Nome: Estudos Literários Turma: Nº: 3º ano Prova mensal – 3º ano – 1º bim. Gabarito para estudos Wilton Mar/11 1) (Fuvest/adaptada) Leia os seguintes versos de “Alegria, Alegria”, canção de Caetano Veloso, e, em seguida, o comentário em que uma autora explica por que essa canção é uma de suas prediletas. Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot (...) Ela pensa em casamento E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento Eu vou Eu tomo uma coca-cola Ela pensa em casamento E uma canção me consola Eu vou Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone No coração do Brasil (...) http: //www.caetanoveloso.com.br I. “A linguagem era nova, cheia de referências visuais, e tudo estava ali, combinando temas que nem sempre pareciam combinar: despreocupação, engajamento político, tecnologia, lirismo... .” (Laura de Mello e Souza. Adaptado). ilustre, de modo mais expressivo, sublinhado nesse comentário. Justifique sua escolha. Transcreva um verso que o que está O verso que melhor faz referência ao comentário sublinhado é “Espaçonaves, guerrilhas”. O primeiro termo (“espaçonaves”) configura uma extrapolação da ideia do avanço tecnológico que Caetano percebia acontecer, enquanto o segundo termo, “guerrilha”, relaciona-se com os movimentos armados de esquerda que se contrapunham às ditaduras existentes à época da composição da canção. Assim, tanto a tecnologia quanto o engajamento político são contemplados no verso. Outra sugestão de resposta: O verso que ilustra, de modo mais expressivo, a combinação entre tecnologia e engajamento político é “Espaçonaves, guerrilhas”. No contexto histórico a que pertence essa canção, “espaçonaves” eram ícones do avanço tecnológico de ponta; já “guerrilhas” é menção à estratégia de grupos armados contra regimes autoritários que, no Brasil, remete aos movimentos de resistência à ditadura militar. Principais equívocos que encontrei nas respostas. 1) Muitos se referiram a fragmentos como “O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas” como um verso. Há aqui dois versos. O enunciado pede um somente. 2) Muitos defenderam que “crimes” (“O sol se reparte em crimes”) se refere a engajamento político. Essa interpretação é muito livre e arriscada. 3) Muitos defenderam que “caras de presidentes” se refere a engajamento político pela simples menção à palavra “presidente”. 4) Gravíssimo: “chutar” quem é Brigitte Bardot sem saber que ela é uma atriz francesa muito famosa nos anos 1950. Para quem não sabe que é ela: Hoje ela é ativista dos direitos dos animais e está assim: 2) (Unicamp) os dicionários de meu pai Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. E por um bom tempo aquele livro me ajudou no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas que eu o folheava à toa. Palavra puxa palavra e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo (desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da Sala Cecília Meireles, o mesmo dicionário em encadernação de percalina. Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. E ao vêlo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito, fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora, só em São Paulo adquiri meia dúzia de exemplares, e ainda rematei o último à venda na Amazon.com antes que algum aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, busanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros). Hoje sou surpreendido pelo anúncio dessa nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade, revirassem meus baús, espalhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível (funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia. (Adaptado de Francisco Buarque de Hollanda, em Francisco F. dos S. Azevedo, Dicionário Analógico da Língua Portuguesa: ideias afins/thesaurus. 2a edição atualizada e revista, Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.) a) A partir do texto de Chico Buarque que introduz o dicionário analógico recentemente reeditado, proponha uma definição para esse tipo de dicionário. A julgar pelo recurso utilizado pelo autor do texto, que consiste em acrescentar, entre parênteses, outros termos de campo semântico semelhantes àqueles das palavras imediatamente anteriores citadas, é possível inferir que o dicionário em questão é uma obra que lista várias palavras de uma língua, acrescentando, ao lado de cada uma delas, outros termos cujos significados são equivalentes, semelhantes ou expandem seu próprio sentido. Outra resposta: “Analógico” é um dicionário que se destina a, para cada palavra que abre um verbete, listar outras que com ela tenham algum tipo de afinidade de sentido. O nome “analógico” indica que o critério para relacionar umas palavras a outras é a analogia, ou seja, a percepção de traços semânticos comuns entre elas. Equívocos mais comuns: 1) Considerar dicionário de sinônimos a mesma coisa que dicionário analógico. 