UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Veterinária Dissertação Identificação de Marcadores Bioquímicos e Proteínas de Fase Aguda no Líquido Amniótico de Éguas no Momento do Parto Ilusca Sampaio Finger Pelotas, 2014 ILUSCA SAMPAIO FINGER Identificação de Marcadores Bioquímicos e Proteínas de Fase Aguda no Líquido Amniótico de Éguas no Momento do Parto Dissertação apresentada a o P rograma d e Pós-Graduação e m V eterinária da Universidade F ederal de P elotas, co mo requisito par cial à obt enção do t ítulo d e Mestre em Ciências veterinárias. Orientador: Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira Co-Orientadora: Dra. Bruna da Rosa Curcio Pelotas, 2014 Universidade Federal de Pelotas / Sistema de Bibliotecas Catalogação na Publicação F498i Finger, Ilusca Sampaio FinIdentificação de marcadores biquímicos e proteínas de fase aguda no líquido amniótico de éguas no momento do parto / Ilusca Sampaio Finger ; Carlos Eduardo Wayne Nogueira, orientador ; Bruna da Rosa Curcio, coorientador. — Pelotas, 2014. Fin32 f. : il. FinDissertação (Mestrado) — Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, 2014. Fin1. Gestação. 2. Eletrólitos. 3. Proteinograma. 4. Albumina. 5. Transferrina. I. Nogueira, Carlos Eduardo Wayne, orient. II. Curcio, Bruna da Rosa, coorient. III. Título. CDD : 636.1 Elaborada por Gabriela Machado Lopes CRB: 10/1842 Banca examinadora: Profª. Dra. Bruna da Rosa Curcio Prof. Dr. Augusto Schneider Prof. Dr. Charles Ferreira Martins Agradecimentos À Deus, por me levar aonde a Sua graça esta para me proteger. À minha família, por demonstrar que entre nós deve reinar a confiança, a fidelidade, o respeito mútuo, para que o amor se fortifique e nos una cada vez mais. Sem vocês eu não saberia o significado de permanecer em perfeita união, um para o outro e todos para Deus e que nossas conquistas devem ser edificadas em cima de valores humanos e cristãos. Aos amigos de Itaqui, apesar da distância estão sempre juntos a mim, em meu coração. Às amigas do meu grupo do EMAÚS Pelotas – FIAT, que unidas em Cristo, são meus exemplos de que um amigo ama em todos os momentos. Aos colegas da clínica Albeitar e Millie Marchiori, pela amizade, apoio e oportunidades de aprendizado. As famílias Bálsamo Espinosa e Cremonti, sempre me recebendo de braços abertos em suas casas neste período em Pelotas, como duas verdadeiras famílias. Ao meu orientador, Carlos Eduardo Wayne Nogueira, pela paciência e ensinamentos desde o período de graduação, um verdadeiro mestre. À minha co-orientadora, Bruna da Rosa Curcio, pelo empenho, dedicação e incentivo em meu caminho acadêmico. À todo o grupo de trabalho ClinEq, ao Prof. Charles e todos as outras pessoas que juntas se esforçaram para que esse trabalho fosse realizado. Ao Carlos meu namorado, pela cumplicidade e companheirismo. Resumo FINGER, I lusca Sampaio. Identificação de marcadores bioquímicos e proteínas de fase aguda no líquido amniótico de éguas no m omento do parto. 2014. 32f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. A an álise d o l íquido a mniótico é útil p ara co mpreender o processo bi oquímico q ue envolve a uni dade feto-placentária. O objetivo do pr esente es tudo foi i dentificar marcadores bioquímicos e pr oteínas da fase ag uda no l íquido a mniótico de ég uas saudáveis no m omento do p arto. A co leta do l íquido am niótico foi r ealizada pel o método de amniocentese, assim que exposta a bol sa amniótica na primeira fase do parto, através de punção direta. Foram utilizadas quarenta éguas gestantes, entre 5 e 21 an os de i dade, da r aça P uro S angue I nglês, na r egião S ul d o B rasil. A composição bioquímica f oi avaliada e mpregando-se kits co merciais e o proteinograma pela técnica de eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS – PAGE). Os resultados obtidos de m édia e erro pa drão da média p ara os componentes bioquímicos foram: p H 7, 70+0,02, g licose 1, 22+0,08 ( mg/dL), fosfatase al calina 30,45+2,67 ( UI/L), g amma – GT 4 ,66+0,62 ( UI/L), uréia 3 3,59+2,34 ( mg/dL), creatinina 5,10+0,59(mg/dL), sódio 54,35+2,51 (mEq/L), potássio 1,71+0,12 (mEq/L), cloretos 72,09+5,94 (mEq/L), cálcio 3,86+0,23 (mg/dL), osmolaridade 277,32+17,76 (mOsml/L) e pr oteína t otal 2 6,04+4,39 ( mg/dL). A osm olaridade apr esentou correlação com os íons sódio (R=0,60), potássio (R=0,55) e cá lcio (R=0,53). Foram detectadas vinte e duas proteínas d e fase ag uda, s endo q ue as pr oteínas inflamatórias albumina e transferrina foram identificadas em mais de 97% das éguas avaliadas. F oi p ossível a i dentificação de m arcadores bioquímicos e pr oteínas inflamatórias no l iquido amniótico de ég uas saudáveis a t ermo. S omente a transferrina apr esentou-se di ferente entre o s grupos de i dade, c om c oncentrações inferiores no grupo de éguas mais velhas. Palavras-chave: Gestação. Eletrólitos. Proteinograma. Albumina. Transferrina. Abstract FINGER, Ilusca Sampaio. Identificação de marcadores bioquímicos e proteínas de fase aguda no líquido amniótico de éguas no m omento do pa rto. 2014. 