II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS O ENSINO DE FILOSOFIA ATRAVÉS DE SÓCRATES BATISTA, Fábio NOGUEIRA, Rogério RODRIGUES, Maria Bethânia Helbe SILVA, Amanda Cristina Santos VALLE, Juliana da Silva GABRIEL, Fábio Antonio (professor supervisor) SILVA, José Carlos (coordenador PIBID FILOSOFIA) (SUBPROJETO FILOSOFIA/ COLÉGIO ESTADUAL RIO BRANCO/ SANTO ANTONIO DA PLATINA PR) INTRODUÇÃO No segundo semestre do ano de 2012 demos início às atividades do PIBID/UENP, subprojeto de Filosofia no Colégio Estadual Rio Branco, na cidade de Santo Antônio da Platina, PR, em coordenação-geral do professor José Carlos e supervisão do professor Fábio Antonio Gabriel. As atividades, desde então, têm sido diversas: desde o acompanhamento e a participação nas aulas do professor Fábio no Colégio Estadual Rio Branco até a produção de um minicurso para a V Jornada de Debates em Filosofia realizada na UENP, Campus Jacarezinho, cujo título foi: “Pensar com Foucault: o poder disciplinar e a(s) escola(s)”. Este ano, entre outras atividades, o professor Fabio propôs-nos que cada aluno que participa do projeto PIBID, Subprojeto de Filosofia, produza um artigo no qual se apresentem considerações envolvendo o ensino de Filosofia, apresentado em forma de comunicação para o Congresso de Educação. O tema que me foi proposto para trabalhar relaciona-se com o início da história do pensamento filosófico; trata-se de trabalhar, com base no pensamento de Sócrates, o ensino da filosofia para o ensino médio, isto é, pensar o ensino de filosofia recorrendo a duas “ferramentas”, caras ao filosofar socrático: a ironia e a maiêutica; sendo a ironia o princípio e a maiêutica o meio para se pensar e “ensinar” filosofia. Utilizando tais “ferramentas”, tem-se, II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS portanto, uma aula em que o professor é o mediador de um diálogo que contempla o pensamento filosófico de Sócrates, sem jamais perder de vista o “rigor” que uma aula de filosofia, assim como outra, deve ter. Utilizaremos, para tal estudo, textos publicados a respeito do tema; e, quando pertinente, recorreremos ao pensamento socrático que nos foi legado com base nos escritos de outros filósofos: Platão; Xenofonte e Aristófanes, tendo em vista que, como é sabido, Sócrates nada escreveu. Dividimos nosso trabalho em duas partes: a primeira refere-se ao ensino de filosofia e a nossa experiência no Colégio Estadual Rio Branco; a segunda refere-se ao método socrático e o ensino de filosofia. Vamos à primeira parte. OBJETIVOS E A EXPERIÊNCIA DO SUBPROJETO FILOSOFIA NO COLÉGIO ESTADUAL RIO BRANCO É possível observamos que, historicamente, a filosofia sempre manteve relação com a educação. Certamente não com a educação tal como a conhecemos atualmente, mas, ainda assim, um conhecimento que podemos chamar de educação. Um exemplo, e marco histórico de tal relacionamento, foi a identificação que Sócrates manteve com os cidadãos atenienses e seus discípulos. Sócrates praticava a filosofia em espaços públicos de Atenas, indagando e inquirindo a todos sobre as mais variadas temáticas, transitando da justiça ao belo, o que poderia provocar certo desconforto ou um “despertar” em seus interlocutores. Os Diálogos de Platão apresentam-se como testemunho dessa prática filosófica empreendida por Sócrates. A relação entre o filósofo e seu interlocutor era mediada pelo diálogo: isto consistia em um processo de perguntas e respostas. Sócrates promoveu com isso uma reviravolta no modo de se praticar a filosofia e trouxe também uma nova temática a ser explorada: o homem. Se assim era a relação entre filosofia e educação na Antiguidade, na cidade de Atenas, por volta do século V-IV a.C., atualmente tudo transcorre de forma diferente. A filosofia é hoje ensinada nas escolas, instituições fechadas, em aulas ministradas com hora marcada para começar e terminar. O que se ensina é a história da filosofia. Por II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS vezes, em ordem cronológica