EDITORA
AVE-MARIA
Apresentação
Muitos de nós pensamos em como será o futuro. O
ser humano quer acertar na sua escolha, pois o que espera é ser feliz. Para isso, cada um traça um caminho, faz
uma opção. A vida é permeada delas. Logo, se sua escolha para a felicidade foi o caminho do matrimônio, estas
páginas certamente lhe serão úteis.
Este livro não tem a pretensão de trazer receitas que
devam ser seguidas. Entretanto, traz, desde o início, o desejo de cada uma de nós de ser um instrumento nas mãos
de Deus com o entrelaçar de nossas histórias para a vida
de cada leitor. Que o mesmo Espírito Santo que nos uniu
toque seu coração.
Somos um grupo formado por três mulheres. Profissionalmente, ele conta com os seguintes membros: uma
advogada e mestranda em Direito Canônico, que atua
como juíza leiga em Tribunal Eclesiástico; uma psicóloga
que também atua como perita em Tribunal Eclesiástico;
e uma psicopedagoga e coordenadora de comunicação e
marketing. As duas últimas vivenciaram a experiência
de nulidade matrimonial. Além disso, todas são casadas
e carregam na bagagem não só a experiência da atuação
constante na Igreja Católica, mas também a de acompanhar diversos casais. Juntas, todas elas buscam reflexões
7
O que você precisa saber antes de dizer sim
à luz do Espírito Santo e do conhecimento sobre matrimônio para dar orientações aos casais. Em seu discurso à
Rota Romana de 1999, São João Paulo II mencionou:
Limito-me a sublinhar a grave responsabilidade que incumbe aos Pastores
da Igreja de Deus de promover uma
adequada e séria preparação dos
noivos ao matrimônio: apenas assim,
podem-se suscitar no ânimo daqueles
que se apresentam a celebrar as núpcias as condições intelectuais, morais
e espirituais, necessárias para realizar a realidade natural e sacramental
do matrimônio.
Com essas palavras, desejamos que estas páginas sirvam de auxílio ao pastoreio da Igreja para atender a este
chamado de São João Paulo II.
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Prefácio
Três mulheres catequistas
Recebi com alegria as reflexões de três jovens senhoras católicas que pensaram e escreveram a respeito do
compromisso do matrimônio católico nos dias de hoje.
Fez bem ao sacerdote pregador que sou, cantor, também escritor de catequeses, ler estas palavras sobre o
casal que se dispõe a jurar seu amor diante do altar da
sua Igreja.
Jurar sabendo a quem, com quem, por que razão e
diante de quem juram o seu amor, não é um juramento
qualquer. Precisa nascer de cabeças e corações qualificados pela fé em Deus e no futuro do seu povo.
Bem pensado e bem escrito, o resultado foi este pequeno grande livro que todo casal deveria ler, antes e
depois de trocar seus votos perante centenas de casais e
milhares de testemunhas que saberão de suas juras.
Em linguagem serena, clara e pedagógica, estes 14 capítulos ajudaram a mim – que prego e escrevo há quase
cinquenta anos –, a repensar o que prego sobre o diálogo em família e sobre noivos e noivas diante do altar. O
momento é de festa e de emoção, mas é também de maturidade na fé: “eu amo, eu sei, eu quero e eu prometo”.
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O que você precisa saber antes de dizer sim
Recebo como um presente este livro editado pela
Ave-Maria. Vai preencher uma lacuna. Imagino que
sacerdotes e pais queiram dá-lo aos filhos e filhas em
vésperas de se casar! Eu o darei aos jovens que pedirem
os meus conselhos!
Feliz pelas autoras, pela editora e pelos futuros noivos e noivas, abençoo e recomendo!
José Fernandes de Oliveira
Pe. Zezinho, SCJ
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Oração
Comece sua leitura com uma oração a Deus, pedindolhe que ilumine você. A oração deve ser um exercício e deve
tornar-se um hábito diário. Inicie invocando o Espírito Santo:
Invocações ao Divino Espírito Santo
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e ascendei neles o fogo do vosso amor;
enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra.