32f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. The anal ysis of a mniotic fluid i s useful f or und erstanding t he bi ochemical pr ocess involving the fetal-placental unit. The aim of this study was to evaluate biochemical profile and acute phase proteins in the amniotic fluid of healthy mares during labor. The co llection o f a mniotic fluid w as performed by am niocentesis method, onc e exposed to the amniotic sac in the first stage of labor, by direct puncture. It has been observed forty T horoughbred pr egnant mares in S outhern B razil. T he biochemical composition was evaluated using commercially kits and proteinogram was measured by el etrophoresis in p oliacrylamide g el ( SDS – PAGE). T he results of m ean and standard error were: pH 7.70+0.02; glucose 1.22+0.08; alkaline phosphatase 30.45+ 2.67 ( IU/L); g amma – GT 4 .6+0.62 ( IU/L), ur ea 3 3.59+2.34 ( mg/dL), cr eatinine 5.10+0.59(mg/dL), so dium 5 4.35+2.51 ( mEq/L); pot assium 1. 71+0.12 ( mEq/L), chloride 72.09+5.94 ( mEq/L); ca lcium 3.86+0.23 ( mg/dL); os molarity 277. 32+17.76 (mOsml/L) and total protein 26.04+4.39 (mg/dL). The osmolarity was correlated with ions sodium (R=0.60), potassium (R=0.55) and calcium (R=0.53). Twenty-two acute phase protein were detected and that inflammatory proteins albumin and t ransferrin have been i dentified i n m ore t han 97% o f t he ev aluated m ares. I t w as possi ble t o identify bi ochemical markers and i nflammatory pr oteins in t he am niotic fluid o f healthy f ull term mares. Only the transferrin presented among different age groups, with lower concentrations in the older group of mares. Keywords: Gestation. Electrolytes. Proteinogram. Albumin. Transferrin. Lista de Tabelas ARTIGO 1 Perfil Bioquímico e Proteínas de Fase Aguda no L íquido Amniótico de Éguas Saudáveis Tabela 1 M édia, Erro P adrão ( S.E), V alores Mínimo e M áximo das variáveis analisadas no líquido amniótico no momento do parto (N=31)................. 22 Tabela 2 M édia, Erro P adrão das Concentrações, V alores Mínimo e M áximo do Peso M olecular d as pr oteínas identificadas no l íquido am niótico no momento do parto (N= 36). ......................................................................23 Lista de Abreviaturas Da - Dálton Gama – GT - Gama Glutamil Transferase IgA - Imunoglobulina A IgG - Imunoglobulina G kDa - Kilo Dálton Mcal - Mega Calorias mEq/L - Mili Equivalente por litro mg/dL - Miligramas por decilitro MHz - Megahertz mL - Mililitro mm - Milimetro mOsml/L - Miliosmol por litro pH - Potencial hidrogeniônico UI/L - Unidade internacional por litro Sumário 1 Introdução .............................................................................................................. 10 2 Objetivos ................................................................................................................ 13 3 Artigo ...................................................................................................................... 14 4 Conclusão geral ..................................................................................................... 30 5 Referências ............................................................................................................ 31 1 INTRODUÇÃO A região sul do Brasil concentra grande parte da criação de equinos da raça Puro S angue I nglês do país, d esta forma, é i mportante o r econhecimento d os principais problemas q ue co mprometem es ta cr iação. Assim c omo o desenvolvimento de ferramentas que aumentem a produtividade da atividade. Sendo que q ualquer di stúrbio oco rrido dur ante a g estação, n o per i-parto ou no per íodo neonatal pode r esultar no co mprometimento d a sa úde do po tro, oca sionando prejuízos aos criadores. As condições que contribuem para perdas em gestações avançadas incluem agentes infecciosos, anormalidades fetais ou placentárias, anormalidades estruturais e do enças sistêmicas da g estante ( MACPHERSON, 20 07). A uni dade ú teroplacentária pode ser comprometida por processos de hipoxemia ou infecção, o que interfere n a di fusão e ntre as circulações materna e fetal, r eduzindo o a porte d e nutrientes e oxigênio para o feto e placenta. Em resposta a este processo, ocorre um estresse fetal que pode dar origem a um retardo no crescimento intra-uterino – IUGR (ROSSDALE, 2004). O IUGR é definido como o nascimento de um indivíduo com o peso at é 10% abaixo do co nsiderado n ormal para a po pulação de aco rdo co m o tempo de g estação ( KITCHEN, 1968), e r esulta de dan o celular e alterações endócrinas, m etabólicas e da função ca rdiovascular. D e aco rdo c om a se veridade destas alterações podem ocorrer morte fetal, aborto ou prematuridade (ROSSDALE, 2004). A ca usa m ais frequente d e per da d e g estação est á ass ociada a pl acentite que, em ég uas, é no rmalmente ca usada p or i nfecção asce ndente v ia ce rvical. A Placentite ascendente é a principal causa de parto prematuro em éguas, representa mais de 30% dos partos prematuros e mortes neonatais dentro das primeiras 24h de vida (MCKINNON, 2009). 