UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS – CAV PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL JULIO CESAR MORAES DIAGNÓSTICO DE Eimeria spp EM FRANGOS DE CORTE NA MESORREGIÃO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA, POR MEIO DA MULTIPLEX PCR LAGES, SC 2013 JULIO CESAR MORAES DIAGNÓSTICO DE Eimeria spp EM FRANGOS DE CORTE NA MESORREGIÃO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA, POR MEIO DA MULTIPLEX PCR Dissertação apresentada no programa de Pós-graduação em Ciência Animal do Centro de Ciências Agroveterinárias, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal. Orientador: Prof. PhD. Antonio Pereira de Souza LAGES, SC 2013 M827d Moraes, Julio Cesar Diagnóstico de Eimeria spp em frangos de corte na mesorregião sul do estado de Santa Catarina, por meio da Multiplex PCR / Julio Cesar Moraes. – 2013. 110 p. : il. ; 21 cm Orientador: Antonio Pereira de Souza Bibliografia: p. 85-101 Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Lages, 2013. 1. Eimeria spp. 2. Ocorrência. 3. Oocisto. 4. Frangos de corte. 5. Multiplex PCR. I. Moraes, Julio Cesar. II. Souza, Antonio Pereira de. III. Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. IV. Título Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorial do CDD: 636.5 – 20.ed. CAV/UDESC AGRADECIMENTOS Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela força e coragem durante toda esta caminhada. A minha mãe Idi, ao meu irmão Rafael que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu concluísse mais esta etapa. A minha namorada Gisele, pelo carinho, incentivo e compreensão que vem me prestando nesses últimos anos. Ao Prof. Dr. Antonio Pereira de Souza, pelos ensinamentos e tempo dedicado em orientação. Ao Prof. Dr. Luiz Claudio Miletti e Prof. Dra. Maria de Lourdes Borba Magalhães pela oportunidade, aprendizado e dedicação durante o período experimental. Ao Prof. Dr. Valdomiro Bellato e Prof. Dr. Anderson Barbosa de Moura pela confiança e apoio nesta jornada. A Prof. Dra. Amélia Aparecida Sartor pela amizade demonstrada ao longo destes anos de convívio. A Dra. Sandra Fernandez e a Dra. Jane Fraga pelo fornecimento das amostras. Ao amigo e bolsista, Marciel França pela boa vontade e apoio durante todo processamento do material e, pela amizade. A Universidade do Estado de Santa Catarina, pela oportunidade de realização do Mestrado junto ao curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. A CAPES, pela concessão da bolsa. Aos meus colegas de laboratório pelo companheirismo e amizade. E a todos aqueles que de uma forma ou outra me ajudaram a vencer mais esta etapa, meu muito obrigado! “Tente ser uma pessoa de valor, não de sucesso.” Albert Einstein “O mérito vale mais que a fama.” Francis Bacon RESUMO MORAES, Julio Cesar. Diagnóstico de Eimeria spp em frangos de corte na mesorregião sul do estado de Santa Catarina, por meio da Multiplex PCR. 2013. 111 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal). Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pósgraduação em Ciência Animal, Lages, 2013. As espécies do gênero Eimeria são responsáveis pelo maior impacto econômico dentre as doenças parasitárias que acometem frangos de corte. O controle da coccidiose é realizado principalmente com anticoccidianos, porém, o desenvolvimento da resistência a esses fármacos, aliada à opinião pública contra o uso de drogas na ração, tendem a fomentar a utilização de vacinas, aumentando a importância da identificação das espécies de Eimeria circulantes. Com os objetivos de identificar as espécies de Eimeria e estudar a ocorrência destas em instalações avícolas da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina, foram coletadas amostras (pool de fezes) em 21 municípios, provenientes de 251 lotes de frangos de corte com idade entre 28 a 48 dias. Os oocistos foram recuperados por meio de técnicas de filtragem, centrifugação e centrífugo-flutuação utilizando solução hipersaturada de NaCl e quantificados utilizando câmara de Neubauer. As amostras foram estratificadas, por idade das aves em três intervalos (28 a 34; 35 a 41 e 42 a 48). As espécies foram identificadas por meio da técnica de Multiplex PCR. Amplicons das sete espécies de Eimeria originados da PCR de amostras positivas foram clonados e sequenciados. A ocorrência do gênero Eimeria foi de 96,02%. Verificou-se que em frangos com idade entre 42 a 48 dias a média do número de oocistos foi significativamente menor quando comparada com os intervalos de idade de 28 a 34 e 35 a 41 dias (P<0,05). Foram encontradas Eimeria acervulina (63,3%), Eimeria maxima (63,7%), Eimeria tenella (54,6%), Eimeria praecox (25,1%), Eimeria mitis (38,6%), Eimeria necatrix (24,3%) e Eimeria brunetti (13,1%). O número médio de espécies detectadas por propriedade foi de 2,96 e a associação mais frequente foi de E. acervulina, E. maxima e E. tenella (9,16%). Por meio do sequenciamento dos clones confirmou-se a especificidade e eficácia da técnica de Multiplex PCR para a identificação das espécies de Eimeria. Concluí-se que na mesorregião Sul do Estado, a adoção de medidas profiláticas deve considerar o controle das sete espécies de Eimeria que parasitam frangos. Palavras-chave: Eimeria spp. Ocorrência. Oocisto. Frangos de corte. Multiplex PCR. ABSTRACT MORAES, Julio Cesar. Diagnosis of Eimeria spp in broilers in the southern state of Santa Catarina, by Multiplex PCR. 2013. 111 f. Dissertation (MSc in Animal Science). Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Lages, 2013. The species of the genus Eimeria are responsible for the greatest economic impact among the parasitic diseases that affect broilers. The control of coccidiosis is mainly performed with anticoccidial, however, the development of resistance to these drugs, together with the public opinion against the use of drugs in food, they tend to promote the use of vaccines, increasing the importance of the identification of species of Eimeria circulating. Aiming to identify the species of Eimeria and study the occurrence of these species in poultry farms in the southern state of Santa Catarina, samples were collected (pool of feces) in 21 municipalities, from 251 flocks of broilers aged 28 to 48 days. The oocysts were recovered by techniques of filtration, centrifugation and flotation using supersaturated solution of NaCl and quantified using a Neubauer chamber. The samples were stratified by age of the birds in three intervals (28 to 34, 35 to 41 and 42 to 48). The species were identified by Multiplex PCR technique. Amplicons of the seven species of Eimeria originating from the PCR positive samples have been cloned and sequenced. The occurrence of the genus Eimeria was 96.02%. It was found that in chickens aged 42 to 48 days the average number of oocytes was significantly reduced when compared to the intervals age of 28 to 34, and 35 to 41 days (p<0.05). Were found Eimeria acervulina (63.3%), Eimeria maxima (63,7%), Eimeria tenella (54.6%), Eimeria praecox (25.1%), Eimeria mitis (38.6%), Eimeria necatrix (24.3%) and Eimeria brunetti (13.1%). The average number of species detected by property was 2.96 and was the most frequent combination of E. acervulina, E. maxima and E. tenella (9.16%). The sequencing of the clones confirmed the specificity and effectiveness of the Multiplex PCR technique for identification of species of Eimeria. It can be concluded that in the South of the State, prophylactic measures should consider the control of the seven Eimeria species that parasitize chickens. Keywords: Eimeria spp. Occurrence. Oocyst. Broilers. Multiplex PCR. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura-1 Ciclo biológico do gênero Eimeria..................................... 22 Figura-2 Período pré-patente (PPP) e tempo mínimo para esporulação (TME) a 30°C, em horas e, medidas dos oocistos por espécie de Eimeria em micrometros ............................................... 23 Figura-3 Oocistos de E. maxima (a), E. brunetti (b), E. tenella (c), E. necatrix (d), E. praecox (e), E. acervulina (f) e E. mitis (g) ............................................................................................ 40 Figura-4 Mapa de Santa Catarina com a divisão das cinco mesorregiões do Estado ...................................................... 56 Figura-5 Locais de coleta de amostras de fezes de frangos de corte na mesorregião Sul do Estado ................................................. 57 Figura-6 “Primers Forward (F) e Reverse (R)”, utilizados na técnica de Multiplex PCR para a detecção das sete espécies de Eimeria de frangos de corte e o tamanho dos amplicons gerados................................................................................ 61 Figura-7 Oocistos não esporulado e esporulado, observados durante a contagem em câmara de Neubaeuer (seta vermelha indica oocisto não esporulado e seta azul, esporulado) ................. 65 Figura-8 Oocistos com tamanhos e morfologias diferentes, observados durante a contagem em câmara de Neubaeuer (seta vermelha indica oocisto de menor tamanho e seta azul, de maior)............................................................................. 66 Figura-9 Número médio de oocistos por mL (+ Intervalo de confiança a 95%) em amostras de fezes de frangos de corte da mesorregião Sul de Santa Catarina, em três faixas etárias. Relacionado com o número de propriedades por faixa etária ............................................................................................ 66 Figura-10 Número de propriedades positivas para E. acervulina (ac); E. maxima (mx); E. tenella (tn); E. praecox (pr); E. mitis (mt); E. necatrix (nc) e E. brunetti (br), das 251 granjas de frangos de corte na mesorregião Sul de Santa Catarina ......67 Figura-11 Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp., de amostras da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina: 1(marcador de 100pb); 2 (amostra 163: controle interno positivo com ac, tn, mt, pr, mx e nc); 3 (ac e mx); 4 (pr); 5 (ac, tn e mx); 6 (ac, tn, mt, mx e nc), 7 (ac, tn, mt e mx) e 8 controle negativo ................................69 Figura-12 Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp., de amostras da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina: 1(marcador de 100pb); 2 ( controle positivo - clones: ac, br, tn, mt, pr, mx e nc); 3 a 10 amostras negativas, 11 (br), 12 (ac, mt, pr e mx), 13 (tn, pr e mx) e 14 controle negativo .................................................................70 Figura-13 Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp.: 1 (marcador de 100 pb); 2 e 3 (clones dos SCAR de ac, br, tn, mt, pr, mx e nc) .............................71 Figura-14 Similaridade dos produtos do sequenciamento com as sequências dos marcadores SCAR das sete espécies de Eimeria depositados no “National Center for Biotechnology Information” ........................................................................75 LISTA DE TABELAS Tabela-1 Comparação das médias de oocistos de Eimeria spp. por mL recuperados de fezes de frangos de corte em três intervalos de idades ............................................................................. 67 Tabela-2 Espécies de Eimeria identificadas e numero de granjas amostradas, por município na mesorregião Sul do Estado ..... 68 Tabela-3 Diferentes combinações de espécies de Eimeria encontradas nas 251 propriedades de frangos de corte ........................... 72 LISTA DE ABREVIATURAS AFLP APGA BLAST °C Ca++ Cm DH10 B DNA dNTP DGGE DHFR-TS EAMZ250 EASZ240 EDTA FIGE g GPI G6PD ITS IFNγ IL-2 IPTG K+ Kg LB LDH Μ mM Mm mL m2 Mg++ MgCl2 PCR PFGE PAGE PB PABA Amplified fragment length polymorphism. Antígeno purificado de gametócito. Basic Local Alignment Search Tool. Graus centígrados. Íon cálcio. Centímetros. Células de Escherichia coli cálcio-competentes. Ácido desoxirribonucleico. Deoxinucleotídeos trifosfatos. Denaturing gradient-gel electrophoresis. Diidrofolato redutase timidilato sintetase. Antígeno de merozoítos de E. acervulina 250. Antígenos de esporozoítos E. acervulina 240. Ácido etilenodiamino tetra-acético. Field inversion gel electrophoresis. Força da gravidade. Glucose phosphate isomerase. Glucose-6-phosphate dehydrogenase Internal transcribed spacer. Interferon gama. Interleucina – 2. Isopropyl β-D-1-thiogalactopyranoside. Íon potássio. Quilograma. Meio de crescimento “Luria-Bertani”. Lactato de dehidrogenase. Molar ou molaridade (mol/l). Milimolar Milímetros. Mililitro. Métro quadrado Íon magnésio. Cloreto de magnésio. Polymerase chain reaction. Pulsed-field gel electrophoresis. Polyacrylamide gel electrophoresis. Pares de base. Ácido p-aminobenzóico. Pg NaCl ng Na+ NH4 SDS SCAR RAPD rDNA RFLP RNA RPM SOC Taq TBE T3SS T2SS U V µm µg µL 6PGD X-GAL Picograma Cloreto de sódio. Nanograma. Íon sódio. Amônia. Dodecil sulfato de sódio. Sequence-characterized amplified region. Random amplification of polymorphic DNA. DNA ribossômico. Restriction fragment length polymorphism. Ácido ribonucleico. Rotações por minuto. Super optimal broth catabolic repressuion. Thermus aquaticus. Tris-borato-EDTA. Type 3 secretion system. Type 2 secretion system. Unidades. Volts. Micrômetros Micrograma Microlitro. Glucose-6-fosfato dehidrogenase. 5-bromo-4-chloro-3-indolyl-β-D-galactopyranoside SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................17 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................20 2.1 2.1.1 GÊNERO Eimeria .................................................................20 Ciclo evolutivo ......................................................................21 2.2 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4 2.2.5 2.2.6 2.2.7 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS, MORFOLÓGICAS E ALTERAÇÕES CAUSADAS NO HOSPEDEIRO PELAS ESPÉCIES DE EIMERIAS QUE PARASITAM AVES DA ESPÉCIE Gallus gallus domesticus.......................................21 Eimeria acervulina ................................................................21 Eimeria maxima ....................................................................23 Eimeria tenella ......................................................................23 Eimeria praecox ....................................................................24 Eimeria mitis .........................................................................24 Eimeria necatrix....................................................................25 Eimeria brunetti ....................................................................25 2.3 2.3.1 2.3.1.1 2.3.2 CONTROLE DA COCCIDIOSE AVIÁRIA .........................25 Anticoccidianos ....................................................................26 Resistência aos anticoccidianos ...........................................27 Vacinação ..............................................................................33 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.2.1 2.4.2.2 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES .....................................38 Método de diagnóstico morfo-clínico .................................38 Diagnósticos bioquímicos e moleculares ............................41 Eletroforese de isoenzimas ..................................................41 Detecção de “Restriction Fragment Length Polymorphism RFLP” por hibridização “Southern Blot” .........................42 2.4.2.3 “Random Amplification of Polymorphic DNA – RAPD”.43 2.4.2.4 Amplified Fragment Length Polymorphysm (AFLP).......44 2.4.2.5 Polymerase Chain Reaction (PCR) ....................................45 2.4.2.5.1 PCR utilizando o primeiro ou segundo “Internal Transcribed Spacer – ITS” do DNA ribossômico .............46 2.4.2.6 Real-time PCR......................................................................49 2.4.2.7 Pirosequenciamento .............................................................51 2.4.2.8 Multiplex PCR ......................................................................51 3 OBJETIVOS ........................................................................ 55 3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................. 55 3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO .................................................... 55 4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................ 56 4.1 CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO .................................... 56 4.2 COLETA DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE.................................................................................. 57 4.3 4.3.7 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE ........................................................ 58 Purificação e quantificação dos oocistos de Eimeria spp. 58 Análise estatística das médias de oocistos recuperados das fezes de frangos de corte por intervalos de faixa etária ... 59 Limpeza dos oocistos ........................................................... 59 Purificação do DNA de oocistos de Eimeria spp. .............. 59 Ruptura dos oocistos ........................................................... 60 Digestão com RNAse e Proteinase K ................................. 60 Extração com fenol-clorofórmio ........................................ 60 Precipitação e lavagem do DNA ......................................... 60 Multiplex PCR ..................................................................... 61 Eletroforese .......................................................................... 62 Clonagem dos marcadores de “Sequence-characterized Amplified Region – SCAR” de Eimeria spp. ..................... 62 Sequenciamento dos clones de Eimeria spp....................... 64 5 RESULTADOS.................................................................... 65 5.1 CONTAGEM DOS OOCISTOS DE Eimeria spp. OBTIDOS DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE 65 5.2 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE Eimeria PELA PCR MULTIPLEX ........................................................................ 67 5.3 CONFIRMAÇÃO DA CLONAGEM DOS MARCADORES DE “SEQUENCE-CHARACTERIZED AMPLIFIED REGION – SCAR” DAS AMOSTRAS ................................ 70 4.3.1 4.3.1.2 4.3.2 4.3.3 4.3.3.1 4.3.3.2 4.3.3.3 4.3.3.4 4.3.4 4.3.5 4.3.6 6 DISCUSSÃO.........................................................................76 8 CONCLUSÕES ....................................................................83 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................84 REFERÊNCIAS ...................................................................................85 APÊNDICES E ANEXOS .................................................................102 1 INTRODUÇÃO O Brasil produziu em 2012 aproximadamente 12.645.000 toneladas de carne de frango e exportou 3.508.000t. (UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE, 2013). Com esse quadro figura no cenário mundial como o primeiro País em exportação e terceiro em produção e consumo. Santa Catarina é o segundo maior produtor, ficando atrás apenas do Paraná e primeiro em exportação no cenário Nacional (EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA/CENTRO DE SOCIOECONOMIA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 2012). Segundo a Associação de produtores de pintos de corte (APINCO) o alojamento brasileiro de frangos de corte, acumulado no período de janeiro a julho de 2012, foi de 3.516.529.964 cabeças, desses, 16,76% em Santa Catarina (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2012). A mesorregião Sul do estado de Santa Catarina é a segunda maior mesorregião produtora de frangos de corte do Estado, ficando atrás apenas da mesorregião Oeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013). A coccidiose aviária é reconhecidamente a doença parasitária que causa o maior impacto econômico na produção de frangos em todo o mundo (ALLEN; FETTERER, 2002). Os custos globais com a eimeriose aviária chegam a U$ 3 bilhões (SHIRLEY et al., 2004). No Brasil, no ano de 1993 a perda foi estimada em 30 milhões de dólares (KAWAZOE, 2000) e dez anos depois essas perdas dobraram (BRITO, 2003). Os protozoários do gênero Eimeria multiplicam-se nas células intestinais, destruindo o tecido, o que resulta em uma redução nos processos digestivos e absortivos, levando a uma perda produtiva (MCDOUGALD, 2003). O parasito possui um ciclo de vida homoxeno e curto, associado a um grande potencial reprodutivo (MORRIS; GASSER, 2006). A transmissão é facilitada pelo modelo industrial de criação de frangos de corte, realizado sob alta densidade (MCDOUGALD, 2003; SHIRLEY et al., 2007). Atualmente é consenso a existência de sete espécies do gênero Eimeria (E. acervulina, E. brunetti, E. maxima, E. mitis, E. necatrix, E. praecox e E. tenella) capazes de parasitar aves da espécie Gallus gallus domesticus (MCDOUGALD, 2003; SCHNITZLER; SHIRLEY, 1999; WILLIAMS et al., 1996). 18 A forma mais difundida de controle dessa enfermidade é a utilização dos anticoccidianos, porém, o uso profilático dessas drogas tem propiciado o aparecimento de cepas de Eimeria spp. resistentes ao longo dos anos (ALLEN; FETTERER, 2002; CHAPMAN, 1997; MARTIN et al., 1997; MCDOUGALD, 2003; MCDOUGALD et al., 1986, 1987). Recentemente a proibição das drogas de uso contínuo na produção animal tem sido debatida, sob a alegação de que possam estar envolvidas no desenvolvimento da resistência em micro-organismos de importância para a saúde pública (JORNAL OFICIAL DA UNIÃO EUROPEIA, 2003; SHIRLEY et al., 2007). Atualmente o controle com vacinas com oocistos vivos parece ser a melhor alternativa dentre as possibilidades de substituição dos anticoccidianos (CHAPMAN et al., 2002) e tem se tornado uma opção crescente (ALLEN; FETTERER, 2002; CHAPMAN et al., 2002; SHIRLEY et al., 2007). São compostas de oocistos vivos de Eimeria spp. do tipo selvagem ou atenuadas, e possuem formulações variadas com uma ou mais espécies (SHIRLEY; BEDRNÍK, 1997). As espécies do gênero Eimeria são altamente imunogênicas, sendo que a partir de uma infecção primária pode ser construída uma sólida imunidade para desafios homólogos, porém, não ocorre imunidade cruzada entre as sete espécies que acometem aves da espécie G. gallus domesticus (ALLEN; FETTERER, 2002; MCDOUGALD, 2003). Assim, a correta identificação das espécies e os estudos de ocorrência são importantes para uma adequada compreensão da epidemiologia e, para o controle, porque as espécies causam doenças diferentes, são imunologicamente distintas e podem responder de forma desigual a algumas das drogas anticoccidianas (JOYNER; LONG, 1974). A identificação das espécies circulantes e qual sua relevância, possibilita que autoridades governamentais, veterinários e produtores possam tomar decisões com relação à composição e o uso de vacinas vivas para o controle da coccidiose (MCDOUGALD et al., 1997), fundamentar a tomada de decisão de organismos responsáveis pelo registro de vacinas (CHAPMAN et al., 2005), diminuir o risco de introdução de espécies de Eimeria não desejáveis em um determinado local (ALLEN; FETTERER, 2002) e, alcançar a máxima eficácia da vacina (MORRIS et al., 2007). Segundo Joyner e Long (1974), as seguintes características podem ser utilizadas na identificação: dimensões, morfologia e tempo de esporulação dos oocistos; hospedeiro e local de desenvolvimento; morfologia dos estágios endógenos, efeitos patogênicos; testes de especificidade imunológica e a duração dos períodos pré-patente e 19 patente em infecções experimentais. Para isto, depende de pessoal altamente treinado para que se evitem os erros de diagnóstico (LONG; JOYNER, 1984), consomem bastante tempo e exigem o uso de animais para experimentação (CONWAY; MCKENZIE, 2007; LONG; REID, 1982). Segundo Macpherson e Gajadhar (1993), a identificação das espécies do gênero Eimeria que parasitam galinhas não pode ser feita de forma segura utilizando-se apenas critérios de morfometria e as características estruturais dos oocistos. Segundo Joyner e Long (1974), na maioria das vezes, é necessária a análise de uma combinação de características. As técnicas moleculares têm se destacado na identificação de Eimeira spp. (ALLEN; FETTERER, 2002; MORGAN et al, 2009). A primeira técnica utilizada foi a eletroforese de isoenzimas (SHIRLEY, 1975). Em seguida outras técnicas foram utilizadas, como por exemplo: Restriction fragment length polymorphism – RFLP (análise de polimorfismos de comprimento de fragmentos de restrição), Southern Blot (transferência de Southern), Pulsed-field gel electrophoresis – PFGE (eletroforese em gel de campo pulsado), Field inversion gel electrophoresis – FIGE (eletroforese em gel de campo de inversão), Amplified fragment length polymorphism – AFLP (polimorfismo do comprimento do fragmento amplificado), Random amplification of polymorphic DNA – RAPD (amplificação aleatória do DNA polimórfico), Sequence-characterized amplified region – SCAR (amplificação de regiões de sequência caracterizada) e Polymerase chain reaction – PCR (reação em cadeia da polimerase) (MORRIS; GASSER, 2006). Fernandez et. al., (2003a), desenvolveram uma Multiplex PCR, baseado em SCAR’s, obtidos a partir da técnica de RAPD e padronizaram a utilização desses “primers” de modo a permitir a execução de um diagnóstico simultâneo das sete espécies de Eimeria em uma reação. A realização do presente trabalho teve como objetivo estudar a ocorrência das espécies de Eimeria na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina, utilizando a técnica de Multiplex PCR. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 GÊNERO Eimeria O gênero Eimeria pertence ao filo Apicomplexa; classe Sporozoea; subclasse Coccidia; ordem Eucoccidiorida; subordem Eimeriorina; família Eimeriidae (KAWAZOE, 2000). A primeira descrição desse protozoário ocorreu na Itália em 1873 por Rivolta e Silvestrini que relataram a presença de um parasito no ceco de aves, o denominaram de Gregarina avium intestinalis e afirmaram que os oocistos deste parasito, após liberados com as fezes, passavam por um processo (esporulação) que alterava suas características morfológicas (CHAPMAN, 2003). Em 1875, Schneider descreveu o gênero Eimeria com o propósito de abrigar um parasito encontrado no intestino de camundongos (COSTA; PAIVA, 2009). Raillet e Lucet, em 1891 descreveram uma nova espécie denominada por eles de Coccidium tenellum, a identificação foi baseada nas medidas dos oocistos recuperados do ceco de galinhas (CHAPMAN, 2003; COSTA; PAIVA, 2009). Em 1909, o Coccidium tenellum foi redenominado E. tenella por Fantham (KAWAZOE, 2000), que em 1910 descreveu detalhadamente o ciclo de vida de um parasito de aves do gênero Eimeria (CHAPMAN, 2003). Apesar de renomeada a espécie, a denominação Coccidium tenellum foi amplamente utilizada, visto que termos como “coccidia” e “coccidiose” permanecem amplamente empregados (COSTA; PAIVA, 2009). Em 1926, Tyzzer relatou que a coccidiose cecal era causada por uma espécie de Eimeria (E. tenella) diferente das espécies encontradas no intestino delgado e, em 1929, descreve pela primeira vez três dessas espécies (E. mitis, E. maxima e E. acervulina). Johnson, em 1928 descreveu duas novas espécies de Eimeria de galinhas, E. praecox e E. necatrix (CHAPMAN, 2003). Levine relatou outras duas espécies, E. brunetti (1942) e E. hagani (1938). Esta última teve apenas uma breve e, portanto, insuficiente descrição para que pudesse ser considerada válida como espécie (KAWAZOE, 2000). Em 1964, Edgar e Siebold descreveram uma nova espécie, E. mivati, que foi comparada com todas as outras espécies do gênero Eimeria que acometem galinhas e os autores relataram que essa espécie poderia ser confundida com E. acervulina e E. mitis (COSTA; PAIVA, 2009). Shirley, em 1975, utilizando os métodos de eletroforese de isoenzimas (zimodemas) e de imunidade cruzada para a identificação das espécies, não encontrou validade na 21 E. mivati, pois, segundo esse autor, as técnicas demonstraram tratar-se de uma amostra mista, composta de E. mitis e E. acervulina (KAWAZOE, 2000). 2.1.1 Ciclo evolutivo O ciclo evolutivo das espécies do gênero Eimeria que parasitam galinhas é complexo, passando por várias etapas (Figura 1). Inicia com a ingestão do oocisto esporulado, forma infecciosa do parasito que contém quatro esporocistos, cada um com dois esporozoítos. O oocisito e esporocistos são rompidos, liberando no trato intestinal os esporozoítos, que penetram nos enterócitos, sendo que cada espécie tem predileção por um determinado local no intestino das aves. O esporozoíto, depois de penetrar na célula intestinal, inicia a fase de reprodução assexuada ou merogonia dando origem a um grande número de novas formas conhecidas por merozoítos (CONWAY; MCKENZIE, 2007). Segundo McDonald e Shirley (2009), dependendo da espécie e/ou cepa ocorrem de três a quatro merogonias. A última geração de merozoítos diferenciase em macrogamontes e microgamontes que originam os gametas femininos e masculinos, respectivamente, e esses se unem para formar o zigoto e em seguida o oocisto, que é excretado junto com as fezes (KAWAZOE, 2000). “Cada evento de fertilização pode envolver gametas da mesma população parental (autofertilização) ou gametas de populações geneticamente diferentes (fecundação cruzada).” (SHIRLEY; HARVEY, 2000). No ambiente ocorre a esporogonia, que é uma forma de reprodução assexuada, e inicia-se com uma meiose seguida de duas mitoses, gerando um oocisto esporulado (FORTES, 2004). 2.2 CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS, MORFOLÓGICAS E ALTERAÇÕES CAUSADAS NO HOSPEDEIRO PELAS ESPÉCIES DE Eimerias QUE PARASITAM AVES DA ESPÉCIE Gallus gallus domesticus. 2.2.1 Eimeria acervulina Desenvolve-se na porção anterior do intestino delgado ao longo da alça duodenal, sendo que em infecções severas pode ser encontrada avançando para o jejuno e íleo. Essa espécie causa alterações visíveis da mucosa e serosa do intestino que vão desde pontos brancos a listras brancas transversais que podem estar coalescentes. As lesões são 22 compostas de esquizontes, gametócitos e oocistos (MCDOUGALD, 2003). Segundo Conway e McKenzie (2007), em esfregaços do local das lesões são visualizados gametócitos e oocistos não esporulados. Bordin (1999) citou que essa espécie localiza-se superficialmente no epitélio da mucosa intestinal, sobre as vilosidades. Kawazoe (2000) citou que essa espécie geralmente não causa mortalidade, porém, causa uma profunda depressão no ganho de peso e aumento na taxa de conversão alimentar das aves acometidas. Os oocistos dessa espécie são ovóides. Segundo Long e Reid (1982) o período pré-patente, o tempo mínimo de esporulação, a forma e as medidas dos oocistos variam entre as espécies de Eimeria (Figura 2). Figura 1 – Ciclo biológico do gênero Eimeria Fonte: adaptado de Conway e McKenzie (2007). 23 2.2.2 Eimeria maxima Localiza-se na região média do intestino delgado (jejuno e íleo), próximo ao divertículo do saco da gema, mas em infecções severas pode ser ascendente, alcançando o duodeno e/ou descendente até a junção ileocecal (CONWAY; MCKENZIE, 2007). Causa lesões hemorrágicas associadas a um espessamento da mucosa intestinal, petéquias podem ser vistas na serosa e o intestino pode apresentar uma dilatação na região afetada, chamada de “balonamento”, estando repleto de conteúdo mucoso de coloração amarela ou laranja, podendo conter sangue. É responsável pela perda de peso, aumento na taxa de conversão alimentar e despigmentação das aves acometidas (CONWAY; MCKENZIE, 2007; MCDOUGALD, 2003). Nessa espécie o maior dano tecidual ocorre na fase de reprodução sexual, pois, possui grandes macrogametócitos de localização subepitelial (MCDOUGALD, 2003). Pode causar mortalidade de até 20% (SCHNITZLER; SHIRLEY, 1999). Os oocistos de E. maxima são ovóides de coloração característica, marrom dourada e, com superfície irregular, são os maiores oocistos dentre as espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus (LONG; REID, 1982). Figura 2 – Período pré-patente (PPP) e tempo mínimo para esporulação (TME) a 30°C, em horas e, medidas dos oocistos por espécie de Eimeria em micrometros. ESPÉCIE PPP (h) TME (h) MEDIDAS (μm) E. acervulina 97 17 17,7 a 20,2 X 13,7 a 16,3 E. maxima 121 30 21,5 a 42,5 X 16,5 a 29,8 E. tenella 115 18 19,5 a 26,0 X 16,5 a 22,8 E. mitis 93 15 11,7 a 18,7 X 11,0 a 18,0 E. praecox 83 12 19,8 a 24,7 X 15,7 a 19,8 E. necatrix 138 18 13,2 a 22,7 X 11,3 a 18,3 E. brunetti 120 18 20,7 a 30,3 X 18,1 a 24,2 Fonte: adaptado de Long e Reid (1982). 2.2.3 Eimeria tenella Espécie do gênero Eimeria altamente patogênica, responsável por surtos com alta morbidade e mortalidade, causando também queda no ganho de peso e aumento na taxa de conversão alimentar. Todo o 24 ciclo (assexuado e sexuado) ocorre nos cecos causando uma tiflíte. Os esquizontes desenvolvem-se na lâmina própria do intestino e os maiores danos são causados durante a reprodução assexuada, pela segunda geração de grandes esquizontes contendo centenas de merozoítos (BORDIN, 1999; MCDOUGALD, 2003). O mecanismo que causa a morte das aves não está completamente elucidado. Segundo Kawazoe (2000), acredita-se que o parasito interfere no mecanismo de coagulação sanguínea devido a falhas no metabolismo da vitamina K, agravando o quadro hemorrágico. Porém, a hemorragia por si só não é responsável pela morte, provavelmente ocorre interação de fatores tóxicos e bacterianos durante a infecção (MCDOUGALD, 2003). Os oocistos de E. tenella são ovóides (LONG; REID, 1982). 2.2.4 Eimeria praecox Desenvolve-se no terço superior do intestino delgado, principalmente na alça duodenal, possui localização epitelial. O conteúdo intestinal pode apresentar-se aquoso, com presença de muco, e algumas vezes, petéquias podem ser visualizadas na mucosa. Essa espécie pode causar uma diminuição no ganho de peso e aumento na taxa de conversão alimentar nas aves (MCDOUGALD, 2003). Os oocistos são ovóides (LONG; REID, 1982). 2.2.5 Eimeria mitis Seu desenvolvimento ocorre no intestino delgado desde o divertículo do saco da gema até a junção ileocecal, não formam colônias e localizam-se superficialmente no epitélio da mucosa do intestino delgado. Desta forma causam poucas alterações visíveis como, intestino pálido e flácido (MCDOUGALD, 2003) e com espesso exsudato (LONG; REID, 1982). Pode causar queda de peso, palidez das aves e piora na conversão alimentar (LONG; REID, 1982; MCDOUGALD, 2003). Essa espécie apresenta oocistos subesféricos que são menores entre as Eimerias spp. que parasitam frangos (LONG; REID, 1982). Tem-se demonstrado que, mesmo espécies como E. praecox e E. mitis, consideradas muitas vezes inócuas, podem causar uma significativa queda no ganho de peso (JORGENSEN et al., 1997; MCDOUGALD et al., 1997). Segundo Willians (1998), o fornecimento de 500.000 oocistos esporulados de E. mitis e E. praecox, foi responsável por uma queda no ganho de peso médio de 20% e 25%, respectivamente, durante sete dias pós-infecção. 25 2.2.6 Eimeria necatrix Essa espécie desenvolve-se inicialmente no intestino delgado (jejuno e íleo, próximo ao divertículo do saco da gema), onde ocorrem as merogonias (reprodução assexuada), e em seguida, a terceira geração de esquizontes migra para o ceco onde acontece a reprodução sexuada e a formação dos oocistos. As lesões que ocorrem no intestino delgado são causadas principalmente pela segunda geração de esquizontes, de localização subepitelial, que alcançam a camada muscular e os vasos sanguíneos, causando um dano extenso no tecido. Podem ser visualizadas alterações como uma acentuada dilatação ou “balonamento”, com um aumento de até duas vezes o tamanho normal do intestino na região afetada. Na serosa se observam placas brancas formadas pela aglomeração de esquizontes e petéquias, o interior do intestino pode estar repleto de sangue, fluídos e muco. É altamente patogênica e causa alta morbidade e mortalidade, queda no ganho de peso e aumento na taxa de conversão alimentar. Porém, é pouco prolífera e, devido à competição com outras espécies, é responsável por surtos tardios, acometendo principalmente, aves de vida longa ao redor de 9 a 14 semanas de idade, como por exemplo, reprodutoras, sendo rara a ocorrência de quadros clínicos em frangos devido ao curto ciclo dessas aves (MCDOUGALD, 2003). Os oocistos de E. necatrix são ovóides oblongos (LONG; REID, 1982). 2.2.7 Eimeria brunetti Essa espécie geralmente desenvolve-se na porção inferior do intestino delgado, entre o divertículo do saco da gema e a junção ileocecal, podendo se estender por todo o intestino delgado e grosso em infecções massivas, a localização da segunda geração de esquizontes é subepitelial. É considerada uma espécie altamente patogênica, causa lesões que variam desde um engrossamento da mucosa com a presença de petéquias, em infecções leves, até uma necrose e descamação do epitélio com a formação de uma membrana diftérica cobrindo a superfície intestinal (BORDIN, 1999; MCDOUGALD, 2003). Pode causar mortalidade, diminuição no ganho de peso e aumento na taxa de conversão alimentar (MCDOUGALD, 2003). E. brunetti possui oocistos ovoides (LONG; REID, 1982). 2.3 CONTROLE DA COCCIDIOSE AVIÁRIA 26 2.3.1 Anticoccidianos No passado a quimioterapia com a finalidade de controlar a coccidiose nas produções avícolas era feita apenas de forma curativa. Atualmente, quase que a totalidade dos lotes de frangos recebe uma medicação preventiva, enquanto que os tratamentos ficaram relegados a um último recurso (MCDOUGALD, 2003). Segundo Ferreira e Revolledo (2005) há relatos de que a primeira substância empregada para o tratamento da coccidiose, por volta de 1935, foi o enxofre. Na década seguinte foram introduzidas as sulfonamidas e a nicarbazina, e na década de 1970 a monensina. A nicarbazina e a monensina continuam sendo muito utilizadas. Os anticoccidianos são classificados em dois grupos: os sintéticos e os ionóforos de poliéter. Esses últimos são produzidos a partir da fermentação de micélios, principalmente do gênero Streptomyces (BUTAYE et al., 2003) e são considerados drogas mais eficientes no controle da eimeriose, pois, devido ao seu intrincado modo de ação, são menos susceptíveis ao desenvolvimento da resistência pelas espécies de Eimeria (CHAPMAN, 1997; KAWAZOE, 2000). Formam complexos com íons, facilitando a entrada de Na + e a grande quantidade desse íon no meio intracelular provoca um aumento de líquido no interior da célula do parasito, causando a parada da função mitocondrial e posteriormente a ruptura da membrana celular (CHAPMAN, 1997; CHAPMAM et al., 2010; DANFORTH; RUFF, 1999; FERREIRA; REVOLLEDO, 2005; MCDOUGALD, 2003). Segundo Danforth e Ruff (1999), o grupo dos ionóforos permanece sendo o esteio principal no controle da coccidiose. Os anticoccidianos sintéticos possuem um mecanismo de ação mais simples, que os tornam mais susceptíveis ao desenvolvimento de resistência pelos parasitos (KAWAZOE, 2000). As sulfonamidas são análogas e competidoras do ácido p-aminobenzóico (PABA) que é essencial para o metabolismo do ácido fólico, rota importante para a síntese de RNA e DNA do parasito (CHAPMAM, 1997; FERREIRA; REVOLLEDO, 2005; MCDOUGALD, 2003). Agem impedindo a redução do diidrofolato para tetraidrofolato pela enzima diidrofolato redutase timidilato sintetase (DHFR-TS) (CHAPMAM, 1997). O amprólio é um antagonista da tiamina, impede a absorção desse aminoácido inibindo, com isso, a síntese do ácido fólico (FERREIRA; REVOLLEDO, 2005; MCDOUGALD, 2003). Outras drogas sintéticas interferem na geração de energia ou no metabolismo mitocondrial do parasito, como por exemplo, o 27 decoquinato, clopidol, robenidina e, apesar do mecanismo de ação da nicarbazina não estar completamente elucidado acredita-se que, esta também atue na mitocôndria (DANFORTH; RUFF, 1999; CHAPMAM, 1997). Supõe-se que a robenidina impeça a fosforilação oxidativa (CHAPMAM, 1997; FERREIRA; REVOLLEDO, 2005). O decoquinato atua bloqueando o transporte de elétrons próximo ao citocromo b na mitocôndria do parasito, e o clopidol possui o mesmo mecanismo, mas em um local diferente da mitocôndria, impossibilitando a resistência cruzada entre estas drogas (CHAPMAM, 1997). Anticoccidianos mais recentes como o diclazuril e o toltrazuril atuam na cadeia respiratória do parasito (FERREIRA; REVOLLEDO, 2005). 