Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares Aline Ribeiro de Sá Teoria de campos aplicada ao grafeno: um estudo Rio de Janeiro 2014 Aline Ribeiro de Sá Teoria de campos aplicada ao grafeno: um estudo Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do tı́tulo de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Fı́sica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Dr. Vitor Emanuel Rodino Lemes Coorientador: Prof. Dr. Marcio André Lopes Capri Rio de Janeiro 2014 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/ REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CTC/D S111 Sá, Aline Ribeiro de. Teoria de campos aplicada ao grafeno: um estudo / Aline Ribeiro de. -2014. 81 f.: il. Orientador: Vitor Emanuel Rodino Lemes. Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Física de Armando Dias Tavares. 1. Teoria de campos (Física) - Teses. 2. Grafeno - Teses. 3. Bósons -Teses. 4. Dirac, Equações de - Teses. 5. Matéria condensada - Teses. I. Lemes, Vitor Emanuel Rodino. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Física Armando Dias Tavares. III. Título. CDU 530.145 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte. __________________________________________________________ Assinatura _________________________ Data Aline Ribeiro de Sá Teoria de campos aplicada ao grafeno: um estudo Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do tı́tulo de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Fı́sica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 28 de Agosto de 2014. Banca Examinadora: Prof. Dr. Vitor Emanuel Rodino Lemes (Orientador) Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares – UERJ Prof. Dr. Marcio André Lopes Capri (Coorientador) Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares – UERJ Prof. Dr. Luis Antonio Campinho Pereira da Mota Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares – UERJ Prof. Dr. Bruno Werneck Mintz Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares – UERJ Prof. Dr. José Abdalla Helayël-Neto Centro Brasileiro de Pesquisas Fı́sicas Rio de Janeiro 2014 DEDICATÓRIA A Charlot, Pantro e Teodoro Vinı́cius. AGRADECIMENTOS A Deus. Aos meus avós. Aos meus pais. Ao meu tio João Paulo Ribeiro Gomes. Aos meus cachorros. Aos meus irmãos. Ao meu namorado, Igor Martins, por toda dedicação. Aos meus amigos que me aturam na alegria e na tristeza desde a aprovação no vestibular, Maria Elidaiana, Paula de Chiara, Laı́s Rodrigues, Yves Eduardo e Gustavo Vicente. Aos amigos Eduardo Coelho, Otávio Goldoni, Eduardo Lenho Coelho. Ao meu orientador Vitor Lemes, pelo trabalho, pela paciência, por não me deixar desistir e principalmente pelo respeito que teve com todas as minhas dificuldades. Ao meu coorientador Márcio Capri. Aos professores José Roberto Pinheiro Mahon, Silvio Paolo Sorella, Marcelo Chiapparini, José Helayël e César Linhares. Aos meus amigos da turma de TQC I, II e III, Luiz Gustavo Cardoso Maria, Diego Rocha Granado e Igor Figueiredo Justo, vocês fizeram meus dias mais divertidos. Ao Rogério Teixeira, sempre solı́cito e disposto a ajudar os alunos. A Nádia Lobo e toda equipe da biblioteca, por toda ajuda com o material bibliográfico. A CAPES, pelo apoio financeiro. A amiga Isabel Resende e sua famı́lia, por todas as orações. Ao professor Radamanto Nascimento, eternamente. Não pense que não é para você. Helayël RESUMO SÁ, A. R. Teoria de campos aplicada ao grafeno: um estudo. 2014. 81 f.Dissertação (Mestrado em Fı́sica) – Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Este trabalho visa a um estudo de bosonização de sistemas férmiônicos. As relações entre a bosonização e matéria condensada, notóriamente o caso do Grafeno, são apresentados e depois discutimos as possı́veis implicações do mecanismo de i-particles na existência de correlatores de 4 correntes. Cálculos em D = 4 também são realizados para que se possa observar o diferente comportamento da ação bosonizada em diferentes dimensões. Palavras-chave: Grafeno. bosonização. “i-particle”. ABSTRACT SÁ, A. R. Field Theory applied to graphene: a study. 2014. 81 f. Dissertação (Mestrado em Fı́sica) – Instituto de Fı́sica Armando Dias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. This work aims to study the bosonization of fermionic systems. Relations between bosonization and condensed matter, notoriously the case of graphene, are presented and then discussed. The possible implications of the mechanism of it i-particles in 4 current correlators. Calculations in D = 4 are also performed in order to observe the different behavior of bosonized action in different dimensions. Keywords: Graphene. bosonization. i-particle. SUMÁRIO 1 1.1 1.1.1 1.1.2 1.2 1.2.1 1.2.2 1.2.3 1.2.4 2 2.1 2.1.1 2.1.2 2.2 3 3.1 3.2 3.3 3.4 4 4.1 4.2 4.2.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REVISÃO DE MÉTODOS DE ESTUDO EM MATÉRIA CONDENSADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Segunda Quantização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Formulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mar de elétrons livres de um metal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modelo da Ligação Forte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Teorema de Bloch . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modelo de Kronig-Penney . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Hamiltoniana da Ligação Forte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aplicação à estruturas reais de rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O MODELO DE DIRAC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Um resumo das caracterı́sticas do grafeno . . . . . . . . . . . . . . Uma camada de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Múltiplas camadas de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Construindo o modelo de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . TEORIA QUÂNTICA DE CAMPOS NO GRAFENO . . . . . Interações elétron-elétron em uma única camada de grafeno . . Quebra de simetria quiral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O funcional gerador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O operador de polarização baseado no modelo de Dirac . . . . . CÁLCULOS DO OPERADOR DE POLARIZAÇÃO . . . . . . Uma camada de grafeno - Equação de Dirac acoplada ao campo eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Duas camadas de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Análise em D=4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . APÊNDICE A – Cálculo do Traço das Matrizes Gama . . . . . . . . APÊNDICE B – Alguns conceitos úteis em regularização dimensional . 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 11 11 16 18 19 21 23 27 30 30 30 34 35 39 39 41 41 44 46 . . . . . . . 46 55 70 77 78 79 81 9 INTRODUÇÃO A ligação entre a teoria de campos e partı́culas e a matéria condensada tem se mostrado muito fecunda para ambos os ramos de pesquisa. O mecanismo de Higgs que permite através de uma quebra espontânea de simetria a obtenção de massa para as teorias de calibre é um dos grandes exemplos da correlação entre ideias que surgem, originalmente em matéria condensada e se mostram bastante relevantes em fı́sica de partı́culas. Em particular gostaria de enfatizar o mecanismo de confinamento para a QCD proposto por t’ Hooft e Mandelstam (T’HOOFT, 1998; T’HOOFT; BRUCKMANN, 1999) por volta da metade da década de 70. Este mecanismo se baseia na propriedade de supercondutores de tipo II de que seus campos magnéticos se mantém colimados em tubos de fluxo conhecidos como vórtices de Abrikosov. Se um par de monopólos magnéticos puder ser produzido no interior de um supercondutor de tipo II então, um tubo de fluxo ocorreria ligando os dois monopólos dando origem a um potencial, estático, linear entre os monopólos. Como sabemos um potencial linear é suficiente para garantir confinamento. Desta forma t’ Hooft e Mandelstam propuseram que o vácuo da QCD se assemelhe a um supercondutor de tipo II com a inversão dos papéis entre os campos elétricos e magnéticos. Em vez de um condensado de partı́culas elétricamente carregadas, os pares de cooper de um supercondutor, haveria o condensado de cargas magnéticas e monopólos magnéticos são os candidatos naturais a preencher este papel. Desta forma ao invés de termos os campos magnéticos de cor (confinamento se dá em grupos não abelianos, portanto com cor) terı́amos campos elétricos “coloridos” que seriam colimados no tubo de fluxo dando origem um potencial linear. Esta ideia de confinamento por meio de uma supercondutividade dual tem uma enorme influência no estudo do confinamento até os nossos dias, apesar de ser basicamente um mecanismo abeliano para o confinamento visto que os monopólos são normalmente definidos com respeito a um grupo abeliano. No contexto de teorias não abelianas o que ocorre é se separar o subgrupo abeliano, o que é realizado com a ajuda de um mecanismo de quebra como Higgs ou um operador composto , como pode ser o caso de operadores não locais após adequadamente localizados com campos auxiliares. Não vamos entrar nos detalhes de todo o mecanismo de implementação desta abordagem ao confinamento, no entanto gostaria de comentar que este mecanismo é responsável pelo confinamento na QED compacta em D = 3 tal qual demonstrado por Polyakov (POLYAKOV, 1977; SEMENOV-TYAN-SHANSKII; FRANKE, 1986). Paralelamente um dos materiais mais interessantes em estudo atualmente é o grafeno. O grafeno é um cristal bidimensional formado por átomos de carbono organizados em uma rede hexagonal “honeycomb”: uma única camada de grafite. Um dos mais interessantes aspectos fı́sicos do grafeno de um ponto de vista teórico é a profunda e produtiva 10 relação com a eletrodinâmica quântica (QED) e outros conceitos da teoria quântica de campos(SEMENOFF, 1984). A conexão surge do fato que, em baixa energia, as excitações de quase partı́culas do sistema podem ser modeladas pela equação de Dirac sem massa em duas dimensões espaciais. Nesse caso, a velocidade da luz c é trocada pela velocidade de Fermi vF ' c/300. Fica claro portanto que o grafeno pode ser um interessante modelo para o estudo de mecanismos de confinamento. Claro que, devido as quase partı́culas se comportarem como férmions, um dos elementos interessantes para estudo neste sistema é a condutividade, podemos realizar um estudo dos comportamento das correntes neste modelo por meio de uma bosonização. Aliás este é um dos procedimentos comuns para obtenção da condutividade elétrica em materiais. Desta forma esta dissertação tem por objetivo estudar as propriedades do Grafeno e os resultados obtidos para este material por métodos clássicos de matéria condensada. Pretendemos, desta forma obter um mecanismo de mão dupla onde possamos aprender o máximo possı́vel neste sistema sobre suas coneções com a teoria de campos e usar o mesmo como motivador para o estudo de mecanismos de exclusão dos férmions do espectro observável. Este objetivo será a parte final desta dissertação e antecipamos que o resultado tem o comportamento de “i-particles” que é uma forma de exclusão das partı́culas presentes no espéctro fı́sico que ocorre em teorias de calibre onde se realiza a restrição a primeira região de Gribov. Este assunto por si só é muito extenso e é um tema de pesquisa atual. Não adentraremos nos detalhes de Gribov, apenas usaremos o conceito de “i-particles” como uma forma de demonstrar que um modelo com férmions não abelianos pode ser responsável pelo confinamento das quase partı́culas. Esta dissertação consiste de 2 capı́tulos de revisão de matéria condensada explicitamente voltados para o grafeno e depois passamos para os cálculos de teoria de campos propriamente ditos. Ao final apresentamos o resultado de uma bosonização de uma ação fermiônica que fornece um indicativo de confinamento das correntes nas camadas de grafeno. 11 1 REVISÃO DE MÉTODOS DE ESTUDO EM MATÉRIA CONDENSADA 1.1 Segunda Quantização A fı́sica do estado sólido lida com o comportamento coletivo de muitos elétrons no contexto de ı́ons localizados periodicamente. A necessidade de tratar o sistema de muitas partı́culas de uma maneira simples e consistente se tornou iminente. Será apresentada uma discussão sobre segunda quantização(WEINBERG, 1996), que é apenas uma formulação de um sistema quântico de muitas partı́culas. Em seguida, o gás de Fermi não interagente é introduzido tanto como uma ilustração do poder e do uso da segunda quantização bem como um “bloco de construção” sobre o qual as complicações de sólidos reais serão fundadas. 1.1.1 Formulação Ao considerar uma partı́cula dentro de uma caixa, sabe-se que os auto-estados dessa partı́cula são descritos por funções harmônicas. De forma a simplificar o problema, resolvemos um problema quântico de uma partı́cula confinada a um anel de raio R. A posição da partı́cula pode ser definida por um ângulo θ ou por x ≡ Rθ. A equação de Schrödinger expressa em termos de x é da forma: − ~2 d2 ψ(x) = Eψ(x). 