ESTUDOS MICROESTRUTURAIS DO GRAFENO PRODUZIDO A PARTIR DO MÉTODO DE HUMMERS MODIFICADO Sérgio Henrique Pezzin Prof. Dr. do curso de Licenciatura em Química e Engenharia dos Materiais da Universidade do Estado de Santa Catarina [email protected] Patrícia Salvador Tessaro Acadêmico do curso de Licenciatura em Química da Universidade do Estado de SantaCatarina [email protected] Renata Hack Aluno de doutorado em Engenharia de Materiais da Universidade do Estado de Santa Catarina [email protected] Resumo. Neste trabalho foram feitos estudos microestruturais do grafeno produzido (GP) a partir do método de Hummers modificado que se baseia na oxidação do grafite natural(GN) e redução química do mesmo. As folha de GP foram caracterizadas por Espectroscopia Eletrônica de Transmissão (MET), Microscopia Eletrônica de Varredura de Efeito de Campo (FEG) e Espectroscopia Raman. As mesmas análises feitas no (GP) foram comparadas um grafeno que foi adquirido comercialmente, denominado GC. Com base nos resultados obtidos, foi possível afirmar que o GP obteve resultados muito semelhantes aos resultados do GC. O grafeno é na atualidade um dos mais promissores nanomateriais em estudo, tudo isso devido às suas excelentes propriedades elétricas, térmicas e mecânicas (KOTSILKOVA, 2007). O termo grafeno foi utilizado pela primeira vez em 1987, porém sintetizado apenas em 2004 por um grupo de pesquisas da Universidade de Manchester. Este é uma monocamada de átomos de carbono com hibridização sp2 organizada em uma geometria hexagonal bidimensional (NOVOSELOV et al, 2005). Assim o objetivo geral deste trabalho é a produção de grafeno a partir do óxido de grafite (OG) e caracterizar suas propriedades morfológicas. 2. Palavras-chave: Grafeno. Grafite. Propriedades Morfológicas. 1. INTRODUÇÃO Atualmente a nanotecnologia vem ganhando destaque no universo científico com a produção de materiais em escala nanométrica. Os reforços que vêm ganhando espaço no meio científico é as nanopartículas de carbono, entre elas destacam-se os nanotubos de carbono, os fulerenos e o grafeno (KHOLMANOV et al, 2010). MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Produção do Óxido de Grafite Num balão de fundo redondo, foi adicionado GN, H2SO4 (97,0%) e NaNO3 99,0% mantendo sob agitação mecânica a 180 rpm e resfriamento em banho termostático de 6°C. Após 15 min foi adicionado KMnO4 (99,0%). Ao se passar 30 min, a mistura foi deixada em banho com temperatura ambiente sob agitação por 24h. Depois destes processos adicionou-se 100 mL de uma solução à 5% de ácido sulfúrico. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil Após 30 min adicionou-se 280 mL de uma solução à 3% de H2O2. Deixou-se descansar a solução por 45 min. O material foi filtrado em um sistema a vácuo, lavado com 300 mL de solução de HCl (37%), secado por 24 hrs à 60°C. Lavou-se novamente com água deionizada e secado há 24 horas a 60°C. uma ótima oxidação, pois o material possui um bom nível de translucidez. 2.2 Expansão térmica do óxido de grafite Figura 1. Microscopia do OG Para a expansão térmica do OG, utilizou-se um erlenmeyer de 50 mL no qual foi colocado o OG ao fundo. A vidraria foi fechada com uma folha de papel alumínio com furinhos feitos com uma seringa e levado a uma mufla pré-aquecida a uma temperatura de 350 °C. Após 15 s foi obtido o óxido de grafite expandido (OGE). 2.3 Redução química do óxido de grafite expandido Em um becker adicionou-se água deionizada e 75mg de OGE. A solução permaneceu em banho de ultrassom por 60 min. Em seguida foram adicionados 15mL de uma solução à 4% de NaBH4 (95%). Para ajustar o pH entre 9 e 10, foi utilizado uma solução 4% m/m de carbonato de cálcio. Deixou-se por 1 hora à 80°C sob agitação. Filtrou-se em sistema a vácuo, e o material restado no filtro foi coletado e lavado com de água deionizada. Foi seco em estufa a vácuo por 24hrs a 60°C obtendo o GP. Todas as etapas passaram por análises de Microscopia Eletrônica de Varredura de Efeito de Campo, Microscopia Eletrônica de Transmissão e Espectroscopia Raman. 3 Nas Figuras 2 (a e b) temos a micrografia e a imagem de difração do OGE. Pode-se notar certo grau de esfoliação, isso devido à translucidez da folha observada. Indicando que há poucas folhas empacotadas. Através do padrão de difração, Figura 2(b), é possível notar um arranjo hexagonal característico de um número de folhas não empacotadas no material. Figura 2. Microscopia do OGE Nas Figuras 3(a e b) temos as micrografias e imagem de difração do GP. Através da difração notam-se pontos internos menos intensos próximos ao centro e próximos à periferia, não formando um arranjo geométrico, que é característica de um material policristalino. Pode-se dizer que o material analisado apresenta algumas folhas de grafeno empacotadas. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Espectroscopia Transmissão Eletrônica de Figura 3. Microscopia do GP Com a Microscopia Eletrônica de Transmissão pode-se observar a morfologia do material. Na Figura 1 temos as imagens obtidas por MET do OG. Através das micrografias pode-se perceber que ocorreu As Figuras 4(a e b) são micrografia e imagem de difração do GC. Na Figura 4(b) nota-se que o GC apresenta menos pontos brilhantes na área mais próxima ao centro da XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil imagem quando comparada com a Fig. 3(b). Há presença de pontos mais luminosos próximos ao centro e pontos menos luminosos na periferia indicando a presença de nanocamadas de grafeno. Nota-se que o GC possui um número maior de regiões com grafeno quando comparada ao GP. característica do GN. Nota-se uma tentativa de restauração da rede de carbono sp2, tendo a presença de folhas de grafeno organizada. Figura 4. Microscopia do GC 3.2 Espectroscopia Raman A espectroscopia de espalhamento Raman fornece as características estruturais e eletrônicas do material analisado. As Figuras 5(a e b) referem ao espectro de Raman para o GN, OG, OGE, GP e GC, respectivamente. Segundo Ni et al (2008) a banda 2D é uma das mais importantes, pois é possível verificar ocorrência de monolâminas de grafeno no material. O espectro da figura 5(a) é referente ao GC, pode-se observar um pico localizado em 2712 cm-1 referente a banda 2D, comprovando que existem folhas de grafeno. A Figura 5(b) mostra o espectro de Raman do grafite. Pode-se observar duas banda localizada em 1573cm-1 e 2708 cm-1 referente a banda G e 2D, ambas são bandas características do grafite como também observada por Ferrari(2007). O espectro de Raman do OG está representado na Fig.5(c). Existem dois picos pouco intenso localizado em 1348 e 1587 cm-1 referentes às bandas D e G, característico do carbono amorfo. A Figura 5(d) mostra o espectro do OGE. Observou-se a tentativa de restauração da rede de carbono sp2, localizada em 3380 cm-1. Observou-se um pico de segunda ordem referente a banda 2D indicando a presença de folhas de grafeno organizadas. O espectro de Raman do GP possui três picos, o primeiro em 1360 cm-1 referente à banda D, o segundo a banda G em 1560cm-1 Figura 5.Espectro de Raman do GC (a), GN(b), OG (c), OGE (d) e GP (e) 3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura de Efeito de Campo Com a Microscopia Eletrônica de Varredura de Efeito de Campo(FEG) obtêm imagens para analisar a morfologia do material. O GN é formado por várias folhas de grafeno empacotadas por interações de Van der Waals (ALLEN et al, 2010). Figura 6.Imagens de FEG do GN(a) e OG(b) As Figuras 6(a e b) são imagens de FEG do GN e do OG. Nota-se que o GN é XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil formado por camadas espessas e regular empilhamento característico do grafite. O OG apresentou aspecto enrugado e com grau de dobraduras, pois ao passar por uma oxidação, o material adquiriu grupos funcionais, modificando a hibridização. Nas figuras 7(a e b) são as imagens de FEG do OGE e do GP. Após passar por uma expansão o OGE teve algumas modificações na morfologia, tornando-o com estrutura porosa. Yasmin et al (2006) obteve resultados semelhantes. Com isso pode-se afirmar que a redução química do OGE não restaura por completo os defeitos cristalinos causados pela oxidação. Através do MET comprovou-se que a redução química do OG com borohidreto de sódio foi eficiente. As imagens obtidas pelo FEG forneceram informações importantes do material. As nanopartículas passaram de um arranjo ordenado para uma estrutura assimétrica, uma morfologia rugosa e descontínua das camadas. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq (Processo 475998/2011-1) e à FAPESC (3302/2013) pelo auxílio financeiro, ao Pronem e FAPERGS e ao CNPq e à CAPES pelas bolsas a P.S.T. e R.H. 2. Figura 7. Imagens FEG do OGE(a) e do GP(b) As Figuras 8 (a e b) mostram as imagens de FEG do GC. O material possui uma superfície mais lisa. Desta forma pode-se dizer que este material possui uma regularidade melhor do que o GP. Figura 8. Imagens de FEG do GC 4. CONCLUSÃO Neste trabalho estudaram-se as propriedades morfológicas do GC e do GP a partir do método de Hummers. Foi comprovado que o método trouxe bons resultados para a produção de grafeno, pois o GP possui características semelhantes quando comparado ao GC. Com as análises pode-se verificar que a expansão do OG a uma temperatura de 350°C ocorreu de maneira satisfatória. REFERÊNCIAS ALLEN, M. J.;TUNG, V. C.; KANER, R. B. Honeycomb Carbon: A Review of Graphene. Chemical Reviews 110 (2010), 132-145. HACK, R. Dissertação de mestrado. Universidade do Estado de Santa Catarina, 2014. KHOLMANOV, I.N.; CAVALIERE, E.; CEPEK, C., GAVIOLI, L. Catalytic chemical vapor deposition of methane on graphite to produce graphene structures. Carbon, 48, (2010), 1619–1625. KOTSILKOVA, R; PISSIS, P.; SILVESTRE, C.; CIMMINO, S.; DURACCIO, D.; Thermoset Nanocomposites for Engineering Applications. Smithers Rapra Technology Limited. 1. ed. , Reino Unido (2007), 1-12. NOVOSELOV, K.S.; GEIM, A.K.; MOROZOV, S.V.; JIANG D.; DUBONOS, S.V.; KATSNELSON, M.I.; GRIGORIEVA, I. V.; FIRSOV, Nature (2005), 438, 197. YASMIN, A.; LUO, J-J; DANIEL, I.M. Processing of expanded graphite reinforced polymer nanocomposites. Composites Science and Technology 66 (2006), 11821189. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil