II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia El acompañamiento a los docentes noveles: prácticas y concepciones Buenos Aires, del 24 al 26 de febrero de 2010 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia Eje Temático 4: Investigaciones y experiências de iniciación a la docência. Particularidades de los diferentes ámbitos de inserción REPORTE DE INVESTIGACIÓN O INÍCIO DA DOCÊNCIA: UMA INVESTIGAÇÃO-FORMAÇÃO COM BASE NAS NARRATIVAS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Teixeira, Leny R. M. RG. 3621057 SSP/SP [email protected] de Souza Perrelli, Maria Aparecida RG. M260956 SSP/MG [email protected] Universidade Católica Dom Bosco/MS-UCDB Universidade Católica Dom Bosco/MS-UCDB Nogueira, Eliane Greice D. RG.9759709 SSP/SP [email protected] Campos, Edileni G.J. RG. 943000 SSP/MS [email protected] Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UEMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS Palavras chave: pesquisa-formação, narrativas, professores iniciantes Resumo O presente estudo, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa “Práticas Pedagógicas e suas relações com a formação docente”, da Universidade Católica Dom Bosco–UCDB, de Mato Grosso do Sul, Brasil, caracteriza-se como uma pesquisa formação cujos sujeitos são professores de diferentes níveis de ensino, áreas de conhecimento e tempo de magistério. Mediante a produção de narrativas, relatos de experiências, histórias de vida, memórias e análise de situações problema ou de casos vivenciados por esses professores, a pesquisa objetivou identificar elementos que contribuem no processo de aprendizagem da docência, bem como os fatores que a condicionam. Nessas produções a maior parte dos sujeitos relata o impacto do início da docência, marcado, por um lado, pelo entusiasmo e expectativa, e, por outro, pela sensação de despreparo e medo do insucesso. Além disso, expressam o sentimento de solidão que decorre da falta de apoio por parte dos especialistas da escola e da família dos alunos. Quando existe, o apoio vem dos pares. As narrativas são marcadas fortemente pela preocupação com o “domínio da sala” e, por conseguinte, com os procedimentos para “conquistar o aluno” e “obter o respeito ao professor. Nos relatos percebe-se o silêncio em relação ao papel do curso de graduação como formador do professor. Nesse contexto, vários iniciantes pensam em desistir da carreira do magistério. Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 1 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia O INÍCIO DA DOCÊNCIA: UMA INVESTIGAÇÃO-FORMAÇÃO COM BASE NAS NARRATIVAS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA Introdução Este artigo resulta de investigações realizadas pelo Grupo de Pesquisa “Práticas Pedagógicas e suas relações com a formação docente”, da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB (Mato Grosso do Sul, Brasil), que estuda questões relacionadas à construção do saber docente, buscando identificar os elementos constituintes desse processo. Alguns pressupostos orientam essas investigações, tais como: (1) a formação do professor não se esgota nos cursos de magistério; (2) o desenvolvimento profissional do professor requer outras condições para que ele possa adquirir e rever concepções sobre si mesmo e sua profissão e construir novas e melhores práticas; (3) a reflexão sobre a ação pedagógica é uma das condições fundamentais para a formação do professor. Os participantes da pesquisa estão se constituindo como um Grupo de PesquisaFormação - uma proposta apoiada em Josso (2004), que assim o denomina quando os seus componentes são, simultaneamente, objetos e sujeitos da pesquisa e esta produz (auto)conhecimento durante a investigação. O presente texto relata parte do percurso já realizado pelo Grupo. Apresenta uma pesquisa que objetivou identificar e analisar os dilemas do início da docência de professores atuantes em diferentes níveis de ensino e modalidades de disciplinas. Para tanto, aborda inicialmente algumas teorizações relativas à formação do professor e ao início da docência. Em seguida explicita o potencial das narrativas autobiográficas como opção metodológica da pesquisa formação, justificando a utilização destas na reflexão sobre o início da vida profissional do professor. A formação do professor e o início da docência Para Pacheco e Flores (1999, p. 45) “tornar-se professor constitui um processo complexo, dinâmico e evolutivo que compreende um conjunto variado de aprendizagens e de experiências ao longo de diferentes etapas formativas”. Segundo Tardif e Raymond (2000) o sentimento de pertencimento profissional vai sendo construído ao longo do tempo, e a inserção na carreira é um momento que marca o início do processo de socialização profissional no qual o “saber ser” e o “saber fazer” serão incorporados pelos professores. Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 1 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia O início da docência é uma etapa formativa que abrange os primeiros confrontos com a realidade profissional e a complexidade de situações que a envolve. Essa etapa é caracterizada por Veenman (1984) e Huberman (1995), entre outros, como “choque de realidade”. Segundo Veenman (1984) essa expressão refere-se aos primeiros anos da docência como uma fase marcada por um processo de aprendizagem muito baseado no ensaio e erro, na tentativa de solucionar diversos problemas como a manutenção da disciplina, a motivação, o trato com as características individuais dos alunos, o relacionamento com os pais, a preocupação com a sua própria capacidade. Huberman (1995), ao caracterizar os ciclos de vida profissional dos professores, aponta a fase inicial como um período de “exploração” na qual eles fazem uma opção provisória, procedem a uma investigação dos contornos da profissão e experimentam um ou mais papéis. É um período de vivências ambíguas, marcado pela “sobrevivência” e “descoberta”. Cavaco (1995) destaca que o início da docência é contraditório para o professor, uma vez que o estar na vida profissional afirma, por um lado, a idade adulta, a perspectiva da construção de autonomia, o reconhecimento do valor da sua participação no universo do trabalho; por outro, essa mesma vida profissional raramente corresponde aos seus projetos e expectativas. Na busca pela conciliação entre esses dois polos, o professor iniciante tem de procurar reajustar-se para dar sentido aos seus esforços. Por mais bem preparados que estejam os professores, o impacto dos iniciantes com a realidade parece ser inevitável. Os anos iniciais são um período de tensões e instabilidade decorrentes do conflito entre o real, o ideal e o possível. A regulação de tais aspectos só pode ocorrer na prática, embora esta dependa da reflexão, ou seja, da metacognição, da reflexão sobre a ação e seus condicionantes. Narrativas autobiográficas e metáforas como instrumentos de investigação dos processos formativos da docência Larrosa (2002, p. 137) afirma que “uma pessoa que não é capaz de se pôr à escuta cancelou seu potencial de formação e de trans-formação”. Pensando como Larrosa, consideramos que a investigação sobre como nos tornamos professores seria potencialmente formadora ao utilizar metodologias que propiciem o exercício de escuta, envolvendo o próprio professor na busca das suas memórias e das razões que o levaram a tomar decisões no âmbito profissional. Um dos procedimentos metodológicos que acena nessa direção é o das narrativas autobiográficas. Para Josso (2006), as autobiografias permitem compreender o modo pelo qual os professores se formam e adquirem novas competências, e os auxiliam a Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 2 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia melhor situar as estratégias de trabalho que favorecem suas aprendizagens, quando possibilitam a responder a questões como: Sobre o que me apoio para pensar como penso? Como me constitui como sou? Como me transformei? De onde vêm as idéias que creio serem minhas? Com quem e como aprendi meu “saber-fazer”? De onde vem meu linguajar, minha inspiração e meus desejos? O jogo de interesses e ideologias é inerente às narrativas autobiográficas. Essa condição as torna repletas de censuras, lapsos e contradições. Assim, o valor heurístico e a legitimidade dessas produções não estão na exatidão dos fatos descritos, pois a “verdade” que se busca não “é a narrativa exata de como os fatos realmente aconteceram, mas os fatos como o sujeito da narrativa os significou no momento de sua ocorrência e como os (res)significa no momento da narração em contato como os ouvintes que com ele interagem [...]”