PERSPECTIVA DO FRUTO PUPUNHA COMO PRODUTO DE VALOR
ECONÔMICO
Maria das Graças C. Parada Costa Silva
Engª Agrônoma, FFA, MSc, Ceplac/Cepec/Sefop. Km 22 Rod Ilhéus – Itabuna, CP 07
[email protected]
INTRODUÇÃO
Apesar de ser um produto de alto valor nutritivo e muito consumido nas regiões de
origem, o fruto da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) ainda é pouco consumido nas regiões
onde a espécie foi introduzida, devido ao fato de que essas introduções foram motivadas e
direcionadas principalmente, para produção de palmito, que é na atualidade, o produto de
maior valor econômico da pupunheira. No entanto, segundo Clement (2000), o mercado
potencial de frutos é muito maior, devido as qualidades
nutritivas, organolépticas e visuais que podem ser
explorados para elaboração de novos produtos e mercados.
Na Bahia, desde a década de 60, quando a pupunheira foi
introduzida na região do Baixo Sul, se consome o fruto,
cuja característica oleosa e excelente sabor, levaram à sua
aprovação, porém essas características não foram
suficientes para estimular sua expansão, provavelmente
pela forte presença de espinhos no estipe, típica das
pupunheiras da região Amazônica de onde ela foi
originada.
Na década de 80, quando foi introduzida a
pupunheira sem espinhos, de origem peruana, na Estação
Experimental Lemos Maia, Ceplac, Una Bahia, a pupunha
se tornou mais conhecida e a ser cultivada em pequena
escala, no entanto sem interesse econômico, na maioria
das vezes por curiosidade ou como palmeira ornamental,
pela beleza dos seus frutos.
Somente após a divulgação da
pupunheira como produtora de
palmito, é que a pupunha
ganhou visibilidade em nível
nacional, porém com o
interesse voltado para o
palmito, mas não resta dúvida
que
isto
favoreceu
a
divulgação do fruto, motivado
pela necessidade de se produzir
sementes para o plantio de
palmito.
Pelo número de trabalhos publicados por pesquisadores das instituições de pesquisas
de vários estados brasileiros sobre o aproveitamento do fruto na alimentação humana e
animal, e pelos inúmeros depoimentos e receitas criadas com o fruto, pode-se inferir que a
pupunha já é um produto nacional. Este fruto, antes restrito à regiões de origem, cujo
consumo se dá principalmente cozido, tem sido utilizado nos feitios de bolos, mingaus,
paçoca, cocada, biscoitos, entre outros, sempre misturado com farinha de trigo porque a
pupunha não contém glúten.
Embora a sua comercialização seja uma atividade ainda sem expressão econômica na
região sul da Bahia, já se percebe essa tendência ao constatar sua oferta nas feiras livres e em
algumas rodovias municipais. Uma pesquisa sobre o uso de frutos pupunha junto a
agricultores da região Sudeste da Bahia, realizado por Maier e Silva (2010), concluiu que os
produtores se mostraram favoráveis às tendências de uso do fruto. Foi evidenciado o papel
fundamental da divulgação de informações sobre os benefícios nutricionais do fruto e as
práticas de consumo. Aspectos considerados de grade relevância foram as expressões de que a
pupunheira é como “um milho tropical que não mexe no solo e produz muito” e de que a
“divulgação das propriedades e o uso do fruto será uma fonte de renda e de alimento para os
agricultores familiares”.
CARACTERÍSTICAS DA PUPUNHA
Nesta oportunidade se fará referência à pupunha de origem Yurimáguas, Peru,
largamente plantada no Brasil para produção de palmito, predominantemente na região sul
baiana e caracterizada por Clement, (1988) e Mattos Silva, (1992) como “raça mesocarpa”.
Segundo Silva e Vieira (2008), as pupunheiras dessa população, apresentam as seguintes
características: número médio de cachos por touceira - 8 ( 2 - 20); peso médio de cacho - 2,7
kg (0,3 – 12,7 kg); número médio de frutos férteis/cacho - 59,7 (3 – 382); nº médio de frutos
partenocárpicos/cacho - 38 (1 - 356), apresentando maturação predominantemente tardia; peso
médio de fruto fértil – 41,1 g (4,6 – 97,5 g), diâmetro máximo médio de fruto fértil - 3.8 cm (
0,4 - 5.4 cm);comprimento médio de fruto fértil - 4.9 cm (2,6 - 6.3 cm);diâmetro máximo
médio fruto parte - 2.6 cm ( 1,5 - 4.8 cm) comprimento médio de fruto partenocárpico. – 4,2
cm ( 1,4 - 5.7 cm); peso médio de fruto partenocárpico, 16,8 g (1 – 53 g). O fruto é uma
drupa, de mesocarpo de cor creme a laranja, raramente branca.