11 Com a av aliação obs tétrica da égua dur ante a g estação e no p ós-parto, torna-se possível r econhecer fatores que comprometem a g estação e a viabilidade do f eto e do ne onato. Desta f orma, é possível intervir na ég ua ou no p otro precocemente ao aparecimento de condição clínica. O em brião eq uino se t orna um bl astocisto logo após migrar par a o co rno uterino. Neste momento o em brião encontra-se no estádio de m órula ou blastocisto inicial. As células do embrião compactado se dividem para formar uma mórula de 32 células, a q ual se c aracteriza por apr esentar um pequeno g rupo de cé lulas no interior da estrutura rodeada externamente por outro grupo de células. Estas células, localizadas externamente formarão o t rofoblasto. O qual posteriormente originará o córion, q ue per manece co mo o co ntato d a pl acenta co m o end ométrio dur ante a gestação ( GUINTER, 199 8). O âm nio é formado a p artir de dobras do t rofoblasto, sendo co nstituído por doi s folhetos, e ntre e les há o es paço amniótico, co ntendo o líquido amniótico (ASBURY; LeBLANC. 1993). O l íquido am niótico r eflete o est ado materno f etal t anto p or su a composição como pelo seu volume, tendo importância na boa evolução da gestação (DERTKIGIL et al ., 20 05). A a nálise dest e fluido fetal é utilizada par a co mpreender o pr ocesso bioquímico q ue env olve a uni dade feto-placentária, se ndo p ossível av aliar a viabilidade fetal. Em eq uinos existem pouco s trabalhos sobre o t ema, co ntudo j á foi demonstrado q ue a v ariação n a co ncentração dos componentes bioquímicos do fluido amniótico p ode t er uma r elação si gnificativa co m a sa úde fetal, podendo indicar ce rtas enfermidades (KOCHHAR et al., 199 7).Em éguas da r aça P uro Sangue Inglês, a osmolaridade apresentou uma correlação positiva com a i dade da parturiente, e nzimas e el etrólitos do l íquido am niótico ( CURCIO et al ., 2012). E m estudo realizado por Zanella et al. (2013) os autores identificaram que em éguas, de acordo com o período gestacional, há uma variação na composição bioquímica tanto do líquido amniótico quanto do líquido alantóide. A concentração de lactato no fluido amniótico f oi avaliada no m omento do p arto em ég uas, podendo ser út il na identificação dos n eonatos q ue necessitam de i ntervenção precoce, l ogo a pós o nascimento ( PIRRONE et al ., 201 2). M ais estudos devem se r d esenvolvidos para que o l íquido am niótico poss a se r u ma e ficiente ferramenta n a rotina cl ínica de equinos. 12 Um g rande desa fio n a m edicina env olve a det ecção e m onitoramento da inflamação, a qual resulta de diversas enfermidades (CRISMAN, 2008). Na busca de marcadores precoces da inflamação e processos infecciosos em equinos, pesquisas com proteínas da fase aguda da i nflamação estão sendo desenvolvidas também na espécie equina (GARRY et al., 1996, HULTÉN et al.,1999). Com o estabelecimento de pesquisas nessa área, as proteínas de fase aguda são cada vez mais utilizadas no diagnóstico e prognóstico nas doenças dos animais domésticos (CANISSO et al., 2014).Em resposta a infecção ou injúria, essas proteínas são rapidamente liberadas na c orrente sa nguínea e s uas co ncentrações são di retamente r elacionadas com a severidade da condição inflamatória do animal (CRISMAN, 2008). A av aliação do l íquido am niótico n o m omento do parto é um método p ouco invasivo e ág il capaz de demonstrar processos de comprometimento da pl acenta e feto. Poucos são os estudos clínicos desenvolvidos em líquido amniótico de equino e não há relatos na literatura da realização de proteinograma em fluidos fetais. Desta forma, se faz necessária a i dentificação de marcadores bioquímicos e proteínas de fase ag uda no líquido amniótico de ég uas saudáveis no m omento do par to, sendo este o objetivo explorado nesta dissertação. 2 OBJETIVOS Objetivo Geral O objetivo deste estudo é identificar marcadores bioquímicos e proteínas de fase aguda no líquido amniótico em éguas saudáveis no momento do parto. Objetivo Específico - Realizar pr oteinograma d o l íquido am niótico no momento d o parto e m éguas saudáveis. - Determinar as concentrações de eletrólitos e enzimas presentes no líquido amniótico de éguas saudáveis no momento do parto. 3 ARTIGO PERFIL BIOQUÍMICO E PROTEÍNAS DE FASE AGUDA NO LÍQUIDO AMNIÓTICO DE ÉGUAS SAUDÁVEIS I.S. Finger; B. R. Curcio; C. Haetinger; L.S. Feijó; F.M. Pazinato; N.C. Prestes; C.E.W. Nogueira. Submetido à revista Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 15 1 Artigo 2 3 4 PERFIL BIOQUÍMICO E PROTEÍNAS DE FASE AGUDA NO LÍQUIDO 5 AMNIÓTICO DE ÉGUAS SAUDÁVEIS 6 7 BIOCHEMICAL PROFILE AND ACUTE PHASE PROTEIN OF AMNIOTIC FLUID 8 IN HEALTHY MARES 9 10 I.S. FingerI*; B. R. CurcioIII; C. HaetingerI; L.S. FeijóI; F.M. PazinatoI; N.C. PrestesII; 11 C.E.W. NogueiraIII. 