. (Abrahão, 2008, p. 154). A possibilidade da resistência dos professores ao ato de escrever1 para trazer à tona lembranças da vida profissional pode ser trabalhada com a utilização de metáforas imagéticas ou textuais. Segundo Garcia (1999, p. 159), seu uso na pesquisa educacional permite “averiguar algo sobre a natureza do pensamento do professor e sua relação com o contexto no qual adquire significado”. O início da docência: memórias e reflexões de um grupo de professores Pretendendo identificar e analisar elementos concernentes à aprendizagem da docência, o Grupo de Pesquisa Formação desenvolveu um estudo com professores de diferentes níveis de ensino, áreas de conhecimento e tempo de magistério. Estes sujeitos foram estimulados, por meio do uso de metáforas, a produzir narrativas autobiográficas relatando a história de sua vida profissional. Tal produção se deu ao longo de diferentes atividades realizadas durante quinze encontros (um por mês) do Grupo de Pesquisa Formação constituído desses professores e pesquisadores. O presente texto tomou como fonte de dados três dessas atividades nas quais buscou refletir sobre o início da carreira docente: (1) leitura e discussão de um texto sobre o início da carreira de uma professora2; (2) exibição e discussão de trechos do filme “Nenhum a menos” 3 que retrata momentos vivenciados por uma professora iniciante, jovem e não habilitada para o magistério e (3) 1 A respeito dessa resistência ao ato da escrita, ver: Leta, Maria Masello. “Relações de professores com a escrita”. Rio de Janeiro: Editora H.P. Comunicação, 2005. 2 Texto denominado “Verão”, retirado de Fontana, R. C. (2000): “Trabalho e Subjetividade: nos rituais da iniciação, a constituição do ser professora”, en Caderno CEDES, v.20, n.50, pp.107-119. 3 Nenhum a menos (1999): Zhang Yimou, Zhao Yu, China, Guangxi Film, Columbia Pictures Film Production Asia, 1 DVD. Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 3 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia exibição de telas com imagens de janelas abertas, fechadas, semiabertas, quebradas 4, mediante as quais os professores foram convidados a pensar sobre o início da sua escolarização e da sua vida profissional. No decorrer de todas as atividades os professores narraram suas memórias e reflexões, e estas foram comentadas no Grupo, num processo mediado pela equipe de pesquisadores. As narrativas evidenciaram alguns processos pelos quais se aprende a ser professor, mais precisamente os que ocorrem nos cursos de formação, o significado destes em seu processo de desenvolvimento profissional, o que ocorre no ambiente escolar e as peculiaridades deste ambiente como produtor de experiência formadora. Os relatos dos professores (doravante transcritos em itálico e entre aspas) informam que a escolha do magistério como profissão pode ter ocorrido ainda quando criança (“em casa, eu queria brincar de ser professora!”) ou conscientemente na fase adulta (“magistério... tempo de sonhar e idealizar o meu futuro como professora”). Há casos, porém, em que a entrada na carreira “não foi por vontade própria, mas sim por ser o único curso de formação profissional que havia na época [na] cidade”. Tanto uns quanto outros sofreram os impactos da realidade ao iniciarem na profissão. Foi um começo marcado por insegurança, incerteza, medo, frustração e indagações sem respostas. Assim descreve uma professora: “Primeira semana de aula e eu perdida, sem dar conta da minha obrigação; chorava de frustração”. Os professores tinham medo de “não dar conta”, de “trabalhar com criança pequena, de acontecer algo como mordida, cair”, de sala numerosa e também de “não ter domínio sobre a sala”; de “perder o emprego” e “da violência dos alunos”. A cobrança por parte dos pais e da equipe técnica da escola também foi lembrada como geradora de ansiedade e medo, sentimentos estes que dificultavam o desenvolvimento profissional: “[...] me sentia perdida [...] pela cobrança por parte da diretora [...] e por parte dos pais que sabendo que eu não era formada me olhavam de forma desconfiada”. Nem sempre conseguiram superar esses sentimentos, sobretudo se havia lastros no tempo em que eram alunos. O relato de uma professora é ilustrativo: “Nas séries iniciais eu era uma aluna muito dedicada, porém muito boba e ingênua, não tinha amigos, sentia muito medo de todos [...]; até hoje carrego sequelas de insegurança comigo [...]”