CAIPIRA PICANDO FUMO (1893)
Almeida Júnior
Urupês.
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no
romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca
filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo
logo adivinha o que ele traz: sempre coisas
que a natureza derrama pelo mato e ao
homem só custa o gesto de espichar a mão
e
colher
(...)
Nada
mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as
consequências da lei do menor esforço – e
nisso vai longe.
Começa na morada.
Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram
em
toca
e
gargalhar
o
João-de-Barro.
Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é
uma espipada esteira de Peri posta sobre o chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas –
para os hóspedes. Três pernas permitem o equilíbrio; inútil,
portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o
chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos,
rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo –
colher,
garfo
e
faca
a
um
tempo?
Seus remotos avós não gozavam de maiores quantidades.
Seus netos não meterão a quarta perna no banco. Para quê?
Vive-se bem sem isso.
Se pelotas de barro caem, abrindo
seteiras na parede, Jeca não se move
a repô-las. Ficam pelo resto da vida
os
buracos
abertos,
a
entremostrarem nesgas de céu.
Quando a palha do teto,
apodrecida, greta em fendas por
onde pinga a chuva, Jeca, em vez de
remendar a tortura, limita-se, cada
vez que chove, a aparar numa
gamelinha a água gotejante...
Remendo... Para quê? Se uma casa
dura dez anos e faltam “apenas” nove
para que ele abandone aquela?
Esta filosofia economiza reparos.
Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos
A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo
têm sua parcela de responsabilidade no aumento da silhueta
dos jovens. “Os nossos hábitos alimentares, de modo geral,
mudaram muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no
Brasil, estamos exagerando no sal e no açúcar, além de
tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão.
Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso
de gordura por causa da gula, surge como marca da nova
geração: a preguiça. “Cem por cento das meninas que
participam do Programa não praticavam nenhum esporte”,
revela a psicóloga Cristina Freire, que monitora o
desenvolvimento emocional das voluntárias.
Você provavelmente já sabe
quais são as consequências de uma
rotina sedentária e cheia de gordura.
“E não é novidade que os obesos
têm uma sobrevida menor”, acredita
Claudia Cozer, endocrinologista da
Associação Brasileira para o Estudo
da Obesidade e da Síndrome
Metabólica. Mas, se há cinco anos os
estudos projetavam um futuro
sombrio para os jovens, no cenário
atual as doenças que viriam na
velhice já são parte da rotina deles.
“Os adolescentes já estão sofrendo
com hipertensão e diabete”,
exemplifica Claudia.
ASA BRANCA (FRAGMENTO)
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação. (x2)
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão. (x2)
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração (x2)
TRÊS BANDEIRAS – JASPER JOHNS
A) “- Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
(...)
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. (...)
Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos
eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a
guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e
das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. “
(Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)
B) “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas
verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam
cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como
haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem
progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos
galhos pelados da catinga rala.”
(Vidas Secas – Graciliano Ramos)
C) "Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele
feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de
estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de
contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua
mocidade nisso, a sua virilidade também; (...) E o que não deixara
de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. (...) Desde dezoito anos
que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de
estudar inutilidades.”
(Triste Fim de Policarpo Quaresma – Lima Barreto)
D) “E toda a gentalha daquelas redondezas ia cair lá [taverna de
João Romão], ou então ali ao lado, na casa de pasto, onde os
operários das fábricas e os trabalhadores da pedreira se reuniam
depois do serviço, e ficavam bebendo e conversando até as dez
horas da noite, entre o espesso fumo dos cachimbos, do peixe frito
em azeite e dos lampiões de querosene.”
(O Cortiço – Aluísio Azevedo)
E) “— Não há dúvida, disse D. Antônio de Mariz, (...) . É para mim
uma das coisas mais admiráveis que tenho visto nesta terra, o
caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui entrou,
salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de
abnegação e heroísmo. Crede-me, Álvaro, é um cavalheiro
português no corpo de um selvagem!
(O guarani – José de Alencar)
Os Retirantes ( 1936)
Portinari
A) “Depois, o vaqueiro fitou o caminho, esperando Cassange para
lhe dizer adeus! – mas a cegueira cobre-lhe a vista e deitando
sangue pelos ouvidos, reconheceu que soava a sua hora final;
abraçou Teresinha colando seus lábios nos lábios de sua noiva e
deu-lhe um beijo, amplo eterno como o dos sepulcros.”. (CASTELLO
BRANCO, Francisco Gil. Ataliba, o vaqueiro (1880). 5ª ed. Teresina:
Corisco, 2001)
B) Esse espetáculo de todos os dias, na sua monotonia sinistra, não
a impressionava mais, porque se habituara à vizinhança da miséria
nas formas mais lúgubres e vis. Vira crianças, a sugarem os seios
murchos das mães mortas; cadáveres desses entezinhos
abandonados sobre a estrada, devorados por urubus e cães
vorazes: criaturas, ainda vivas e exangues, torturadas pelas bicadas
de carcarás a lhes arrancarem, aos pedaços, as carnes ulceradas e
podres. (OLÍMPIO, Domingos. Luzia-homem (1903) São Paulo:
Martin Claret, 2005. p. 155)
C) “Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com
uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não
tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns
anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco,
à sombra da mesma cruz. Cordulina no entanto, queria-o vivo.
Embora sofrendo, mas em pé, andando junto dela, chorando de
fome, brigando com os outros... E quando reencetou a marcha pela
estrada infindável, chamejante e vermelha, não cessava de passar
pelos olhos a mão trêmula: - Pobre do meu bichinho!”
(QUEIROZ, Raquel de. O Quinze (1930). Rio de Janeiro: José Olympio,
1973).
D) “Entrou de mansinho e a viu dormida numa cadeira. Os cabelos
longos espalhados nos ombros. Depois de lavados e penteados
tinham-se transformado em cabeleira solta, negra, encaracolada.
Vestia trapos, mas limpos, certamente os da trouxa. Um rasgão na
saia mostrava um pedaço de coxa cor de canela, os seios subiam e
desciam levemente ao ritmo do sono, o rosto sorridente”. (AMADO,
Jorge. Gabriela, cravo e canela (1958). Rio de Janeiro: Record, s.d.)
E) Na casa-grande, que Tubarão e Casimiro Lopes guardavam, a
vida era uma tristeza, um aborrecimento. Dona Glória passava as
tardes debaixo das laranjeiras, empalhando-se com brochuras e
folhetins. Madalena bordava e tinha o rosto coberto de sombras.
Às vezes as sombras se adelgaçavam. E findo o trabalho, tudo
convidava a gente às conversas moles, aos cochilos, ao
embrutecimento. (RAMOS, Graciliano. S. Bernardo (1934). Rio de
Janeiro: Editora Record, 82ª edição, 2005).
VINÍCIUS DE MORAES
RECEITA DE MULHER
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture*
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na
República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e
que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro
minuto da aurora.
MADONA E MENINO (1924)
Vicente do Rêgo Monteiro
MADONA E O MENINO COM ANJOS (1470)
Botticelli
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