POTENCIALIDADES DOS FRUTOS DA PUPUNHEIRA NA REGIÃO SUL DA BAHIA Biano Alves de MELO NETO1 1 Professor do Núcleo de Tecnologia de Alimentos - Instituto Federal Baiano / Campus Uruçuca .Rua João do Nasimento, s/nº, Centro, Uruçuca - Bahia, Cep: 45.680-970. [email protected] RESUMO Nas regiões de origem e de distribuição pré-colombiana, o fruto, conhecido no Brasil como pupunha, é bastante utilizado na alimentação em função de seu alto valor nutritivo e energético, sendo rico em proteínas, carboidratos, fibras, caroteno (pró - vitamina A), ácidos ascórbico, minerais, principalmente ferro, cálcio e fósforo. Atualmente, a pupunha tem sido bastante utilizada na alimentação humana e animal. Segundo Kerr et al. (1997), este alimento é muito popular no café da manhã na Região Amazônica, sendo consumido na forma cozida ou processada (farinhas, bolos, biscoitos, pães e mingaus. Trabalhos realizados na Costa Rica por Salas e Blanco (1990) recomendam a introdução da pupunha no preparo da alimentação infantil para crianças entre 4 e 10 meses, em substituição ao milho, pela riqueza nutricional da pupunha, principalmente com relação ao retinol, que é o nutriente mais deficiente na dieta infantil (CAMACHO, 1972; CLEMENT et al., 1987). Em função da presença de ácidos oxálicos nos frutos crus, Arckoll e Aguiar (1991) aconselham um cozimento de 30 minutos para degradação dos mesmos, e que 60 minutos de cozimento resulta em frutos de melhor sabor. O principal produto da pupunha é a farinha. De acordo com Experiências com farinha de pupunha no Brasil e na Costa Rica apontam para o seu uso na panificação e pastelaria, em substituição à farinha de trigo e milho (CLEMENT e MORA URPI, 1988). De acordo com Clement (1991), para a fabricação de pães, foi possível usar até 10% de farinha de pupunha em substituição à farinha de trigo, sem alterações significativas do produto final. Em pastelaria foi possível utilizar 100% em bolos e 25% em panquecas e bolachas. Segundo Silva (2011), o potencial da pupunha como produtor de farinha de alto valor nutritivo, a posterior industrialização do fruto se revestirá em mais uma alternativa de agregação de renda para o produtor rural, sobretudo no Sul da Bahia, além da oportunidade dos mesmos produzir alimentos para consumo próprio. Na Costa Rica o aproveitamento do fruto para alimentação humana dá-se em nível industrial, cuja farinha é encontrada nas prateleiras de supermercados. No sul da Bahia, o fruto pupunha já tem grande aceitação, sendo consumidos tanto em forma de fruto cozido, como nos feitios de bolos, mingaus, paçoca, e outras iguarias domésticas. Embora a sua comercialização seja uma atividade ainda sem expressão econômica na região, já se percebe essa tendência ao constatar sua oferta nas feiras livres em alguns municípios regionais (SILVA, 2011; MURILLO e ZUMBADO, 1990; MURILLO, 1991; BOURRILLÓN et al., 1991; MORI-PINEDO et al., 1999) O fruto da pupunheira também é rico em óleos não saturados. A quantidade varia de 2,2 a 62% (ARCKOLL e AGUIAR, 1991). Apesar da pupunha não ser domesticada pra a produção de óleos, tem sido encontradas pupunhas de altos índices (CLEMENT e ARCKOLL, 1991). Normalmente, frutos com altos teores de fibra, amido e carboidratos, possuem baixos teores de óleo. Em pesquisa realizada por Clement e Santos (2002), ao avaliarem as preferências dos consumidores de pupunha no mercado de Manaus, verificou que o fruto preferido é o vermelho, tamanho médio e medianamente oleoso. Atualmente, o Instituto Federal Baiano - Campus Uruçuca, em parceria com a CEPLAC, UESC e UESB, tem trabalhado no estudo e desenvolvimento de novos alimentos aproveitando o fruto da pupunheira, com ênfase na obtenção e utilização do amido e suas modificações em produtos da panificação e confeitaria, gelados comestíveis e na elaboração de biofilmes. Também, em parceria com a CEPLAC, no desenvolvimento de produtos típicos da culinária baiana, incluindo um produto similar ao “vatapá”, utilizando apenas a massa do fruto da pupunheira. REFERÊNCIAS: ARROYO, C; MORA URPI, J. & MÉXON R., Mutantes de pejibaye. IN U.C.R. Boletim Informativo, 5(1), p. 9-11,1996. BERNHARDT, L.W. Características do palmito da pupunheira do ponto de vista do processamento. In: SEMINÁRIO DO AGRONEGOCIO, 1999, Porto Velho. Palmito de pupunha na Amazônia. Porto Velho: Embrapa Rondônia/Sebrae-RO, 1999. CAMACHO, V. E. El Pejibaye (Guilielma gassipaes (H.B.K.) Bailey) . (Mimeo) Instituto Interamericano para la Cooperación Agrícola, Turrialba, Costa Rica, p. 101-106,1972. CHAIMSOHN, F. P. Cultivo de pupunha e produção de palmito. Viçosa: Aprenda Fácil, 2000. CLEMENT, C.R. Descriptores