. Esses professores enfrentaram dificuldades também quanto ao ensino dos conteúdos específicos. Frequentemente se viam obrigados a assumir disciplinas para as quais não foram habilitados (“me deram uma sala de quinta série [...] e lecionava 4 Imagens obtidas de Cunha, R. C. O. B. (2006): “Pelas telas, pelas janelas: a coordenação pedagógica e a formação de professores nas escolas”. Tese (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil. Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 4 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia ciências, história, língua portuguesa e artes para esta turma”). Houve dificuldades, ainda, com a avaliação, como revela uma professora: “a primeira vez que fiz uma prova, ninguém me orientou; a coordenadora me devolveu todas as provas, todas riscadas, dizendo que eu teria que refazê-las”. As estratégias de sobrevivência, diante dos problemas vivenciados, recaíram em práticas intuitivas que privilegiavam a descontração, o lúdico e o diálogo, como formas de tornar as aulas atrativas (“no achismo de quem não sabia o que trabalhar, contei muitas histórias, cantei com os alunos [...] e com essas atividades as crianças foram se identificando comigo e eu com elas...”) e de ganhar a confiança do aluno (“quando o aluno conhece um pouco da história de vida do professor isto gera uma amizade maior, de carinho e afeto”). Outros apelos, como o de “encher a lousa para ocupar o tempo do aluno”, também foram relatados. Segundo Tardif e Raymond (2000), nessa fase de “exploração” o professor faz tentativas e erros, e nessas situações alguns obtêm mais êxito do que outros. Experiências exitosas no início da carreira foram relatadas por um pequeno grupo de participantes deste estudo: “meu primeiro dia de aula [...] foi legal”; “não enfrentei tantos problemas”. Tal sucesso pode ser atribuído a fatores como: atuar em contextos previamente conhecidos (“eu já conhecia as crianças e elas gostaram de saber que eu era a nova professora”), estratégias de ensino adotadas (“montei estratégias de trabalho e busquei conquistar os alunos; conquistei o respeito deles e juntos estipulamos momentos para realizar atividades”), apoio da escola, tanto nas orientações sobre os procedimentos de ensino (“a instituição me apoiou e incentivou”) quanto na organização escolar (“a escola tinha muitas normas e precisavam ser cumpridas e isso contribuía para o bom andamento do trabalho de sala de aula”). Ao refletir sobre os desafios do início da carreira, muitos professores reconheceram que nem sempre os cursos de formação inicial foram suficientes para lhes proporcionar os recursos necessários ao enfrentamento da realidade escolar. Assim sendo, destacaram o papel formador da experiência (“acredito que a base foi o curso de Magistério, o resto aprendi na prática”). Reconheceram também que a formação na experiência é favorecida por um ambiente profissional de cooperação (“diretora e coordenadora apoiavam e incentivavam [...], trocávamos ideias, dificuldades e êxitos na sala de aula”) e no qual alguns colegas lhes podem servir de espelho (“tudo era novo, eu não sabia de nada [...], com o tempo fui observando e aprendendo”). Também foram citados como componentes dos processos formativos os estudos individuais (“Fiz pesquisas, estudei sobre o conteúdo proposto”), os estudos em grupo (“mantínhamos um grupo de estudos, toda semana estudávamos o que havia de mais atualizado na área da Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 5 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia educação”) e a formação nos cursos muitas vezes buscados em localidades distantes (“fui pra São Paulo fazer cursos”). Segundo o que se pode inferir do conteúdo dessas narrativas, os professores souberam identificar algumas das principais características que envolvem a aprendizagem da sua profissão, entre estas, o papel ativo de cada um, a necessidade de muito estudo, esforço e cooperação, os desafios da prática como mobilizadores de novas aprendizagens da docência. Essas ideias vão ao encontro do que defendem Imbernón (2004), Nóvoa (1995), Pacheco e Flores (1999), entre outros, para quem a preparação para a prática docente não se encerra no curso de formação inicial, mas continua ao longo da carreira, no ambiente de trabalho do professor. Tardif (2002, p. 99) esclarece que existe uma “forte relação entre os saberes profissionais e a carreira” constituída por diferentes aspectos ligados ao “domínio progressivo de relações de trabalho”, não só do âmbito didático e pedagógico, mas, também do ambiente da escola e das relações estabelecidas com os diversos atores educativos. Essa