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 I Pós – Graduanda, Faculdade de Veterinária, UFPel, Pelotas, RS II Universidade Estadual de São Paulo, UNESP, Botucatu, SP III Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Veterinária, UFPel, Pelotas, RS *[email protected] 16 26 RESUMO 27 A análise do líquido amniótico é útil para compreender o processo bioquímico que 28 envolve a unidade feto-placentária. O objetivo do presente estudo foi identificar 29 marcadores bioquímicos e proteínas da fase aguda no líquido amniótico de éguas 30 saudáveis no momento do parto. A coleta do líquido amniótico foi realizada pelo 31 método de amniocentese, assim que exposta a bolsa amniótica na primeira fase do parto, 32 através de punção direta. Foram utilizadas quarenta éguas gestantes, entre 5 e 21 anos 33 de idade, da raça Puro Sangue Inglês, na região Sul do Brasil. A composição bioquímica 34 foi avaliada empregando-se kits comerciais e o proteinograma pela técnica de 35 eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS – PAGE). Os resultados obtidos de média e 36 erro padrão da média para os componentes bioquímicos foram: pH 7,70+0,02, glicose 37 1,22+0,08 (mg/dL), fosfatase alcalina 30,45+2,67 (UI/L), gamma – GT 4,66+0,62 38 (UI/L), uréia 33,59+2,34 (mg/dL), creatinina 5,10+0,59(mg/dL), sódio 54,35+2,51 39 (mEq/L), potássio 1,71+0,12 (mEq/L), cloretos 72,09+5,94 (mEq/L), cálcio 3,86+0,23 40 (mg/dL), osmolaridade 277,32+17,76 (mOsml/L) e proteína total 26,04+4,39 (mg/dL). 41 A osmolaridade apresentou correlação com os íons sódio (R=0,60), potássio (R=0,55) e 42 cálcio (R=0,53). Foram detectadas vinte e duas proteínas de fase aguda, sendo que as 43 proteínas inflamatórias albumina e transferrina foram identificadas em mais de 97% das 44 éguas avaliadas. Foi possível a identificação de marcadores bioquímicos e proteínas 45 inflamatórias no liquido amniótico de éguas saudáveis a termo. Somente a transferrina 46 apresentou-se diferente entre os grupos de idade, com concentrações inferiores no grupo 47 de éguas mais velhas. 48 49 50 51 52 53 54 55 56 Palavras–chave: Gestação, Eletrólitos, Proteinograma, Albumina, Tranferrina. 17 57 ABSTRATC 58 The analysis of amniotic fluid is useful for understanding the biochemical process 59 involving the fetal-placental unit. The aim of this study was to evaluate biochemical 60 profile and acute phase proteins in the amniotic fluid of healthy mares during labor. The 61 collection of amniotic fluid was performed by amniocentesis method, once exposed to 62 the amniotic sac in the first stage of labor, by direct puncture. It has been observed forty 63 Thoroughbred pregnant mares in Southern Brazil. The biochemical composition was 64 evaluated using commercially kits and proteinogram was measured by eletrophoresis in 65 poliacrylamide gel (SDS – PAGE). The results of mean and standard error were: pH 66 7.70+0.02; glucose 1.22+0.08; alkaline phosphatase 30.45+ 2.67 (IU/L); gamma – GT 67 4.6+0.62 (IU/L), urea 33.59+2.34 (mg/dL), creatinine 5.10+0.59(mg/dL), sodium 68 54.35+2.51 (mEq/L); potassium 1.71+0.12 (mEq/L), chloride 72.09+5.94 (mEq/L); 69 calcium 3.86+0.23 (mg/dL); osmolarity 277.32+17.76 (mOsml/L) and total protein 70 26.04+4.39 (mg/dL). The osmolarity was correlated with ions sodium (R=0.60), 71 potassium (R=0.55) and calcium (R=0.53). Twenty-two acute phase protein were 72 detected and that inflammatory proteins albumin and transferrin have been identified in 73 more than 97% of the evaluated mares. It was possible to identify biochemical markers 74 and inflammatory proteins in the amniotic fluid of healthy full term mares. Only the 75 transferrin presented among different age groups, with lower concentrations in the older 76 group of mares. 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 Keywords: Gestation, Electrolytes, Proteinogram, Albumin, Transferrin. 18 89 INTRODUÇÃO 90 91 O líquido amniótico no início da gestação é produzido a partir de secreções do 92 epitélio amniótico e da urina fetal. Posteriormente, com o desenvolvimento da gestação, 93 o esfíncter vesical impede a liberação da urina fetal para a cavidade amniótica e a saliva 94 e as secreções nasais fetais passam a fazer parte da composição do líquido amniótico 95 (Baetz et al., 1976).As funções vitais para o desenvolvimento e a manutenção da vida 96 fetal como a oxigenação, nutrição e a remoção das excretas nitrogenadas são realizadas 97 pela circulação placentária (Guinter, 1998; Prestes, 2006). Neste contexto, o líquido 98 amniótico desempenha papel fundamental na gestação como no parto das éguas 99 (Zanella et al., 2013). 