As organizações não governamentais de
ambiente (ONGA’s) em Portugal
Arminda do Paço
Junho, 2004
Texto para Discussão – Nº M – 15/2004
DEPARTAMENTO DE GESTÃO E ECONOMIA
Ficha Técnica
Director
José Alberto Fuinhas
Secretariado
Elisabete Saraiva Ramos
Conselho Editorial
José Alberto Fuinhas
Paulo Maçãs Nunes
Zélia Serrasqueiro
Colaboradores
João Leitão
Composição e Impressão
Departamento de Gestão e
Economia da
Universidade da Beira Interior
Estatuto Editorial
Os Textos para Discussão do DGE propõem-se disponibilizar, on-line,
trabalhos em fase avançada de elaboração, no âmbito da Gestão e da
Economia, desenvolvidos por docentes, investigadores, mestrandos,
doutorandos e docentes de outras universidades que sejam colaboradores do
Departamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior.
Está aberta a contribuições que utilizem métodos de investigação que se
enquadrem nas correntes de pensamento científico nas áreas da Gestão e da
Economia.
Normas para Publicação On-Line
Os trabalhos propostos para publicação deverão ter a aprovação de dois
doutorados do Departamento de Gestão e Economia da Universidade da
Beira Interior e um membro do Conselho Editorial.
Universidade da Beira Interior
Departamento de Gestão e Economia (DGE)
Pólo das Ciências Sociais e Humanas
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6200-209 Covilhã
PORTUGAL
TLF: 275319600 - FAX: 275319601
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(MKT_20) AS ORGANIZAÇÕES
(ONGA’S) EM PORTUGAL
NÃO
GOVERNAMENTAIS
DE
AMBIENTE
Arminda Maria Finisterra do Paço
Universidade da Beira Interior
Departamento de Gestão e Economia
Estrada do Sineiro
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RESUMO: Como resultado do aumento das preocupações com o ambiente, a uma escala global,
e das inúmeras campanhas levadas a cabo pelos meios de comunicação a denunciar catástrofes
ambientais, tem-se verificado um aumento e uma proliferação de grupos ambientalistas. Estes
grupos começaram a organizar-se constituindo as designadas Organizações Não Governamentais
de Ambiente (ONGA’s). Em Portugal merecem destaque a LPN (Liga para a Protecção da
Natureza), a GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) e a Quercus
(Associação Nacional de Conservação da Natureza). É precisamente o caso da Quercus que
servirá para ilustrar a importância da comunicação para as ONGA’s “atingirem” os seus públicos
alvo.
PALAVRAS-CHAVE: Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA), Marketing
Ambiental
1. INTRODUÇÃO
Durante as últimas décadas, o Mundo tem vindo a assistir a um crescimento dramático de
campanhas que focam os efeitos da deterioração ambiental (Sand, 1990). Estas campanhas,
normalmente, apelam à protecção e conservação do ambiente e já começaram a influenciar as
atitudes e comportamentos dos consumidores.
A combinação do aumento das preocupações com os problemas ambientais a uma escala global e
o aumento da pressão por parte dos grupos ambientalistas fez com que os media voltassem a sua
atenção para esta temática (Johri e Sahasakmontri, 1998; Mackoy et al., 1995; Strong, 1996;
Zimmer et al., 1994). Por sua vez, no domínio do marketing, esta tendência também teve os seus
reflexos (McDonagh e Prothero, 1997; Polonsky, 1994).
As preocupações ambientais que começaram a ser mais sentidas na década de 70, logo
amainaram em virtude das inúmeras iniciativas legislativas destinadas a corrigir alguns
problemas, como o da emissão de gases tóxicos para a atmosfera por parte das empresas. Mas no
final da década de 80, inúmeros desastres ambientais, como a descoberta do buraco na camada de
ozono e a pressão exercida por organizações como a Greenpeace e Friends of the Earth
colocaram o ambientalismo novamente em evidência (Frers, 2003; Carrigan e Attalla, 2001;
Titterington et al., 1996; Vastag et al., 1996).