2.3.1.1 Resistência aos anticoccidianos O desenvolvimento da resistência pelo parasito pode ser definido como um decréscimo da sensibilidade a uma droga ao longo do tempo e pode ser parcial ou completa (CHAPMAN, 1997). A ampla utilização dos anticoccidanos para o controle da eimeriose aviária permite a exposição frequente de populações de Eimeria spp. a uma determinada classe de drogas, podendo induzir à resistência (CHAPMAN, 1997; DANFORTH; RUFF, 1999; MCDOUGALD, 2003; ZHANG et al., 2013). McDougald (2003) citou que a resistência às drogas é um fenômeno genético, e quando estabelecido em uma população de Eimeria spp., pode permanecer por muitos anos. Porém, segundo Champan (1997) há relatos de reversão da resistência em populações de parasitos para uma determinada droga, após um período administrando uma droga não relacionada. Os mecanismos que levam ao desenvolvimento de cepas resistentes aos anticoccidianos não são totalmente conhecidos, Chapman (1997) citou que, para o amprólio, acredita-se que ocorrem mudanças a nível molecular, que alteram o receptor alvo, impedindo a ligação da droga em cepas resistentes; para as sulfonamidas, sugere-se que a resistência seja devido à duplicação do cromossomo ou mutação em um gene, resultando na amplificação da diidrofolato redutase timidilato sintetase (DHFR-TS) e; para os ionóforos, acredita-se que envolva mudanças bioquímicas na composição da membrana do parasito ou na expressão de genes que produzem uma proteína, chamada de Pglicoproteína, responsável por aumentar a atividade da bomba de Na+/K+, sendo que a expressão da resistência está relacionada com diferenças na acumulação de ionóforo pelos parasitos. Zhang et al. (2013), em um trabalho para investigar a resistência aos ionóforos, 28 relatou que a resistência severa a maduramicina estava associada a uma maior dose fornecida da droga. O complexo modo de ação dos ionóforos torna o processo de resistência mais difícil e, portanto, mais demorado para acontecer, mesmo assim, essa classe de anticoccidianos tem-se demonstrado vulnerável (CHAPMAN, 1997; CHAPMAM et al., 2010; KAWAZOE, 2000). O processo de disseminação da resistência em populações de Eimeria spp. se da por meio de seleções, as populações que sobrevivem a utilização de um determinado anticoccidiano, sofrem uma pressão de seleção e podem desenvolver resistência a droga, que é uma característica estável, podendo ser transmitida para as próximas gerações e permanecendo por vários anos em uma população de Eimeria spp., mesmo que a população siga sem a pressão daquela droga (CHAPMAN, 1997; MCDOUGALD, 2003). A maioria das drogas atua na fase de reprodução assexuada, quando o parasito é haploide (esporozoítos, esquizontes e merozoítos). Estes compostos podem eliminar facilmente da população os indivíduos sensíveis à droga, e em consequência permitir a multiplicação de indivíduos mais resistentes, durante a reprodução assexuada. A difusão dessa característica ocorre na fase de reprodução sexuada, com os cruzamentos das características de resistência a uma ou múltiplas drogas, gerando novas populações com fenótipos de resistência para um ou vários anticoccidianos (CHAPMAN, 1997; DANFORTH; RUFF, 1999). A resistência também pode ocorrer de forma cruzada, acontece quando uma cepa portadora de um fenótipo de resistência a uma droga pode ser totalmente ou parcialmente resistente a outro anticoccidiano que possua o mesmo ou semelhante mecanismo de ação. Acredita-se que a resistência cruzada possa ocorrer entre o grupo dos ionóforos, mas isso não foi devidamente comprovado e, entre diclazuril e toltrazuril, indicando que exibem o mesmo modo de ação (CHAPMAN, 1997). A velocidade com que ocorre o estabelecimento da resistência a um anticoccidiano está relacionada com o modo de ação da droga, quanto mais simples, mais rápida é a instauração da resistência (MCDOUGALD, 2003). Segundo Ferreira e Revolledo (2005) de acordo a velocidade de aparecimento da resistência, os anticoccidianos podem ser classificados como: muito rápido (glicosaminas); rápido (buquinolato, decoquinato e diclazuril); menos rápido (clopidol); moderado (sulfonamida e robenidina); lento (amprolium, zoalene e nitrobenzamidas) e muito lento (nicarbazina e ionóforos). Com o objetivo de evitar ou atrasar o desenvolvimento da resistência às drogas, são utilizados alguns tipos de manejo dessas 29 substâncias, como por exemplo, a rotação de drogas, que consiste em se utilizar um anticoccidiano por alguns ciclos de criação e posteriormente substituí-lo. Outra forma de uso dos anticoccidianos são os programas duais, onde se utiliza um determinado anticoccidiano na fase inicial e de crescimento do frango (01-21 dias), que é substituído por outro na fase de terminação (22-42 dias) (KAWAZOE, 2000). A utilização de vacinas com oocistos vivos tem demonstrado ser uma ferramenta interessante para restabelecer a sensibilidade às drogas. Mathis e Broussard (2006) avaliaram a resistência de cepas de Eimeria spp. ao diclazuril, em isolados provenientes de complexos aviários antes e após a utilização desta droga. Após a coleta inicial de oocistos (isolado 1), um programa anticoccidiano sem diclazuril na ração foi utilizado em quatro complexos (A, B, C, D) e, vacinação em três complexos (E, F, G). O isolado 2 foi coletado dois ciclos após a mudança dos programas e, a partir de testes de desafio em aves medicadas com diclazuril, evidenciou-se que a redução média do ganho de peso causada pelos oocistos provenientes dos complexos vacinados e medicados foi significativamente diferente. Os oocistos obtidos dos complexos E, F, G provocaram uma redução média no ganho de peso de 4,4% em frangos desafiados e medicados com diclazuril na ração, quando comparados com frangos controle não desafiados, oocistos provenientes dos complexos A, B, C, e D causaram uma redução de 9,9% do ganho de peso em frangos desafiados e, nos controles não medicados desafiados a redução do ganho de peso foi de 22,1%. Da mesma forma, o escore médio de lesão provocado pelos diferentes isolados foi significativamente diferente, oocistos provenientes dos complexos E, F e G provocaram um escore médio 0,7 menor que dos complexos de A, B, C e D. Quanto ao isolado 1, não houve diferença significativa na redução do ganho de peso e no escore de lesão causados pelos oocistos, quando comparados as cepas obtidas de ambos os complexos. Portanto, concluiu-se que o nível de sensibilidade ao diclazuril aumentou nos complexos que usaram a vacinação. Peek e Landman (2006) avaliaram a resistência ao diclazuril e a monensina em 20 isolados de campo. Para isso, grupos controle não medicados e não desafiados e, não medicados e desafiados, foram comparados com grupos tratados com diclazuril e monensina e, desafiados. Foram mensurados o escore de lesão e o número de oocistos por grama de fezes (Oopg) e, a avaliação foi executada pelo Teste de Sensibilidade Anticoccidiana (TSA). Como resultado, encontraram que 68% e 53% das cepas de E. acervulina eram total ou parcialmente resistentes ao diclazuril e monensina, respectivamente. A resistência foi menos 30 frequente entre as cepas de E. maxima, 38% e 50% de resistência total ou parcial ao diclazuril e monensina, respectivamente e, cepas de E. tenella, 23% e 38% de resistência total ou parcial ao diclazuril e monensina, respectivamente. Na comparação estatística dos resultados obtidos com cepas provenientes de granjas que utilizavam um programa de controle baseado em anticoccidianos com aquelas de granjas que utilizavam a vacinação houve diferença significativa. Foram encontrados os seguintes percentuais de cepas que apresentavam sensibilidade total ao diclazuril em lotes que utilizavam vacinas (VAC), comparado com lotes que utilizavam anticoccidianos (ANT): E. acervulina (50% VAC e 9% ANT), E. maxima (89% VAC e 14% ANT), E. tenella (100% VAC e 20% ANT) e, sensíveis a monensina: E. acervulina (50% VAC e 0% ANT), E. maxima (55% VAC e 14% ANT), E. tenella (50% VAC e 20% ANT). Jenkins et al. (2010), a partir de testes de sensibilidade a drogas, comparando o ganho de peso e a conversão alimentar, concluíram que os oocistos de Eimeria spp. obtidos de operações que utilizavam vacinas exibiram maior sensibilidade a salinomicina em comparação com oocistos de granjas que utilizavam anticoccidianos. O ganho de peso em frangos medicados com salinomicina e infectados com oocistos provenientes de granjas que utilizavam anticoccidianos foi 3% maior em relação ao controle desafiado não medicado, enquanto que nos frangos desafiados com oocistos provenientes de granjas que utilizavam Coccivac B ou Inovocox, o controle com a salinomicina promoveu um maior ganho de peso, 25% e 33%, respectivamente, em relação ao controle desafiado não medicado. Também foi observada uma melhoria, estatisticamente significativa, na taxa de conversão alimentar de frangos de corte utilizando salinomicina e desafiados com oocistos obtidos durante o uso de Coccivac B ou Inovocox, que não ocorreu em frangos utilizando salinomicina e infectados com oocistos obtidos de operações durante o uso de anticoccidianos. Long et al. (1976) tem sugerido que as cepas de parasitas sensíveis as drogas tendem a dominar na ausência de medicação, as cepas resistentes, possivelmente devido a uma vantagem reprodutiva. A resistência aos anticoccidianos está disseminada e tem sido relatada em várias partes do mundo (MCDOUGALD, 2003). Em um estudo em 15 regiões de produção de frangos de corte no Brasil e na Argentina, foram encontradas populações de Eimeria resistentes a monensina, narasina, salinomicina, maduramicina, clopidol, amprólio e nicarbazina (MCDOUGALD et al., 1987). McDougald et al. (1986) fizeram um estudo nos 12 maiores estados produtores de frangos dos 31 EUA e encontraram resistência para monensina, salinomicina, nicarbasina, amprólio/etopabato. Stephan et al. (1997) estudaram dez amostras de campo de Eimeria spp., utilizando o Índice Global (IG), dessas, nove apresentaram resistência e, a maioria com resistência a vários anticoccidianos. Uma amostra contendo E. maxima, E. acervulina e E. mitis apresentou resistência total contra seis drogas diferentes (maduramicina, monensina, nicarbazina, halofuginona, robenidina e diclazuril), resistência parcial a salinomicina, e somente o toltrazuril foi eficaz. As amostras de campo foram propagadas em aves para a obtenção de isolados puros de Eimeria spp., dessas, 55% herdaram a resistência das amostras originais, coletadas no campo. Chapman (1997) citou que a longo prazo, pode ser adquirida uma multi resistência parcial ou total ao conjunto das drogas que foram empregadas durante um determinado período em uma exploração avícola. Li et al. (2004) estudaram a sensibilidade a anticoccidianos de cepas de E. acervulina, E. maxima e E. tenella isoladas de produções avícolas no sul da China. Utilizaram o índice anticoccidial (IA) e percentagem ótima de atividade anticoccidiana (POAA) e como resultados encontraram que E. acervulina, E. maxima e E. tenella foram resistentes a monensina, sensíveis a salinomicina e lasolacida e parcialmente sensíveis a maduramicina e senduramicina. Guo et al. (2007) testaram a eficácia da maduramicina e decoquinato em duas cepas de laboratório de E. tenella e em 20 isolados de campo de Eimeria spp., obtidos de operações avícolas na China. Dezoito isolados foram resistentes a maduramicina, enquanto o decoquinato a 20 ppm controlou todos os isolados de campo. Dez dos 20 isolados eram oriundos de propriedades onde a maduramicina havia sido usada continuamente por mais de dois anos, enquanto o restante foi oriundo de propriedades onde a maduramicina havia sido usada antes de ser substituída por diclazuril e, esse, usado por dois anos antes de amostras de fezes serem obtidas. Segundo os autores, não houve diferença na sensibilidade para maduramicina entre as granjas onde esta havia sido usada continuamente, das demais, onde a maduramicina foi substituída pelo diclazuril por dois anos. Os autores concluíram que o decoquinato tem um valor potencial como um anticoccidiano para uso em frangos na China e em outros países, onde não tenha sido usado anteriormente. Abbas et al. (2008) conduziram um ensaio para avaliar a sensibilidade a anticoccidianos em três isolados de campo de E. tenella obtidos de operações avícolas do Paquistão, utilizando o IG. Todos os isolados de E. tenella apresentaram resistência parcial contra a salinomicina e, vários graus de sensibilidade foram observados contra maduramicina e clopidol. O IG (1 = muito boa 32 eficácia; 2 = boa eficácia, 3 = eficácia limitada, 4 = parcialmente resistente e 5 = resistente) dos grupos medicados, quando comparado com os controles não medicado não desafiados e não medicado desafiados, demonstrou que todos os isolados de E. tenella possuíam o mesmo nível de sensibilidade à salinomicina (IG=4). Contudo, os isolados de E. tenella mostraram diferentes níveis de susceptibilidade à maduramicina (Isolado 1 = IG 4, Isolado 2 = IG 2, Isolado 3 = IG 3) e clopidol (Isolado 1 = IG 4, Isolados 2 e 3 = IG 2). O isolado 1 apresentou resistência cruzada entre salinomicina e maduramicina e, resistência múltipla entre salinomicina, maduramicina e clopidol. Györke, et al. (2011) obtiveram isolados de Eimeria de 14 lotes de frangos de corte comerciais da Romênia. Foram identificados quatro espécies de Eimeria pela PCR: E. acervulina (88%), E. tenella (64%), E. maxima (28%) e E. praecox (12%). Cepas de E. acervulina e E. tenella, provenientes de sete lotes, foram submetidas a testes de resistência a anticoccidianos por meio do TSA, com base no percentual de redução do escore de lesão. O ganho de peso, conversão alimentar e oocistos por grama de fezes também foram avaliados. Segundo os autores, foi encontrada resistência em 50% dos isolados de campo de E. acervulina a monensina, salinomicina, narasina/nicarbazina e robenidina, em 37,5% a lasalocida; 100% de isolados de campo de E. tenella a robenidina, 50% a monensina, narasina/nicarbazina e diclazuril e 25% a salinomicina e lasalocida. A E. acervulina foi sensível a maduramicina e diclazuril e E. tenella a maduramicina. Zhang et al. (2013) durante quatro anos coletaram fezes de 545 propriedades em nove diferentes regiões geográficas da China, juntamente com o histórico clínico das aves e, compararam o Oopg com a morbidade dos frangos e a presença de fezes com sangue. Durante as coletas, frangos encontrados mortos ou doentes foram necropsiados e as lesões encontradas nos cecos foram submetidas a um esfregaço. Os autores relataram que o limite para a doença estava na faixa de 5 X 10 4 oocistos por grama de fezes, sendo que em propriedades com >5 X 10 4 oocistos por grama de fezes, havia um quadro de coccidiose. Quanto à sensibilidade das cepas aos anticoccidianos, concluíram que um princípio de instauração da resistência estava na recuperação de 2 X 10 4 oocistos, já com a excreção de >5 X 104 oocistos por grama de fezes, tratava-se de um alto grau de resistência. Quinze isolados de E. tenella foram submetidos a testes para verificar a sensibilidade a maduramicina, utilizando o IA (1 = resistência severa; 2 = resistência moderada; 3 = resistência leve e 4 = ausência de resistência), para isso foram mensurados parâmetros como ganho de peso, mortalidade, escore de 33 lesão, taxa de excreção de oocistos. Como resultado, observaram que isolados expostos a 2 – 5 mg/kg maduramicina desenvolveram resistência leve, a 5 mg/kg resistência severa e, isolados de granjas em que não se utilizaram maduramicina eram sensíveis, sugerindo que a aquisição de resistência está relacionada a dose de anticoccidiano utilizada. Arabkhazaeli et al. (2013) avaliaram a resistência a anticoccidianos em três isolados de campo de Eimeria spp. Foram registrados dados como, o ganho de peso, consumo de ração, escore de lesão, Oopg, mortalidade e conversão alimentar e, utilizados três índices para avaliar a eficácia: Atividade anticoccidiana ótima (AAO), onde são utilizados os parâmetros como as taxa de crescimento e sobrevivência; TSA, calculada com base na redução do escore médio de lesão e; o IG que utiliza para a avaliação o ganho de peso, a conversão alimentar, Oopg, o escore de lesão e a mortalidade. Segundo os autores, tanto a IG e AAO deram resultados semelhantes e, mesmo sendo o primeiro teste mais preciso, porém, considerando a facilidade de pesagem das aves, em comparação com a avaliação do escore de lesão e Oopg, também, porque o peso é o principal fator de rentabilidade na indústria, concluíram que pode ser aconselhável propor a utilização do AAO como um índice único, para avaliação da resistência a fármacos de modo que as pesquisas com base em um método comum possam ser comparadas. Quanto à resistência, foi relatada resistência total ao amprolio + etopabato, resistência parcial a salinomicina e; resistência parcial a total para o diclazuril. A última droga disponibilizada para uso foi o diclazuril em 1990 e o primeiro relato de cepas resistentes para essa droga ocorreu no Brasil em 1994 (CHAPMAN, 1997). Chapman (1997) citou que um dos motivos da escassez de novos produtos é o fato de que o método tradicional para o desenvolvimento de novas drogas é um processo difícil, executado a partir de testes aleatórios com vários compostos. Danfort e Ruff (1999) citaram que o alto custo para o desenvolvimento de novos anticoccidianos tem desestimulado muitas empresas farmacêuticas a desenvolverem novos compostos. Williams (1998) citou que o investimento para o desenvolvimento de uma nova molécula varia de 50 a 100 milhões de dólares. 2.3.2 Vacinação As espécies de Eimeria aviária são altamente imunogênicas e, com uma ou mais passagens pelo hospedeiro promovem o desenvolvimento de uma sólida imunidade contra desafios subsequentes (ALLEN; FETTERER, 2002). 