EDITORA AVE-MARIA Apresentação Muitos de nós pensamos em como será o futuro. O ser humano quer acertar na sua escolha, pois o que espera é ser feliz. Para isso, cada um traça um caminho, faz uma opção. A vida é permeada delas. Logo, se sua escolha para a felicidade foi o caminho do matrimônio, estas páginas certamente lhe serão úteis. Este livro não tem a pretensão de trazer receitas que devam ser seguidas. Entretanto, traz, desde o início, o desejo de cada uma de nós de ser um instrumento nas mãos de Deus com o entrelaçar de nossas histórias para a vida de cada leitor. Que o mesmo Espírito Santo que nos uniu toque seu coração. Somos um grupo formado por três mulheres. Profissionalmente, ele conta com os seguintes membros: uma advogada e mestranda em Direito Canônico, que atua como juíza leiga em Tribunal Eclesiástico; uma psicóloga que também atua como perita em Tribunal Eclesiástico; e uma psicopedagoga e coordenadora de comunicação e marketing. As duas últimas vivenciaram a experiência de nulidade matrimonial. Além disso, todas são casadas e carregam na bagagem não só a experiência da atuação constante na Igreja Católica, mas também a de acompanhar diversos casais. Juntas, todas elas buscam reflexões 7 O que você precisa saber antes de dizer sim à luz do Espírito Santo e do conhecimento sobre matrimônio para dar orientações aos casais. Em seu discurso à Rota Romana de 1999, São João Paulo II mencionou: Limito-me a sublinhar a grave responsabilidade que incumbe aos Pastores da Igreja de Deus de promover uma adequada e séria preparação dos noivos ao matrimônio: apenas assim, podem-se suscitar no ânimo daqueles que se apresentam a celebrar as núpcias as condições intelectuais, morais e espirituais, necessárias para realizar a realidade natural e sacramental do matrimônio. Com essas palavras, desejamos que estas páginas sirvam de auxílio ao pastoreio da Igreja para atender a este chamado de São João Paulo II. 8 Prefácio Três mulheres catequistas Recebi com alegria as reflexões de três jovens senhoras católicas que pensaram e escreveram a respeito do compromisso do matrimônio católico nos dias de hoje. Fez bem ao sacerdote pregador que sou, cantor, também escritor de catequeses, ler estas palavras sobre o casal que se dispõe a jurar seu amor diante do altar da sua Igreja. Jurar sabendo a quem, com quem, por que razão e diante de quem juram o seu amor, não é um juramento qualquer. Precisa nascer de cabeças e corações qualificados pela fé em Deus e no futuro do seu povo. Bem pensado e bem escrito, o resultado foi este pequeno grande livro que todo casal deveria ler, antes e depois de trocar seus votos perante centenas de casais e milhares de testemunhas que saberão de suas juras. Em linguagem serena, clara e pedagógica, estes 14 capítulos ajudaram a mim – que prego e escrevo há quase cinquenta anos –, a repensar o que prego sobre o diálogo em família e sobre noivos e noivas diante do altar. O momento é de festa e de emoção, mas é também de maturidade na fé: “eu amo, eu sei, eu quero e eu prometo”. 9 O que você precisa saber antes de dizer sim Recebo como um presente este livro editado pela Ave-Maria. Vai preencher uma lacuna. Imagino que sacerdotes e pais queiram dá-lo aos filhos e filhas em vésperas de se casar! Eu o darei aos jovens que pedirem os meus conselhos! Feliz pelas autoras, pela editora e pelos futuros noivos e noivas, abençoo e recomendo! José Fernandes de Oliveira Pe. Zezinho, SCJ 10 Oração Comece sua leitura com uma oração a Deus, pedindolhe que ilumine você. A oração deve ser um exercício e deve tornar-se um hábito diário. Inicie invocando o Espírito Santo: Invocações ao Divino Espírito Santo Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e ascendei neles o fogo do vosso amor; enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra. Oremos: Ó DEUS, que instruístes os corações de vossos fiéis com a Luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Isso, vos pedimos, ó Pai, em nome de Jesus Cristo, vosso Filho, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo. Amém! Nossa prece agora é por você, leitor ou leitora, que o Espírito Santo permita-lhe compreender as palavras deste livro. Que, por meio de nosso singelo projeto, as palavras possam dar frutos em seu coração e em sua vida. Amém! 11 Introdução Este