CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Mestrado em Bioética Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA São Paulo 2010 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Bioética do Centro Universitário São Camilo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioética. Orientadora: Profª Dra Luciane Lucio Pereira Co-orientador: Prof. Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos São Paulo 2010 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Pe. Inocente Radrizzani Gianini, Maristella Lopes O enfermeiro e o relacionamento interpessoal da equipe do centro cirúrgico: uma reflexão à luz da bioética / Maristella Lopes Gianini. -- São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2010. 122p. Orientação de Luciane Lúcio Pereira e Márcio Fabri dos Anjos, Pe. Dissertação de Mestrado em Bioética, Centro Universitário São Camilo, 2010. 1. Bioética 2. Centro cirúrgico hospitalar 3. Relações interpessoais I. Pereira, Luciane Lúcio II. Anjos, Márcio Fabri dos, Pe. II. Centro Universitário São Camilo III. Título. DEDICATÓRIA Dedico este estudo a todos que fizeram, fazem e farão parte da minha história. Em especial ao meu querido pai Nilton, chamado carinhosamente de “vovô Ni”, que apesar de não estar mais aqui conosco foi exemplo de integridade, honestidade e justiça tanto para mim e minha irmã Silvia, como para os meus filhos. Ainda hoje apesar da saudade que deixou se faz presente em todos os nossos momentos. À minha querida mãe Thereza, chamada carinhosamente de “vovó Tita”, mãe batalhadora, exemplo de alegria e força, incansável, sempre pronta a ajudar e a lutar por mim. Juntos, meus pais plantaram a semente do amor e da união em nossa família. Obrigada por tudo. Aos meus três filhos Fernanda, Patrícia e Eduardo razão do meu viver, luz dos meus dias, a paz e o sossego das minhas noites. Obrigada por compreenderem a minha ausência e auxiliarem nas minhas necessidades. Vocês são o amor e o meu orgulho. Ao Eduardo, amor da minha vida, cujas virtudes e condutas éticas fazem da nossa história e do nosso amor um exemplo aos nossos filhos. Obrigada por sempre estar ao meu lado. À Silvia, João, Alessandra e André sempre presentes, exemplos de amor e amizade que fazem a nossa família ser especial. AGRADECIMENTOS Embora uma dissertação tenha uma finalidade acadêmica e seja um trabalho individual, existem muitas pessoas que contribuem de diversas maneiras para a sua realização, não podendo permanecer anônimas. Por essa razão quero expressar meus sinceros agradecimentos: Primeiramente a Deus, meu pai eterno, meu amigo e confidente, presença constante em minha vida, que me dá força e coragem, e permite que eu faça dos meus sonhos uma realidade. À querida amiga e professora Dra. Luciane Lucio Pereira, exemplo de integridade e dignidade. Por meio dos seus ensinamentos e conduta ética possibilitou que eu alcançasse meu objetivo: com paciência e doçura, sempre me trouxe de volta à terra nas minhas “constantes viagens” . Obrigada pela amizade, carinho, compreensão e dedicação. Ao Professor Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos, que me aconselhou e dirigiu este estudo para uma fundamentação teórica pertinente. Ao Professor Dr. Willian Saad Hossne, coordenador do Mestrado e Doutorado em Bioética do Centro Universitário São Camilo pela sua dedicação e exemplo profissional. Obrigada por nos fazer viajar no tempo e tornar nossas noites de sexta feira e manhãs de sábado momentos de contemplação. Aos professores do Mestrado, pela oportunidade de aprimoramento na fundamentação bioética que ampliaram o meu universo de saber. Aos professores Estella Regina Ferraz Bianqui e ao Padre Leocir Pessini pela importante colaboração em minha qualificação, com reflexões e ponderações pertinentes, permitindo a evolução qualitativa deste estudo. Ao Centro Universitário São Camilo, por meio da coordenação do Curso de Graduação de Enfermagem, Denise Augusto da Costa Lorencette, Lílian Cadah, e em especial à querida amiga Maria Inês Nunes pelo convite e oportunidade de ingressar no Centro Universitário São Camilo À Elenilde e Rosana, bibliotecárias, que incansavelmente saíam em busca dos meus pedidos. Vocês muito contribuíram na finalização desta dissertação. À Enfermeira chefe do Centro Cirúrgico, Laura, e ao Anestesiologista chefe do Centro Cirúrgico, Dr. Nigri, do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia, pela ajuda na documentação deste trabalho, e a todos os profissionais que se sujeitaram à pesquisa e a tornaram possível. À toda a minha família, mãe, irmã, cunhados, sobrinhos, esposo e filhos pela paciência, compreensão e incentivo na execução deste trabalho. À amiga, Fúlvia Rodrigues Souza, que como um anjo surgiu no momento que eu mais precisava, dando-me todo apoio e ajuda para poder ingressar no mestrado. À amiga Cláudia D’Arco e Sheila Tosta pelos momentos de alegria e compartilhamento neste trilhar de descobertas. Aos meus colegas da 5ª turma do Mestrado em Bioética que tanto me encantaram com a singularidade de cada um. À Emari Andrade de Jesus pela minuciosa revisão da língua portuguesa e oportunidade de aprendizado. A todos que, embora não estejam citados, muito contribuíram para a realização desta pesquisa. Meu muito obrigado. “O desafio da futura bioética é que possuímos mais do que nunca conhecimento científico e capacidade tecnológica, e não temos, entretanto, o menor senso de como utilizar esse conhecimento e essa tecnologia, (...) a crise de nossa era é que adquirimos um poder inesperado e devemos usá-lo no caos de um mundo pós-tradicional, pós-cristão e pósmoderno.” H. T. Engelhardt e “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” Chico Xavier GIANINI, M. L. O enfermeiro e o relacionamento interpessoal da equipe do cc – uma reflexão à luz da bioética. 122f. Dissertação (Mestrado em Bioética) – Centro Universitário São Camilo, São Paulo, 2010. Equipes multiprofissionais cada vez mais têm sido formadas com o intuito de unir experiências e conhecimento científico em prol da saúde do individuo. A fragmentação assistencial exige hoje um novo modelo que favoreça a comunicação e o trabalho em equipe. A interação e a comunicação dessa equipe são de extrema importância no sentido de agregar conhecimento e promover ações interdependentes para atender o paciente com competência e segurança. A bioética surge com a responsabilidade de conduzir os profissionais de saúde a refletirem sobre seus atos no sentido de dar conta dos desafios decorrentes da necessidade de mesclar ética e técnica e as relações humanas. Esta pesquisa teve como objetivo analisar, à luz da Bioética, o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no CC; refletir quanto à existência de situações de conflito ético no trabalho desta equipe; identificar a atuação do enfermeiro do CC. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva de abordagem qualitativa utilizando-se a técnica do estudo de caso. Após parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa foram realizadas entrevistas individuais, semi-estruturadas. Participaram deste estudo cirurgiões, anestesiologistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. A análise dos discursos foi feita segundo a proposta da análise de conteúdo de Bardin. Os resultados foram apresentados em categorias e subcategorias, sendo as categorias: Composição da equipe; Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional; Papel do Enfermeiro na Equipe; Conflito Ético; Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético; Autonomia Profissional do Enfermeiro. Os achados da pesquisa formaram a base para as considerações bioéticas. A composição da equipe do CC é multiprofissional e reflete uma consciência coletiva de interdependência. Os relacionamentos interpessoais no CC caracterizam-se por ações e comportamentos que promovem as relações, mas por outro lado, também caracterizam-se por fatores que as restringem. O enfermeiro é apontado como profissional mais apto a liderar e trazer coesão à equipe no CC necessita de competência e habilidades próprias para saber lidar com conflitos. Foi percebida a sua ausência dentro da sala de operações na qual traria maior segurança para a equipe. Os médicos são identificados como o grupo que com maior freqüência são os causadores de conflitos éticos e os problemas de relacionamentos. Considera-se que o trabalho em equipe é imperativo, as relações são difíceis, mas podem melhorar quando o respeito e o reconhecimento da vulnerabilidade forem a base dos relacionamentos. O aprofundamento do domínio da bioética e seus referenciais poderão contribuir para a reflexão acerca do modo de agir da equipe. A posição ideal do profissional autônomo no CC é aquela quando o enfermeiro percebe que algumas decisões dependem de critérios médicos e quando os médicos percebem que algumas decisões também dependem de critérios de enfermagem e que ambos influenciam e são influenciados pelo trabalho de toda a equipe. Considera-se ainda que determinantes históricos e situacionais promovam o avanço e o retrocesso no modelo de estrutura do CC centrado no cirurgião. Porém só se avança quando se incorpora uma ação interdisciplinar com reconhecimento dos saberes convergentes e a responsabilidade compartilhada. Palavras-chave: Bioética. Centro cirúrgico hospitalar. Relações interpessoais. GIANINI, M. L. The nurse and the surgery room team’s interpersonal relationship: an analysis in the light of bioethics. 122f. Dissertation (Master’s Degree in Bioethics) – Centro Universitário São Camilo, Sao Paulo, 2010. Multiprofessional teams more and more each time are being formed due to join experiences and scientific knowledge for the individual’s health. The assistance fragmentation demands nowadays a new model that makes the communication and the teamwork easier. The interaction and the communication among these staff members are extremely important in order to aggregate knowledge and create interdependent procedures to attend the patients by offering them efficiency and safety. The Bioethics emerges with the responsibility of leading Health professionals to a reflection about their attitudes due to be able to notice their challenges of mixing ethics, techniques and human relationships. This research aimed at analyzing, in the light of Bioethics, the interpersonal relationship among multiprofessional team members that labor at Surgery Room (SR); ponder how ethical conflicts affect these team’s activities; identify the actuation of the SR nurse. It is an exploratory descriptive research, with qualitative aspects, and was done by using the particular cases technique. After the authorization of Comitê de Ética e Pesquisa (Ethics and Research Committee), individual semi-structured surveys were conducted. The participants of this research were Health laborers: surgeons, anesthesiologists, nurses and nurse assistants. The discourse content analysis was done according to Bardin’s framework. The results were classified in categories and subcategories; the categories are: Team Composition; Multiprofessional Team Interpersonal Relationship Perception; Nurse’s Role in the Team; Ethical Conflict; Nurse’s Professional Autonomy. The data found by this research have composed the basis for the bioethical considerations. The SR team is multi professionally composed and reflects a blanket conscience of interdependency. The interpersonal relationships at the SR are characterized by partnership, politeness, respect, willingness; on the other hand, they are also characterized by non-communication or miscommunication, disrespect, miscomprehension, insecurity and authoritarianism. The nurse is seen as the most able in the group to be the leader and to bring the team the cohesion everyone needs at the SR; nurses need expertise and own abilities to know how to deal with conflicts, but their absence at the SR has been felt and their presence would bring more confidence to the staff. The doctors are identified as the part of the SR staff that causes ethical conflicts and behavioral problems. The collaborative work is considered vital; the relationships have several difficulties, but they might improve when respect and vulnerability recognition become the basis of the relationships. The deep and serious study of Bioethics and its field may contribute to a reflection about the staff’s procedures and attitudes when working. The ideal posture for autonomous laborers at SR is nurses noticing that some decisions are the doctors’ decisions and doctors noticing that some decisions are the nurses’ decisions and both of them influence and have influences on the teamwork. Furthermore, historical aspects and situations are considered the most adequate path to promote progress and regression in the surgeon-centered model at SR. However, there is progress only when we have an interdisciplinary view, which is reached when we recognize the different scientific areas converge and responsibility must be shared. Keywords: Bioethics. Interpersonal relationship. Surgery room. GIANINI, M.L. El enfermero y El Relacionamiento Interpersonal del Equipo del Centro Quirúrgico – Una Reflexión a la luz de la Bioética. 122f. Disertación (Máster en Bioética) – Centro Universitário São Camilo, Sao Paulo, 2010. Cada vez más equipos multiprofesionales están siendo formados con el objetivo de unir experiencias y conocimientos científicos en favor de la salud del individuo. La fragmentación asistencial exige hoy en día un nuevo modelo que favorezca la comunicación y el trabajo en equipo. La interacción y la comunicación de ese equipo tienen extremada importancia en el sentido de aportar conocimiento y realizar acciones interdependientes para atender al paciente con la máxima eficiencia y seguridad. La Bioética surge con la responsabilidad de conducir a los profesionales de salud a que reflexionen sobre sus actos en el sentido de darse cuenta de los retos decurrentes de la necesidad de mezclar ética, técnica y las relaciones humanas. Esta investigación ha tenido como objetivo analizar, a la luz de la Bioética, el relacionamiento interpersonal del equipo multiprofesional que actúa en el CQ; reflexionar acerca de la existencia de situaciones de conflicto ético en el trabajo de dicho equipo; identificar la actuación del enfermero. Se trata de una investigación científica exploratoria, descriptiva, de abordaje cualitativo y con la utilización de la técnica del estudio de caso. Tras el parecer favorable del Comitê de Ética em Pesquisa (Comité de Ética en Investigaciones Científicas), se han realizado encuestas individuales y semi-estructuradas. Han participado de este estudio cirujanos, anestesiólogos, enfermeros; y técnicos de enfermería. El análisis de los discursos se ha hecho según la propuesta de análisis de contenido de Bardin. Los resultados han sido presentados en categorías y subcategorías. Las categorías son: Composición del Equipo; Percepción del Relacionamiento Interpersonal del Equipo Multiprofesional; Rol del Enfermero en el Equipo; Conflicto Ético; Actuación del Enfermero frente al Conflicto Ético; Autonomía Profesional del Enfermero. Los hallazgos de la investigación han formado la base para las consideraciones bioéticas. La composición del equipo del CQ es multiprofesional y refleja una consciencia colectiva de interdependencia. Las relaciones interpersonales en el CQ se caracterizan por acciones promotoras e restrictivas. Al enfermero lo apuntan como el profesional más apto a liderar y a brindarle cohesión al equipo en el CQ, por lo que necesita competencia y habilidades propias para saber lidiar con los conflictos; sin embargo, se ha sentido su ausencia dentro del CQ, y su presencia le brindaría más seguridad al equipo. Los médicos se identifican como el grupo que más causa conflictos éticos y problemas de relacionamiento. Se considera que el trabajo en equipo es imprescindible, las relaciones son difíciles, pero se pueden mejorar cuando el respeto y el reconocimiento de su vulnerabilidad son su base. La profundización del campo de la Bioética y sus referenciales podrán contribuir para la reflexión acerca del modo de actuar del equipo. La posición ideal del profesional autónomo en el CQ es aquella en que el enfermero se da cuenta de que algunas decisiones dependen de criterios médicos y cuando los médicos se dan cuenta de que algunas decisiones dependen también de criterios de enfermería y cuando ambos criterios influencian y son influenciados por el trabajo de todo el equipo. Se considera aún que determinaciones históricas y situacionales causen el avance y el retroceso en el modelo de estructura del CQ centrado en el cirujano. Pero sólo hay avances cuando se incorpora una acción interdisciplinaria con reconocimiento de los saberes convergentes y la responsabilidad compartida. Palabras-Clave: Bioética. Centro quirúrgico. Relaciones interpersonales. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Origem da Categoria Predeterminada – Composição da Equipe do Centro Cirúrgico .................................................................................. 48 Figura 2 - Origem da Categoria Predeterminada – Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico ... 48 Figura 3 - Origem da Categoria Predeterminada – Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico ............................................................................. 49 Figura 4 - Origem da Categoria Predeterminada – Conflito Ético em Centro Cirúrgico ................................................................................................... 49 Figura 5 - Origem da Categoria Predeterminada - Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico ....................................................... 49 Figura 6 - Origem da Categoria Predeterminada – Autonomia Profissional do Enfermeiro do Centro Cirúrgico ............................................................................ 50 Figura 7 - Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico. Subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico; Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico ........................ 59 Figura 8 - Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico Subcategorias: Papel de Liderança; Papel Assistencial ....................................... 69 Figura 9 - Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico – Subcategorias: O Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético Justificado ....................................... 74 Figura 10 - Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico Subcategorias: Posicionamento do Enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador; Enfermeiro como agente causador do conflito............... 79 Figura 11 - Categoria: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico. Subcategorias: Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro .................... 83 Figura 12 - Equipe do Centro Cirúrgico ............................................................... 89 LISTA DE SIGLAS BO Bloco Operatório CC Centro cirúrgico CoEP Comitê de Ética em Pesquisa CME Centro de Material e Esterilização HMSCP Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia I.P.A.R Instituto Paulista de Assistência Respiratória RPA Recuperação Pós-anestésica SAE Sistema de Assistência de Enfermagem SO Sala Operatória SOBECC Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UTI Unidade de Terapia Intensiva SUMÁRIO Resumo Abstract LISTA DE FIGURAS LISTA DE SIGLAS 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15 2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 20 2.1 Geral .............................................................................................................. 20 2.2 Específicos ..................................................................................................... 20 3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 21 3.1 Trajetória Histórica da Cirurgia ....................................................................... 21 3.2 O Hospital e o Centro Cirúrgico...................................................................... 26 3.3 Atuação da Equipe Médica e de Enfermagem no Centro Cirúrgico ............... 27 3.4 A Filosofia, a Ética, a Bioética e o Centro Cirúrgico ....................................... 29 4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ..................................................................... 39 4.1 Opção pelo Método ........................................................................................ 39 4.2 Local de Estudo .............................................................................................. 40 4.3 Sujeitos da pesquisa ...................................................................................... 41 4.4 Coleta de Dados ............................................................................................. 42 4.5 Análise dos Resultados .................................................................................. 47 5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ...................................................................... 51 5.1 Caracterização do Local do Estudo ................................................................ 51 5.1.1 Caracterização da Instituição ...................................................................... 51 5.1.2 Caracterização do Centro Cirúrgico ............................................................ 52 5.1.3 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa ................................................... 53 5.2 Apresentação das Categorias e Subcategorias ............................................. 55 5.2.1 Categoria 1: Composição da Equipe do Centro Cirúrgico ........................... 56 5.2.2 Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico ........................................................... 58 5.2.3 Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico .............. 68 5.2.4 Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico .......................................... 73 5.2.5 Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico ...................................................................................................... 78 5.2.6 Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico .... 82 6 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 88 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 105 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 111 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................... 