Oremos:
Ó DEUS, que instruístes os corações de vossos fiéis com a Luz do Espírito Santo, fazei que
apreciemos retamente todas as coisas segundo
o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Isso, vos pedimos, ó Pai, em nome de
Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Nossa prece agora é por você, leitor ou leitora, que o
Espírito Santo permita-lhe compreender as palavras deste
livro. Que, por meio de nosso singelo projeto, as palavras
possam dar frutos em seu coração e em sua vida. Amém!
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Introdução
Este escrito trata dos temas de namoro, casamento,
família e nulidade matrimonial. Embora os temas sejam
distintos, estão diretamente interligados. Focaremos,
contudo, a questão do matrimônio, com o objetivo de
conscientizar o casal e possibilitar uma reflexão sobre o
compromisso à luz do que pede a Igreja Católica.
Diante da atual crise na qual vive a família de hoje,
a Igreja assume o papel importante e insubstituível da
preparação para o matrimônio. Especialmente a partir
do Concílio Vaticano II, a importância dessa preparação
como um instrumento pastoral é vista como forma de ajudar os jovens que encontram dificuldades para se doarem
na vida conjugal. A crise dos valores familiares requer
um esforço especial da Igreja nessa tarefa.
A ideia destas linhas é colaborar com essa ação pastoral, como corpo da Igreja, e ajudar a esclarecer o sacramento
do matrimônio, levando os casais a identificarem atitudes
comuns nos relacionamentos, as quais causam a separação
com o passar do tempo. Obviamente, não existe uma receita de bolo, como se costuma ouvir por aí, mas levantamos
algumas questões que são bastante comuns.
Por isso, antes de dar esse importante passo, aconselhamos que você leia estas poucas páginas, que foram
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O que você precisa saber antes de dizer sim
escritas por pessoas que já vivenciaram ou mesmo vivenciam essa realidade. Esta obra foi escrita para você.
Portanto, faça bom proveito da leitura!
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Capítulo I
Matrimônio e casamento:
duas realidades diferentes
O ser humano tem a tendência natural de andar acompanhado, de ter um parceiro ou uma parceira; de seguir
a vida ao lado de uma companhia de quem possa cuidar
ou de quem seja cuidado. Além disso, naturalmente o
amor entre o homem e a mulher gera a vontade (ou talvez
desperta uma necessidade intrínseca ou até mesmo inconsciente) de constituir uma família, de construir laços,
de ter pessoas para amar e ser amado de forma plena.
Acrescentamos a isso o desejo de contribuir para a perpetuação da espécie, ainda que de forma inconsciente. Essa
também é uma realidade que não se pode ignorar.
Homem e mulher completam-se em sua essência. E
é uma inclinação natural que afeta a pessoa em todos os
níveis: corporal, afetivo e espiritual. Essa complementaridade só é materializada na união de vidas. Assim, essa
aliança não tem origem na Igreja ou na sociedade; ao
contrário, é algo além, que existe de forma inata. É para
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O que você precisa saber antes de dizer sim
a dignidade da pessoa que o matrimônio existe. Logo, é
algo místico e ao mesmo tempo lindo.
No entanto, infelizmente a nova mentalidade que invade os lares através dos meios de comunicação acaba
lançando conceitos a respeito de família e de casamento
muito diferentes da tradição, da moral e da consciência
cristã. Além disso, na atual era virtual em que nos encontramos, a facilidade e a velocidade da informação
influenciam diretamente as relações sociais. Assim, as
pessoas estão cada vez mais estabelecendo relacionamentos plastificados, irreais e passageiros, como se o ato
de se relacionar com o outro fosse apenas para satisfazer
a própria vontade. A partir do momento em que o outro
não serve mais, é trocado sem pudor. Isso quer dizer que
o ser humano está perdendo a capacidade de criar laços
duradouros com as pessoas. Por esta razão, está se “coisificando”. E esse tipo de atitude, sem dúvida nenhuma,
é reflexo do que constatamos diariamente nos matrimônios, vítimas diretas da cultura do descartável.