relação, fundamentalmente associada ao tempo de experiência, fará transformações da atividade profissional, modelando as práticas do professor, dando-lhes contornos próprios do campo ao qual pertence, acalmando as suas ansiedades, distribuindo e configurando novas relações de poder entre os atores envolvidos no processo. Para Tardif e Raymond (2000), a fase inicial requer ajustes a serem feitos em função da realidade do trabalho e do confronto com a complexidade do exercício da profissão. É, portanto, um momento decisivo na estruturação da prática profissional, ou seja, os acontecimentos que marcam o início da carreira docente podem promover a aprendizagem e o estabelecimento de rotinas e certezas sobre a atividade de ensino que acompanharão o professor ao longo de sua carreira. Nessa direção, Huberman (1995) observa que o início de carreira é marcado pela ambivalência, expressa no desejo de permanecer e de abandonar a profissão, motivado, respectivamente, ora pelo prazer de se aventurar em novas descobertas, ora pelas grandes dificuldades a transpor. Algumas considerações Durante as atividades relatadas os professores puderam refletir sobre os dilemas e dificuldades do início da carreira, o caráter inconclusivo da aprendizagem da profissão, a dimensão formativa dos cursos de graduação e também da escola/ambiente de trabalho. Vale ressaltar que, espontaneamente, poucas menções foram feitas aos cursos de graduação como instância formativa. Porém, ao longo das discussões, os professores Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 6 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia reconheceram que embora os cursos possam estar distanciados da realidade escolar oferecem importantes contribuições teóricas as quais recorrem para compreender diversas situações de sala de aula. Assim sendo, passaram a conceber a formação inicial aliada à prática como lugares de aprendizagem da docência, e que a prática, para se constituir formadora, deve estar acompanhada de muito estudo e reflexão, favorecidos pelo diálogo com os pares e pelo apoio do corpo técnico da escola. As narrativas sugerem que os professores raramente se reconheceram como “bons professores” no início de carreira. Eles se sentiam “perdidos” e, nessa condição, necessitavam de acolhida e amparo para que pudessem confirmar, permanecer e avançar no desenvolvimento da carreira escolhida. Quando a escola o ignorava, o deixava sozinho ou fazia exigências que ele não conseguia cumprir, o professor tendia a desistir ou retroceder na carreira. O presente estudo permitiu evidenciar que, a despeito de haver certa regularidade quanto aos dilemas do início da docência, cada professor constroi uma trajetória singular no processo de desenvolvimento de seu aprendizado profissional. Se o início da carreira é marcado pelo êxito nas tentativas de realização das atividades docentes, e se isto se soma ao sentimento de ser aceito pelo grupo, de orgulho de pertença a uma classe, há boas possibilidades de sobrevivência à fase de “exploração” e, em consequência, da passagem desta para a fase de “estabilização e consolidação”. Por fim, convém registrar que a meta-reflexão, que aguça a capacidade de escuta de si, reconstroi sentidos e significados e, portanto, (trans)forma, parece ser uma prática incomum e por vezes dolorosa para muitos professores que participaram deste trabalho. Mesmo assim, e por isso mesmo, acreditamos que a presente pesquisa se constituiu uma experiência de investigação-formação, uma vez que, ao longo do trabalho realizado, tanto os professores integrantes do Grupo de Pesquisa-Formação, quanto a equipe de pesquisadores, passaram a conhecer um pouco mais sobre a docência e sobre si mesmos como profissionais professores e pesquisadores. Teixeira, Leny – Nogueira, Eliane – Souza Perrelli, Ma. Aparecida – Campos, Edileni 7 II Congreso Internacional sobre profesorado principiante e inserción profesional a la docencia Referências • Abrahão, M. H. M. (2008): “Metamemória-memórias: memoriais rememorados/ narrados/ refletidos em Seminário de Investigação-Formação”, en Passegi, M. da C.; Barbosa, T. M. (Org.), Memórias, memoriais: pesquisa e formação docente. São Paulo, Paulus, pp. 153-177. • Cavaco, M. H (1995): “Ofício do Professor: o tempo e as mudanças”, en Nóvoa, A. (Org.). Profissão Professor, Lisboa, Porto Editora, pp.155-191. • Garcia, M. C. 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