34 Lillehoj (1999) e Kawazoe, (2000) citaram que frangos infectados com Eimeria produzem anticorpos parasito-específicos, por meio de linfócitos B ativados (células T dependentes). Essas imunoglobulinas estão presentes na circulação e nas secreções mucosas, e atuam somente na fase extracelular do parasito. Lillehoj (2005) e, McDonald e Shirley (2009) citaram que foi constatado o carater secundário da imunidade humoral em aves imunes, que após bursectomizadas, permaneceram resistentes as infecções. Segundo Lillehoj (1999) o controle da coccidiose é desempenhado, principalmente, pela imunidade celular, tanto por mecanismos de citotoxidade, desencadeados pelos linfócitos T nas células parasitadas, como pela produção de citoquinas como o interferon gama (IFNγ). A importância da imunidade celular foi comprovada em experimentos com o fornecimento, para aves imunes contra Eimeria spp., de drogas que causam imunodepressão, como ciclosporina, betametasona e dexametasona e, por meio de timectomia. Ambos os tratamentos tornaram essas aves susceptíveis as infecções com Eimeria spp. As vacinas contendo oocistos vivos permanecem sendo a única alternativa prática para a substituição dos anticoccidianos no controle da coccidiose em criações industriais de frangos de corte, conforme relataram Chapman et al. (2002) e Williams (1998). Existem dois grupos de vacinas, contendo parasitos vivos do tipo selvagem ou atenuados, ambas com formulações variadas, contendo uma ou mais espécies de Eimeria que parasitam galinhas (SHIRLEY; BEDRNIK, 1997). A vacinação com oocistos vivos requer um eficiente e prático sistema de distribuição das doses de oocistos aos frangos, para uma exposição sincronizada de todas as aves de um lote a um pequeno e uniforme número de parasitos (DANFORTH, 1998). As vacinas são aplicadas via spray em incubatório ou via água de bebida, ração ou gel comestível na granja. Atualmente tem sido introduzida a vacinação “in ovo”, executada no 18° dia de incubação. Segundo Chapman et al. (2002) espécies menos patogênicas presentes no ambiente, mas que não estejam inclusas na vacina, podem afetar o desempenho do lote, e terem sua incidência aumentada, resultado da seleção imunológica. Outro problema observado é a variação imunogênica entre cepas de uma mesma espécie de Eimeria, relatado com frequência em E. maxima. Segundo Danforth (1998) o uso de uma vacina contendo uma cepa de E. maxima canadense que conferiu 100% de proteção contra 35 desafios homólogos, protegeu apenas 3% e 47% contra isolados de Maryland e Flórida (Estados Unidos), respectivamente. A vacina foi reformulada, com a adição das duas cepas de E. maxima e, dessa forma foi capaz de conferir proteção aos desafios de campo. McDonald e Shirley (2009) citaram que com o propósito de ampliar o espectro de proteção algumas vacinas, têm incluído em sua formulação duas cepas de E. maxima com propriedades imunogênicas distintas e, para o controle mais eficiente de variantes regionais, têm surgido alternativas de vacinas formuladas com cepas autóctones como, por exemplo, na Austrália e China (MCDONALD; SHIRLEY, 2009). Segundo Danforth (1998) antes da utilização de uma vacina o ideal e que se faça um estudo de proteção contra as cepas locais (DANFORTH, 1998). Chapman et al. (2002) relataram que uma vantagem é que as vacinas podem ser moldadas às necessidades regionais, apenas com a inclusão de cepas autóctones e, isso a um baixo custo, diferente do processo de desenvolvimento de uma nova droga. Chapman et al. (2002) e Williams (1998) citaram que a rotação de programas utilizando vacinas e anticoccidianos podem trazer benefícios como: repovoação do campo com cepas sensíveis a anticoccidianos, transferência dessa característica para as cepas locais, sendo que essa medida pode auxiliar a estender a vida útil dos anticoccidianos. Também, a precocidade das cepas vacinais que as tornam menos patogênicas é uma característica herdável. Entretanto, a utilização de vacinas compostas de oocistos vivos não tem sido muito aceita para o uso em frangos de corte, sob a alegação de que poderiam piorar o desempenho zootécnico (DANFORTH, 1998), portanto, novas alternativas têm sido pesquisadas, como por exemplo, vacinas de subunidades, tecnologias baseadas em DNA e vacinas vivas recombinantes vetoriadas. Wallach et al. (1995) utilizaram um antígeno purificado de gametócito (APGA) de E. maxima para elaborar uma vacina inativada e estimular células B a produzirem altos títulos de imunoglobulinas para a proteção da progênie contra desafios homólogos com E. maxima e heterólogos com E. acervulina e E. tenella. Os autores acreditavam que a proteção cruzada se deva a presença de epítopos conservados nas diferentes espécies, conforme demonstrado por meio de provas de Western Blot para E. maxima e E. tenella. Todavia, segundo Shirley et al. (2007) a proteção cruzada entre as espécies não tem sido coprovada em infecções naturais, tornando curioso o fato de que isso ocorra com a utilização do APGA. 36 Xu et al. (2008) utilizaram um método para imunização de frangos contra E. tenella a partir de um DNA quimérico, clonado para codificar os genes que expressam o antígeno TA4 de E. tenella e a citoquina interleucina - 2 (IL-2) de frangos. A partir de testes controlados foram encontrado os seguintes resultados: o grupo controle desafiado exibiu uma redução no ganho de peso (68,1%) quando comparado com o grupo controle não desafiado e, essa diferença foi estatisticamente significativa. Já, imunização com o DNA-TA4, DNATA4-IL-2 e DNA-IL-2, obtiveram 90,4%; 97,3% e 93,7% de ganho de peso relativo (em comparação com o grupo controle não desafiado), respectivamente. Frangos imunizados com DNA-TA4-IL-2 obtiveram um ganho de peso maior e, houve diferença estatisticamente significativa com os tratamentos DNA-TA4 e DNA-IL-2. A imunização com o DNA-TA4-IL-2 resultou em uma maior queda na taxa de excreção de oocistos (75,1%) quando comparado com o grupo controle desafiado e, com os outros dois grupos (DNA-TA4 = 68,7% e DNA-IL2 = 66%). Também, foi observada uma diminuição no escore de lesão em aves imunizadas (DNA-TA4 = 0,6; DNA-TA4-IL-2 = 0,4 e DNAIL-2 = 1,6), quando comparado com o controle não imunizado e desafiado (3,5) e, essa diferença foi estatisticamente significativa. Em frangos imunizados com DNA-TA4-IL-2, também houve uma diferença estatisticamente significativa no escore de lesões, quando comparado com os outros grupos vacinados. O Índice Anticoccidial encontrado para cada grupo foi: DNA-TA4 = 183, DNA-TA4-IL-2 = 192, DNA-IL-2 = 176, grupo controle não imunizado e não desafiado = 200 e grupo controle não imunizado e desafiado = 123. Konjufca et al. (2006) utilizaram a Salmonella enterica Sorovar Typhimurium para expressar e entregar antígenos específicos de merozoítos (EAMZ250) e esporozoítos (EASZ240) de E. acervulina, no citoplasma da célula hospedeira pelo type 3 secretion system – T3SS (sistema bacteriano de secreção tipo 3). Para o experimento de desafio, grupos de aves foram imunizados com o Vetor Recombinante de Salmonella Atenuada (VRSA) expressando cada um dos antígenos e ambos, após, foram desafiados com E. acervulina e, comparados com grupos controles não imunizados, desafiado e não desafiado. O menor ganho de peso (129g) e maior escore de lesão (2,1) foram observados para o controle não imunizado e desafiado com E. acervulina. O ganho de peso para o grupo controle desafiado foi próximo a 80% do obtido pelo grupo controle não desafiado (157g). Frangos imunizados com o VRSA expressando o antígeno de esporozoíto EASZ240 exibiram um baixo escore de lesão (1,4), contudo, o ganho de peso (135g) foi 37 deprimido como ocorreu no grupo controle desafiado. Já, os frangos imunizados com o VRSA expressando o antígeno de merozoíto EAMZ250 obtiveram um aumento no ganho de peso (147g) e menor escore de lesão (1,5) quando comparado com o controle não imunizado e desafiado, sendo que, houve diferença estatisticamente significativa entre esses grupos, porém, para o ganho de peso entre o grupo imunizado com o EAMZ250 e desafiado e, o não imunizado não desafiado, não houve diferença estatisticamente significativa. A coadministração dos VRSA expressando ambos os antígenos, não promoveu nenhum efeito aditivo em relação ao VRSA expressando somente o EAMZ250. Konjufca et al. (2008) em outro estudo utilizaram o T3SS e o T2SS da S. enterica Sorovar Typhimurium para expressar e entregar os antígenos SO7 de E. tenella e EAMZ250 de E. acervulina. O menor ganho de peso foi observado em um grupo controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos, e desafiados com E. acervulina (127g) ou E. tenella (92g). Os frangos imunizados com o VRSA expressando os antígenos EAMZ250 e SO7 via T3SS e, desafiados com E. acervulina, obtiveram um maior ganho de peso (140g) que o controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos e desafiado com E. acervulina, sendo que, houve uma diferença estatisticamente significativa entre estes grupos. Também, o ganho de peso para o VRSA expressando ambos os antígenos foi maior que nos outros grupos imunizados com VRSA expressando apenas um dos antígenos e, similar ao ganho de peso (141g) do controle não desafiado, indicando que houve uma proteção significativa contra desafios. Segundo os autores esses resultados sugerem que a indução de resposta imune mediada por células a múltiplos antígenos (EAMZ250 e SO7) conduziu a uma proteção superior contra E. acervulina. Em um segundo estudo de desafio para verificar a proteção contra E. tenella, todos os grupos foram imunizados com o VRSA expressando o antígeno SO7. Os animais imunizados e desafiados com E. tenella obtiveram um maior ganho de peso que o controle imunizado com o VRSA não expressando antígenos e desafiado e, verificou-se uma diferença estatisticamente significativa. Segundo os autores a imunização com o VRSA que entregou o antígeno SO7 via o T2SS pareceu conferir uma maior proteção, pois esse grupo obteve o maior ganho de peso (124g) e, não houve diferença estatisticamente significativa com a taxa de conversão alimentar desse grupo com o grupo controle e não desafiado. Yang et al. (2008) utilizaram um Pox Vírus Aviário recombinante para expressão do gene rombóide (rPVA-rombóide). As proteases rombóides têm papel na clivagem do micronema durante a 38 invasão da célula hospedeira. A organela conhecida como micronema é responsável pela adesão e reconhecimento da célula hospedeira (KAWAZOE, 2000). Aplicado por via subcutânea, o Pox vírus recombinante, induziu uma resposta imune humoral e estimulou a proliferação de linfócitos no sangue periférico. Foi elaborado um experimento para testar diferentes diluições do rPVA-rombóide, conforme segue: G1 (102 PFU), G2 (104 PFU) e G3 (106 PFU). Duas semanas depois, as aves foram desafiadas com E. tenella e, foi observada uma diminuição do número de oocistos excretados pelos frangos imunizados com o rPVA-rombóide, G1 (6,12x107), G2 (5,94x107) e G3 (5,91x107), quando comparada com o grupo controle não imunizado e desafiado (10,13x107), essa diferença foi estatisticamente significativa. No grupo controle foi observado um escore médio de lesão de 3,9, enquanto que nos grupos G1, G2 e G3 os escores médios de lesão foram de 1,73, 1,49 e 1,40, respectivamente, sendo que, entre os dois últimos não houve diferença estatisticamente significativa. O ganho de peso dos grupos vacinados (G1 = 65g, 2 = 68,3g e 3 = 68,9g) foi significativamente maior que o controle (50g). Os autores concluíram que as eficácias para as diferente diluições do rPVArombóide foram: G1 = 39,6%, G2 = 41,1% e 3 = 41,7%. McDonald e Shirley (2009) citaram que uma das dificuldades para o desenvolvimento dessas vacinas está em identificar antígenos protetores e diferenciá-los de moléculas apenas imunogênicas e, que estudos têm demonstrado que somente a inclusão de antígenos referentes a cada uma das sete espécies de Eimeria talvez não seja suficiente, pois, verificou-se a existência de uma variação na composição antigênica do primeiro e segundo estágios de merogonias em E. tenella. Lillehoj (2005) citou que outro desafio reside em como veicular esses antígenos de forma a mimetizar os estímulos causados pelo parasito, durante o seu ciclo no hospedeiro. Shirley et al. (2007) citaram que a elaboração de uma vacina que não necessite da passagem do parasito vivo pelo hospedeiro, ainda está longe de se tornar uma realidade. 2.4 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES 2.4.1 Método de diagnóstico morfo-clínico As infecções coccidianas geralmente são causadas por mais de uma espécie do gênero Eimeria (MCDOUGALD, 1986; WILLIAMS et al., 1996; MORRIS et al., 2007). O local e as características 39 macroscópicas das lesões muitas vezes fornecem um indicativo da espécie envolvida (LONG e JOYNER, 1984). As sobreposições de características para a identificação das espécies, muitas vezes inviabiliza a sua utilização de forma isolada (KUČERA, 1990). Assim, o diagnóstico morfo-clínico torna-se laborioso, demorado e oneroso, pois exige o uso de animais para experimentação (CONWAY; MCKENZIE, 2007; LONG; REID, 1982) e de técnicos que possuam ampla experiência para que se evitem os erros de diagnóstico (LONG; JOYNER 1984). Segundo Long e Joyner (1984) a crença de que o ciclo de vida das espécies de Eimeria seguia um padrão quase imutável foi abandonada após vários estudos provarem que características como a morfologia, localização e tempo para a geração dos esquizontes podem ser modificados pela seleção de populações de Eimeria spp. Long (1972) descreveu uma variação nos estágios endógenos de desenvolvimento quando comparou uma amostra de E. tenella adaptada para passagem em embriões de pinto, que difere da E. tenella não adaptada, por possuir esquizontes de segunda geração aproximadamente um quinto menor. Este fato restringe seu desenvolvimento no epitélio, não mais alcançando a lâmina própria do ceco, que é característico dessa espécie. Utilizando a morfologia e o tamanho dos oocistos (Figura 3) algumas vezes pode-se chegar à identificação da E. maxima, que produz os maiores oocistos, de parede irregular e com uma coloração castanha característica que difere das demais espécies de Eimeria que parasitam galinhas (JOYNER; LONG, 1974). Schnitzler e Shirley (1999) relataram que os oocistos de E. brunetti possuem uma faixa de tamanho próximo da E. maxima e podem ser confundidos. Para todas as outras espécies a identificação utilizando somente a morfologia e tamanho dos oocistos é ainda mais complexa (LONG; JOYNER, 1984; LONG; REID, 1982; SUN et al., 2009). Outro parâmetro complementar utilizado para auxiliar no diagnóstico é o período pré-patente que difere entre as espécies. Porém, Long e Joyner (1984) citaram que essa característica não pode ser considerada como uma constante, pois, há variações dentro das espécies (LONG; JOYNER, 1984). A seleção de cepas de Eimeria spp. pela precocidade altera essa medida (KAWAZOE et al., 2005; MCDONALD et al., 1986; SHIRLEY et. al., 1984). É utilizada para escolha de cepas mais seguras para a inclusão em vacinas, que podem diminuir o valor desse parâmetro para o diagnóstico. 40 Segundo Long e Reid (1982), o tempo de esporulação pode ser utilizado como um parâmetro para auxiliar na identificação das espécies de Eimeria. Os oocistos devem ser suspendidos em solução de dicromato de K+ a 2%, com constante aeração e em temperatura de 30° C. Long e Joyner (1984) citaram que a esporulação deve ser conduzida em condições controladas para que esta medida tenha validade sistemática, pois, a variação temporal para a esporulação parece ter uma grande dependência da temperatura. A verificação da esporulação pode ser feita de forma empírica (com a infecção de aves susceptíveis e a observação da excreção ou não de oocistos) ou por microscopia para a visualização das alterações morfológicas dos oocistos. Figura 3 – Oocistos de E. maxima (a), E. brunetti (b), E. tenella (c), E. necatrix (d), E. praecox (e), E. acervulina (f) e E. mitis (g). Fonte: Castañón et al. (2007). Dentre todas as características biológicas e morfológicas utilizadas na identificação das espécies de Eimeria, os testes de especificidade imunológica parecem ser os mais confiáveis (JOYNER; LONG, 1974). Entretanto, a ocorrência de amostras antigenicamente diferentes dentro de uma mesma espécie (MARTIN et al., 1997; SCHNITZLER e SHIRLEY, 1999) pode requerer a utilização de outros parâmetros associados tais como morfologia e tamanho dos oocistos, período pré-patente, tempo mínimo de esporulação, características e 41 localização das lesões, para que seja possível a diferenciação entre espécies. Este é um método demorado, que para ser executado necessita da manutenção de cepas puras das sete espécies de Eimeria e do uso de animais. Embora muitos autores reconheçam que a identificação por meio das características morfo-clínicas é um método demorado e pode falhar na identificação das espécies de Eimeria, principalmente, quando algumas características são utilizadas isoladamente, estudos ainda são desenvolvidos com base nessa metodologia (AL-GAWARD et al., 2012; AWAIS et al., 2011; CARDOZO e YAMAMURA, 2006; JADHAV et al., 2012; LUCHESE et al., 2007; SANTOS et al., 2003; TERRA et al., 2001; TOLEDO et al., 2011). Uma identificação rápida e precisa das espécies de Eimeria é requerida para várias finalidades. Em estudos epidemiológicos, é importante seguir um agente infeccioso ao longo do tempo e espaço, a fim de saber como ele pode se espalhar. Para o desenvolvimento de vacinas, é imperativo trabalhar com linhagens puras e evitar inadvertidas contaminações cruzadas. Os métodos convencionais de identificação requerem pessoal altamente treinado uma vez que as diferenças na morfologia dos oocistos são pequenas e não são facilmente visíveis. (STUCKI et al., 1993). 2.4.2 Diagnósticos bioquímicos e moleculares 2.4.2.1 Eletroforese de isoenzimas Essa prova consiste em um método de tipificação de enzimas e tem auxiliado na identificação de espécies e diferentes cepas de parasitos, devido às características de variação eletroforética na mobilidade de algumas isoenzimas (KUČERA, 1989). Shirley (1975) foi quem primeiro padronizou e empregou a eletroforese de isoenzimas em gel de amido para a identificação das espécies de Eimeria de galinha. Utilizou para essa prova as enzimas lactate dehydrogenase – LDH (lactato dehidrogenase); glucose phosphate isomerase – GPI (glicose fosfato isomerase); 6-phophogluconate dehydrogenase – 6PGD 42 (6-fosfogluconato dehidrogenase); e glucose-6-phosphate dehydrogenase – G6PD (glicose-6-fosfato dehidrogenase). Segundo Kučera (1989) a LDH e a GPI são as enzimas mais adequadas para esse propósito. Entretanto, Shirley (1975) verificou que ocorreu um padrão de migração idêntico da enzima LDH entre as espécies E. acervulina e E. tenella. Kučera (1990) utilizou a eletroforese de isoenzimas para complementar o diagnóstico pelas características morfo-clínicas em um trabalho de identificação de espécies de Eimeira na Tchecoslováquia, e concluiu que a utilização de ambos os métodos isoladamente não é conclusivo. Tebo et al. (1998) e Willians et al. (1996) também empregaram essa prova juntamente com as características morfoclínicas para o diagnóstico das espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus em estudos epidemiológicos executados na Suécia e França, respectivamente. Todavia, essa técnica demanda grande quantidade de oocistos, pois em alguns casos é incapaz de detectar espécies que estejam em um número inferior a 20%, entre às presentes na amostra. Para contornar esse problema, em alguns casos faz-se necessário à propagação dos oocistos da amostra em aves, o que torna o teste mais caro, demorado e trabalhoso (KUČERA, 1990; FERNANDEZ et al., 2003a). Tebo et al. (1998) em seus estudos de identificação das espécies de Eimeria em aves da espécie G. gallus domesticus, utilizaram uma camada fina de poliacrilamida ao invés de amido ou agarose e com isso aumentou a sensibilidade da prova, sem a necessidade de uma prévia propagação da amostra em aves. 2.4.2.2 Detecção de “Restriction Fragment Polymorphism” (RFLP) por hibridização Southern blot Length A Southern Blot é uma técnica mais sensível para a análise intraespecífica que a de isoenzimas, porém, também demanda grande número de oocistos (FERNANDEZ et al., 2003a). A técnica consiste na utilização de enzimas de restrição para a digestão do DNA, separação dos fragmentos por meio de eletroforese em gel de agarose e a transferência desses para uma membrana, resultando em uma réplica dos fragmentos de DNA do gel na membrana. Em seguida aplica-se uma sonda marcada, geralmente derivada do mesmo DNA genômico, para hibridizar com as sequencias específicas, possibilitando a visualização do padrão (tamanho e disposição) e espaçamento entre os fragmentos (SHIRLEY, 1994). Essa técnica permite uma melhor visualização, pois, 43 no gel pode ocorrer uma grande quantidade de sinais de hibridização inespecífica que pode mascarar as específicas (BROWN, 2003). É uma técnica que fornece uma quantidade menor de informações, é mais trabalhosa e demorada, quando comparada com RAPD e AFLP (MUELLER; WOLFENBARGER, 1999). Shirley (1994) utilizou a transferência de Southern para RFLP com quatro sondas de DNA que repetem várias vezes no genoma de E. tenella para diferenciar oito amostras de E. tenella, três das quatro sondas hibridizaram apenas com o DNA de E. tenella enquanto uma sonda também hibridizou com o DNA de E. praecox e E. acervulina. No entanto, a detecção de RFLP por hibridização Southern Blot é trabalhosa, requer marcadores de DNA específicos e é relativamente dispendiosa (PROCUNIER, et al., 1993). 