118 APENDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................. 120 APENDICE B - Roteiro da Entrevista ................................................................... 122 ANEXO A - Carta de Princípios das Entidades Camilianas ANEXO B - Serviço de Anestesia do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia ANEXO C - Regimento Interno do Departamento Cirúrgico ANEXO D - Carta do Comitê de Ética em Pesquisa (CoEP) do Centro Universitário São Camilo O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 15 1 INTRODUÇÃO A idéia de realizar um estudo em Centro Cirúrgico (CC) surgiu da minha experiência como enfermeira supervisora e assistencial ao longo de mais de duas décadas, em Pronto Socorro (PS) e em CC. Enquanto profissional atuando no CC de um Hospital Escola da grande São Paulo, tive o privilégio de ter no meu trabalho o reconhecimento, a valorização profissional e o respeito da equipe multiprofissional e dos pacientes. Em grande parte, atribuo esse reconhecimento ao fato desse hospital, desde a sua inauguração, ter trabalhado no modelo do Sistema de Assistência de Enfermagem (SAE), ferramenta imprescindível para a prestação de uma assistência de enfermagem de qualidade. No CC, várias especialidades médicas como anestesiologistas, cirurgiões gerais, cardíacos, plásticos, ortopedistas, oftalmologistas, ginecologistas dentre tantos outros, interrelacionam-se e trabalham conjuntamente com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e instrumentadores cirúrgicos, num ambiente dinâmico, fechado, considerado estressante, rodeado de mitos e rituais que tornam o lugar diferenciado no contexto hospitalar. Diante da complexidade do ambiente a interação e a comunicação dessa equipe são de extrema importância no sentido de agregar conhecimento e promover ações interdependentes para atender o paciente com a máxima competência e segurança. Dessa experiência surgiu o interesse em estudar os relacionamentos nesse ambiente sob a ótica da bioética, que se constitui como área do conhecimento pluralista, multi e interdisciplinar. Médicos e enfermeiros lidam com situações nas quais, a vida, o risco e a morte se relacionam numa faixa muito estreita de segurança, ou seja, os riscos inerentes ao procedimento anestésico-cirúrgico que um paciente se submete ao entrar no CC fazem parte da rotina de trabalho. Observo que a particularidade e a especificidade das atividades desenvolvidas nesse setor caracterizam-no como um local onde as pessoas, inclusive profissionais de outras áreas do próprio hospital, sentem-se curiosos em conhecer. Ao longo do meu trabalho, percebi que o CC é um ambiente de trabalho complexo, onde profissionais de várias categorias sócio-culturais e de diferentes padrões de moralidade trabalham conjuntamente empenhados num único propósito: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 16 atender e assistir ao cliente durante a cirurgia. Apesar de a finalidade ser a mesma, os caminhos escolhidos pelos profissionais para atingir o êxito da cirurgia são diferentes. A sociedade gera um padrão de comportamento externo definido como moralidade. Para Cohen e Segre (2004) moralidade é um sistema de valores do qual resultam normas que são consideradas corretas por um determinado grupo social. Uma vez que vivemos em uma mesma sociedade, observo diferentes comportamentos, praticados pelos profissionais da saúde. Isto se exemplifica no comportamento de alguns profissionais quando atitudes desrespeitosas são presenciadas por várias pessoas sem nenhum constrangimento. Vozes alteradas são percebidas em conseqüência da intolerância e inexperiência de alguns, palavras de baixo calão são proferidas dentro de um ambiente de trabalho por indivíduos considerados “bons profissionais”. Esses comportamentos são comuns e lícitos para alguns e imorais e antiéticos para outros. Concordo com Santa Rosa (2002, p.130), ao afirmar que o enfermeiro de CC: “[...] deve se posicionar diante de situações que ferem princípios éticos e desta forma, ele terá condições de exercer sua autonomia, ao escolher o caminho do seu crescimento, enquanto cidadão e profissional”. De acordo com Zoboli e Sartório (2006), a bioética vem se agregando à construção histórico-social da prática da enfermagem, no sentido de dar conta dos desafios decorrentes da necessidade de mesclar ética e técnica. Percebo, ainda, a vulnerabilidade no que diz respeito ao relacionamento e a comunicação, uma vez que também nas atitudes profissionais, as relações de poder, e de saber, interferem no comportamento e também no desempenho do restante da equipe, pois se observa respostas e atitudes diferentes para uma mesma situação. Apesar disso, acredito que enfermeiros com boa capacidade de liderança, experientes, atualizados, com conhecimento técnico científico para prestar uma assistência de qualidade e segurança, conhecimento administrativo para gerenciar as atividades realizadas, uma grande capacidade de trabalhar em equipe e uma boa comunicação interpessoal contribuam para tornar esse ambiente mais harmonioso. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 17 Os pacientes, por sua vez, necessitam de um cuidado humanizado, pois se encontram no momento crítico de seu tratamento. Por isso, necessitam de profissionais responsáveis e competentes com valores morais e éticos, sensíveis e capazes de perceber e atender as necessidades físicas e psicológicas desse paciente. Necessitam de profissionais que, percebendo a vulnerabilidade dos pacientes, estejam ao lado deles, conversando, segurando suas mãos, orientando e fazendo-os interagir com as atividades necessárias ao procedimento, a fim de promover um atendimento seguro e de qualidade. Importante esclarecer que o termo responsabilidade é definido por Hans Jonas como a capacidade individual de assumir antecipadamente pelo que se vai fazer e ter consciência das conseqüências das suas ações e omissões (JONAS, 1995). A idéia de o paciente cirúrgico ser “do cirurgião” implica num sentimento de posse e nesse sentido, a atuação de uma equipe multiprofissional torna-se assimétrica, atribuindo-se níveis de responsabilidade e comportamentos hierárquicos e diferenciados. “O meu paciente”, frase ouvida no cotidiano hospitalar, tanto da rede pública quanto privada, não reflete mais ao modelo assistencial prestado hoje em dia. A partir do momento em que é necessária uma cirurgia, esse paciente passa a ser alvo da atuação de muitos profissionais de saúde. Portanto a responsabilidade do cirurgião é inquestionável, porém ela não é a única. Durante minha atuação em CC, meu trabalho funcionava como um elo de ligação entre todas as atividades multiprofissionais realizadas naquele local, pois exercia diferentes funções: trabalhava com o cirurgião, anestesiologista e circulante de sala dentro da SO assistindo ao paciente de forma integrada e compartilhada; atuava “nos bastidores”, administrando a rotina cirúrgica, integrando as áreas afins, Centro de Materiais e Esterilização (CME), familiares e pacientes em suas unidades de origem de modo a providenciar sua chegada, equipamentos, pessoal administrativo, entre outros; e ainda atuava com técnicos de enfermagem e anestesiologistas na unidade de Recuperação Pós-anestésica (RPA) prestando também um trabalho integrado e compartilhado. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 18 A minha trajetória profissional foi permeada por muitos desafios e enfrentamentos, os quais serviram de impulso para a realização deste trabalho. A urgência e prontidão que fazem parte da rotina da assistência ao paciente cirúrgico exigem análise e rápida tomada de decisão com critérios para definir a ação. Deparei-me com situações conflitantes, com perguntas sem respostas e com o não saber como agir. Muitas vezes, precisei agir não da forma que era a mais correta, mas a mais correta possível no momento. Precisar calar e procurar desculpas sem sentido foram atitudes tomadas por mim e por muitos outros profissionais ao meu redor para não correr o risco certo de perder o emprego. A necessária exposição do corpo do paciente por alguns instantes dentro da Sala Operatória (SO) é vista pela equipe como rotina, porém, na visão do paciente é uma invasão à sua intimidade, e, portanto, esse momento deve ser acompanhado com respeito. O não cumprimento do horário marcado para a cirurgia: a falta de registro de ocorrências indesejáveis em SO como troca de medicação; acidente intra-operátorio; queda do paciente da mesa cirúrgica; a suspensão da cirurgia por falta de avaliação prévia; a falta de material solicitado em sala; a utilização indiscriminada de celulares dentro da SO; as observações desrespeitosas feitas por algum profissional sobre o paciente, achando que este não o está ouvindo, são exemplos de situações de imperícia, imprudência e negligencia que se observam no CC. Tais situações podem afetar profundamente não só o paciente, mas também as relações entre a equipe. Esses e outros tantos exemplos desrespeitam o ser humano, comprometem a atuação profissional, interferem na sua autonomia e o torna mais vulnerável. De certa forma, o respeito, a postura, a atitude profissional, as dificuldades de relacionamento individual, o trabalho em equipe e a comunicação estavam sempre permeando esses desafios. Há três anos, ingressei no Centro Universitário São Camilo como supervisora de estágio em CC, RPA e CME, da disciplina de Enfermagem na Saúde do Adulto, do Curso de Graduação em Enfermagem. A partir da vivência em campo com os estudantes de graduação em enfermagem do 5º semestre nos CCs de alguns hospitais públicos e privados do Município de São Paulo e observando a sua Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 19 dinâmica, era questionada pelos alunos sobre situações que observavam, as quais diferiam das orientações dadas em sala de aula. Esses questionamentos se referiam à presença do enfermeiro em SO diante de: práticas indevidas de instrumentadores cirúrgicos, exposição do corpo e desrespeito ao paciente, grosserias dos cirurgiões para com a equipe médica e principalmente com a enfermagem. Importante ressaltar que a as atividades desses profissionais e suas atitudes muitas vezes não são reconhecidas, nem por seus próprios colegas, como comportamentos adequados. Percebendo que estas situações são identificadas, relatadas e comentadas por profissionais de CC, por alunos e até pelos próprios pacientes, acredito na relevância desta pesquisa de modo a refletir sob o olhar da bioética neste ambiente e o interrelacionamento profissional dessa equipe. O mestrado em bioética surge, em meu contexto de trabalho, como ferramenta de enfrentamento e base para nortear e refletir os dilemas e conflitos morais e éticos que possam emergir da observação dessas relações, observadas no cotidiano do CC. O respeito, a justiça, o poder, a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a autonomia e a vulnerabilidade do paciente e do profissional, a beneficência, a não maleficência fazem parte dos princípios e referenciais bioéticos que acredito que devam estar sendo refletidos a cada ação profissional. É nesse cenário que justifico a importância da presente pesquisa acreditando poder contribuir para um ambiente de trabalho mais ético, harmonioso e integrado. Vale a pena destacar que os estudos sobre relações interdisciplinares em CC e Bioética ainda são poucos, por isso o tema está longe de ser esgotado. Até o último acesso à Biblioteca Virtual BIREME, nas bases de dados LILACS, IBECS, MEDLINE e SciELO em 15/06/2010 foram encontrados somente três artigos sobre a temática, sendo dois nas bases de dados LILACS e um na SciELO. Após a leitura dos resumos dos trabalhos, apenas um artigo foi selecionado correspondendo ao estudo em questão. Esta pesquisa se dispõe a lançar luz sobre determinados aspectos da realidade e da vivencia dentro de um Centro Cirúrgico onde a Bioética servirá de base para reflexão e foi proposta com os objetivos descritos a seguir. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 20 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Analisar, à luz da Bioética, o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no Centro Cirúrgico. 2.2 Específicos Refletir quanto à existência de situações de conflito ético no trabalho desta equipe. Identificar a atuação do enfermeiro do Centro Cirúrgico. Analisar a autonomia do enfermeiro na equipe do Centro Cirúrgico. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 21 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Trajetória Histórica da Cirurgia Ao entender a história como memória de grupo humano, que influencia a formação da consciência coletiva e desperta a atenção do indivíduo para o mundo, pode-se dizer que um entendimento significativo do presente exige uma visão crítica do passado (GRANGE; ARANTES, 2005). Assim, para se entender os problemas da sociedade e desempenhar um papel inteligente na construção da civilização, é preciso possuir um senso de continuidade no tempo, ter consciência de ser impossível avançar para o futuro, sem olhar para o passado. Uma leitura histórica da cirurgia à luz da bioética leva a privilegiar alguns aspectos notadamente éticos de sua trajetória. Segundo Paixão (1979), conhecer as origens e a evolução de sua profissão deve despertar no indivíduo uma maior compreensão dos seus deveres e lhe impõe mais entusiasmo pelo seu ideal. Durante muitos séculos a medicina e a enfermagem foram privilégios exclusivos dos sacerdotes e religiosos, pessoas consideradas de “elevado valor moral e intelectual”. A história revela que nos períodos de fervor religioso, a quantidade e a qualidade das pessoas a serviço dos enfermos faziam o diferencial no processo de cura (PAIXÃO,1979, p.23). Entre os aspectos éticos da trajetória histórica da cirurgia, podemos afirmar que as exigências do cuidado a ser prestado ao paciente submetido a algum procedimento cirúrgico provocam a consciência moral sobre a necessidade de uma equipe multiprofissional. Identifica-se, nos relatos de Paixão (1979, p.22), que na história da Índia do séc. VI a.C., dentro do Budismo, cuja doutrina de bondade era um grande incentivo ao progresso, havia uma preocupação em prestar “uma assistência inteligente”. Entre os médicos hindus, destacou-se Charaka, que foi o primeiro a descrever muitas operações cirúrgicas como: catarata, hérnia e cesariana. Charaka citado por Paixão (1979, p.22) afirma: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 22 O médico, as drogas, o enfermeiro e o paciente constituem um agregado de quatro. Devemos conhecer a qualidade de cada um na contribuição para a cura. [...] Conhecimento do preparo das drogas e de sua administração, inteligência, dedicação, pureza de corpo e espírito são as quatro qualidades do enfermeiro. Qualidades de valor moral e ético e o trabalho com espírito de equipe é algo que já se falava há mais de 28 séculos, sendo reforçado atualmente quando autores como Barreto e Barros (2009) e Silva e Galvão (2007), afirmam que o desenvolvimento do trabalho no CC exige uma integração harmoniosa, ética e competente entre duas equipes, a saber, a médica e a da enfermagem. Na história da enfermagem, Paixão (1979) ainda relata que objetivos como dar conforto físico e moral ao doente, afastar dele os perigos e ajudá-lo a alcançar a cura datam de tempos em que ainda não havia ciência. Nessa época, a mãe era considerada, nas mais remotas eras, como a primeira enfermeira da família e os conhecimentos sobre a enfermagem vinham acompanhados de assuntos médicos, sociais e religiosos. Dessa maneira, povos de todo mundo atribuíam as doenças como que produzidas por espíritos malignos ou como castigo dos Deuses, de modo que a medicina se prendia à Mitologia. Tempos depois felizmente, homens estudiosos e de valor conseguiram desenvolver na sociedade da era pré-cristã, bases científicas para o futuro da medicina. Hipócrates, 460 a.C., considerado o pai da medicina enfrentou preconceitos com relação à dissecação de cadáveres, antes considerada uma prática desrespeitosa. Apesar dos impecilhos sociais, Hipócrates explicava a seus discípulos a verdadeira causa da dissecação (PAIXÃO, 1979). A medicina e a enfermagem passaram por períodos de ascensão e decadência. A Reforma Protestante do séc. XVI contribuiu para marcar um dos piores períodos da enfermagem. Com a expulsão das religiosas dos hospitais, a escassez de donativos e falta de pessoal preparado, um grande número de hospitais precisou ser fechado. Os enfermos que conseguissem ficar em casa eram mais bem cuidados, enquanto que nos hospitais os que se diziam enfermeiros não passavam de pessoas da mais baixa classe social e moral duvidosa. Chegavam a extorquir Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 23 dinheiro dos enfermos e, conforme afirma Paixão (1979, p.54), “deixavam os doentes morrer ao abandono”. No mesmo período em que a enfermagem caía em decadência, a ciência médica fazia conquistas notáveis (PAIXÃO,1979). A enfermagem passa então a existir como profissão a partir do momento em que Florence Nightingale (1820-1910), uma jovem intelectual da alta aristocracia inglesa, imbuída de grande humildade e espírito humanitário passa a desenvolver no séc. XX uma mentalidade mais social, trazendo para dentro dos hospitais profissionais de elevado padrão cultural. De acordo com Paixão (1979), Florence foi pioneira e renovadora ao abrir escolas de enfermagem às moças educadas e cultas preparando, dessa maneira, as enfermeiras em bases mais científicas. Florence ainda trabalhou intensamente na missão de cuidar dos feridos durante a Guerra da Criméia (1854). Procedimentos cirúrgicos não faltaram e ações para diminuir a mortalidade dos soldados foram aplicadas tanto com relação aos aspectos organizacionais quanto aos assistenciais. Com essas práticas, conseguiu diminuir a mortalidade dos feridos. Em 1956, Florence contrai tifo ao retornar da Criméia, ficando impossibilitada de trabalhar com os doentes. Dedica-se então a preparar profissionalmente as enfermeiras a exercer os serviços usuais da enfermagem hospitalar e domiciliar. Segundo Paixão (1979), tinha grande preocupação em desenvolver nas estudantes traços de caráter considerados desejáveis como sobriedade, honestidade, lealdade, pontualidade, serenidade, espírito de organização, correção e elegância uma vez que pretendia dissociar o nome da enfermagem como uma “profissão” inferior. Segundo Possari (2006), os médicos do séc. XVIII eram mais valorizados e reconhecidos socialmente pela sua capacidade intelectual de tratar doenças. Na época, acreditava-se que a denominada medicina interna, requeria mais reflexão, estudos e percepção. Já as necessidades cirúrgicas eram tratadas por profissionais chamados de cirurgiões barbeiros, os quais recebiam um aprendizado prático, não universitário. Durante muitos séculos a cirurgia atuou à sombra de vilões da medicina como a dor, a hemorragia e a infecção. No séc. XIX, a dor passou a ser mais bem controlada com a descoberta de equipamentos e novos agentes anestésicos. A Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 24 tecnologia e a pesquisa no desenvolvimento de equipamentos e materiais usados para hemostasia contribuíram com a medicina para atenuar as hemorragias durante os procedimentos cirúrgicos (POSSARI, 2006). A contribuição de Florence Nightingale é reconhecida como referência na questão de infecção devido à sua preocupação com a organização, limpeza, assepsia e o ambiente do cuidar, elementos que se tornam pontos indispensáveis na cura dos doentes cirúrgicos e colaboram substancialmente para a diminuição das infecções (PAIXÃO 1979). O século XX foi considerado o século dos avanços tecnológicos e das grandes revoluções e evoluções cientificas. Nas primeiras décadas desse século, a cirurgia era realizada no próprio domicílio do paciente ou do cirurgião. A enfermeira obedecia a uma escala hierárquica, sendo responsável por acalmar o paciente, pelo preparo do ambiente e do instrumental cirúrgico. Com o surgimento das instituições de saúde nas décadas de 1920 e 1930 as cirurgias passaram a ser realizadas em salas de operação (SO). Nas décadas seguintes com as descobertas de novas técnicas cirúrgicas e instrumentais, as cirurgias passaram a se tornar mais complexas e especializadas. Dessa forma foram criados os primeiros Centros cirúrgicos (GUIDO et al, 2008). Segundo os mesmos autores, a Segunda Guerra Mundial também teve um papel importante no cenário medico-cirúrgico e da enfermagem, pois com o aumento do número de intervenções cirúrgicas nos hospitais, houve necessidade de trazer para dentro das salas cirúrgicas o pessoal ocupacional. Esse pessoal inicialmente sem preparo passou a ocupar o espaço do profissional de enfermagem, deixando as atividades de coordenação dos recursos materiais e humanos e os aspectos organizacionais e técnicos a cargo dos enfermeiros. Nas décadas de 60 e 70 a alta tecnologia passa a fazer parte do dia a dia dos enfermeiros de CC, de maneira que os transplantes e equipamentos sofisticados passam a ser desafios a serem enfrentados. Surgem, assim, os conflitos de ordem moral e ética e preocupações com a melhoria da qualidade da enfermagem em CC. Grupos de estudos foram criados para discutir problemas relacionados às atividades Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 25 de CC e em 1991 foi criada a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC), com o objetivo de desenvolver estudos, fundamentar a prática com pesquisas cientificas e permitir a socialização dos conhecimentos adquiridos, organizando e promovendo eventos técnico-científicos. Podemos dizer que o maior avanço do ponto de vista cirúrgico se deu no séc. XX e continua nos dias de hoje. Passaram-se das cirurgias realizadas em ambientes precários às cirurgias em salas de operação em ambiente hospitalar, ao desenvolvimento de cirurgias vídeo-assistidas e, atualmente, cirurgias por robótica com a possibilidade de serem realizadas à distância. Esse rápido avanço tecnológico trouxe para a sociedade muitas mudanças de paradigmas atropelando valores seculares, principalmente quando se observa que vivemos hoje em uma sociedade mercantilista e capitalista, na qual o valor do ser humano passa a ser questionável. Com relação ao comportamento, objeto deste estudo, observam-se histórias profissionais antagônicas partindo dos sujeitos analisados. Cunha, Acunã e Bispo (2007) relatam que a classe médica era treinada para atuar preferencialmente sozinha, obedecendo a um código deontológico, sentindo-se independente do hospital e de sua estrutura organizacional. Afirmam que a tradição de seus valores, baseada na autonomia de sua profissão e na responsabilidade pessoal, refletiam-se num modelo artesanal em que o sucesso era inteiramente creditado ao médico, enquanto eventuais fracassos eram atribuídos às debilidades dos pacientes ou mesmo à infra-estrutura oferecida pela organização. Tal modelo atitudinal pode ser observado no comportamento médico ainda nos dias de hoje. Com relação à enfermagem, Germano (1993) ressalta que no passado sua ideologia significava: abnegação, obediência e dedicação. Isso tornava a enfermeira disciplinada e obediente em suas atitudes e responsabilidades. Nas três últimas décadas, este cenário vem se transformando, pela chegada nas instituições de saúde, de profissionais mais bem preparados. Santa Rosa (2002) descreve o enfermeiro de hoje como agente transformador, compromissado com a transformação do ambiente do CC no Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 26 contexto social e que busca proporcionar uma prática fundamentada em valores morais e éticos como responsabilidade, respeito, igualdade, solidariedade, e princípios bioéticos como justiça, beneficência e autonomia. 