1
No contexto internacional, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente, levada a cabo em
Estocolmo, em 1972, colocou a questão ambiental na agenda mundial e abriu o debate acerca dos
seus parâmetros. Nesta conferência foi promulgada a Declaração Internacional sobre o
Ambiente, onde foi estabelecida a base sobre a qual deveriam assentar alguns dos pilares
essenciais para manter o planeta como um local adequado à sobrevivência humana. A Declaração
de Estocolmo desembocou, vinte anos depois, na Declaração do Rio (Eco 92), donde se definiram
os direitos e responsabilidades das nações visando o progresso e o bem-estar da humanidade
(Frers, 2003).
Em 1983, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu a Comissão Mundial sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, com o objectivo de analisar as necessidades a uma escala
mundial, no que respeita à gestão do meio ambiente, e propor estratégias a longo prazo de modo a
conduzir a um desenvolvimento sustentável (Revista Portuguesa de Marketing, 1997).
Os defensores do movimento ambientalista passaram a conseguir a atenção e o respeito de vários
grupos de interesse (Polonsky, 1995). As preocupações ambientais surgiram da parte dos
governos nacionais, da União Europeia (UE), da indústria e dos consumidores. O governo do
Reino Unido foi dos primeiros a responder aos novos desafios ambientais, através da publicação
de uma legislação que englobava estratégias na área ambiental e aceitando o “princípio do
pagador poluidor” (Roarty, 1997). Muita da legislação introduzida foi adoptada das directivas
Europeias. A legislação ao nível da UE foi além das tradicionais preocupações de controlo da
poluição, estendendo-se para áreas como a agricultura, transportes e comercialização de
determinados produtos (McDonagh e Prothero, 1997).
As acções, no âmbito das políticas ambientais, no seio da UE, têm sido inúmeras desde a década
de 70, altura em que foram criados quatro planos de acção para o ambiente (Pearce, 1991). Foi,
no entanto, com o Tratado de Maastricht, em 1992, que foi introduzido formalmente o conceito
de desenvolvimento sustentável 1 na legislação da União, assim como foram reforçadas as
preocupações com a protecção do ambiente com o objectivo de definir uma verdadeira política
comum (Coelho et al., 2002; Mintu-Wimsatt e Lozada, 1996a). Entretanto, foi adoptado o 5º
Programa de Acção Ambiental pela Comissão Europeia que parece focar-se mais no
desenvolvimento económico sustentável (Mintu-Wimsatt e Lozada, 1996b).
Em Portugal, contrariamente ao que sucedeu noutros países, a preocupação com as questões
ambientais surgiu mais tarde (Rodrigues, 2000; Lima e Schmidt, 1996; Mansinho e Schmidt,
1994). A adesão à Comunidade Europeia em 1986 e o “Ano Internacional do Ambiente” em 1987
marcaram o início de uma discussão mais séria sobre as questões ambientais. O debate, em 1987,
anunciou publicamente as estratégias e as preocupações com a conservação da natureza e os
problemas ambientais como o ordenamento paisagístico, a desertificação, a erosão dos solos,
entre outros. Nos anos 90, o ambiente instalou-se definitivamente como “preocupação” na
opinião pública Portuguesa, proliferaram decretos e foram adaptadas algumas directivas
Europeias.
1
Conceito popularizado pelo relatório Our Common Future de 1987 que postulava que a prosperidade futura do
planeta dependeria da preservação do “capital natural” (Word Commission on Environment and Development,
1987).
2
Neste artigo procurar-se-á fundamentar a importância do marketing ambiental e examinar de que
forma as ONGA’s podem contribuir para o aumento da consciencialização dos indivíduos em
relação às questões ambientais, através, por exemplo, das suas acções de comunicação/promoção.
O caso da Quercus, servirá para ilustrar esta situação.
2. DO MARKETING SOCIAL AO MARKETING AMBIENTAL
A questão da responsabilidade social surgiu no âmbito do estudo da gestão nos princípios dos
anos 70 (Fineman, 1996). No marketing, o conceito de responsabilidade social engloba aspectos
como o consumismo, a regulamentação, o marketing social e político e o ambientalismo
(Carrigan e Attalla, 2001) e assenta em duas ideias chave: a responsabilidade moral e ética dos
negócios e os benefícios para as empresas por serem conotadas como socialmente responsáveis
(Chousa e Castro, 2002; Carrigan e Attalla, 2001; Peattie, 1992; Smith, 1988).
Apesar do marketing social se ter tornado um conceito importante para a disciplina de marketing
desde a década de 70 (Kotler e Zaltman, 1971), as preocupações crescentes com o ambiente
conduziram a um novo debate à volta do marketing social e do papel da função de marketing nos
anos 90 (Prothero e McDonagh, 1992). A partir do momento em que os aspectos ambientais
passaram a ser matéria de preocupação a uma escala global, os produtores deixaram de poder
ignorar o impacto das suas actividades na sociedade ou no ambiente (Karna et al., 2002; Smith,
1990).
O marketing social aplica os conceitos e as técnicas do marketing tradicional para fomentar
mudanças de comportamento benéficas à sociedade (McKenzie-Mohr, 2000; Kotler e Andreasen,
1996; Kotler e Zaltman, 1971). Por sua vez, o marketing ambiental estende o conceito de
marketing social de modo a abranger o aumento do interesse e da preocupação da sociedade e do
indivíduo em relação ao ambiente natural (Kimery e Rinehart, 1998; Prothero, 1990; Abratt e
Sacks, 1988).
Segundo Stanton et al. (1991), o conceito social do marketing implica que se tenha em conta dois
aspectos fundamentais: incluir no mercado da empresa não só os compradores do produto, mas
também todos aqueles que podem ser afectados, de algum modo, pelas actividades da empresa; e
procurar a satisfação do cliente a longo prazo, ao invés do curto prazo, o que significa ter também
em conta as necessidades sociais dos clientes. Assim, este aspecto social do marketing exige a
adaptação a novos contextos, como sejam a preocupação e consciencialização crescente dos
consumidores perante os problemas ambientais.
O conceito de marketing social pode ser definido como “a aplicação dos conceitos e técnicas de
marketing a várias ideias e causas sociais, em vez de aplicados a produtos e serviços no sentido
comercial” (Fox e Kotler, 1980:25). Esta definição inclui implicitamente conceitos como a
preservação, conservação e protecção do ambiente físico, como uma componente do marketing
social (Lozada e Mintu-Wimsatt, 1995).
Arizón (1996) acredita, portanto, que o marketing social pode contribuir para a melhoria do
ambiente, já que este estimula e facilita a aceitação de ideias ou comportamentos sociais
benéficos para a sociedade. Por outro lado, trata de moderar ou desincentivar ideias e
3
comportamentos prejudiciais. Consequentemente, o marketing social pode estimular e facilitar a
aceitação da ideia de protecção e respeito perante o meio envolvente e desincentivar acções que
prejudiquem o mesmo.
3. AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS DE AMBIENTE (ONGA’s)
3.1. CONCEITO
Uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) 2 é uma associação dotada de
personalidade jurídica, constituída nos termos da lei geral que não prossiga fins lucrativos, para si
ou para os seus associados, e vise, exclusivamente, a defesa e valorização do ambiente ou do
património natural e construído, bem como a conservação da natureza (Instituto do Ambiente,
2003).
As ONGA’s podem gozar do direito de representação, gozando de estatuto de parceiro social.
Para esse efeito as ONGA’s são classificadas em organizações de âmbito nacional, regional ou
local em função do número de associados inscritos e consoante o interesse das actividades que
desenvolvam ou a área do território natural em que desenvolvam a sua intervenção. Podem ser
equiparadas a ONGA’s as associações que, não visando exclusivamente a defesa e valorização do
ambiente, tenham como área de intervenção principal o ambiente, o património natural e
construído ou a conservação da natureza (Instituto do Ambiente, 2003).
As entidades ambientalistas ou ONGA’s são um sistema de organizações da sociedade civil que
têm vindo a desempenhar um papel importante na definição da política ambiental. Estas
organizações representam uma espécie de “consciência” ou reserva cívica, que garante a
resistência à política quando necessário ou a manutenção de ideias importantes (Costa, 2003).
