TRAUMA TORÁCICO Thiago Leandro Marcos Serviço de Cirurgia Torácica Hospital Governador Celso Ramos O QUE FAZER? ASPECTOS GERAIS DO TRAUMA TORÁCICO Responsável por 25% das mortes por trauma; 85 a 90% dos traumatismos torácicos contusos são tratados por medidas simples (drenagem torácica e intubação); 15 a 30% dos ferimentos penetrantes de tórax necessitam de cirurgia (toracotomia). TRAUMA TORÁCICO CONTUSO: MECANISMOS E FISIOPATOLOGIA acidentes automobilísticos Principais causas quedas de altura agressões lesões esportivas TRAUMA TORÁCICO CONTUSO: MECANISMOS E FISIOPATOLOGIA Impacto direto sobre o tórax fraturas de costelas, tórax instável, contusões pulmonares e cardíacas Impacto direto sobre o pescoço hiperextendido lesões laringo-traqueais Impacto direto sobre tórax com a glote fechada ruptura brônquica Desaceleração rápida ruptura aórtica ou brônquica Desaceleração vertical (queda) Ruptura aórtica Flexão espinhal ruptura do ducto torácico Aumento súbito da pressão intra-abdominal ruptura diafragmática TRAUMA TORÁCICO PENETRANTE Sobrevida depende do tipo de arma, local da lesão e o pronto reconhecimento de lesões graves e encaminhamento aos centros de trauma; Mais freqüente que perfurações abdominais; Se a perfuração atinge a pleura parietal, 90% terá lesão pulmonar e 50-60% terá hemopneumotórax; A princípio não se deve explorar o ferimento. AVALIAÇÃO DO TRAUMA DE TÓRAX História clínica ABC do trauma Priorizar correção de danos que causem morte imediata Documentar danos menos sérios para correção posterior HISTÓRIA CLÍNICA Acidentes automobilísticos - tempo entre o trauma e a chegada ao hospital - tipo de impacto - local do paciente dentro do veículo - velocidade aproximada - ejeção do veículo - morte de ocupante do veículo - uso de cinto de segurança Quedas - altura - superfície onde o paciente caiu EXAME FÍSICO (ABC) ÁREA AVALIADA SINAIS CLÍNICOS POSSÍVEIS LESÕES Via aérea Taquipnéia, estridor Obstrução ou ruptura via aérea, corpo estranho Respiração Movimentos torácicos anormais, ausência de MV Tórax instável, contusão pulmonar, hemo ou pneumotórax Circulação Hipotensão, taquicardia Hemorragia intratorácica Coluna cervical Dor na nuca Fratura-luxação SNC Imobilidade ou alte- TCE ração consciência EXAME PRIMÁRIO - LESÕES COM RISCO IMINENTE DE VIDA Pneumotórax hipertensivo Pneumotórax aberto Tórax instável Hemotórax maciço Tamponamento cardíaco PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO Escape de ar do pulmão ou pela parede torácica para dentro do tórax, causando colapso pulmonar (válvula unidirecional); Deslocamento do mediastino para o lado oposto, diminuindo o retorno venoso e causando compressão pulmonar contralateral PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO Quadro clínico: dor torácica dispnéia intensa taquicardia hipotensão desvio da traquéia ausência de MV unilateral distensão veias do pescoço Diferenciar de TAMPONAMENTO CARDÍACO PH = timpanismo à percussão + ausência de MV PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO TRATAMENTO INICIAL DESCOMPRESSÃO IMEDIATA (cateter no 2º espaço intercostal) TRATAMENTO DEFINITIVO DRENAGEM TORÁCICA (dreno tubular no 5º espaço intercostal) PNEUMOTÓRAX ABERTO Ferimentos extensos de parede torácica (> 2/3 do diâmetro da traquéia) O ar entra preferencialmente pela lesão (menor resistência) Ventilação inefetiva hipóxia TRATAMENTO INICIAL TRATAMENTO DEFINITIVO TÓRAX INSTÁVEL Múltiplas fraturas consecutivas de costelas (pelo menos quatro arcos costais fraturados em dois locais distintos); Ocorre em 5% dos traumatismos torácicos e em 10 a 15% das lesões contusas graves; Aumenta incidência com a idade; FISIOPATOLOGIA Segmento instável