100 A unidade útero-placentária pode ser comprometida por processos de 101 hipoxemia ou infecção, o que interfere na difusão entre as circulações materna e fetal, 102 reduzindo o aporte de nutrientes e oxigênio para o feto e a placenta (Rossdale, 2004). O 103 líquido amniótico reflete o estado materno fetal tanto por sua composição como pelo 104 seu volume, tendo importância na boa evolução da gestação (Dertkigil et al., 2005). Em 105 equinos existem poucos trabalhos sobre o tema, contudo já foi demonstrado que a 106 variação na concentração dos componentes bioquímicos do fluido amniótico pode ter 107 uma relação significativa com a saúde fetal, podendo indicar certas enfermidades 108 (Kochhar et al., 1997).Em éguas da raça Puro Sangue Inglês, a osmolaridade apresentou 109 uma correlação positiva com a idade da parturiente, enzimas e eletrólitos do líquido 110 amniótico (Curcio et al., 2012). Em estudo realizado por Zanella et al. (2013) os autores 111 identificaram que em éguas, de acordo com o período gestacional, há uma variação na 112 composição bioquímica tanto do líquido amniótico quanto do líquido alantóide. A 113 concentração de lactato no fluido amniótico foi avaliada no momento do parto em 114 éguas, podendo ser útil na identificação dos neonatos que necessitam de intervenção 115 precoce, logo após o nascimento (Pirrone et al., 2012). Mais estudos devem ser 116 desenvolvidos para que o líquido amniótico possa ser uma eficiente ferramenta na rotina 117 clínica de equinos. 118 Um grande desafio na medicina envolve a detecção e monitoramento da 119 inflamação, a qual resulta de diversas enfermidades (Crisman, 2008). Com o 120 estabelecimento de pesquisas nessa área, as proteínas de fase aguda são cada vez mais 19 121 utilizadas no diagnóstico e prognóstico nas doenças dos animais domésticos (Canisso et 122 al., 2014).Em resposta a infecção ou injúria, essas proteínas são rapidamente liberadas 123 na corrente sanguínea e suas concentrações são diretamente relacionadas com a 124 severidade da condição inflamatória do animal (Crisman, 2008). 125 A avaliação do líquido amniótico no momento do parto é um método pouco 126 invasivo e ágil capaz de demonstrar processos de comprometimento da placenta e feto. 127 Poucos são os estudos clínicos desenvolvidos em líquido amniótico de equino e não há 128 relatos na literatura da realização de proteinograma em fluidos fetais. Desta forma, o 129 objetivo deste estudo é identificar marcadores bioquímicos e proteínas da fase aguda no 130 líquido amniótico de éguas saudáveis no momento do parto. 131 132 MATERIAL E MÉTODOS 133 Animais 134 Este estudo foi realizado em um criatório de cavalos da Raça Puro Sangue 135 Inglês, localizado no município de Bagé, sul do Brasil, latitude 31°34’48.54” e 136 longitude 54°11’06.38”. Todos os procedimentos foram aprovados pela Comissão de 137 Ética em Experimentação Animal (CEEA) da Universidade Federal de Pelotas, sob o 138 número de protocolo 23110.005008/2013-43. 139 As éguas eram mantidas durante o verão em campo nativo e durante o inverno 140 a consorciação de azevém (Lolium multiflorum), trevo branco (Trifolium repens) e 141 cornichão (Lotus corniculatus) como pastagem cultivada. A suplementação era 142 realizada através de ração balanceada com garantia de 12% de proteína e 27,5% Mcal 143 de energia digerível. A água estava disponível ad libitum. 144 Foram utilizadas quarenta éguas gestantes, saudáveis, entre 5 e 21 anos de idade, 145 apresentando o mesmo padrão de escore corporal. As éguas foram divididas em dois 146 grupos de acordo com Madill (2002): o grupo 1 (n= 19), éguas jovens, com idades entre 147 cinco e oito anos (6,8 + 0,32) e o grupo 2 (n= 21), éguas com idade superior a nove 148 anos(13,1 + 0,85). 149 As éguas foram monitoradas durante todo o período gestacional por médico 150 veterinário. Mensalmente eram submetidas a exames de palpação retal e 151 ultrassonográficos para avaliação do feto e da placenta. A partir do 5o mês de gestação 20 152 realizava-se a medição da espessura da junção útero-placentária via transretal utilizando 153 transdutor linear de 5 MHz, conforme descrito Renaudin et al. (1997). 154 Trinta dias antes da data de previsão do parto as éguas eram direcionadas para 155 o lote de parição e mantidas soltas a campo sob vigilância contínua até iniciar o parto. O 156 tempo médio de gestação foi de 345,8 + 1,9 dias. Após o rompimento da bolsa 157 alantoideana e exposição da membrana amniótica eram conduzidas às cocheiras 158 maternidade para que todos os partos fossem assistidos. Todos os partos foram 159 eutócicos com o nascimento de potros viáveis. 160 As placentas foram inspecionadas e pesadas imediatamente após a expulsão. O 161 peso médio das placentas foi de 6,7 + 0,2 Kg. Para avaliação macroscópica, as placentas 162 foram dispostas em formato de “F”, conforme descrito por Schlafer (2004). Foram 163 coletados fragmentos de sete pontos para avaliação histopatológica, sendo estes 164 correspondentes a estrela cervical, corpo uterino, corno gravídico e não gravídico, 165 bifurcação, âmnio e cordão umbilical, estes foram armazenados em tubos Falcon® de 166 50mL acrescidos de solução de formalina tamponada a 10% para fixação e posterior 167 avaliação microscópica. Todas as éguas utilizadas neste estudo apresentaram padrão 168 histopatológicas das placentas sem alteração, de acordo com a avaliação descrita por 169 Lins et al. (2012). 