2.4.2.3 “Random Amplification of Polymorphic DNA” (RAPD) A RAPD, ao contrário da PCR, é uma ferramenta que pode ser utilizada para a identificação das espécies sem a necessidade do conhecimento prévio da sequência da região a ser amplificada. Para essa técnica são empregados iniciadores arbitrários sob condições de baixa estringência, ou seja, pequenos oligonucleotídeos utilizados como “primers” são colocados para hibridizar a uma baixa temperatura, isso permite menores incompatibilidades de ligação. Após, são feitas comparações dos tamanhos das bandas geradas para a análise de marcadores que possam ser usados para a diferenciação entre as espécies (FERNANDEZ et al., 2003b; MACPHERSON; GAJADHAR, 1993; PROCUNIER et al., 1993). Possui como inconvenientes baixa reprodutibilidade e a possibilidade de ocorrerem sobreposições de bandas, o que diminui sua exatidão para diagnósticos de amostras de campo, que geralmente são compostos por mais de uma espécie (FERNANDEZ et al., 2003b). Essa técnica tem sido empregada para a diferenciação entre espécies de Eimeria e entre cepas de uma mesma espécie que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus. Procunier et al., (1993) perceberam que as diferenças encontradas entre as espécies eram maiores que as observadas entre cepas de uma mesma espécie, também, observaram uma maior relação entre as amostras de E. tenella (98%) que de E. acervulina (61%). A mesma abordagem foi utilizada para a diferenciação de sete espécies de Eimeria, dentre estas, uma de aves e seis de mamíferos (MACPHERSON; GAJADHAR, 1993). Johnston e Fernando, (1995) utilizando a técnica de RAPD e comparando dois métodos para a visualização dos resultados, a Denaturing gradient-gel electrophoresis – DGGE (eletroforese em gel 44 com gradiente de desnaturação) e Polyacrylamide gel electrophoresis – PAGE (eletroforese em gel de poliacrilamida) não só confirmaram a maior proximidade de cepas de E. tenella quando comparadas com E. acervulina como também perceberam uma melhor resolução dos fragmentos quando utilizada a DGGE. A técnica de RAPD pode ser empregada para pesquisar marcadores moleculares conhecidos como SCAR, utilizados na identificação das espécies de Eimeria de galinhas, por meio da PCR (FERNANDEZ et al., 2003b; 2004). A partir dos SCAR são desenhados “primers” específicos, mais longos que os utilizados na RAPD, que são utilizados em condições mais rigorosas (alta temperatura de hibridação), tornando a PCR com esses “primers” mais confiáveis que a técnica de RAPD para o diagnóstico. Fernandez et al., (2004) identificaram 84 SCAR espécie-específicos e 67 com especificidade parcial para as espécies de Eimeria de galinhas. 2.4.2.4 “Amplified Fragment Length Polymorphysm” (AFLP) A técnica de AFLP, a exemplo da RAPD e da RFLP, também, pode ser utilizada para a identificação de marcadores moleculares. Para a elaboração dessa técnica, primeiramente são utilizadas enzimas de restrição que fazem a digestão do DNA em locais específicos, de acordo com a enzima utilizada, em seguida faz-se a ligação de adaptadores nas extremidades dos fragmentos resultantes dessa digestão enzimática, e a execução de uma AFLP-PCR com a utilização de “primers” específicos que se ligam às sequências dos adaptadores. Dessa forma são amplificados os fragmentos resultantes da digestão com as enzimas de restrição, e finalmente o material amplificado é visualizado em um gel de eletroforese (MUELLER; WOLFENBARGER, 1999). É uma técnica que, diferentemente da RAPD, é altamente replicável, pois, “primers” específicos são utilizados na reação da AFLP-PCR sob alta temperatura de hibridização, e possibilita uma melhor visualização, pois, a produção de artefatos é muito menor que na RAPD. Shirley e Harvey (2000), com o objetivo de investigar as bases genéticas da abreviação do ciclo de cepas precoces de Eimeria spp., cruzaram uma linhagem de E. tenella de menor período pré-patente com outra resistente ao anticoccidiano arprinocida. Nesse estudo, foram empregadas três abordagens para a identificação de marcadores de DNA, hibridização de RFLP por Southern Blot, RAPD-PCR e AFLPs. A técnica de AFLP gerou um número maior de informações, mais de 8.600 fragmentos foram amplificados, sendo que destes, 379 eram polimórficos. No mapa gerado foram identificados “loci” genéticos implicados na regulação do ciclo de 45 vida desse parasito no cromossomo 2 e “loci” para resistência à arprinocida no cromossomo 1. Uma limitação é que a AFLP requer DNA de alta qualidade, portanto, a dificuldade para reproduzir um grande número de parasitos recombinantes e a subsequente coleta do DNA genômico a partir de esporozoítos purificados torna-se um entrave para a execução da técnica. 2.4.2.5 “Polymerase Chain Reaction” (PCR) A reação em cadeia da polimerase (PCR) consiste em uma amplificação seletiva de uma região da molécula de DNA que é selecionada por meio, da utilização de dois pequenos oligonucleotídeos (primers) que são desenhados para hibridizar com as extremidades de uma sequencia alvo (um para cada uma das fitas de DNA). Para isso é necessário o conhecimento das sequencias das extremidades (BROWN, 2003). Na maioria das vezes a amplificação é realizada por uma enzima termoestável, a Taq DNA-polimerase, purificada da bactéria termófila, Thermus aquaticus (Taq), que pode sobreviver à incubação prolongada a 95°C (SAIKI et al., 1988). Essa enzima promove a polimerização de novas fitas de DNA no sentido 5’-3’, durante a fase de extensão. Prichard (1997) citou que a reação em cadeia da polimerase é uma ferramenta que possui alta sensibilidade e especificidade, torna possível que um fragmento específico de uma pequena quantidade de DNA seja multiplicado seletivamente em milhares de cópias, podendo dessa forma se determinar, por exemplo, a identidade de um parasito a partir de menos que 1 ng de DNA. Segundo Saiki (1988) o alvo específico multiplica-se em uma razão de 2n, onde n é o número de ciclos de hibridização e extensão. Stucki et al. (1993) com o objetivo de obter um marcador para a identificação de E. tenella, clonaram uma cópia do gene codificador da unidade 5S do RNA ribossômico dessa espécie e encontram uma região codificadora de 120 nucleotídeos e uma intergênica de 608 nucleotídeos. Nessa última existem muitas repetições contíguas de sequencias que são dispersas através do genoma (ex. o trinucleotídeo CAG e seu complemento CTG). Essas repetições fornecem algumas vantagens em um diagnóstico baseado em DNA, por exemplo, por estarem presentes em um grande número de cópias, melhoram a sensibilidade da prova, e a menor conservação das regiões do espaço entre os genes ribossômicos permite a discriminação entre as espécies. Depois de identificada a região alvo, um conjunto de “primers” foi desenhado e testado em uma PCR usando DNA genômico purificado de seis espécies de Eimeria, 46 incluindo quatro espécies de aves e duas de mamíferos, apenas um produto de 560 pb que corresponde a E. tenella foi amplificado. 2.4.2.5.1 PCR utilizando o primeiro e o segundo “Internal Transcribed Spacer” (ITS) do DNA ribossômico Schnitzler et al. (1998, 1999) sequenciaram o ITS-1 do DNA ribossômico (rDNA) e perceberam que a sua heterogeneidade no comprimento e nas sequências de bases entre as espécies poderiam conceber marcadores para o desenho de “primers” espécie-específicos, para a utilização em uma PCR, para a identificação das sete espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus. Nesse estudo encontraram dois padrões de bandas para E. maxima, uma superior de 630 pb e outra inferior de 505 pb, e segundo os autores, estudos futuros poderão determinar sua aplicabilidade na identificação de cepas dessa espécie. Lew et al. (2003) utilizaram o ITS-1 como gerador de alvos para PCR em um estudo para confirmar a presença de sete espécies de Eimeria de galinhas na Austrália e analisar as relações evolutivas de isolados australianos. Para isso, vinte e duas regiões distintas do ITS-1 de 15 isolados australianos de Eimeria de frangos foram sequenciadas e analisadas. Evidenciaram a presença de duas regiões ITS-1, uma curta e uma longa, que podem coexistir em uma cepa, como demonstrado em um clone de E. tenella. Para a PCR foram empregados marcadores ITS1 previamente publicados para as espécies de E. acervulina, E. tenella, E. necatrix e E. brunetti, combinados com novos marcadores elaborados para esse estudo (E. mitis, E. praecox e E. maxima australiana). O conjunto de “primers” designado para amplificar uma cepa americana de E. maxima não amplificou a cepa australiana da mesma espécie. Segundo os autores isso se deve pelo fato de que os dois tipos de ITS-1 não coexistem na amostra australiana. Isso reforça a ideia de que os ensaios de PCR utilizando ITS-1 devem ser avaliados em amostras de origens geográficas diferentes, para garantir que eles possam ser usados a nível mundial (HAUG et al., 2007). Lew et al. (2003) encontraram dois clones diferentes de E. mitis provenientes do isolado “A”, portanto, dois conjuntos de “primers” foram desenhados (AMit1 e AMit5) para a identificação dos três isolados australianos estudados dessa espécies, porém, enquanto a PCR empregando o conjunto AMit1 (328 pb) foi capaz de identificar todas as amostras. O mesmo não aconteceu com a PCR utilizando o par de iniciadores AMit5 (193 pb). Apesar da variação 47 inter e intraespecífica da região ITS-1, as sete espécies de Eimeria que parasitam galinhas foram identificadas na Austrália. Su et al. (2003) avaliaram a PCR baseada em marcadores ITS-1 para a identificação das espécies de Eimeria contidas em duas vacinas comerciais e uma cepa de E. tenella originária de Taiwan. Empregaram para a PCR um conjunto de cinco “primers” previamente desenhados (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. necatrix e E. brunetti,). Todos os conjuntos de “primers” amplificaram e não houve nenhuma amplificação inespecífica. Estudos de prevalência e levantamentos de espécies de Eimeria têm sido executados por meio da PCR utilizando como alvo marcadores situados no ITS-1. Com o objetivo de verificar a presença de E. mitis e E. praecox, espécies de Eimeria até então pouco relatadas no Brasil, Meireles et al. (2004) submeteram à PCR (ITS-1) 156 amostras procedentes de sete estados produtores mais o Distrito Federal. E. praecox estava presente em todos os estados amostrados, enquanto a E. mitis não foi encontrada apenas nos Estados de Goiás e Minas Gerais. Em um estudo para identificação de Eimeria spp. em instalações industriais de criação de frangos de corte, em Concórdia, Santa Catarina, foi empregado a PCR (ITS-1) para a detecção de E. acervulina, E. maxima, E. tenella e E. mitis. Sendo E. mitis a única espécie não encontrada (PRADO, 2005). Haug et al. (2008) empregaram a análise morfométrica de oocistos e a PCR para um estudo epidemiológico das espécies de Eimeria que parasitam frangos na Noruega. Verificaram que cinco espécies de Eimeria estavam presentes nas criações de frango (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. praecox e E. necatrix) e que a concordância da morfometria com a PCR na identificação das espécies foi de apenas 49%. Aarthi et al. (2010) estudaram a prevalência molecular da coccidiose em frangos na Índia. Os marcadores utilizados foram desenhados a partir de alvos no ITS-1 e a amostragem foi feita de porções de tecidos de vários locais do intestino de aves que apresentavam sinais clínicos. Utilizaram nested PCR, com um conjunto de “primers” para a detecção do gênero Eimeria. O produto dessa reação foi clonado e o DNA extraído do plasmídeo foi submetido a sete reações da PCR para identificação das espécies que acometem frangos. Todas as sete espécies estavam presentes, geralmente em infecções múltiplas. Na Coréia, Lee et al. (2010), conduziram um estudo epidemiológico das espécies de Eimeria que parasitam frangos. Com esse propósito foram coletadas amostras em 356 granjas, a identificação 48 das espécies foi realizada por meio da PCR (ITS-1). Todas as sete espécies que parasitam galinhas foram identificadas e geralmente as infecções eram ocasionadas por mais de uma espécie concomitantemente. Com o objetivo de estudar o emprego do segundo espaçador transcrito interno do DNA ribossômico (ITS-2) na diferenciação específica e intraespécie de amostras australianas de E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. praecox, E. brunetti e E. necatrix, Woods et al. (2000) utilizaram a técnica de PCR-RFLP. Primeiro amplificaram o ITS-2 por meio da PCR, esses amplicons foram digeridos com endonucleases de restrição e então submetidos a desnaturação em uma eletroforese em gel para a análise do polimorfismo no comprimento dos fragmentos produzidos. Encontraram variação consistente de tamanho e número de bandas entre as espécies, demonstrando que o ITS-2 pode servir de alvo para o desenvolvimento de marcadores para a identificação das espécies de Eimeria de frangos. Gasser et al. (2001) utilizaram como alvo para a identificação das sete espécies de Eimeria que parasitam galinhas, um único conjunto de iniciadores, “primer WW2 – forward”, marcado com 6-fluoresceina (para o gênero Eimeria) e “primer WW4r – reverse” (para família Eimeriidae), desenhados a partir da região ITS-2. Os produtos da amplificação foram termicamente desnaturados e, submetido à eletroforese em gel de poliacrilamida desnaturante, em um sequenciador ABI Prism 377®. Os cromatogramas produzidos foram analisados, por meio de um software. Para a padronização da técnica foram utilizadas amostras de DNA de linhas monoespecíficas, das sete espécies de Eimeria e, assim, definidas as regiões de cromatogramas para a identificação espécie-específica. Os autores observaram uma variação nos cromatogramas relacionada a diferentes cepas, em duas espécies. Esta técnica, também foi utilizada por Gasser et al. (2005), que submeteram amplicons termicamente desnaturados a uma eletroforese em capilar, acoplada em um sequenciador MegaBACE 1000®. Segundo os autores, a eletroforese em capilar elimina a necessidade de géis, possibilitando uma maior agilidade e menor mão de obra para a identificação das sete espécies de Eimeria que parasitam frangos. Lien et al. (2007) empregaram marcadores da região ITS-2 (primer WW2 - frente e primer WW4r - reverso) para identificar e caracterizar nove cepas representando três espécies de Eimeria (E. acervulina, E. maxima e E. tenella), isoladas a partir de surtos em Taiwan. O produto da PCR foi clonado e sequenciado e, na análise 49 filogenética, encontraram a menor homologia entre as duas cepas de E. maxima (96.8-98.3%). 2.4.2.6 “Real-time PCR” A PCR em tempo real possui o mesmo princípio da PCR convencional para a amplificação do DNA, porém, associado a mecanismos de detecção e quantificação por fluorescência. Isso permite que os processos de amplificação, detecção e quantificação de DNA sejam realizados em uma única etapa. O método mede a acumulação do produto da PCR por meio de uma sonda fluorescente duplamente marcada. As sondas utilizam corantes fluorescentes, sendo que uma das sondas funciona como um emissor (contendo por ex.: 6carboxifluorceína) e a outra como um inibidor da fluorescência da primeira (ex.: 6-carboxi-tetrametilrodamina). À medida que as sondas são clivadas pela atividade 5’ nuclease da Taq DNA polimerase durante a fase de extensão, a sonda inibidora não consegue mais captar com eficiência a fluorescência da sonda emissora, e assim o pico de emissão da fluorescência é detectado pelo aparelho. A PCR em Tempo Real possui a capacidade de medir a quantidade inicial da sequência alvo de DNA, podendo-se estimar o grau de contaminação de uma amostra (HEID et al., 1996). É um teste capaz de identificar e quantificar as espécies de Eimeria de galinhas e que pode ter várias aplicações como, por exemplo, fornecer informações epidemiológicas importantes, investigações de surtos de coccidiose (espécie(s) causadora(s) e a quantidade de oocistos necessários para ocasionar o surto), a avaliação do risco de doença, o monitoramento da eficácia dos programas de vacinação e a minimização de custos da vacinação pela utilização de regimes de tratamento direcionados (MORGAN et al., 2009). No entanto, o custo do equipamento e das sondas restringe seu uso (MORRIS et al., 2006; VRBA et al., 2010). Blake et al. (2006) padronizaram a PCR em tempo real para a identificação e quantificação de E. maxima, utilizando como alvo para amplificação um fragmento de 185 pb de uma proteína do micronema (MIC1), também conhecida como sequência do antígeno principal homólogo de E. maxima (emp100) e, Blake et al. (2008) padronizaram a PCR em tempo real para outras três espécies (E. acervulina, E. tenella e E. necatrix), utilizando marcadores SCAR desenvolvidos por Fernandez et al. (2004). 