Essa forma de pensar, somada a uma falta de equilíbrio no lar ou a uma educação deficiente, contribui ainda
mais para que a pessoa não entenda o que é essa união e
qual é o seu real sentido. Ela pode até ter alcance a esse
conhecimento, mas certamente não terá entendimento
ou não dará a devida importância. O importante é “estar
junto agora”, como muitos pensam. E, “se não der certo,
tudo bem, pois o importante é ser feliz”. E, quantas vezes
ouvimos: “se não der certo, separa”?
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Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes
É o caso, por exemplo, de um casamento que acompanhamos e que durou apenas nove meses. Não deu
certo em razão de sérios problemas causados pelo comportamento irresponsável do marido desde a época em
que namoravam. Ele era uma pessoa sem religiosidade,
que não tinha compromisso e nem agia com honestidade
com ela. Ele até tinha boas intenções, dizia que gostava da namorada e que queria se casar com ela, mas sua
falta de compromisso era muito grande, e ele acabou demonstrando não ter responsabilidade nem consciência
necessárias para firmar um laço duradouro. Por exemplo, depois de casado, não se importava com a esposa
e sempre saía para se divertir só, frequentando bares
constantemente rodeado de amigos e bebendo muito.
Há até relatos de pessoas que o viram em prostíbulos
enquanto estava casado, sempre dançando agarrado a
mulheres com apenas quinze dias de casamento. Como
bebia muito, era agressivo e tratava a esposa mal. E o resultado desse tipo de relacionamento, já sabemos bem:
o fracasso total.
O caso acima é um acontecimento típico e cada vez
mais comum na sociedade. São tantos casos semelhantes
julgados nos tribunais eclesiásticos todos os dias! Você
até pode estar se lembrando de algum agora.
No entanto, diante de tantos episódios de fracasso, é
natural que o casamento fracasse? Segundo o Pe. Cormac
Burke, em seu livro Amor e casamento, ele diz:
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O que você precisa saber antes de dizer sim
O casamento é, obviamente, uma
das tendências mais naturais da
natureza humana. Ora, se é assim,
parece difícil imaginar que, em
circunstâncias normais, seja natural
que o casamento fracasse. Se tantos
casamentos fracassam hoje em dia,
talvez seja porque as circunstâncias
que cercam o matrimônio já não são
normais. Ao invés de o casamento
estar fracassando para o homem,
não será o homem que vem fracassando em relação ao casamento?1
Mas você sabe por que isso acontece? Muitas vezes
é consequência do desconhecimento teórico e também
prático do sentido real do matrimônio como instituição e
como sacramento. Prático porque a realidade que mais se
constata é a de pessoas crescendo em ambientes totalmente
contrários ao do que seja uma família. Lares desconjuntados, desequilibrados, desmontados e desmoronados estão
formando nossas crianças. E elas crescem sem viver e sem
saber, na prática, o que é uma comunhão íntima de amor.
Por isso, trouxemos esses conceitos para que você esteja consciente do que está prestes a realizar ou do que já
está realizando.
1. BURKE, Cormac Pe. Amor e casamento – Editora Quadrante, Brasil, 1991.
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Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes
O casamento
Como instituição civil e no aspecto social, esse vínculo é chamado de casamento e, mesmo nas sociedades
e realidades em que não é considerado um sacramento,
desde o início essa união já configurava um compromisso de muita seriedade entre duas pessoas.
Isso porque, desde o entendimento da humanidade, esse tipo de compromisso é algo natural. Já
discorremos anteriormente que o casamento é uma das
tendências mais naturais do ser humano. Entretanto,
é claro que existem pessoas que não têm vocação para
casar, mas, para a maioria, é a tendência mais certa de
se concretizar.