escrito trata dos temas de namoro, casamento, família e nulidade matrimonial. Embora os temas sejam distintos, estão diretamente interligados. Focaremos, contudo, a questão do matrimônio, com o objetivo de conscientizar o casal e possibilitar uma reflexão sobre o compromisso à luz do que pede a Igreja Católica. Diante da atual crise na qual vive a família de hoje, a Igreja assume o papel importante e insubstituível da preparação para o matrimônio. Especialmente a partir do Concílio Vaticano II, a importância dessa preparação como um instrumento pastoral é vista como forma de ajudar os jovens que encontram dificuldades para se doarem na vida conjugal. A crise dos valores familiares requer um esforço especial da Igreja nessa tarefa. A ideia destas linhas é colaborar com essa ação pastoral, como corpo da Igreja, e ajudar a esclarecer o sacramento do matrimônio, levando os casais a identificarem atitudes comuns nos relacionamentos, as quais causam a separação com o passar do tempo. Obviamente, não existe uma receita de bolo, como se costuma ouvir por aí, mas levantamos algumas questões que são bastante comuns. Por isso, antes de dar esse importante passo, aconselhamos que você leia estas poucas páginas, que foram 13 O que você precisa saber antes de dizer sim escritas por pessoas que já vivenciaram ou mesmo vivenciam essa realidade. Esta obra foi escrita para você. Portanto, faça bom proveito da leitura! 14 Capítulo I Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes O ser humano tem a tendência natural de andar acompanhado, de ter um parceiro ou uma parceira; de seguir a vida ao lado de uma companhia de quem possa cuidar ou de quem seja cuidado. Além disso, naturalmente o amor entre o homem e a mulher gera a vontade (ou talvez desperta uma necessidade intrínseca ou até mesmo inconsciente) de constituir uma família, de construir laços, de ter pessoas para amar e ser amado de forma plena. Acrescentamos a isso o desejo de contribuir para a perpetuação da espécie, ainda que de forma inconsciente. Essa também é uma realidade que não se pode ignorar. Homem e mulher completam-se em sua essência. E é uma inclinação natural que afeta a pessoa em todos os níveis: corporal, afetivo e espiritual. Essa complementaridade só é materializada na união de vidas. Assim, essa aliança não tem origem na Igreja ou na sociedade; ao contrário, é algo além, que existe de forma inata. É para 15 O que você precisa saber antes de dizer sim a dignidade da pessoa que o matrimônio existe. Logo, é algo místico e ao mesmo tempo lindo. No entanto, infelizmente a nova mentalidade que invade os lares através dos meios de comunicação acaba lançando conceitos a respeito de família e de casamento muito diferentes da tradição, da moral e da consciência cristã. Além disso, na atual era virtual em que nos encontramos, a facilidade e a velocidade da informação influenciam diretamente as relações sociais. Assim, as pessoas estão cada vez mais estabelecendo relacionamentos plastificados, irreais e passageiros, como se o ato de se relacionar com o outro fosse apenas para satisfazer a própria vontade. A partir do momento em que o outro não serve mais, é trocado sem pudor. Isso quer dizer que o ser humano está perdendo a capacidade de criar laços duradouros com as pessoas. Por esta razão, está se “coisificando”. E esse tipo de atitude, sem dúvida nenhuma, é reflexo do que constatamos diariamente nos matrimônios, vítimas diretas da cultura do descartável. Essa forma de pensar, somada a uma falta de equilíbrio no lar ou a uma educação deficiente, contribui ainda mais para que a pessoa não entenda o que é essa união e qual é o seu real sentido. Ela pode até ter alcance a esse conhecimento, mas certamente não terá entendimento ou não dará a devida importância. O importante é “estar junto agora”, como muitos pensam. E, “se não der certo, tudo bem, pois o importante é ser feliz”. E, quantas vezes ouvimos: “se não der certo, separa”? 