o jogo resultasse favorável à escola. Observaram que quanto menor d, melhor para o jogador, e quanto maior d, melhor para a escola. O favorecimento para a escola não deveria ser exagerado, pois, se o jogo fosse muito desfavorável para o jogador, ninguém iria querer jogar. Resolveram que uma probabilidade de 60% favorável à escola seria adequada. Pergunta 1 Como determinar o valor de d que resulta em uma probabilidade de 40% favorável ao jogador e de 60% à escola? Sob condições ideais podemos supor que lançar o disco aleatoriamente no piso é o mesmo que lançar seu centro aleatoriamente. Assim, a probabilidade p de o jogador ganhar (no nosso caso 40%) é a 23 mesma probabilidade de um ponto, lançado aleatoriamente dentro do quadrado de lado 30cm, cair dentro do quadrado de lado (30 – d)cm . Da definição de probabilidade geométrica temos: p= área do quadrado menos área do quadrado maior Ou seja: p= (l - d)² 1 2 = d² - d + 1 l² l² l Como queremos p = 40% = 0,4, obtemos d = 30 - 6 10 ≅ 11,0263. No caso geral de um quadrado de lado l e probabilidade p do jogador ganhar, uma solução análoga fornece p = (l - d)² l² 1 2 = l² d² - l d + 1, e portanto, d = l (1 - p) Apresentamos o gráfico de P(d) = 1 30² d² - 1 15 d + 1, com 0 ≤ d ≤ 30. Figura 4: Gráfico da Probabilidade de um Jogador Ganhar 24 As duas linhas pontilhadas no gráfico mostram como se obtém o valor de d tal que P(d) = 0,4 = 40%. Pergunta 2 Qual será, em média, o ganho da escola se 500 discos forem vendidos na feira? Se 500 discos forem vendidos na feira, a arrecadação bruta será R$ 500,00. Supondo que em 40% das jogadas (200 jogadas) os jogadores ganhem, a escola pagará R$ 400,00. Sobrará R$ 100,00 para a escola. Análise: A utilização de uma problematização para abordagens diversas de conteúdos torna o estudo mais interessante e menos cansativo. O problema dos discos não só pode ser utilizado como problematização, assim como pode ser desenvolvido na prática com os educandos. A proposta é que o educando desenvolva uma série de raciocínios, utilizando-se de conceitos matemáticos diversos, com maior ênfase no estudo da probabilidade. O interessante de abordagens como esta é que o aluno acaba aplicando e desenvolvendo involuntariamente os conceitos matemáticos, objetivando apenas em resolver a problemática, que é a de decidir o diâmetro dos discos. A resolução desta problemática exige que o educando desenvolva sua capacidade de ler e articular informações, consultar, interpretar dados, posicionar-se criticamente sobre como determinar um diâmetro que seja favorável à escola, mas não de forma exagerada. Além disso, o educando poderá compreender o uso de representações gráficas, identificando as regularidades e interpretando o uso de modelos matemáticos. Além do estudo na área de probabilidade, o educando também utiliza-se do estudo geométrico e seus conceitos. De acordo com os PCN(1996), o Ensino Médio deve proporcionar situaçõesproblemas em que o educando possa refletir e posicionar-se, além de tomar decisões, pois são estas as características fundamentais para que o ser humano possa exercer sua cidadania. 25 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Ministério da Educação salienta, através dos PCN (1996), que atualmente, para um cidadão ser considerado alfabetizado, não basta apenas saber ler e escrever. Deve também ser capaz de interpretar e obter conclusões de um conjunto de dados, bem como compreender a natureza aleatória de uma série de fenômenos que ocorrem no dia-a-dia. A sociedade atual exige que o cidadão seja capaz de tomar decisões e refletir criticamente como um ser pensante e ativo. E considerando estas tendências, foi necessário a reformulação da LDB e a criação dos PCN (1996). As instituições de ensino precisaram adaptar seus planos pedagógicos ao novo currículo proposto pelos PCN (1996), de modo que a educação básica passou a ter maior enfoque na formação intelectual do educando, deixando de lado a idéia da simples transposição dos conteúdos propostos pelo currículo. E as metodologias de ensino precisaram se adequar a este novo objetivo. O