2m dx2 Esta equação pode ser simplificada escrevendo k 2 = d2 2 + k ψ(x) = 0. dx2 (1) 2mE ~2 , então teremos (2) A solução desta equação diferencial é Aeikx +Be−ikx . Por se estar lidando com uma partı́cula sobre um anel, precisamos também de uma autofunção que obedeça a seguinte propriedade ψ(x + 2πR) = ψ(x). Essa é a condição de unicidade da função de onda. Fazendo L ≡ 2πR, imediatamente vemos que somente uma seleção especial de valores de k obedecerão este vı́nculo: kL = 2πn, n = inteiro. (3) 12 Como resultado as auto-energias precisam obedecer ~2 En = 2m 2πn L 2 . (4) O que foi descrito acima é atualmente um procedimento muito geral para lidar com um problema quântico. Primeiro reduzimos o problema para algum tipo de equação diferencial. As soluções dessa equação são as autofunções de um problema conhecido. Finalmente existem alguns vı́nculos, tais como a unicidade da função de onda discutida acima, que restringe os números quânticos. No caso da partı́cula sobre um anel, a restrição foi sobre o momento, que implica a quantização da energia. Agora vamos perguntar o que acontece quando nós colocamos duas partı́culas sobre um anel. É necessário mais do que uma coordenada para descrever o sistema, então vamos introduzir x1 e x2 para denotar a posição das partı́culas. A equação de Schrödinger para o caso de duas partı́culas será ~2 − 2m d2 d2 + dx21 dx22 ψ(x1 , x2 ) = Eψ(x1 , x2 ). (5) A autofunção ψ(x1 , x2 ) depende de duas coordenadas porque há duas partı́culas no sistema. Por outro lado, não se pode deixar a noção de que cada partı́cula comportase mais ou menos como antes quando era apenas uma única partı́cula no anel. Isso será verdade se as duas partı́culas não interagirem entre si. Por exemplo, se essas duas e2 entre as duas, partı́culas forem carregadas, então haverá um potencial de Coulomb |xe11−x 2| e não podemos mais dizer que o movimento das partı́culas é independente. Por agora, ignoraremos este efeito de interação e verificaremos nossa intuição sobre a independência de duas partı́culas. Escrevendo ψ(x1 , x2 ) = ϕ(x1 )ϕ(x2 ) - isso é apenas uma separação de variáveis - e substituindo na Eq. (5) obtemos d2 2 + k1 ϕ (x1 ) = 0, dx21 2 d 2 + k2 ϕ (x2 ) = 0, dx22 2 (6) ~ (k12 + k22 ). A energia é a soma das energias do estado individual ϕ (x1 ) e e E = 2m ϕ (x2 ), como deveria ser caso as duas partı́culas fossem de fato não interagentes. Como no problema de uma partı́cula, sabemos que cada autofunção é caracterizada por um número quântico n, onde n é dado por k = 2πn/L. Uma vez que há duas partı́culas, temos mais dois números, (n1 , n2 ), para especificar completamente os auto-estados do sistema. As autofunções associadas às duas partı́culas podem ser escritas como φn1 (x1 ) φn2 (x2 ). 13 Isso indicará o estado fı́sico onde a partı́cula número 1 reside no auto-estado de número quântico (n1 ), e a partı́cula número 2 estará no estado de número quântico (n2 ). Pode-se também escrever os auto-estados com as duas partı́culas localizadas em (n1 ) e em (n2 ). Porém, uma vez que as duas partı́culas são assumidas idênticas, esse é o mesmo estado que foi descrito anteriormente. De forma bastante simplificada, temos φn1 (x1 ) φn2 (x2 ) ∼ φn1 (x2 ) φn2 (x1 ) (7) Então, qual estado nós escolhemos para descrever o estado que é caracterizado pela ocupação dos dois estados quânticos (n1 , n2 ) : |n1 n2 i? A resposta é dada pelo princı́pio da exclusão de Pauli, que afirma que os dois elétrons não devem ocupar o mesmo estado quântico. Essa afirmação encontra sua forma matemática na seguinte combinação linear: 1 1 φn1 (x1 ) φn1 (x2 ) ψ (x1 , x2 ) = √ [φn1 (x1 ) φn2 (x2 ) − φn1 (x2 ) φn2 (x1 )] = √ = 2 2 φn2 (x1 ) φn2 (x2 ) Temos então que essa função de onda se torna nula para n1 = n2 (duas linhas iguais), ou seja, a probabilidade de dois elétrons ocuparem o mesmo estado quântico é nula. Similarmente, encontra-se que a função de onda se anula para x1 = x2 (duas colunas √ iguais). O fator global 1/ 2 é inserido de modo que a função de onda de duas partı́culas R ψ (x1 , x2 ) é mais uma vez normalizada: dx1 dx2 |ψ (x1 , x2 ) |2 = 1. Para três partı́culas em um anel, o mesmo raciocı́nio nos permitirá escrever a função de onda que também obedece ao princı́pio de Pauli: φn (x1 ) φn (x2 ) φn (x3 ) 1 1 1 1 ψ (x1 , x2 , x3 ) = √ φn2 (x1 ) φn2 (x2 ) φn2 (x3 ) . 3! φn3 (x1 ) φn3 (x2 ) φn3 (x3 ) A generalização para um sistema arbitrário de N -elétrons agora deve ser óbvia. Esse tipo de determinante para a função de onda é conhecido como determinante de Slater. Usaremos, no entanto, um método mais conveniente para nossos propósitos de estabelecer uma ligação direta com a teoria quântica de campos. Esse método é chamado de “segunda quantização”. A segunda quantização é um modo conveniente de expressar a função de onda para um sistema de várias partı́culas. Antes de discutirmos o formalismo, somos lembrados novamente que a informação total contida na função de onda pode ser convenientemente resumida como |ψi = |n1 , n2 , n3 i. Generalizando para N -partı́culas confinadas sobre o mesmo anel. Naturalmente o auto-estado é caracterizado por N inteiros, (n1 , n2 , ..., nN ), cada ni especificando o estado 14 das partı́culas que formam o sistema. Agora vamos discutir uma forma completamente diferente, mas ainda equivalente, de escrever o mesmo estado. Em vez de se preocupar com o estado que a partı́cula está, simplesmente dizemos quantas partı́culas existem em cada estado. Por exemplo, se existem 10 partı́culas sobre um anel e três delas estão no estado n = 1, quatro no estado n = 2 e as três restantes em n = 3, então dizemos que o estado é |3, 4, 3, 0, 0, ...i. Os números da esquerda para a direita indicam quantas partı́culas existem em cada auto-estado. Geralmente, o estado terá a atribuição |N1 N2 N3 ...i com Ni o número de partı́culas no estado i. Existe um formalismo que permite escrever estados arbitrários de muitas partı́culas em um anel usando os chamados operadores de criação a†n para cada estado n. Por exemplo, |3, 4, 3, 0, 0, ...i poderia ser escrito como (a†3 )3 (a†2 )4 (a†1 )3 |0i. Essa expressão, quando lida da direita para a esquerda, diz o seguinte: a partir do vácuo |0i (um estado com nenhuma partı́cula) insira (crie) três partı́culas no auto-estado 1 (a†1 a†1 a†1 = (a†1 )3 ) quatro partı́culas no estado n = 2 ((a†2 )4 ), e finalmente três no estado n = 3 ((a†3 )3 ). Uma vez que a adição de uma partı́cula foi determinada pela notação a†n , definimos an para expressar a ação de remover uma partı́cula do estado n. Existe um conjunto de regras que esses operadores de criação/aniquilação precisam obedecer, que são listadas abaixo. a†m a†n = a†n a†m an am = am an am a†n = a†n am (n 6= m) am a†m = a†m am + 1. (8) Podemos tomar o conjunto de regras de comutação dado acima como um ansatz. As regras de comutação, como elas são conhecidas e mostradas na Eq. (8), é o ansatz que provou estar em excelente acordo com a natureza de sistemas como os descritos anteriormente. Existem dois tipos de partı́culas na natureza. Os bósons, que obedecem às regras de comutação mostradas na Eq. (8). O outro tipo são os férmions, como os elétrons e os quarks e que obedecem a um tipo diferente de regra, conhecida como relação de anti-comutação: 15 c†m c†n = −c†n c†m cn cm = −cm cn cm c†n = −c†n cm (n 6= m) cm c†m = −c†m cm + 1. (9) Aqui cm c†m aniquila (cria) uma partı́cula, um férmion, no estado m. A diferença nas regras tem como consequência o princı́pio de exclusão de Pauli. Porque c†m c†n = −c†n c†m aplica-se para m = n bem como a mesma operação aplicada duas vezes em uma linha 2 da c†m = 0. Isso significa que adicionando duas partı́culas a um estado existente, não 2 obtemos nada porque c†m |ψi = 0. Consequentemente adicionar duas partı́culas em um 2 mesmo estado é proibido para férmions. Em particular, se |ψi = |0i, temos c†m |0i = 0. Isso implica que um dado estado m pode ser tanto vazio (|0i) quanto individualmente ocupado (|1i). Usando os operadores de aniquilação/criação construı́dos acima, podemos descrever todos os processos quânticos imagináveis. Por exemplo, como descrito anteriormente, a adição de uma partı́cula a um estado particular m é dada por c†m e a aniquilação de uma partı́cula que já está num estado m é dada por cm . E como mover uma partı́cula de um estado m para um outro estado n? Isso pode ser alcançado primeiro aniquilando uma partı́cula que já existiu em m e depois criando a mesma partı́cula no novo estado n :∼ c†n cm . Agora, introduziremos na construção do Hamiltoniano: c†m cm . A aplicação desse operador sobre um estado arbitrário |mi é c+ m cm |Nm i = Nm |Nm i. (10) Se o estado contém Nm partı́culas no estado m, c†m cm retorna o mesmo estado com o número de partı́cula Nm multiplicando-o. Esse é chamado de operador número. Usando os operadores número é simples construir o Hamiltoniano na forma da segunda quantização. Ele é H= X m m c†m cm = X m Nm . (11) m m é a auto-energia do estado de uma partı́cula única obtida da diagonalização da equação de Schrödinger. O Hamiltoniano mede a energia total do sistema, que não é nada mais do que a soma das auto-energias individuais multiplicadas pelo número de partı́culas que 16 ocupam o estado. 1.1.2 Mar de elétrons livres de um metal O comportamento qualitativo dos elétrons em um metal, ignorando a repulsão de Coulomb entre dois elétrons, faz com que cada elétron no metal seja considerado uma partı́cula livre. A descrição quântica de uma partı́cula livre em três dimensões é dada pela equação de Schrödinger − ~2 2 ∇ ψ (x, y, z) = Eψ (x, y, z) 2m (12) com solução ψk (r) = √1V eik·r e a correspondente energia Ek = ~2 k2 /2m. O volume da caixa no qual os elétrons estão enclausurados é V . O processo de colocar um elétron em um estado k particular é denotado por c+ k |0i, onde |0i representa uma caixa vazia, com número zero de elétrons. O elétron tem um spin (pra cima e pra baixo), e o mesmo momento no estado k pode ser ocupado por um elétron com spin pra cima e um com spin pra baixo. Vamos dizer que colocamos um elétron em um estado de momento k e spin− ↑. Tal processo é dado pela expressão |k ↑i = c+ k↑ |0i. Temos um número grande de elétrons e cada um está esperando por seu lugar nesta caixa, então temos que decidir onde colocar o segundo elétron nesta caixa. Podemos apenas colocar um elétron em um dos auto-estados do Hamiltoniano (12). Isso é simplesmente o que os auto-estados significam. Podemos colocar o segundo elétron, por exemplo, no mesmo estado k, mas com um spin diferente e o resultado seria um estado dado por + |k ↓, k ↑i = c+ k↑ ck↓ |0i. Um terceiro elétron inserido em um estado de momento p, spin− ↑ irá se trans+ + formar em c+ p↑ ck↓ ck↑ |0i. Dessa forma a regra é para N elétrons ocupando um conjunto de nı́veis definidos por {ki , σi }, i = 1, ..., N , onde o estado eletrônico N é dado por |ψi = Y {kσ} c+ kσ |0i. (13) 17 O produto é sobre N diferentes {kσ}. O estado de energia mais baixo é obtido quando colocamos dois elétrons de spins opostos em estados de energia sucessivamente mais altos, partindo do menor estado de energia. Tal estado é representado simplesmente por |F Si = Y + c+ k↓ ck↑ |0i. (14) |k|<kf Este é o menor estado de energia possı́vel para N elétrons não interagentes, isto é, ele é o estado fundamental. O estado de maior energia ocupado pelo elétron tem uma energia Ef , relacionada ao momento de Fermi kf por Ef = ~2 kf2 2m e é chamada de energia de Fermi. O contorno consistindo de k-estados tendo a mesma energia está na forma de uma esfera em um espaço tridimensional gerado por (kx , ky , kz ). A forma do estado de maior energia também é uma esfera, que é chamada de superfı́cie de Fermi. O momento de Fermi kf tem uma conexão próxima a densidade média do elétron ρ = N/V . Para ver como relacionar kf a ρ, primeiro pense em uma esfera de raio kf no espaço dos momentos. Todos os elétrons ficam dentro desta esfera, então o número total de elétrons é proporcional ao volume da esfera. O volume é dado por 4πkf3 /3. Se dividimos isso pelo volume ocupado por cada elétron, então não precisamos obter N/2. O fator extra 2 é devido à degenerescência do spin. Então qual é o volume do k-espaço ocupado por cada estado eletrônico? Para achar a resposta, voltemos a equação de Schrödinger do elétron livre, cuja solução para uma caixa de lados (Lx , Ly , Lz ) é caracterizada por k: k = 2π nx ny nz , , Lx Ly Lz . Usando este resultado é fácil ver que o volume associado com cada estado é apenas (2π) /Lx , Ly Lz = (2π)3 /V . Então temos 3 4πkf3 /3 V kf3 N = = . 2 6π 2 (2π)3 /V 18 Uma vez que N/V = ρ, a densidade é de fato relacionada a kf através de kf3 ρ = 2 , kf3 = 3π 2 ρ. 3π (15) Devido a esta relação a energia de Fermi está também relacionada a densidade de elétrons via Ef = 2/3 ~2 2π 2 ρ . 2m (16) Em metais tı́picos, o momento de Fermi é mais ou menos o inverso do espaçamento de rede, kf ∼ 1/a. A energia de Fermi é tipicamente da ordem ~2 /2ma2 . Recorde que o nı́vel do estado fundamental do átomo de hidrogênio também tem uma energia de ordem e2 /a. Essa também é a quantidade de energia cinética ~2 /2ma2 , então inferimos que a energia de Fermi é de aproximadamente 10 eV para um metal tı́pico. Para tornar este argumento mais preciso, escrevemos e2 ~2 2 (kf aB ) = (kf aB )2 Ef = 2 2maB 2aB (17) usando o raio de Bohr do átomo de hidrogênio aB e a conhecida relação entre as energias potencial e cinética ~2 /2ma2B = e2 /2aB . A unidade de energia e2 /2aB é conhecida como Rydberg (Ry) e é igual a 13.6 eV. Conforme dito, kf aB ∼ 1 e Ef ∼ 1 Ry. Existe também a temperatura de Fermi, que está relacionada à energia de Fermi por Ef = kB Tf , com kB sendo a constante de Boltzmann. O fator de conversão tı́pico é 104 Kelvin para 1 elétronvolt, então a energia de Fermi de 10 eV corresponde a 105 graus. 1.2 Modelo da Ligação Forte Um aspecto do movimento de um elétron em um sólido que marcadamente diverge daquele em um espaço livre é que o movimento está sujeito a um potencial periódico criado pelos ı́ons. O método da ligação forte (QUINN; YI, 2009) oferece uma visão simples da modificação no movimento eletrônico e nos nı́veis de energia provocada pelo potencial, que é fácil de entender e ainda de muito valor prático(NETO, 2012). Começamos com uma discussão do teorema de Bloch, um enunciado geral sobre as funções de onda da equação de Schrödinger com potencial modulado periodicamente e o modelo de KroningPenny que é o modelo exatamente resolvido mais simples com potencial periódico. A hamiltoniana da ligação forte é introduzida usando a linguagem da segunda quantização 19 apresentada no capı́tulo anterior e é aplicada a algumas estruturas de rede. 1.2.1 Teorema de Bloch Por um potencial periódico entende-se o tipo de potencial que obedece V (r + R = V (r)) para qualquer vetor R conectando dois sı́tios iônicos. A Hamiltoniana do movimento eletrônico em um sólido é governada pela equação de Schrödinger H=− ~2 2 ∇ ψ(r) + V (r)ψ(r) = Eψ(r). 2m (18) A solução dessa Hamiltoniana é obtida usando a análise de Fourier. Simplificando, porém sem perda de generalidade, apresentamos o caso de uma dimensão. Sendo V (x) periódico sobre o espaçamento da rede a, V (x + a) = V (x), sua expansão de Fourier deve ser da forma V (x) = ∞ X Vm eimGx . (19) m=−∞ onde G refere-se a G = 2π . O vetor 1 G e todos os seus múltiplos inteiros são coletivamente a conhecidos como vetores da rede recı́proca. Vm são alguns coeficientes cujo valor exato depende da forma exata de V (x) e obedecem a relação V−m = Vm∗ . Impomos a condição de contorno periódica ψ(x + L) = ψ(x), onde L é a dimensão da rede. Então, ψ(x) tem a seguinte expansão de Fourier ψ(x) = ∞ X ψn ei(2πn/L)x . (20) n=−∞ O conjunto de modos permitidos na expansão de ψ(x) é tão mais denso quanto aqueles dos vetores de onda permitidos na expansão de Fourier de V (x) pela razão L/a. Sem perda de generalidade, mantendo a forma mais simples do potencial periódico V (x) = V1 (eiGx + e−iGx ) = 2V1 cos[Gx], G = 2π/a, na derivação e conectando a expansão 1 Será um vetor em duas e três dimensões. 