Para os Romanos, na visão de Modestino, significava a união do marido e da mulher e o consórcio para
toda a vida, a comunicação do direito divino e do humano. Para Justiniano, “as núpcias ou matrimônio”
constituíam “a união do varão e da mulher, implicando
a comunhão indivisível de vida”.2
Ou seja, desde muito tempo, o matrimônio sempre
significou para as sociedades muito mais do que uma
simples união, mas tinha conotação divina e perpétua.
2. Esses dois conceitos pertencem ao direito Romano. No século III d.C., o
grande jurista Modestino define o casamento considerando uma realidade
divina. Já no século VI, d.C, Justiniano, que governou de 527 a 548, formou
uma comissão de dez membros para compilar as constituições imperiais
vigentes e criou o Digesto, as Institutas, o Código e as Novelas. No § 1 das
Institutas 9, vemos o conceito de matrimônio na Roma de Justiniano.
19
O que você precisa saber antes de dizer sim
Segundo o Jurista José Lopes de Oliveira3, “o casamento é o ato solene pelo qual se unem, estabelecendo
íntima comunhão de vida material e espiritual e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer,
sob determinado regime de bens”.
Sá Pereira4 fala em poucas linhas sobre o casamento:
“(...) é a sociedade solenemente contratada por um homem e uma mulher para colocar sob a sanção da lei a sua
união sexual e a prole dela resultante”.
Observe que todos os juristas citados anteriormente
consideram a importância do compromisso e o analisam
como uma íntima comunhão de vida. Casamento é compromisso. Pense nisso!
Como o objetivo deste livro é tratar do matrimônio
sob a ótica da Igreja (embasado em sua teologia, sociologia e moral), migraremos agora para esse assunto, mas
sem nos aprofundar em seu aspecto civil.
O sacramento do matrimônio
A unidade do matrimônio é também
claramente confirmada pelo Senhor
mediante igual dignidade do homem
e da mulher como pessoas, a qual
3. Civil – Direito de família. Editora Sugestões Literárias. São Paulo. 3. ed.,
1980. p. 9.
4. Sá Pereira, apud QUEIROGA, Antônio Elias de. Manual de direito civil–
Direito de família. Editora Ciência Jurídica. Belo Horizonte. 2001. p. 22.
20
Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes
deve ser reconhecida no amor mútuo
e perfeito.5
A Igreja sempre viu essa tendência natural do homem
e considerou tanto a importância do bem do matrimônio
para a sociedade e para os próprios cônjuges, que sempre valorizou esse sacramento. Aliás, não foi a Igreja que
inventou o matrimônio, mas o próprio Jesus o elevou à
dignidade de sacramento. Ele sempre soube que a família
é o maior bem da sociedade. Uma família estruturada implica uma sociedade também estruturada.
E é do sacramento que trataremos com maior profundidade aqui, para que você reconheça, antes de dizer o
seu sim no altar, a importância e a magnitude da escolha
que está prestes a fazer. Nossa intenção é a de que, se possível, não haja arrependimento, nem mesmo que seja um
caso de união inválida, ou seja, de nulidade matrimonial.
Quando realizado na Igreja, o casamento é chamado
de matrimônio. E, entre batizados, é um sacramento. No
entanto, neste livro, utilizaremos as duas palavras – casamento e matrimônio – para nos referirmos àquele celebrado
na Igreja. Pela lei da Igreja Católica, encontramos no cânone 1055 que “o pacto matrimonial, pelo qual o homem e
a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida,
por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à
5. Catecismo, 1645.
21
O que você precisa saber antes de dizer sim
geração e educação da prole, entre batizados foi por Cristo
Senhor elevado à dignidade de sacramento”.6
Por essa definição, está clara a questão de o matrimônio ser formado pelo homem e pela mulher e de ser por
toda a vida. Mas o que é um pacto? Quando a Igreja fala
de pacto, ela está se referindo a uma aliança, a um trato
formado pela vontade de duas pessoas que querem verdadeiramente se unir. E o que é um consórcio? Consórcio
é a própria união. Assim, quando se fala em consórcio de
toda a vida, fala-se em união para toda a vida.