16 Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes É o caso, por exemplo, de um casamento que acompanhamos e que durou apenas nove meses. Não deu certo em razão de sérios problemas causados pelo comportamento irresponsável do marido desde a época em que namoravam. Ele era uma pessoa sem religiosidade, que não tinha compromisso e nem agia com honestidade com ela. Ele até tinha boas intenções, dizia que gostava da namorada e que queria se casar com ela, mas sua falta de compromisso era muito grande, e ele acabou demonstrando não ter responsabilidade nem consciência necessárias para firmar um laço duradouro. Por exemplo, depois de casado, não se importava com a esposa e sempre saía para se divertir só, frequentando bares constantemente rodeado de amigos e bebendo muito. Há até relatos de pessoas que o viram em prostíbulos enquanto estava casado, sempre dançando agarrado a mulheres com apenas quinze dias de casamento. Como bebia muito, era agressivo e tratava a esposa mal. E o resultado desse tipo de relacionamento, já sabemos bem: o fracasso total. O caso acima é um acontecimento típico e cada vez mais comum na sociedade. São tantos casos semelhantes julgados nos tribunais eclesiásticos todos os dias! Você até pode estar se lembrando de algum agora. No entanto, diante de tantos episódios de fracasso, é natural que o casamento fracasse? Segundo o Pe. Cormac Burke, em seu livro Amor e casamento, ele diz: 17 O que você precisa saber antes de dizer sim O casamento é, obviamente, uma das tendências mais naturais da natureza humana. Ora, se é assim, parece difícil imaginar que, em circunstâncias normais, seja natural que o casamento fracasse. Se tantos casamentos fracassam hoje em dia, talvez seja porque as circunstâncias que cercam o matrimônio já não são normais. Ao invés de o casamento estar fracassando para o homem, não será o homem que vem fracassando em relação ao casamento?1 Mas você sabe por que isso acontece? Muitas vezes é consequência do desconhecimento teórico e também prático do sentido real do matrimônio como instituição e como sacramento. Prático porque a realidade que mais se constata é a de pessoas crescendo em ambientes totalmente contrários ao do que seja uma família. Lares desconjuntados, desequilibrados, desmontados e desmoronados estão formando nossas crianças. E elas crescem sem viver e sem saber, na prática, o que é uma comunhão íntima de amor. Por isso, trouxemos esses conceitos para que você esteja consciente do que está prestes a realizar ou do que já está realizando. 1. BURKE, Cormac Pe. Amor e casamento – Editora Quadrante, Brasil, 1991. 18 Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes O casamento Como instituição civil e no aspecto social, esse vínculo é chamado de casamento e, mesmo nas sociedades e realidades em que não é considerado um sacramento, desde o início essa união já configurava um compromisso de muita seriedade entre duas pessoas. Isso porque, desde o entendimento da humanidade, esse tipo de compromisso é algo natural. Já discorremos anteriormente que o casamento é uma das tendências mais naturais do ser humano. Entretanto, é claro que existem pessoas que não têm vocação para casar, mas, para a maioria, é a tendência mais certa de se concretizar. Para os Romanos, na visão de Modestino, significava a união do marido e da mulher e o consórcio para toda a vida, a comunicação do direito divino e do humano. Para Justiniano, “as núpcias ou matrimônio” constituíam “a união do varão e da mulher, implicando a comunhão indivisível de vida”.2 Ou seja, desde muito tempo, o matrimônio sempre significou para as sociedades muito mais do que uma simples união, mas tinha conotação divina e perpétua. 2. Esses dois conceitos pertencem ao direito Romano. No século III d.C., o grande jurista Modestino define o casamento considerando uma realidade divina. Já no século VI, d.C, Justiniano, que governou de 527 a 548, formou uma comissão de dez membros para compilar as constituições imperiais vigentes e criou o Digesto, as Institutas, o Código e as Novelas. No § 1 das Institutas 9, vemos o conceito de matrimônio na Roma de Justiniano. 