50 Na Austrália, Morgan et al., (2009) empregaram como marcador genético o segundo espaçador transcrito interno do DNA nuclear ribossômico (ITS-2) para a identificação e quantificação de E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. necatrix, E. brunetti, E. mitis e E. praecox. Utilizando “primers” para o ITS-2 em uma PCR em tempo real, detectaram as cepas Australianas e de outras regiões do mundo, porém a sonda específica para E. praecox não detectou a estirpe “Houghton”, presente na vacina Paracox 8®, motivo pelo qual os autores recomendam que sejam feitos testes locais antes da aplicação dessa prova em outras regiões. Segundo Vrba et al. (2010) isto provavelmente ocorreu devido ao alto polimorfismo das regiões do espaçador transcrito interno do DNA nuclear ribossômico (ITS-1 e ITS2). Essas regiões estão presentes em múltiplas cópias no genoma que partilham muitas das mesmas sequências, mas possuem certo grau de variabilidade entre cepas e entre as espécies que pode interferir na identificação das espécies presentes em uma amostra. Kawahara et al. (2008) utilizaram a PCR em tempo real para o estudo de cinco espécies de Eimeria no Japão (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. necatrix e E. brunetti). Os “primers” foram desenhados para alvos da região ITS-1, com o objetivo de aumentar a sensibilidade do teste por se tratar de uma região multicópias, porém, segundo os autores, é provável que o número de cópias dessa região seja diferente entre as espécies e/ou cepas. Portanto, mesmo obtendo uma correlação do número de oocistos com os resultados da PCR, a amplificação dessa região não é ideal para uma análise quantitativa. Com o objetivo de desenvolver um ensaio para a identificação e quantificação de espécies de Eimeria que parasitam galinhas, que possuísse validade global, Vrba et al. (2010), utilizaram a PCR em tempo real para identificar e quantificar as sete espécies de Eimeria que parasitam galinhas. Empregaram, para o ensaio, os marcadores utilizados por Blake et al. (2008) para E. maxima, E. necatrix e E. tenella e, validaram outros para E. acervulina, E. brunetti, E. praecox e E. mitis. Esses últimos foram concebidos utilizando a base de dados SCARdb de SCAR espécie-específica (FERNANDEZ et al., 2004). Os autores utilizaram marcadores definidos pela ausência de polimorfismo, com o objetivo de garantir uma correspondência exata dos iniciadores e das sondas durante a PCR, permitindo a identificação e quantificação com o máximo de precisão das espécies em uma amostra, independentemente das cepas presentes. Para isso os marcadores SCAR foram definidos com base no estudo de cepas de diferentes origens, sendo que, várias dessas foram sequenciadas em pelo menos um “lócus” 51 até que marcadores apropriados, não polimórficos, fossem identificados para todas as sete espécies (VRBA et al., 2010). 2.4.2.7 Pirosequenciamento Segundo Ronaghi (2001) o pirosequenciamento é uma técnica de sequenciamento do DNA que se baseia na detecção de pirofosfato inorgânico liberado (PFi) durante a síntese de DNA. Uma sequencia de reações enzimáticas é responsável pela geração de luz que é proporcional ao número de nucleotídeos incorporados. A cascata começa com uma reação de polimerização de ácido nucleico em que o PFi inorgânico é libertado como resultado da incorporação de nucleotídeos pela polimerase. O PFi liberado é posteriormente convertido em ATP pela ATP sulfurilase, que proporciona a energia para a luciferase oxidar a luciferina e gerar luz. O nucleotídeo acrescentado é conhecido, assim a sequência do molde pode ser determinada. Ao contrário de outros métodos de sequenciamento que utilizam nucleotídeos modificados para terminar a síntese de DNA, o método de pirosequenciamento manipula a DNA polimerase pela adição de um único dNTP em quantidades limitadas. Uma vez incorporado o dNTP complementar, a DNA polimerase estende o iniciador e para. A síntese do DNA é reiniciada após a adição do próximo dNTP complementar no ciclo de distribuição. Os dNTPs são liberados individualmente nos poços em uma ordem sequencial predeterminada e a bioluminescência é fotografada com um dispositivo de carga acoplada a uma câmara. A ordem e a intensidade dos picos de luz são registradas como fluxogramas, que revelam a sequencia de DNA (METZKER, 2010). Conforme Petrosino et al. (2009) uma limitação do pirosequenciamento é a sua incapacidade em de sequenciar longos trechos de DNA. Com primeira e segunda geração de pirosequenciadores químicos as leituras de sequencias raramente ultrapassavam 100-200 bases. Entretanto, atualmente existem equipamentos com capacidade de leitura superior a 350 bases. Seal et al. (2013) citaram que o pirosequenciamento foi utilizado como uma melhoria em relação a contagem manual de oocistos fecais para demonstrar a redução de E. maxima no sistema gastrointestinal de frangos de corte, após a alimentação com fitonutrientes. 2.4.2.8 “Multiplex PCR” 52 Fernandez et. al., (2003a), desenvolveram uma PCR múltipla para a identificação das sete espécies de Eimeria de galinhas em uma reação. Para isso, utilizaram marcadores SCAR, obtidos a partir da técnica de RAPD. A escolha dos marcadores foi feita de modo a permitir que os sete conjuntos de “primers” pudessem ser utilizados em uma PCR, com as mesmas condições de ciclo e com a geração de “amplicons” de tamanho específicos. O emprego desses “primers” foi padronizado, utilizando 33 cepas, no mínimo duas por continente, compreendendo as sete espécies de Eimeria isoladas de galinhas em várias regiões ao redor do mundo (América do Sul, América do Norte e Europa). Todas as cepas testadas foram detectadas, apresentaram bandas de amplificação do tamanho esperado e não foram relatadas reações cruzadas, demonstrando a aplicação universal desse ensaio. Gasser et al. (2001) desenvolveram uma PCR múltipla baseada no ITS-2 para a identificação das sete espécies de Eimeria de galinhas. Para esse teste, utilizam um único conjunto de marcadores gênero/família (primers WW2 / WW4r). Vrba et al. (2010) citaram que podem ocorrer variações intraespecíficas devido à característica polimórfica da região ITS-2. Segundo Fernandez et al. (2003a) a Multiplex PCR possui uma sensibilidade de detecção de 2-8 oocistos esporulados (1 a 5pg) e percebeu-se apenas uma pequena variação na sensibilidade para a detecção de E. acervulina (1pg) e E. maxima (5pg) quando da realização do teste com os sete conjuntos de “primers”. Para as demais espécies não ocorreram alterações na sensibilidade do teste. Com o propósito de avaliar a sensibilidade da técnica em condições semelhantes ao campo, os autores testaram a Multiplex PCR em diluições contendo E. acervulina, E. maxima e E. tenella, e encontraram que o limite de detecção foi de 50, 500 e 100 oocistos para cada uma das espécies, respectivamente. Apesar da maior dificuldade na padronização da Multiplex PCR, devido a complexa interação molecular que pode alterar a eficiência de ligação dos “primers”, a técnica diminui a mão de obra e o tempo de execução dos diagnósticos, visto que seriam necessários sete reações de uma PCR convencional para a comprovação da existência ou não das sete espécies de Eimeria que parasitam aves do gênero G. gallus domesticus. No Egito, Kutkat et al. (2009) empregaram a Multiplex PCR para identificação de protozoários do gênero Eimeria. Foram analisados 95 intestinos em 19 instalações avícolas no Egito. Dessas amostras, 66 foram positivas para Eimeria, e todas apresentaram infecções múltiplas, sendo que seis espécies (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. praecox, E. mitis e E. necatrix) estavam presentes em 50% das amostras 53 positivas, e quatro espécies (exceto E. mitis e E. tenella) no restante. A E. brunetti não foi encontrada. Carvalho et al. (2011) compararam o diagnóstico morfo-clínico com a Multiplex PCR para a identificação das sete espécies de Eimeria que parasitam galinhas, em 30 instalações avícolas em Feira de Santana, Bahia. O diagnóstico morfo-clínico, empregando apenas dois parâmetros (morfologia e tamanho de oocistos e o escore de lesões), forneceu resultados discrepantes daqueles obtidos pela técnica de Multiplex PCR. Por meio da técnica de Multiplex PCR todas as sete espécies de Eimeria de frangos foram encontradas em 13,7% das granjas, enquanto que utilizando a morfologia e medida dos oocistos, as sete espécies foram identificadas em 60% das propriedades. A Multiplex PCR foi sensível e específica e, utilizando essa técnica foram identificados oocistos de E maxima e E. praecox em 100% das granjas, E. mitis e E. necatrix (93,3%), E. acervulina (56,7%), E. tenella (76,7%) e, a E. brunetti (16,7%) foi a menos frequente. Porém, utilizando a morfologia e tamanho de oocistos, a E. brunetti foi identificada em 100% das granjas, esse mesmo percentual foi encontrado para E. tenella e E. praecox, já, a E. acervulina foi a menos frequente (63,3%). Com o escore de lesão, foram identificadas E. maxima em 46,7%, E. acervulina (30%), E. tenella (23,3%) e E. necatrix (10%), entretanto, E. mitis, E. praecox e E. brunetti não foram identificadas. Os autores concluíram que a morfologia e tamanho dos oocistos e, o escore de lesões, utilizados para a identificação, não foram eficientes, principalmente, o escore de lesão. Ogedengbe et al. (2011) empregaram a Multiplex PCR para a identificação das espécies de Eimeria que parasitam galinha em um estudo de prevalência no Canadá. Segundo os autores, para a pesquisa foram coletados 360 intestinos, procedentes de 36 granjas comerciais e 77 intestinos de aves caipiras. Foram recuperados oocistos somente em 20 amostras, provenientes de oito granjas comerciais. Todas as amostras de granjas comerciais foram processadas pela Multiplex PCR e, apenas nas amostras em que oocistos estavam presentes foram visualizados amplicons, correspondentes a E. acervulina, E. maxima e E. tenella. Rao et al. (2013) testaram a aplicabilidade da Multiplex PCR para a identificação molecular de espécies de Eimeria. Para isso, foram utilizados oocistos provenientes de onze amostras procedentes de várias regiões da Índia. Sendo que, os oocistos destas amostras foram previamente identificados, por outros autores, por meio de características morfológicas e o tamanho dos oocistos, sendo que nestas amostras foi relatada a presença das seguintes espécies de Eimeria por 54 amostra, 1 a 3 (E. maxima e E. tenella), 4 (E. maxima), 5 (E. acervulina e E. tenella), 6 (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. mitis e E. brunetti), 7 (E. tenella), 8 e 9 (E. maxima, E. tenella e E. brunetti), 10 (E. tenella, E. necatrix e E. brunetti), 11 (E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. mitis E. necatrix e E. brunetti). Porém, utilizando a Multiplex PCR em amostras com múltiplas espécies, os autores relataram que foi possível amplificar somente os amplicons correspondentes a E. tenella e E. mitis, já, para as amostras, com outras combinações de espécies não se obteve sucesso. Também, comentaram que pequenas quantidades de DNA, obtidas de espécies presentes em um pequeno número de oocistos nas amostras, podem ter sofrido interferência de outras espécies predominantes, que não permitiram a identificação das espécies correspondentes aos oocistos presentes em pequenas quantidades, conforme observado para E. brunetti, que em todos os casos não sofreu amplificação. Logo, concluíram que a padronização dessa técnica é muito difícil. Portanto, para a melhor adequação de um programa de controle das espécies de Eimeria em uma determinada região é fundamental o conhecimento das espécies circulantes e sua ocorrência, pois o grau de atividade dos anticoccidianos varia de acordo com a espécie de Eimeria e, principalmente, quando o objetivo for o controle da coccidiose por meio da vacinação, é fundamental a identificação das espécies, já que a imunidade contra Eimeria spp é espécie específica. Sendo assim, tornase óbvio a importância do desenvolvimento e aprimoramento de métodos de diagnóstico que tornem a identificação das espécies de Eimeria, rápida, fácil, precisa e menos onerosa. 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Contribuir com o conhecimento das espécies de Eimeria circulantes em frangos de corte no estado de Santa Catarina, utilizando o diagnóstico molecular. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar as espécies de Eimeria presentes em amostras de fezes de frangos de corte, provenientes da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina, por meio da técnica de PCR Multiplex. Verificar a ocorrência das espécies de parasitos do gênero Eimeria nas integrações avícolas da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO As amostras de fezes de frango de corte foram coletadas, em granjas, nos municípios que compreendem a mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (Figura 4), que possui uma área total de 8.084,5Km2. O clima, segundo a classificação de Koeppen, é do tipo Cfa – Subtropical (mesotérmico úmido com verão quente). Com médias anuais, de 19 a 20ºC de temperatura, 1.100 a 1.500mm de precipitação pluviométrica e, umidade relativa do ar de 80 a 82% (EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA/CENTRO DE SOCIOECONOMIA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, 2003b, c, d, e). Conforme dados da Associação de Produtores de Pintos de Corte (APINCO) (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2012) o alojamento de frangos de corte, em Santa Catarina, no mês de julho de 2012 foi de 84.440.519 de cabeças e, segundo o IBGE (2013) a mesorregião Sul do estado de Santa Catarina foi responsável por 12,33% do rebanho avícola catarinense em dezembro de 2011, sendo a segunda maior mesorregião produtora do Estado. Figura 4 – Divisão do estado de Santa Catarina em cinco mesorregiões 1 - Florianópolis 2 - Norte 3 - Oeste 4 - Serrana 5 - Sul 6 - Vale do Itajaí Fonte: Wikipédia (2013). 57 4.2 COLETA DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE Segundo a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina, estão cadastradas 673 propriedades para a criação de frangos de corte na mesorregião Sul do Estado (CIDASC, 2013). Para o cálculo do número de amostras foi considerada uma probabilidade de ocorrência de 50% de qualquer uma das sete Eimeria spp., conforme encontrado em outros estudos (CARVALHO et al., 2010; MORRIS et al., 2007) e, um intervalo de confiança de 95%, com erro de 5%. O n da amostra para uma população finita (673) foi obtido utilizando o programa estatístico OpenEpi® - versão 3(DEAN et al., 2013). Foram coletadas amostras de fezes de frangos de corte com idade entre 28 a 48 dias em 251 granjas, distribuídas em 21 municípios (Figura 5), no período de agosto de 2011 a fevereiro de 2012. As amostras foram estratificadas por faixas etárias dos frangos, em três intervalos, 28 a 34 dias, 35 a 41 dias e 42 a 48 dias. O número médio de aves por lote era de 20.202 e a densidade média de 12 frangos / m². Figura 5 – Locais de coleta de amostras de fezes de frangos de corte na mesorregião sul do Estado Municípios coletados Fonte: adaptado de Infoescola (2013). 58 Nos aviários de frangos de corte foram coletadas as amostras de fezes recém-eliminadas de vários pontos (pool de fezes), partindo em linha reta no lado esquerdo até o final do aviário e voltando pelo lado direito para completar a coleta. As fezes foram acondicionadas em frascos de 500mL, contendo 175mL de solução de dicromato de potássio a 2,5% e completado com o material colhido, até atingir o volume de 350mL. As amostras, devidamente identificadas e acondicionadas, foram encaminhadas ao Laboratório de Parasitologia e Doenças Parasitárias do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina para a purificação dos oocistos de Eimeria spp. 4.3 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE 4.3.1 Purificação e quantificação dos oocistos de Eimeria spp. As amostras foram homogeneizadas e filtradas, utilizando primeiro uma peneira com malha de nylon e depois um tecido de voil. O material resultante da filtragem foi colocado em tubos com capacidade para 125mL, centrifugado a 1.000g, por 5 minutos, o sobrenadante foi descartado, o sedimento suspenso em água destilada e homogeneizado. Esse processo foi repetido até a limpeza do sobrenadante (aproximadamente quatro vezes). Para a coleta dos oocistos o sedimento foi suspenso em solução 5,5M de NaCl (densidade de 1,209g/mL), homogeneizado e em seguida centrifugado a 200g, por 10 minutos, os oocistos foram removidos da superfície da solução com pipeta de Pasteur e transferidos para um tubo cônico de 50mL. A homogeneização, centrifugação e coleta dos oocistos foram repetidas quatro vezes. Em seguida, para retirar o NaCl da amostra, foi adicionada água destilada (1 parte de solução coletada para 9 partes de água), centrifugado a 1.000g por 5 minutos e o sobrenadante descartado. Adicionou-se ao sedimento resultante da etapa anterior, uma solução de dicromato de potássio a 2,5% até completar um volume final de 10mL. Os oocistos foram quantificados por meio de contagem em câmara de Neubauer em um microscópio óptico (aumento de 100x). Foram contados os oocistos em dez quadrados, sendo cinco de cada lado da câmara, e o número encontrado multiplicado por mil, obtendo-se a 59 quantidade de oocisto por mL da solução de estoque (COSTA; PAIVA, 2009). Os oocistos foram armazenados em tubos cônicos de 50mL e mantidos a uma temperatura de 5 a 7°C até as etapas de extração do DNA e da PCR, que foram executadas no Laboratório de Hemoparasitos e Vetores do CAV/UDESC. 4.3.1.2 Análise estatística das médias de oocistos recuperados das fezes de frangos de corte por intervalos de faixa etária As médias de oocistos recuperados das amostras de fezes de frangos de corte, estratificadas em três intervalos, 28 a 34 dias, 35 a 41 dias e 42 a 48 dias, foram submetidas à análise pelo teste de KruskalWallis ao nível de 5% de significância. As análises foram realizadas utilizando-se o programa Action 2.5® (Free Software Foundation, Inc.). 4.3.2 Limpeza dos oocistos Inicialmente foi adicionada água destilada a amostra e essa centrifugada a 2.000g, e o sobrenadante descartado. O processo foi repetido três vezes para a completa remoção do dicromato de K+, e as amostras estoque de 10mL, armazenadas em tubos cônicos (tipo falcon de 50mL) foram reduzidas a 3mL e divididas em dois microtubos de 2mL. Uma alíquota (1,5mL) foi utilizada para a extração, enquanto à outra foi adicionado 500µL de uma solução de dicromato de potássio a 10% e armazenada a uma temperatura de 5 a 7°C para ser utilizada em uma nova extração de DNA, caso necessário. Na alíquota utilizada para a extração do DNA, foi adicionado à amostra 150µL de uma solução de SDS (Dodecil Sulfato de Sódio) a 20% e homogeneizado por inversão. Para a retirada do SDS, as amostras foram centrifugadas a 2.500g por 5 minutos, o sobrenadante retirado com o auxílio de uma micropipeta de 1mL e adicionado ao sedimento água Milli-Q® até completar o volume final de 2mL. O conteúdo do tubo foi novamente homogeneizado por inversão e posteriormente submetido à centrifugação (2.500g/5 min.) e o sobrenadante retirado e descartado com auxílio de uma micropipeta de 1mL. O procedimento para a limpeza das amostras foi executado duas vezes, conforme descrito anteriormente, para cada amostra antes do processo de extração do DNA. 4.3.3 Purificação do DNA de oocistos de Eimeria spp. 60 4.3.3.1 Ruptura dos oocistos Para a ruptura dos oocistos o sedimento originado do procedimento de limpeza foi suspenso em 500µL de tampão de lise (10mM de Tris-HCl pH 8,0; 50mM de EDTA pH 8,0; 200mM de NaCl), adicionado 2,5µl de RNAse A (10µg/µL), 0,5g de esferas de vidro de 210 a 300µm de diâmetro (Sigma-Aldrich®) e o microtubo homogeneizado em um agitador tipo vórtex, na velocidade máxima, por 10 minutos. 