6ª aula Sumário: Energia cinética de uma partícula. Conceito físico de trabalho. Trabalho de forças constantes. Trabalho da força gravítica. Em geral, chamamos trabalho a qualquer actividade de natureza muscular ou intelectual que exija esforço. Transportar sacos de batatas é trabalhar. Estudar é também trabalhar! Em Física, a palavra "trabalho" utiliza-se com um significado próprio, embora relacionado com o sentido comum da palavra. Trabalho é uma forma de transferir energia. Para realizar trabalho é necessário que uma força desloque o seu ponto de aplicação. O trabalho está sempre associado a uma força e por isso se diz muitas vezes “trabalho de uma força”. Nesta aula vamos introduzir o tema trabalho mas antes, porém vamos recordar um outro conceito − o de energia cinética − já conhecido dos ensinos básico e secundário. Energia cinética de uma partícula Tomemos um objecto que possa ser considerado uma partícula. Uma bola, por exemplo, cuja estrutura não interessa quando estudamos o seu movimento de translação (Fig. 6.1). Figura 6.1 A partícula possui energia pelo simples facto de estar em movimento. Esse tipo de energia é designado por energia cinética. Todos os corpos em movimento possuem energia cinética. Recorda-se que a energia cinética já apareceu no ensino básico. Se designarmos a massa da partícula por m e o valor da sua velocidade por v, a energia cinética é metade do produto da massa pelo quadrado da velocidade: Ec = 1 2 mv . 2 (6.1) 1 Por vezes, na linguagem do dia a dia usam-se os termos “energia” e “velocidade” com o mesmo significado. A expressão (6.1) mostra bem como isso é errado! As duas grandezas estão relacionadas mas não se devem confundir. No SI a unidade de energia (cinética ou de outro qualquer tipo) é o joule (símbolo J). Conceito físico de trabalho Vejamos a experiência seguinte. Um carrinho está num plano horizontal preso a um fio, que passa por uma roldana ligada a um pequeno motor eléctrico. Quando se liga o motor, o fio começa a enrolar e o carrinho desloca-se sob a acção da força horizontal constante F que o puxa (supomos que não há atrito entre o carrinho e a mesa) − ver Fig. 6.2. Claro que, além desta força, há outras duas forças: o peso e a reacção normal da mesa sobre o carrinho. Mas estas duas forças equilibram-se, como na Fig. 3.3 (b), e não as representamos. F motor eléctrico Figura 6.2 Sob a acção da força constante F o carrinho adquire um movimento com aceleração constante, ou seja, um movimento uniformemente acelerado (2ª aula). À medida que o carrinho se desloca sobre a mesa, o módulo da sua velocidade, v, vai aumentando. E se a velocidade aumenta, também a energia cinética aumenta, como é evidente da Eq. (6.1). Fisicamente, o aumento da energia do carrinho significa que está a ocorrer para ele uma transferência de energia. Essa transferência de energia será tanto maior quanto maior for a força. Por outro lado, tal transferência será tanto maior quanto maior for a distância percorrida. A transferência de energia que está a ocorrer mais não é do que o trabalho realizado pela força, o qual depende então dos seguintes dois factores: - intensidade da força - deslocamento do seu ponto de aplicação. Trabalho de forças constantes Na situação da Fig. 6.2 a força é constante e o deslocamento tem a mesma direcção e sentido da força. Nestas condições define-se trabalho, que se representa por W, da seguinte maneira: W = F ×d (6.2) O trabalho tem a dimensão da energia e portanto, no SI é expresso em joules. 2 A força com a direcção e o sentido do movimento promove a transferência de energia para o sistema. E se a força actuar em sentido contrário? Vejamos o seguinte exemplo. O carrinho da Fig. 6. vai animado de uma certa velocidade (para a direita), quando sobre ele passa a actuar uma força constante mas de sentido oposto à velocidade (para a esquerda, portanto). O carrinho continua a deslocar-se para a direita, mas vai diminuindo a sua velocidade e acabará por parar. O efeito da força é, neste caso, diminuir a velocidade do carrinho, ou seja, diminuir a sua energia cinética. A força também realizou trabalho mas agora esse trabalho teve por consequência transferir energia para fora do sistema. Figura 6.2 O trabalho realizado por uma força constante com a mesma direcção do deslocamento mas sentido oposto a este é dado por W = −F × d . (6.3) Vimos dois casos especiais de realização de trabalho. Há uma outra situação que importa considerar, que é a que ocorre quando a força é perpendicular ao deslocamento. Ora, uma força com essa característica não faz aumentar nem diminuir a velocidade da partícula, ou seja, não faz variar a sua energia cinética e, portanto, o trabalho realizado é nulo: W = 0 (se força e deslocamento forem perpendiculares). Um exemplo que pode ser dado é o do movimento circular uniforme. A partícula descreve uma trajectória circular com velocidade linear constante. A força que sobre ela actua (força centrípeta) é uma força, de grandeza constante, que aponta para o centro da trajectória. Como a força é sempre perpendicular ao deslocamento 1 o trabalho realizado pela força é nulo (Fig. 6.3). F Figura 6.3 1 Devemos considerar deslocamentos infinitesimais para que se possam considerar segmentos de recta. 3 Qual é o trabalho realizado quando a força − que continuamos a considerar constante − desloca o seu ponto de aplicação segundo uma direcção que não é a da própria força? Ora, podemos sempre imaginar a força decomposta em dois vectores: um que tem a direcção do deslocamento e outra perpendicular. Acabámos de ver que a componente da força na direcção perpendicular não realiza trabalho. O contrário se passa com a componente na direcção do deslocamento. Essa componente é dada por F cos φ , sendo φ o ângulo que trajectória e força formam entre si (ver Fig. 6.4). O trabalho realizado é, então, o produto de F cos φ pelo deslocamento. A φ F d B Figura 6.4 Considere-se uma partícula que se desloca de A para B sujeita, entre outras, à força F . O trabalho realizado ao longo da trajectória por essa força é W = F d cos φ . (6.4) Repare-se que esta expressão, mais geral do que as anteriores, contém os casos já estudados: se força e deslocamento têm a mesma direcção e sentido, φ = 0 e a Eq. (6.4) reduz-se à Eq. (6.1); se têm a mesma direcção mas sentidos opostos, φ = π e obtém-se a Eq. (6.2); finalmente, se a força e o deslocamento forem perpendiculares, φ = π / 2 e, portanto, cos φ = 0 , pelo que o trabalho é nulo. Trabalho da força gravítica Numa região limitada da superfície da Terra, o peso pode ser considerado constante (porque a aceleração da gravidade, g, pode ser considerada constante). O peso ou força gravítica é o produto da massa do corpo pela aceleração da gravidade no local, e aponta “para baixo” (ver Fig. 6.5). Qual o trabalho do peso quando desloca o seu ponto de aplicação? Analisemos três situações particularmente simples quando: a) o corpo é deslocado, na vertical, do ponto A para B; b) o corpo é sobe, na vertical, de B para A; o corpo é deslocado de A para C, sendo o deslocamento horizontal. 4 y A A P A P h B C P B (a) (b) (c) Figura 6.5 Em cada uma das situações referidas o trabalho é, por aplicação da expressão (6.4), W(a ) = mgh (força e deslocamento no mesmo sentido) (6.5) W(b ) = − mgh (força e deslocamento em sentidos opostos) (6.6) W(c ) = 0 (força e deslocamento em direcções perpendicu lares) (6.7) 5