Essa lei da Igreja, expressa no cânone 1055, menciona os “elementos essenciais” do matrimônio. E, no
cânone seguinte, ou seja, no 1056, estão relacionadas
as “propriedades essenciais” do matrimônio. Elemento
quer dizer pressuposto ou condição; essencial quer dizer aquilo que é o mais básico, o mais importante, que
sustenta, que fundamenta; já propriedade quer dizer
característica. Em outras palavras, “elemento essencial” e “propriedade essencial” são aquelas condições
que sempre devem estar presentes para uma realidade
existir. Sem elas, não se pode considerar a existência
de um fato. Por exemplo, em uma partida de futebol,
para que haja jogo, é necessário haver uma bola, um
6. Nossa intenção com esta obra não é encher você de conceitos ou de leis.
No entanto, é importante que saiba que a Igreja Católica é regida por leis
desde o princípio, que vieram da revelação divina na Bíblia e na tradição.
Foram materializadas no Código de Direito Canônico após muito estudo e
confirmação de Deus.
22
Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes
campo, jogadores e duas traves. Se faltar a bola, não há
jogo; se não houver jogadores, também não. Da mesma
forma, pensemos que não há como ter um jogo de futebol se faltar o campo ou as traves. Logo, os “elementos
essenciais” de um jogo de futebol são a bola, os jogadores, as traves e o campo. E podemos dizer também
que não é jogo de futebol se for realizado com as mãos,
certo? Pois bem, jogar com os pés é uma propriedade
essencial desse esporte.
Assim como o jogo de futebol é o matrimônio. Os
seus elementos essenciais são dois: o bem dos cônjuges e
a procriação e educação da prole (filhos). Já as “propriedades” ou “características essenciais” do matrimônio são
duas: a unidade (fidelidade) e a indissolubilidade.
Dessa forma, é o matrimônio construído sobre estes
pilares: a unidade, a indissolubilidade, a abertura aos filhos e o bem do casal. Se excluirmos um deles, é como o
jogo de futebol: não haverá matrimônio.
Por fim, segundo a norma do cânone 1055, Jesus elevou a união conjugal à dignidade de sacramento quando
celebrado entre batizados.
Afinal, o que é um sacramento?
No conceito da Igreja Católica, o matrimônio é um
sacramento. Mas o que é um sacramento?
O Compêndio ao Catecismo da Igreja Católica define
os sacramentos como “sinais sensíveis e eficazes da graça,
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O que você precisa saber antes de dizer sim
instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais
nos é concedida a vida divina”.7
Ou seja, sacramentos são sinais da graça de Deus, que
foram estabelecidos por Jesus e entregues por Ele mesmo
à Igreja. E por meio deles também conseguimos a vida
eterna. Você já deve saber, mas não custa nada relembrar:
Batismo, Reconciliação, Primeira Eucaristia, Crisma, Matrimônio, Ordem e Unção dos Enfermos. Esses são os sete
sacramentos da Igreja.
E, para a Igreja, uma vez recebidos de forma válida,
eles são para sempre. Sobre invalidade de matrimônio,
vamos tratar noutra oportunidade, uma vez que não é
esse o escopo desta obra. Por ora, basta que saibamos que
o matrimônio é um sacramento entre batizados, por isso
mesmo é um sinal de Deus para alcançar a vida eterna, e
é também um laço permanente designado por Jesus.