Ensino Médio, por sua vez, sofreu mudanças bastante relevantes, desde seus objetivos mais específicos, até os objetivos gerais. A substituição da proposta curricular que dividia o Ensino Médio em Preparação para o Vestibular e Preparação para o Trabalho, por uma proposta que buscava a unificação destas duas formações, exigiu que novas estratégias de ensino fossem adequadas à busca desta formação ampla. Concluiu-se que um cidadão que apresentasse domínio na interpretação de informações, posicionamento crítico sobre os mais diversos assuntos, domínio de um raciocínio lógico e abstrato, estava integralmente preparado tanto para vida profissional, quanto para ingressar no curso superior. O estudo matemático, por sua vez, tem um papel fundamental na busca por esta formação almejada pelo Ensino Médio, pois é uma ciência que através de seus estudos e de seus conceitos, habilita o educando a raciocinar e utilizar-se de artifícios para a análise de situações-problemas de seu cotidiano, e possivelmente, a solução. Além disso, proporciona ao educando diversas formas de pensamentos lógicos para que compreenda as mais diversas informações presentes em seu dia-a-dia. E, por sua vez, o estudo de probabilidade, incluído no currículo da Educação Básica em 1997, contribuiu significativamente para a busca da formação intelectual do educando de Ensino Médio. O aluno que compreende, no mínimo, as noções básicas de probabilidade e suas aplicações, está apto a interpretar uma série de informações, possivelmente prever 26 acontecimentos e tomar decisões. Isso evidencia a responsabilidade que o pensamento probabilístico exerce na formação do educando. Esta pesquisa destinou-se a analisar estratégias de ensino de probabilidade que fossem de encontro às orientações curriculares apresentadas pelos PCN (1996). A relação da análise das propostas com as orientações dos PCN (1996) expressa de forma clara que o caminho é contextualizar, de acordo com o cotidiano que o educando está inserido. Explorar conteúdos de forma fragmentada, apenas baseando-se em teorias, sem relacionar com a aplicabilidade, propicia que o aluno apenas decore o conteúdo. A busca por estratégias de ensino deve ser constante, adequando sempre à realidade do educando. Não se pode afirmar que uma estratégia é ou não adequada, ou que proporcionará as mesmas formas de pensamento, indiferente da realidade do educando. Utilizar-se de estratégias de ensino adequadas é tão importante quanto a seleção dos conteúdos a serem estudados. O uso incorreto de estratégias, além de não surtir o efeito almejado, não atrai, pelo contrário, afasta o interesse do educando. É necessário que sejam produzidos materiais didáticos que sirvam como apoio para as aulas de matemática, bem como aproximar o professor ao estudo de probabilidade, evidenciando a importância e essencialmente sua aplicação em situações reais. 27 REFERÊNCIAS AGOSTINO, R. F. W. Intuição e Probabilidade. Revista do Professor de Matemática – SBM, n° 27, São Paulo , 1995. BAYER, A., ECHEVESTE, S., BITTENCOURT, H. R., ROCHA, J. Probabilidade na Escola, 2005. Disponível em <http://exatas.net/artigo_ciem2.pdf>. Acessado em 24/04/2010. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996. BRASIL, Ministério da Educação do Brasil. Diretrizes curriculares do Ensino Médio, Parecer CEB, nº 15/98, 1998. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Ministérios da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica, Brasília, 2000; BRASIL, Ministério da Educação Básica, Secretaria da Educação Básica. Coleção Explorando o Ensino, vol. 3, Matemática, Ensino Médio. Brasília, 2004. GONÇALVES, H.; MUNIZ, C. A Educação Estatística no Ensino Fundamental: Discussões sobre a Práxis de Professoras que Ensinam no Interior de Goiás. Educação Matemática em Revista, São Paulo, v. 18/19, p. 26.33, 2006. LOPES, C. E. A Probabilidade e a Estatística no Currículo de Matemática do Ensino Fundamental Brasileiro. Disponível em <www.inf.ufsc.br>. Acessado em 10/10/2009. LOPES, C. A. E., MORAN, R. C. C .P. 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