20 de Fourier de ψ(x) [(21)] e V (x) [(20)] na equação de Schrödinger, obtém-se X ikx e k ~2 k 2 E− 2m ψk = V1 eiGx + e−iGx X eipx ψp . (21) p Cada componente multiplicando uma onda plana eikx de ambos os lados dessa equação deve coincidir. Significa que apenas as componentes de p iguais k +G ou k −G sobrevivem na soma: ~2 k 2 E− 2m ψk = V1 (ψk+G + ψk−G ) . (22) O conjunto de vetores k correm sobre todos os múltiplos inteiros de 2π/L, onde G = 2π/a. Apenas um pequeno subconjunto de diferentes vetores k são conectados pela modulação periódica correspondendo ao vetor de onda G. Sem qualquer perda de generalidade, podese restringir os valores de k dentro de um intervalo [−G/2, G/2] que é conhecido como a zona de Brillouin. Esse número também é igual ao número de sı́tios na rede. Cada k na zona de Brillouin Eq. (22) define uma equação linear acoplada que oferece um conjunto de auto-energias Ekα e um conjunto de autofunções, também rotuladas por α . Voltando ao problema original dado na Eq. (18) concluı́mos que o auto-estado da Hamiltoniana é caracterizado por dois ı́ndices, k e α. Cada um desses auto-estados é denotado por ψkα (x), e a auto-energia correspondente, Ekα . O auto-estado na expansão de Fourier aparece como ψkα (x) = ∞ X α ψk+nG ei(k+nG)x . (23) n=−∞ α onde ψk+nG são os coeficientes que satisfazem a Eq. (18). Usando um potencial mais geral V (x) complicará o r.h.s da Eq. (22), mas de fato existe um conjunto de soluções independentes rotuladas por α , para cada k na zona de Brillouin. A expressão (23) é a mais geral das imagináveis para a solução do problema do potencial periódico. A solução assim encontrada tem a seguinte propriedade: Uma vez que apenas um conjunto de k 0 s diferindo por G = 2π/a são conectados, o espaço real de funções obedece ψkα (x + a) = ∞ X α ψk+nG ei(k+nG)(x+a) = eika ψkα (x). (24) n=−∞ A função de onda ψkα capta um fator de fase eika cada vez que ela é transladada por um 21 espaçamento da rede a. Essa é uma propriedade que deve ser obedecida por todas as autofunções do problema e o fator de fase depende apenas de k, não de α . O argumento completo é facilmente generalizado para dimensões mais altas. 1.2.2 Modelo de Kronig-Penney Nessa seção consideraremos um caso resolvido exatamente do movimento eletrônico em uma dimensão. O potencial experimentado pelo elétron tem que ser periódico sobre o espaçamento da rede a, escolhemos uma série de funções delta como potencial: V (x) = V0 δ(x − na). A equação de Schrödinger para uma partı́cula confinada a esse tipo de potencial é ~2 d2 + V (x) ψ(x) = Eψ(x). − 2m dx2 (25) A solução dessa equação é dada pela forma ψn (x) = An eik(x−na) + Bn e−ik(x−na) . (26) onde (n − 1)a < x < na, pois nessa região o potencial desaparece. Embora a função de onda tenha essa forma em toda região, os coeficientes An e Bn diferem para cada uma delas. Esses coeficientes restritos são obtidos por meio das condições de contorno. A primeira condição de contorno é aquela que a função de onda deve ser contı́nua quando vai de uma região (dita n) para uma região adjacente (dita n + 1). Isso dá ψn (na) = ψn+1 (na). (27) A próxima condição de contorno pode ser obtida integrando a equação de Schrödinger de 0− a 0+ de x = na e notando a continuidade da função de onda, 0 ψn+1 (na) − ψn0 (na) = 2mV0 ψn (na). ~2 (28) A terceira condição de contorno é o teorema de Bloch, que afirma que em um potencial 22 periódico a função de onda pode ser escolhida para satisfazer ψ(x + a) = eiϕ ψ(x) (29) para algum adequado ϕ . Em resumo, temos as seguintes condições de contorno, • ψn (na) = ψn+1 (na) 0 (na) − ψn0 (na) = • ψn+1 2mV0 ψn (na) ~2 • ψ(x + a) = eiϕ ψ(x) Da última das condições de contorno acima, temos An+1 = An eiϕ (30a) Bn+1 = Bn eiϕ (30b) Do restante das condições de contorno, temos An + Bn = An eiϕ−ika + Bn eiϕ+ika 0 (An + Bn ) = 0. ik (An − Bn ) − ik An eiϕ−ika − Bn eiϕ+ika + 2mV ~2 (31) Essas duas equações podem ser reescritas como 1 − eiϕ−ika An + 1 − eiϕ+ika Bn = 0 2imV0 iϕ+ika 0 1 − eiϕ−ika − 2imV A − 1 − e + Bn = 0. n 2 2 k~ k~ (32) ou escritas em forma matricial, 1 − eiϕ−ika 1 − eiϕ+ika An 1 − eiϕ−ika − 2imV0 k~2 − 1 − eiϕ+ika + 2imV0 k~2 0 = Bn . 0 (33) 23 De modo que An e Bn tenham soluções não triviais, o determinante da matriz quadrada acima deve ser igual a zero, iϕ−ika 1−e 2imV0 2imV0 iϕ+ika iϕ−ika iϕ+ika 1−e + 1−e − + 1−e = 0. k~2 k~2 (34) Alguma manipulação algébrica leva a cosϕ = cos(ka) + mV0 sin(ka). k~2 (35) Uma vez que cosϕ pode ter apenas valores entre -1 e 1, apenas determinadas regiões k dão os valores possı́veis para o momento. Para outros valores de k pode-se encontrar φ que satisfaz a Eq. (35). A auto-energia para o estado dado na Eq. (26) é ~2 k 2 /2m, mas nem todos os valores de k correspondem ao auto-estado. Isso leva a espaços no espectro de energia. O modelo de Kronig-Penney demonstra uma caracterı́stica marcante do movimento eletrônico em um sólido periódico, ou seja, o aparecimento de um intervalo de energia separando bandas de energias diferentes. 1.2.3 Hamiltoniana da Ligação Forte Para uma primeira aproximação(PEREIRA; NETO; PERES, 2008), os elétrons são fortemente atraı́dos pelos centros dos ı́ons através da força de Coulomb. A representação atômica de um elétron orbitando um único ı́on é modificada pelo acoplamento que permite que o elétron salte de um sı́tio iônico para o sı́tio iônico seguinte. A origem do acoplamento é a sobreposição finita da função de onda eletrônica para cada ı́on com a do vizinho. O modelo da forte ligação oferece uma maneira simples, mas muito útil de modelar essas duas tendências concorrentes que ocorrem em qualquer sólido. Considere o movimento de elétrons sobre um anel similar a nossa consideração anterior, mas dessa vez, os elétrons podem ocupar apenas uma seleção de N estados discretos uniformemente espaçados ao longo da circunferência do anel. Vamos primeiro pensar sobre o que significa para um elétron ocupar um dado sı́tio i. Podemos, por exemplo, pensar em cada sı́tio como um poço potencial com seu próprio espectro de energia. Por simplicidade, assumimos que cada poço tem apenas um nı́vel de energia, com energia −0 , embora um átomo real deva possuir vários desses tais nı́veis. Se um elétron ocupa aquele nı́vel, o sistema adquire uma energia −0 . Se não existe elétron 24 naquele estado, a energia do sistema é zero. Essa afirmação pode ser estendida à linguagem da segunda quantização usando a Hamiltoniana H = −0 c† c. Sabemos que a Hamiltoniana é um operador cujo valor de espera corresponde à energia e também sabemos que c† c mede o número de elétrons naquele estado. Então, nossa primeira afirmação se traduz em hHi = −0 hc† ci, ou (energia)=(−0 ) × (número de elétrons presentes naquele estado) e de fato essa é a afirmação correta. O caso em questão tem N poços de potencial idênticos, cada um caracterizado pela mesma P energia de ligação −0 . A Hamiltoniana nesse caso é H = i (−0 )c†i ci , onde c†i ci mede a ocupação eletrônica no i -ésimo sı́tio. Agora, a afirmação sobre a energia torna-se (energia total)= P i (−0 )× (número de elétrons no sı́tio i ). Porém, sabemos que essa não é a circunstância mais geral que pode ocorrer quanticamente. Os poços potenciais não são completamente deslocados. Nesse caso, as funções de onda localizadas nos sı́tios adjacentes i e j têm alguma sobreposição não nula causando tunelamento entre os nı́veis localizados. Como fazemos para adicionar o efeito de tunelamento em nossa Hamiltoniana? O que o tunelamento faz é remover uma partı́cula da posição i e colocá-la na posição j, através de uma barreira de tunelamento. Na linguagem da segunda quantização esse fenômeno é expresso pelo termo −t(c†j ci + c†i cj ). Por exemplo, c†j ci atuando sobre um estado |1ii |0ij (i = ocupado, j = vazio) retorna |0ii |1ij . Essa é a expressão quântica para uma “partı́cula que salta” de i para j. Uma vez que isso ocorre para cada par adjacente de sı́tios, a nova Hamiltoniana com o efeito de tunelamento deve ser H = −0 X i c†i ci − t X † (ci+1 ci + c†i ci+1 ). (36) i t é algum número que caracteriza quão forte é o efeito de tunelamento. Além disso, elétrons reais também possuem spin, então a Hamiltoniana acima deve ser trocada pela seguinte: H = −0 X iσ c†iσ ciσ − t X † (ci+1σ ciσ + c†iσ ci+1σ ). (37) i Se t é não nulo, um elétron pode saltar de i para i+1. Uma vez que não há nada que possa evitar o mesmo elétron de saltar de i + 1 para i + 2, e assim por diante, deve ser possı́vel para um elétron fazer uma volta completa pelo anel e retornar a sua posição original. Na realidade, um elétron “fica deslocalizado”. Agora provaremos essa afirmação. Como afirmado na seção anterior, Felix Bloch foi o primeiro a mostrar como escre- 25 ver o auto-estado da Hamiltoniana (36). O artifı́cio é reescrever X 1 ikri √ e ci = ck , N k c†i X 1 −ikri √ e = c†k . N k (38) Vamos primeiro explicar os termos que aparecem do lado direito, ri é a para o sı́tio rotulado 1, 2a para 2, etc, ri = ia. A constante da rede a mede a distância entre sı́tios vizinhos. ck é um operador que remove uma partı́cula de um estado k, assim como ci é um operador que remove uma partı́cula do sı́tio i. Por causa da estrutura do anel, devemos ter ci+N a = ci , porque o sı́tio i + N a nada mais é do que o próprio sı́tio i. Então, o r.h.s. da Eq. (38) deve ter essa propriedade também. Desde que ci+N a = X 1 X 1 √ eik(ri +N a) ck = √ eikri × eiN ka ck . N N k k (39) a propriedade desejada será realizada se eiN ka = 1. Para garantir isso, devemos ter k = (2π/N a) × inteiro. Vamos rotular valores inteiros diferentes por m, e escrever k = P 2πm/N a. Agora o significado de k está claro. De fato, essa é a soma sobre diferentes valores de m. Então escrevemos h 1 X m ri i cm . ci = √ exp 2πi . N a N m (40) Usaremos cm e ck indistintamente porque eles significam a mesma coisa. Note a estrutura dos termos que entram no expoente. ri /a é sempre um inteiro, portanto temos h r mi h mi i exp 2πi × = exp 2πi(algum inteiro) × . a N N (41) Na expressão acima, os valores de m que diferem por algum múltiplo de N sempre dão o mesmo valor da exponencial. Isso significa que nem todos os m0 s são independentes. Por exemplo, m = 0, 1, ..., N − 1 dá diferentes valores de exponencial. Qualquer outro valor de m dará origem a uma exponencial idêntica àquela que se obtém da escolha m ∈ [0, ..., N − 1] e, portanto, não são independentes. Para concluir, devemos restringir 26 a soma na Eq. (40) tal que N −1 h m ri i 1 X √ exp 2πi . ci = cm . N a N m=0 (42) Se ci 0 s satisfazem à álgebra da comutação {ci , c†i } = 1 e a outra relação discutida anteriormente, devemos exigir que ci 0 s obedeçam a uma álgebra similar, cm c†m + c†m cm = 1 cm c†m0 + c†m0 cm = 0 (m 6= m0 ), etc. (43) Podemos começar a reconhecer cm , c†m como operadores aniquilação e criação associados ao estado rotulado por m ou por k = 2πm/N a. k é um autovalor de momento e nossos novos operadores cm , c†m removem/adicionam uma partı́cula no auto-estado de momento k. De posse dessas formalidades, diretamente substituı́mos a Eq. (42) na Hamiltoniana (36). De fato, H foi transformada em H= X (−0 − 2t cos ka)c†k ck = k X k c†k ck . (44) k Devemos interpretar o último termo como (energia total) = X (energia do estado k) × (numero de elétrons no estado k). k (45) Quando tal interpretação é possı́vel, devemos pensar em k como a auto-energia e c†k e ck como operadores que adicionam/removem elétrons de/para um auto-estado k. Anteriormente, quando tı́nhamos t = 0, cada auto-estado era rotulado por um sı́tio i onde a partı́cula estava localizada. Quando t 6= 0, não é mais a maneira correta de caracterizar auto-estados. Em vez disso, o auto-estado correto é o que tem um momento definido k. Quantos auto-estados diferentes existem determinados pelos diferentes valores permitidos para k = (2π/N a)m. Existem N diferentes valores de m levando a N autoestados independentes. Cada auto-estado tem uma energia dada por −0 −2t cos(2πm/N ). Anteriormente quando t = 0, existiam também N auto-estados diferentes, tendo a ver com diferentes sı́tios localizados. Agora, com t 6= 0, ainda há o mesmo número de estados, mas eles são todos estendidos. Essa era uma afirmação importante no tempo que Bloch pro- 27 duziu seu primeiro auto-estado, pois diz que os elétrons estão espalhados ainda que haja uma barreira de potencial. Por isso também que os elétrons podem se mover facilmente através de uma densa rede de ı́ons positivos em sólidos. 1.2.4 Aplicação à estruturas reais de rede O método da ligação forte dá uma ideia aproximada da dependência entre a estrutura de banda e a geometria da rede. O método é facilmente adaptado para qualquer tipo de rede em qualquer dimensão. Essa também é uma forma muito eficiente de identificar a zona de Brillouin para uma dada geometria da rede. Rede quadrada: para uma rede quadrada bidimensional, um elétron no sı́tio i pode saltar para qualquer um de seus quatro vizinhos em i ± x̂, e i ± ŷ. Então, a Hamiltoniana da ligação forte será H = −t X = −t X X + + + c+ + c + c + c c − µ c+ i i ci i+x̂ i−x̂ i+ŷ i−ŷ i i + c+ j ci + ci cj − µ hiji X c+ i ci (46) i onde hiji indicam todos os pares de vizinhos mais próximos da rede. Suprimimos o ı́ndice de spin porque de qualquer modo ele não afeta o espectro de energia. Usando a expansão ci = p X 1 X ik.ri 1 eik.ri ck = √ e ck Nx Ny k N k (47) a Hamiltoniana é produzida na forma diagonalizada H = X (k − µ)c+ k ck k k = (kx , ky ), ri = (xi , yi ) (48) onde k = −2t[cos kx + cos ky ] quando a constante da rede a é feita a unidade. Aqui observamos que a energia k é periódica tanto em kx como em ky com perı́odo de 2π. Apenas aqueles vetores k não conectados por múltiplos de 2π são considerados independentes. Isso leva ao conceito de primeira zona de Brillouin, ou 1BZ para abreviar, no qual para a rede quadrada é dada por [−π, π] × [−π, π]. O número total de estados independentes (vetores k independentes) que se formam dentro de 1BZ é Nx × Ny = N , exatamente 28 combinando o número total de estados permitidos na rede quadrada composta de N sı́tios. Rede triangular : A mesma aproximação aplicada à rede triangular saltando para os vizinhos mais próximos, dá a Hamiltoniana diagonalizada da forma (48) com k = √ √ −2t cos kx + cos(kx /2 + 3ky /2) + cos(kx /2 − 3ky /2) . Em geral, para uma rede Bravais, o espectro de energia da ligação forte é da forma k = −t X eik.