170 171 Coleta de material 172 A coleta do líquido amniótico foi realizada através de punção direta da vesícula 173 amniótica, com seringa de 20mL e agulha (40x12 mm) estéril (método de 174 amniocentese), assim que exposta a bolsa amniótica na primeira fase do parto. 175 176 O material foi imediatamente transferido para tubos falcon® de 15 mL e estocado em freezer sob temperatura de - 20°C para posterior avaliação. 177 178 Análise Bioquímica do Líquido Amniótico 179 As análises bioquímicas foram realizadas no laboratório de patologia clínica da 180 Faculdade de Veterinária e Zootecnia da UNESP/Botucatu, similar ao descrito por 181 Zanella et al. (2013). Foram avaliados pH, glicose, fosfatase alcalina, gamma – GT, 182 uréia, creatinina, sódio, potássio, cloretos, cálcio, osmolaridade e proteína total A 183 quantificação foi realizada com espectrofotômetro, SB – 190 Celm (Companhia 21 184 Equipadora de Laboratórios Modernos, Barueri, São Paulo, SP, Brasil), para todos os 185 elementos, exceto sódio e potássio através do equipamento CELM FC – 280 fotômetro 186 de chama (Companhia Equipadora de Laboratórios Modernos). Para quantificar os 187 níveis de creatinina, uréia e cloretos foi utilizado kit CELM (Companhia Equipadora de 188 Laboratórios Modernos) de acordo com as instruções do fabricante. 189 190 Proteinograma 191 O proteinograma do líquido amniótico foi obtido pela técnica de eletroforese 192 em gel de poliacrilamida contendo dodecil sulfato de sódio (SDS – PAGE), 193 noLaboratório de Pesquisa do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - FCAV - 194 UNESP, Jaboticabal, conforme método descrito por Laemmli (1970) e as 195 recomendações de Fagliari e Silva (2002). Após o fracionamento, o gel foi corado 196 durante duas horas em solução de azul de coomassie; em seguida, foi descorado em 197 solução de metanol e ácido acético. Os pesos moleculares e as concentrações das 198 proteínas foram determinadas mediante leitura em densitômetro computarizado 199 (Densitometer CS9301- PC - Shimadzu, Tokyo-Japan). Para a identificação das 200 proteínas no gel, foi utilizada solução marcadora (Sigma Marker, Wide Range – Saint 201 Louis, USA) com diversos pesos moleculares, variando de 20.000 a 200.000 dáltons. 202 203 Análise Estatística 204 A análise estatística foi realizadacom auxílio do software Statistix8.0® 205 (Analytical Software, Tallahassee, FL, USA). Todos os valores bioquímicos e proteínas 206 de fase aguda foram expressos em média + erro padrão. Os dados foram submetidos a 207 teste de normalidade Shapiro Wilk. Foi realizado para todas as variáveis respostas o 208 teste de correlação de Pearson. As comparações entre as médias das proteínas de fase 209 aguda entre os grupos foram realizadas pelo teste Two Sample T Test. O teste exato de 210 Fisher foi utilizado para comparar os índices de éguas que apresentaram proteínas 211 inflamatórias entre os grupos de idade. 212 213 214 215 22 216 RESULTADOS 217 218 Não foi observada correlação entre as proteínas inflamatórias identificadas no 219 líquido amniótico. No entanto, nas análises bioquímicas foi possível observar que a 220 osmolaridade apresentou correlação positiva com sódio (R = 0.60, p = 0,0001), potássio 221 (R = 0.55, P =0,0004) e cálcio (R = 0.53, P = 0,0007). 222 223 Os resultados das análises bioquímicas realizadas no líquido amniótico das éguas no momento do parto estão apresentados na Tab. 1. 224 225 Tabela 1. Média, Erro Padrão (S.E), Valores Mínimo – Máximo das variáveis 226 analisadas no líquido amniótico no momento do parto (N=31). 227 Variável 228 Média+S.E Valores Mínimo – Máximo 229 pH 7,70+0,02 7,42 – 7,97 230 Glicose (mg/dL) 1,22+0,08 1,0 – 3,0 231 Fosfatase Alcalina (UI/L) 30,45+2,67 8,0 – 95 232 Gamma – GT (UI/L) 4,66+0,62 1,80 – 16,4 233 Uréia (mg/dL) 33,59+2,34 6,80 – 61,8 234 Creatinina (mg/dL) 5,10+0,59 2,0 – 17,3 235 Sódio (mEq/L) 54,35+2,51 31 – 89 236 Potássio (mEq/L) 1,71+0,12 0,9 – 3,5 237 Cloretos (mEq/L) 72,09+5,94 47 – 239 238 Cálcio (mg/dL) 3,86+0,23 1,8 – 6,47 239 Osmolaridade (mOsml/L) 277,32+17,76 143 – 633 240 Proteína Total (mg/dL) 26,04+4,39 9,23 – 139,07 241 242 243 No traçado densitométrico foram detectadas no líquido amniótico vinte e duas 244 proteínas com pesos moleculares variando 19.439 a 272.284 dáltons (Da). Destas, dez 245 proteínas foram consideradas para o estudo, por serem imunoglobulinas e proteínas de 246 fase aguda. Assim nas 36 éguas utilizadas para essa análise, destacaram-se com 247 respectiva percentagem no fluido amniótico a albumina (n=36; 100%), transferrina 23 248 (n=35; 97,22%), IgG cadeia leve (n=33; 91,7%), IgG cadeia pesada (n=30; 83,33%), 249 IgA (n=30; 83,3%), haptoglobina (n=22; 61,11%), ceruloplasmina (n=21; 58,3%), α1 - 250 antitripsina (n=13; 36,11%), α1 - glicoproteína ácida (n=7; 20%) e 23 kDa (n=2; 5,6%). 