19 O que você precisa saber antes de dizer sim Segundo o Jurista José Lopes de Oliveira3, “o casamento é o ato solene pelo qual se unem, estabelecendo íntima comunhão de vida material e espiritual e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer, sob determinado regime de bens”. Sá Pereira4 fala em poucas linhas sobre o casamento: “(...) é a sociedade solenemente contratada por um homem e uma mulher para colocar sob a sanção da lei a sua união sexual e a prole dela resultante”. Observe que todos os juristas citados anteriormente consideram a importância do compromisso e o analisam como uma íntima comunhão de vida. Casamento é compromisso. Pense nisso! Como o objetivo deste livro é tratar do matrimônio sob a ótica da Igreja (embasado em sua teologia, sociologia e moral), migraremos agora para esse assunto, mas sem nos aprofundar em seu aspecto civil. O sacramento do matrimônio A unidade do matrimônio é também claramente confirmada pelo Senhor mediante igual dignidade do homem e da mulher como pessoas, a qual 3. Civil – Direito de família. Editora Sugestões Literárias. São Paulo. 3. ed., 1980. p. 9. 4. Sá Pereira, apud QUEIROGA, Antônio Elias de. Manual de direito civil– Direito de família. Editora Ciência Jurídica. Belo Horizonte. 2001. p. 22. 20 Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito.5 A Igreja sempre viu essa tendência natural do homem e considerou tanto a importância do bem do matrimônio para a sociedade e para os próprios cônjuges, que sempre valorizou esse sacramento. Aliás, não foi a Igreja que inventou o matrimônio, mas o próprio Jesus o elevou à dignidade de sacramento. Ele sempre soube que a família é o maior bem da sociedade. Uma família estruturada implica uma sociedade também estruturada. E é do sacramento que trataremos com maior profundidade aqui, para que você reconheça, antes de dizer o seu sim no altar, a importância e a magnitude da escolha que está prestes a fazer. Nossa intenção é a de que, se possível, não haja arrependimento, nem mesmo que seja um caso de união inválida, ou seja, de nulidade matrimonial. Quando realizado na Igreja, o casamento é chamado de matrimônio. E, entre batizados, é um sacramento. No entanto, neste livro, utilizaremos as duas palavras – casamento e matrimônio – para nos referirmos àquele celebrado na Igreja. Pela lei da Igreja Católica, encontramos no cânone 1055 que “o pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos cônjuges e à 5. Catecismo, 1645. 21 O que você precisa saber antes de dizer sim geração e educação da prole, entre batizados foi por Cristo Senhor elevado à dignidade de sacramento”.6 Por essa definição, está clara a questão de o matrimônio ser formado pelo homem e pela mulher e de ser por toda a vida. Mas o que é um pacto? Quando a Igreja fala de pacto, ela está se referindo a uma aliança, a um trato formado pela vontade de duas pessoas que querem verdadeiramente se unir. E o que é um consórcio? Consórcio é a própria união. Assim, quando se fala em consórcio de toda a vida, fala-se em união para toda a vida. Essa lei da Igreja, expressa no cânone 1055, menciona os “elementos essenciais” do matrimônio. E, no cânone seguinte, ou seja, no 1056, estão relacionadas as “propriedades essenciais” do matrimônio. Elemento quer dizer pressuposto ou condição; essencial quer dizer aquilo que é o mais básico, o mais importante, que sustenta, que fundamenta; já propriedade quer dizer característica. Em outras palavras, “elemento essencial” e “propriedade essencial” são aquelas condições que sempre devem estar presentes para uma realidade existir. Sem elas, não se pode considerar a existência de um fato. Por exemplo, em uma partida de futebol, para que haja jogo, é necessário haver uma bola, um 6. Nossa intenção com esta obra não é encher você de conceitos ou de leis. No entanto, é importante que saiba que a Igreja Católica é regida por leis desde o princípio, que vieram da revelação divina na Bíblia e na tradição. Foram materializadas no Código de Direito Canônico após muito estudo e confirmação de Deus. 22 Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes campo, jogadores e duas traves. Se faltar a bola, não há jogo; se não houver jogadores, também não. Da mesma forma, pensemos que não há como ter um jogo de futebol se faltar o campo ou as traves. Logo, os “elementos essenciais” de um jogo de futebol são a bola, os jogadores, as traves e o campo. E podemos dizer também que não é jogo de futebol se for realizado com as mãos, certo? Pois bem, jogar com os pés é uma propriedade essencial desse esporte. Assim como o jogo de futebol é o matrimônio. Os seus elementos essenciais são dois: o bem dos cônjuges e a procriação e educação da prole (filhos). Já as “propriedades” ou “características essenciais” do matrimônio são duas: a unidade (fidelidade) e a indissolubilidade. Dessa