(rj −ri ) (49) j∈i abrangendo todos os sı́tios de vizinhos mais próximos j para i. Rede hexagonal : As redes quadrada e triangular pertencem ao tipo de estrutura de rede conhecida como rede Bravais, que se refere aos casos em que há um sı́tio atômico por célula unitária. Em outras palavras, cada sı́tio se parece exatamente o mesmo que todos os outros sı́tios em toda rede. O mesmo não pode ser dito da rede hexagonal, que é um exemplo de uma rede não-Bravais. Existem dois sı́tios equivalentes nessa rede em vez de um. Então, chamando-os de sı́tios-A e sı́tios-B, por exemplo, pode-se formalmente dividir os operadores fermiônicos naqueles que pertencem às sub-redes A e B respectivamente. 1 X A ik.ri c e NA k k 1 X B ik.ri = √ c e NB k k cA = √ i cB i (50) onde ri se refere à coordenada de cada sı́tio da rede. A Hamiltoniana da ligação forte para a rede hexagonal é escrita como H = −t X c+ Bj cAi − t X i∈A c+ Aj cBi − µ i∈B X c+ Ai cAi − µ i∈A X c+ Bi cBi . (51) i∈B Escrevendo a Hamiltoniana no espaço de momento usando a Eq. (50), H= c+ Ak c+ Bk −µ −t P j∈i eik.(rj −ri ) −t P j∈i eik.(rj −ri ) −µ cAk cBk . (52) Diagonalizando a matriz, finalmente temos o espectro de energia da rede hexagonal 29 k = −µ ± | X eik.(rj −ri ) | j∈i = µ ± |3 + 2 cos √ 3ky /2 √ + eikx /2−i 3ky /2 | ! ! ! √ √ √ kx 3 kx 3 + ky + cos − ky + cos 3ky | 2 2 2 2 = −µ ± |eikx + eikx /2+i (53) O sinal ± se refere a dois valores de energia diferentes permitidos para um dado k. Existem duas bandas, que tocam uma a outra em certos pontos isolados no espaço-k. Em contraste com a situação obtida para a rede Bravais que tem apenas uma banda correspondente a cada k. O aparecimento de bandas múltiplas está ligado à existência de vários sı́tios na rede em uma célula unitária. Na rede hexagonal, a célula unitária tendo dois sı́tios equivalentes é a razão para ter duas bandas de energia para um dado k. A Hamiltoniana localizada ao redor de cada ponto-k é semelhante a Hamiltoniana de Dirac para partı́culas relativı́sticas em duas dimensões. Posteriormente construiremos uma Hamiltoniana com bandas múltiplas com um claro intervalo de energia separando as bandas superiores e inferiores. Esse tipo de estrutura de banda dá origem a um isolante. O grafite é interessante porque fica no meio entre um metal e um isolante. 30 2 O MODELO DE DIRAC O grafeno é um cristal bidimensional formado por átomos de carbono organizados em uma rede hexagonal “honeycomb”: uma única camada de grafite. Um dos mais interessantes aspectos fı́sicos do grafeno de um ponto de vista teórico é a profunda e produtiva relação com a eletrodinâmica quântica (QED) e outros conceitos da teoria quântica de campos. A conexão surge do fato que, em baixa energia, as excitações de quase-partı́culas do sistema podem ser modeladas pela equação de Dirac sem massa em duas dimensões espaciais. Nesse caso, a velocidade da luz c é trocada pela velocidade de Fermi vF ' c/300. Começaremos com a derivação do modelo de Dirac a partir do modelo da “Ligação Forte” e os cálculos da teoria quântica de campos no modelo de Dirac (JACKIW; PI, 2007) serão apresentados. 2.1 Um resumo das caracterı́sticas do grafeno 2.1.1 Uma camada de grafeno A construção da ação livre na fı́sica da matéria condensada é feita de uma forma muito semelhante à teoria quântica de campos. A Hamiltoniana livre é determinada pelas simetrias internas e discretas (cristal) do sistema. A “teoria de bandas” fornece a relação de dispersão do material e as propriedades eletrônicas para um determinado estado eletrônico ocupado. No caso de um sistema metálico, interações adicionais podem abrir um intervalo (“gap”) e dar origem a vários estados isolantes não-triviais ou manter o sistema sem intervalo dentro da classe universal do lı́quido de Landau Fermi 2 , o modelo padrão para metais. O átomo de carbono tem quatro orbitais externos 2s2 , 2p2 capazes de formar ligações moleculares. A estrutura cristalina do grafeno é formada por uma rede hexagonal planar de átomos de carbono. Na estrutura do grafeno as ligações no plano σ são 2 Os elétrons de condução de um metal estão sujeitos a colisões com outros elétrons. Além disso, elétrons em movimento produzem uma reação inercial no gás de elétrons, o que aumenta sua massa efetiva. Os efeitos das interações elétron-elétron são geralmente descritos pela teoria de Landau de um lı́quido de Fermi. O objetivo da teoria é proporcionar uma descrição unificada do efeito das interações. O gás de Fermi é um sistema de férmions independentes; o mesmo sistema com interações é o lı́quido de Fermi. A teoria de Landau permite determinar com boa aproximação as excitações elementares de baixa energia de um sistema de elétrons com interações. Essas excitações são chamadas de quasepartı́culas; existe uma correspondência direta entre essas excitações e as excitações elementares de um gás de elétrons livres. Uma quase-partı́cula pode ser vista como uma partı́cula isolada, acompanhada por uma distorção local do gás de elétrons. Um dos efeitos da interação eletrostática entre os elétrons é mudar a massa efetiva dos elétrons. 31 formadas de 2s, 2px e2py orbitais hibridizados em uma configuração sp2 , enquanto o orbital 2pz , perpendicular à camada permanece desacoplado. As ligações σ dão rigidez à estrutura e as ligações π dão origem às bandas de valência e condução. As propriedades eletrônicas do grafeno são baseadas na construção de um modelo para os elétrons π localizados na posição da rede hexagonal atraı́dos pelas ligações σ. Alternativamente, as propriedades mecânicas envolvem as ligações σ com energias caracterı́sticas da ordem de 7 − 10eV . As excitações de baixa energia em torno da energia de Fermi terão energias caracterı́sticas no intervalo de poucos meV até 1 eV. Várias redes cristalinas são classificadas como redes Bravais e em duas dimensões podem ser geradas movendo um ponto arbitrário na rede ao longo de dois vetores da rede definidos. Isso acontece, geralmente, em redes triangulares e quadradas em duas dimensões. Esse não é o caso da rede hexagonal. Essa rede é muito especial: Tem a menor coordenação em em duas dimensões (três) e tem dois átomos por célula unitária. A rede hexagonal pode ser gerada movendo dois átomos vizinhos ao longo dos dois vetores que definem uma sub-rede triangular. Essa é a primeira caracterı́stica distinta que será responsável pelas propriedades exóticas do material. A relação de dispersão da rede hexagonal é baseada no cálculo da ligação forte apresentado anteriormente, destacando as propriedades principais, a primeira é que dois átomos por célula unitária implica em uma função de onda bidimensional para descrever as propriedades eletrônicas do sistema. As entradas da função de onda são ligadas à amplitude de probabilidade do elétron estar na sub-rede A ou B. O método da aproximação da ligação forte para o vizinho mais próximo reduz o problema à diagonalização da hamiltoniana de um elétron. H = −t X a+ i aj (54) i,j onde a soma é sobre os pares de átomos de vizinhos mais próximos i, j sobre a rede e ai , a+ j são os operadores de criação e aniquilação usuais. A função de onda Bloch tem que ser construı́da como a superposição de orbitais atômicos dos dois átomos que formam a célula primitiva: Ψk (r) = CA φA + CB φB . As autofunções e os autovalores da hamiltoniana são obtidos da equação (55) 32 −t P j eiakuj CA −t P j iakvj e CA = E(k) CB . CB (56) onde uj é um trio de vetores conectando um átomo A com seu vizinho mais próximo B δi , e vj o trio de seus respectivos opostos, a é a distância entre os átomos de carbono e é o nı́vel de energia 2pz , tomado como a origem da energia. O parâmetro da forte ligação t é estimado ser da ordem de 3eV no grafeno, define uma largura de banda (6eV) e é uma medida da energia cinética dos elétrons. As autofunções são determinadas pelos coeficientes CA e CB que são soluções da Eq. (105). Os autovalores da equação dão os nı́veis de energia cuja relação de dispersão é s E(k) = ±t 1+ 4 cos2 √ √ 3 3 3 akx + 4 cos akx cos aky , 2 2 2 (57) onde os dois sinais definem duas bandas de energia que estão degeneradas nos seis vértices K da zona de Brillouin hexagonal. O sistema neutro com um elétron por sı́tio da rede está meio preenchido. A superfı́cie de Fermi é formada por seis pontos de Fermi, onde apenas dois são independentes. Esse é o aspecto mais importante do sistema relativo à suas propriedades não usuais. A existência de uma superfı́cie de Fermi finita implica em uma densidade de estados finita e na blindagem da interação de Coulomb. Além disso, permite a construção da cinemática de Landau conduzindo à possibilidade da supercondutividade e outras excitações coletivas ao contrário do sistema de elétrons livres. Um modelo contı́nuo pode ser definido para excitações de baixa energia em torno de alguns dos pontos de Fermi, chamado K1 , expandindo a relação de dispersão em torno desse ponto: k = K1 + δk que da Eq. (105) fornece a hamiltoniana 3 H ∼ − ta 2 0 δkx + iδky . δkx − iδky (58) 0 O limite lima→0 H/a define a Hamiltoniana contı́nua H = vF ~σ .~k, (59) onde σ são as matrizes de Pauli e o parâmetro vF é a velocidade de Fermi dos elétrons 33 estimada em vF ∼ 3ta ∼ c/300. Por isso, as excitações de baixa energia em sistemas sem massa são modeladas como espinores carregados em duas dimensões espaciais movendo-se na velocidade vF . O spin fı́sico do elétron foi desprezado na análise, a natureza espinorial da função de onda tem origem nos graus de liberdade da sub-rede e é chamado pseudospin na literatura do grafeno. A mesma expansão em torno de outro ponto de Fermi dá origem a uma hamiltoniana invertida no tempo: H2 = vF (−σx kx + σy ky ). A degenerescência associada aos pontos de Fermi (vales na linguagem de semicondutor) é considerada como um sabor. Junto com o spin real a degenerescência total do sistema é a Eq. (57). A estrutura quiral do espectro descrito acima e a natureza quântica do sistema da matéria condensada (como oposto à TQC), permitem testar várias previsões da velha mecânica quântica relativı́stica. Nos elétrons presentes no sistema do grafeno haverá tunelamento com uma probabilidade de transmissão através de uma barreira de potencial degrau colidindo em incidência normal. Esse fenômeno conhecido como paradoxo de Klein foi experimentalmente confirmado. Um fenômeno semelhante é o chamado Zitterbewegung ou movimento de rápido tremor dos elétrons em um campo externo. Um fenômeno particularmente interessante é o colapso atômico supercrı́tico no grafeno, uma consequência dos grandes valores da “constante de estrutura fina do grafeno”. Um outro fenômeno muito interessante é a possı́vel realização do mecanismo de Swinger, isto é, a produção de pares partı́cula-antipartı́cula carregadas guiadas por um campo magnético externo constante. Os fenômenos anteriores não são apenas realizações curiosas da mecânica quântica relativı́stica, eles tem profundas consequências nos aspectos experimentais de sistemas materiais, muitos deles não observados antes na matéria condensada. Em particular, o paradoxo de Klein implica que impurezas e outras várias fontes comuns de desordem não espalharão os elétrons no grafeno. Isso escapará a localização de Anderson, um resultado muito importante que estabelece que qualquer quantidade de desordem em sistemas de elétrons livres em duas dimensões espaciais localizará os elétrons transformando o sistema em um isolante. O tunelamento Klein também é parcialmente responsável pela alta mobilidade na temperatura ambiente e pela excelente metalicidade do sistema. Zitterbewegung foi proposto enquanto uma explicação para a condutividade mı́nima de amostras foi observada, um dos mais interessantes aspectos do grafeno cuja origem permanece incerta. Pode ser comprovado que os pontos de Fermi são estáveis topologicamente diante de deformações da hamiltoniana preservando o produto da simetria discreta da reversão temporal e inversão espacial. A estabilidade topológica é baseada no momento não trivial do espaço topológico dos pontos de Fermi e dele associado uma carga topológica não trivial. Além disso, a função de onda em torno dos pontos de Fermi tem uma fase Berry não trivial. 34 2.1.2 Múltiplas camadas de grafeno Múltiplas camadas de grafeno consistem em uma superposição de várias camadas de grafeno interconectadas por termos de “hopping”. Dependendo da orientação relativa das camadas vários empilhamentos são possı́veis. O limite de baixa energia de alguns sistemas de múltiplas camadas dá origem também a modelos interessantes da TQC definidos no contı́nuo. A dupla camada de grafeno é um dos casos melhor estudado. É relativamente fácil de obter e manipular experimentalmente e pode ser melhor que a única camada para alguma potencial aplicação. Indicando dois átomos equivalentes na camada n como (an , bn ). O modelo mais simples introduz “hoppings” t entre as camadas apenas entre os vizinhos mais próximos. A hamiltoniana decorrente da dupla camada de grafeno na vizinhança do ponto de Fermi K1 é H(k) = 0 k∗ k 0 0 0 t 0 0 t 0 0 0 k∗ k 0 (60) e as bandas de energia são dadas por t k = ± ± 2 r t2 + |~k|2 . 4 (61) No limite E t, pode-se obter uma hamiltoniana efetiva para as bandas de menor energia. Para esse fim, deve-se reordenar as funções de onda de acordo com (a1 , b1 , a2 , b2 ) → (a2 , b1 , a1 , b2 ), de modo que a nova base da hamiltoniana torna-se H(k) = 0 0 0 0 0 k∗ k 0 0 k∗ k 0 ≡ 0 t t 0 H11 H12 H21 H22 onde Hij é um bloco 2 × 2. A identidade ! (62) 35 Det(H − E) = Det H11 − H12 (H22 − E)−1 H21 − E Det(H22 − E) (63) mostra que, para E t, a substituição H22 − E → H22 → reduz o cálculo das bandas de menor energia para a diagonalização da hamiltoniana efetiva 2 × 2 Essa hamiltoniana efetiva envolve apenas os átomos (a2 , b1 ) que não estão ligados por t. Sobre um ponto de vista de TQC a hamiltoniana é muito diferente. Tem quiralidade como o caso de Dirac, mas a relação de dispersão é quadrática. Sobre um ponto de vista da matéria condensada, esse também é um sistema muito interessante onde a superfı́cie de Fermi reduz-se a um ponto, mas tem uma densidade finita no nı́vel de Fermi similar à de metais padrão. A análise anterior pode ser facilmente generalizada para múltiplas camadas de grafeno com empilhamento romboédrico. Esse tipo de empilhamento inclui os ligados (b1 − a2 , b2 − a3 , ..., bN −1 − aN ) e a hamiltoniana efetiva, que envolve apenas os átomos não ligados (a1 , bN ), é dada por Hef f = − 1 tN −1 0 k ∗N kN 0 ! . (64) Há uma carga topológica associada a esse tipo de sistema de múltiplas camadas em torno dos pontos de Fermi cujo valor é ±N que também garante sua estabilidade topológica. Note que não há estabilidade topológica para o empilhamento Bernal. Quatro interações de Fermi dão origem a várias quebras espontâneas de simetria, fases com aberturas na teoria de perturbação, uma coisa que não ocorre em sistemas de uma camada. 