4.3.3.2 Digestão com RNAse e Proteinase K Após a ruptura mecânica dos oocistos, o tubo foi colocado em um bloco seco a 37°C durante 15 minutos para a ação da RNAse e em seguida centrifugado a 10.000g por 5 minutos e o sobrenadante transferido para um microtubo de 1,5mL. Depois, foram adicionados 12,5µL de uma solução de SDS a 20%, 2,5µL de proteinase K (20µg/µL), o tubo foi homogeneizado e incubado a 50°C em um bloco seco por 30 minutos, para a ação da proteinase K. 4.3.3.3 Extração com fenol-clorofórmio Foi adicionado as amostras resultantes da etapa anterior, 500µL de fenol, homogeneizado e centrifugado a 3.500g durante 5 minutos, a proteína é desnaturada e desse modo o DNA foi separado, permanecendo na fase superior da solução, que foi retirada com auxílio de uma micropipeta de 1mL e depositado em outro microtubo de 1,5mL, contendo 250µL de fenol e 250µL de clorofórmio. Essa solução foi homogeneizada e centrifugada a 3.500g durante 5 minutos e a fase superior retirada e colocada em outro microtubo de 1,5ml contendo 460µL de clorofórmio. O conteúdo foi novamente homogeneizado e centrifugado a 3.500g durante 5 minutos e a fase superior da solução contendo o DNA foi retirada e colocada em outro microtubo de 1,5mL. 4.3.3.4 Precipitação e lavagem do DNA Para a precipitação do DNA, foram acrescentados, à solução originada da etapa anterior, 500µl de isopropanol (100%) gelado e 100µl de acetato de sódio 3M (pH 5,5), a solução foi homogeneizada e armazenada a -20°C “overnight”. No dia seguinte, centrifugou-se a amostra a 10.000g por 15 minutos a uma temperatura de 4°C, o 61 sobrenadante foi removido e descartado com auxílio de uma micropipeta de 1mL. Depois, adicionou-se ao microtubo 1mL de etanol (70%) gelado, a solução no tubo foi homogeneizada por inversão, e o tubo centrifugado a 10.000g, durante 5 minutos a 4°C, e o sobrenadante removido com uma micropipeta de 1mL. O microtubo foi colocado em um bloco seco a 50 °C por 15 minutos ou até o etanol evaporar totalmente e ao final, 40µL de água Milli-Q® estéril foi adicionada ao tubo contendo o DNA precipitado. A curva de DNA foi medida com auxílio do NanoDrop 2000® (Thermo Scientific) e a amostra estocada a -20°C para a posterior utilização na técnica da PCR. 4.3.4 Multiplex PCR Na figura 6 estão expressas as designações e sequências dos “primers” utilizados e o tamanho dos amplicons (marcadores SCAR) para cada uma das sete espécies de Eimeria de aves da espécie G. gallus domesticus. Figura 6 – “Primers Forward (F) e Reverse (R)”, utilizados na técnica de Multiplex PCR para a detecção de E. acervulina (ac), E. brunetti (br), E. tenella (tn), E. mitis (mt), E. praecox (pr), E. maxima (mx), E. necatrix (nc) e o tamanho dos amplicons (TA) gerados. Designação ac-A03-F ac-A03-R br-J18-F br-J18-R tn-K04-F tn-K04-R mt-A03-F mt-A03-R pr-A03-F pr-A03-R mx-A09-F mx-A09-R nc-A18-F nc-ENec-R Sequências dos Primers AGT CAG CCA CAC AAT AAT GGC AAA CAT G AGT CAG CCA CAG CGA AAG ACG TAT GTG TGG TCG CAG AAC CTA CAG GGC TGT TGG TCG CAG ACG TAT ATT AGG GGT CTG CCG CCC AAA CCA GGT GTC ACG CCG CCC AAA CAT GCA AGA TGG C AGT CAG CCA CCA GTA GAG CCA ATA TTT AGT CAG CCA CAA ACA AAT TCA AAC TCT AC AGT CAG CCA CCA CCA AAT AGA ACC TTG G GCC TGC TTA CTA CAA ACT TGC AAG CCC T GGG TAA CGC CAA CTG CCG GGT ATG AGC AAA CCG TAA AGG CCG AAG TCC TAG A TTC ATT TCG CTT AAC AAT ATT TGG CCT CA ACA ACG CCT CAT AAC CCC AAG AAA TTT TG Fonte: adaptado de Fernandez et al. (2003a). TA 811pb 626pb 539pb 460pb 354pb 272pb 200pb 62 A reação em cadeia da polimerase múltipla (Multiplex PCR) foi desenvolvida em 35µL e utilizaram-se os seguintes reagentes: 200µM de cada dNTP; 2,4mM de MgCl 2; 5U de Taq DNA polimerase e 5,6µL do tampão (10x NH4 Buffer). Os sete conjuntos de “primers” foram utilizados em diferentes concentrações, conforme segue: 0,85µM para os pares de primers Ac-A03-F e R e Br-J18-F e R; 0,70µM para os pares Pr-A03-F e R e Nc-A18-F e Nc-ENec-R; e 0,55µM para os pares MxA09-F e R, Tn-K04-F e R e Mt-A03-F e R. Para completar o volume de 35µL da reação foi utilizada água Milli-Q® estéril. Durante a preparação da reação, os reagentes foram mantidos sob refrigeração e o termociclador foi programado para executar o seguinte ciclo, uma desnaturação inicial a 96°C durante 5 minutos, seguido por 35 ciclos de 1 minuto a 94°C (desnaturação) e 2 minutos a 65°C (hibridação e extensão). E uma etapa final de extensão a 72°C durante 7 minutos. 4.3.5 Eletroforese Os produtos da PCR foram submetidos a uma eletroforese em gel de agarose a 2% para que os amplicons pudessem ser separados para visualização e com isso possibilitar a identificação das espécies de Eimeria presentes na amostra. Para a eletroforese foram utilizados 12µL da reação, homogeneizada com 7µL de tampão de amostra (azul de bromofenol), essa solução foi aplicada em gel de agarose, imerso em TBE (Tris-borato-EDTA) em uma cuba eletroforética. Para efeito de escala, utilizou-se marcador de peso molecular de 100pb. E a fonte da eletroforese foi regulada para aplicar 90V por 210 minutos ou até que o azul de bromofenol alcançasse aproximadamente 3cm da borda final do gel. Depois de terminada a corrida, o gel foi corado em uma cuba contendo uma solução de Brometo de Etídio por aproximadamente 45 minutos e observado sob luz ultravioleta. 4.3.6 Clonagem dos marcadores de “Sequence-characterized Amplified Region” (SCAR) de Eimeria spp. Foram montadas reações da PCR utilizando como DNA molde amostras positivas para uma ou mais espécies de Eimeria, de modo que fossem gerados amplicons correspondentes a todas as espécies encontradas. Em seguida, 12µL de cada reação juntamente com 7µL de um tampão de amostra foram aplicadas em um gel de agarose a 2%, imerso em TBE (Tris-borato-EDTA) e submetido à eletroforese (90 V 63 por 210 minutos). Depois de terminada a corrida, o gel foi corado em uma solução de Brometo de Etídio e observado sob luz ultravioleta. As bandas foram recortadas com auxílio de uma lâmina de bisturi e retiradas do gel, e o DNA contido foi purificado utilizando-se o HiYieldTM DNA gel/PCR Extraction Kit® (Real Biotech Corporation®), conforme instruções do fabricante. Em seguida, cada gene foi ligado ao plasmídeo pGEM-T Easy® (Promega®), utilizando o seguinte protocolo: 5μL de 2x Rapid Ligation Buffer; 1μL do vetor pGEM-T Easy® (50ng); 3μL do inserto (produto de PCR purificado); 1μL da enzima T4 DNA ligase (1U); A reação foi mantida a 4ºC durante 12 horas. Para a transformação, foram utilizadas células de Escherichia coli (DH10B) cálcio-competentes. Alíquotas de 50μL de células bacterianas foram homogeneizadas com 5μL da ligação de cada gene em tubos para microcentrífuga de 1,5mL e incubadas por 30 minutos no gelo. Em seguida, foi realizado um choque térmico a 42 ºC por 45 segundos e nova incubação no gelo por 90 segundos. Depois, foram adicionados 300μl de meio SOC em cada tubo e incubados a 37ºC sob agitação de 120RPM durante 1 hora. Em seguida, 200μL de cada transformação foi plaqueada em meio LB sólido contendo 100μg/mL de ampicilina, Xgal e IPTG para a formação de colônias azuis (não contendo inserto ligado ao plasmídeo) ou brancas (contendo um inserto ligado ao plasmídeo). As placas foram incubadas a 37 ºC por 16 horas. A confirmação da presença do DNA clonal inserido no plasmídeo, para as espécies de Eimeria, foi executada pela PCR utilizando como DNA molde uma porção da colônia de bactérias e os respectivos “primers” específicos para cada uma das espécies de Eimeria, com a verificação o tamanho dos amplicons para as referidas espécies. As colônias que foram positivas para o inserto foram selecionadas e cultivadas em meio LB líquido mais Ampicilina (100µg/mL) a 37 °C sob agitação a 150rpm durante 16 horas, e o DNA plasmidial foi extraído utilizando-se o HiYieldTM Plasmid Mini Kit® (Real Biotech Corporation®), conforme instruções do fabricante. A clonagem foi executada no Laboratório de Hemoparasitos e Vetores do CAV/UDESC. 64 4.3.7 Sequenciamento dos clones de Eimeria spp. O sequenciamento dos clones foi realizado no Laboratório de Bioinformática da Universidade Federal de Santa Catarina, utilizando um equipamento MegaBace 1000® DNA Analysis System® (GE/Amersham Biosciences®). As reações de sequenciamento foram preparadas a partir do DNA plasmidial e o Kit DYEnamic® ET Dye Terminator (GE/Amersham Biosciences®) conforme especificações do fabricante. Cada reação foi realizada empregando 5,0 pmol dos iniciadores ‘forward’ correspondente ao clone da espécie a ser sequenciada (Ac-A03F, Br-J18F, Tn-A03F, Mt-A03F, Pr-A03F, MxA09F, Nc-A18F) e EXCEL-R e aproximadamente 800ng de DNA plasmidial, nas seguintes condições térmicas: 95°C por 25 segundos, seguidos de 35 ciclos de desnaturação a 95°C por 15 segundos, ligação dos iniciadores a 55°C por 30 segundos e extensão a 60°C por 80 segundos. Posteriormente, os produtos marcados foram precipitados com isopropanol 70% e etanol absoluto, para retirada dos nucleotídeos e iniciadores não incorporados. Os produtos purificados foram então eletroinjetados a 2KV por 100 segundos e eletroeluídos por 150 minutos a 7KV. As sequências obtidas foram comparadas com as sequências dos marcadores SCAR, por meio do programa “Basic Local Alignment Search Tool”, para a confirmação da identidade e, também, para comparação com as sequencias de outras cepas de Eimeria spp. de frangos, depositadas (BLAST, 2013). 5 RESULTADOS 5.1 CONTAGEM DOS OOCISTOS DE Eimeria spp. OBTIDOS DAS AMOSTRAS DE FEZES DE FRANGOS DE CORTE Durante a contagem dos oocistos após a recuperação das fezes, observaram-se oocistos não esporulados e esporulados (Figuras 7) e, foram encontrados oocistos de tamanhos diferentes (Figuras 8). Figura 7 – Oocistos não esporulado e esporulado, observados durante a contagem em câmara de Neubaeuer (seta vermelha indica oocisto não esporulado e seta azul, esporulado). O número de oocistos recuperados por propriedade variou de 1.000 a 887.000 oocistos por mL, com uma média de 110.410, e com uma ocorrência do gênero Eimeria de 96,02%. As amostras foram provenientes de lotes de frangos de corte com idade entre 28 a 48 dias e, não foi possível equalizar o número de amostras por intervalo. Assim, foram coletadas 68 (28 a 34 dias); 111 (35 a 41 dias) e 72 (42 a 48 dias) amostras de fezes de frangos de corte, com as seguintes médias de oocistos por mL 151.338; 126.802 e 46.486, respectivamente (Figura 9). 66 Figura 8 – Oocistos com tamanhos e morfologias diferentes, observados durante a contagem em câmara de Neubaeuer (seta vermelha indica oocisto de menor tamanho e seta azul, de maior). 120 250.000 100 200.000 80 150.000 60 100.000 40 50.000 20 0 0 28 a 34 35 a 41 42 a 48 Idade dos lotes de frangos (dias) N° de propriedades N° médio de oocistos N° médio de oocistos N° de propriedades Figura 9 – Número médio de oocistos por mL (+ Intervalo de confiança a 95%) em amostras de fezes de frangos de corte da mesorregião Sul de Santa Catarina, em três faixas etárias. Relacionado com o número de propriedades por faixa etária. 67 Não foram observadas diferenças significativas entre as médias dos intervalos de 28 a 34 e 35 a 41 dias (p>0,05), porém, houve diferença significativa entre as médias dos intervalos de 28 a 34 e 42 a 48 dias e entre as médias dos intervalos de 35 a 41 e 42 a 48 dias (p<0,05) (Tabela 1). Tabela 1 – Comparação das médias de oocistos por mL recuperados de fezes de frangos de corte em três intervalos de idades. INTERVALOS DE IDADE 28 a 34 dias 35 a 41 dias 42 a 48 dias N° médio de 151.338ª 126.802ª 46.486b oocistos por mL Nota: a,b. Letras diferentes na mesma linha significam diferença estatística (P<0,05). 5.2 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE Eimeria PELA MULTIPLEX PCR A E. maxima foi a espécie mais frequente (63,7%), seguida por E. acervulina (63,3%), E. tenella (54,6%), E. mitis (38,6%), E. praecox (25,1%), E. necatrix (24,3%) e E. brunetti (13,1%) (Figura 10). N° de propriedades positivas Figura 10 – Número de propriedades positivas para E. acervulina (ac); E. maxima (mx); E. tenella (tn); E. praecox (pr); E. mitis (mt); E. necatrix (nc) e E. brunetti (br), das 251 granjas de frangos de corte na mesorregião Sul de Santa Catarina. 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 159 160 137 97 63 61 33 ac mx tn pr mt Espécie de Eimeria nc br 68 Todas as espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus foram encontradas na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina, porém, as sete espécies não ocorreram em todos os municípios (Tabela 2). Tabela 2 – Espécies de Eimeria identificadas e numero de granjas amostradas, por município na mesorregião Sul do Estado. N° de espécies Espécies Município N° de granjas 3 pr, nc, br ac, mx, tn Grão Pará Morro da Fumaça 1 2 ac, mx, tn, MT Braço do Norte ac, mx, tn, pr Ermo 1 6 ac, mx, tn, br Içara 3 ac, mx, tn, mt, pr, nc Araranguá ac, mx, tn, mt, pr, nc Criciúma 4 3 ac, mx, tn, mt, pr, nc Forquilhinha 1 ac, mx, tn, mt, pr, br Lauro Müller 5 ac, mx, tn, mt, pr, nc Sombrio 1 ac, mx, tn, mt, nc, br Treze de Maio 7 ac, mx, tn, mt, pr, nc Urussanga 10 4 6 7 Total ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Meleiro 9 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Morro Grande 26 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Nova Veneza 35 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Orleans 31 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Pedras Grandes 11 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Siderópolis 31 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Timbé do Sul 20 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Treviso 14 ac, mx, tn, mt, pr, nc, br Turvo 30 251 Nota: E. acervulina (ac), E. maxima (mx), E. tenella (tn), E. praecox (pr), E. mitis (mt), E. necatrix (nc) e E. brunetti (br). 69 A aplicação da técnica de Multiplex PCR nas amostras gerou amplicons do tamanho esperado para cada uma das sete espécies que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus, conforme segue: E. acervulina (811 pb), E. brunetti (626 pb), E. tenella (539 pb), E. mitis (460 pb), E. praecox (354 pb), E. maxima (272 pb) e E. necatrix (200 pb) (Figuras 11 e 12). Figura 11 – Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp., de amostras da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina: 1(marcador de 100pb); 2 (amostra 163: controle interno positivo com ac, tn, mt, pr, mx e nc); 3 (ac e mx); 4 (pr); 5 (ac, tn e mx); 6 (ac, tn, mt, mx e nc), 7 (ac, tn, mt e mx) e 8 controle negativo. 1 2 3 4 5 6 7 8 2.000 pb 1.000 pb 811pb (ac) 500 pb 539pb (tn) 460pb (mt) 354pb (pr) 272pb (mx) 200pb (nc) 100 pb Nota: E. acervulina (ac), E. maxima (mx), E. tenella (tn), E. praecox (pr), E. mitis (mt), E. necatrix (nc) e E. brunetti (br). 70 Figura 12 – Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp., de amostras da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina: 1(marcador de 100pb); 2 ( controle positivo - clones: ac, br, tn, mt, pr, mx e nc); 3 a 10 amostras negativas, 11 (br), 12 (ac, mt, pr e mx), 13 (tn, pr e mx) e 14 controle negativo. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 2.000 pb 1.000 pb 626pb (br) 500 pb 100 pb Nota: E. acervulina (ac), E. maxima (mx), E. tenella (tn), E. praecox (pr), E. mitis (mt), E. necatrix (nc) e E. brunetti (br). 5.3 CONFIRMAÇÃO DA CLONAGEM DOS MARCADORES DE “SEQUENCE-CHARACTERIZED AMPLIFIED REGION” (SCAR) DAS AMOSTRAS O processo de clonagem dos “amplicons” de tamanho correspondentes aos marcadores SCAR das sete espécies de Eimeria, detectados em amostras positivas, foi confirmado por meio da Multiplex PCR, utilizando como molde o DNA plasmidial dos clones das sete espécies de Eimeria e os sete conjuntos de “primers” correspondentes aos marcadores SCAR (Figura 13). 71 Figura 13 – Eletroforese em gel de agarose dos produtos da Multiplex PCR de Eimeria spp.: 1 (marcador de 100 pb); 2 e 3 (clones dos SCAR de ac, br, tn, mt, pr, mx e nc). 1 2 3 2.000 pb 1.000 pb 811pb (ac) 626pb (br) 500 pb 539pb (tn) 460pb (mt) 354pb (pr) 272pb (mx) 200pb (nc) 100 pb Nota: E. acervulina (ac), E. maxima (mx), E. tenella (tn), E. praecox (pr), E. mitis (mt), E. necatrix (nc) e E. brunetti (br). 72 Identificou-se em média, três espécies de Eimeria por propriedade, nas 251 granjas amostradas. As combinações mais frequentes foram de E. acervulina, E. maxima e E. tenella (9,16%), seguida de E. acervulina, E. maxima, E. tenella e E. mitis (8,76%). A E. acervulina teve uma maior participação em infecções múltiplas (Tabela 3). Tabela 3 – Número de propriedades com diferentes combinações de espécies de Eimeria em 251 propriedades (continua). N° de espécies 1 2 Espécies N° de propriedades ac mx 10 17 tn 5 pr 0 mt 2 nc 5 br 3 ac+mx 7 ac+tn 6 ac+pr 1 ac+mt 3 ac+nc 2 ac+br 2 mx+tn 5 mx+pr 1 mx+mt 3 mx+nc 1 tn+pr 1 tn+mt 4 pr+mt 3 pr+nc 2 mt+nc 1 nc+br 4 Total % 42 16,73 46 18,33 73 Tabela 3 – Número de propriedades com diferentes combinações de espécies de Eimeria em 251 propriedades (continua). N° de espécies 3 4 Espécies N° de propriedades ac+mx+tn ac+mx+mt 23 5 ac+mx+nc 6 ac+mx+br 2 ac+tn+mt 5 ac+tn+nc 2 ac+tn+br 1 ac+pr+mt 2 mx+tn+pr 1 mx+tn+mt 2 mx+pr+mt 1 mx+pr+nc 1 mx+nc+br 1 pr+nc+br 2 ac+mx+tn+pr 4 ac+mx+tn+mt 22 ac+mx+tn+nc 5 ac+mx+tn+br 2 ac+mx+pr+mt 3 ac+mx+mt+nc 1 ac+mx+mt+br 1 ac+tn+pr+nc 1 ac+tn+pr+br 1 ac+pr+mt+nc 1 mx+tn+pr+mt 1 mx+tn+pr+nc 2 mx+tn+pr+br 1 mx+tn+mt+nc 1 mx+mt+nc+br 1 tn+pr+mt+nc 1 Total % 54 21,51 48 19,12 74 Tabela 3 – Número de propriedades com diferentes combinações de espécies de Eimeria em 251 propriedades (conclusão). N° de espécies Espécies N° de propriedades ac+mx+tn+pr+mt ac+mx+tn+pr+nc 16 1 ac+mx+tn+pr+br 1 ac+mx+tn+mt+nc 3 ac+mx+tn+mt+br 2 ac+mx+tn+nc+br 1 ac+mx+tn+pr+mt+nc 9 ac+mx+tn+pr+mt+br 1 ac+mx+tn+pr+nc+br 3 ac+mx+tn+mt+nc+br 3 ac+tn+pr+mt+nc+br 1 Ooocisto Negativo PCR Negativo 5 6 TOTAL Total % 24 9,56 17 6,77 10 10 3,99 10 10 3,99 251 100 Nota: E. acervulina (ac), E. maxima (mx), E. tenella (tn), E. praecox (pr), E. mitis (mt), E. necatrix (nc) e E. brunetti (br). A ferramenta “Basic Local Alignment Search” (BLAST, 2013) foi utilizada para a busca no “GenBank”, de sequências de nucleotídeos similares aos obtidos do sequenciamento dos clones, provenientes dos amplicons das sete espécies de Eimeria, identificadas na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. Observou-se que as sequências dos clones foram fiéis aos respectivos marcadores SCAR, utilizados para a identificação das espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus, nesse estudo. Os percentuais de máxima identidade variaram de 96 a 99% de acordo com a espécie de Eimeria (Figura 14). Também, encontrou-se uma cepa Indiana de E. tenella que possui 98% de similaridade com a cepa dessa espécie, identificada na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. O alinhamento das sequências dos nucleotídeos dos clones obtidos neste trabalho, com outras sequências 75 depositadas no “GenBank”, encontradas utilizando a ferramenta “BLAST”, estão demonstradas nos anexos A, B, C, D, E, F, G. Figura 14 – Similaridade dos produtos do sequenciamento com as sequências dos marcadores RAPD-SCAR das sete espécies de Eimeria depositados no “National Center for Biotechnology Information” Acesso Descrição M.P. T.P. C.C. % E valor M.I. % AY571520.1 RAPD-SCAR Ac-A03-818 1037 1037 100 0.0 99 AY571556.1 RAPD-SCAR Br-J18-626 965 965 97 0.0 99 AY571503.1 RAPD-SCAR Mt-A03-460 732 732 99 0.0 99 AY571634.1 RAPD-SCAR Tn-K04-539 828 828 44 0.0 99 AY571602.1 RAPD-SCAR Pr-A03-718 488 488 27 4e140 99 AY571564.1 RAPD-SCAR Nc-A18-674 200 200 16 2e-53 96 AY571588.1 RAPD-SCAR Mx-A09-1008 73.1 73.1 7 4e-14 96 Nota: M.P. (máxima pontuação), T.P. (total de pontos), C.C. (percentual de cobertura de consultas), M.I. (percentual de máxima identidade). Fonte: adaptado de BLAST (2013). 