251 As concentrações destas dez proteínas, apresentadas pela média, juntamente com seus 252 respectivos erros padrões, valores mínimos e máximos dos pesos moleculares, 253 encontram-se na Tab. 2. Na comparação entre os grupos de idade, não foi observada 254 diferença na porcentagem de éguas em que foram identificadas as proteínas 255 inflamatórias. Na avaliação da concentração das proteínas entre os grupos, somente a 256 transferrina apresentou diferença (p=0.01), sendo detectadas médias superiores no grupo 257 de éguas jovens (47,8 + 14,2) em relação às éguas mais velhas (10,3 + 3,7). 258 259 Tabela 2. Média, Erro Padrão das Concentrações, Valores Mínimo e Máximo do Peso 260 Molecular das proteínas identificadas no líquido amniótico no momento do parto 261 (N=36). 262 Proteínas de Fase 263 Aguda 264 N Média+S.E (mg/dL) 265 Valores Mínimo-Máximo (Da) 266 Albumina 36 177,01+30,58 63,74 – 69,76 267 Transferrina 35 37,98+9,47 80,53 – 89,32 IgG Cadeia Leve 33 148,99+39,90 23,80 – 40,60 270 IgG Cadeia Pesada 30 10,43+2,63 23,88 – 61,72 271 IgA 30 1,10+0,51 151,54 – 194,12 272 Haptoglobina 22 17,47+12,88 40,70 – 56,97 273 Ceruloplasmina 21 0,39+0,10 93,40 – 120,40 274 α1 – Antitripsina 13 15,21+9,10 59,41 – 64,30 276 α1 – glicoproteína ácida 7 0,24+0,08 33,86 – 41,40 277 23 kDa 2 7,50+3,35 23,30 – 23,42 268 269 275 278 279 280 281 282 24 283 DISCUSSÃO 284 285 Este estudo determinou componentes bioquímicos em todas as amostras de 286 líquido amniótico obtidas no momento do parto. A unidade feto-placentária é um 287 sistema dinâmico, o qual realiza trocas constantes entre a circulação materna e os 288 fluidos fetais, sendo que a variação nas concentrações desses componentes pode ter uma 289 relação significativa com a saúde fetal (Kochhar et al., 1997). 290 O valor médio encontrado para o pH foi de 7,70. A discreta alcalinidade 291 demonstrada para o valor do pH pode estar relacionada a presença dos eletrólitos, 292 contudo não foi encontrada correlação entre eles. Em equinos não existem valores 293 identificados de pH do líquido amniótico no momento do parto. Em estudo realizado 294 por Martins (2004) o pH identificado no líquido amniótico de cadelas variou de 7,50 a 295 8,50.Em estudo realizado em ovelhas por Prestes et al.(2001), os autores observaram 296 uma diminuição do pH ao longo da gestação, os autores sugerem que esta diminuição 297 ocorra devido ao aumento de secreções e eliminação de proteínas oromucóides. 298 A composição eletrolítica do líquido amniótico varia muito e essas trocas 299 refletem a atividade dos rins, pulmões e trato digestório (Gulbis et al.,1998). No 300 presente estudo os níveis de sódio identificados foram inferiores aos valores obtidos nas 301 três fases da gestação por Zanella et al. (2013). 302 De acordo com o estudo realizado por Kochhar et al.(1997) há uma elevação 303 na concentração de íons potássio e cálcio no fluido alantóide, sugerindo um aumento da 304 urina e atividade metabólica fetal. Estes eletrólitos demonstraram uma diminuição no 305 líquido amniótico no momento do parto ao comparar com os dados obtidos para o terço 306 final da gestação por Zanella et al.(2013). 307 Em estudo realizado em ovelhas por Prestes et al. (2001), os cloretos 308 demonstraram a mesma tendência que o sódio. Em que houve uma diminuição dos 309 níveis ao longo dos terços gestacionais. Zanella et al. (2013) observaram um aumento 310 no terço médio e uma redução no terço final da gestação. Em nosso estudo, os níveis 311 dos íons cloretos foram superiores aos valores obtidos por Zanella et al. (2013). Através 312 do estudo dos eletrólitos como sódio, potássio e cálcio foi possível demonstrar que estes 313 componentes e suas respectivas variações influenciaram na osmolaridade do líquido 314 amniótico. 25 315 O valor médio de 1,22 mg/dL para os níveis de glicose no líquido amniótico no 316 momento do parto foi inferior ao valor de 4.0 mg/dL observado por Zanella et al. (2013) 317 no terço final da gestação. Isto demonstra que há uma redução na concentração de 318 glicose de acordo com a evolução da gestação em éguas saudáveis. Em mulheres, a 319 glicose do fluido amniótico é utilizada como um indicador sensível e específico de 320 infecção intra-amniótica (Kirshon et al., 1991). Em estudos com ovelhas (Burd et al., 321 1975; Carter et al., 1993) os autores demonstraram que a placenta metaboliza 322 rapidamente a glicose, produzindo grande quantidade de lactato como subproduto. A 323 concentração de lactato no líquido amniótico de equinos esta relacionada positivamente 324 com o pH do potro imediatamente após o nascimento, uma vez que um pH baixo pode 325 indicar hipóxia neonatal (Pirrone et al.,2012). 326 A fosfatase alcalina está correlacionada com maturidade, formação óssea e 327 principalmente, com a função renal fetal (Hahnemann, 1974). Pode ocorrer um aumento 328 da atividade da enzima devido a maturação avançada do intestino, fígado, ossos e rins 329 fetais, a entrada direta de células descamadas da mucosa intestinal no líquido amniótico 330 ou eventual passagem de matéria fecal durante o processo de nascimento (Williams et 331 al., 1993). Os níveis obtidos para esta enzima em nosso trabalho no momento do parto, 332 foram inferiores ao valor obtido por Zanella et al. (2013) no terço final da gestação. 