forma, é o matrimônio construído sobre estes pilares: a unidade, a indissolubilidade, a abertura aos filhos e o bem do casal. Se excluirmos um deles, é como o jogo de futebol: não haverá matrimônio. Por fim, segundo a norma do cânone 1055, Jesus elevou a união conjugal à dignidade de sacramento quando celebrado entre batizados. Afinal, o que é um sacramento? No conceito da Igreja Católica, o matrimônio é um sacramento. Mas o que é um sacramento? O Compêndio ao Catecismo da Igreja Católica define os sacramentos como “sinais sensíveis e eficazes da graça, 23 O que você precisa saber antes de dizer sim instituídos por Cristo e confiados à Igreja, mediante os quais nos é concedida a vida divina”.7 Ou seja, sacramentos são sinais da graça de Deus, que foram estabelecidos por Jesus e entregues por Ele mesmo à Igreja. E por meio deles também conseguimos a vida eterna. Você já deve saber, mas não custa nada relembrar: Batismo, Reconciliação, Primeira Eucaristia, Crisma, Matrimônio, Ordem e Unção dos Enfermos. Esses são os sete sacramentos da Igreja. E, para a Igreja, uma vez recebidos de forma válida, eles são para sempre. Sobre invalidade de matrimônio, vamos tratar noutra oportunidade, uma vez que não é esse o escopo desta obra. Por ora, basta que saibamos que o matrimônio é um sacramento entre batizados, por isso mesmo é um sinal de Deus para alcançar a vida eterna, e é também um laço permanente designado por Jesus. Olhemos para a passagem do Evangelho de São João, em que Jesus aparece aos discípulos logo após a Ressurreição e diz: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós. Depois dessas palavras, soprou sobre eles, dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhe serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20,2223). Aqui, Jesus dá um poder aos discípulos de perdoarem os pecados e de cooperarem para a salvação das almas 7. Compêndio do Catecismo, 224. 24 Matrimônio e casamento: duas realidades diferentes por meio do exercício do sacramento da penitência. Podemos compreender como Jesus deseja nossa salvação e dispõe os sacramentos como meios de alcançarmos a vida eterna. No caso do matrimônio, temos narrado no Evangelho de Mateus 19,4-9: “Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.” Ora, pelas palavras de Jesus, resta claro que o sacramento do matrimônio é uma união sagrada e criada por Deus. Homem e mulher deixarão pai e mãe e serão uma só carne. O cânone 1134 explica que “no matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados, com sacramento especial, aos deveres e à dignidade de seu estado.” 25 O que você precisa saber antes de dizer sim Os documentos da Igreja, em especial os que vieram após o Concílio Vaticano II e os escritos por São João Paulo II, nos ensinam sobre a vocação cristã à santidade dos fiéis casados. A Igreja nos instrui ainda através desses documentos que, por meio dessa sagrada união, os esposos não só podem recobrar a santidade original e se livrarem do pecado, como também podem se inserir no mesmo Mistério da Aliança de Cristo com a Igreja. Um desses documentos é a Constituição Dogmática Lumen Gentium, que, em seu número 11, afirma: “[...] os esposos cristãos, com a força do sacramento do matrimônio, pelo que representam e participam do mistério da unidade e do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5,32), se ajudam mutuamente a santificar-se com a vida matrimonial e com a recepção e educação dos filhos”. Portanto, casar-se é muito mais do que seguir simplesmente a vida juntos. É, antes de tudo, uma grande oportunidade de participar do mistério existente entre Cristo e a Igreja no que se refere a uma experiência de um amor que gera frutos, de um amor fecundo. Também devemos nos lembrar de que é um dos caminhos mais bonitos que levam à salvação, pois aqui são duas pessoas, numa só unidade, ajudando-se mutuamente nessa incrível jornada. 