Olhemos para a passagem do Evangelho de São João, em
que Jesus aparece aos discípulos logo após a Ressurreição e
diz: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim
também eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou
sobre eles, dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhe serão perdoados;
àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20,2223). Aqui, Jesus dá um poder aos discípulos de perdoarem
os pecados e de cooperarem para a salvação das almas
7. Compêndio do Catecismo, 224.
24
Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes
por meio do exercício do sacramento da penitência. Podemos compreender como Jesus deseja nossa salvação e dispõe
os sacramentos como meios de alcançarmos a vida eterna.
No caso do matrimônio, temos narrado no Evangelho de
Mateus 19,4-9: “Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo
à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por
um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que
o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por
isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua
mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são
dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o
que Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés
ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso
coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres;
mas no começo não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo
aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio
falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que
desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.”
Ora, pelas palavras de Jesus, resta claro que o sacramento do matrimônio é uma união sagrada e criada
por Deus. Homem e mulher deixarão pai e mãe e serão
uma só carne.
O cânone 1134 explica que “no matrimônio cristão,
os cônjuges são robustecidos e como que consagrados,
com sacramento especial, aos deveres e à dignidade de
seu estado.”
25
O que você precisa saber antes de dizer sim
Os documentos da Igreja, em especial os que vieram
após o Concílio Vaticano II e os escritos por São João
Paulo II, nos ensinam sobre a vocação cristã à santidade
dos fiéis casados. A Igreja nos instrui ainda através desses documentos que, por meio dessa sagrada união, os
esposos não só podem recobrar a santidade original e se
livrarem do pecado, como também podem se inserir no
mesmo Mistério da Aliança de Cristo com a Igreja. Um
desses documentos é a Constituição Dogmática Lumen
Gentium, que, em seu número 11, afirma: “[...] os esposos
cristãos, com a força do sacramento do matrimônio, pelo
que representam e participam do mistério da unidade e
do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5,32), se
ajudam mutuamente a santificar-se com a vida matrimonial e com a recepção e educação dos filhos”.
Portanto, casar-se é muito mais do que seguir simplesmente a vida juntos. É, antes de tudo, uma grande
oportunidade de participar do mistério existente entre
Cristo e a Igreja no que se refere a uma experiência de
um amor que gera frutos, de um amor fecundo. Também
devemos nos lembrar de que é um dos caminhos mais
bonitos que levam à salvação, pois aqui são duas pessoas, numa só unidade, ajudando-se mutuamente nessa
incrível jornada.
26
O que você
não pode ignorar
Cânon 1096 – §1o. Para que possa
haver consentimento matrimonial,
é necessário que os contraentes não
ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio permanente
entre homem e mulher, ordenado à
procriação da prole por meio de alguma
cooperação sexual.
Isso é o que revela o Código de Direito Canônico, que
tem como base a Constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II.
A lei da Igreja é clara, e não há necessidade de explicações prolongadas. Até mesmo porque já explicamos as
propriedades e os elementos essenciais do matrimônio.
Sendo assim, o que você precisa saber primeiramente é
que: matrimônio é um consórcio permanente. Ou seja, é
uma promessa de vida inteira que se faz diante de Deus
e para a pessoa que estará ao lado dela na alegria, na tristeza, na saúde e na doença... Até a morte! Muitas pessoas
brincam com isso, fazendo piadas com as promessas,
27
O que você precisa saber antes de dizer sim
mas, para a Igreja, é a hora mais importante da celebração. É por isso mesmo que deve ser uma decisão muito
bem refletida e pensada. Você deve se perguntar e ponderar todas as circunstâncias envolvidas nesse momento,
fazendo-se esses questionamentos: estou mesmo pronto
ou pronta para fazer uma promessa de vida inteira? Eu
amo essa pessoa a ponto de tolerar seus defeitos, uma
possível crise financeira ou uma doença grave?
Quem ama verdadeiramente suporta tudo, e esses laços se fortalecem ainda mais diante das barreiras da vida.