e linear; por vezes, em uma abordagem temática. Quem ensina não é mais o filósofo, mas o professor de filosofia. No Brasil, o ensino de filosofia, como disciplina obrigatória no ensino médio, é ideia recente, não mais que cinco ou seis anos. Aulas de filosofia até eram ministradas em algumas escolas, mas em caráter optativo e restrito apenas a poucas aulas em todo o ensino médio. O estado do Paraná tem, com relação a essa história, um diferencial: ele foi o único que recentemente formulou um livro didático para a disciplina com a participação dos professores da rede pública da educação básica fundamental. Tal livro didático, distribuído por todo o estado do Paraná, foi dividido em seis eixos temáticos: Mito e Filosofia; Teoria do Conhecimento; Ética; Filosofia Política; Filosofia da Ciência; Estética. Foi adotado predominantemente até 2011, uma vez que, no início de 2012, o MEC distribuiu outras três versões de livros didáticos de filosofia para as escolas de todo o Brasil. No Colégio Rio Branco temos utilizado, nas aulas que participamos com o professor Fábio, quatro volumes, ou seja, o material produzido pela Secretaria de Educação do estado do Paraná, mais três volumes distribuídos pelo Governo Federal, além de outros materiais que o professor oferece. As aulas são ministradas nas três séries do ensino médio: 1ª; 2ª e 3ª, e também nas turmas de ensino profissionalizante: administração e informática. Temos acompanhado todas as séries possíveis para percebermos a diversidade dos conteúdos abordados. Nas primeiras séries, o professor trabalhou o conteúdo relacionado com o eixo temático: Mito e Filosofia, que tem o objetivo de atuar como uma introdução à filosofia, uma vez que a maior parte dos alunos da escola ainda não dispõe de tais noções, assim como não conhece a história da filosofia. No segundo ano, trabalham-se nesse início de ano temas como racionalismo, empirismo e criticismo. Já no terceiro ano, temas relacionados com a ética e a filosofia política. Trabalhamos com textos, quadro e giz e recorremos à exposição dialogada do conteúdo com os alunos. Tanto as atividades quanto as avaliações são variadas e, de acordo com o professor Fábio, supervisor, os alunos e a direção têm apreciado positivamente a presença do projeto nas aulas de filosofia do Colégio. II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS Estas considerações a respeito do trabalho desenvolvido destacam as experiências que podemos descrever sobre nossa participação no Subprojeto de Filosofia. E é com base nessas experiências que pretendemos desenvolver a segunda parte de nosso artigo: no que a filosofia socrática e seu método podem nos ajudar no ensino de filosofia do ensino médio. A METODOLOGIA SOCRÁTICA E O ENSINO DE FILOSOFIA Sócrates nasceu e morreu em Atenas (470 – 399 a.C.) e “não se consegue distinguir facilmente o Sócrates histórico da personagem platônica”, (personagem dos diálogos de Platão) “e são poucas as outras fontes sobre a vida e as doutrinas de Sócrates (Xenofonte é uma delas). Serviu como soldado no Peloponeso, casou-se com Xantipa, de quem teve três filhos" (BLACKURN, 1997, p.366) e era filho de um escultor, Sofronisco, e de uma parteira, Fenareta. Morreu muito provavelmente em decorrência de sua prática filosófica. A filosofia aqui conduziu o filósofo à morte, considerando-se que, quando atingia os setenta anos, foi condenado à morte por sua forma de pensar. Sócrates entrou para a história como uma figura que fundou um novo tempo na filosofia, tanto pelo método que praticava quanto pela temática que desenvolvia. Representa, de certa forma, o que o senso comum imagina de imediato em um filósofo: um homem já velho; barbas longas, sem pretensões à honra ou à riqueza, preocupado apenas com discussões filosóficas. Ora, em certa medida, Sócrates pode ser assim descrito, mas foi muito mais do que isso, assim como também um filósofo nem sempre apresenta a imagem repetida de um Sócrates. Existem filósofos sem barba, e nem sempre são velhos, e