2.2 Construindo o modelo de Dirac No grafeno, a rede hexagonal é subdividida em duas sub-redes triangulares A e B. O espaçamento da rede é d = 1, 42 Å. O vizinho mais próximo de um átomo da sub-rede A pertence a sub-rede B e vice-versa. Adicionando a localização de um átomo na sub-rede A qualquer um dos três vetores √ √ δ1 = d(−1, 0), δ2 = d(1/2, 3/2), δ3 = d(1/2, − 3/2) pode-se localizar um dos vizinhos mais próximos na sub-rede B. (65) 36 Apenas a interação entre os vizinhos mais próximos será considerada, pois o modelo da ligação forte usado para introduzir a hamiltoniana despreza a superposição de estados localizados em sı́tios separados por uma distância maior que d. A interação que é levada em conta é aquela entre os elétrons que pertencem ao estado de energia p. No cristal, todos os elétrons nesse estado sentem o mesmo potencial, uma vez que a rede é formada por um único tipo de elemento, formando um mar de elétrons. E a hamiltoniana tem a seguinte forma H = −t 3 XX a† (rα )b(rα + δj ) + b† (rα + δj )a(rα ) , (66) α∈A j=1 onde t é o chamado parâmetro de “hopping” e os operadores a† , a, b† , b são os operadores de criação e aniquilação dos elétrons nas sub-redes A e B, respectivamente. São adotadas as unidades ~ = c = 1. Esses operadores satisfazem as relações de anti-comutação usuais. Representando a função de onda através de uma transformada de Fourier. ! |ψi = ψA (k) X eikrα a† (rα ) + ψB (k) α∈A X eikrβ b† (rβ ) |0i (67) β∈B A sub-rede A é gerada pelo deslocamento ao longo dos vetores δ2 − δ1 e δ3 − δ1 , o mesmo raciocı́nio é aplicado a sub-rede B. Essas duas sub-redes, A e B, formam duas redes triangulares superpostas. Assim, dois momentos k1 e k2 são equivalentes se (n1 (δ2 − δ1 ) + n2 (δ3 − δ1 )).(k1 + k2 ) ∈ 2πZ para todo inteiro n1 e n2 . Representantes da classe de equivalência podem ser feitos em uma região compacta no espaço de momento - a √ zona de Brillouin, que é um hexágono com vértices nos pontos v1 = 2π/3d(1, 1/ 3), v2 = √ √ 2π/3d(1, −1/ 3), v3 = 2π/3d(0, −2/ 3), v4 = −v1 , v5 = −v2 e v6 = −v3 . Os lados opostos desse hexágono são identificados e os vértices v1 , v3 e v5 são equivalentes entre si, bem como v2 , v4 e v6 também são. Pode-se calcular H|ψi = −t ψB 3 X j=1 eikδj X α∈A eikrα a† (rα ) + ψA 3 X j=1 ! e−ikδj X eikrβ b† (rβ ) |0i (68) β∈B de modo que a equação estacionária de Schödinger H|ψi = E|ψi transforma-se na equação matricial 37 −tX 0 ψA 0 ψA =E −tX ∗ ψB , ψB X= 3 X eikδj . (69) j=1 Onde os autovalores são E = ±t|X|. (70) O espectro é simétrico, com partes positivas e negativas se encontrando nos pontos onde X = 0. Soluções para essas condições são facilmente encontradas e coincidem com os vértices da zona de Brillouin. Como foi discutido anteriormente, apenas dois dos vértices são independentes. Escolhendo K± = ±v6 = ∓v3 como duas soluções independentes, chamadas de pontos de Dirac, que descrevem dois estados fundamentais independentes. O ± próximo passo é expandir as funções de onda em torno desses pontos de Dirac, ψA,B (q) ≡ ψA,B (K± + q). Supondo que |q| é pequeno comparado a 1/d ∼ 1 Kev. Então, chega-se nas hamiltonianas H± = 3td 2 0 iq1 ± q2 = vF (−σ2 q1 ± σ1 q2 ), −iq1 ± q2 (71) 0 onde vF é a velocidade de Fermi, σi são as matrizes de Pauli. Substituindo os valores de d e t = 2, 8 eV em vF = (3td)/2 obtém-se um número que está levemente abaixo do valor usualmente aceitável vF = 1/(300). Introduzindo um espinor de quatro componentes ψ ≡ (ψA+ , ψB+ , ψA− , ψB− ) para unificar H± em uma única hamiltoniana de Dirac H = −ivF γ 0 γ a ∂a , a = 1, 2, onde o momento iq foi substituı́do pelas derivadas parciais, e σ3 0 γ0 = , 0 σ3 iσ1 0 γ1 = , 0 iσ1 iσ2 0 γ2 = . 0 (72) −iσ2 Essas matrizes gama 4 × 4 são usadas em uma representação redutı́vel que é uma soma direta de duas representações equivalentes 2 × 2. Cada uma dessas representações para as funções de onda das quase-partı́culas do grafeno é de algum modo similar à descrição espinorial de elétrons em QED3+1 . Porém, no caso do grafeno esse ı́ndice de pseudo spin se refere ao grau de liberdade da sub-rede em vez do spin real dos elétrons. O efeito total do spin real, que não aparece no modelo de Dirac apresentado, está apenas na duplicação 38 do número de componentes espinoriais, de modo que aparecerão espinores de 8 componentes no grafeno (N=4 espécies de férmions de duas componentes). Então, o modelo da ligação forte para energias abaixo de 1/d é equivalente ao modelo quase-relativı́stico de Dirac, onde a velocidade da luz é substituı́da por vF . Deve-se manter em mente que o modelo da forte ligação é por si só uma aproximação. Pode-se melhorar essa aproximação considerando, por exemplo, acoplamentos entre átomos da mesma rede A ou B, que é o acoplamento com o próximo vizinho mais próximo. A energia correspondente é estimada em torno de 0,1 eV, muito menor que o acoplamento com o vizinho mais próximo t considerado anteriormente. Espera-se que com modificações adequadas o modelo de Dirac seja válido pelo menos até as energias de ∼ 2 eV. Sobre várias circunstancias, pode fazer sentido considerar as seguintes modificações do modelo de Dirac. Pode-se adicionar uma interação com o campo eletromagnético. Para preservar a invariância de gauge, essa interação é introduzida pela troca da derivada parcial pela derivada covariante de gauge: ∂ −→ ∂ + ieA. O potencial eletromagnético não está confinado à superfı́cie do grafeno, mas, em vez disso propaga-se no ambiente de dimensão 3 + 1. Esse campo pode ser um campo magnético externo, uma radiação eletromagnética clássica ou flutuações quantizadas. As quase-partı́culas podem ter uma massa. Essa massa é usualmente muito pequena, mas a introdução de um parâmetro de massa pode ser conveniente sobre fundamentos teóricos, isto é, para realizar a regularização Paulli-Villars. Um parâmetro tipo massa muito importante é o potencial quı́mico µ, que descreve a densidade das quasepartı́culas. Esse parâmetro pode ser variado em experimentos aplicando uma barreira de potencial em amostras de grafeno. Sem uma barreira de potencial, µ é frequentemente muito pequeno em grafeno suspenso, mas pode ser significante em grafeno epitaxial devido a interação com o substrato. 39 3 TEORIA QUÂNTICA DE CAMPOS NO GRAFENO 3.1 Interações elétron-elétron em uma única camada de grafeno Vamos apresentar os principais aspectos do modelo da TQC das interações de Coulomb de longo alcance no grafeno. O modelo padrão não interagente para excitações eletrônicas no grafeno em torno de um único ponto de Fermi (em unidades ~ = 1)é dado por Z H = vF d2 rψ̄(r)γ i ∂i ψ(r), (73) onde i = 1, 2, ψ̄(r) = ψ + (r)γ 0 , e as matrizes gama podem ser escolhidas como γx = σ2 , γy = −σ1 , γ 0 = σ3 . Onde, σi são as matrizes de Pauli e vF é a velocidade de Fermi, o único parâmetro livre na Hamiltoniana. O tratamento da interação de Coulomb é que faz a diferença entre o modelo do grafeno e a usual QED(2+1). Na definição da interação de Coulomb em dimensões mais baixas deve-se esclarecer que o campo eletromagnético é realmente definido em duas dimensões espaciais, ou as cargas são confinadas a um plano enquanto o campo de Coulomb se propaga em três dimensões espaciais. O potencial escalar no eletromagnetismo clássico é definido pela equação de Laplace em qualquer número de dimensões. Equivalentemente na TQC é definido pela Lagrangeana Z L= d(D+1) xFµν F µν , Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ , (74) que tem duas derivadas espaciais. Em ambos os casos o potencial efetivo no espaço de Fourier é V (k) ∼ 1/k 2 . Para ver a dependência espacial da interação deve-se usar a transformada de Fourier V (k) e obter o resultado conhecido V (r − r0 ) ∼ 1 |r−r0 | log(|r − r0 |) |r − r0 | D=3 D=2 D=1 (75) Em duas dimensões espaciais a interação de Coulomb no espaço real é logarı́tmica. No mundo real apenas as cargas estão confinadas ao plano do grafeno enquanto a interação se propaga em três dimensões. Isso é codificado na forma usual da interação de Coulomb 40 (instantânea): Hint e2 = 2π Z 2 d r1 Z d2 r 2 Ψ̄(r1 )Ψ(r1 )Ψ̄(r2 )Ψ(r2 ) |r1 − r2 | (76) A interação anterior é inadmissı́vel em uma aproximação da TQC. Isso não é apenas não-relativı́stico (ação a distância) mas também é não-local. Pode-se tentar formular o problema de interação em uma linguagem de TQC acoplando os férmions ao campo de gauge através da representação do acoplamento mı́nimo Z Lint = g d2 xdtj µ (x, t)Aµ (x, t), (77) onde g = e2 /4πvF é a constante de acoplamento adimensional e a corrente eletrônica é definida como j µ = (Ψ̄γ 0 Ψ, vF Ψ̄γ i Ψ). (78) Agora, o problema é acoplar a corrente bidimensional a um potencial de gauge tridimensional. Essa dificuldade foi resolvida usando o gauge de Feynmann 5µ Aµ = 0. (79) A Hamiltoniana é vista como aquela da eletrodinâmica (não-relativı́stica) em duas dimensões espaciais: Z H = ~vF d2 rΨ̄(r)γ µ (∂µ − igAµ )Ψ(r). (80) A não-relativı́stica pode ser usada de dois modos diferentes. Um é não-covariante no sentido que as componentes de tempo e espaço da corrente têm diferentes velocidades. Essa falta de covariância não invalida muitas das regras que fazem a vida fácil em TQC como as identidades de Ward. Uma mais severa forma da não-relativı́stica é a fixação de vF = 0. Essa quantidade considera que não há dependência temporal no propagador de gauge. Os resultados obtidos nesse caso podem invalidar alguns resultados da TQC. Em qualquer caso, apesar da identificação formal da Hamiltoniana com QED(2+1), os diferentes propagadores para o fóton produzem resultados diferentes mesmo quando adotada uma aproximação relativı́stica (assumir uma interação de Coulomb retardada) do começo. 41 3.2 Quebra de simetria quiral Abrir um gap (ou gerar uma massa) no grafeno é crucial para as aplicações eletrônicas. A partir do ponto de vista da TQC, a massa do elétron (gap) é protegida pela versão 3D da simetria quiral (SEMENOFF, 2012; ZHANG; LIU; HUANG, 2011)e então um gap não será aberto por correções radiativas independente da ordem na teoria de pertubação. Interações ou desordem podem abrir um gap na amostra fornecida no qual o produto da reversão temporal vezes a simetria de inversão é quebrada (potencial escalonado, campo magnético externo), ou quando dois pontos de Fermi estão envolvidos. Uma discussão das várias “massas” que podem ser geradas no grafeno quando os graus de liberdade de vale e spin são considerados. Mesmo se os dois pontos de Fermi são levados em conta em um formalismo quadridimensional, é muito improvável que um gap será gerado espontaneamente pelas interações em uma única camada de grafeno e até agora não há evidências experimentais para isso. 3.3 O funcional gerador A possibilidade de formular a mecânica quântica em termos de integrais de caminho fornece a chave para uma formulação de integrais de caminho da teoria quântica de campos. Podemos descrever o estado de um sistema em um dado tempo por |φ(~x)it 3 e calcular a amplitude de transição entre esse estado e um novo estado em um tempo posterior t, mas estamos diante da necessidade de resolver esse problema em função dos estados fı́sicos possı́veis do sistema. A forma de identificar os estados do sistema frequentemente depende muito do sucesso da teoria de perturbação. Começamos com a aproximação de ordem zero que corresponde à teoria livre. A teoria completa é construı́da adicionando uma pequena perturbação à idealizada teoria de ordem zero e os efeitos dessa pequena perturbação, que correspondem aos efeitos de interação, são calculados sobre os estados de ordem zero. Esses passos são possı́veis apenas quando é possı́vel reconhecer a teoria completa em termos de uma pequena perturbação sobre um sistema simples e, feito isso, calcular as correções para os estados idealizados de ordem zero. Para encontrar essas soluções temos que obter uma formulação de integral de caminho(RAMOND, 1989), essa formulação não conta com o conhecimento do estado fı́sico do sistema. Quaisquer que sejam os estados, deve haver um estado de menor energia, chamado de estado de vácuo. Agora, queremos conhecer a amplitude de transição do sistema a partir do estado de vácuo em t = −∞ para o estado de vácuo em t = +∞ na presença de uma força motriz 3 Por conveniência usaremos a notação para um campo escalar real como exemplo. 42 arbitrária. Isso significa que a qualquer momento nos reservamos ao direito de conduzir o sistema de qualquer forma que quisermos, e vê-lo reagir. Essa vai ser a estratégia: resolver a amplitude hΩ|ΩiJ para uma fonte arbitrária J(x), interpretar os resultados em termos de amplitude de espalhamento e usar essas amplitudes para calcular as consequências fı́sicas da teoria. Tradicionalmente, a fonte adicionada ao campo local fornece um termo motriz genérico uma vez que todas as fontes possı́veis podem ser construı́das a partir desse termo. Quando a teoria de perturbação é aplicável, os campos locais serão interpretados em termos de partı́culas. Começando com a mais simples teoria de campos: um campo escalar auto-interagente, descrito pela ação Z S = Z = 1 2 2 1 µ d x ∂µ φ∂ φ − m φ − V (φ) 2 2 (81) d4 xL(φ, ∂µ φ). (82) 4 Para construir a densidade de Hamiltoniana H, define-se o momento canônico π(x) = ∂L = ∂0 φ ≡ φ, ∂[∂0 φ] (83) e então realiza-se a transformada de Legendre ~ H(π, φ, 5φ) = πφ − L 1 2 ~ ~ = π + 5φ.5φ + m2 φ2 + V (φ). 2 (84) (85) A amplitude de vácuo para vácuo é definida como Z hΩ|ΩiJ ≡ W [J] = N DφDπ ei(πφ̇−H+Jφ) , (86) onde N é uma constante, a amplitude h...i agora significa integração sobre o espaçotempo e J(x) é uma fonte arbitrária. Após usar técnicas de integração para integrar sobre π, obtém-se W [J] = N 0 Z 1 1 2 2 µ Dφ exp i ∂µ φ∂ φ − m φ − V (φ) + Jφ . 