É importante lembrar que aparecerão obstáculos, sendo
a pessoa casada ou não. Muitos pensam que felicidade
significa ausência de dificuldades, ou que casamento é
ruim porque contém problemas. Isso não passa de falsas ilusões. É possível ser feliz mesmo com problemas,
e casamento não é ruim só porque pode contê-los. O que
podemos dizer é que alguns casamentos são ruins porque
as pessoas não sabem conduzir as próprias dificuldades
com sabedoria.
O segundo ponto que você precisa saber é que o matrimônio é destinado à procriação. Como assim? Simples:
é necessário que a pessoa faça planos para formar uma
família através da geração de filhos. A Mãe Igreja sempre
protegerá a vida e a família. Entretanto, se alguém não
puder ter filhos, esta é uma questão à parte. Nesse caso,
é necessário que a outra pessoa saiba e aceite o fato da
esterilidade. Nada impede também de o casal cogitar a
possibilidade de adoção, que é um lindo ato de amor.
28
O que você não pode ignorar
Por fim, essa união deverá ter uma “cooperação sexual”. Embora esse termo pareça engraçado, devemos
entender que o Código de Direito Canônico é do ano de
1983. Naquela época, ainda se casava sem saber o que
era uma relação sexual. E não se espante se ainda houver
situações desse tipo nos dias de hoje.
Aqui queremos fazer um parêntese e até um apelo: jamais se case na Igreja caso esteja pensando em se separar
um dia. Não faça isso, pois agora você sabe que sacramento é para sempre e é algo de Deus. E com as coisas de Deus
não se brinca! Muitas pessoas cujos casamentos fracassaram já chegaram para nós e reportaram que, se soubessem
o que era casamento na Igreja, jamais teriam se casado.
Onde está o amor está a família
Lamentavelmente a mentalidade considerada “pós-moderna” está mais interessada nos prazeres momentâneos e
nos valores materiais. Estamos vivendo em uma era em que
a moralidade e a noção do que é bom estão relativizadas. Ou
seja, o que é o bem para mim pode não ser o bem para outra
pessoa. A mídia está divulgando para as crianças conceitos
que relativizam as ideias: agora, monstro é bonzinho no desenho animado, e Deus pode não existir! Enquanto isso, os
meios de comunicação estão enchendo a cabeça dos jovens
e até dos adultos com esses novos ideais.
Não que sejamos contra a liberdade de expressão.
Ela é sadia até ferir a nossa liberdade de pensamento. Em
29
O que você precisa saber antes de dizer sim
outras palavras, fala-se muito da laicidade do Estado: “O
Estado é laico, o Estado é laico!”. Esta é a nova moda que
está sendo divulgada. Mas será que quem vive falando isso
aos quatro ventos sabe realmente o que significa laicidade? E você, sabe? Em resumo, para que um Estado (país)
seja laico, é necessário que ele seja neutro e permita que
todos tenham a liberdade de pensar segundo as próprias
convicções. E precisa garantir que cada um exerça essa liberdade. O Estado deixa de ser laico ou neutro quando
tenta impor ideias de uma maioria ou de uma minoria.
Ou seja, o Estado precisa garantir que, em que pesem as
pessoas pensarem de forma diferente, elas podem conviver harmonicamente segundo o que acreditam. Portanto,
cuidado quando você verificar certa falta de imparcialidade, ou seja, quando perceber que estão permitindo que se
imponham pensamentos à sociedade em vez de apenas garantir a liberdade de pensamento, pois não é certo impor.
É exatamente por essa razão, porque novos ideais estão sendo impostos, fazendo-nos engoli-los forçadamente,
que os valores familiares estão esfacelados, espezinhados,
oprimidos... Junto com essa perda dos valores morais,
perdeu-se a noção do amor em sua plenitude. E onde falta amor, falta tudo. Casais se divorciam. Já dizia o Pe.