Respiração Paradoxal Dor Hipóxia Contusão Pulmonar TÓRAX INSTÁVEL CONDUTA Observar FR, sat O2, gasometria Analgesia Suporte ventilatório Fisioterapia / broncoscopia Hidratação cuidadosa Parâmetros para intubação FR > 30 PaO2 < 60 mmHg PaCO2 > 45 mmHg HEMOTÓRAX MACIÇO Geralmente causado por ferimentos penetrantes; Lesão de grandes vasos, intercostais ou pulmonares. HEMOTÓRAX MACIÇO CONDUTA INICIAL DRENO CALIBROSO SE POSSÍVEL AUTOTRANSFUSÃO HEMOTÓRAX MACIÇO DRENAGEM INICIAL MAIOR QUE 1500 ML DRENAGEM CONTINUADA DE 200 A 300 ML/H POR 2 A 4 HORAS INSTABILIDADE HEMODINÂMICA TAMPONAMENTO CARDÍACO Geralmente por ferimentos penetrantes; Sinais clínicos Tríade de Beck (turgência jugular + hipotensão + abafamento de bulhas): raramente observada de forma completa; Tríade de Elkin ferimento precordial + ausência de PA + eliminação de fezes; Diferenciar de pneumotórax hipertensivo; É fator de bom prognóstico nos ferimentos cardíacos (ocorre em 80-90% dos FAB). DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PACIENTES ESTÁVEIS Ecocardiografia (muitos falso negativos e positivos); Tomografia; Pericardiocentese (50% falsos negativos); Janela pericárdica (todos os ferimentos precordiais); INSTABILIDADE HEMODINÂMICA US (FAST) se positivo pericardiocentese subxifóidea Após estabilização CIRURGIA (toracotomia ou esternotomia) TORACOTOMIA DE EMERGÊNCIA Indicação: pacientes que chegam com ferimento torácico penetrante e sem pulso, porém com atividade elétrica miocárdica (ou apresentam parada cardíaca logo após a chegada); Os resultados são variáveis: - sobrevida de 1% em trabalhos sem critérios específicos em hospitais gerais; - sobrevida de até 30% para pacientes vítimas de ferimentos por arma branca em centros de trauma com equipes experientes; - benefício desprezível em trauma contuso. TORACOTOMIA DE REANIMAÇÃO EXAME SECUNDÁRIO – LESÕES COM RISCO DE VIDA Pneumotórax simples Hemotórax Contusão pulmonar Lesões tráqueo-brônquicas Trauma cardíaco contuso Ferimento transfixante de mediastino Ruptura traumática da aorta Ruptura diafragmática PNEUMO / HEMOTÓRAX SIMPLES TRATAMENTO = DRENAGEM DRENAGEM TORÁCICA CONTUSÃO PULMONAR • Mortalidade de 22 a 33% • Tratamento de suporte DIFERENCIAR DE ASPIRAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONTUSÃO Presente no Rx inicial Não respeita segmento Secreção sanguinolenta no aspirado traqueal ASPIRAÇÃO Surgimento após horas do trauma Infiltrado pode se localizar em segmentos específicos Secreção de conteúdo particulado LESÕES TRÁQUEO-BRÔNQUICAS Sinais / sintomas clínicos: hemoptise, enfisema subcutâneo, pneumotórax hipertensivo. LESÕES TRÁQUEO-BRÔNQUICAS Quando suspeitar escape aéreo volumoso por dreno de tórax Diagnóstico BRONCOSCOPIA Tratamento = CIRURGIA TRAUMA CARDÍACO CONTUSO Gravidade variável: contusão miocárdica, ruptura de câmaras cardíacas (tamponamento) ou laceração valvular; Sintomas: dor torácica, hipotensão; Quando suspeitar trauma de alto impacto sobre o tórax (*anterior) – fraturas de esterno ou cartilagens costais; TRAUMA CARDÍACO CONTUSO Diagnóstico - ECG: extra-sístoles ventriculares, taquicardia sinusal, bloqueio de ramo direito, alterações do segmento ST se presentes, monitorar por 24 horas; - Enzimas cardíacas (*troponina): úteis apenas para diagnóstico de IAM; - Ecocardiograma: alterações de motilidade. TRATAMENTO Contusão miocárdica monitorização e controle de arritmias; Ruptura do miocárdio ou válvulas se sobreviver CIRURGIA FERIMENTOS TRANSFIXANTES DE MEDIASTINO Estruturas que podem ser lesadas: coração, grandes vasos, traquéia / brônquios, coluna vertebral, esôfago; Identificados pelos orifícios de entrada e saída de um projétil em hemitóraces diferentes