2 2 (87) Nesse caso Dφ (ou Dπ ) significa o produto de todos os dφk onde φk é o valor de φ 43 em x = xk . O integrando em (87) é oscilatório, isso significa que essa integral de caminho não é bem definida. Há dois modos de remediar esse problema: 2 a) colocar um fator de convergência e−1/2(φ ) com > 0. Ou b) definir W no espaço Euclideano fazendo, x0 = −ix̄0 d4 x = −id4 x̄ ∂µ φ∂ µ φ = −∂¯µ φ∂¯µ φ, onde as barras denotam as variáveis no espaço Euclideano, ∂¯µ = ∂/∂ x̄µ . Então a Eq.87 se transforma Z WE [J] = NE 1 2 2 1 ¯ ¯µ ∂µ φ∂ φ + m φ + V (φ) − Jφ . Dφ exp − 2 2 (88) O expoente do integrando é agora negativo definido para m2 e V positivo quando J = 0. Em ambos os casos, o funcional gerador é usado para produzir as funções de Green que são os coeficientes da expansão funcional ∞ X (i)N hJ1 J2 ...JN G(N ) (1, 2, ..., N )i1...N , W [J] = N ! N =0 (89) ou G(N ) (1, 2, ..., N ) = 1 δ δ δ ... W [J] |J=0 N (i) δJ1 δJ2 δJN (90) onde Ji = J(x̄i ), etc., ..., h...i1...N significa integração sobre d4 x̄1 ...d4 x̄N . O objetivo é calcular as funções G(N ) (x̄1 , ..., x̄N ) perturbativamente ou de outro modo. No espaço de momento serão identificadas como amplitudes de transição. Isso não é trivial uma vez que as amplitudes de transição devem satisfazer os critérios de completeza e unitariedade. O funcional no espaço Euclideano WE [J] é usado para construir estas (N ) funções GE (x̄1 , ..., x̄N ), elas são relacionadas a G(N ) por continuação analı́tica (rotação de Wick), na qual pressupõe que singularidades não são encontradas no processo do contorno de rotação. Isso é suficiente para determinar a estrutura singular de G(N ) , mas mostrar que isso é consistente com a unitariedade não é um problema trivial. 44 3.4 O operador de polarização baseado no modelo de Dirac Vamos proceder com com os cálculos da teoria quântica de campos baseado no modelo de Dirac(JACKIW; PI, 2007). Da Hamiltoniana pode-se derivar a ação Z S = / d3 xψ̄ Dψ, / = iγ̃ j (∂j + ieAj ) + ... D (91) onde os pontos podem ser quaisquer dos termos adicionais descritos anteriormente, em particular um termo de massa levaria a uma quebra de simetria quiral(JACKIW; PI, 2007; ZHANG; LIU; HUANG, 2011; SEMENOFF, 2012). O til sobre as matrizes γ significa que as componentes espaciais são reescaladas. γ̃ 0 = γ 0 γ̃ i = vF γ i Férmions quantizados dão origem a uma ação efetiva para o campo magnético externo (dado por uma soma de diagramas de 1 loop). Para a segunda ordem em A, isso leva à ação efetiva 1 Sef f (A) = 2 Z d3 p Aj (−p)Πjl (p)Al (p), (2π)3 (92) onde Πjl é o operador polarização. Vamos considerar o operador polarização para um único férmion de duas componentes massivo na temperatura zero, zero potencial quı́mico e sem campo magnético externo. Cálculos fornecem Π mn p̃j p̃l α m jkl jl = 2 ηj Ψ(p) g − 2 + iφ(p) p̃k ηln vF p̃ (93) com jkl sendo o tensor de Levi-Civita totalmente antissimétrico de acordo com 012 = 1, ηjn = diag(1, vF , vF ), p̃m ≡ ηnm pn , α = e2 /(4π) ' 1/137 é a constante de estrutura fina. A estrutura tensorial de Πmn é unicamente definida por invariâncias de gauge e quase-relativı́sticas para duas funções, Ψ e φ, que são 45 2mp̃ − (p̃ + 4m2 )arctanh(p̃/2m) 2p̃ 2marctanh(p̃/2m) φ(p) = −1 p̃ Ψ(p) = (94) (95) p Aqui p ≡ + pj pj e assumimos m > 0. Pode-se ter uma impressão de que tensor de polarização é singular no limite vF → 0 ou de que Πjk é grandemente reforçado pela pequenez de vF . Uma analise mais cuidadosa mostra que isso não é verdade, o tensor de polarização permanece finito no limite vF → 0 e a frequência prevista não desaparece, p0 6= 0. Para condições externas mais complicadas, como um campo magnético ou para um potencial quı́mico não nulo, a invariância de quase-Lorentz é quebrada e o tensor de polarização tem uma forma mais complicada. A importância particular de Πjk é devido ao fato desse tensor definir como o campo magnético se propaga através do grafeno. A R 2 + Sef f , onde a ação quadrática completa para o campo eletromagnético é − 41 d4 xFµν 3 ação efetiva é confinada a superfı́cie do grafeno que localizamos em x = 0. As equações de movimento dessa ação contêm um termo singular ∂µ F µν + δ(x3 )Πνρ Aρ = 0 (96) Estendemos Π a uma matriz 4 × 4 com Π3µ = Πµ3 = 0. A equação acima descreve a propagação livre do campo eletromagnético fora da superfı́cie x3 = 0 sujeito a condições apropriadas Aµ |x3 =+0 = Aµ |x3 =−0 , (∂3 Aµ ) |x3 =+0 −(∂3 Aµ ) |x3 =−0 = Πµ ν Aν |x3 =0 (97) sobre a superfı́cie. Podemos interpretar o tensor de polarização em termos da condutividade do grafeno, onde a variação da ação efetiva com respeito a Ak produz um valor de espera da corrente elétrica no grafeno j k ' Πkl Al . 46 4 CÁLCULOS DO OPERADOR DE POLARIZAÇÃO 4.1 Uma camada de grafeno - Equação de Dirac acoplada ao campo eletromagnético Com o intúito de apresentar os cálculos do operador de polarização advindo da ação / iremos rever rapidamente as notações compactas que simplificam o cálculo do d3 xψ̄ Dψ tensor de polarização tornando o cálculo realizado para o caso especı́fico do Grafeno equivalente ao de uma ação de Dirac usual em D = 3(WEINBERG, 1996). Partindo das definições usuais da métrica no espaço-tempo de minkowski em D = 3, (ηµν = (+, −, −)) e das regras de comutaçďão das matrizes γ: R {γ µ , γ ν } = 2η µν , e da regra de comutação [γ µ , γ ν ] = i µν σ γ σ , somos capazes de obter as matrizes redefinidas que aparecem no problema do Grafeno utilizando o seguinte tensor: T µν 1 = diag(1, vF , vF ) = 0 0 0 vF 0 0 0 . vF (98) Onde vemos as matrizes γ µ são reescaladas para γ̃ µ como γ̃ 0 = γ 0 para a parte temporal e γ̃ i = vF γ i para a parte espacial. Claro está que as matrizes são verdadeiramente reescaladas através deste tensor, uma vez que estas devem obedecer as seguintes regras: γ̃ 0 = γ 0 γ̃ i = vF γ i , γ̃ 0 , γ̃ 0 = 2 i j γ̃ , γ̃ = −2vF2 δ ij , {γ̃ µ , γ̃ ν } = 2η̃ µν . 47 Onde: η̃ µν = (+1, −vF2 , −vF2 ), (99) [γ̃ µ , γ̃ ν ] = i αβ σ T ν β T µ α (T −1 )σ ρ γ̃ ρ , (100) γ̃ µ = T µ ν γ ν γ σ = (T −1 )σ µ γ̃ µ , (101) p̃µ = T µ ν pν (T −1 ) σ µ p̃µ = pσ σ pσ = (T −1 ) µ T µ ν pν , (102) Embora tenhamos definido a ação em Minkowsky, e realizemos os cálculos das integrais também em Minkowsky é conveniente lembrar que para propagadores do tipo Yukawa sempre é possı́vel realizar uma rotação de wick para o Euclideano na realização dos cálculos das integrais. O motivo de lembrar aqui este fato ficará claro quando formos realizar o o cálculo envolvendo duas camadas de Grafeno, onde uma rotação de Wick não é bem definida devido a natureza dos pólos do propagador. A ação de Dirac acoplada ao campo eletromagnético é: Z S = d3 x iψ̄γ̃ µ (∂µ + ieAµ )ψ + mψ̄ψ. (103) Para realizar a bozonização, por meio de regras de Feynmann, devemos obter o propagador livre. Pra tanto iremos nos utilizar da simples técnica de obter o mesmo à partir da equação de movimento. δL = iγ̃ µ ∂µ ψ + mψ − eγ̃ µ ψAµ = 0 δ ψ̄ iγ̃ µ ∂µ ψ + mψ = eγ̃ µ ψAµ σ ≡ eγ̃ µ ψAµ 48 Obtemos portanto diretamente a função de Green, onde G é a 4 (−γ̃ µ kµ + m)ψ = σ ψ = Gσ (−γ̃ µ kµ + m)Gσ = σ (−γ̃ µ kµ + m)G = 1 G = (aγ̃ ν kν + b) −aγ̃ µ γ̃ ν kµ kν + maγ̃ ν kν − bγ̃ µ kµ + mb = 1 Usando a relação de anti-comutação, {γ̃ µ , γ̃ ν } = γ̃ µ γ̃ ν + γ̃ ν γ̃ µ a − {γ̃ µ , γ̃ ν } kµ kν + maγ̃ ν kν − bγ̃ µ kµ + mb = 1 2 , e tendo em vista que as as matrizes : γ̃ 0 = γ 0 , γ̃ 1,2 = vF γ 1,2 carregam a velocidade de Férmi. Transferimos a escala das matrizes γ̃ para os momentos kµ a − {γ µ , γ ν } k̃µ k̃ν + maγ ν k̃ν − bγ µ k̃µ + mb = 1 2 de tal forma que estes novos momentos k̃µ nada mais são que os momentos antigos reescalonados. Lembrando que: {γ µ , γ ν } = 2η µν , temos a − 2η µν k̃µ k̃ν + maγ ν k̃ν − bγ µ k̃µ + mb = 1 2 4 Usando a transformada de Fourier para substituir a derivada parcial pelo termo correspondente no espaço de momento: Z ϕ(k) = d3 x e−ik.x ϕ(x) Z ϕ(x) = d3 k eik.x ϕ(k) Z ∂µ ϕ(x) = ikµ d3 k eik.x ϕ(k) Onde ∂µ ⇒ ikµ . 49 . −ak̃ ν k̃ν + maγ ν k̃ν − bγ µ k̃µ + mb = 1 −ak̃ 2 + (ma − b)γ µ k̃µ + mb = 1 ( ma − b = 0 b = ma −ak̃ 2 + mb = 1 −ak̃ 2 + m2 a = 1 a(−k̃ 2 + m2 ) = 1 a= −1 (k̃ 2 − m2 ) . Desta forma obtemos para propagador dos férmions: G=− i (γ µ k̃µ + m) (k̃ 2 − m2 ) (104) Como é necessário obter as regras de Feynmann para realizar o cálculo a dois campos de calibre externos, vamos estudar o vértice de interações. Sabendo que o momento P total no vértice é conservado, i(−eγ̃ µ δ( p)), podemos utilizando teorema de Wick determinar facilmente a integral a ser calculada para a função de duas patas externas de calibre a um loop como sendo: tr(−ieγ̃ µ hψ̄(k + p)ψ(k + p)i(−ieγ̃ ν )hψ̄(k)ψ(k)i) = ! β α k̃ + m) −i(γ ( k̃ + p̃) + m) −i(γ α β . e2 tr γ̃ µ γ̃ ν 2 2 2 (k̃ + p̃) − m k̃ − m2 Agora, precisamos escrever todas as matrizes γ sem til para calcularmos o traço. ! α β −i(γ (k̃ + p̃)α + m) λ −i(γ k̃β + m) e2 T µ σ T ν λ tr γ σ γ = (k̃ + p̃)2 − m2 k̃ 2 − m2 σ α λ β σ α λ σ λ β 2 σ λ γ γ γ γ (k̃ + p̃)α k̃β + mγ γ γ (k̃ + p̃)α + mγ γ γ k̃β + m γ γ h ih i e2 T µ σ T ν λ tr 2 2 2 2 k̃ − m (k̃ + p̃) − m (105) 50 Integrando a eq. (105) em relação ao momento k. Z 3 σ α λ β σ α λ σ λ β 2 σ λ dk γ γ γ γ (k̃ + p̃)α k̃β + mγ γ γ (k̃ + p̃)α + mγ γ γ k̃β + m γ γ h ih i e2 T µ σ T ν λ tr 3 (2π) (k̃ + p̃)2 − m2 k̃ 2 − m2 (106) Reescalando a variável de integração. Z 3 σ α λ β σ α λ σ λ β 2 σ λ 2 d k̃ γ γ γ γ (k̃ + p̃)α k̃β + mγ γ γ (k̃ + p̃)α + mγ γ γ k̃β + m γ γ e µ ν h ih i T σT λ tr 2 3 vF (2π) (k̃ + p̃)2 − m2 k̃ 2 − m2 (107) Apenas para não carregar excessivamente a notação iremos, por hora, trocar p̃ ⇒ p e k̃ ⇒ q. σ α λ β Z γ γ γ γ (q + p)α qβ + mγ σ γ α γ λ (q + p)α + mγ σ γ λ γ β qβ + m2 γ σ γ λ d3 q e2 µ ν T σT λ tr vF2 (2π)3 [(q + p)2 − m2 ] [q 2 − m2 ] (108) Do traço das matrizes γ. 5 tr(γ σ γ λ ) = η σλ i σαλ tr(γ σ γ α γ λ ) = 2 tr(γ σ γ α γ λ γ β ) = η σα η λβ − η αβ η σλ + η σβ η αλ . Obtemos realizando o cálculo do traço das matrizes γ e as devidas contrações. d3 q (q + p)λ q σ + (q + p)σ q λ − η σλ (q + p)α qα + m2 η σλ + 2i σαλ pα m = (2π)3 [(q + p)2 − m2 ] [q 2 − m2 ] Z d3 q 2(q + p)σ q λ − η σλ [(q + p)α qα − m2 ] + 2i mσαλ pα e2 µ ν T σT λ = vF2 (2π)3 [(q + p)2 − m2 ] [q 2 − m2 ] Z e2 µ ν d3 q 2q σ q λ + 2pσ q λ − η σλ (q 2 + pα qα − m2 ) + 2i mσαλ pα T σT λ vF2 (2π)3 [(q + p)2 − m2 ] [q 2 − m2 ] (109) e2 µ ν T σT λ vF2 Z De modo a resolver essa integral, fazendo uso de regularização dimensional(RAMOND, 1989),vamos reescrever o denominador usando a parametrização de Feynman. O objetivo 5 Os cálculos do traço das matrizes γ estão explı́citos no apêndice 1 51 desse método é reduzir os dois fatores no denominador em um único polinômio quadrático em q. O preço é a introdução de um parâmetro auxiliar para ser integrado. 1 = ab Z 1 0 dx [ax + b(1 − x)]2 (110) onde, a ≡ (q + p)2 − m2 e b ≡ q 2 − m2 1 = [(q + p)2 − m2 ] [q 2 − m2 ] Z 1 1 dx [(q + p)2 x − m2 x + q 2 − m2 − x(q 2 − m2 )]2 Z 1 1 = dx [q 2 + 2qpx + p2 x − m2 ]2 0 0 (111) Substituindo (111) em (109), obtemos: Z 1 Z d3 q 2q σ q λ + 2pσ q λ − η σλ (q 2 + pα qα − m2 ) + 2i mσαλ pα e2 µ ν T σT λ dx . vF2 (2π)3 [q 2 + 2qpx + p2 x − m2 ]2 0 (112) Agora temos um denominador escrito em uma forma conhecida e podemos resolver em d3 q usando a integração dimensional. Z Γ(A − ω) d2ω q = 2ω 2 2 A ω (2π) (q + 2qQ + M ) (4π) Γ(A)(M 2 − Q2 )A−ω (113) Onde, Q ≡ px e M 2 = p2 x − m2 . Para os termos da integral que não dependem do momento no numerador. Z d3 q (2π)3 Z 0 1 1 dx = [q 2 + 2qQ + M 2 ]2 Z 1 dx Γ(1/2) 1 3/2 (4π) Γ(2) [−x(x − 1)p2 − m2 ]1/2 dx π 1/2 1 3/2 4π 1 [−x(x − 1)p2 − m2 ]1/2 0 Z 1 = 0 Z = − 0 1 dx 1 8π [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 (114) Para os termos que dependem de uma potência de qµ . Z d2ω q qµ Γ(A − ω) Qµ =− 2ω 2 2 A ω 2 (2π) (k + 2kQ + M ) (4π) Γ(A) (M − Q2 )A−ω Onde, Qµ = xpµ . Resolvendo para os termos que dependem de qα e q λ . (115) 52 d3 q qα x pα x pα π 1/2 1 = − = 3 2 2 2 3/2 2 2 2 2 1/2 (2π) (q + 2qQ + M ) (4π) (−x p − m + p x) 8π [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 Z (116) E para q λ : 1 x pλ 8π [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 (117) Para os termos que dependem do produto q µ q ν . d(2ω) q qµ qν = (2π)2ω (q 2 + 2kQ + M 2 )A Γ(A − ω) 1 µν Γ(A − 1 − ω) 1 µ ν Q Q + η (4π)ω Γ(A) (M 2 − Q2 )A−ω 2 (M 2 − Q2 )A−1−ω Z (118) Onde, Qµ Qν = x2 pµ pν . Resolvendo para o termo que depende de q σ q λ . d3 q q σ q λ = (2π)3 (q 2 + 2qQ + M 2 )2 1 Γ(2 − 3/2) 1 σλ Γ(1 − 3/2) 2 σ λ + η xp p 2 (4π)3/2 Γ(2) (p x − m2 − p2 x2 )1/2 2 (p2 x − m2 − p2 x2 )−1/2 1 1 σλ π 1/2 2π 1/2 2 σ λ = xp p 2 + η (4π)3/2 (p x − m2 − p2 x2 )1/2 2 (p2 x − m2 − p2 x2 )−1/2 ( ) 1 x2 p σ p λ 1/2 = + η σλ x(1 − x)p2 − m2 1/2 2 2 8π [x(1 − x)p − m ] ( ) x2 p σ p λ 1 1/2 =− + η σλ (x(x − 1)p2 + m2 ) 8π [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 Z (119) Para os termos que dependem de q 2 . 53 Z q2 d2ω q = (2π)2ω (q 2 + 2qQ + M 2 )A Γ(A − ω) 1 2ω Γ(A − 1 − ω) 2 Q + (4π)ω Γ(A) (M 2 − Q2 )A−ω 2 (M 2 − Q2 )A−1−ω (120) Onde, Q2 = x2 p2 . Resolvendo para o termo que depende de q 2 . d3 q q 2 = (2π)3 (q 2 + 2qQ + M 2 )2 p2 x2 (π)1/2 3 2(π)1/2 1 + (4π)3/2 (p2 x − m2 − p2 x2 )1/2 2 (p2 x − m2 − p2 x2 )−1/2 1 3 p 2 x2 = + 8π (x(1 − x)p2 − m2 )1/2 (x(1 − x)p2 − m2 )−1/2 " # x2 p 2 1 1/2 =− + 3 x(x − 1)p2 + m2 8π [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 Z (121) e substituindo as integrais calculadas em d3 q. e2 µ ν T σT λ vF2 Z 1 dx 0 e2 µ ν 1 T σT λ vF2 8π + Z 1 Z d3 q 2q σ q λ + 2pσ q λ − η σλ (q 2 + pα qα − m2 ) + 2i mσαλ pα = (2π)3 [q 2 + 2qpx + p2 x − m2 ]2 ( dx − 0 2xpσ pλ [x(x − 1)p2 + − m2 ]1/2 + η σλ xp2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 2x2 pσ pλ [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 η σλ x2 p2 1/2 − 2η σλ x(x − 1)p2 + m2 1/2 + 3η σλ x(x − 1)p2 + m2 [x(x − 1)p2 + ) η σλ m2 i mσαλ pα − − = [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 m2 ]1/2 54 e2 µ ν 1 T σT λ vF2 8π + ( 1 Z dx − 0 η σλ [x(x − 1)p2 ] [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 e2 µ ν 1 T σT λ vF2 8π Z e2 µ ν 1 T σT λ vF2 8π Z 2pσ pλ [x(x − 1)] [x(x − 1)p2 + − ( 1 dx − 0 ( 1 dx 1/2 + η σλ x(x − 1)p2 + m2 m2 ]1/2 η σλ m2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 2pσ pλ [x(x − 1)] [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 i mσαλ pα − 2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 ) = 2η σλ [x(x − 1)p2 ] + [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 ) i mσαλ pα − = 2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 2(η σλ p2 − pσ pλ ) [x(x − 1)] [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 0 mσαλ pα i − 2 [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 ) = (122) Agora precisamos resolver duas integrais em x. e2 µ ν 1 T σT λ vF2 4π ( p2 Θσλ Z 1 dx 0 6 [x(x − 1)] [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 i − mσαλ pα 4 Z 0 1 dx [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 ) = (123) onde: Θνµ = η νµ − 6 kν kµ k2 As integrais em x foram resolvidas no Mapple. 