Zezinho, SCJ, em sua canção chamada “Utopia”: “Se os
pais se amassem, o divórcio não viria. Chamam isso de
utopia, eu a isso chamo paz. ”
A maneira de pensar da Igreja é a que Jesus ensina. E
o que Jesus ensina é a forma mais certa para um ser huma30
O que você não pode ignorar
no ser feliz. Nós, cristãos, temos de ser livres o suficiente
para acreditarmos que viver o amor em sua plenitude nos
faz viver todos esses valores morais, pois eles são bons e
naturais para nossa felicidade. O amor por Deus e pelo
outro como a si mesmo é a fonte de tudo e de toda a felicidade de uma pessoa.
Viver em família é a maior escola de amor que alguém
pode ter. Entretanto, infelizmente o ser humano está sendo
treinado para amar unicamente a si mesmo. As novelas
pregam um amor que é unicamente carnal e nada altruísta.
O indivíduo da atualidade nasce e cresce com uma mentalidade de que precisa se matar de estudar ou trabalhar
para ser “alguém na vida”, que casar é para satisfazer ao
próprio prazer e que ter filhos só serve para dar despesa.
Ele só pensa em obter e está se esquecendo do ser. Hoje
se corre muito atrás da satisfação pessoal. E parece que é
só isso que importa. Não somos contra a necessidade de
uma paternidade responsável e de que é bom para o casal
planejar a hora de ter filho e combinarem sobre quantos
podem ter, mas entre um planejamento responsável da família e uma individualidade existe uma grande diferença.
Quanta graça de Deus existe em uma família! Ali, na
intimidade, todos se unem para vencerem os obstáculos
do dia a dia: um aprende com o defeito do outro, com o
exemplo do outro, e vice-versa; os valores como respeito e bons modos são construídos, testados e moldados;
juntos, riem e choram; arrumam forças para vencerem
as dificuldades e se alegram verdadeiramente com a
31
O que você precisa saber antes de dizer sim
conquista de um membro; aprendem a amar juntos e
a praticar o amor. Quanta graça, realmente, existe em
uma família! E Deus vai abençoando e ensinando o caminho da salvação por meio da história que cada um
vai escrevendo da própria existência. E o amor não só se
aprende, mas se descobre nessa célula que, mesmo com
dificuldades às vezes, caminha. Descobrindo o amor,
descobre-se Deus. Aí tudo se tem. E a família vai além:
aquela que serve de exemplo cumprirá um papel muito
importante na sociedade. Será um dos pilares, seus filhos serão cidadãos do mundo e ajudarão a construir um
mundo melhor. Utopia? Claro que não! Se cada um tiver
essa consciência, o mundo de fato será melhor. Por que
não construirmos uma nova geração de família que resgata esses valores? Que tal começar por você, que está
prestes a se casar? Quanta graça, verdadeiramente, existe no celeiro de virtudes chamado família!
Portanto, é preciso dar um basta e ter coragem de
anunciar aquilo que acreditamos. E nós, como Igreja,
acreditamos no poder da família, da oração e de Deus. Se
cremos na força do bem, então que lutemos por ela!
Falar de família é necessariamente falar de amor e de
matrimônio. Por mais que tentem subjugar a ordem natural das coisas, o certo é que homem e mulher se amem,
se casem e formem uma família. E que esse amor que
os une seja a força matriz da unidade entre eles. Sempre foi assim. Deus quer assim. Por isso, não podemos
simplesmente dissociar os dois assuntos. A vocação ao
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O que você não pode ignorar
matrimônio implica diretamente na vocação de constituir uma nova família.
A Palavra de Deus é muito clara quando diz que o
homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e
os dois serão uma só carne (Mt 19,5). Isso significa que
os dois formarão um novo lar. É o começo de uma nova
célula familiar.
Agora perguntamos a você: é esta a sua vocação?
Você nasceu para casar, ter filhos e constituir uma família? Pense nisso. Queremos que se sinta preparado para
dar esse passo importante em sua vida.
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- Editora Ave