6 DISCUSSÃO Foram coletadas amostras em 251 propriedades para o estudo. Segundo a CIDASC (2013), estão cadastradas 673 propriedades para a criação de frangos de corte na mesorregião Sul do Estado, portanto, considerando uma probabilidade de ocorrência de 50% de qualquer uma das sete Eimeria spp., conforme encontrado em outros estudos (CARVALHO et al., 2010; MORRIS et al., 2007) e, um intervalo de confiança de 95%, com erro de 5%, utilizando o programa estatístico OpenEpi® - versão 3(DEAN et al., 2013), obteve-se, que o n amostral, necessário para um estudo de prevalência, seria 245 propriedades. Também, utilizando os mesmos parâmetros, substituindo apenas o n total (673 propriedades cadastradas) pelo n total de 521, obtido de acordo com as seguintes informações: alojamento de 84.440.519 pintos de corte em SC (APINCO, 2012) X 12,33% alojado na mesorregião Sul do Estado (IBGE, 2013) / 20.000 (n° médio de frangos por propriedade), neste caso, aplicando o programa estatístico OpenEpi® - versão 3 o n amostral, seria de 222 propriedades (DEAN et al., 2013). Demonstrando, que o número de propriedades em que foram coletadas as amostras, permite uma ótima análise da realidade da ocorrência das espécies de Eimeria nas instalações de frangos de corte de explorações avícolas comerciais, instaladas na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. A ocorrência do gênero Eimeria nas granjas estudadas foi de 96,02%, semelhante às ocorrências relatadas por Williams et al. (1996) na França (92,68%), Lee et al. (2010) na Coréia (78,7%), Kawahara et al. (2008) no Japão (100%), McDougald et al. (1986) nos Estados Unidos (100%), McDougald et al. (1987) em estudos em algumas granjas no Brasil e na Argentina (98,89%) e Carvalho et al. (2011) no estado da Bahia, Brasil (100%). Demonstrando uma alta ocorrência do parasito nas criações avícolas do Sul do estado de Santa Catarina, semelhante às descritas em criações avícolas em várias partes do mundo. A menor quantidade de oocistos de Eimeria spp. na faixa etária de 42 a 48 dias, quando comparado com os intervalos de 28 a 34 e 35 a 41 dias, pode ser explicado pelo fato de que, frangos mais jovens são mais susceptíveis a infecção do que frangos mais velhos. Segundo Chapmam (1999), frangos submetidos ao tratamento profilático com anticoccidianos adquirirem imunidade contra Eimeria spp. devido a exposição controlada ao parasito durante a vida do lote, tornando-os mais resistentes a infecção. Esse autor demonstrou, que frangos criados 77 experimentalmente em camas contaminadas com o parasito não adquirem imunidade antes da 4ª semana de idade, independente da utilização ou não de drogas anticoccidianas e, em experimentos com frangos que foram criados em sistemas comerciais recebendo anticoccidianos, comprovou que a consolidação da imunidade nessas aves quando expostas a infecções naturais, ocorre entre a 6ª ou 7ª semana de idade. Haug et al. (2008), em um estudo epidemiológico na Noruega, encontraram uma maior quantidade de oocistos por grama de fezes em frangos de corte com idade entre 20 a 32 dias, do que acima de 36 dias de idade. O fato das aves passarem por um processo de imunização natural, não assegura que estas aves não possam vir a desenvolver a coccidiose, caso a medicação via ração seja retirada de um lote ou integração, acima de 6 ou 7 semanas. Pois, não é possível, a partir das monitorias executadas usualmente pelos técnicos das agroindústrias, medir o grau e a uniformidade dos estímulos causados pelas infecções naturais, de modo a garantir que há uma imunidade completa contra uma ou mais espécies de Eimeria, em um lote e, principalmente em todas as propriedades que compõem uma integração. Também, outros fatores que diminuam a resposta imune dessas aves como doenças imunossupressoras, podem quebrar o equilíbrio da resistência contra a coccidiose. A ocorrência de oocistos de diferentes tamanhos (Figura 5) justifica a necessidade de aprofundar estudos para identificar as espécies de Eimeria na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. No entanto, as características morfológicas por si só, são insuficientes para uma identificação segura, conforme citaram Macpherson e Gajadhar (1993). Utilizando a PCR, Prado (2005), investigou a ocorrência de E. acervulina, E. maxima, E. tenella e E. mitis em 10 granjas de frangos de corte em Concórdia, empregando como alvo a região ITS-1 do rDNA. Porém, não encontrou E. mitis. Meireles et al. (2004) utilizaram o mesmo alvo para investigar a presença de E. mitis e E. praecox, em cinco amostras de fezes de frangos de corte, provenientes de Santa Catarina, todas foram positivas para E. mitis e quatro amostras para E. praecox. A ocorrência das espécies E. necatrix e E. brunetti em lotes de frangos de corte, não foram investigadas por meio da PCR no estado de Santa Catarina e, não há registros da utilização da técnica de Multiplex PCR para a identificação de Eimeria spp no Estado. Na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina foram encontradas as sete espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus. Apesar das sete espécies de Eimeria não terem sido identificadas em todos os municípios que compõem a mesorregião 78 estudada, foram encontradas em propriedades que estão vinculadas a duas empresas integradoras, que atuam na região (em que foram coletadas as amostras), sem que haja uma divisão geográfica para a exploração pelas empresas, sendo que, muitas vezes, as propriedades integradas a uma ou outra empresa estão localizadas próximas. Associado a isso, cada empresa, possui características operacionais únicas, que são estendidas a todos seus integrados, como por exemplo, o manejo; o mesmo veículo de transporte de ração e; as visitas técnicas nas propriedades de vários municípios são, muitas vezes, executadas pelo mesmo técnico. Essas características facilitam a disseminação das espécies de Eimeria entre os municípios. Também, o fato das duas integrações, possuírem apenas uma fábrica de ração, cada, torna difícil a implantação de métodos de controles específicos para cada microrregião, sendo assim, um único método é extendido para toda a empresa. Portanto, a implantação de diferentes métodos de controle da coccidiose em uma empresa, como por exemplo, utilização de diferentes programas anticoccidianos por microrregiões ou a adoção da vacinação para uma parte da integração, não é de fácil execução. Tornando, usual a instituição de um método único de controle para toda a integração de uma empresa, deste modo, deve-se considerar a adoção de medidas profiláticas que visem o controle de todas as espécies de Eimeria que parasitam frangos de corte, na mesorregião Sul do Estado. Em várias regiões do mundo, estudos empregando diferentes métodos de diagnóstico, como por exemplo, o diagnóstico morfoclínico, associado à eletroforese de isoenzimas (KUČERA, 1990; TEBO et al., 1998); a PCR utilizando marcadores da região ITS 1 (AARTHI et al., 2010; LEE et al., 2010; SUN et al., 2009); a PCR utilizando marcadores da região ITS 2 (MORRIS et al., 2007) e a Multiplex PCR utilizando marcadores SCAR (CARVALHO et al., 2011), também, demonstraram a presença de todas as espécies de Eimeria que parasitam frangos. Confirmando a ampla disseminação das sete espécies em explorações avícolas. Neste estudo as infecções múltiplas foram mais comuns, com uma média de 2,96 espécies de Eimeria por propriedade. O fato de serem encontradas mais de uma espécie por granja, ou seja, infecções múltiplas, também, foram relatadas em outras investigações empregando diferentes métodos de diagnóstico, como por exemplo, o diagnóstico morfo-clínico (MCDOUGALD et al., 1986), morfo-clínico associado à eletroforese de isoenzimas (KUČERA, 1990; WILLIAMS et al., 1996); a PCR utilizando marcadores da região ITS 1 (AARTHI et al., 2010; HAUG et al., 2008; LEE et al., 2010; SUN et al., 2009); a PCR 79 utilizando marcadores da região ITS 2 (MORRIS et al., 2007) e a Multiplex PCR utilizando marcadores SCAR (CARVALHO et al., 2011). A infecção múltipla mais frequente foi entre E. acervulina, E. maxima e E. tenella, essa associação, também foi a mais frequente em um trabalho desenvolvido por McDougald et al. (1986). A E. maxima foi a espécie de maior ocorrência, estando presente em 63,7% das amostras. Outros estudos, baseados somente na morfologia e medidas dos oocistos, também encontraram essa espécie como a mais frequente (CARDOZO; YAMAMURA, 2006; LUCHESE et al. 2007; TERRA et al., 2001) e, McDougald et al. (1987) que utilizaram para o diagnóstico um conjunto de técnicas morfo-clínicas, tornando assim, o resultado mais confiável que os autores anteriores, que basearam seus resultados em uma característica apenas. Santos et al. (2003) identificaram E. acervulina, E. maxima e E. tenella, baseando-se na análise do local parasitado, aspectos das lesões macroscópicas e análise morfológica e morfométrica dos oocistos e, citaram que somente pela a análise morfológica e morfométrica dos oocistos não foi possível distinguir as diferentes espécies de Eimeria. Também, o período prépatente, associado a raspados da mucosa intestinal das respectivas áreas de infecção de cada espécie, foram importantes para possibilitar a identificação de E. praecox (duodeno) e E. mitis (íleo). A segunda espécie mais frequente na mesorregião Sul do Estado foi E. acervulina (63,3%), entretanto, em Concórdia, Santa Catarina, Prado (2005) encontrou uma maior ocorrência de E. acervulina (90%), seguida de E. maxima e E. tenella que foram identificadas em 60% das amostras. Portanto, E. acervulina e E. maxima foram as mais frequentes dentre as outras sete espécies, o mesmo foi encontrado por McDougald et al. (1986) e Morris et al. (2007). Essas espécies causam lesões macroscópicas bem sugestivas, sendo comumente diagnosticadas pelos técnicos nas integrações avícolas, portanto, são tomadas como as grandes responsáveis pelos prejuízos causados pela coccidiose, nas produções de frangos de corte. A E. tenella foi identificada em 54,6% das amostras. Kutkat et al. (2009) utilizando a Multiplex PCR, tendo como alvo os mesmos marcadores SCAR empregados, nesse trabalho, identificou a E. tenella em 50% das amostras. Já, Prado (2005) encontrou essa espécie em 60% das granjas analisadas em Concórdia. Alguns autores têm descrito ocorrências maiores, como por exemplo, Sun et al. (2009) que relataram a ocorrência de E. tenella em 90% da amostras e Morris et al. (2007) em 80 86%. Esta espécie é altamente patogênica e causa grande mortalidade de aves. A E. brunetti esteve presente em um menor número de amostras (13,1%), o mesmo foi verificado por McDougald et al. (1986) que a encontraram em 10% das amostras e Sun et al. (2009) em 8%. Porém, outros autores têm descrito uma grande ocorrência dessa espécie, Morris et al. (2007) a encontraram em 71% das amostras, Kawahara et al. (2008), utilizando a “Real-time PCR”, em 65,62% e Lee et al. (2010) em 59,3%. Essa espécie é considerada como sendo de alta patogenicidade, portanto, mesmo com uma baixa ocorrência, seu potencial para causar prejuízos deve ser levado em consideração. A segunda espécie menos frequente foi a E. necatrix, essa espécie não havia, até então, sido identificada em criações de frangos de corte no estado de Santa Catarina. Essa espécie é conhecida por causar coccidiose em aves de vida longa, pois, o seu baixo potencial reprodutivo a torna incapaz de competir com outras espécies de Eimeria, sendo mais comum em lotes de galinhas a partir da 9ª semana de idade (MCDOUGALD et al., 2003). Segundo Kučera (1990) é provável que a presença da E. tenella nos cecos, no momento da migração dos merozoítos de E. necatrix para esta região, limite o desenvolvimento dos estágios sexuais dessa espécie. Todavia, apesar das amostras de fezes terem sido obtidas de frangos, com idade máxima de 48 dias, a E. necatrix foi encontrada em 24,3% das propriedades analisadas na mesorregião Sul de Santa Catarina. Sun et al. (2009) identificaram essa espécie em 26% das amostras, provenientes de frangos de corte. A presença da E. necatrix em frangos tem sido documentada em vários trabalhos, porém, tem-se descrito grandes variações na ocorrência dessa espécie, Haug et al. (2008) a encontraram em 2% das amostras, enquanto que Carvalho et al. (2011) verificaram a presença dessa espécie em 93,3% e Morris et al. (2007) em 100% das amostras. Essa espécie é uma das mais patogênicas. Neste estudo, E. praecox e E. mitis foram encontradas em 25,1% e 38,6% das amostras, respectivamente. Em um estudo, Kučera (1990) identificou E. praecox em 31,25% das amostras e, Lee et al. (2010) encontrou E. mitis em 31,5% das amostras. Todavia, as ocorrências de E. praecox em alguns estudos variou de 10% (HAUG et al., 2008) a 100% (CARVALHO et al., 2011; KUTKAT et al., 2009; MORRIS et al., 2007), e de E. mitis de 31,3% (LEE et al., 2010) a 93,3% (CARVALHO et al., 2011). Portanto, em algumas situações essas espécies encontravam-se amplamente disseminadas nos lotes de frangos e, apesar de, no passado, terem sido consideradas não 81 patogênicas por muitos pesquisadores, tanto que em muitos estudos não eram sequer pesquisadas (MCDOUGALD et al., 1986), provou-se que estão associadas a perdas no desempenho dos frangos (WILLIAMS et al., 1998; JORGENSEN et al., 1997). As diferenças nas ocorrências das espécies de Eimeria que parasitam frangos de corte, demonstradas em vários estudos (HAUG et al., 2008; KAWAHARA et al., 2008; KUČERA, 1990; KUTKAT et al., 2009; LEE et al., 2010; MORRIS et al., 2007; PRADO, 2005; WILLIAMS et al., 1996; SUN et al., 2009). Podem estar relacionadas às características climáticas da região (AWAIS et al., 2011; HAUG et al., 2008; NOWZARI et al., 2005), pois durante o ciclo biológico da Eimeria spp há uma dependencia de condições climáticas (temperatura e umidade) para que ocorra a fase exógena de desenvolvimento (esporulação). Também, segundo Williams et al. (1996), os diversos programas de controle com anticoccidianos (molécula, dose, esquema de utilização) podem limitar a ocorrência de algumas espécies de Eimeria mais que outras, ocasionando mudanças nas populações destes parasitos. A utilização de vacinas que não contenham todas as espécies de Eimeria circulantes em uma determinada região pode causar uma seleção imunológica, fazendo com que a frequência de algumas espécies aumente (WILLIAMS, 1998). Ruff (1999) e Sangster (2001) citaram que as diferenças de manejo como, por exemplo, os que alteram a qualidade da cama aviária, podem influenciar na ocorrência das espécies de Eimeria devido às características biológicas do parasito, pois, as espécies de Eimeria dependem de umidade para esporular, porém, são sensíveis ao gás amônia, que é liberado em maior quantidade a partir de camas aviárias úmidas. Verificou-se que em apenas dez amostras os resultados observados com a utilização da Multiplex PCR foram negativos, apesar do número de oocistos para a extração do DNA nessas amostras, encontrar-se na faixa de 3.000 a 42.000. Segundo Haug et al. (2007) problemas com relação a negatividade da PCR podem ocorrer em amostras com poucos oocistos ou devido a grande quantidade de resíduos remanescentes da etapa de purificação dos oocistos. Ambos os fatores podem interferir na extração do DNA por impedir um adequado rompimento dos oocistos e esporocistos e, além disso, amostras com grandes quantidades de oocistos podem interferir devido a uma sobrecarga de DNA que pode inibir a reação. Porém, no presente estudo, obteve-se a identificação de Eimeria spp. pela técnica da Multiplex PCR com amostras de DNA extraídas a partir de uma ampla faixa de número de oocistos (3.000 a 7.266.000), sugerindo que a negatividade observada 82 em algumas amostras não foi ocasionada pela quantidade de oocistos, estando de acordo com as observações feitas por Jenkins et al. (2006) que afirmam, que a grande quantidade de DNA não parece ter relação com a negatividade da PCR, já que algumas amostras são inibitórias, enquanto outras com mesmas quantidades de oocistos não são, e que esta interferência na PCR se deve à presença de inibidores da reação em determinadas amostras de cama aviária. A comparação das quantidades de DNA obtidos das amostras, com as quantidades de oocistos presentes nestas, não foi diretamente proporcional. De acordo com Haug et al. (2007), a qualidade da amostra (grande quantidade de detritos fecais) interfere na produção de DNA que por sua vez não é diretamente proporcional à quantidade de oocistos. Fernandez et al. (2003a) comprovaram esse fato por meio de testes de sensibilidade da Multiplex PCR a partir de diluições de oocistos. Os resultados obtidos no sequenciamento e analisados pelo “Basic Local Alignment Search” (BLAST, 2013), demonstraram perfeita similaridade com os respectivos marcadores SCAR das sete espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus, depositados no “GenBank” por Fernandez et al. (2004). Entretanto, para os clones de E. tenella, E. maxima, E. praecox e E. necatrix foi obtida a sequência parcial e, portanto as sequências destes com os respectivos alvos (SCAR) não puderam ser integralmente verificadas. Todavia, nesse estudo, os amplicons produzidos para as sete espécies de Eimeria, resultantes da PCR das amostras, apresentaram tamanhos idênticos aos marcadores SCAR descritos por Fernandez et al. (2003a). A pesquisa para analisar a similaridade de cepas de Eimeria spp. identificadas em outras regiões, com as cepas obtidas e sequenciadas a partir desse trabalho, utilizando o BLAST (2013), encontrou somente o depósito das sequências de nucleotídeos referentes aos marcadores SCAR utilizados na Multiplex PCR, depositados por Fernandez et al. (2004) e marcadores SCAR para a utilização em um “Real-time PCR” (VRBA et al., 2010), desenvolvidos com base naqueles primeiros. Apenas uma cepa de E. tenella (acesso: FJ515794.1), proveniente da Índia, depositada por Raman et al. (2009, apud BLAST, 2013) foi encontrada, a partir da busca no “GenBank”, sendo que, o clone obtido nesse trabalho foi 98% e 99% similar a cepa indiana e ao marcador SCAR utilizado nesse estudo, respectivamente (BLAST, 2013). 7 CONCLUSÕES Em frangos de corte na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina ocorre E. acervulina, E. maxima, E. tenella, E. mitis, E. praecox, E. brunetti e E. necatrix. As sete espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus, podem ser identificadas em única reação em cadeia da polimerase, utilizando a Multiplex PCR. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na mesorregião Sul do estado de Santa Catarina, a adoção de medidas profiláticas contra coccidiose, em criações de frangos de corte, deve levar em consideração o controle das sete espécies de Eimeria que parasitam aves da espécie G. gallus domesticus. REFERÊNCIAS AARTHI, S. et al. Molecular prevalence and preponderance of Eimeria spp. Among chickens in Tamil Nadu, India. 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Fonte: BLAST (2013). 104 APÊNDICE C – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. brunetti, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (continua). 105 APÊNDICE C – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. brunetti, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (conclusão). Fonte: BLAST (2013). APÊNDICE D – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. mitis, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (continua). 106 APÊNDICE D – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. mitis, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (conclusão). Fonte: BLAST (2013). 107 APÊNDICE E – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. necatrix, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. Fonte: BLAST (2013). 108 APÊNDICE F – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. praecox, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina. Fonte: BLAST (2013). 109 APÊNDICE G – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. tenella, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (continua). 110 APÊNDICE G – Sequências de núcleotídeos depositadas no “GenBank” que produziram alinhamentos significativos com a sequência de E. tenella, proveniente da mesorregião Sul do estado de Santa Catarina (conclusão). Fonte: BLAST (2013).