55 Z 1 dx [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 0 Z 1 dx 0 p 2 1 = 2 p arctanh p2 [x(x − 1)] [x(x − 1)p2 + m2 ]1/2 1m − 2 p2 1 m2 + 2 4 p 1m = − 2 p2 p ! p2 = 2I1 2m 1 m2 + 2 4 p (124) I1 2 m p σλ 2 I1 Θ = − + m I1 Θσλ 2 4 (125) (126) Substituindo. 2 e2 µ ν 1 m p i σαλ 2 σλ T σT λ − + m I1 Θ − m pα I1 = vF2 4π 2 4 2 2 p i σαλ e2 µ ν 1 m σλ 2 σλ T σT λ Θ − + m I1 Θ − m pα I1 vF2 4π 2 4 2 (127) Este resultado resume o cálculo necessário para se obter a ação bozonizada relativa a ação fermiônica do grafeno. Este resultado é já conhecido na literatura. 4.2 Duas camadas de grafeno Agora iremos realizar o cálculo relativo a duas camadas de Grafeno. Em particular é interessante tornar a explicar que o cálculo de duas camadas é interessante não apenas devido ao problema do grafeno em si mas também devido ao comportamento que estas duas camadas conectadas por um potencial escalar apresentam. Como veremos a seguir o comportamento confinado dos propagadores de férmions, i-particles (SORELLA, 2011), apresentam interessantes ligações nas mais diversas áreas. Apenas para citar um tema distante do que estamos estudando que matemáticamente apresenta enorme similaridade com este problema é o caso de duas membranas supersimétricas com cargas opostas que corresponde a um dos mecanismos associados ao confinamento atualmente em estudos. Partindo de uma ação de Dirac onde temos férmions na fundamental de SU(2)(LI; ZHANG; WU, 2013) e realizando todos os cálculos no Euclideano (devido as i-particles 56 serem bem definidas apenas neste caso) temos: T a , T b = ifabc T c , 1 T a = σa, 2 1 i T a T b = δ ab 1 + f abc T c 4 2 σ a σ b = δab 1 + iabc σ c (128) (129) Escrevendo a ação é importante relembrar que as matrizes γ continuam reescaladas, apenas omitimos a redefinição por uma questão de simplicidade. Z S= Z S= d3 x i ψ̄ i γ̃ µ (∂µ δij − ig(T a )ij Aµ a ) ψ j − imψ̄ i ψ i − 2ψ̄ i (T a )ij ϕa ψ j (130) d3 x i ψ̄ i γ̃ µ ∂µ ψ i − imψ̄ i ψ i − 2ψ̄ i (T a )ij ϕa ψ j + g ψ̄ i γ̃ µ (T a )ij Aµ a ψ j (131) Os dois primeiros termos da ação preservam a interação entre os vizinhos mais próximos. O terceiro termo é um termo de mistura dos campos (potencial) que acontece via acoplamento SU(2)(essa é apenas uma forma de colocar dois férmions, um para cada camada), onde a matriz (T a )ij , onde a = 1, 2, 3 (número de geradores do grupo) faz o acoplamento entre dois férmions(excitações coletivas) que pertencem um a cada plano do grafeno e o termo ϕa = mδ a3 faz o papel de um potencial quı́mico ( “gap”, massa) e contribui para o propagador. Nesse caso, existem duas situações possı́veis, a primeira os dois planos interagem entre si e a segunda um plano não sabe da existência do outro, quando o campo ϕa não possui valor de espera. Vamos calcular o propagador para essa ação, mas antes colocaremos o termo de potencial efetivo na forma bilinear, lembrando que trataremos do caso em que ϕa = mδ a3 , portanto a interação dos férmions com um campo escalar contribui para o propagador. iψ̄ i γ̃ µ ∂µ ψ i − imψ̄ i ψ i − 2ψ̄ i (T a )ij ϕa ψ j = ψ̄ i γ̃ µ ∂µ ψ i − imψ̄ i ψ i − mψ̄ i (σ a )ij ϕa ψ j (132) Escolhendo a matriz σ 3 , temos: Z S= d3 x ψ̄ i (iγ̃ µ ∂µ − im) δij − m(σ 3 )ij ψ j + g ψ̄ i γ̃ µ (T a )ij Aµ a ψ j (133) 57 O sinal do termo de massa depende da escolha dos elementos da matriz σ 3 . Da equação de movimento temos: µ j δL 3 = (iγ̃ ∂ − im) δ − m(σ ) ψ + gγ̃ µ (T a )ij Aµ a ψ j = 0 µ ij ij δ ψ̄ i (134) Substituindo na ação ∂µ ⇒ ikµ . − (γ̃ µ kµ + im) δij + m(σ 3 )ij ψ j = −gγ̃ µ (T a )ij Aµ a ψ j (135) − (γ̃ µ kµ + im) δij + m(σ 3 )ij ψ j = σ ψ j = Gσ Onde, σ ≡ −gγ̃ µ (T a )ij Aµ a ψ j é uma fonte. − (γ̃ µ kµ + im) δij + m(σ 3 )ij Gσ = σ µ (γ̃ kµ + im) δij + m(σ 3 )ij Gjk = −δik (136) (γ̃ µ kµ + im)Gik + m(σ 3 )ij Gjk = −δik (137) onde σ3 = 1 0 0 −1 ! (138) Os propagadores G12 e G21 são nulos. Calculando o propagador G11 . (γ̃ µ kµ + im)G11 + mG11 = −1 (139) G11 = A(γ̃ ν kν ) + Bm (140) 58 A(γ̃ µ kµ + im)(γ̃ ν kν ) + Bm(γ̃ µ kµ + im) + mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 Aγ̃ µ kµ γ̃ ν kν + imAγ̃ ν kν + Bmγ̃ µ kµ + im2 B + mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 Ak 2 + imAγ̃ ν kν + Bmγ̃ µ kµ + im2 B + mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 (141) Novamente, transferindo a escala das matrizes γ̃ para os momentos. Ak̃ 2 + imAγ ν k̃ν + Bmγ µ k̃µ + im2 B + mAγ ν k̃ν + Bm2 = −1 (142) Ak̃ 2 + mγ ν k̃ν [B + A(i + 1)] + m2 B(i + 1) = −1 (143) Onde, B + A(1 + i) = 0, B = −A(1 + i) Ak̃ 2 − Am2 (1 + i)2 = −1 A= k̃ 2 G11 = −1 , − 2im2 B= k̃ 2 (144) (145) −1 (1 + i) − 2im2 o n −1 γ µ k̃µ − (1 + i)m k̃ 2 − 2im2 (146) (147) (148) Calculando o propagador G22 . (γ̃ µ kµ + im)G11 − mG11 = −1 (149) G22 = A(γ̃ ν kν ) − Bm (150) 59 A(γ̃ µ kµ + im)(γ̃ ν kν ) + Bm(γ̃ µ kµ + im) − mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 Aγ̃ µ kµ γ̃ ν kν + imAγ̃ ν kν − Bmγ̃ µ kµ − im2 B − mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 Ak 2 + imAγ̃ ν kν − Bmγ̃ µ kµ − im2 B − mAγ̃ ν kν + Bm2 = −1 (151) Novamente, transferindo a escala das matrizes γ̃ para os momentos. Ak̃ 2 + imAγ ν k̃ν − Bmγ µ k̃µ − im2 B − mAγ ν k̃ν + Bm2 = −1 (152) Ak̃ 2 + mγ ν k̃ν [A(i − 1) − B] − m2 B(i − 1) = −1 (153) Onde, A(i − 1) − B = 0, B = A(i − 1) Ak̃ 2 − Am2 (i − 1)2 = −1 A= k̃ 2 G22 = −1 , + 2im2 B= (154) (155) (i − 1) + 2im2 k̃ 2 n o −1 γ µ k̃µ − (i − 1)m k̃ 2 + 2im2 Gij = δi1 δj1 G11 (k̃) + δi2 δj2 G22 (k̃) (156) (157) (158) Onde, visando a simplificação dos cálculos subsequentes definiremos dois projetores δi1 δj1 = O1 ij (159) δi2 δj2 = O2 ij . (160) Sua utilizção ao longo dos cálculos ficará evidente ao longo deste. Gij = O1 ij G11 (k̃) + O2 ij G22 (k̃) (161) 60 Da mesma forma como procedemos anteriormente para o caso de uma camada de Grafeno vamos agora obter a regra de Vértice e calcular o loop. Sendo a regra de P Feynmann associada ao vértice dada por: −gγ̃ µ (T a )ij δ( p) g 2 Z g2 µ ν T σT λ vF2 Z o d k tr γ̃ (T )ij Gjk (k̃)γ̃ (T )kl Gli (k̃ − p̃) = 3 n n µ a ν b o d k̃ tr γ (T )ij Gjk (k̃)γ (T )kl Gli (k̃ − p̃) = 3 σ a λ b (162) A variável de integração foi reescalada. Novamente por simplicidade vamos renomear as variáveis p̃ ⇒ p e k̃ ⇒ q. Calculando o traço separadamente. tr γ σ (T a )ij O1 jk G11 (q) + O2 jk G22 (q) γ λ (T b )kl O1 li G11 (q − p) + O2 li G22 (q − p) = (163) tr γ σ (T a )ij O1 jk G11 (q) + (T a )ij O2 jk G22 (q) γ λ (T b )kl O1 li G11 (q − p) + (T b )kl O2 li G22 (q − p) = (164) Usando as equações 159 e 160 e fazendo as devidas contrações. tr γ σ [(T a )i1 δk1 G11 (q) + (T a )i2 δk2 G22 (q)] γ λ (T b )k1 δi1 G11 (q − p) + (T b )k2 δi2 G22 (q − p) = (165) tr γ σ (T a )i1 δk1 G11 (q)γ λ (T b )k1 δi1 G11 (q − p) + γ σ (T a )i2 δk2 G22 (q)γ λ (T b )k1 δi1 G11 (q − p)+ γ σ (T a )i1 δk1 G11 (q)γ λ (T b )k2 δi2 G22 (q − p) + γ σ (T a )i2 δk2 G22 (q)γ λ (T b )k2 δi2 G22 (q − p) = (166) Fazendo, i = 1, k = 1 no primeiro termo, i = 1, k = 2 no segundo, i = 2, k = 1 no terceiro e i = 2, k = 2 no último, teremos: tr γ σ G11 (q)γ λ G11 (q − p)(T a )11 (T b )11 + γ σ G22 (q)γ λ G11 (q − p)(T a )12 (T b )21 + γ σ G11 (q)γ λ G22 (q − p)(T a )21 (T b )12 + γ σ G22 (q)γ λ G22 (q − p)(T a )22 (T b )22 = (167) Usando os produtos das matrizes T . 61 (T a )11 T b (T a )12 T b (T a )21 T b (T a )22 T b 11 21 12 22 1 a3 b3 δ δ 4 1 a 1 ab = (σ )12 (σ b )21 = δ − δ a3 δ b3 + iab3 4 4 1 ab 1 a (σ )21 (σ b )12 = δ − δ a3 δ b3 − iab3 = 4 4 1 a3 b3 = δ δ 4 = (168) 1 a3 b3 σ δ δ γ G11 (q)γ λ G22 (q − p) + γ σ G22 (q)γ λ G22 (q − p) + 4 1 ab δ − δ a3 δ b3 γ σ G11 (q)γ λ G22 (q − p) + γ σ G22 (q)γ λ G11 (q − p) + 4 i ab3 σ λ σ λ γ G22 (q)γ G11 (q − p) − γ G11 (q)γ G22 (q − p) = 4 tr (169) Quando encontramos termos que não se misturam devemos procurar por projetores. Vamos tentar ver de outra forma. 1 Oij+ = (δij + 2(T 3 )ij ) 2 1 Oij− = (δij − 2(T 3 )ij ) 2 (170) Onde Oij+ só projeta i = j = 1 e Oij− só projeta i = j = 2. Dá definição de projetor. + Oij+ Ojl = Oil+ − Oij+ Ojl = 0, + =0 Oij− Ojl − Oij− Ojl = Oil− ( Gij = − Onde. Oij+ A(k, m) Oij− B(k, m) + 2 k 2 − 2im2 k + 2im2 (171) ) (172) 62 A(k) = γ µ kµ − m(1 + i) B(k) = γ µ kµ + m(1 − i) (173) Precisamos da álgebra entre as matrizes T a , O+ = ia3 c T c T a , O− = −ia3 c T c (174) Retornando ao loop, agora com o propagador reescrito. tr γ σ (T a )ij Gjk (k)γ λ (T b )kl Gli (k − p) = " ( tr γ σ (T a )ij (175) # ) + − − + Ojk B(k) Ojk A(k) O O B(k − p) A(k − p) li li + 2 γ λ (T b )kl + = 2 2 2 2 2 k − 2im k + 2im (k − p) − 2im (k − p)2 + 2im2 (176) ( tr γ σ A(k)γ λ B(k − p) [k 2 − 2im2 ] [(k − p)2 + 2im2 ] σ ) λ a tr γ B(k)γ A(k − p) − +tr (T )ij Ojk (T b )kl Oli+ = [k 2 + 2im2 ] [(k − p)2 − 2im2 ] + tr (T a )ij Ojk (T b )kl Oli− (177) + tr (T a )ij Ojk (T b )kl Oli+ = 0 − tr (T a )ij Ojk (T b )kl Oli− = 0 1 ab + tr (T a )ij Ojk (T b )kl Oli− = δ − δ a3 δ b3 − iab3 = P−ab 2 a 1 ab − + b δ − δ a3 δ b3 + iab3 = P+ab tr (T )ij Ojk (T )kl Oli = 2 (178) 63 σ ) σ λ λ tr γ B(k)γ A(k − p) tr γ A(k)γ B(k − p) + P+ab 2 = P−ab 2 [k − 2im2 ] [(k − p)2 + 2im2 ] [k + 2im2 ] [(k − p)2 − 2im2 ] ( (179) Calculando o traço das matrizes gama: No primeiro fator. tr γ σ A(k)γ λ B(k − p) = tr γ σ [γ α kα − m(1 + i)] γ λ γ β (k − p)β + m(1 − i) , (180) que fornece: = tr γ σ γ α γ λ γ β kα (k − p)β + m(1 − i)tr γ σ γ α γ λ kα − m(1 + i)tr γ σ γ λ γ β (k − p)β − 2m2 tr γ σ γ λ , (181) e por fim: i i k σ (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ kα (k − p)α − m(1 − i) σαλ kα − m(1 + i) σλβ (k − p)β − 2m2 η σλ 2 2 (182) Agora o traço do segundo fator. tr γ σ B(k)γ λ A(k − p) = tr γ σ γ β kβ + m(1 − i) γ λ [γ α (k − p)α − m(1 + i)] (183) = tr γ σ γ β γ λ γ α kβ (k − p)α − m(1 + i)tr γ σ γ β γ λ kβ + m(1 − i)tr γ σ γ λ γ α (k − p)α − 2m2 tr γ σ γ λ (184) i i k σ (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ k α (k − p)α + m(1 + i) σλβ kβ + m(1 − i) σλα (k − p)α − 2m2 η σλ 2 2 (185) Somando os dois termos e usando a parametrização de Feynmann (110), onde para os denominadores de P−ab , a = k 2 − 2im2 e b = (k − p)2 + 2im2 , para os termos P+ab , a = k 2 + 2im2 e b = (k − p)2 − 2im2 , obtemos 64 d3 k 1 1 3 2 2 2 (2π) [k − 2im ] [(k − p) + 2im2 ] o n m k σ (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ kα (k − p)α − imσλα kα + (i − 1)σλα pα − 2m2 η σλ 2 Z 3 d k 1 1 +P+ab 3 2 2 2 (2π) [k + 2im ] [(k − p) − 2im2 ] n o m k σ (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ kα (k − p)α + imσλα kα − (i + 1)σλα pα − 2m2 η σλ 2 (186) P−ab Z Tratando os denominadores, k 2 − 2im2 (1 − x) + (k − p)2 + 2im2 x = k 2 − 2xkp + xp2 + 4im2 x − 2im2 2 k + 2im2 (1 − x) + (k − p)2 − 2im2 x = k 2 − 2xkp + xp2 − 4im2 x + 2im2 (187) 1 d3 k 1 3 2 2 (2π) [k − 2xkp + xp + 2im2 (2x − 1)] 0 n o m k σ (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ kα (k − p)α − imσλα kα + (i − 1)σλα pα − 2m2 η σλ 2 Z 1 Z 3 d k 1 dx +P+ab (2π)3 [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (1 − 2x)] 0 n o m σ λ λ σ σλ σλα α σλα 2 σλ k (k − p) + k (k − p) − η kα (k − p) + im kα − (i + 1) pα − 2m η 2 (188) P−ab Z Z dx Usando as identidades, k µ (k − p)ν d3 k (2π)3 (k 2 + 2kQ + M 2 )2 Z d3 k k α (k − p)α (2π)3 (k 2 + 2kQ + M 2 )2 Z d3 k kµ 3 2 (2π) (k + 2kQ + M 2 )2 Z d3 k 1 3 2 (2π) (k + 2kQ + M 2 )2 Z Para a parte de P+ab : Γ(1/2) [Qµ Qν − (M 2 − Q2 )η µν + Qµ pν ] (4π)3/2 (M 2 − Q2 )1/2 Γ(1/2) [Qα (Qα + pα − 3M 2 + 3Q2 )] = (4π)3/2 (M 2 − Q2 )1/2 Γ(1/2) Qµ = − 3/2 2 (4π) (M − Q2 )1/2 Γ(1/2) 1 = 3/2 2 (4π) (M − Q2 )1/2 = (189) (190) (191) (192) 65 Q = −xp M 2 = xp2 + 2im2 (1 − 2x) (193) Para a parte de P−ab : Q = −xp M 2 = xp2 + 2im2 (2x − 1) (194) Resolvendo as integrais em k: Para o primeiro termo de P−ab usando a identidade 189: k σ (k − p)λ d3 k = (2π)3 [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)] π 1/2 x2 pσ pλ − [xp2 + 2im2 (2x − 1) − x2 p2 ] η σλ − xpσ pλ = (4π)3/2 [xp2 + 2im2 (2x − 1) − x2 p2 ]1/2 1 xpσ pλ (x − 1) − [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)] η σλ 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 Z (195) Resolvendo para o segundo termo de P−ab usando a identidade 189: d3 k k λ (k − p)σ = (2π)3 [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)] π 1/2 x2 pλ pσ − [xp2 + 2im2 (2x − 1) − x2 p2 ] η λσ − xpλ pσ = (4π)3/2 [xp2 + 2im2 (2x − 1) − x2 p2 ]1/2 1 xpλ pσ (x − 1) − [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)] η λσ 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 Z Resolvendo para o terceiro termo de P−ab usando a identidade 190: (196) 66 d3 k η σλ k α (k − p)α = (2π)3 [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)] π 1/2 η σλ {−xpα (−xpα + pα ) − 3 [xp2 + 2im2 (2x − 1)] + 3x2 p2 } = (4π)3/2 [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 1 η σλ {x2 p2 − 4xp2 − 6im2 (2x − 1) + 3x2 p2 } = 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 Z 1 η σλ {4x2 p2 − 4xp2 − 6im2 (2x − 1)} = 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 1 η σλ {4x(x − 1)p2 − 6im2 (2x − 1)} 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 (197) Resolvendo para o quarto termo de P−ab usando a identidade 191: Z d3 k kα = 3 2 (2π) [k − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)] xpα π 1/2 = 3/2 (4π) [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 1 xpα 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 (198) Resolvendo para o quinto e o sexto termo de P−ab usando a identidade 192: Z 1 d3 k = (2π)3 [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)] π 1/2 1 = 3/2 2 (4π) [x(1 − x)p + 2im2 (2x − 1)]1/2 1 1 8π [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 (199) Juntando os termos 195, 196, 197, 198 e 199 de P−ab , mas tratando apenas o numerador: 67 2xpσ pλ (x − 1) − 2x(1 − x)p2 η σλ − 4im2 (2x − 1)η σλ − η σλ 4x(x − 1)p2 m +η σλ 6im2 (2x − 1) − imσλα pα x + (i − 1)σλα pα − 2m2 η σλ = 2 m 2xpσ pλ (x − 1) − 2x(x − 1)p2 η σλ + 2im2 (2x − 1)η σλ − imσλα pα x + (i − 1)σλα pα − 2m2 η σλ = 2 σ λ 1 p p 1 2 σλ 2 2 σλ σλα −x − pα i −2x(x − 1)p η − 2 + 2im (2x − 1) − 2m η + m p 2 2 (200) Os resultados da integração em k para os termos de P+ab usando a identidade 189, 190, 191 e 192 são idênticos aos resultados de P−ab . Juntando os termos 195, 196, 197, 198 e 199 para tratar apenas o numerador de P+ab : 2x2 pσ pλ − 4im2 (1 − 2x) + 2x(1 − x)p2 η σλ − 2xpσ pλ m − x(x − 1)p2 − 6im2 (1 − 2x) − 3xp2 + 3x2 p2 η σλ + imσλα pα x − (i + 1)σλα pα − 2m2 η σλ = 2 (201) 2x(x − 1)pσ pλ − 4im2 (1 − 2x)η σλ − 2x(1 − x)p2 η σλ + x(1 − x)p2 η σλ m +6im2 (1 − 2x)η σλ + 3x(1 − x)p2 η σλ + imσλα pα x − (i + 1)σλα pα − 2m2 η σλ = 2 1 σ λ 2 σλ 2 2 σλ σλα 2x(x − 1)p p − 2x(x − 1)p η + 2im (1 − 2x) − 2m η − m −ix + (i + 1) pα = 2 σ λ σλ 1 1 p p 2 2 2 σλα σλ −x + −2x(x − 1)p η − 2 + 2im (1 − 2x) − 2m η − m pα i p 2 2 (202) Obtemos como resultado: 68 P−ab 8π Z 1 dx 1 [x(1 − + 2im2 (2x − 1)]1/2 0 σλ 1 1 σλα 2 σλ 2 2 i −2x(x − 1)p Θ (p) + 2im (2x − 1) − 2m η + m −x − pα 2 2 Z P+ab 1 1 + dx 2 8π 0 [x(1 − x)p + 2im2 (1 − 2x)]1/2 σλ 1 1 σλα 2 σλ 2 2 i −2x(x − 1)p Θ (p) + 2im (1 − 2x) − 2m η − m −x + pα , 2 2 x)p2 (203) Onde Θσλ = η σλ − pσ pλ p2 é o projetor transverso. Resta resolvermos as integrais em x correspondentes aos termos que multiplicam ab P− , que são: Z 1 dx 0 Z 1 dx 0 Z 1 dx 0 [−2x(x − 1)] [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 2m2 [i(2x − 1) − 1] [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 [i(1/2 − x) − 1/2] [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]1/2 (204) (205) (206) e os termos que multiplicam o P+ab Z 1 dx 0 Z 1 dx 0 Z 1 dx 0 [−2x(x − 1)] [x(1 − x)p2 + 2im2 (1 − 2x)]1/2 2m2 [i(1 − 2x) − 1] [x(1 − x)p2 + 2im2 (1 − 2x)]1/2 [i(1/2 − x) + 1/2] [x(1 − x)p2 + 2im2 (1 − 2x)]1/2 (207) (208) (209) Resultado de 204: m 12m3 1 (p4 + 12m4 ) p − + p2 p4 p4 4 p2 ( " r # "r #) 1 (p2 + 4im2 ) 1 p2 (p2 + 4im2 ) p2 arctan + arctan 1− 2 −2im2 p2 2im2 2 p2 (210) 69 Resultado de 207: m 12m3 1 (p4 + 12m4 ) p + + p2 p4 p4 4 p2 ( " r # "r #) p2 (p2 − 4im2 ) p2 1 1 (p2 − 4im2 ) arctan + arctan 1− 2 2im2 p2 −2im2 2 p2 (211) Resultado de 205: 2m2 (p2 + 4m2 ) 8m3 p − p2 p2 p2 # " r ( " r #) 1 1 (p2 + 4im2 ) 1 p2 (p2 + 4im2 ) p2 + arctan 1− arctan 2 −2im2 p2 2 2im2 2 p2 (212) Resultado de 208: 8m3 2m2 (p2 − 4m2 ) p − p2 p2 p2 ( " r # " r #) 1 (p2 − 4im2 ) 1 p2 (p2 − 4im2 ) 1 p2 arctan + arctan 1− 2 2im2 p2 2 −2im2 2 p2 − (213) Resultado de 206: 2m 1 (p2 − 4m2 ) p − p2 p2 2 p2 # "r ( " r #) p2 (p2 + 4im2 ) p2 1 (p2 + 4im2 ) 1 arctan + arctan 1− 2 −2im2 p2 2im2 2 p2 − (214) Resultado de 209: 2m 1 (p2 − 4m2 ) p + p2 p2 2 p2 ( " r # "r #) 1 p2 (p2 − 4im2 ) p2 1 (p2 − 4im2 ) arctan + arctan 1− 2 2im2 p2 −2im2 2 p2 (215) 70 4.2.1 Análise em D=4 Em D=4 o traço de γ ı́mpar é zero, por isso não vão aparecer os termos com de levi civita, caracterı́sticos de termos topológicos. É relevante ressaltar que se tivéssemos férmions quirais o apareceria defido a γ 5 . d4 k 1 1 4 2 2 2 (2π) [k − 2im ] [(k − p) + 2im2 ] σ k (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ k α (k − p)α − 2m2 η σλ Z d4 k 1 1 ab +P+ (2π)4 [k 2 + 2im2 ] [(k − p)2 − 2im2 ] σ k (k − p)λ + k λ (k − p)σ − η σλ k α (k − p)α − 2m2 η σλ P−ab Z (216) d2ω k k σ (k − p)λ (2π)2ω (k 2 + 2kq + M 2 )2 1 q σ pλ Γ(2 − ω) qσ qλ (M 2 − q 2 ) + + = (4π)ω Γ(2) (M 2 − q 2 )2−ω 2(1 − ω) (M 2 − q 2 )2−ω (M 2 − q 2 )2−ω ( ) Γ(2 − ω) q σ (q + p)λ + η σλ /2(1 − ω) (M 2 − q 2 ) = (4π)ω Γ(2) (M 2 − q 2 )2−ω Z (217) Usando a parametrização de Feynmann para P−ab 1 1 = 2 2 2 [k − 2im ] [(k − p) + 2im2 ] Z 1 0 dx [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)]2 (218) Integrando o primeiro termo: 1 k σ (k − p)λ (µ2 )2−ω d2ω = (2π)2ω [k 2 − 2xkp + xp2 + 2im2 (2x − 1)]2 0 ( ) −xpσ (−xp + p)λ + η σλ /2(1 − ω) [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)] Z Z dx Z 1 dx 0 Γ(2 − ω)(µ2 )2−ω (4π)ω Γ(2) [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]2−ω (219) q = −xp e M 2 = xp2 + 2im2 (2x − 1). Para tratar as divergências que surgem em quatro dimensões usamos, ω = 2 − , depois separaremos a parte finita. É importante ressaltar que em D = 3 não temos o problema de divergências. A integral dimensional é utilizada apenas como um mecanismo Onde, 71 para regularização finita, ao passo que em D = 4 realmente é necessária uma regularização para obter a parte finita das integrais. Z 0 1 ( ) Γ()(4π) µ2 x(x − 1)pσ pλ − η σλ /2(1 − ) [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)] dx = (4π)2 Γ(2) [x(1 − x)p2 + 2im2 (2x − 1)]2−ω Z 1 dx η σλ 2 2 σ λ x(1 − x)p + 2im (2x − 1) Γ() x(x − 1)p p − 2 2(1 − ) 0 16π − p2 2im2 x(1 − x) + (2x − 1) = 4πµ2 4πµ2 Usando as equações do apêndice 2: 1 1 p2 2im2 + C1 + C2 1 − ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ 0 σλ η σ λ 2 2 [1 + ln (4π)] x(x − 1)p p − x(1 − x)p + 2im (2x − 1) = 2 Z dx 16π 2 (220) Tratando apenas o integrando e desprezando as ordens de 2 . p2 2im2 1 + C1 + C2 − ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ 2 p 2im2 −C1 ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ σλ η σ λ 2 2 [1 + ln (4π)] x(x − 1)p p − x(1 − x)p + 2im (2x − 1) = 2 1 p2 2im2 + C1 + C2 − ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ 2 2 p 2im −C1 ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) + ln (4π) µ µ p2 2im2 +C1 ln (4π) − ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ σλ η σ λ 2 2 ln (4π) x(x − 1)p p − x(1 − x)p + 2im (2x − 1) 2 Voltando a integral em x: (221) 72 Z 1 0 dx 16π 2 1 p2 2im2 + C1 − ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) + ln (4π) + O() µ µ σλ η 2 2 σ λ x(1 − x)p + 2im (2x − 1) = x(x − 1)p p − 2 (222) Ficamos apenas com a parte finita em uma subtração mı́nima modificada. Z 1 dx p2 2im2 −ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) 2 µ µ 0 16π σλ η 2 2 σλ σ λ = (223) x(x − 1)p − im (2x − 1)η x(x − 1)p p + 2 O cálculo da integral do segundo termo de P−ab em (216) é idêntico ao resultado anterior, apenas trocando σ → λ. Para integrar o terceiro termo trocamos σ → α e λ → α. No último termo, o numerador do integrando não depende de k, então usamos a identidade (113). Organizando todos os termos do integrando em x. 1 dx p2 2im2 + (2x − 1) 2x(x − 1)pσ pλ + η σλ x(x − 1)p2 − −ln x(1 − x) 2 µ2 µ2 0 16π 2im2 (2x − 1)η σλ − 2m2 η σλ − η σλ x(x − 1)p2 − 2η σλ x(x − 1)p2 + 4im2 (2x − 1)η σλ Z (224) 1 dx p2 2im2 =− ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) 2 µ µ 0 16π σλ 2 σ λ 2 σλ −2x(x − 1) η p − p p + 2im (2x − 1)η + 2im2 (i)η σλ Z (225) 1 dx p2 2im2 ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) =− 2 µ µ 0 16π 2 σλ 2 −2x(x − 1)p Θ (p) + 2im (2x − 1 + i)η σλ Z (226) 73 Z 1 1 p2 2im2 2 σλ =− − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) p Θ (p) 16π 2 µ µ 0 Z 1 2 p 2im2 1 2 σλ dx (2x − 1 + i) ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) 2im η − − 16π 2 µ µ 0 (227) =− 1 A(p, m, µ) p2 Θσλ + B(p, m, µ) 2im2 η σλ 2 16π (228) Os mesmos cálculos foram feitos para os termos P+ab . Onde encontramos o seguinte resultado para a parametrização de Feynman. Z Z Z 1 1 d4 k d4 k 1 dx = 4 2 2 2 2 4 2 2 (2π) [k + 2im ] [(k − p) − 2im ] (2π) 0 [k − 2xkp + xp + 2im2 (1 − 2x)]2 (229) Os resultados da integração em k para o termo P+ab são os mesmo de (227) trocando apenas 2x − 1 por 1 − 2x. Então, 1 P−ab A(p, m, µ) p2 Θσλ + B(p, m, µ) 2im2 η σλ 2 16π n o 1 ab 2 σλ 2 σλ P Ã(p, m, µ) p Θ + B̃(p, m, µ) 2im η − 16π 2 + − (230) (231) Onde, 1 p2 2im2 A(p, m, µ) = − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ 0 Z 1 2 2im2 p Ã(p, m, µ) = − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2 (1 − 2x) µ µ 0 Z 1 p2 2im2 B(p, m, µ) = dx (2x − 1 + i) ln x(1 − x) 2 + 2 (2x − 1) µ µ 0 Z 1 2 2im2 p B̃(p, m, µ) = dx (1 − 2x + i) ln x(1 − x) 2 + 2 (1 − 2x) µ µ 0 Z Fatorando a função ln(x). (232) (233) (234) (235) 74 Caso A(p, m, µ): 1 m2 p2 dx 2x(x − 1) ln 2 x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) − = µ m 0 Z 1 Z 1 m2 p2 dx 2x(x − 1) ln 2 − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) = − µ m 0 0 Z 1 2 p2 1 m ln 2 − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) 3 µ m 0 Z (236) Caso Ã(p, m, µ): 1 p2 m2 = − dx 2x(x − 1) ln 2 x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) µ m 0 Z 1 Z 1 m2 p2 − dx 2x(x − 1)ln 2 − dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) = µ m 0 0 Z 1 2 p2 1 m dx 2x(x − 1) ln x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) ln 2 − 3 µ m 0 Z (237) Caso B(p, m, µ): 1 m2 p2 dx (2x − 1 + i) ln 2 x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) = µ m 0 Z 1 Z 1 m2 p2 dx (2x − 1 + i) ln 2 + dx (2x − 1 + i) ln x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) = µ m 0 0 Z 1 2 p2 m dx (2x − 1 + i) ln x(1 − x) 2 + 2i(2x − 1) i ln 2 + µ m 0 Z (238) Caso B̃(p, m, µ): 1 m2 p2 dx (1 − 2x + i) ln 2 x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) = µ m 0 Z 1 Z 1 m2 p2 dx (1 − 2x + i) ln 2 + dx (1 − 2x + i) ln x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) = µ m 0 0 Z 1 2 m p2 i ln 2 + dx (1 − 2x + i) ln x(1 − x) 2 + 2i(1 − 2x) µ m 0 Z (239) Integrando as equações (236), (237), (238) e (239) em x. Caso (236): 75 m2 µ2 n p 1 1 p p2 16m4 − p4 5p4 + 96m4 − 3ln(2i)p4 9 p6 16m4 − p4 2 2 p p 8m 6 6 4 4 + 3ip − 384m + arctan 16m − p arctan 2 p 8m2 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + 3p8 + 48m4 p4 − 1536m8 arctan p − arctan p 16m4 − p4 16m4 − p4 (240) 1 ln 3 − Caso (237): m2 µ2 1 1 p 6 18 p 16m4 − p4 n p 3iπp6 + 6ln(−2i)p6 + 192m4 p2 + 384πm6 − 10p6 16m4 − p4 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + 3072m8 − 96m4 p4 − 6p8 arctan p − arctan p 16m4 − p4 16m4 − p4 (241) 1 ln 3 + Caso (238): m2 µ2 n p 1 p p2 16m4 − p4 ln(2i)p2 − 4im2 − 2p2 p4 16m4 − p4 2 2 p 8m p 4 2 2 4 4 + 16im + 4m p 16m − p arctan + arctan 2 p 8m2 p 8m2 p2 4 4 4 −ip 16m − p arctan − arctan p2 8m2 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + 64im6 + 16m4 p2 − 4im2 p4 − p6 arctan p − arctan p 16m4 − p4 16m4 − p4 n p 1 p2 16m4 − p4 2(p2 − i) + ln(2i)(i − 1) + p p2 16m4 − p4 2 2 2 p 8m p 2 + 4m (i − 1) + p (i + 1) 16m4 − p4 arctan + arctan p2 8m2 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + 16m4 (i − 1) + p4 (1 − i) arctan p − arctan p 4 4 16m − p 16m4 − p4 (242) i ln Caso (239): + 76 m2 µ2 n p 1 p p2 16m4 − p4 2p2 − ln(−2i)p2 − 4im2 p4 16m4 − p4 2 2 p p 8m 4 4 2 2 4 4 + 16im − ip − 4m p + arctan 16m − p arctan 2 p 8m2 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + 64im6 − 16m4 p2 − 4im2 p4 + p6 arctan p − arctan p 16m4 − p4 16m4 − p4 n p 1 + p p2 16m4 − p4 [(ln(−2i) − 2)(i + 1)] p2 16m4 − p4 2 2 2 p 8m p 2 16m4 − p4 arctan + arctan + 4m (i + 1) + p (i − 1) 2 p 8m2 " ! !#) 2 2 2 2 4im + p 4im − p + (16m4 − p4 )(i + 1) arctan p − arctan p 4 4 16m − p 16m4 − p4 (243) i ln + 77 CONCLUSÃO Estudamos as propriedades do Grafeno e utilizamos a bosonização como uma possibilidade de se entender alguns dos comportamentos que este material apresenta. Este estudo não é novo. No entanto o uso de um modelo de férmions em SU (2) para estudar o comportamento de duas camadas de grafeno em interação é um assunto bastante atual de pesquisa. Em particular a possibilidade de que uma estrutura do tipo i-particle possa ser relevante para o problema é novidade. Fomos capazes de calcular uma ação bosonizada que descreve este comportamento de i-particle, à saber uma ação que fornece propagadores com polos imaginários e portanto não dará contribuição para um correlator de 2 correntes mas apenas alguns correlatores de 4 correntes podem vir a ser candidatos para observável. Claro está que não realizamos os cálculos para a obtenção destes correlatores de 4 correntes. No entanto fomos capazes de realizar um estudo bastante interessante sobre as propriedades de férmions com polos imaginários em D = 3 e D = 4. Tais resultados por si apresentam interesse nos estudo dos possı́veis mecanismos para se excluir os férmions do espéctro observável. 78 REFERÊNCIAS JACKIW, R.; PI, S. Y. Chiral gauge theory for graphene. Phys. Rev. Lett., n. 26, p. 266402, jun 2007. LI, Yi; ZHANG, Shou-Cheng; WU, Congjun. Topological insulators with su(2) landau levels. Phys. Rev. Lett., v. 111, n. 18, p. 186803, nov 2013. NETO, A. H. Castro. Selected topics in graphene physics. Modern Theories of Many-Particle Systems in Condensed Matter Physics Lecture Notes in Physics, v. 843, p. 117–144, apr 2012. PEREIRA, V. M.; NETO, A. H. Castro; PERES, N. M. R. A tight-binding approach to uniaxial strain in graphene. Phys. Rev. B, v. 80, p. 135403, nov 2008. POLYAKOV, A. M. Quark confinement and topology of gauge groups. Nucl.Phys., B120, p. 429–458, 1977. QUINN, John J.; YI, Kyung-Soo. Solid State Physics Principles and Modern Applications. [S.l.]: Springer Dordrecht, 2009. RAMOND, Pierre. 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B, New York, v. 83, n. 11, p. 115438, mar 2011. 79 APÊNDICE A – Cálculo do Traço das Matrizes Gama Traço de 2 matrizes γ, tr(γ µ γ ν ) = tr({γ µ , γ ν } − γ ν γ µ ) = 2η µν − tr(γ ν γ µ ) = 2η µν − tr(γ µ γ ν ) 2tr(γ µ γ ν ) = 2η µν tr(γ µ γ ν ) = η µν (244) Traço de 3 matrizes γ̃,(D = 3) tr(γ µ γ ν γ α ) = tr(γ α γ µ γ ν ) = tr(γ ν γ α γ µ ) = tr(γ µ γ ν γ α − γ µ γ α γ ν + γ µ γ α γ ν ) = tr(γ µ [γ ν , γ α ] + γ µ γ α γ ν ) = tr(γ µ i να σ γ σ + γ µ γ α γ ν ) = tr(i γ µ να σ γ σ ) + tr({γ µ , γ α } γ ν ) − tr(γ α γ µ γ ν ) 2tr(γ µ γ ν γ α ) = tr(i γ µ να σ γ σ ) 1 tr(i να σ γ µ γ σ ) = 2 i να µσ ση = 2 i ναµ = 2 i µνα = 2 (245) Cálculo do traço de 4 matrizes γ. 80 tr(γ µ γ α γ ν γ β ) = tr(γ β γ µ γ α γ ν ) = tr(γ ν γ β γ µ γ α ) = tr(γ α γ ν γ β γ µ ) tr(γ µ γ α γ ν γ β ) = tr(γ µ γ α γ ν , γ β − γ µ γ α γ β γ ν ) = tr(2γ µ γ α η νβ ) − tr(γ µ γ α γ β γ ν ) = 2η µα η νβ − tr(γ µ γ α , γ β γ ν ) + tr(γ µ γ β γ α γ ν ) = 2η µα η νβ − 2η µν η αβ + tr(γ µ γ β γ α γ ν ) = 2η µα η νβ − 2η µν η αβ + tr( γ µ , γ β γ α γ ν ) − tr(γ β γ µ γ α γ ν ) 2tr(γ µ γ α γ ν γ β ) = 2η µα η νβ − 2η µν η αβ + 2η µβ η αν tr(γ µ γ α γ ν γ β ) = η µα η νβ − η µν η αβ + η µβ η αν (246) 81 APÊNDICE B – Alguns conceitos úteis em regularização dimensional B.1 Relações úteis em regularização dimensional Γ() = Γ(1 + ) Γ() = 1 + C1 + C2 + O(2 ) Γ() Γ(1 − ) = (1 − ) −1 (1 − ) = 1 + + ... (247) (248) (249) (250) f () = (1 − )−1 (251) ∂f = −1(1 − )−2 |=0 = −1 ∂ (252) ax = exp (ln ax ) = exp (x ln a) 1 a = exp ( ln a) = 1 + ln a + 2 (ln a)2 + O(3 ) 2 (253) (254)