Por ser uma cultura perene e alta
produção de frutos por hectare, a pupunheira
se torna uma espécie com potencial de
competir no mercado com outras espécies
tradicionalmente utilizadas como fonte de
alimento e de ração, a exemplo do milho,
sorgo e trigo. Em um sistema de cultivo bem
manejado é possível produzir-se mais de 25,0 t
de frutos/ha.
PROPRIEDADES NUTRICIONAIS DA PUPUNHA
A pupunha é uma importante fonte de βcaroteno altamente biodisponível, isto é,
facilmente absorvido pelo corpo humano, apresentando grande potencial para a indústria
alimentícia nacional (YUYAMA, et al.,1999), conforme análises realizadas por vários
autores, como demonstradas na Tabela 1.
Tabela 1. Vitaminas presentes no mesocarpo de pupunha (em 100 gramas mesocarpo fresco).
AUTOR
CAROTENO
NIACINA
(mcg)
VIT. C
(mcg)
RIBOFLAVINA
(mcg)
TIAMINA
(mcg)
Johannessen
(1967)
315 mcg
0,12
1,19
-
-
I.N.N. (1959 )
7300 I.U.
0,9
20,0
0,11
0,04
Leung &
Flores (1961)
670 mcg
1,4
35,0
0,16
0,05
Arkcoll &
Aguiar (1984)
0 – 70 mg
-
-
-
-
Fonte: (CLEMENT & ARKCOLL, 1991).
Embora a quantidade de proteína na pupunha não seja alta, é considerada como boa
fonte desse recurso devido ao seu valor nutritivo, por apresentar todos os aminoácidos
essenciais na sua cadeia.
O óleo da pupunha é de excelente qualidade e contém maior quantidade de ácidos
graxos insaturados, 53 a 77%, do que o óleo de dendê (Elaeis guineensis), (CLEMENT, 2000)
porém é similar ao óleo do caiaué (Elaeis oleifera) que está sendo usado para melhorar a
qualidade de óleo de dendê (CLEMENT, 1988) cujas características podem fazer do fruto da
pupunheira, um produto com imenso valor de mercado e de grande valor na segurança
alimentar (ZUMBADO e MURILLO, 1984). A riqueza nutritiva da pupunha pode ser
observada na Tabela 2, nas análises químicas realizadas por vários autores.
Tabela 2. Composição química do mesocarpo do fruto de pupunha (% peso seco).
AGUA PROTEINA OLEO CARBOIDRATO FIBRA CINZAS
AUTOR
Piedrahita &
49,8
9,8
11,5
73,7
2,8
2,4
Velez (1982)
Arkcoll &
Aguiar (1984)
55,7
6,9
23,0
59,5
9,3
1,3
CIPRONA
(1986)
56,7
6,1
8,3
79,9
3,6
2,1
Fonte: (CLEMENT & ARKCOLL, 1991).
Silva et al. ( 2006) encontraram os seguintes resultados nas análises da composição química
dos frutos de origem Yurimaguas, Peru: teor médio de gordura de 12,4 %, ( 2,7 a 50,7%);
teor médio de amido de 28 %, ( 9 a 63,5%); teor médio de proteína de 5,1%, ( 3,1 a 12 %);
teor médio de cinza de 2 %, (0,2 a 4,5 %). A larga amplitude demonstrada nos dados reflete
a alta variabilidade genética da pupunha cultivada, inferindo que é possível obter progênies
com altos teores de determinado componente, sendo necessário apenas que se realize
trabalhos de seleção para a qualidade pretendida.
Nos estudos realizados por Silva et al., (Dados serão publicados no I Simbrap, 2011), com
farinha de pupunha torrada em casa de farinha-de-mandioca, foram encontrados os seguintes
resultados (Tabelas 3 e 4):
Tabela 3. Composição química da farinha de pupunha
Variáveis
Pupunha crua
Pupunha Cozida
Farinha
mandioca
5,7
5,9
5,1
3,9
2,9
1,5
25,6
25,0
76,1
7,3
8,4
0,5
9,8
1,6
2,6
Fonte: Laboratório de Tecidos Vegetais do Cepec, 2010
pH
Proteína %
Amido %
Óleo %
AST %
Tabela 4. . Macro e micro minerais na farinha de pupunha
g.kg-1
Características
Pupunha crua
Pupunha cozida
N
6,2
4,7
P
0,9
0,8
mg.kg-1
K
Ca
Mg
Fe
Zn
Cu
Mn
6,4
0,8
0,7
21,6
68,9
30,0
8,7
4,9
0,5
0,4
19,6
91,8
27,9
8,4
Fonte: Laboratório de Tecidos Vegetais do Cepec, 2010
POTENCIALIDADE DE USO DOS FRUTOS
Nos estudos realizados por Salas & Blanco (1990), com alimentação de crianças entre
4 e 10 meses de idade, concluíram que a pupunha representa uma alternativa de alto valor
energético no preparo da alimentação infantil devido à sua riqueza em energia, proteína,
cálcio, fósforo, tiamina, vitamina C e principalmente retinol, que é o nutriente mais deficiente
na dieta infantil sendo que 100 gr desse alimento, contribui com 20% das calorias e 13% das
proteína que a criança necessita diariamente. De acordo com Clement e Mora Urpi, (1987), o
fruto da pupunha pode ser usado como substituto do milho na alimentação humana e animal.
Murillo & Zumbado (1990) e Murillo (1991), indicam a substituição parcial do milho
no fabrico de ração para aves de corte e galinha poedeira, podendo substituir totalmente o
fubá de milho também na ração de alevinos de tambaquis (MORI-PINEDO et al, 1999).
Experiências realizadas Bourrillón et al. (1991) concluíram que a adição de pupunha
melhora a qualidade e o processo fermentativo de ensilagem com o pasto gigante (Pennisetum
purpureum), especialmente a 32% na matéria fresca podendo ser portanto, uma alternativa
para melhorar a produtividade dos ruminantes nas regiões tropicais.
A riqueza da pupunha em caroteno a torna também uma excelente fonte deste recurso
para uso em combustível, conforme descrito pelo método a seguir: Trata-se de um método e
composição para usar beta-caroteno estabilizado como melhorador de cetano em combustíveis
diesel hidrocarbonáceos. A presente invenção refere-se a um aditivo para combustível diesel
que inclui beta-caroteno estabilizado com 2,2,4-trimetil-6-etóxi-1,2-dihidroquinolina. O
aditivo pode ser adicionado a qualquer combustível de hidrocarboneto líquido, combustível de
hidrocarboneto sólido ou outro combustível hidrocarbonáceo para reduzir as emissões de
componentes indesejados durante a combustão do combustível, oferecer maior economia de
combustível, limpeza e/ou desempenho melhores do combustível (JORDAN e LAUB)
www.patentesonline.com.br
A farinha de pupunha obtida pelo processo similar ao da farinha de mandioca poderá
ser utilizada para alimentação de aves, alevinos, ovinos e até na alimentação humana, abrindo
uma grande possibilidade de aproveitamento do fruto em larga escala, de maneira fácil e
acessível a todos os produtores, especialmente para os agricultores familiares.
Essa farinha é obtida com frutos crus e com a casca, porém, artesanalmente tem-se
criado muitas receitas com a pupunha cozida e descascada, a exemplo de biscoito, pão,
mingau, bolo, entre outros, com grande aceitação e com possibilidades de alguns produtos se
destacarem como o vatapá, prato da culinária baiana que tem o dendê entre seus
ingredientes, enquanto que no de pupunha não é necessário por causa do óleo e da coloração
da massa, portanto, ideal para quem tem intolerância ou não aprecia o dendê.
Outro ponto positivo da pupunha para uso em confeitarias e panificadoras, é a
ausência de glúten na sua composição, abrindo oportunidade de aproveitamento da farinha
nas dietas das pessoas alérgicas ou celíacaas. É necessário, no entanto, desenvolver
equipamento para descascar os frutos sem danificar as sementes que poderão ser utilizadas
em novos plantios.
FRUTO / PALMITO - ATIVIDADES QUE SE COMPLEMENTAM
Quando se fala em “pupunha” fora da sua região de origem, o pensamento leva
automaticamente ao palmito, por ser o produto de valor econômico mundialmente conhecido,
cujo título de maior produtor e consumidor mundial é do Brasil que já foi também o maior
exportador mundial, hoje dominado pelo Equador e Costa Rica, que cultivam palmito
pupunha.
O agronegócio palmito é uma atividade nova, apesar da industrialização do palmito ter
sido iniciado em 1949, no litoral do Paraná e ter sido produto de exportação desde 1960. Mas
até 1990 essa atividade era predominantemente alimentada pelo extrativismo da juçara
(Euterpe edulis Mart) e do açaí (Euterpe oleracea Mart) (RODRIGUES e DURIGAN, 2007).
Com a divulgação dos trabalhos de pesquisas realizados na Costa Rica com o palmito
pupunha surgiu um novo paradigma na atividade palmiteira, e o palmito passou a ter status de
produto agrícola.
Vários estados brasileiros deram inicio a programas de fomento à produção de
palmito pupunha, porém, a Bahia e São Paulo, se destacam atualmente como maiores
produtores nacionais (RODRIGUES e DURIGAN, 2007).
Especialmente na Bahia, em 20/09/2001, foi assinado o Protocolo de Intenções da
Cadeia Produtiva do Palmito, surgida da integração entre o segmento privado e o Governo do
Estado com meta de se plantar 8.000 ha de pupunheira, atraindo para a região sul da Bahia,
duas grandes empresas equatorianas associadas a empresas brasileiras. Houve um estímulo ao
plantio, com a garantia de venda do produto para essas agroindústrias instaladas na região. O
Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, do Governo Federal, planejou a
implantação de 9.600 ha de pupunha para palmito em 6 anos, porém não houve incentivos
para sua implementação.
A expansão dos cultivos baianos, entretanto, está prejudicada pela escassez de
sementes de pupunheira sem espinhos, sendo os interessados obrigados a internalizar
sementes de Rondônia, Acre e outros estados do Norte do Brasil ou até mesmo importar do
Peru, que além de onerar o custo da muda, traz principalmente, o risco de entrada da
monilíase na Bahia, praga quarentenária ausente no Brasil, e muito importante na cultura do
cacau, presente no Equador, Colômbia, Venezuela e Peru.
Para regulamentar a importação de sementes de pupunha, o MAPA emitiu a Instrução
Normativa nº 26 registrado no Diário Oficial de 22 de abril de 2002. A grande demanda por
sementes, sua alta cotação no Brasil e a falta de fiscalização nas fronteiras, no entanto,
estimulam o mercado clandestino de sementes, o que dificulta o atendimento às normas
governamentais vigentes. Mesmo existindo alguns importadores de sementes credenciados, é
difícil precisar a qualidade das sementes que chegam ao Brasil.
Diante dessa situação, é necessário buscar mecanismos para solucionar o problema da
escassez de sementes, preservando a região do risco de entrada da moniliase do cacaueiro e
outras pragas quarentenárias sem, no entanto, inviabilizar o Agronegócio Palmito Pupunha.
Importância do Fruto para a expansão do Palmito
Um dos encaminhamentos propostos na Reunião Técnica sobre Sementes de Pupunha
(Ceplac, 2010), onde se reuniram representantes da Cadeia Produtiva do Palmito Pupunha da
Bahia, Fiscais da defesa fitossanitária Estadual e Federal, e fornecedor de sementes pupunha
do Espírito Santo, foi buscar a auto-suficiência na produção de sementes na Bahia,
estimulando a implantação e cadastramento no RENASEM de campos de produção de
sementes na região e divulgar através de publicações, palestras e dias de campo a riqueza
nutritiva e as possibilidades de utilização dos frutos como produto alimentício.
Com o aumento da oferta de frutos espera-se atrair empreendedores da área de
alimentação para processamento e aproveitamento da polpa para uso humano e animal, cuja
produtividade supera 15 T por hectare sendo um potencial substituto do milho nesse setor. A
pupunheira apresenta vantagens em relação ao milho, por ser perene e ter alta produtividade
enquanto o milho é anual, e a produção não atende a demanda do mercado interno que
depende da produção e conseqüentemente, dos preços dos Países produtores, principalmente
Argentina e Estados Unidos.
Concomitante à produção de frutos, serão produzidas as sementes que a preço de hoje,
na região, varia de R$25,00 a R$35,00 o quilo. A madeira do estipe é outro subproduto que
poderá agregar renda à atividade por se tratar de uma madeira de grande beleza, alta
resistência e densidade, podendo ser usada em artesanato e fabricação de móveis, a um custo
já embutido no manejo do fruto, que indica a renovação do plantio a partir de 8 a 10 anos,
quando a altura do estipe dificulta a colheita dos frutos, implicando no corte e remoção do
estipe da área. O custo real será apenas o do transporte do produto até uma serraria ou
marcenaria mais próxima. A Fibra Design, uma empresa que processa essa madeira, paga hoje
R$10,00 por 01 metro de estipe.
Portanto, diante do exposto fica evidente a importância do fruto para a expansão do
palmito, para a segurança alimentar e para o desenvolvimento sustentável das regiões
produtoras.
REFERENCIAS
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Perspectivas do fruto Pupunha Como Produto de Valor