3.2 O Hospital e o Centro Cirúrgico O Hospital, segundo Oliveira (2002a), é considerado uma grande estrutura integrada por mini-estruturas, que desempenham funções distintas, com o objetivo único de prestar um serviço de qualidade. Dentre as diversas unidades da estrutura hospitalar, destaca-se o CC, uma unidade que contém um conjunto de elementos destinados às atividades cirúrgicas, constituindo, assim, o setor que tem como prioridade prestar assistência de qualidade ao paciente: desde o recebimento na fase pré-operatória, intra-operatória e pós-operatória na RPA com seu encaminhamento à unidade de destino adequada. Reforça que é fundamental obterse condições adequadas ao ato anestésico-cirúrgico, tanto para segurança física e psicológica do paciente quanto da equipe cirúrgica. Já Barreto e Barros (2009) consideram o Bloco Operatório (BO), setor que engloba as áreas de CC, CME e RPA, como o setor de maior importância do hospital com áreas de acesso restrito, interligados com outras áreas hospitalares necessitando de um trabalho interdependente. Também considera a unidade de maior complexidade do hospital por sua especificidade, possibilidade de riscos a saúde dos trabalhadores e dos pacientes, pelos custos, pela evidência dos resultados, dramaticidade das operações e decisiva ação curativa da cirurgia. A Unidade de CC também é considerada por Cunha e Caregnato (2008), um dos setores críticos do hospital, pela sua exigência profissional em razão do atendimento de alto risco, da geração de tensão e angústia. Nestas áreas, a autora reforça que trabalham pessoas com formações e vivências diferentes e que isso interfere nos relacionamentos interpessoais, e repercute na dinâmica do setor. Em conseqüência das constantes descobertas e contribuições da pesquisa, autores como Peniche e Araújo (2009), Guido et al. (2008) e Caregnato e Lautert (2005) consideram que o conhecimento e a capacitação do profissional do CC Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 27 podem estar ultrapassados em um curto período de tempo, deslocando este profissional para a faixa perigosa da impudência, imperícia ou negligência, que colocam em risco a vida do paciente. Dessa forma cabe ao profissional do CC atualizar-se e capacitar-se continuamente. 3.3. Atuação da Equipe Médica e de Enfermagem no Centro Cirúrgico Para Barreto e Barros (2009), a busca de amparo e solução para os problemas de saúde, a dependência e a necessidade assistencial do paciente na SO, depende de uma equipe multiprofissional que tem o dever ético e moral de reconhecê-los e solucioná-los. Reforçam que, a partir da necessidade de uma intervenção cirúrgica que pressupõe uma internação em ambiente hospitalar esse indivíduo deixa de depositar sua confiança somente no médico e passa a depender e a buscar competência também na equipe que irá cuidar dele. Atualmente, o saber médico não figura solitário no cuidado à saúde. Equipes multiprofissionais cada vez mais têm sido formadas com o intuito de unir experiências e conhecimento científico em prol da saúde do individuo. Isso porque a fragmentação assistencial exige hoje um novo modelo que favoreça a comunicação e o trabalho em equipe, a fim de assegurar a melhor segurança do paciente (CUNHA; ACUNÃ; BISPO, 2007). Porém, Caregnato (2002), em seu estudo sobre a equipe multiprofissional, relata que, tendo o CC seus próprios rituais, mitos e “deuses”, os cirurgiões consideram-se semideuses, donos dos pacientes, com sabedoria e onipotência superior aos demais profissionais membros da equipe. Assim eles consideram-se os responsáveis pelo paciente. Os outros profissionais consideram ter grande responsabilidade para com os pacientes, mas nunca assumem posição de chefia da equipe. Os anestesistas acham-se responsáveis por controlar a dor dos pacientes, as enfermeiras destacam a importância do seu papel de resolver problemas e se auto definem como facilitadoras, enquanto os técnicos de enfermagem deixaram evidente que fazem seu trabalho hierarquicamente, sendo dependente do cirurgião. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 28 Definir-se como agente facilitador não deve ser o objetivo do enfermeiro do CC. A importância do trabalho que desenvolve vai além da simples tarefa de facilitar o trabalho de outrem, pois exige assumir o seu papel de elo entre todas as equipes atuantes em CC, arcando com as responsabilidades específicas do trabalho de enfermagem. Importante ressaltar que a necessidade de reconhecimento dos enfermeiros e demais membros da equipe de saúde, especialmente quanto aos aspectos de cuidar, remetem a pensar sobre a valorização que se atribui aos pares e ao trabalho em equipe. Na trajetória da prática, ressalta Castanha e Zagonel (2005), dar visibilidade à profissão é também buscar parcerias, compartilhar responsabilidades e tarefas. Como esclarece Bianchi e Leite (2006), cada vez mais as instituições hospitalares estão investindo na atuação do enfermeiro junto ao cliente, como elemento essencial e participativo do desenvolvimento do ato anestésico cirúrgico. O enfermeiro lida com os momentos críticos desse período, principalmente durante a recepção do paciente no CC: o início e o término da anestesia; a colocação do paciente na posição cirúrgica; a vigência de intercorrencias; o fim da cirurgia; o transporte do paciente; a evolução e a alta do cliente da sala de operações; o cuidado integral na recuperação anestésica; a evolução e alta da recuperação anestésica. Todavia, Peniche e Araujo (2009) alertam para o fato de que apesar do exercício da enfermagem em CC ser de grande responsabilidade profissional, a visibilidade do enfermeiro fica comprometida e, na maioria das vezes, passa despercebida, principalmente quando o procedimento anestésico-cirúrgico é bem sucedido. Relata ainda que o próprio paciente, por não ter tido um relacionamento mais prolongado com a equipe de enfermagem do centro cirúrgico, desconhece que o êxito de sua cirurgia deve-se, em parte, ao enfermeiro. O paciente ignora que coube ao profissional da enfermagem a atividade assistencial e o gerenciamento de recursos materiais, humanos e tecnológicos, o oferecimento à equipe da infraestrutura e o apoio logístico, indispensáveis para a realização da cirurgia. Desconhece, ainda o sistema de assistência de enfermagem perioperatória responsável por oferecer uma assistência de enfermagem de qualidade e promover a segurança e o bem estar do paciente no período transoperatório. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 29 As mesmas autoras reforçam ainda a necessidade de o enfermeiro reconhecer situações que possam causar riscos e danos aos clientes, atuando na prevenção e propondo intervenções; uma vez que o CC é considerado um palco de muitas ocorrências graves, tanto físicas como emocionais. O trabalho em equipe é primordial, pois é no CC e principalmente dentro da sala cirúrgica que existe em tempo real, que ocupam o mesmo espaço, trabalhando num mesmo paciente, profissionais que necessitam de ações conjuntas, dependentes e interdependentes, exigindo múltiplos conhecimentos, experiências e julgamentos. Indubitavelmente, uma ação multiprofissional pautada no respeito na valorização do profissional e no interesse do bem comum alcança resultados melhores do que um conjunto de indivíduos que estejam atuando somente de acordo com suas responsabilidades individuais, morais e éticas (PENICHE; ARAUJO, 2009; SILVA; GALVÃO, 2007). Caregnato e Lautert (2005) constataram em sua pesquisa, que os profissionais sentem-se preparados para trabalhar tecnicamente com os pacientes, porém não foram preparados para trabalhar o relacionamento interpessoal que permeia a equipe multiprofissional. Na opinião de Cunha e Caregnato (2008), as necessidades do CC devem ser resolvidas imediatamente, pois, se isso não ocorrer, poderão surgir intolerâncias, ansiedades, desrespeito e estrelismos individuais. Tomar decisões nesse ambiente é complexo, pois envolvem restrições econômicas, questões sociais e respeito aos direitos individuais e coletivos. “A decisão individual afeta o coletivo e a decisão coletiva impõem restrições aos indivíduos”, desta forma deve-se respeitar as diferenças individuais e coletivas, baseadas nos valores morais e éticos expressos pela nossa sociedade (FERRAZ, 2009, p.49). 3.4. A Filosofia, a Ética, a Bioética e o Centro Cirúrgico A bioética é um dos campos mais emergentes e dinâmicos da reflexão filosófica atual. Apesar de pouco mais de três décadas de existência, a rapidez de sua expansão e de seu amadurecimento fez com que assumisse uma influência Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 30 direta, progressiva e irreversível na área da saúde. A sociedade globalizada, o grande desenvolvimento da medicina, a morte instrumentalizada nos hospitais e a influência dos aspectos econômicos e legais nas decisões médicas foram os grandes responsáveis para que isso acontecesse. Em sua definição, a bioética propõe uma análise do comportamento humano frente às novas possibilidades que o conhecimento científico traz, podendo pensar nas possíveis diferenças que surgem entre a própria ética e a ética do outro (COHEN, 2008). Como bem colocam Grange e Arantes (2005), o homem de outrora via no futuro uma vida moderna e cheia de facilidades. Hoje ele se vê atropelado pela biotecnologia, preocupado em querer saber aonde ela o levará . Dentro deste contexto apresentarei uma breve análise do processo civilizatório e das descobertas científicas que influenciaram o desenvolvimento humano e que trouxeram para o ambiente cirúrgico tantas inquietações. Para tanto, não basta falar somente dos cientistas. A história é conhecida principalmente por meio do pensamento dos que filosofavam (pensavam sobre a vida). Trago, então, na figura de grandes filósofos a tradução do pensamento do homem e dos cientistas. De acordo com Grange e Arantes (2005), para garantir a perpetuação da espécie o fogo foi a primeira descoberta realizada por nossos ancestrais, frágeis e desprotegidos, porém curiosos que, ultrapassando seus limites, perceberam que a sua sobrevivência dependeria do domínio de suas descobertas. A partir de então a evolução da humanidade tem seu ponto de partida e, como conseqüência, surgiram as primeiras civilizações. Entre elas destaca-se a egípcia, cujo legado da descoberta da escrita possibilitou a expansão geográfica e fez surgir as grandes civilizações, fato que contribuiu para o desenvolvimento da humanidade no caminho do entendimento da ciência. Os gregos, também deixaram sua marca como autores de descobertas científicas. O grande pensador Sócrates, séc. IV ac., contribuiu para a filosofia como educador público, tendo suas idéias perpetuadas através de outros pensadores como Platão e Aristóteles. Grange e Arantes (2005) discorrem que o poder daquela época se concretizou na estrutura social à medida que as civilizações se organizavam em Estados. A partir daí, por meio de uma hierarquia estabelecida, e muitas vezes Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 31 injusta, surgiram os primeiros pensamentos que hoje designamos como éticos. Sempre em busca da verdade, a ética de Aristóteles considerava que o homem através da sua capacidade de raciocínio atrelava as descobertas cientificas a realizações pessoais e de felicidade. Atribui-se então a Aristóteles um novo processo na construção do pensamento centrado na razão e na experimentação, tornando filósofos e cientistas porta–vozes das dúvidas existenciais dos seres humanos, os experimentadores de idéias. Inicia-se, dessa forma, a construção do pensamento científico, baseado em conhecimento, experimentação e ética. Hossne (2002) destaca que a medicina ocidental se estrutura com Hipocrates, o qual é referido como uma das grandes figuras da Grécia antiga juntamente com Sócrates e Aristóteles. Ele era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. Hipócrates compartilhava a idéia segundo a qual a natureza das doenças só seria conhecida mediante o uso da observação e da razão. O processo de observação e razão foi conhecido como técnica médica que o latim traduziu como arte médica. Dessa forma surge o fundamento do raciocínio clinico que poderia ser aprendido e ensinado. Os médicos, sendo capazes de dominar a técnica e a arte, passam a ter um poder amplo, abrangente e profundo, ditando ordens, regras e normas sobre a vida de outro ser humano. Esse poder ou “competência”, como cita Hossne (2002), mediante à visão hipocrática, deveria ser subordinado e condicionado a alguns princípios contidos no “Juramento de Hipócrates”, que ao estabelecer os fundamentos da técnica e da arte médica, deu enfoque especial à relação médicopaciente. Esta relação deveria ser fundamentada na amizade e no amor a serviço do doente. Atribui-se a Hipócrates a famosa frase Primum non nocere (antes de tudo, não prejudicar). A Idade Média se caracteriza como um período que gradativamente desenvolve o conhecimento pela busca dos grandes valores que conferem sentido à vida humana, em sua história e após a morte. Predominam as razões religiosas. Em filosofia, desenvolve-se o conhecimento pela busca das essências e das causas finais; propicia-se o reencontro com os clássicos da filosofia grega, particularmente Aristóteles; faz-se berço para as universidades que proliferam na modernidade. Mas Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 32 este modelo de pensamento entra em crise com a chegada da ciência moderna, que a partir do renascimento desloca-se da busca das essências para o estudo das particularidades e dos fenômenos. Esta transformação gera o saber tecnológico, que chega aos nossos tempos com suas vantagens, interrogações e ambigüidades (HOTTOIS, 2008). Grange e Arantes (2005) ainda consideram que foi por meio do papel e da imprensa que a humanidade passou a conhecer as invenções científicas. A Revolução Industrial do final do séc. XVIII veio trazer ao homem a possibilidade de produzir objetos de consumo não encontrados na natureza. O progresso tecnocientífico que resultou desse processo, além dos inúmeros benefícios, trouxe também problemas, particularmente quanto aos sentidos e valores éticos que permeiam o uso dos recursos técnicos. O ser humano acabou tornandose refém de si mesmo, não sobrevivendo sem a máquina. De maneira analógica, no ambiente hospitalar, em especial no CC, nada se realiza sem a necessidade inquestionável de materiais e equipamentos, dando-se sempre preferência aos mais modernos. Esta constante busca da superação dos limites tecnológicos permitia, até pouco tempo, o exercício pleno da autonomia científica, sem o devido questionamento ético das conseqüências inerentes a cada descoberta para a humanidade (GRANGE; ARANTES 2005). Caregnato (2002) aponta que o desenvolvimento científico e tecnológico não conseguiu modificar o significado da cirurgia para o paciente e seus familiares de maneira que ela continua sendo um evento marcante, que invade a intimidade das pessoas. De acordo com Urban (2003) o séc. XX foi a época da história da humanidade em que mais se falou do homem e dos direitos humanos. Contudo, também foi o tempo marcado pelas maiores violações desses mesmos direitos, pela crise de valores, a partir da qual o homem não reconhece a sua própria dignidade (respeito a si próprio) e não respeita a dignidade do seu semelhante. O campo da ética médica, tradicionalmente marcado por uma ênfase quase exclusiva do relacionamento médico-paciente (direitos e deveres), atualmente não é Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 33 suficientemente abrangente, capaz de abraçar uma série de situações emergentes no campo das ciências da vida (URBAN, 2003). Sendo assim, é neste contexto sócio econômico e cultural complexo que se conceitua a Bioética. A Bioética é interdisciplinar, sendo essa uma das suas propriedades mais evidentes. Na opinião de Urban (2003), o conceito de Bioética mais ideal e aceito atualmente está descrito na Encyclopedia of Bioethics: Estudo sistemático das dimensões morais – incluindo a visão moral, as decisões, a conduta e as linhas que guiam – das ciências da vida e da saúde, com o emprego de uma variedade de metodologias éticas e uma impostação interdisciplinar (POST, 2004 p.246,247) O mesmo autor coloca que três áreas contribuíram para a formação da Bioética: a experimentação em seres humanos; o uso social da medicina e; o emprego da alta tecnologia na prática médica. Vale salientar que esta última é muito utilizada em áreas de atendimento de alta complexidade, onde se situa o CC. A palavra bioética foi citada oficialmente por Van Rensselaer Potter, oncologista norte-americano, em artigo publicado em 1970. Em 1971 Potter publicou a obra que passou a ser referência inicial: “Bioética: Ponte para o Futuro” na qual define bioética, como a ciência da sobrevivência humana, de forma a promover e a defender a dignidade humana (o respeito ao ser humano) e a qualidade de vida (POTTER, 1971). Hoje, em tempos de novidades nunca sonhadas trazidas pela tecnologia, o cenário bioético foi ampliado de modo que se observam calorosos debates quanto a sua abrangência temática, seus paradigmas, sua fundamentação e seus princípios. Hossne, Albuquerque e Goldim (2007) apontam para um primeiro aspecto que pode ser considerado o campo de ação da Bioética. Afirmam que a Bioética é a ética das (e nas) ciências da vida, da saúde e do meio ambiente. Um outro aspecto a ser considerado corroborando com Urban (2006) é sua característica multi e transdisciplinar, que a torna aberta à pluralidade. A reflexão bioética no sentido multidisciplinar busca a participação de outras áreas de conhecimento além da ética, e, sobretudo a transdisciplinaridade, que é a incorporação da visão ética de uma Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 34 disciplina na visão das outras e vice e versa. É nessa linha de pensamento que a presente pesquisa busca trazer uma contribuição para além da minha área profissional e dialogando com outros saberes. Na opinião de Caregnato (2002), a cirurgia passa a ser um ato em que o paciente deposita sua total confiança e submissão em relação à equipe cirúrgica. Diante desta afirmação, Santa Rosa (2002) ressalta que o agir nas relações requer a aplicação de um instrumento de reflexão para nortear ações que surgem das práticas do CC, que entram em conflito com a garantia dos direitos do paciente, identificadas no comportamento da equipe multidisciplinar. As relações dentro de um ambiente como o CC envolvem questões de honestidade, justiça, respeito, autonomia e cumprimento de compromissos. De acordo com Santa Rosa (2002), a bioética em CC está presente e fundamentada na razão e no juízo moral, por utilizar-se de valores e princípios morais. Nesse sentido cabe ressaltar o principialismo, definido como uma teoria moral aplicada ao campo dos dilemas e conflitos morais que surgem na área biomédica formulada por Tom Beauchamp e James Childress, eles a descrevem em quatro princípios orientadores de ação: O Princípio da Beneficência, da Não maleficência, da Justiça e da Autonomia (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002). No CC, esses princípios são essenciais, quando se observa que a segurança da vida humana é o mais importante. Os valores individuais justificam e fundamentam as ações e tomadas de decisões na formação de juízos morais na prática profissional do enfermeiro. Porém, ainda na opinião da mesma autora, a maneira como são aplicados pode diferir de uma instituição para outra (SANTA ROSA, 2002). Passos (2000) relata que no CC o importante é a tomada rápida das decisões e a eficácia da ação, podendo-se deixar de lado os valores éticos, o que também poderia insinuar a polêmica idéia de que os fins justifiquem os meios. Precisamos ter consciência de que estamos no meio de uma das mais dramáticas revoluções na história, que nada deixa intocado: nossas maneiras de Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 35 trabalhar, de comunicar, de pensar e de agir (ALMEIDA; BRAGA, 2006). Em nenhum momento da história humana, segundo Puggina e Silva (2005), a ciência e a tecnologia colocaram tantos desafios à ética como hoje. A explosão tecnológica da qual o CC é cenário constante exige dos profissionais habilidades técnico-científicas e constantes atualizações. Segundo Puggina e Silva (2005, p.573), as relações pessoais estão perdendo a densidade ética e as estruturas sociais alterando paradigmas. A desumanização das relações entre profissionais de saúde e os pacientes tem sido uma das principais causas apontadas para o aumento de denúncias e processos de promoção de responsabilidade jurídica contra os profissionais de saúde Não nascemos éticos, mas nos tornamos éticos através do nosso desenvolvimento. Isso quer dizer que passamos dos direitos humanos a uma ética das relações que, não sendo inata, deve ser apreendida por todos os indivíduos que desejam se relacionar. (PUGGINA; SILVA, 2005, p.543). Segundo Bronzatti, Ponteli e Ferretti (2008), o profissional de CC, baseado num código de condutas morais, deve ter qualidades essenciais no exercício de sua profissão, tais como conhecimento; compromisso; habilidade; estratégia; altruísmo; justiça; competência; sigilo; prudência; coragem; perseverança; compreensão; humildade; imparcialidade e otimismo, tendo de desenvolver suas atribuições com responsabilidade, lealdade e iniciativa. Para que se possa refletir sobre autonomia em bioética inserida no contexto do CC, faremos previamente algumas considerações semânticas e filosóficas sobre autonomia. A “autonomia” no sentido semântico da palavra vem do grego formada pelo adjetivo autos que significa “o mesmo”, “ele mesmo”, “por si mesmo” e nomos que significa “compartilhamento”, “lei do compartilhar”, “instituição”, “lei”, “convenção”. Nesse sentido autonomia significa a competência humana em “dar-se suas próprias leis”. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 36 Quando se fala em autonomia não é possível deixar de mencionar Immanuel Kant, grande filósofo alemão do séc. XVIII. A ele se atribuiu o valor incondicional da pessoa humana e sua capacidade de autodeterminação, transformando-a em lei universal: “Age como se a máxima da tua ação se devesse tronar, pela tua vontade, em lei universal da natureza.” (KANT, 2005, p.59). Porém, a autonomia não pode ser entendida tão somente como sendo autodeterminação de um indivíduo. De acordo com Goldim (2000), a melhor denominação para o princípio da autonomia está na perspectiva que surge quando se entende que o conceito não é dirigido apenas a um indivíduo e sim quando a sua ação vislumbra a responsabilidade pelo respeito à pessoa do outro. A proposta da responsabilidade dirigida aos cientistas cunhada por Hans Jonas filósofo alemão do início do séc. XX, defende, por assim dizer, que o cientista deve estar imbuído do máximo de consciência possível e comprometido com a defesa de uma autêntica humanidade. Acreditando que a tecnologia elimina a consciência, elimina o sujeito e elimina a liberdade em proveito de um determinismo, Hans Jonas foi levado a propor novas dimensões para a responsabilidade articulando duas realidades: uma subjetiva na qual ocorre a fusão do sujeito e da ação, e outra objetiva, em que a ação se revela com suas conseqüências. Assim o princípio da responsabilidade fica definido de forma que “a ordem ética está presente não como realidade visível, mas como um apelo previdente que pede calma, prudência e equilíbrio.” (SIQUEIRA, 2005, p.139). Costa (1996) ao considerar a autonomia como ação, afirma que devemos entender que ela parte do pressuposto da intencionalidade, do conhecimento e da ausência de controle externos. Uma vez que uma ação pode sugerir uma implicação em relação ao outro, encontramos na opinião de Anjos (2006) a parceria da autonomia com a vulnerabilidade, cujo termo é derivado do Latim (vulnus: ferida). Tratando-se de pessoas, expressa a possibilidade de alguém ser ferido tanto no sentido físico quanto no sentido da ofensa moral quando uma ação é realizada. A vulnerabilidade pode se referir a indivíduos, grupos e até a toda a humanidade, podendo estar Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 37 sendo defendida ou explorada nas relações quando o sentido de vulnerabilidade torna-se vulneração (ANJOS, 2006). Durand (2003, p.176) conceitua que autonomia é “a capacidade de fazer as próprias escolhas e realizar atos sem coação”, ou, no sentido ético é a capacidade de decidir no sentido do bem e do que é justo: A autonomia, portanto, opõe-se tanto à servidão em relação a leis externas (políticas ou morais) como a submissão em relação aos próprios desejos e caprichos individuais, subjetivos.(...) A autonomia remete, portanto, à capacidade ou, melhor, à responsabilidade de buscar o que constitui o bem, o que é racionalmente ético.(...)não é somente um atributo da pessoa, ela é um dever, uma responsabilidade. (DURAND, 2003, p.176-177). O mesmo autor (2003, p.181) esclarece que podem existir diferentes graus de autonomia, já que não há uma noção de autonomia perfeita. Porém, a falta de autonomia pode ser completa quando há coação de qualquer forma. Entre estes dois extremos, há múltiplos graus: - autonomia perfeita (utópica) - autonomia adequada - assentimento - não-oposição - ausência completa de autonomia O princípio da autonomia está intimamente relacionada com as atitudes. Na ética, a maneira de como dizer e como fazer é tão importante quanto o conteúdo, o que dizer e quando dizer. As atitudes por sua vez se relacionam com o ambiente e os sujeitos, portanto a ética das relações (DURAND, 2003). Para Santa Rosa (2002) a autonomia é o princípio que preceitua a liberdade individual de determinar as próprias ações de acordo com a própria escolha, é reconhecer suas decisões, tomadas de acordo com os seus valores e convicções Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 38 pessoais. Entretanto, coloca que nos dias de hoje a ética é negligenciada por falta de lealdade dos empregados, pelo uso da tecnologia a serviço da fraude. No CC, a exemplo de situações enfrentadas pelos enfermeiros temos: O encobrimento ou deturpação de registros de nomes de elementos da equipe cirúrgica, atuantes ou não, nos procedimentos cirúrgicos realizados; a exigência de uma obediência cega à autoridade, não importando se ela é antiética ou injusta; a negligencia da necessidades de pudor e privacidade de pacientes no período perioperatório [...] (SANTA ROSA, 2002, p.134). A mesma autora ainda cita outros dilemas que a enfermeira enfrenta no gerenciamento do BO: [...] má qualidade no trabalho, decorrente de situações em que o profissional enfrenta o duplo vínculo, a dupla jornada de trabalho;...o sacrifício do mais fraco, para que as coisas sejam feitas levando a sobrecargas de uns em benefícios de outros; a supressão dos direitos de liberdade de expressão e de escolha de atividades, a depender da política de pessoal; o deixar de denunciar a ocorrência de práticas anti-éticas que tenha vivenciado no local de trabalho, por temer a perda do emprego; o bajular o superior hierárquico, em vez de fazer o trabalho bem feito; a promoção do empreendedor destrutivo, que deixa para trás os seus erros; a não cooperação com outras áreas do sistema;[...]atos de inverdade ou de omissão por parte dos dirigentes para com os empregados, sob a justificativa de serem pelo bem da instituição, não deixando claro seus propósitos; o não assumir a responsabilidade por práticas danosas, intencionais ou não. (SANTA ROSA, 2002, p.134). É nesse contexto complexo, multifacetado que a presente pesquisa foi desenvolvida seguindo a trajetória metodológica descrita a seguir. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 39 4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 4.1 Opção pelo Método O caminho percorrido buscou se aproximar do universo dos valores, dos significados e das crenças de um grupo multiprofissional que compartilha o mesmo ambiente, o Centro Cirúrgico. O processo do trabalho científico desta pesquisa foi o de construir teoricamente as relações e os significados da realidade. Apropriamo-nos de Minayo (2009), entendendo que por meio de uma abordagem qualitativa poderíamos absorver essa realidade com seus subjetivismos. Estudar no universo das ciências da saúde o comportamento e as relações sociais a partir das quais os indivíduos se interagem formando grupos, equipes, times, levou-me a optar pela pesquisa exploratória, descritiva de abordagem qualitativa (MINAYO, 2009; GIL, 2009). Ao analisar a natureza do problema a ser pesquisado, a abordagem qualitativa se torna a mais adequada, uma vez que esta considera a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito (CAREGNATO, 2002). Segundo Oliveira (2002b), a pesquisa qualitativa possibilita a investigação de situações complexas ou situações muito particulares. Preocupa-se em investigar o fenômeno e não o fato, pois o fenômeno remete à interpretação subjetiva do fato feita pelo observador. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador busca levantar as opiniões, as crenças, o significado das coisas nas palavras, nos gestos e no comportamento dos participantes da pesquisa. Busca explorar a compreensão das pessoas a respeito de sua vida diária, ou seja, dar sentido ou interpretar fenômenos em termos das significações que as pessoas trazem para elas (VIEIRA, 2008). Há uma variedade de técnicas, caracterizações e desenhos segundo Caregnato (2002), que possibilitam desvendar e discutir os problemas vivenciados e sua prática. Neste estudo optamos por trabalhar com a técnica do “Estudo de Caso”, pois segundo Minayo (2006), esse é um meio de se organizar dados de modo a Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 40 preservar características individuais, permitindo também reunir informações em um determinado campo, gerando conhecimento sobre características significativas de eventos vivenciados, intervenções e processos de mudança. A mesma autora coloca que este é o método indicado para responder ao “como” e ao “porque” determinado fenômeno se apresenta. Eles exploram o contexto em que uma ação ocorreu ou ocorre, as maneiras de interpretá-la com o objetivo de compreender os esquemas de referência e as estruturas de relevância relacionadas a algumas situações por parte de um grupo específico. Possibilita ainda apresentar modelos de análise replicáveis em situações semelhantes. De acordo com Kimura e Merighi (2003), o estudo de caso pretende relatar uma configuração que, embora particular, funcione apenas como ponto de partida para uma análise que busque o fortalecimento das relações sociais e que tem como base o conhecimento que se inicia pela compreensão dos eventos particulares. A autora coloca que, no estudo de caso, empregam-se vários métodos, incluindo a entrevista, a observação participante e os estudos de campo. Acrescenta ainda que para proceder a sua análise o pesquisador deve (p.18): - depender de todas as evidencias relevantes; - incluir todas as formas possíveis de interpretação; - voltar-se para os aspectos mais relevantes do estudo de caso; e - utilizar a habilidade e o conhecimento para promover a análise, priorizando os pontos a serem explorados. 4.2 Local de Estudo O campo de pesquisa é considerado um recorte espacial feito pelo pesquisador para representar a realidade que deseja estudar. A escolha do campo é considerada como uma etapa essencial da pesquisa qualitativa, uma vez que os pesquisadores selecionam os fatos a serem observados e o local em que serão coletados (MINAYO, 2006). Diante disso, foi eleito como campo de estudo o CC de um Hospital Geral Privado da região oeste da cidade de São Paulo inaugurado em 1960. Trata-se do Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 41 Hospital e Maternidade São Camilo unidade Pompéia, campo de estágio de alunos de graduação em enfermagem do Centro Universitário São Camilo. O hospital referido e a Instituição de Ensino Superior fazem parte de uma organização que compartilha valores semelhantes apoiando-se na bioética, saúde e cidadania. Desta forma a escolha do campo e dos sujeitos se justificou presumindo ser o ambiente do CC e os profissionais que lá atuam adequados para a realização esta pesquisa. 4.3 Sujeitos da Pesquisa De acordo com Deslandes e Gomes (2009), a seleção dos sujeitos deve ser aquela que possibilita abranger o problema da pesquisa nas suas diferentes formas de representação e também deve ser capaz de responder a uma determinada pergunta. Neste estudo de caso, a indagação foi formulada da seguinte maneira: Quem são os indivíduos que se relacionam e interagem dentro do CC capazes de fornecer opiniões, dados, valores e vivências para serem analisadas? Esta resposta foi identificada nos artigos escritos por Barreto e Barros (2009), Peniche e Araujo (2009) e Silva e Galvão (2007) quando discorrem que o CC é formado por uma equipe multiprofissional que desenvolve no seu cotidiano ações dependentes e interdependentes integradas num mesmo ambiente, compartilhando responsabilidades. Levando-se em consideração o grande número de profissionais de distintas áreas e especialidades que atuam no CC, optamos neste estudo por entrevistar os anestesiologistas, cirurgiões, enfermeiros e técnicos de enfermagem considerados representantes da equipe de CC. Outro motivo que levou-nos a essa escolha foi o fato de que são eles que atuam com um único objetivo, no mesmo espaço, no mesmo tempo e com o mesmo paciente, de forma rotineira. Portanto, tais profissionais são aqueles considerados “informantes chaves.” (GIL, 2009). Na pesquisa qualitativa não se pode quantificar previamente o número de sujeitos de pesquisa, tendo em vista que o estudo se propõe a analisar as representações, conhecimentos, atitudes e comportamentos. De acordo com Deslandes e Gomes (2009), o número de sujeitos deve ser definido por “inclusão Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 42 progressiva”, ou seja, os sujeitos vão sendo incluídos durante a fase das entrevistas e à medida que se observa, a partir das respostas, uma regularidade, uma repetição das explicações e dos sentidos das respostas, interrompe-se seguindo o critério de saturação dos dados. Em outras palavras Minayo (2006), coloca que o dimensionamento da amostra em pesquisa qualitativa obedece ao “critério de saturação dos dados”, que se entende como o conhecimento formado pelo pesquisador, no campo, do que conseguiu compreender a lógica interna do grupo. A relevância, portanto, está no empenho de enxergar a questão sob várias perspectivas e pontos de vista. Uma vez definidas as quatro categorias profissionais, as entrevistas foram realizadas e à medida que se observou a saturação dos dados, a amostragem daquela categoria profissional foi interrompida. . 4.4 Coleta de Dados O estudo de caso segundo Gil (2009) necessita de várias fontes de evidência para se investigar e analisar o caso como um todo. Necessita, também, de múltiplas técnicas de coleta de dados para que se possa garantir: [...] a profundidade necessária ao estudo e a inserção do caso em seu contexto, ...conferir maior credibilidade aos resultados. Com a existência de dados obtidos mediante procedimentos diversos é que se torna possível a triangulação, que constitui um dos procedimentos mais indicados para obter a corroboração do fato ou do fenômeno. (GIL, 2009, p.55). Procuramos como pesquisadora atentar também para as indicações de Minayo (2006, 2009) quando coloca que no que tange à pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e o sujeito pesquisado é essencial. Dessa maneira, todo pesquisador precisa ser um curioso, um perguntador. Deve ser atento e observador para captar nas respostas dos sujeitos significados que vão além da palavra escrita. Deve saber ouvir, ser flexível, porém, sem perder o foco da entrevista. Cabe ao pesquisador, ainda, saber também escolher o local do estudo, Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 43 selecionar a amostra, fazer os contatos, elaborar e realizar entrevistas e analisar os dados coletados. Os instrumentos definidos para a coleta de dados deste estudo foram entrevistas semi-estruturadas e com perguntas abertas, observação e análise documental e científica (GIL, 2009). Importante destacar que a consulta documental é imprescindível para o pesquisador obter informações referentes à estrutura, organização, descrição de cargos e funções (GIL, 2009). O “Regimento Interno do Departamento Cirúrgico” (ANEXO A), fornecido pela enfermeira chefe do CC, O Folheto do Serviço de Anestesia (ANEXO B), fornecido pelo chefe da anestesia, bem como os sites da Sociedade Beneficente São Camilo, do Hospital e Maternidade São Camilo e da União Social Camiliana serviram como base documental analisada nesta pesquisa. Considera-se que em entrevistas abertas e semi-estruturadas os entrevistados apresentem uma fala relativamente espontânea, na qual a subjetividade está muito presente. Ao discursar através do “eu” o entrevistado coloca os seus próprios sistemas de pensamento, aflora o seu inconsciente, seus valores, suas emoções e mesmo ao falar de outra pessoa ou de uma situação utiliza seus próprios meios de expressão para descrever sua opinião, dando uma singularidade individual à entrevista. Ao mesmo tempo, observa-se que as falas dos entrevistados podem ser contraditórias, entrecortadas, desviadas do assunto, inseguras, com clarezas enganadoras, atalhos, e recuos, o que demonstra “delicadeza” com que se devem ser analisados esses discursos (BARDIN, 2008). O roteiro da entrevista foi elaborado em duas partes: uma relativa aos dados de identificação o outra com questões abertas (APÊNDICE B). As entrevistas foram gravadas, conforme a recomendação de Gil (2009), que considera este procedimento importante para que não se perca nenhum dado da entrevista e para que o pesquisador possa observar nos gestos, nas pausas, na comunicação não verbal, características individuais que não seriam conseguidas através da tomada de notas. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 44 O projeto foi aprovado pela instituição em que se daria o local do estudo e pelo CoEP – Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo em outubro de 2009. A prova de qualificação da pesquisa foi marcada e realizada em novembro de 2009. Em dezembro de 2010, alguns ajustes sugeridos na qualificação foram realizados. Houve um contato telefônico, em janeiro de 2010, com a chefia de enfermagem do CC que já havia sido previamente informada da intenção do projeto. Deste contato, firmou-se uma visita pessoal que aconteceu no mês seguinte, no sentido de conhecer o local de estudo e a melhor forma de contato com os sujeitos da pesquisa. Na data marcada, reconheci o CC na companhia da enfermeira chefe, para quem o projeto foi apresentado. Em seguida apresentou-se o projeto para o anestesiologista chefe do CC. Foram-lhes apresentados o objetivo, a metodologia e o parecer do CoEP aprovando a pesquisa. Ambos se mostraram empenhados e interessados no tema. Cada um na sua área forneceu-me dados necessários para a caracterização mais detalhada do local e dos sujeitos da pesquisa. Em comum acordo com as chefias de enfermagem e anestesiologistas, optouse por realizar as entrevistas dentro do CC durante o período de trabalho. Tal opção foi motivada por dois motivos: 1) considerar que seria desconfortável aos profissionais se ausentarem do seu local de trabalho devido ao acesso restrito do CC, o que demandaria troca da roupa privativa; e 2) considerar a dinâmica do setor, onde os profissionais das diversas categorias seguem um agendamento cirúrgico com horários previamente estabelecidos. Desta forma, nos intervalos entre um procedimento e outro os profissionais que se encontravam disponíveis eram identificados e convidados a participar da pesquisa. A amostra deu-se por conveniência, conforme descrevo a seguir. Foi realizado um total de 27 entrevistas. Como dependia-se da disponibilidade da equipe, as entrevistas foram finalizadas após oito visitas ao CC. No dia 09/03 foram entrevistados dois enfermeiros e um técnico de enfermagem; dia 11/03, mais três enfermeiros e dois técnicos de enfermagem. Com uma amostra de cinco enfermeiros as gravações foram ouvidas e transcritas identificando-se a regularidade Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 45 e repetição das explicações, sem que nenhum dado novo fosse relatado. Dia 15/03 foram entrevistados quatro anestesiologistas. Dia 16/03 mais dois anestesiologistas disponíveis foram entrevistados e um enfermeiro. Apesar do número da amostra dos enfermeiros já ter sido considerada saturada, optou-se por entrevistar também este enfermeiro por respeito à sua disponibilidade e por ser ele parte integrante dos seis enfermeiros que atuam no CC durante o dia. Com seis anestesiologistas entrevistados, realizei a escuta das entrevistas e da mesma forma que observei nos enfermeiros, defini a amostragem com seis anestesiologistas suficientes e satisfatórias. Dia 21/03 realizei entrevista com mais dois técnicos de enfermagem que se encontravam disponíveis. A amostragem com os cinco técnicos de enfermagem não me permitiu, através da escuta das entrevistas, observar respostas regulares. Dia 22/03 foi entrevistado um cirurgião e mais dois técnicos de enfermagem, que se encontravam disponíveis na ocasião. Com sete técnicos entrevistados obteve-se o critério de saturação dos dados, fechando assim a amostra do grupo de técnicos de enfermagem. Com apenas um cirurgião entrevistado dia 23/3 foi realizada mais uma visita ao CC. Nesta data mais dois cirurgiões foram entrevistados e me foram encaminhados mais dois técnicos de enfermagem. Assim, também em respeito à disponibilidade dos profissionais, optei por realizar as entrevistas e incluí-las nas análises, uma vez que os dados obtidos vieram a reforçar os dados relatados dos outros entrevistados. Considerando a proporcionalidade final dessa amostragem optamos por entrevistar mais alguns cirurgiões a fim de garantir a equidade da participação das diferentes categorias profissionais, embora não fosse intenção desta pesquisa analisar separadamente as diferentes categorias. Realizei mais uma visita ao CC que aconteceu dia 21/05 quando foram entrevistados mais três cirurgiões disponíveis na ocasião. O número dos sujeitos foi então fechado e definido através do critério de saturação dos dados, ficando da seguinte maneira: seis enfermeiros denominados aqui através da nomenclatura: E1, E2, E3, E4, E5, E6; nove Técnicos de Enfermagem, denominados: T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9; seis Anestesiologistas, denominados: A1, A2, A3, A4, A5, A6, e seis Cirurgiões: C1, C2, C3, C4, C5, C6. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 46 As entrevistas foram realizadas na sala da chefia de enfermagem do CC cedida temporariamente para este fim. Após as apresentações nominais, realizava um breve histórico profissional informando aos entrevistados que o tema da pesquisa era “ O Relacionamento Interpessoal da Equipe do Centro Cirúrgico – Uma Reflexão a Luz da Bioética” que estava sendo desenvolvida por mim, enfermeira e mestranda Maristella Lopes Gianini, sob a orientação da Profª Drª Luciane Lucio Pereira e co-orientação do Prof. Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos. Apresentei-lhes os objetivos do estudo, esclareci quanto a metodologia a ser seguida, garantindo-lhe a privacidade das informações e a preservação do anonimato de cada um. Informava também que poderia ser fornecidos esclarecimentos sobre o estudo, bem como a retirada de seu consentimento a qualquer momento, sem que isto o levasse a qualquer penalidade. Deixava meu contato telefônico e email bem como o contato telefônico do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo caso houvesse qualquer problema. O aceite do entrevistado ficou registrado com a sua assinatura no TCLE (Apêndice A) em duas vias, sendo que uma ficou em seu poder e outra em poder do entrevistador. Em seguida, iniciou-se a entrevista propriamente dita seguindo o roteiro préestabelecido (Apêndice B). Neste momento, recolher os dados de identificação dos sujeitos me auxiliaram para que eu pudesse iniciar um relacionamento interpessoal, deixando entrevistados e entrevistador mais à vontade. Ao término de cada entrevista, os sujeitos foram questionados se gostariam de ter contato com a transcrição das mesmas antes da análise. Nenhum solicitou, mas muitos demonstraram interesse no resultado final da pesquisa. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 47 4.5 Análise dos Resultados Após cada entrevista ser realizada, ela foi ouvida e transcrita. A releitura completa e atenta de todas elas foi realizada continuamente para que eu pudesse familiarizar-me com as respostas e obter uma visão geral do material (GIL, 2009). As categorias de analise foram predeterminadas a partir do roteiro de perguntas. Segundo Minayo (2009) a palavra categoria refere-se em geral a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. No caso do presente estudo a utilização de uma categoria predeterminada foi utilizada com a idéia de estabelecer classificações, permitindo-se agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito. Muito embora os resultados permitissem usar um roteiro preestabelecido, trabalhando com categorias predeterminadas, busquei a validação dessas categorias considerando os critérios de análise de conteúdo de Bardin (2008), que indica que as categorias devem ser excludentes. Ferreira (2000) corrobora com esta idéia afirmando que, na construção das categorias, os discursos são classificados em uma única categoria ou subcategoria, respeitando a regra de exclusividade, em que um elemento não pode ser classificado em mais de uma categoria. No processo de análise dos dados dos estudos de caso, Gil (2009) aponta que não há uma seqüência a ser seguida para se interpretar os dados. Porém, é necessário que na análise das entrevistas o pesquisador consiga suprimir trechos menos relevantes e com significados iguais; explicar trechos contraditórios ou que revelaram mais de um sentido; além disso, deve estruturar formalmente o material de modo que se estabeleça relações com o objetivo da pesquisa. Sendo assim foram definidas seis categorias identificadas a partir das perguntas da entrevista como mostram as figuras abaixo: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Pergunta 1 Pra você quem é a equipe do CC 48 Categoria Composição da equipe do Centro Cirúrgico Figura 1 – Origem da Categoria Predeterminada – Composição da Equipe do Centro Cirúrgico Pergunta 2 Como você percebe o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no CC, quais os fatores condicionantes (restritivos e promotores)? Categoria Percepção do Relacionamento Interpessoal da equipe multiprofissional do Centro Cirúrgico Figura 2 – Origem da Categoria Predeterminada – Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Pergunta 3 Em sua opinião qual o papel do enfermeiro nesta equipe? 49 Categoria Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico Figura 3 – Origem da Categoria Predeterminada – Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico Pergunta 4 Você identifica situações de conflito ético no trabalho desta equipe? Categoria Conflito ético em Centro Cirúrgico Figura 4 – Origem da Categoria Predeterminada – Conflito Ético em Centro Cirúrgico Pergunta 5 Em sua opinião como você percebe a atuação do enfermeiro diante destas situações? Categoria Atuação do enfermeiro frente ao conflito ético em Centro Cirúrgico Figura 5 – Origem da Categoria Predeterminada - Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Pergunta 6 6. Como você identifica a autonomia do enfermeiro? 50 Categoria Autonomia Profissional do enfermeiro do Centro Cirúrgico Figura 6 – Origem da Categoria Predeterminada – Autonomia Profissional do Enfermeiro do Centro Cirúrgico Em seguida, dando continuidade à releitura das entrevistas foi possível realizar o que Gil (2009) chama de codificação axial. Esta codificação permitiu relacionar as categorias às suas subcategorias, cujo propósito foi o de relacionar e reorganizar os dados de maneira que se pudesse identificar a idéia central e seus desdobramentos. Nesta fase, também foi possível confirmar mais uma vez, por meio das repetições das falas e seus significados, a saturação dos dados. As codificações foram realizadas manualmente identificadas com cores diferentes. A partir da primeira codificação, quem utilizou cores respectivas, foi se extraindo através de corte e colagem dados significativos das respostas de todos os entrevistados. Estas foram sendo agrupadas em suas respectivas categorias. Ao utilizar-se sempre da releitura como forma de familiarização do conteúdo e identificação da profundidade das respostas, as subcategorias foram sendo identificadas. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 51 5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 5.1 Caracterização do Local do Estudo 5.1.1 Caracterização da Instituição O Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia (HMSCP) é um dos 27 hospitais que são mantidos pela da Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC), juntamente com quatro clínicas e um plano de saúde, todos distribuídos por todo o território nacional. A história deste hospital teve início em 1923 quando o Pe. Inocente Radrizzani, criou um serviço assistencial gratuito para as pessoas menos favorecidas do bairro de Vila Pompéia, na cidade de São Paulo. Em 1932, construiu a Policlínica São Camilo com auxílio de donativos de pessoas físicas e jurídicas. Em 23 de janeiro de 1960, a Policlínica deu lugar ao Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia. Hoje ele é um hospital geral, filantrópico e de iniciativa privada que realiza desde partos até transplantes. Oferece um atendimento de qualidade em todas as especialidades médicas, tendo um completo centro de diagnóstico. A Unidade Pompéia é Acreditada com Excelência, selo concedido pela ONA (Organização Nacional de Acreditação) e reconhecido pelo Ministério da Saúde, mediante avaliação do Instituto Qualisa de Gestão (IQG). A missão e valores do hospital são: Proporcionar serviços na área da saúde, superando a expectativa dos clientes, alicerçados na competência, tecnologia, humanização e valorização da vida. Através de valores éticos morais e culturais; espiritualidade; comprometimento profissional e social; princípios éticos nas ações; desenvolvimento profissional; valorização da vida e da saúde; qualidade e humanização no atendimento; integração institucional; gestão auto-sustentável. (PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA, 2005). Atualmente, conta com 308 leitos de internação sendo que 257 leitos estão ativos. Os 51 leitos restantes são considerados extras, por conta de reformas que Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 52 estão sendo realizadas. Estes leitos são divididos em: 29 leitos de Maternidade; 20 leitos de Pediatria; 9 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal; 13 leitos de UTI Pediátrica; 2 leitos de Berçário Patológico; 9 leitos de Transplante de Medula Óssea (TMO); 11 leitos de Clínica Médica; 31 leitos de UTI Adulto; 131 leitos de Clínica Médico-cirúrgica divididos em 7 andares” (1 comunicação pessoal). O hospital segue os preceitos que regem a “Carta de Princípios das Entidades Camilianas” (UNIÃO SOCIAL CAMILIANA, 2002) ANEXO A. Estes princípios são alicerçados por valores éticos e cristãos cuja valorização da pessoa humana está pautada na sua dignidade, no respeito e na valorização da vida e saúde. 5.1.2 Caracterização do Centro Cirúrgico O Centro Cirúrgico está situado no sétimo andar do Bloco I e II. Neste mesmo pavimento encontra-se a Central de Material e Esterilização e a Recuperação PósAnestésica. De acordo com a ideologia camiliana: “O CC oferece um atendimento humanizado e a preocupação com o conforto e comodidade do médico e do paciente são dois aspectos sempre presentes.” (HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO CAMILO, 2008). O CC conta com 13 salas de cirurgia e 11 leitos de Recuperação Anestésica totalmente equipada com aparelhos de alta tecnologia. Atende a cirurgias eletivas, de urgência e emergência, de pequeno, médio e grande porte bem como cirurgias especiais, nas diversas especialidades cirúrgicas, inclusive transplantes. As cirurgias eletivas são pré-agendadas na Central de Pré-agendamento Cirúrgico que funciona nas dependências do dentro do CC de 2ª feira à 6ª feira das 7 às 19hs. A agenda é aberta, não há limitação de dia e horário para a realização das cirurgias eletivas, porém há um pré-agendamento da cirurgia onde o pedido de equipamentos e material especial deve seguir rotina específica. A descrição detalhada do material, suas quantidades e o fornecedor devem ser encaminhados por email ou via fax. As cirurgias de urgência devem ser agendadas no próprio centro cirúrgico pelo cirurgião Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 53 ou outro membro da equipe de cirurgia. A média mensal de pacientes operados gira em torno de 828, porém as cirurgias realizadas mensalmente são de 1024, uma vez que é possível realizar mais de um procedimento cirúrgico num mesmo paciente. Desta forma, 34 é a média de cirurgias realizadas diariamente. (FARAH, 2010). 5.1.3 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa Ainda que os sujeitos desta pesquisa tenham diferentes vínculos institucionais, consideram-se parte do “Time Camiliano”, de modo que: [...] o time Camiliano trabalha comprometido com a responsabilidade pela manutenção do constante pensamento cultural da missão, visão e valores da instituição, alinhados à gestão estratégica pela qualidade, por meio de ações e programas que atingem a todas as categorias profissionais. Isso assegura o alinhamento dos processos de trabalho com os objetivos globais da instituição. (HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO CAMILO, 2008). Os médicos do CC são definidos neste estudo como anestesiologistas e cirurgiões. Para que um cirurgião possa utilizar o Hospital ele deve ser cadastrado na instituição através da Diretoria médica e seguir as rotinas existentes. Os cirurgiões cadastrados, alguns deles, fazem parte do corpo clínico do hospital, onde prestam serviços nas diversas unidades (Unidade de internação, CC, CME, RPA e UTIs). Outros ainda são apenas credenciados para utilizar os serviços oferecidos e adequar às necessidades de seus pacientes que, no caso em questão, são as necessidades cirúrgicas (FARAH, 2010). Os anestesiologistas estão vinculados a uma empresa particular denominada Instituto Paulista de Assistência Respiratória (I.P.A.R.). Esta empresa é formada por cinco sócios, trinta e dois anestesiologistas, uma secretária e dois auxiliares administrativos, os quais prestam serviços para o HMSCP nas unidades de CC, CO, Hemodinâmica, Raio X, Tomografia e Unidade de Ressonância Magnética. A chefia médica, ou seja, o anestesista chefe, o pessoal administrativo e os anestesiologistas Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 54 estão locados nas dependências do CC. Por meio de uma escala predefinida rodiziam-se para atender atividades relacionadas ao procedimento anestésico. O número de anestesiologistas varia conforme o pré-agendamento cirúrgico. Basicamente, é escalado um anestesiologista por cirurgião para as cirurgias eletivas e mais dois para as cirurgias de urgência e emergência. Desta forma, a média diária de anestesiologista durante o dia é de 12 a 14 profissionais. Ultimamente, criou-se um plantão estendido até às 22 horas, conforme a necessidade da agenda cirúrgica. Aos sábados, este número varia entre 8 e 9 profissionais. À noite e aos domingos há 2 anestesiologistas fixos com cobertura por radio à distância conforme informado pelo chefe da anestesiologia (NIGRO, 2010). Aos clientes é oferecido um folder explicativo (ANEXO B) a respeito da anestesia e do Serviço de Anestesia do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia. Nele é informado que a anestesia é aplicada por médicos especialistas em anestesiologia, capacitados não somente para aplicar a anestesia, mas também para oferecer ao cliente segurança, sem sofrimento e tranqüilidade para o cirurgião realizar o trabalho dele (NIGRO, 2010). Quanto à enfermagem, ela está vinculada diretamente ao quadro de funcionários do hospital denominados colaboradores. Há uma enfermeira chefe responsável pelo CC a qual, por seu caráter administrativo, cumpre 40 horas semanais de 2ª a 6ª feira, sendo que o restante da equipe de enfermagem obedece a um regime de trabalho de 36 horas semanais, 6 horas diárias, de 2ª feira a domingo com uma folga semanal. O período de 6 horas obedece aos seguintes horários: Manhã: das 7hs às 13hs; Tarde: das 13hs às 19hs e Noturno das 19hs às 7hs (FARAH, 2010). Há oito enfermeiras distribuídas da seguinte maneira: duas no período da manhã; duas no período da tarde; uma em cada noturno (par e impar); uma denominada ferista, que cobre as férias, e que quando não está nesta cobertura cumpre o horário das 18 às 24 h; e uma folguista que também quando não está nesta cobertura cumpre o horário das 9 às 15hs. As atividades diárias das enfermeiras que se auto-denominam “assistenciais” são exercidas em todo o CC, ou seja: prestam assistência de enfermagem nos pacientes pós-operados; na Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 55 Recuperação Anestésica; organizam a dinâmica diária do CC com todos os profissionais envolvidos; materiais e equipamentos; definindo horários, salas, equipe de enfermagem; cumprem e fazem cumprir toda documentação e burocracia exigida para a realização da cirurgia; atendem e assistem ao paciente e à equipe de cirurgia dentro da SO (FARAH, 2010). Há 29 técnicos de enfermagem distribuídos da seguinte maneira: 16 no período da manhã; 15 no período da tarde; 3 em cada noturno (par e impar); 1 cumpre o horário das 18 às 24hs e 1 das 17 às 23hs. Os técnicos atuam nas salas de cirurgia, sendo denominados circulantes de sala, e na Recuperação Anestésica. Diretamente ligada à equipe de enfermagem propriamente dita há quatro auxiliares de enfermagem que atuam como agentes de transporte. Eles cumprem uma jornada de 8 horas diárias de trabalho de 2ª a sábado com horários de entrada predefinidos: 6hs; 7hs; 10hs e 12hs (FARAH, 2010). Subordinadas à chefia de enfermagem do CC há duas escriturárias; 1 auxiliar de escritório e 2 auxiliares de guia responsáveis pela marcação das cirurgias, ou seja, pelo pré agendamento cirúrgico (FARAH, 2010). As atribuições dos colaboradores estão de forma mais detalhada no capítulo V, Art. 10, 11, 12, 13, 14 e 15 do “Regimento Interno do Departamento Cirúrgico do Hospital e Maternidade São Camilo unidade Pompéia”. (ANEXO C). 5.2 Apresentação das Categorias e Subcategorias De acordo com o referencial metodológico as categorias foram predeterminadas e as subcategorias emergiram através da relevância e da repetição das idéias. De maneira geral os dados foram observados no contexto de todas as categorias profissionais, porém naquela em que o dado se mostrou muito relevante a uma determinada categoria, este foi apontado. As categorias predeterminadas e suas subcategorias foram: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 56 Categoria 1: Composição da equipe do Centro Cirúrgico; Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico, constituída pelas subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico e Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico; Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico, constituída pelas subcategorias: Papel de Liderança e Papel Assistencial; Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico, constituída pelas subcategorias: Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético Justificado; Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético, em Cento Cirúrgico, constituída pelas subcategorias: Posicionamento do enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador e Enfermeiro como agente causador do conflito; e Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro de Centro Cirúrgico constituída pelas subcategorias: Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro. 5.2.1 Categoria 1: Composição da Equipe do Centro Cirúrgico Quanto à primeira categoria: “Composição da Equipe do Centro Cirúrgico” as respostas obtidas foram semelhantes. Os relatos de formação da equipe do CC foram observados através de respostas utilizando formas de expressão iguais ou Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 57 similares como: todo mundo, todos nós, equipe multiprofissional, multidisciplinar, geral, um time grande. Porém, vale ressaltar que a partir da primeira indagação observou-se uma surpresa dos entrevistados em relação à pergunta e também às que vieram na seqüência. A partir do primeiro questionamento, que era a composição da equipe, a repetição da pergunta, de certa forma mostrou a convicção da resposta. “Quem é a equipe? Todos nós!” A6 “Quem é a equipe? Todo mundo... “ E5 “Quem é a equipe do CC? Eh... É uma equipe multidisciplinar...” T4 A composição da equipe na fala dos sujeitos fica clara quando se identifica o CC como um ambiente onde a dependência do trabalho de um, interfere no desempenho profissional do outro. Desta forma a composição da equipe também se definiu através da consideração de que o trabalho individual de cada um reflete no trabalho do outro e no objetivo final. Isto pode ser observado nas seguintes falas: “São todos na verdade, equipe é equipe... O CC é um dos poucos lugares que depende de todos. Quando um falha pára tudo. .... atuação de cada um deles influi no resultado final” C4 “...qualquer pessoa que sair da... da linha, me atrapalha, então pra mim é todo mundo.” A6 Ainda com relação à equipe, à sua interdependência, houve citação direta quanto à composição segundo as funções e atribuições que cada profissional exerce, reforçando, assim, a idéia de equipe multiprofissional. As funções citadas foram: ascensorista; maqueiro; enfermeiro; enfermeiro chefe; técnico de enfermagem; circulantes de sala; anestesista; cirurgião; instrumentador cirúrgico; pessoal da farmácia; da rouparia; da limpeza; da manutenção; da alimentação; da central de materiais; pessoal que vem de fora: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 58 “atuação de cada um deles influi no resultado final:.. o maqueiro, pra pegar o paciente, o ascensorista pra trazer o maqueiro com o paciente a enfermeira pra organizar as vindas, a circulante de sala pra... recepcionar e deixar isso pronto, o anestesista, o paciente e eu... e minha instrumentadora” .C4 “médico cirurgião, que vem com a paciente pra operar, o paciente, e aí os demais, a enfermeira...chefe, a enfermeira coordenadora, os técnicos, anestesistas, se tiver, o auxiliar do anestesista, instrumentadora, os colaboradores também da farmácia, equipe de limpeza, todo mundo que está envolvido”.T7 “englobando todos... e... a parte de suporte todo... desde da, da, do pessoal da faxina, do pessoal da alimentação acho que isso forma... um CC funcionando”. A2 “Aqui a equipe do CC não é só a equipe de enfermagem... mas sim ah... multiprofissional. Seria a equipe anestésica, farmácia, central de materiais, o ah... pessoal da higiene também né?” E2 “Claro que tem a equipe que eu chamo de equipe fixa, que é aquela equipe que tá éh... são os profissionais que estão todos os dias com a gente, e o pessoal que vem de fora que agrega ao trabalho ao nosso trabalho. Né?” E3 5.2.2 Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico Com relação à segunda categoria “Percepção do Relacionamento Interpessoal da equipe multiprofissional do Centro Cirúrgico” foram observadas respostas que levaram a identificar duas subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no CC; Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no CC. Quando os sujeitos discorrem sobre como percebem os relacionamentos interpessoais no CC, eles apontam a realidade de interdependência que vivenciam exemplificando-a com fatores promotores, e restritivos. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico Percepção do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico 59 Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico Figura 7 - Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico. Subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico; Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico. Subcategoria: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico Os sujeitos se referem aos relacionamentos interpessoais no CC de forma cuidadosa. As pausas, as falas entrecortadas entre uma consideração e outra evidenciaram que houve um processo de elaboração da resposta. Algumas falas relatam que no local do estudo o relacionamento é bom, discorrem sobre fatores que o promovem e incluem nestes fatores as suas percepções de como as relações poderiam ser melhoradas. As falas dos sujeitos também demonstraram que um CC organizado, onde há uma preocupação com a qualidade da assistência e as tarefas são definidas, o relacionamento tende a ser bom, bem como a capacidade e a necessidade de um entender e respeitar o trabalho do outro. Quando se conhece a rotina do local a função que cada um desempenha e a idéia de que juntos formam uma equipe multiprofissional interdependente e com o mesmo objetivo, as relações fluem de tal forma que tornam o ambiente harmonioso. “...Eu acho que o entrosamento entre as pessoas da casa é muito bom”.A6 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 60 “em algumas instituições, incluindo aqui, ele é harmônico, em geral, né, as pessoas têm éh... idéia... das suas funções, tem... clareza do que, do que deve ser feito, se empenham”.C1 “Eu acho que na realidade.é... como eu falei, éh... além de você... ter o interesse de se comunicar com a pessoa, né, de de,... é uma divisão de tarefas, eu acho que você tem que saber mais ou menos as tarefas de cada um pra... ter um... uma equipe organizada no CC... ... e saber que cada um tem o seu papel, a sua função, independentemente do que, do que ela se formou, do que ela fez “.A5 “...você tem que saber também da forma certa de fazer, né, que cada... cada um tem o seu, o seu é... vamos dizer assim, o seu pedacinho ali... então cada um tem que saber o que ta fazendo”.T6 “você tem que ter basicamente, respeito entre as,... entre as diferentes,... entre os diferentes profissionais, eles tem que, atuar como uma engrenagem”. C1 No hospital do estudo foi colocado que existem reuniões científicas multiprofissionais, protocolos assistenciais e organizacionais consideradas ferramentas que contribuem com a organização do serviço e que influem diretamente na busca contínua em melhorar a qualidade de assistência prestada trazendo união para a equipe. “a questão de você conseguir atingir certos objetivos, com os estudos feitos por esses grupos né... ..e uniu ainda mais a equipe multiprofissional... eu sinto assim...”E3 “muitas dessas reuniões, mudaram a minha maneira de... orientar. Conduzir isso, conduzir certos, certos assuntos [...] os profissionais de enfermagem na sala são... bastante desenvoltos e bastante autônomos... além do que eles contam com um mecanismo que é, um acesso que eles tem ao centro de gerenciamento de casos quando eles vêem que tem alguma coisa errada, eles comentam com a chefe deles e se eles quiserem eles próprios fazem uma notificação de gerenciamento de caso”. A1 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 61 “Pra mim o que promove é a partir da criação de alguns protocolos né? porque na criação de protocolos tem um consenso com as lideranças então eles se sentem inseridos e estão cientes do que tem que acontecer”.E2 “tem que fazer toda uma checagem, rechecagem e um provisionamento antes... prever que tudo esteja ali no momento pelo menos o que ele pediu... mas não depende só do enfermeiro porque quem... lembrando que quem parte o processo é a equipe cirúrgica... é ele que vai dizer o que ele vai fazer com o paciente... qual que é o procedimento e qual que é o equipamento e material que ele vai precisar na sala... na hora, de acordo com a técnica que ele vai utilizar... O enfermeiro vai fazer... o enfermeiro mesmo, ele vai fazer... de ter tudo ali na hora que ele solicitou... com o que ele solicitou”.E1 Ter um canal de comunicação aberto entre todos os profissionais da enfermagem inclusive com a chefia de enfermagem, onde haja troca, respeito, orientações igualitárias também foram fatores citados como promotores de um bom relacionamento. “... acho que essa liberdade que eles tem de estar trazendo pra gente os problemas e a gente solucionando esses problemas, eu acho que, que é uma coisa positiva” E5 “eu acho que a chefia aqui, dá bastante abertura, e isso vai passando para os seus colaboradores,... então todo mundo é aberto tem um bom relacionamento...”T2 “aqui qualquer momento que você precisa, você fala com a sua chefia e você é ouvida...”T1 Ser conhecido no CC e reconhecer no profissional sua maneira de ser, suas limitações, seus gostos até mesmo suas exigências foi relatado como fator que influencia positivamente nos relacionamentos: “... ... o relacionamento é melhor quando você freqüenta mais...”C4 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 62 “A primeira instância quando o médico vem... a gente as vezes... pelo tempo a gente sabe quem é... ... as vezes vem o médico de fora, então... [...] Então eu acho que cada um tem a sua particularidade... mas eu tento tratar todo mundo igual, então assim, eu vou saber procurar saber quem é o médico, converso com um...”T7 “Eu acho que, a... a medida que o tempo vai passando, que você vai... se tornando conhecido na casa, e conhecendo as pessoas, esse relacionamento tende a ser mais fácil. Éh, no começo, pelo fato de você não conhecer as pessoas e vice e versa, é uma coisa um pouco mais... difícil de se entender, isso foi uma coisa que eu percebi, comigo, com o passar do tempo o relacionamento fica mais fácil, as pessoas conhecem a maneira como você trabalha... como você prefere as coisas, enfim, então, eu acho que isso é um fator importante, quer dizer, acho que quanto mais uma pessoa tá vinculada a uma instituição, mais fácil é a relação entre elas”.C2 Ainda como fatores promotores do relacionamento os profissionais destacam que para iniciar um dia de trabalho deva-se começar com o cumprimento das pessoas no momento de sua chegada. Desta forma, os relacionamentos se iniciam e consegue-se perceber em um simples retorno de um cumprimento o humor dos profissionais naquele dia. As relações dependem da disposição particular de cada um no sentido de cooperação. Num ambiente dinâmico, como é o CC, estar disponível para realizar alguma ação que não é da sua competência também auxilia os relacionamentos, desde que estejam dentro dos padrões éticos de sua profissão. A cordialidade, o modo de falar e agir influi diretamente no ambiente. Ter um canal aberto entre as equipes médicas e de enfermagem também surgiu nas falas dos sujeitos de modo que é possível no local do estudo a discussão de problemas através do diálogo entre os profissionais. Foi possível perceber que o distanciamento que existia entre o poder médico e a equipe de enfermagem vem diminuindo com a mudança inclusive do papel social do médico e também com a profissionalização e a melhora da qualidade de assistência de enfermagem. Assim, o relacionamento através da aproximação de todos os profissionais tende a melhorar. Uma fala Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 63 também apontada foi a de se “ter jogo de cintura”, fator que acaba alterando muitas vezes o rumo de um conflito. “Começar com um bom dia,... claro que com um bom dia você vai saber se a pessoa ta bem ou não está”.T7 “é cordialidade, éh... discernimento daquilo que te compete fazer, e disposição em fazer aquilo que não te compete também”. C1 “As relações que, eu acho que promovem... assim, a gente é a amizade, que é um fator... essencial para você trabalhar e... assim, o modo de falar, o modo de agir...”T6 “hoje não, hoje o poder do médico,... ele não existe mais né... do ponto de vista até social,... antigamente talvez, o médico ele ganhava muito mais... ele podia muito mais e ele devia muito menos, muito menos explicações que hoje. Então hoje... há uma interação maior dos profissionais dentro do hospital. Então assim... ... as relações, tendem a melhorar quando isso acontece”.C4 “com relação ao relacionamento entre a enfermagem e médico nós, a nossa relação aqui, é boa. Então a gente tem uma abertura... pra gente tá ...colocando os nossos pontos e vice e versa, então tem uma troca bem interessante... tá tanto com as equipes da casa, quanto com os médicos que vem de fora... a equipe da anestesia que trabalha aqui com a gente, então o nosso relacionamento é bom, tem uma abertura boa pra... trabalhando... pra discutir problemas”.E3 “você tem que ter basicamente, respeito entre a,... entre as diferentes... entre os diferentes profissionais, eles têm que, atuar como uma engrenagem...”C1 “Eu acho que é bem interessante, eu acho que o pessoal que a gente mais lida que são os técnicos, eles têm uma boa vontade impressionante”.A6 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 64 Subcategoria: Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico As falas dos sujeitos contrapondo o lado positivo discorrem sobre um relacionamento ruim, tendo que melhorar. As relações interpessoais em CC foram apontadas como sendo relações que variam dependendo do momento, dos atores e da dinâmica do CC. Segundo os entrevistados os relacionamentos são difíceis e complicados e as relações tendem a ser desrespeitosas e conflituosas. Os desentendimentos são atribuídos às situações de stress que são comuns neste ambiente, dentre elas as situações de urgência e emergência, descumprimento de horários principalmente por parte dos cirurgiões. A pressão dos cirurgiões é grande porque querem chegar ao centro-cirúrgico e imediatamente iniciar a cirurgia, desconsiderando, assim, a rotina estabelecida as normas da casa e a dinâmica daquele momento. Atitudes como essas denotam falta de respeito com os demais membros da equipe e com o paciente. “então, então eu acho assim, que todo mundo é importante não existe um mais importante que o outro, porque s... uma peça do, do jogo quebra, todo mundo vai ter conseqüência, só que muitas vezes as pessoas não percebem isso e aí acabam se desentendendo né?”. A4 “mas, pode ser conflituosa, em algumas situações ela pode ser conflituosa, principalmente em situações de urgência e emergência...” C1 “Entre todos é um pouco conflituosa muitas vezes, principalmente da área da anestesia com a área da enfermagem, porque o cirurgião, pressiona a gente pra colocar o paciente na sala, e as vezes o anestesista não está na sala, não preparou a sala, as vezes não tem anestesista disponível, aí o serviço de anestesia cai em cima da gente, porque a gente colocou o paciente na sala.. .é complicado”T9 “...principalmente nas trocas de sala e isso as vezes, pode gerar algum ponto de de stress, dependendo do horário que você tiver... dos compromissos que você tem... as vezes isso pode interferir.”C3, “ele (o médico) chega aqui... quer fazer o que ele quer, quer chegar a hora que ele quer...” E2 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 65 “...os médicos, principalmente, não tem essa idéia, né? de que eles precisam, de que cada pecinha esteja funcionando adequadamente e... cada um tem a sua função”. C1 “as vezes você tem uma normativa da casa que as vezes é pré estabelecida pelo próprio CRM ou pela ANVISA ou por qualquer órgão legal, e que as vezes o profissional [cirurgião],... as vezes não quer seguir. Porque ele entende que ele é dono do doente e ele pode tomar a conduta sozinho”.E1 Alguns entrevistados resgataram o passado em suas respostas nas quais eram observadas as relações baseadas na hierarquia, no exercício do poder dos cirurgiões, submissão da enfermagem e pouco empenho em se desenvolver profissionalmente. Essa percepção adveio ao observar-se citação do termo “acostumado”, que foi usado para ligar a enfermagem a anestesistas antigos e com vícios. As falas apontam também uma mudança deste aspecto que se observa na realidade atual. Outras manifestações de poder que permeiam as relações interpessoais foram citadas quando se percebem situações em que predomina o egocentrismo médico. Assim sendo o relacionamento pode se tornar áspero, isso porque a arrogância e a impaciência desrespeitam o profissional não médico. Em contrapartida, com o ser conhecido no CC, o não ser conhecido, foi outra tradução de restrição nas relações interpessoais nesse ambiente. “... tudo girava, em torno da ordem do cirurgião, o cirurgião era a entidade máxima. e ele dizia se atira no chão! e ele se atirava [o circulante de sala] etc. etc. etc...”A1 “... hoje em dia, está havendo uma mudança, o cirurgião que grita, ele é visto não como petulante e sim como inseguro,... então ele evita gritar, evita fazer showzinho... porque antigamente... 20, 30 anos atrás... eram traduzidos como poder...”.C4 “Eu acho que antigamente era diferente... a visão que todo mundo tinha da enfermagem, do enfermeiro especificamente, não tinha muito que... não tinha muita liderança, não tinha espaço, é... meio que ninguém dava muita Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 66 importância, quem dominava o ambiente hospitalar eram os médicos... Eu acho que isso vem mudando”.T5 “...a gente tinha uma grande dificuldade com os técnicos antigos, que vem de uma época acostumados com anestesistas antigos, com vícios, que não faziam as coisas então não por maldade mas eles estavam acostumados...”A6 “eu vejo que os médicos geram muito conflito dentro do CC, e tornam o ambiente mais difícil, mais hostil.” C1 “eu acho que os egos quando estão muito exaltados...Ai complica o negocio né?” T9 A comunicação inadequada foi referenciada pelos entrevistados vista por diferentes ângulos. Eles apontam aspectos especialmente em relação à enfermagem e em relação aos médicos. Como, onde e quando falar faz toda a diferença na manutenção de um bom relacionamento, tanto quanto a omissão de detalhes técnicos necessários para o andamento do procedimento cirúrgico. A ausência do enfermeiro nas atividades práticas com o paciente distancia a equipe multiprofissional. Enquanto o enfermeiro assume o rigor administrativo os médicos o colocam de lado. Prender-se a detalhes burocráticos foram referenciados como empecilhos para uma boa comunicação e relacionamento adequados, em contra partida, não se adequar às rotinas administrativas da unidade também parecem dificultar o relacionamento. “às vezes erro de comunicação de... algum “telefone sem fio” que pode, sei lá, promover um desentendimento na hora, um disse me disse, mas dá pra ser corrigido”.T5 “não é muito bom o relacionamento... Eu acho que há uma falta de comunicação... uma falta de comunicação”.A5 “então às vezes eu percebo que... por um por uma comunicação inadequada acaba acontecendo alguns conflitos”.E5 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 67 “em relação a equipe médica o contato verbal é mais normal, com a equipe da enfermagem, tem que ser tudo meio que por escrito... você colocou no papel vira uma coisa sem nenhum relacionamento...”A2 “essa burocracia engessa e afasta, dificulta um pouco essa relação, do enfermeiro com a equipe médica, eu vejo, o enfermeiro distante desse... da parte prática”.C2 “A gente trabalha com imprevistos também... se você não sabe que às vezes seria necessário,... um determinado equipamento, medicamento ou material, e você tem que prever aquilo na hora, sem ter sido solicitado antes, a coisa se complica um pouquinho então a comunicação entre os três tem que ser bem clara e específica [...] por isso a ah... interação é muito importante da equipe cirúrgica e anestésica”. E1 “as vezes tem cirurgião que... quer pular os protocolos, as vezes a gente fica tentando seguir os protocolos que ta dando certo, pra evitar erros, mas assim,... a pressão é grande dos cirurgiões pra cima dos enfermeiros né,...”T9 “agora se você tem aquela sua chefia que só fica te pegando no pé, não te elogia quando você merece ser elogiado ai... num... num vai pra frente...”T1 “eu tive lugares que eu trabalhei e que eu não tinha como chegar na chefia, conversar com a chefia, e isso atrapalhava muito...” T1 A estrutura administrativa e os convênios foram também apontados pelos cirurgiões como fatores restritivos de um bom relacionamento. Os cirurgiões percebem que a realização das cirurgias não está mais atribuída somente à sua chegada no CC. A liberação de algum equipamento ou material necessário para a realização da cirurgia, algum implante ou até mesmo a própria realização da cirurgia, quando dependem de uma fonte financiadora, retira do cirurgião o poder de decidir sobre a realização ou suspensão da cirurgia. A dependência fica então citada pelos cirurgiões como um fator restritivo. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 68 “Convênios,...liberação de convênios, desse ou daquele material... ... torna a relação mais difícil... ... hoje em dia a medicina é embasada nesse tipo de, de comércio, em que o dono, vamos dizer assim, das decisões...está fora do ambiente do CC... é uma... uma empresa.. .a liberação desse ou daquele material pode atrapalhar o andamento ...do CC... da cirurgia.”C4 “Tive reclamações de atraso de cirurgia....mas nunca motivado...por motivo pessoal...e sim pela estrutura administrativa, né , pela, pela demora na internação, demora na chegada do paciente, demora do convênio em autorizar a cirurgia...”C6 As relações podem se tornar difíceis quando há uma quebra no caminho a ser percorrido pelo paciente desde sua chegada ao hospital até sua saída do CC. Se houver um problema em alguma fase desse caminho ou com algum membro da equipe multiprofissional, se não há disposição pessoal no desempenho de alguma atividade, uma reação em cadeia pode ser deflagrada influenciando negativamente as relações multiprofissionais. “porque assim se a internação ta atrasando, atrasa o transporte do paciente, atrasa a sala, a sala fica ocupa e ociosa, e aí fica uma bola de neve!... e as relações vão ficando né... todo mundo com, com os nervinhos a flor da pele, ai por exemplo se o pessoal do raio X, não ta disponível naquele momento, ou tem muita coisa pra fazer, a cirurgia fica parada, porque não tem o técnico na sala, ou o aparelho quebrou...”A4 “nos hospitais públicos em que eu trabalho uma animosidade, é essa a palavra, de alguns colegas com alguns profissionais da enfermagem. Então o que você gera: o paciente entra na sala, o técnico não vem, ou ele trás metade das drogas, ou ele não te ajuda na fixação, ou ele espera você pedir pra trazer...” A6 5.2.3 Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico A categoria “Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico” é constituída por duas subcategorias: Papel de Liderança e Papel Assistencial. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 69 As falas demonstraram que o enfermeiro atua como base de sustentação de todo o CC. Foi relatado que o papel de liderança que o enfermeiro tem de assumir, e que, muitas vezes assume, é imperativo para o desempenho do CC. A necessidade do enfermeiro também ser um líder assistencial, papel que ele pouco assume, foi relatada e solicitada pela grande maioria dos cirurgiões, anestesiologistas e técnicos de enfermagem. Já os enfermeiros pouco identificaram seu papel de líder assistencial. A figura abaixo demonstra a situação do enfermeiro de CC e a necessidade, relatada pelos entrevistados, de que o enfermeiro precisa exercer o papel de liderança juntamente com o papel assistencial. Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirurgico Papel de Liderança Papel Assistencial Figura 8 - Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico Subcategorias: Papel de Liderança; Papel Assistencial Subcategoria: Papel de Liderança Quanto ao papel de liderança, o enfermeiro é visto como o profissional mais bem preparado para liderar o CC e trazer coesão e harmonia para a equipe. Esta pesquisa identificou o enfermeiro como referência dentro da equipe multiprofissional. “A liderança do CC na forma da enfermeira chefe, eu dei o nome de chefe éh... vital para que haja a predominância de harmonia entre todas as equipes.”A1 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 70 “Pra mim num CC onde a enfermagem não funciona bem, o CC não funciona. Ele é movido pela enfermagem. A enfermagem vê éh,... aonde tá o paciente, se o paciente tá em condição de subir para o CC, é ela que proporciona essa subida pro CC, ela faz o gerenciamento de sala de material de material de, de, hoje em dia tem material de, de como é que eu vou dizer... consignado, isso tudo é o enfermeiro que faz, gerencia, se o enfermeiro não tiver uma equipe boa, não tem médico, anestesista, nada que vá funcionar no CC”.A2 “Eu acho que o enfermeiro ele, ele é um, ele tem um poder enorme em trazer coesão pra equipe, porque o enfermeiro é aquela,... é aquela figura, aquele profissional que domina o CC, todo... então o enfermeiro, ele é o... chefe do CC, a cabeça do CC. Porque o, o médico, ele tá ali, por exemplo ele tá ali focado em fazer a técnica dele, em fazer a cirurgia dele , em usar o tempo dele da forma mais éh econômica possível, o anestesista também tá ali com aquela função especifica, mas a, o indivíduo que tem a visão geral das coisas, que pode gerenciar e trazer... né ...e fazer com que a coisa ande da melhor maneira possível, é o enfermeiro, na minha opinião”.C1 “Eu acho que o enfermeiro nessa... ele tem a função e a capacidade de... direcionar as coisas para o melhor resultado final. Tem coisa que depende dele, única e exclusivamente. Talvez da vivência, talvez da perspicácia de saber que a casa vai cair lá na frente, ele tem que ter meio que jogo de cintura,... jogo de cintura é muito importante. Quando alguma coisa não vai bem você tem que solucionar rápido, né pra não deixar éh... tumultuar o negócio, então depende muito dele, as vezes não tem determinada... tá faltando sala... por exemplo, aquele dia ta faltando uma sala pra operar... a relação pessoal dele com quem ta esperando a sala, e a relação pessoal dele com quem ta lá pra limpar a sala, ou pra montar... depende dele. Se ele vai mal, a casa cai”. C5 Para que o enfermeiro possa realizar seu papel de liderança no CC, a fala dos entrevistados demonstrou que através do diálogo o enfermeiro assume uma espécie de ponte entre todos os envolvidos na dinâmica do CC, inclusive com o próprio Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 71 paciente. Dessa forma, ele tem de ter pleno conhecimento de gestão administrativa e principalmente possuir habilidades próprias para saber lidar com conflitos e trazer segurança para todos. “é aquela peça chave que faz a acolhida de todos, então tudo ta centrado no enfermeiro, é aquele que conversa primeiro com o médico, é aquele que conversa primeiro com o paciente, é aquele que conversa com a gente e nos conduz para as atividades pertinentes daquele dia, ou pra aquele paciente, ou pra aquele médico.T7” “Então, o enfermeiro...ela é tudo... aqui... se você não tiver jogo de cintura com a equipe médica, a equipe anestésica e com a gente, porque ele tá ali no meio, ele tá recebendo tudo e tá passando, entendeu, ele que tem que ser o líder, tem que ...saber administrar, senão acaba dificultando muita coisa.”T4 “...coordenar a distribuição do serviço para toda a equipe, fiscalizar para que tudo esteja sendo feito conforme os protocolos, fiscalizar a segurança do paciente, se a gente também tá cumprindo com as metas de segurança do paciente, e ...dar aquela retaguarda quando a gente precisa né?”T9 “prezar pelo bom andamento de todo, todo o funcionamento do CC.”C3 “O enfermeiro é quem vai éh... mediante tudo o que foi se passado lá no pré agendamento né... do que foi solicitado pela equipe,... é quem vai estar fazendo a parte de organização e de atuação, pra que tudo ocorra da melhor forma possível, desde que solicitado.”E1 “além da nossa liderança na parte funcional do setor... eu acho que que a parte de comunicação, de conflitos ....do dia a dia.... de seres humanos de culturas diferentes...”E5 Subcategoria: Papel Assistencial Os sujeitos da pesquisa relataram a necessidade do enfermeiro estar mais presente na SO, para estar mais próximo do paciente. Isso facilitaria para que melhor aprendessem os problemas da realidade. Os entrevistados criticam a Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 72 excessiva atuação dos enfermeiros na burocracia, indicando que a maior dedicação deles à assistência traria maior segurança à equipe. Alguns relataram a carga excessiva de atribuições. “...Eu acho que o enfermeiro deveria entrar mais em sala, né pra ele poder ter o contato mais direto no que realmente acontece. Pra ele poder observar melhor o técnico dele, melhor o anestesista, melhor o cirurgião , pra ele como coordenador dessa equipe, éh..não médica, mas da enfermagem, ele conseguir achar o gargalo, de cada equipe, onde está o gargalo do que esta acontecendo, é o profissional dele, é o anestesista, é a equipe, e daí conseguir manejar isso melhor, Eu sinto uma ausência do enfermeiro na sala, e com isso você não consegue passar os problemas pra ele”.A6 “Aqui! Burocrático, 100% burocrático. Sem dúvida nenhuma. 