Contudo, as debilidades do movimento ambientalista, relacionadas com a capacidade de
mobilização e com a forma de relacionamento com outras instituições, têm dificultado a
formação de atitudes de contestação directa e de massas (Moura, 2003).
3.2. AS ONGA’s EM PORTUGAL
Apesar do “despertar tardio” para as questões ambientais, em Portugal, a primeira associação de
defesa do ambiente já havia surgido em 1948 sob a designação de LPN (Liga para Protecção da
Natureza) (Mozzicafredo, 1997). Esta organização, não governamental, de âmbito nacional, sem
fins lucrativos e com o estatuto de Utilidade Pública, tem como principais objectivos a
conservação do património natural, da diversidade das espécies e dos ecossistemas. As suas
principais actividades são: a educação/formação ambiental (cursos, palestras, exposições,
organização de passeios na natureza), a intervenção directa em causas ambientais (nacionais e
internacionais) e a elaboração e colaboração em projectos de conservação e investigação (Alho,
2003).
2
Legislação aplicável em Portugal: Lei n.º 35/98, de 18 de Julho, que define o estatuto das organizações não governamentais de Ambiente (revoga
a Lei n.º 10/87, de 4 de Abril).
4
Com a entrada na UE (União Europeia) e com o sistema político e económico mais estabilizado,
a partir de 1986 o papel do movimento ambientalista passa a ser mais consistente. Em 1997 foi
criada a Lei de Bases do Ambiente e a Lei das Associações de Defesa do Ambiente. Três
associações destacam-se nesta altura: a LPN (Liga para Protecção da Natureza é renovada), a
GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) e a Quercus (Associação
Nacional de Conservação da Natureza) (Croal, 2000).
As grandes organizações nacionais (LPN, Quercus e Geota) apresentam uma grande
permeabilidade à institucionalização, força de uma tradição que agrupou nas suas direcções um
grande número de especialistas ligados ou não ao meio académico. Como crítica, Moura (2003)
aponta o facto de, muitas vezes, as questões sociais serem “algo estranhas” aos grupos
ambientalistas, levando à existência de contradições sociais mesmo sobre a análise das questões
de ambiente e desenvolvimento.
Para o autor, o aparente bloco de coesão formado por estes grupos não é fruto de uma coerência
ideológica interna, mas sim reflexo da identificação do desconhecimento e resistência por parte
de outros movimentos sociais à importância da preservação do ambiente.
Entretanto surgiram outras associações ambientalistas 3 como a GERA (Grupo de Estudos de
Recursos do Ambiente), a GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental), a EcoNatura
(Associação para Defesa do Ambiente), a Farol Terra (Associação Portuguesa de Estudantes pelo
Ambiente), entre outras. Em 1982 nasceu o partido político ecologista “Os Verdes”4 (com a então
denominação de “Movimento Ecologista Português”) da vontade de um grupo de cidadãos de
promover uma intervenção ecologista mais activa na sociedade Portuguesa e alertar a opinião
pública para os desafios ecológicos e problemas do ambiente.
No que respeita à relação dos Portugueses com as ONGA’s, estes parecem demonstrar bastante
simpatia por este tipo de organizações, como revelou o I Inquérito Nacional: Os Portugueses e o
Ambiente. No entanto, esta simpatia, não se traduz através dos diferentes modos de participação.
Mesmo assim, o ambiente revela-se uma das áreas onde os modos de participação “activa”, como
a participação em manifestações ou reuniões, assumem maior importância (Almeida, 1999).
No que respeita ao conhecimento de associações ambientalistas, 62% dos inquiridos refere ter
conhecimento da sua existência, enquanto que os restantes (28%) não conhecem ou não
sabem/não respondem (10%). Quando se solicita aos 3.300 inquiridos que indiquem quais as
ONGA’s Portuguesas que conhecem, a resposta mais citada é a Quercus (23%), seguida dos
Amigos da Terra, da GEOTA e das Associações locais.