26 O que você não pode ignorar Cânon 1096 – §1o. Para que possa haver consentimento matrimonial, é necessário que os contraentes não ignorem, pelo menos, que o matrimônio é um consórcio permanente entre homem e mulher, ordenado à procriação da prole por meio de alguma cooperação sexual. Isso é o que revela o Código de Direito Canônico, que tem como base a Constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II. A lei da Igreja é clara, e não há necessidade de explicações prolongadas. Até mesmo porque já explicamos as propriedades e os elementos essenciais do matrimônio. Sendo assim, o que você precisa saber primeiramente é que: matrimônio é um consórcio permanente. Ou seja, é uma promessa de vida inteira que se faz diante de Deus e para a pessoa que estará ao lado dela na alegria, na tristeza, na saúde e na doença... Até a morte! Muitas pessoas brincam com isso, fazendo piadas com as promessas, 27 O que você precisa saber antes de dizer sim mas, para a Igreja, é a hora mais importante da celebração. É por isso mesmo que deve ser uma decisão muito bem refletida e pensada. Você deve se perguntar e ponderar todas as circunstâncias envolvidas nesse momento, fazendo-se esses questionamentos: estou mesmo pronto ou pronta para fazer uma promessa de vida inteira? Eu amo essa pessoa a ponto de tolerar seus defeitos, uma possível crise financeira ou uma doença grave? Quem ama verdadeiramente suporta tudo, e esses laços se fortalecem ainda mais diante das barreiras da vida. É importante lembrar que aparecerão obstáculos, sendo a pessoa casada ou não. Muitos pensam que felicidade significa ausência de dificuldades, ou que casamento é ruim porque contém problemas. Isso não passa de falsas ilusões. É possível ser feliz mesmo com problemas, e casamento não é ruim só porque pode contê-los. O que podemos dizer é que alguns casamentos são ruins porque as pessoas não sabem conduzir as próprias dificuldades com sabedoria. O segundo ponto que você precisa saber é que o matrimônio é destinado à procriação. Como assim? Simples: é necessário que a pessoa faça planos para formar uma família através da geração de filhos. A Mãe Igreja sempre protegerá a vida e a família. Entretanto, se alguém não puder ter filhos, esta é uma questão à parte. Nesse caso, é necessário que a outra pessoa saiba e aceite o fato da esterilidade. Nada impede também de o casal cogitar a possibilidade de adoção, que é um lindo ato de amor. 28 O que você não pode ignorar Por fim, essa união deverá ter uma “cooperação sexual”. Embora esse termo pareça engraçado, devemos entender que o Código de Direito Canônico é do ano de 1983. Naquela época, ainda se casava sem saber o que era uma relação sexual. E não se espante se ainda houver situações desse tipo nos dias de hoje. Aqui queremos fazer um parêntese e até um apelo: jamais se case na Igreja caso esteja pensando em se separar um dia. Não faça isso, pois agora você sabe que sacramento é para sempre e é algo de Deus. E com as coisas de Deus não se brinca! Muitas pessoas cujos casamentos fracassaram já chegaram para nós e reportaram que, se soubessem o que era casamento na Igreja, jamais teriam se casado. Onde está o amor está a família Lamentavelmente a mentalidade considerada “pós-moderna” está mais interessada nos prazeres momentâneos e nos valores materiais. Estamos vivendo em uma era em que a moralidade e a noção do que é bom estão relativizadas. Ou seja, o que é o bem para mim pode não ser o bem para outra pessoa. A mídia está divulgando para as crianças conceitos que relativizam as ideias: agora, monstro é bonzinho no desenho animado, e Deus pode não existir! Enquanto isso, os meios de comunicação estão enchendo a cabeça dos jovens e até dos adultos com esses novos ideais. Não que sejamos contra a liberdade de expressão. Ela é sadia até ferir a nossa liberdade de pensamento. Em 29 O que você precisa saber antes de dizer sim outras palavras, fala-se muito da laicidade do Estado: “O Estado é laico, o Estado é laico!”. Esta é a nova moda que está sendo divulgada. Mas será que quem vive falando isso aos quatro ventos sabe realmente o que significa laicidade? E você, sabe? Em resumo, para que um Estado (país) seja laico, é necessário que ele seja neutro e permita que todos tenham a liberdade de pensar segundo as próprias convicções. E precisa garantir que cada um exerça essa liberdade. O Estado deixa de ser laico ou neutro quando tenta impor ideias de uma maioria ou de uma minoria. Ou seja, o Estado precisa garantir que, em que pesem as pessoas pensarem de forma diferente, elas podem conviver harmonicamente segundo o que acreditam. Portanto, cuidado quando você verificar certa falta de imparcialidade, ou seja, quando perceber que estão permitindo que