100% burocrático... Eu sinto a falta de uma participação maior da enfermagem, da das enfermeiras responsáveis, é na na , no contato direto com o paciente. Eu fico com a sensação que elas estão muito presas, a questão burocrática...porque prioriza a burocracia, isso afasta a enfermeira, que na minha visão, é a quem deveria ter contato mais direto com o paciente da equipe médica, então o contato muitas vezes é com o técnico que não tem formação suficiente, pra isso, e, é cobrado por isso, em detrimento a burocracia que a enfermeira fica presa”.C2 “o próprio técnico de sala, por exemplo, se sentiria mais seguro, tendo... alguém superior... por perto, entendeu, ao invés do enfermeiro cobrá-lo por não ter feito, o enfermeiro estar lá e fazer e mostrar - olha vamos fazer isso assim, vamos fazer isso assado eu acho que acrescentaria inclusive pro técnico, circulante de sala”.C2 “O papel do enfermeiro é assim, eh... ele tem que fazer o papel dele, mas eu acho que ele também poderia ajudar agente assim, não ser técnico, não sei se você ta me entendendo éh... tem enfermeiros que... ajuda a gente... caminha... melhor, ...outro já ah to precisando de uma ajuda,... não vem... então sei lá...” T1 “mas as vezes eu acho que elas esquecem de, de olhar uma coisa mais prática, mais voltada ao ato cirúrgico e... as vezes eu acho que a tônica Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA fica esquecida nesse ponto, e fica muito focada em burocracia, 73 mas eu não sei como eu faria se estivesse nessa posição, então eu acho que, eu não dou muito palpite porque eu também não sei como eu faria, se estivesse nessa posição, né.”A4 ”eles são poucos, e os problemas são muitos, então eles são muito locados aqui pra resolver coisas mais... administrativas, falta papel, falta material, faltou exame, então... eu acho que precisaria mais... o dobro da equipe da enfermagem, de enfermeiros em CC com esse papel”.A6 “ele (o enfermeiro) tem que tá a par do material que tá sendo usado na cirurgia, o que tá acontecendo nas salas, se teve algum problema na sala, éh, e ele no caso: - o médico chamou o enfermeiro... ele já sabe o que tá acontecendo dentro da sala, e não chegar perdido, e muitas vezes ele acaba ficando ali na parte administrativa, e o assistencial....acaba deixando um pouco pro lado”.T1 5.2.4 Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico Na quarta categoria, “Conflito Ético em Centro Cirúrgico” foi observado que falar sobre conflito ético não foi fácil. Mais uma vez notei a surpresa dos entrevistados com relação à pergunta. A seqüência da entrevista gerou certo desconforto, um cuidado e uma necessidade de elaborar mentalmente a pergunta antes que esta fosse respondida. Essas demonstrações foram observadas nas palavras e também no silêncio de alguns para a elaboração da resposta. Na dificuldade dos entrevistados em dissertar sobre conflito ético duas subcategorias foram identificadas: O conflito ético reconhecido e o conflito ético justificado como demonstra a figura a seguir: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 74 Conflito ético em Centro Cirúrgico Conflito Ético Reconhecido Conflito Ético Justificado Figura 9 – Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico – Subcategorias: O Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético Justificado Subcategoria: Conflito Ético Reconhecido Ao discursar acerca do conflito ético, as falas apareceram entrecortadas, alguns se limitaram a responder sim ou não, outros preferiram contar casos, porém o que ficou claro foi que os principais geradores de conflitos éticos reconhecidos são os médicos principalmente da categoria dos cirurgiões. Tais profissionais, na intenção de realizar a cirurgia a “qualquer preço” permitem-se agir contra princípios éticos e morais de modo a incorrer ao risco de causar dano ao paciente e restringindo, assim seu relacionamento com a equipe. “É mais comum entre médicos. Conflitos éticos, entre colegas médicos [...] às vezes o conflito ético é uma coisa velada, né, em geral entre cirurgiões, entre anestesistas, entre cirurgiões e anestesistas, como a gente lida muito com os colegas e, e são os profissionais com quem a gente tem mais problema, é onde eu mais vejo conflito ético, entre colegas médicos”C1 “com o cirurgião já já notei... Eu acho que é um pouquinho de forçar a barra.... na verdade....eu falo que eu tenho muito amor ao meu CRM, foi muito difícil de conseguir...(risos), e eu pretendo não perdê-lo, então eu sou muito zelosa em relação aos meus pacientes.”A3 “Aqui eu tive um caso na verdade que foi,... foi um caso mesmo assim,... do tempo que eu to aqui, que é pouco, mas acabou...eu acabei preferindo sair da, da história, e eu optei por não, não fazer a anestesia, pedi pra um Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 75 colega fazer, alguém que concordasse, que fosse de acordo com os princípios dele e não era o meu”A3 “paciente assinou um termo de uma cirurgia e depois ele quer fazer outra... e será que o familiar esta sabendo..., será que o paciente está informando...será que ele esta esclarecido quanto ao que ele realmente vai fazer dentro da sala...nesses momentos entra a parte de normativa da instituição para você dar garantia e o paciente não sofrer riscos.”E1 O comportamento autoritário e desrespeitoso desses indivíduos que se julgam acima de qualquer um gera situações antiéticas em relação à equipe e também em relação ao próprio paciente. As falas que identificaram a enfermagem como causadores de conflito ético, relataram um despreparo profissional em lidar com situações difíceis. Ressaltaram, ainda, que “vozes de comando” em situações de emergência não podem ser atribuídas a desrespeito profissional. Elas fazem parte do momento emergencial e estressante que envolve todos os profissionais naquela situação. Opinar sobre condutas que são exclusivamente de outra categoria profissional e até mesmo realizá-las também foi apontado como conduta antiética. “... ... ... uh... ... ... Essa é uma pergunta bem difícil!!!!!... ... ... Em alguns lugares, eu vejo que sim[...] ... Eu acho que às vezes uma pessoa acha que a... a... um ta fazendo a função do outro ou que ah... ta querendo ser superior ao outro, coisa que eu acho que não...tem nada a ver”. A5 “chamo o enfermeiro e altero o meu tom de voz,... começo a desrespeitar a pessoa,... eu acho que aí sim, é falta de ética,.não respeita o seu espaço[...] Uma coisa é a gente saber falar em tom normal, conversar em outro momento, não naquele momento, dentro da sala, com o paciente acordado ainda, eu acho isso desagradável, eu acho que ai você ta invadindo o meu espaço...” E6 “De repente, pra aquele procedimento, ele precisa de alguma coisa específica que ele não pediu... e ai você tem que correr atrás na emergência, você acaba expondo ao risco...com o anestesista a mesma coisa, e com a enfermagem a mesma coisa que se ele pediu e aquilo não Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 76 está disponibilizado, não é na hora que o paciente está na mesa que você tem que falar” E1 “Às vezes um colega ta fazendo um procedimento inadequado, outro colega chama a atenção na frente do paciente...”.T9 “Às vezes quando é conveniente[...]eu já vi acontecer casos, do enfermeiro chamar atenção do seu técnico na frente de todo mundo. Aí eu já não acho isso ético”.T7 “tem anestesista que chega e fala não, eu quero puncionar o acesso, de repente o acesso já está puncionado, então gera aquele conflito e fala não, isso aqui é função minha você não tem que se intrometer no meu trabalho...”E3 “é uma infração ética quando a enfermeira ou circulante de sala, eh... emite uma opinião, um juízo de valor técnico que é ... de outra área...”A1 “percebo diariamente. Tanto médico-médico, médico-enfermagem, enfermagem-técnico de enfermagem, o tempo inteiro a gente percebe... você dando... fugidinhas da ética”.A2 “Uh eu acho que... exigências com papeis, ah... ou com... é, assim, é mais importante as vezes você chegar e assinar o papel do que recepcionar o paciente..., conversar com a paciente, aqui no caso né, eu acho que existe uma, uma tônica muito forte na burocracia, mas é uma instituição grande, agora no... estado... nos outros hospitais que eu trabalho, eu acho também que muitas vezes, elas esquecem de ajudar o pessoal da enfermagem, o pessoal médico e ficam muito focadas em só administrar a parte... burocrática”.A4 Subcategoria: Conflito Ético Justificado As falas dos sujeitos, ao discorrer acerca do que é um conflito ético, demonstraram que na interpretações em determinadas situações não como falha ética não cabe, mas aparece de modo transformado, em desrespeito ou comportamento inadequado. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 77 Foi relatado que alguns “comportamentos” influenciam toda a equipe ora levando-os a assumir um papel que não é o dele ora expondo a equipe e o paciente ao risco. Também foi citado que quando a enfermagem é tratada de forma desrespeitosa dentro da SO por parte dos instrumentadores cirúrgicos e/ou dos cirurgiões, essa postura é apontada como indesejável acarretando prejuízo na dinâmica da sala. “E tratar de ética... eu acho que é uma coisa muito... é delicada, porque as pessoas confundem ética com varias coisas.”T7 “certas pessoas acharem que aquilo não é função dela fazer, e não ter uma ,.. uma boa vontade ou então uma uma iniciativa de, assumir aquela função pra resolver o problema de uma maneira mais rápida, e acaba delegando pra ah , - isso não é da minha área, não vou fazer[...] uma omissão de algumas... atitudes que seriam... benéficas para o bom andamento do do procedimento cirúrgico, do funcionamento do CC... e que algumas pessoas acham que não é função dela fazer... ai passa para o outro, e isso, as vezes acaba gerando um atraso.”C3 “Agora as eu acho que as vezes falta um pouco de respeito do pessoal que vem de fora, não com o médico, mas com o não médico, mas da área da saúde, então... ou com o enfermeiro, com o técnico... uma questão de hierarquia eu acho que isso é mau orientado, então, as vezes a instrumentadora da equipe cirúrgica falta com o respeito, as vezes o cirurgião falta com o respeito e agente fica meio na... encruzilhada, porque a gente depende do circulante da sala, né, e se ele é mau tratado, é óbvio que ele vai ter um desempenho diferenciado...A gente precisa que isso flua bem.”A6 As falas justificam os conflitos como conseqüência do ambiente estressante, com aceitação do desrespeito médico com a enfermagem, com a incompreensão dos cirurgiões e a insistência dos mesmos em cima dos anestesiologistas e da enfermagem em não suspender a cirurgia mesmo sabendo que esta pode ser considerada uma atitude de negligência. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 78 “Identifico, é mais assim... como posso te dizer... quando tá o fluxo de cirurgia no dia ta muito alta... então o nível de stress dá sempre uma aumentada... que você tem que ter aquele ritmo para acompanhar, ser rápido,... e às vezes isso... nesse momento de stress, a gente acaba estourando um pouquinho”.T6 “Há muitos anos que eu não vejo um enfermeiro gritar com algum colega no corredor. Medico é normal...isso acontece né...”eles podem”..........a gente entre nos,.... da enfermagem faz muitas anos que eu não vejo.T9 “um paciente que não tinha nenhum exame. Vai conversar com o cirurgião, por exemplo, o cirurgião acha que – Não!...nessa hora ele esquece totalmente que o paciente tem que ter exame, tem protocolo e etc.,...ele quer forçar a barra pra ter o procedimento entendeu... é até alguma coisa que o colega anestesista fica meio forçado a fazer o procedimento pra não atrasar a cirurgia pra não suspender a cirurgia[...] se você chegar e falar pro cirurgião: - não vou anestesiar porque o paciente não está em condições..., por exemplo, ele não tem como fazer nada, mas ele força um pouquinho,... até um pouco, como eu te falei... a linha é meio tênue,... ele testa um pouquinho, pra tentar ver se você faz o procedimento ou não”.A2 “Mas tem conflitos sim, tanto médico como enfermeiro, como técnico... a maioria das vezes é quando falta alguma coisa que vai atrapalhar no procedimento... aí geralmente a cirurgia estressa né... e daí ele [o cirurgião] quer descontar em alguém,... e quem é que ele desconta, é quem está na sala, que é o técnico, às vezes não é nem culpa dele, mais ele acaba levando...”T6 5.2.5 Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico Na quinta categoria “Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico”, os entrevistados apontam que os enfermeiros adotam posturas diferentes dependendo da situação. Dessa forma, foram identificadas três subcategorias: Posicionamento do enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador; o Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 79 Enfermeiro como agente causador do conflito conforme demonstrado na figura a seguir: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em CC Posicionamento do Enfermeiro Enfermeiro como agente causador do Conflito Enfermeiro como agente Mediador Figura 10 – Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico Subcategorias: Posicionamento do Enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador; Enfermeiro como agente causador do conflito Subcategoria: Posicionamento do Enfermeiro As falas demonstram que o enfermeiro do CC tem uma preocupação em não infringir a ética e que adotam uma postura de imparcialidade e respeito quando o conflito é gerado entre médicos. “os enfermeiros são muito bons em geral assim, eles tem muita noção de não infringir essas coisas [...] Eles [os enfermeiros] são... assim, são muito conservadores, né em relação a isso, eles procuram jamais interferir... quando fazem diagnóstico do conflito, né”. C1 Porém há situações, nas quais o enfermeiro tem que se posicionar, não havendo tempo para o diálogo. Essas situações são relatadas por eles de forma que acabam por ter que decidir pela atitude que traga menos risco ao paciente, embora Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 80 sabendo ela que causará um desconforto para com a equipe e que depois o problema terá de ser retomado. Quando o diálogo não consegue solucionar a questão, o caso então é passado às chefias. “Bom eu acho que ele tem que ter postura ehhhh.... ver o que ta acontecendo realmente,... que como eu disse, as vezes um conta uma versão outro conta outra.... então, nada como sentar junto conversar e esclarecer ... mas antes disso você tem que tomar um.... ....já tem que ter um plano de ação rápido naquele momento, ....então você já resolveu o problema. Foi o caso que eu contei, agora o que eu tinha que fazer: uma coisa que eu não gosto, mas tive que fazer , que foi tirar o técnico da sala, porque eu sabia que a cirurgia ia começar e iam ficar discutindo e a cirurgia não ia funcionar.”E2 “É tem que chegar até a equipe médica e posicionar... olha o seu paciente esta referindo que ele vai fazer a cirurgia A e não a B [...] Ele tem... se o médico chegar e disser que ele não vai cumprir, que ele esta desconsiderando o que o enfermeiro ta fazendo, a gente passa para uma hierarquia maior que é a parte da diretoria. Principalmente a diretoria médica”E1 Subcategoria: Enfermeiro como Agente Mediador Quando acontece um conflito ético com a equipe, a postura do enfermeiro é relatada como mediadora do conflito. O diálogo é apontado como ponto norteador que deve ser tomado por eles na tentativa de resolver situação. As falas referem que eles têm que avaliar a situação, saber ouvir ambas as partes com imparcialidade e educação e assim elaborar um plano de ação. Uma vez que a causa do conflito foi identificada o enfermeiro também atua como orientador no sentido de passar informações necessárias para que o mesmo problema não se repita. “É, o mediador que eu digo, é assim, ele tem que avaliar a situação, ver o, o que pode ser feito pra resolver aquilo da melhor maneira possível, e Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 81 atuar de maneira imediata principalmente no CC, pra que seja resolvido.”C3 “E... nessas situações... há conflitos... os enfermeiros tentam argumentar, justificar o porque de tal atitude durante o procedimento, e... ... acaba assim, ...ele não se altera né..., segue todos os protocolos que tem que seguir.”T9 “o enfermeiro tenta resolver [o conflito] da melhor maneira possível.”T6. “Eu acho que assim: que o enfermeiro ele... tem essa situação. Eu já me coloquei diante dessa situação: você escuta,... né, deixa a pessoa falar,... porque naquele momento não adianta você querer justificar ou dar explicação, tem que escutar o tempo inteiro e inclusive falar que a pessoa esta até certa, entendeu?... pra num outro momento que você vê que saiu daquela situação toda, você pega e até conversa, você tenta atender... mediante todo o conflito que ta gerando, você tenta atender da melhor forma possível, por mais que você esteja certa, e sendo agredida, a gente tenta atender pra normalizar aquela situação, a gente tenta,... estar atendendo,... a não ser que você vê que o negócio ta passando do limite, ai você se impõe: - fala assim: - Oh!, você agora ta me ofendendo, você para,ou o negocio não vai dar certo! Eu to tentando fazer o meu melhor pra você, agora se você não, nos ajudar pra conseguir resolver essa situação, aí vai ficar difícil,... e sai de cena. Porque você sabe que o negócio vai piorar... e nunca deixar a pessoa agressiva falando e dá as costas de imediato, porque ela vai se sentir ofendida... e o negócio pode virar um turbilhão, né, ... então você escuta o tempo inteiro,... até concorda num primeiro momento...e você vê que depois quando a adrenalina baixar dá pra conversar e ai vocês sem entendem.”E6 “... mediante circunstâncias eh.... problemáticas ou que gerou algum tipo de stress a gente .... eh .. enxerga o problema né, tria o problema... e passa a informação para o grupo como um todo, pra todo mundo falar a mesma língua, pra que outras pessoas não passem pelo mesmo problema.” E3 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 82 Subcategoria: Enfermeiro como Agente Causador do Conflito Alguns entrevistados apontam que a conduta da enfermeira pode ser a geradora do conflito. Quando isso acontece a equipe atribui a uma postura de exercício autoritário de poder assumida pelo enfermeiro. Também foi apontado que há um certo despreparo emocional do enfermeiro diante de situações de emergência para não ofender-se com palavras de comando. “Mas eu vejo assim, que há uma certa distancia: você técnico e eu a enfermeira, mas não é uma coisa que chega a prejudicar ninguém. E só pra deixar claro que cada um, eu não gosto de falar isso, tem que estar cada um no seu quadrado.”T7 “Então o que eu percebo é isso, éh essa ênfase em querer mandar”A4 “Isso acho que varia de pessoa para pessoa, mas acho que no geral o que eu percebo..., é uma postura assim... de...se manter... naquele propósito, né, naquela função que lhe é dada, ...sem baixar a cabeça pra nada”A5 “Eu acho que o emocional de algumas pessoas precisariam ser melhor trabalhado, porque na faculdade de medicina você acaba tendo um distanciamento do pessoal para o profissional, eu não sei como é a formação da enfermagem em que nível isso acontece. Mas o médico no geral, sabe muito bem que quando você tem uma discussão profissional, é profissional”[...] Numa situação de emergência, entender que as vezes uma palavra ríspida, uma coisa e outra ... é ... devido ao risco de vida ou morte especifico da cirurgia, o que não acontece na enfermaria ou numa RPA, é uma coisa muito imediata”.A6 5.2.6 Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico Acerca da sexta e última categoria “Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico”, perceberam-se nas falas, atitudes assumidas pelo enfermeiro do CC e outras atitudes que a equipe de profissionais consideram que deveriam ser assumidas pelos enfermeiros. Desta forma, identificaram-se três sub-categorias: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 83 Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro. Autonomia exercida pelo enfermeiro Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico Autonomia não exercida pelo enfermeiro Autonomia limitada do enfermeiro Figura 11 – Categoria: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico. Subcategorias: Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro. Subcategoria: Autonomia Exercida pelo Enfermeiro A autonomia que o enfermeiro exerce dentro do CC na fala dos sujeitos é condicionada à necessidade de tomadas de decisões para que a dinâmica de funcionamento do CC não seja prejudicada. Através da sua atuação ele promove condições de trabalho adequadas para o bom desempenho da equipe e proporciona um ambiente promotor de prestar uma assistência de qualidade no CC minimizando e/ou impedindo qualquer situação que ofereça risco ao paciente. “Ah! [enfermeiro] tem bastante autonomia, tem que tomar algumas decisões antes de...do médico falar alguma coisa, tem que prever as coisas aqui...então, tem bastante autonomia”.T4 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 84 “Eu acho que ele tem autonomia que ele tem que ter realmente,... ele tem autonomia de chamar o paciente, ele tem autonomia de, de, éh... ele gerencia alertas... isso é importante, por exemplo: detecta que um paciente não tem jejum, gerencia isso pro cirurgião, pro anestesista; não tem vaga de UTI, ele já consegue até um meio de começar