333 Sugerindo que com a proximidade do parto, em éguas saudáveis, há uma redução na 334 atividade da fosfatase alcalina. 335 Em estudo realizado por Prestes et al. (2001) foi possível determinar grande 336 concentração da enzima gama – GT nos rins, pâncreas e fígado, participando do 337 metabolismo de vários mediadores de funções fisiológicas. Assim, os valores obtidos 338 para esta enzima no líquido amniótico no momento do parto demonstram a atividade 339 destes órgãos em potros oriundos de éguas gestantes saudáveis. 340 A concentração média de uréia foi de 33.59, valor este inferior ao valor obtido 341 por Zanella et al. (2013), no terço final da gestação. Através destes valores é possível 342 observar uma redução nos níveis de uréia no liquido amniótico no momento do parto. 343 O aumento na concentração de creatinina no líquido amniótico reflete a 344 maturação do sistema urinário no neonato equino (Williams et al., 1993), uma vez que a 345 creatinina representa um bom marcador de maturação e função renal em humanos 346 (Begneaud et al., 1969). O rim fetal é afuncional durante o seu período de formação, 26 347 porém sua contribuição no final do processo de maturação fetal é importante para a 348 sobrevida do concepto (Lumbers et al., 1985). O estudo realizado em ovelhas sem 349 alterações gestacionais por Prestes et al. (2001), comprovou que os valores de creatinina 350 no líquido amniótico aumentaram conforme a evolução da gestação. Para Vaala (1999), 351 o nível de creatinina sérica não é um marcador confiável da função renal dos potros 352 neonatos, porque a placenta é a principal responsável pela eliminação de metabólitos do 353 feto e a elevação da creatinina é geralmente uma consequência de disfunção placentária. 354 Desta forma, o nível obtido de creatinina no líquido amniótico de éguas sadias reflete 355 uma adequada função feto-placentária, e um potencial marcador dessa condição. 356 Em estudos realizados por Canisso et al. (2014) e Coutinho et al. (2013), os 357 autores demonstraram um aumento nos níveis séricos das proteínas inflamatórias 358 haptoglobina e Amilóide A sérica, em éguas com alterações inflamatórias na placenta. 359 No líquido amniótico de equinos, não há relato da avaliação de proteínas de fase aguda. 360 A albumina demonstrou estar presente em todas (100%) as amostras (177.01+30.58 361 mg/dL). A proteína identificada com peso molecular de23 kDa (7.50+3.35 mg/dL) 362 apresentou o menor percentual e foi identificada em apenas duas amostras (5,6%). 363 A transferrina, proteína de fase aguda negativa, apresentou um valor 364 significativamente inferior no grupo de éguas mais velhas. Apresentando um padrão 365 similar ao descrito sobre as concentrações de albumina, em vacas multíparas, o que 366 pode representar um marcador de processos inflamatórios associados a processos 367 reprodutivos no pós-parto (Krause et al., 2013). 368 369 CONCLUSÃO 370 371 Foi possível identificar marcadores bioquímicos e proteínas inflamatórias no 372 líquido amniótico de éguas saudáveis no momento do parto. Somente a transferrina 373 apresentou-se diferente entre os grupos de idade, com concentrações menores no grupo 374 de éguas mais velhas. 375 376 377 378 27 379 REFERÊNCIAS 380 381 BAETZ, A.L.; HUBERT, W.T.; GRAHAM, C.K. Changes of biochemical constituents 382 in Bovine fetal fluids with gestoterial age. Am J Vet. Res., v. 37, 1976. 383 BEGNEAUD,W.P.; TRUMAN, P.H.; ABE MICKAL, M.D. et al. Amniotic Fluid 384 Creatinine for Prediction of Fetal Maturity. Obstetrics and Gynecology., v. 34, p. 7-13, 385 1969. 386 BURD, L.I.; JONES, M.D Jr., SIMMONS, M.A. et al. 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Amniocentesis and 4 CONCLUSÃO GERAL Poucos são os estudos desenvolvidos em l íquido am niótico n a esp écie equina. D esta forma, a partir dos resultados bioquímicos e o pr oteinograma apresentados foi possível determinar valores de referência para a análise do líquido amniótico d e ég uas saudáveis no m omento d o par to. Somente a t ransferrina apresentou-se diferente entre os grupos de idade, com concentrações inferiores no grupo de éguas mais velhas. Mais estudos devem ser desenvolvidos para que o l íquido amniótico possa ser uma eficiente ferramenta na rotina clínica de equinos. 5 REFERÊNCIAS ASBURY, A .C., L eBLANC, M .M. T he p lacenta. In : M cKINNON, A .O.,VOSS, J. L. Equine reproduction. Pennsylvania: Lea & Febiger, 1993. p. 509-516. CANISSO, I.C .; B ALL,B.A.; TROEDSSON, M .H.; C RAY, C .; DAVOLLI, G.M .; SQUIRES, E.L.; WILLIAMS, N.M. Acute phase proteins and total leukocyte counts in blood of mares with experimentally induced ascending placentitis. 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