No II Inquérito Nacional: Os Portugueses e o Ambiente, a tendência de participação cívica,
relativamente ao ambiente, mantêm-se. Verifica-se que os níveis de militância são irrisórios,
assim como a subscrição de abaixo-assinados e/ou participação em sessões públicas organizadas
por estas organizações (Almeida, 2001).
3
http://www.ajc.pt/gera/links.php3 em 18/11/2003
4
http://www.osvesdes.pt/public_html/index2.html em 20/11/2003
5
Em 2002, as ONGA’s tiveram no sector privado (famílias e empresas) a sua principal fonte de
associados. Do total de associados do país, cerca de 83% estavam concentrados na região de
Lisboa e Vale do Tejo. Relativamente à afectação das actividades no domínio do ambiente, as
acções de “Protecção da biodiversidade e da paisagem” e “Gestão de resíduos” foram as mais
relevantes (INE, 2003).
4. UM ESTUDO DE CASO – A QUERCUS
4.1. APRESENTAÇÃO DA ONGA5
A Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) foi fundada a 31 de Outubro de
1985. É uma associação independente, apartidária, de âmbito nacional, sem fins lucrativos e
constituída por cidadãos que se juntaram em torno do mesmo interesse pela conservação e
preservação da natureza e dos recursos naturais e na defesa do ambiente em geral. Age tendo em
vista uma perspectiva de desenvolvimento sustentado.
Desde a sua fundação, a Quercus tem vindo a ocupar na sociedade portuguesa um lugar de
destaque na defesa das múltiplas causas da natureza e do ambiente.
Este estatuto foi progressivamente conquistado através de uma conduta atenta às realidades
nacionais e internacionais. Contribuíram também para o reconhecimento da sua importância o
facto desta ONGA ter sempre como ponto de referência fundamental os princípios para os quais
foi criada, e o facto de denunciar publicamente os problemas e levar a cabo um esforço para a
construção de consensos na sociedade Portuguesa.
Um aspecto que caracteriza a Quercus é a sua descentralização. Esta associação tem vários
núcleos regionais espalhados por todo o país, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da
Madeira.
Na fase inicial de criação da Quercus, as actividades de conservação foram preponderantes na
acção da associação. Numa fase posterior, o trabalho da associação diversificou-se e a
intervenção da associação alargou-se à qualidade do ar e transportes, aos resíduos, à problemática
dos recursos hídricos e a todos os outros domínios que se relacionam com a problemática
ambiental e com o desenvolvimento sustentável.
A associação encontra-se agora a dar de novo uma grande relevância à área de intervenção da
conservação da natureza e aponta como razão fundamental a perda de biodiversidade à escala
global e nacional. Neste sentido, a Quercus decidiu criar o Fundo Quercus para a Conservação da
Natureza (FCN), como instrumento de apoio à sua actividade nesta área, aumentando a
capacidade de intervenção da associação.
O objectivo geral do Fundo Quercus Para a Conservação da Natureza visa o desenvolvimento de
actividades que garantam a angariação de fundos para suportar projectos de conservação da
Natureza que possam vir a ser apresentados pelas diversas estruturas da associação Quercus.
5
Informação recolhida através do site http://quercus.sensocomum.pt/ em 02/01/2004
6
4. 2. A COMUNICAÇÃO DA QUERCUS
Neste ponto far-se-á referência às estratégias e formas de comunicação utilizadas pela Quercus,
visto ser este o elemento do composto de marketing que no qual a organização tem apostado mais
para “atingir”os seus públicos alvo. Antes, convém aqui tecer algumas considerações no que
respeita à comunicação ambiental.
A comunicação sustentável é um processo social interactivo de esclarecimento que pode ocorrer
entre uma organização e os seus públicos. Através de comunicações de marketing ambiental, a
organização constrói relações de confiança e promove a formação de uma consciência ambiental.
Para McDonagh e Clark (1995), os principais princípios de uma comunicação sustentável são: a
confiança (reconstruir a confiança nas empresas e estabelecê-la na sociedade em geral), o acesso
(possibilidade dos públicos questionarem as empresas), a divulgação, o diálogo para consolidar a
credibilidade e a promoção.