2) Achar que Chico Buarque é autor do dicionário. 3) Achar que Chico Buarque usa o dicionário para encontrar sentidos poéticos para as palavras que pesquisa. Leia os textos a seguir para responder às questões 3 e 4. Texto 1 “Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. (...) Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas as características da espécie. (...) De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da mulher e da prole. (...) Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! (...) Quando comparece às feiras, todo mundo logo advinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...) Seu grande cuidado é espremer todas as conseqüências da lei do menor esforço – e nisto vai longe. (...) Jeca, interpelado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha. – Não paga a pena. (...) Da terra só quer a mandioca, o milho e a cana. A primeira, por ser um pão já amassado pela natureza. Basta arrancar uma raiz e deitá-la nas brasas. Não impõe colheita, nem exige celeiro. O plantio se faz com um palmo de rama fincada em qualquer chão. Não pede cuidados. Não a ataca a formiga. A mandioca é sem vergonha. Monteiro Lobato Extraído do Projeto Memória Texto 2 “Ao tentar compreender a psicologia do sertanejo, Euclides da Cunha fez um ensaio revelador sobre a formação do homem brasileiro. Desmistificou o pensamento vigente entre as elites do período, de que somente os brancos de origem europeia eram legítimos representantes da nação. Mostrou que não existe no país raça branca pura, mas uma infinidade de combinações multirraciais. Previu um destino trágico para o Brasil, se o país continuasse a não levar em conta as diversas raças que o formaram. Mostrou que o Brasil tinha contradições e diferenças étnicas e culturais extremas. Concluiu que havia uma necessidade imperiosa de se inventar uma raça. Caso contrário, o Brasil seria candidato a desaparecer. Para Euclides da Cunha, a mestiçagem enfraquecia o indivíduo e implicava uma perda de identidade – um problema para a concepção de nação. Para ele, o mestiço do litoral é degenerado e o sertanejo, retrógrado. No caso do sertão, porém, considerou que só esse mestiço se adaptaria à região.” http://www.tvcultura.com.br/aloescola/estudosbrasileiros/sertoes/sertoes2.htm 3) O narrador do texto 1 sugere que a figura do caboclo é idealizada indevidamente. Transcreva o trecho em que isso ocorre. A seguir, explique por que o narrador critica essa idealização. Antes de mais nada, as citações possíveis são: “Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé. (...)” Como recortar esse fragmento? “Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade (...) uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso”. “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!” Como recortar esse fragmento? Não se deve recortar porque a citação já é bem reduzida. O trecho em que ocorre tal sugestão por parte do autor é “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feito na realidade!”. Lobato faz essa crítica à idealização do caboclo como um “herói brasileiro” por considerá-lo símbolo do atraso sócio-econômico do Brasil. Utilizando-se da figura do Jeca Tatu, o autor pré-modernista caracteriza esse tipo social como sendo dono de uma grande preguiça e indolência e, para todos os efeitos, alguém “incapaz de evolução, impenetrável ao progresso”. Sob a ótica do escritor, portanto, o caboclo não é digno de tanta atenção e elogio, sendo antes uma figura desprezível. Equívocos mais comuns: 1) Não introduzir a citação. 2) Demonstrar, ainda que sem querer, preconceito em relação aos caboclos. Use aspas para tudo o que possa denotar preconceito. Afinal, não é você que pensa as barbaridades de Lobato. (Se for, não informe isso ao leitor) 3) Confundir o caboclo de Lobato (Vale do Paraíba paulista) com o sertanejo de Euclides (sertão da Bahia). 4) Confundir o indianismo com o caboclismo, misturando as duas figuras, índio e caboclo. 