se imponham pensamentos à sociedade em vez de apenas garantir a liberdade de pensamento, pois não é certo impor. É exatamente por essa razão, porque novos ideais estão sendo impostos, fazendo-nos engoli-los forçadamente, que os valores familiares estão esfacelados, espezinhados, oprimidos... Junto com essa perda dos valores morais, perdeu-se a noção do amor em sua plenitude. E onde falta amor, falta tudo. Casais se divorciam. Já dizia o Pe. Zezinho, SCJ, em sua canção chamada “Utopia”: “Se os pais se amassem, o divórcio não viria. Chamam isso de utopia, eu a isso chamo paz. ” A maneira de pensar da Igreja é a que Jesus ensina. E o que Jesus ensina é a forma mais certa para um ser huma30 O que você não pode ignorar no ser feliz. Nós, cristãos, temos de ser livres o suficiente para acreditarmos que viver o amor em sua plenitude nos faz viver todos esses valores morais, pois eles são bons e naturais para nossa felicidade. O amor por Deus e pelo outro como a si mesmo é a fonte de tudo e de toda a felicidade de uma pessoa. Viver em família é a maior escola de amor que alguém pode ter. Entretanto, infelizmente o ser humano está sendo treinado para amar unicamente a si mesmo. As novelas pregam um amor que é unicamente carnal e nada altruísta. O indivíduo da atualidade nasce e cresce com uma mentalidade de que precisa se matar de estudar ou trabalhar para ser “alguém na vida”, que casar é para satisfazer ao próprio prazer e que ter filhos só serve para dar despesa. Ele só pensa em obter e está se esquecendo do ser. Hoje se corre muito atrás da satisfação pessoal. E parece que é só isso que importa. Não somos contra a necessidade de uma paternidade responsável e de que é bom para o casal planejar a hora de ter filho e combinarem sobre quantos podem ter, mas entre um planejamento responsável da família e uma individualidade existe uma grande diferença. Quanta graça de Deus existe em uma família! Ali, na intimidade, todos se unem para vencerem os obstáculos do dia a dia: um aprende com o defeito do outro, com o exemplo do outro, e vice-versa; os valores como respeito e bons modos são construídos, testados e moldados; juntos, riem e choram; arrumam forças para vencerem as dificuldades e se alegram verdadeiramente com a 31 O que você precisa saber antes de dizer sim conquista de um membro; aprendem a amar juntos e a praticar o amor. Quanta graça, realmente, existe em uma família! E Deus vai abençoando e ensinando o caminho da salvação por meio da história que cada um vai escrevendo da própria existência. E o amor não só se aprende, mas se descobre nessa célula que, mesmo com dificuldades às vezes, caminha. Descobrindo o amor, descobre-se Deus. Aí tudo se tem. E a família vai além: aquela que serve de exemplo cumprirá um papel muito importante na sociedade. Será um dos pilares, seus filhos serão cidadãos do mundo e ajudarão a construir um mundo melhor. Utopia? Claro que não! Se cada um tiver essa consciência, o mundo de fato será melhor. Por que não construirmos uma nova geração de família que resgata esses valores? Que tal começar por você, que está prestes a se casar? Quanta graça, verdadeiramente, existe no celeiro de virtudes chamado família! Portanto, é preciso dar um basta e ter coragem de anunciar aquilo que acreditamos. E nós, como Igreja, acreditamos no poder da família, da oração e de Deus. Se cremos na força do bem, então que lutemos por ela! Falar de família é necessariamente falar de amor e de matrimônio. Por mais que tentem subjugar a ordem natural das coisas, o certo é que homem e mulher se amem, se casem e formem uma família. E que esse amor que os une seja a força matriz da unidade entre eles. Sempre foi assim. Deus quer assim. Por isso, não podemos simplesmente dissociar os dois assuntos. A vocação ao 32 O que você não pode ignorar matrimônio implica diretamente na vocação de constituir uma nova família. A Palavra de Deus é muito clara quando diz que o homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e os dois serão uma só carne (Mt 19,5). Isso significa que os dois formarão um novo lar. É o começo de uma nova célula familiar. Agora perguntamos a você: é esta a sua vocação? Você nasceu para casar, ter filhos e constituir uma família? Pense nisso. Queremos que se sinta preparado para dar esse passo importante em sua vida. 33