A estratégia de comunicação representa um papel fundamental no aumento do nível de
conhecimentos necessários ao desenvolvimento e à consolidação de comportamentos
ambientalmente responsáveis (Obermiller, 1995). É através da comunicação que se proporciona
um valor agregado ao indivíduo: a informação (Díaz e Díaz, 2002).
A gestão do mix da comunicação ambiental envolve os seguintes elementos: a Publicidade, a
Promoção de Vendas, as Relações Públicas, a Força de Vendas e o Marketing Directo (Peattie e
Charter, 1997). No caso da Quercus, percebe-se uma tendência para a utilização mais frequente
da das relações públicas, da publicidade e do marketing directo.
Denota-se um esforço por parte da Quercus em promover eventos relacionados com o meio
ambiente, como é o caso das “Olimpíadas do Ambiente” As Olimpíadas do Ambiente destinamse a todos os alunos do 3º ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário do território nacional,
incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, e visam promover o conhecimento e
interesse pela temática ambiental nas suas múltiplas vertentes.
Normalmente também são organizados fins-de-semana de contacto com a natureza. Por exemplo,
nos passados dias 20 e 21 de Dezembro de 2003, a Quercus promoveu mais um fim-de-semana
de campo no Monte Barata, junto ao Tejo.
Outra das iniciativas levada a cabo, por esta ONGA, são as feiras de comércio justo. A Quercus e
a “Associação Reviravolta” uniram esforços para levar o comércio justo ao concelho de
Matosinhos. Durante todo o mês de Dezembro de 2003 esteve aberta ao público uma feira do
comércio justo com produtos alimentares, artesanato e têxteis, no Centro de Educação Ambiental
de Matosinhos.
A participação em vários projectos é também uma constante nas actividades da associação. Por
exemplo, no “Projecto Linhas Eléctricas e Aves”, a Quercus e a Sociedade Portuguesa para o
estudo das Aves (SPEA) iniciaram em Maio de 2003 o projecto “Estudo de impacto de linhas de
média e alta tensão na avifauna em Portugal”.
7
Um dos instrumentos mais relevantes de comunicação utilizado pela Quercus é a publicação
mensal de um jornal (“Quercus Ambiente”) que é enviado aos cerca de 4.000 sócios da
associação que assinam a publicação.
No que respeita às campanhas levadas a cabo pela Quercus, deixam-se aqui alguns exemplos.
A “Plataforma Sabor Livre”, formada pelas associações Quercus, LPN (Liga para a Protecção da
Natureza), Fapas (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), GEOTA (Grupo de Estudos
de Ordenamento do Território e Ambiente), Olho Vivo e SPEA (Sociedade Portuguesa para o
Estudo das Aves), uniram-se para defender a preservação do rio Sabor. O mote da campanha é
“Por um rio Sabor sem barragens!”.
Também é comum o patrocínio e a participação da Quercus em manifestações. Por exemplo, o
“Manifesto em Defesa do Parque Oriental”, uniu associações cívicas com actuação no concelho
do Porto: APRIL, Campo Aberto, Fapas, Grupo GAIA, NDMALO, Olho Vivo, Quercus e Terra
Viva, que subscreveram um Manifesto conjunto em defesa do Parque Oriental.
A Quercus também utiliza as ferramentas do web-marketing para divulgar inúmeras iniciativas e
notícias. Assim, a associação apostou fortemente na construção de um site institucional
(http://quercus.sensocomum.pt/), que possui inúmeros links. Um desses links remete para a “EcoAgenda” e pretende dar conhecimento de vários eventos relacionados de algum modo com o
ambiente. Por exemplo, divulgação de exposições, de feiras (caso da “III UrbaVerde - Feira dos
Profissionais dos Espaços Verdes e do Equipamento Urbano”), de acções de formação (caso do
“IV Curso de Formação Sobre Ruído”), de conferências e seminários (caso do “I Congresso
Ibérico de Estudantes de Biologia e III Congresso de Estudantes de Biologia ”).