5) Defender que o indianismo (Romantismo – século XIX) é contemporâneo de Lobato (Pré-modernismo – início do século XX) 6) Escrever Romantismo com “r” minúsculo. Chamar artistas românticos de autores do “romancismo” ou “romanticismo”. Não estranhe. A questão de número 4 já foi respondida por mim. Analise criteriosamente a resposta que elaborei e escreva nas linhas do caderno de respostas se considera correta a minha análise. Se considerar que cometi algum(ns) equívoco(s), sublinhe a(s) parte(s) em que localizou deslizes(s) e, posteriormente, corrija-o(s). 4) A caracterização do caboclo, lida no texto 1, é vista por muitos especialistas como “preconceituosa”, o que valeu a Monteiro Lobato inúmeras críticas. A imagem do caboclo no texto denota, de fato, esse preconceito? Explique sua resposta, recorrendo também ao texto 2 (sobre Euclides da Cunha) . A imagem do caboclo como um “parasita” (urupê), que extrai da terra o que ela tem a oferecer até esgotá-la, pode ser derivada de uma visão preconceituosa, mas reflete, de alguma forma, a denúncia do atraso de um Brasil até então desconhecido (elemento presente nas obras do chamado Pré-Modernismo brasileiro). Não se pode negar que Lobato, no perfil que traça do caboclo nesse texto, deixa transparecer os preconceitos da raça e do darwinismo social que marcaram a literatura produzida no século XIX e influenciaram tantos outros autores. Euclides da Cunha, por outro lado, não foi influenciado pelas correntes deterministas da segunda metade do século XIX, por isso não tinha a mesma visão de Lobato, o que se percebe na caracterização que o autor faz do sertanejo em Os sertões. De “A imagem do caboclo” até “influenciaram tantos outros autores”, está correta a resposta. Há um equívoco no fragmento grifado. Correção: Euclides da Cunha foi influenciado pelas correntes da segunda metade do século XIX, por isso tinha, em parte, uma visão semelhante à de Lobato, o que se percebe na caracterização que o autor faz do sertanejo em Os sertões. 5) Você teve oportunidade de ler em classe, criticamente, na íntegra, “Paranoia ou mistificação”, artigo demolidor por meio do qual Monteiro Lobato expressou muitas de suas ideias acerca do conceito de arte. As imagens a seguir são reproduções de dois dos artistas citados por Lobato em seu artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo: Rodin e Chabas. As outras imagens pertencem a Anita Malfatti e servem para ilustrar parte do que foi a exposição da artista, realizada em 1917. Observe atentamente as obras de arte a seguir e, com base em seu conhecimento sobre o artigo de Lobato, analise se as imagens reproduzidas servem como defesa das concepções do autor prémodernista (sobre “processos clássicos dos grandes mestres”, “arte pura”, “princípios imutáveis, leis fundamentais que regem as artes”, “proporção”, “equilíbrio na forma ou na cor”, “arte caricatural”) ou como argumentos concretos para refutar as ideias do criador de Jeca Tatu. Torso de Adèle (Rodin) Andrômeda (Rodin) Two bathers (Paul Chabas) O homem amarelo (Anita Malfatti) A boba (Anita Malfatti) Muito embora tenha escrito uma crítica um tanto quanto convincente à primeira vista, Lobato incorreu em uma série de contradições em “Paranoia ou mistificação”. Além de demonstrar preconceitos artísticos, o criador de Reinações de Narizinho enfrenta problemas ao utilizar-se de artistas que considera “grandes mestres” para criticar a obra de Anita Malfatti. Ao citar o escultor Rodin, por exemplo, como defesa para o ideal de beleza de “preceitos artísticos imutáveis”, Lobato se esquece de que nem toda a obra do francês se resume ao “Pensador” (escultura de grandes qualidades no que diz respeito à mimese). Em “Andrômeda”, a quase fusão entre mulher e rocha deixa evidente que nem o próprio Rodin considerava a “perfeição estética”, em seu “sentido clássico”, como essencial à arte. A falta de clareza de “Two brothers”, de Chabas, por sua vez, dá ainda mais indícios de que a representação idêntica da figura humana e da realidade não necessariamente existe para que se tenha o que Lobato chama de “arte pura”. Por mais que obras como “A boba”, de Malfatti, desviem indubitavelmente de muitos preceitos clássicos de arte, é evidente que tanto a maestria quanto a dimensão sentimental da artista se fazem presentes – provando que, longe de ser uma espécie de “arte caricatural”, a obra de Malfatti representa apenas uma interpretação artística diferente da realidade.