minimos para el pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K. y sus implicaciones filogenéticas., 128 f., Dissertação (Mestrado em Biologia), Univ. de Costa Rica, San José, 1986. CLEMENT, C. R, Domestication of the Pejibaye Palm (Bactris gasipaes): Past and Present In: The palm – Tree of Life: Biology, Utilization and Conservation. New York Botanical Garden. Michael J. Balick. Advances in Economic Botany v. 6 p. 155-174, 1988. CLEMENT, C.R. Amazonian Fruits:a neglected, threatened and potentially rich resource requires urgent attention. Diversity, 7 (1&2): 56-59 (USA), 1991. CLEMENT C., Pupunha: Recursos Genéticos para a produção de palmito. Horticultura Brasileira, 15 (suplemento), p. 186-191. 1997. CLEMENT, C.R.; MORA URPÍ, J. The pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K., Arecaceae): multi-use potential for the lowland humid tropics. Journal of Economic Botany, v.41, n.2, p.302-311, 1987. CLEMENT, C.R., D.B. ARKCOLL. The pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K., Palmae) as an oil crop: potential and breeding strategy. Oleagineux, 46 (7): 293-299. (France), 1991. CLEMENT, C.R.; SANTOS, L.A. Pupunha no mercado de Manaus: Preferências de consumidores e suas implicações. Revista Brasileira de Fruticultura, 24 (3):778-779, 2002. CLEMENT, C.R.; CHAVES FLORES, W.B.; GOMES, J.B.M. Considerações sobre a pupunha (Bactris gasipaes K.). In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES DE PALMITO, 1, 1987, Curitiba, PR. Anais... Curitiba: EMBRAPA-CNPF, 1987. DIOTTO, A.V. A irrigação na cultura da pupunheira. Piracicaba: Universidade Estadual de São PauloEscola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Boletim Informativo do Grupo de Estudos “Luiz de Qeiroz” – NOTESALQ, n.3, p.9, 2002. FLORI, J.E.; RESENDE, G.M.; DRUMOND, M.A. Rendimento do palmito de pupunha em função da densidade de plantio, diâmetro de corte e manejo dos perfilhos, no Vale do São Francisco. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 19, n. 2, p. 140-143, julho 2001. KERR, L.S.; CLEMENT, R.N.S.; CLEMENT, C.R.; KERR, W.E. Cozinhando com a Pupunha. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, AM. 95 p. 1997. KULCHETSCKI, L.; CHAIMSOHN, F.P.; GARDINGO,J.R. Palmito pupunha (Bactris gasipaes Kunth): a espécie, cultura, manejo agronômico, usos e processamentos. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2001. p.13-22, 105-118. MARTEL, J. H. I. Caracterização de germoplasma de pupunha (Bactris gasipaes Kunth) por descritores morfológicos, 90f. Tese (Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002. MATTOS-SILVA, L. A.; MORA URPI, J. Descripción morfológica general del pejibaye cultivado [Bactrsi (Guilielma) Gasipaes Kunth-Arecaceae]. UCR, Boletin Informativo, v., nº 1, 1996. MORA-URPÍ, J. El pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K.): origen, biología floral y manejo agronómico. Pp. 118-158. In: Informe de la reunion de consulta sobre palmeras poco utilizadas de America Tropical. FAO, Turrialba. 1983. MORA URPI, J., SOLIS, E. Polinización en Bactris gasipaes H.B.K. Rev. Biol. Trop. 28(1) p. 153174, 1980. MORERA MONJE, J. A. Descripción sistemática de la colección Panamá de pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K.) del CATIE. Universidad de Costa Rica,/CATIE., 122p. Dissertação Mestrado. 1981 MORI-PINEDO, L. ; PEREIRA FILHO, M.; OLIVEIRA-PEREIRA, M. I.; Substituição do fubá de milho (Zea mays L.) por farinha de pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.) em rações para alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum cuvier 1818). Acta Amazônica, 29 (3) p. 497-500, 1999. MURILLO, M.G. & ZUMBADO, M.E. Harina de pejibaye en la alimentación de pollas para reemplazo y gallinas ponedoras (I parte) In: U.C.R. Boletim Informativo, 2 (2), p. 15-17, 1990. MURILLO, M.G. Harina de pejibaye en la alimentación de pollas para reemplazo y gallinas ponedoras (II parte) In: U.C.R. Boletim Informativo, 3 (1-2), p. 1-5, 1991. SALAS, G. G. e BLANCO, A. Un alimento infantil com base en pejibaye: su desarrollo y evaluación. In: U.C.R. Boletim Informativo, 2 (2), p. 12-14, 1990. SILVA, M. G. C. P. C. Introdução e caracterização de germoplasma de pupunheira (Bactris gasipaes Kunth). Relatório Técnico de Pesquisa. Ceplac/Cepec/Esmai. Ilhéus, BA. 2004. SILVA, M. R. Utilização tecnológica dos frutos de jatobá-do-cerrado e de jatobá-da-mata na elaboração de biscoitos fontes de fibra alimentar e isentos de açúcares. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 21, n. 2, 2002. SILVA, M. G. C. P. C. Cultivo da pupunheira. Disponível em: http://www.ceplac.gov.br. Acessado em 16/09/2011.