De referir ainda que a Quercus, utiliza o comércio electrónico, tendo disponíveis na sua loja
virtual algumas publicações (por exemplo, guias de percursos pedestres de várias regiões
Portuguesas).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção de parcerias para o desenvolvimento sustentável pode ser um caminho para a
consolidação e desenvolvimento das ONG’s (Organizações Não Governamentais) em Portugal.
Existem agências ambientais, ONGA’s e agências governamentais que estão já a desenvolver
projectos que pretendem atingir objectivos ambientais. Por outro lado, também as iniciativas que
visam a alteração do comportamento dos produtores e consumidores podem ser desenvolvidas em
parceria, assim como campanhas educacionais.
Foi aqui apresentado o caso de uma associação que tem conseguido mobilizar e chamar a atenção
dos vários públicos para a problemática da degradação ambiental. Contudo, os níveis de
activismo dos Portugueses continuam a ser baixos, apesar da generalidade dos indivíduos se
mostrarem preocupados com o ambiente. É preciso não esquecer que a continuidade da acção das
ONGA’s depende fortemente da adesão dos indivíduos às causas por si defendidas.
8
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Textos para Discussão do DGE
(Textos on-line em http://www.dge.ubi.pt)
2004
Nº M-15/2004
As organizações não governamentais de ambiente (ONGA’s) em Portugal
- Arminda do Paço
Nº M-14/2004
Dificuldades das organizações no apoio a projectos culturais
- Elaine Assayag, Paula Gomes e Paulo Motta
Nº M-13/2004
O uso do Marketing nas organizações religiosas
- Maria Madalena Abreu
Nº M-12/2004
Análisis de la representatividad de las secciones electorales: Un estudio
longitudinal
- Félix Martín Delicia, Francisco Rondán Cataluña e José Hernández Mogollón
Nº M-11/2004
A orientação para a marca no sector não lucrativo, obrigação ou opção?
- Paulo Duarte e Mário Raposo
Nº M-10/2004
La orientación a largo plazo en las relaciones socio – cooperativa: Análisis
preliminar del sector agroalimentario de Aragón (España)
- Jesús Cambra Fierro e Ana Fuster Mur
Nº M-09/2004
Propuesta de una escala para medir el grado de orientación al mercado de las
cooperativas agroalimentarias españolas
- Jesús Cambra Fierro e Ana Fuster Mur
Nº M-08/2004
Market orientation in the non-profit sector: a resource dependence perspective
- Isabel Maria Macedo e José Carlos Pinho
Nº M-07/2004
Quality evaluation in healthcare services based on the customer-provider
relationship
- Vasco Eiriz e José António Figueiredo
Nº M-06/2004
Satisfacción con los cursos de verano: un análisis exploratorio
- Mercedes Marzo Navarro, Marta Pedraja Iglesias e Maria Rivera Torres
Nº M-05/2004
Orientación al mercado y performance en las organizaciones públicas. Un
estudio en el ámbito de los gobiernos locales españoles
- Amparo Crevera Taulet
Nº M-04/2004
Diferencias en la determinación y percepción de la realidad para la actuación
pública mediante cuestiones de respuesta cerrada y abierta: Teoría y práctica
- Ramón Álvarez Esteban, José Luis Burguete e Pablo Gutiérrez Rodríguez
Nº M-03/2004
Supply chain relationships in local government in the United Kingdom: Na
exploratory study
- Terry Robinson e Lesley Jackson
Nº M-02/2004
Marketing territorial: Um instrumento necessário para a competitividade das
regiões rurais e periféricas
- Anabela Dinis
Nº M-01/2004
A natureza do Marketing do ensino superior público português: Análise
exploratória
- Luísa Lopes e Mário Lino Raposo
2003
Nº E-05/2003
A Avaliação do Capital de Risco segundo a Teoria das Opções
- Paulo Peneda Saraiva