ou pelo radiograma de tórax mostrando o projétil no hemitórax contralateral ao da entrada; FERIMENTOS TRANSFIXANTES DE MEDIASTINO CONDUTA: - Hemopneumotórax drenagem - Instabilidade hemodinâmica cirurgia de urgência PACIENTE ESTÁVEL - Hematoma mediastinal TC / angiografia (possível lesão grandes vasos) - Esôfago endoscopia e Rx contrastado - Traquéia e brônquios broncoscopia CIRURGIA RUPTURA TRAUMÁTICA DE AORTA Alta mortalidade; Se sobrevive = lesão incompleta + hematoma mediastinal (geralmente a hipotensão tem outra causa; Não há sinais ou sintomas específicos = a suspeita é iniciada pelo mecanismo do trauma e pelo radiograma de tórax; RUPTURA TRAUMÁTICA DE AORTA SINAIS RADIOLÓGICOS Alargamento do mediastino (> 8 cm) Borramento do botão aórtico Rebaixamento do brônquio fonte esquerdo Desvio do esôfago ou traquéia para a direita Obliteração do espaço paraespinhal Apagamento da janela aorto-pulmonar Hemotórax maciço (esquerda) Fratura de primeira costela Hemotórax extrapleral (apical ou não) ALARGAMENTO MEDIASTINAL > 8cm DIAGNÓSTICO Ecocardiograma transesofágico (pouco disponível em nosso meio) Tomografia computadorizada CONDUTA ARTERIOGRAFIA necessária para avaliação da extensão da lesão e planejamento cirúrgico PRÓTESE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA Geralmente ocorre à esquerda (ausência do fígado); Trauma contuso: grandes rupturas com herniação de vísceras abdominais; Trauma penetrante: pequenas perfurações com herniações tardias. DIAGNÓSTICO Suspeita inicial = Rx tórax Passar SNG Rx contrastado Tomografia Toracoscopia Tratamento CIRURGIA (geralmente por laparotomia) OUTRAS LESÕES TORÁCICAS ASFIXIA TRAUMÁTICA - - - Trauma contuso severo (esmagamento) Petéquias faciais e de tórax superior, hemoragia subconjuntival e edema de retina Tratamento de suporte FRATURAS DE COSTELAS - - Dano torácico mais comum (35-40% das vítimas de trauma de tórax); Diagnóstico: suspeita clínica Rx: extensão do dano TC: fraturas + danos intra-torácicos Fratura de 1 ou 2 costelas Dor diminui movimento de gradil costal ATELECTASIA /PNEUMONIA - Analgesia (opióides, cateter peridural) Fisioterapia motora + Respiratória Broncoscopia FRATURAS MÚLTIPLAS DE COSTELAS * Analgesia Prognóstico 1) Número de costelas 2) Idade 3) Status pulmonar basal Mortalidade: idoso 20% criança 5% FRATURA DE ESTERNO 4% de colisões graves; Idosos e passageiros dos bancos dianteiros; Fratura transversal e de terços médio e superior; Diagnóstico: Exame físico + Rx em perfil TC avalia órgãos internos TRATAMENTO Analgesia Observar risco de contusão miocárdica Fratura estável ECG normal tratamento ambulatorial Fratura instável, dor intratável, ausência de cicatrização Redução aberta + fixação FRATURAS DE ALTO IMPACTO Primeira e segunda costelas / escápula Possibilidade de lesões adicionais Aortografia LESÕES ASSOCIADAS 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 abdome cabeça estruturas tx EMBOLIA GASOSA Lesões de vênulas bronquiolares e pulmonares: Pressão endobrônquica deve ficar menor que 60 mmHg CASO CONTRÁRIO Risco de embolia para o átrio esquerdo TRATAMENTO 1) 2) 3) 4) 5) 6) Oclusão hilar do pulmão afetado Posicionar em Trendelemburg Aspirar o ar diretamente do ápice cardíaco e aorta Massagem cardíaca aberta Manter pressão diastólica Uso de adrenalina LACERAÇÕES PULMONARES Tendem a ser mais periféricas; Tratadas com suturas simples, ressecção em cunha, trajetotomia e lobectomia/ pneumonectomia (lesões hilares). TRAJETOTOMIA Indicada principalmente para ferimentos transfixantes do parênquima; Previne formação de hematoma e posterior abscesso; Previne embolia gasosa; Preserva mais parênquima que a segmentectomia. OBRIGADO