por vezes são ricos, e mulheres que também se ocuparam e se ocupam da filosofia, e assim por diante. De acordo com Blackburn, Sócrates “permanece como o modelo de um grande professor, mas não é certo que tenha tido qualquer coisa como uma escola formal”. (BLACKBURN, p. 366, 1997) Ora, mas se Sócrates pode ser considerado um modelo de professor, como e o que ele ensinava? Sabe-se que não se comportava tal como os sofistas que viajavam de cidade em cidade, ensinando a arte da retórica e da II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS persuasão aos jovens. Os sofistas eram filósofos e professores que recebiam dinheiro por seus ensinamentos. Górgias e Prótagoras são os mais conhecidos entre eles; e ficaram conhecidos por serem personagens e darem títulos a dois diálogos platônicos. Sócrates, ao contrário, não se interessava em cobrar por seus ensinamentos, nem os conhecimentos que transmitia tinham relação com o ensino da retórica; seus ensinamentos centravam-se na procura do conhecimento e da verdade que “habitava” em cada um, e, para tal empreitada, Sócrates fazia uso do que hoje podemos chamar de método. Temos aí a descrição dos dois momentos do método socrático de filosofar e ensinar: primeiro conduzir o diálogo mediante perguntas e respostas, segundo, tal meio conduzia à aquisição do conhecimento por parte do aluno. O primeiro momento é preparado pela ironia, ou seja, Sócrates colocava-se em uma “postura de ignorância” diante de seu aluno ou interlocutor. E, assim, começava o diálogo. Por fim, no segundo momento, com o processo de aquisição do conhecimento, apresentava-se a maiêutica, ou o parto das ideias. Tais procedimentos evidenciavam que a ironia e a maiêutica constituíam os dois polos do método socrático. Diferente era a atitude de seu interlocutor que dizia saber, mas que, no decorrer do diálogo, demonstrava não saber, e sequer sabia que não sabia; portanto, nada sabia. Sócrates parecia colocarse em vantagem em relação a seu interlocutor ao assumir essa atitude logo de início. Mas, “as perguntas de Sócrates não alimentavam o objetivo de confundir as pessoas ou de ridicularizar o conhecimento que esse outro apresentava a respeito das coisas, ao contrário, visava a motivá-las a alcançar um conhecimento mais profundo (…)”. (MENDES, p. 44, 2006) RESULTADOS Nosso tema aqui discutido nasceu de uma experiência concreta do cotidiano escolar. E, para pensá-lo e desdobrá-lo, recorremos a alguns textos sobre o tema. Com nosso texto, mostramos que o método socrático não só é possível de ser utilizado, mas, também, que já é utilizado certamente por muitos professores sem que eles tenham percebido tal forma de ensinar. Isto porque o método socrático, de perguntas e respostas, adotado na Antiguidade Clássica, na Grécia e em Atenas, já se II ENCONTRO DE DIVULGAÇÃO DE ATIVIDADES DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO PIBID–UENP: DESAFIOS E PERSPECTIVAS constitui parte integrante da cultural ocidental. Nós, professores, podemos e devemos fazer uso dele de modo consciente e aproveitar suas potencialidades para o ensino de filosofia. O professor de filosofia deve permanecer tal como Sócrates: como mediador de um diálogo que permita sempre a construção de novos conhecimentos. REFERÊNCIAS: BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. FALABRETTI, Ericson Sávio; OLIVEIRA, Jelson Roberto de. Didática da Filosofia. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010. MENDES, Ademir Aparecido Pinhelli. Ironia e Maiêutica. In: Filosofia Ensino Médio. Vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. PESSANHA, José Américo Motta. Sócrates vida e obra. In: Sócrates. Pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1987. PLATÃO. Defesa de Sócrates. In: Sócrates. Pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1987. XAVIER, Ingrid. Filosofia no Ensino Médio: possibilidade de uma educação filosófica. In: TV Escola. Salto para o futuro. Filosofia: ensino e educação. Ano XXI Boletim 10 Setembro 2011.