Nº E-04/2003
Microeconomia simplificada para iniciantes dos curso de gestão, economia e
marketing
- Carlos Osório
Nº E-03/2003
O canal do crédito, o sobreendividamento e as crises económicas
- José Alberto Fuinhas
Nº E-02/2003
Housing Market in Portugal revisited: a spatial analysis for 275 counties
- Pedro Guedes Carvalho
Nº E-01/2003
Giz e tecnologias de informação e comunicação:uma avaliação de um ano de
Microeconomia (I & II) para três licenciaturas
- Carlos Osório
2002
Nº 11/2002
Competitive Balance in the Portuguese premier league of professional soccer
- António Marques
Nº 10/2002
Risco de Perda Adicional, Teoria dos Valores Extremos e Gestão do Risco:
Aplicação ao Mercado Financeiro Português
- João Monteiro
- Pedro Marques Silva
Nº 08/2002
Alguns considerandos sobre o canal do crédito
- José Alberto Fuinhas
Nº 07/2002
Externalities of the Microsoft’s Network Goods
- João Leitão
- Carlos Osório
Nº 06/2002
A admissibilidade teórica do canal do balanço
- José Alberto Fuinhas
Nº 05/2002
A admissibilidade teórica do canal do crédito bancário
- José Alberto Fuinhas
Nº 04/2002
O canal do crédito e a política monetária
- José Alberto Fuinhas
Parcerias estratégicas da banca portuguesa em portais digitais
- João Leitão, Carlos Osório e Daniela Gomes
Nº 03/2002
(Publicado na Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, Volume 1, N.º 3, Outubro/Dezembro de
2002, INDEG/ISCTE e Fundação Getulio Vargas, Lisboa)
Nº 02/2002
Os canais de transmissão da política monetária
- José Alberto Fuinhas
Nº 01/2002
O canal do crédito bancário na economia portuguesa: análise econométrica do
período de 1977 a 1998
- José Alberto Fuinhas
2001
Nº 12/2001
Housing and Labor Markets Connections: recent developments in the
portuguese economy
- Pedro Guedes Carvalho
Nº 11/2001
Desenvolvimento Rural na Sociedade do Conhecimento
- Pedro Guedes Carvalho, João Leitão e Andrea R. Silva
(Publicado na Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, Volume 1, N.º 2, Julho/Setembro de
2002, INDEG/ISCTE e Fundação Getulio Vargas, Lisboa )
Nº 10/2001
A gestão do portafólio de títulos e a eficácia do canal do crédito bancário
- José Alberto Fuinhas e José R. Pires Manso
(Publicado na Revista de Gestão e Economia, nº2, DGE/UBI, Janeiro 2002)
Nº 09/2001
Digital Challenges for the Small and Medium Enterprises of the Textile and
Clothing Industry in Portugal
- Carlos Osório e João Leitão
(Publicado na Revista de Gestão e Economia, nº2, DGE/UBI, Janeiro 2002)
Nº 08/2001
Aluguer e Venda de Bens Duráveis em Caso de Monopólio
- Carlos Osório e Paulo Maçãs
Nº 07/2001
A Dinâmica dos Termos de Troca e da Balança Comercial: Curva S na
Europa?
- Alda Rito, Alexandra Ferreira e Tiago Sequeira
(Publicado na revista Prospectiva e Planeamento, Departamento de Prospectiva e Planeamento,
Ministério do Planeamento, vol.7, 2001, pp. 187-230)
Nº 06/2001
A Determinação do Preço dos Bens Duráveis em Duopólio
- Carlos Osório, Paulo Maçãs e João Leitão
Nº 05/2001
Crescimento Económico no Pós-guerra: os Casos de Espanha, Portugal e
Irlanda
- Tiago Sequeira
Nº 04/2001
O Comércio Ibérico e o Comércio Portugal-UE: que diferenças?
- Ricardo Pinheiro Alves
Nº 03/2001
Universidade e Protecção da Propriedade de Activos Intelectuais:
Fundamentos Económicos e Aspectos Críticos
- Alcino Couto
Nº 02/2001
Marketing Interno: Uma Abordagem Teórica
- Mário Franco, Luís Mendes e Anabela Almeida
Nº 01/2001
O Efeito da Publicidade Experimentável na Fixação do Preço dos Bens
Duráveis
- Carlos Osório, Paulo Maçãs e João Leitão
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