um procedimento de suspender a cirurgia; ele já gerencia essa parte de sangue; ele pede, aqui no CC por exemplo, ela já: chega um paciente, que não foi detectado que era uma cirurgia grande que precisa de sangue, vaga de UTI... precisa... então aqui ...eu vejo que tem essa autonomia ...boa... e ele usa essa autonomia pro melhor do paciente”.A2 “Bom... a autonomia do trabalho,... éh eu percebo pelo desempenho das salas[...] Percebo autonomia, quando por exemplo há alguma intercorrência.”A1 Os entrevistados ressaltam que o exercício da sua autonomia implica no estabelecimento anterior de uma relação de confiança e respeito. “pra você ter autonomia, você tem que ter o respeito né, você tem que ter segurança no que você faz, você tem que saber o que está fazendo, e passar essa segurança pro colaborador e pras equipes que vem aqui, né porque a partir do momento que você se sente seguro e as pessoas confiam no seu trabalho eu acho que facilita muito a questão da sua autonomia ... e se impor, colocar qual o seu verdadeiro papel aqui”E3 Foi relatado que o papel da instituição mediante à compreensão do trabalho que é realizado pelos enfermeiros no CC, também define ou não o poder a lhe ser conferido para que possa exercer suas atividades no CC com autonomia. “a instituição dá autonomia pra enfermeira estabelecer o seu lugar, a sua função em determinados setores... Aqui eu vejo que sim... eh dentro do seu ambiente, ela tem como delegar, como explicar, enfim, diante dos médicos, de representantes, do pessoal da farmácia, da gente, eu acho Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 85 que ela tem autonomia sim, pra mudar alguma coisa... eh...pra determinar...eu acho que sim”.T5 “por exemplo, quando vai começar o procedimento, tá faltando o material que ele quer: aí o enfermeiro atua, vai até lá e fala: - Olha, você não me pediu em check list isto, então não queira reclamar”. T6 Subcategoria: Autonomia Não Exercida Pelo Enfermeiro Os discursos que apontam a autonomia não exercida pelo enfermeiro passam pela observação de que a instituição ou até mesmo o próprio profissional não reconhece seu verdadeiro papel dentro da dinâmica do CC e o quanto a equipe depende dele. “Eu acho assim que: o importante,... o enfermeiro do CC,.... a instituição reconhecer a importância dele dentro do bloco operatório, que não o cirurgião. Não adianta delegar e sem saber que o CC é direcionado. Quem vai fazer a distribuição, quem sabe qual é o melhor local, melhor sala, a melhor pessoa pra ser direcionada para essa cirurgia, eu acho que isso do dia a dia é o enfermeiro.E6 “Tem, mas não exerce. Tem, mas não exerce. É não sei se por, por eh por iniciativa própria, ele não exercer, ou se por determinação da equipe médica” C2 “existem enfermeiros e enfermeiros[...]eu acho que o enfermeiro tem que ter pulso sim aqui, não porque o médico, ele é médico e o enfermeiro não pode falar[...]não é bem por ai, eu acho que cada um tem que ter, se você tem aquela autonomia de enfermeira que você pode fazer isso, isso, isso, então você não deve abaixar a cabeça porque o médico falou mais alto”.T1 “eu acho que o, o enfermeiro ou enfermeira responsável pelo CC ele tem autonomia, é,... sobre o comando e o funcionamento do CC, então ele que determina[...]ele teoricamente é a autoridade máxima no CC, é ele que define, quais salas vão entrar, é ele que tem que,...coordenar isso, então é ele que... tem que... assumir essa responsabilidade e pra isso ele também vai ser cobrado, então eu acho que ele tem autonomia[...] falei Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 86 teoricamente, é porque tem muito cirurgião, que acaba éh...se achando mais importante e superior, e exigindo algumas coisas, que eventualmente, não são possíveis naquele momento mas, éh, por isso que eu falo, teoricamente, como deveria ser, o enfermeiro deveria ter essa autonomia pra coordenar, o bom funcionamento do CC e agradar a todos e não especificamente a um, cirurgião ou, ou a um funcionário, ou uma pessoa especifica”.C3 Subcategoria: Autonomia Compartilhada do Enfermeiro. Para alguns profissionais discorrer sobre autonomia, sofre interferência de fatores relevantes às atividades praticadas no CC. Uma vez que o trabalho é multiprofissional e interdependente a autonomia não é absoluta, ela é dependente. Os relatos também apontam que a autonomia do enfermeiro sofre interferências de profissionais que julgam ter um poder maior que os outros, principalmente da classe médica. “Existe sim a parte do cliente médico, existe cada profissional, embora seja uma equipe multi.... tem um pedaço pra que tudo aconteça, eh...a gente tem normas dentro da instituição que seguem uma legislação... expor o paciente ao risco não tá dentro do que a instituição quer pra si, até por conta das acreditações... a gente foi acabou de ser acreditado pela Canadense, então eles viram muito essa parte de você estar... que o paciente passe por riscos desnecessários... então a gente, acaba tendo um respaldo da diretoria médica. Existe toda a importância de como você se colocar para a equipe médica! que você tem que ter jogo de cintura... e tal, porque o cirurgião, ele acaba pensando que ele é o dono do doente porque é ele que acabou trazendo, mas se ele tiver um processo ou alguma coisa a instituição vai responder junto e pior as vezes na mídia você acaba tendo uma imagem prejudicada, porque as vezes você não seguiu o que precisa... o mínimo necessário para que o paciente não sofresse esse risco.”E1 “É, ...ele tem autonomia assim um pouco limitada né , porque depende do cirurgião, se for um estrelão, aqueles... né... aí eles interferem muito na Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 87 nossa, na nossa rotina de trabalho, dando opiniões, quer que muda de sala,... de cirurgia porque aquela sala não é adequada, aquelas coisas...”T9 “...Autonomia do enfermeiro então, eu acho, que ninguém é totalmente autônomo no CC,.. ninguém, é muito entrelaçado, a coisa, porque não existe um um personagem mais importante”.A4 “No CC eu acho que ficam um pouco.... restritos né porque ele tem que manejar a disposição de sala, com as vontades do cirurgião, com o atraso do cirurgião, o atraso do paciente, o atraso da internação, eu acho que tudo isso cai neles. .A6aut limitada Eu percebo,...que eles tem autonomia, mas poderiam ter mais autonomia, as vezes o que a gente percebe é que eles ficam,.. éhhh muito reféns de protocolos institucionais[...] tentando correr atrás e manter.... toda a papelada em ordem, toda a parte administrativa em ordem, né [...] Eu acredito assim, que o enfermeiro do CC tem muitas atribuições, e que não é uma coisa simples pra ele gerenciar isso, tem que ter um bom senso enorme, tem que ter um equilíbrio enorme, tem que saber gerenciar conflitos, então.., eu acho que..... , como é que eu vou te dizer, eu acho que eles tem, eles tem,... eles podem,.... eles deveriam ter mais autonomia, na minha visão. Eu acho que a instituição, ainda tolhe um pouco o enfermeiro, isso ai , ele acaba tendo eu acho que ele é... massacrado por atribuições, o enfermeiro do CC, tem muitas atribuições, e as vezes eles perdem o foco um pouco”.C1 autonomia limitada “Total, ...deveria até,... por um pouco mais em prática. Tem uns médicos que chegam, e tem que ser daquele jeito deles e...tem que ser uma coisa conversada né...explicar porque não vai colocar assim,...então tem que ter...Porque querendo ou não, é ele que tá coordenando a equipe inteira dele, e a equipe não é pequena”.T8 Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 88 6 DISCUSSÃO A “Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos”, aprovada na Assembléia Geral da UNESCO em 19 de outubro de 2005, coloca que a saúde não depende apenas dos progressos da investigação científica e tecnológica, mas também de fatores psicossociais e culturais que envolvem o ser humano e suas relações. Também declara que a sensibilidade moral e a reflexão ética devem fazer parte integrante do processo de desenvolvimento científico e tecnológico e que a bioética deve ter um papel fundamental nas escolhas do que é necessário fazer. Desta forma considera que é necessário desenvolver novas formas de responsabilidade social (UNESCO, 2006). Esta pesquisa busca contribuir com a perspectiva apresentada por esse documento, analisando o grupo social de profissionais que atuam no Centro Cirúrgico. Inicio, assim, com a discussão sobre a composição desta equipe. Quanto à formação da equipe os entrevistados demonstraram ter clara a relação multiprofissional de interdependência como exigência básica para o funcionamento da dinâmica do CC. As respostas com relação à formação da equipe foram todas categoricamente respondidas e tão amplamente exemplificadas, de modo não alimentar qualquer dúvida a respeito do assunto. Esta posição esclarecida da composição da equipe do CC reflete uma consciência coletiva de interdependência. Desta forma, demonstro, na figura abaixo, a equipe do CC identificada nesta pesquisa: Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 89 Enfermagem Pessoal da alimentação Pessoal da manutenção Central de materiais Equipes médicas Pessoal que vem de fora Clientes/ Pacientes Maqueiro Instrumentador Cirurgico Nutrição Ascensorista Pessoal da limpeza Pessoal da farmácia Pessoal da rouparia Figura 12 - Equipe do Centro Cirúrgico Foi também possível observar uma preocupação quanto à responsabilidade social o que reafirma as considerações contidas na Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (2005) no seu artigo 5º sobre autonomia e responsabilidade individual: “ A autonomia das pessoas no que respeita à tomada de decisões, desde que assumam a respectiva responsabilidade e respeitem a autonomia dos outros, deve ser respeitada.” (UNESCO, 2006). Essas observações foram identificadas na fala dos entrevistados quando discorriam acerca de suas percepções quanto às relações interpessoais da equipe multiprofissional no CC, quanto ao seu caráter de interdependência profissional e a necessidade de se respeitar o trabalho do outro. Entretanto, para dar continuidade à discussão dessas relações interpessoais é necessário fazer algumas considerações. O uso das palavras carrega uma responsabilidade enorme. Como seres humanos, não podemos escapar da linguagem. As palavras pensam por nós. Em bioética a responsabilidade de conduzir os profissionais de saúde a refletirem sobre seus atos e suas ações constitui atualmente um grande desafio. Nesse sentido, este estudo pôde desvelar que os entrevistados demonstraram certa dificuldade em encontrar palavras ao emitirem Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 90 suas opiniões principalmente quando indagados sobre como percebiam os relacionamentos interpessoais e os conflitos éticos em CC. Desta forma, para compor esta análise, encontro na teoria dos referenciais uma fundamentação bioética e uma linguagem mais apropriada para dar continuidade à discussão. Hossne (2006) esclarece que a teoria dos Princípios pautados na Beneficência, Não Maleficência, Autonomia e Justiça torna-se insuficiente para permitir uma reflexão ético filosófica de um determinado problema e para tanto propõe com a teoria dos referenciais as pontes de referencia para a reflexão bioética. Com isso me aproprio de alguns referenciais citados por este autor devido a sua maior abrangência e contextualizações para as discussões deste estudo como sabedoria, autonomia, vulnerabilidade, responsabilidade, liberdade e serenidade. A história influencia o processo de formação profissional, no sentido de que a busca dos elos históricos compreende uma construção cultural com base na construção do conhecimento. Essa construção cultural ilustra a representação dos valores profissionais identificados nesta pesquisa, quando se observa o respeito que se tem com relação à cultura médica, que é milenar. Esta pesquisa identifica a forte presença do médico no ambiente do CC e o quanto o seu comportamento e suas ações influenciam o trabalho da equipe multidisciplinar. Também se percebe a necessidade da equipe em falar sobre as relações interpessoais que permeiam a rotina do trabalho no CC. Esses profissionais estão acostumados com uma rotina complexa, de alta demanda, com prazos e horários determinados tendo pouca oportunidade de refletir e discutir sobre como se dão suas relações interpessoais. Marques e Vieira (2007) relatam que o trabalho multidisciplinar é fundamental para a promoção da dignidade do doente, e que só trabalhando em equipe é que se consegue centralizar e dirigir as atenções dos profissionais de saúde para a pessoa. Segundo Hossne (2007, p.127), “[...] um violinista pode atuar como solista ou como um dos componentes de uma orquestra. Um atleta pode ser um ginasta solo ou um membro de uma equipe de esporte coletivo”. O que também ficou Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 91 demonstrado nesta pesquisa é que os entrevistados reconhecem em alguns médicos a característica da medicina do poder, na qual eles podem até achar que são solistas ou ginastas solo, e agir como seres independentes. Entretanto, ao agirem dessa forma no CC a conseqüência de suas ações causará prejuízo tanto no seu relacionamento com a equipe, quanto riscos ao paciente, uma vez que seu comportamento pode interferir na dinâmica de trabalho do grupo. Neste estudo identificou-se que os relacionamentos no CC podem ser bons ou ruins, porém todos os sujeitos buscam contribuir com exemplos para expor suas opiniões sobre o que poderia ser considerado significativo para a melhora dessas relações principalmente quando indicam que o objetivo maior de toda a equipe é o êxito da cirurgia e a segurança do paciente. Relatam que quando os relacionamentos são bons é porque encontram ações e comportamentos de parceria, compartilhamento, educação, respeito, boa vontade e se relacionam através de um canal de comunicação aberto e troca de informações. Já quando são ruins, caracterizam-se pela má vontade, falta de comunicação ou comunicação inadequada, desrespeito, incompreensão, insegurança e poder autoritário. Muitas vezes esses momentos são marcados por situações estressantes próprias do ambiente, situações de urgência e emergência e que levam a momentos de tensão. O sentido de equipe e como se dão as relações interpessoais identificadas no nosso estudo passa pelo comportamento do médico. Nas relações interprofissionais relatadas nesta pesquisa identificam que o comportamento dos médicos principalmente dos cirurgiões, contribuem com fatores restritivos ao relacionamento em CC. As falas apontam que os cirurgiões são os grandes protagonistas do conflito ético no CC, principalmente porque na maioria das vezes não sabem lidar com limites. Pereira Filho (1998) relata que a autonomia do médico, conquistada, sobretudo nos séc. XIX e XX vem sofrendo profundas alterações conceituais nos últimos 50 anos. Enquanto o médico era sujeito autônomo de todas as suas ações, a autonomia do paciente sequer era respeitada. Como referido anteriormente onde há assimetria de relações a bioética tem que ser discutida. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 92 O mesmo autor coloca que hoje a relação médico paciente é muito mais aberta e democrática, permitindo o compartilhamento da responsabilidade na tomada de decisão. A mudança para este comportamento se deu através da organização social e a conscientização democrática dos pacientes, o que acarretou em uma melhor relação médico-paciente. Enquanto por um lado os pacientes adquiriram mais autonomia, a autonomia médica sofreu prejuízos. Outros dois fatores também são apontados pelo autor como responsáveis pela diminuição do poder autônomo do médico: a organização empresarial da assistência médica e daí entendem-se hospital e empresa prestadora de assistência médica (convênios); e o avanço tecnológico. Reafirmam-se essas considerações quando observamos, no relato dos cirurgiões, do presente estudo, que os convênios interferem nas relações interpessoais de forma restritiva. Este foi um exemplo apontado por eles como limitantes de sua atuação. Em outras palavras o poder decisório saiu das mãos do medico e foi para “empresa.” (PEREIRA FILHO, 1998). A liberação de algum equipamento ou material necessário para a realização da cirurgia, algum implante ou até mesmo a própria realização da cirurgia, quando dependem de uma fonte financiadora, retira do cirurgião o poder de decidir sobre a realização ou suspensão da cirurgia. A interdependência fica então citada pelos cirurgiões como um fator restritivo, de forma a comprometer sua autonomia. O que se percebe, então é que o modelo mercantilista de organização dos sistemas de saúde colocam a decisão dos custos de uma intervenção cirúrgica nas mãos das empresas de saúde, tornando todos os incluídos nessa decisão vulneráveis. Na análise das relações interpessoais observadas no presente estudo, em incluir mais um fator restritivo ao poder médico atual, que é a inclusão e participação de outras disciplinas na área da saúde reconhecidamente necessárias, comprometidas e capacitadas. Acredito que alguns possam achar ser mais um prejuízo em relação ao poder médico, porém considero oportuno apontar o lado positivo desta questão quando os resultados desta pesquisa indicam uma interdependência profissional necessária, e sobretudo, a importância do trabalho em equipe no CC, mesmo que esse esteja condicionado ao trabalho interdependente de cada um. As falas são claras ao apontar que o trabalho individual de cada um não deve atrapalhar o desenvolvimento do trabalho do outro, e, mais que isso, destaca a Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 93 base do trabalho em equipe no estabelecimento de metas, que só podem ser alcançadas conjuntamente. A relação hierárquica de poder, acerca das relações dos profissionais apontados nesta pesquisa, comprovou que o profissional mais vulnerável desta equipe é o técnico de enfermagem. Foi relatado que a exposição do técnico de enfermagem constantemente integrado e interagindo diretamente através da sua atuação na SO juntamente com os anestesiologistas, cirurgiões e outros profissionais identificados na composição da equipe, somando-se ao seu conhecimento técnico-científico, podem contribuir para que ele seja o profissional mais vulnerável dessa escala. Isto pode acontecer quando participam dessa dinâmica, profissionais que não reconhecem e nem respeitam o trabalho deste profissional, bem como não respeitam a característica de interdependência do trabalho deste setor. Nesse sentido Malagutti e Santos (2009) afirmam que a atividade de circulação de sala, que é realizada pelo técnico de enfermagem é bastante complexa, exigindo destreza da técnica e muita concentração. Porém o ambiente e o comportamento da equipe podem contribuir para o desenvolvimento de alterações do estado emocional do profissional, influenciando assim a sua atuação dentro da SO. Ainda como fator restritivo ao relacionamento da equipe, este estudo identificou que a ausência do enfermeiro dentro da sala de operação traz insegurança para a equipe como um todo e principalmente ao técnico de enfermagem. Apesar da observação citada anteriormente o que também ficou demonstrado nesta pesquisa é que o enfermeiro tem um poder de trazer coesão para a equipe e que por meio do seu comportamento e suas ações podem-se transmitir segurança e harmonia ao ambiente do CC. Os relatos desta pesquisa apontam a ausência do enfermeiro em SO, porém o ambiente é organizado onde há uma preocupação com a qualidade da assistência e com a definição de tarefas, assim o respeito é apontado como a base dessas relações. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 94 O respeito à pessoa é tema central na bioética. De acordo com Goldim (2000), as características do princípio do respeito à pessoa são a privacidade a veracidade e a autonomia. A utilização desses conceitos assume diferentes perspectivas, desde as mais individualistas até as que inserem o indivíduo no grupo social. É suficientemente indicativo do peso que se atribui aos aspectos bioéticos, sobretudo no que diz respeito à dignidade do ser humano quando da avaliação do comportamento do profissional. Este estudo evidencia esta análise exemplificando alguns comportamentos no quais se percebe a assimetria da relação médicopaciente, enfermeiro-paciente, quando se impõe determinada conduta e ação sem levar em conta a escolha do paciente ou orientá-lo a respeito. A própria condição da prática no CC, em que é permitido interrogar questões de foro íntimo, muitas vezes sem a privacidade necessária, assim como examinar, realizar um contato físico necessário à proposta cirúrgica, inclusive expondo o corpo do paciente, facilita esse tipo de falha em profissionais que não compartilham o agir ético nas relações. Com isso observa-se também nessa pesquisa a assimetria entre médico-enfermeiro, médico-técnico de enfermagem, enfemeiro-técnico de enfermagem. Já a autonomia segundo Beauchamp e Childress (2002) tem diferentes significados, tais como: auto-determinação; direito de liberdade; privacidade; escolha individual e livre vontade. De acordo com Costa, Anjos e Zaher (2007), é possível conferir à autonomia vários significados, variando de acordo com o olhar que se propõe a estudá-la, ou como respeitá-las nas pessoas. Porém todas as teorias concordam que existam duas condições essenciais à autonomia: a liberdade e a ação. A autonomia identificada nesta pesquisa passa pela vontade do sujeito e, na análise das relações, as ações e comportamentos livres dos sujeitos contribuem favorecendo as relações interpessoais ou restringindo os relacionamentos, quando ausente. Segundo Imanuel Kant (2005, p.21-22) nada é possível pensar sem que haja o pressuposto de um dom natural do ser humano que é o da “boa vontade”. Porém essa boa vontade pode ser usada para o bem através do “discernimento, argúcia de espírito, capacidade de julgar, coragem, decisão, constância de propósito” quando o Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 95 caráter do indivíduo for bom, mas também pode ser prejudicial quando que esta boa vontade parte da falta de caráter. Ao analisar as relações interpessoais do CC descritas nos resultados deste estudo através do referencial bioético da autonomia verifica-se também a necessidade de discutir a vulnerabilidade dos atores. Importante lembrar que vulnerabilidade é a possibilidade de alguém ser ferido tanto no sentido físico quanto no sentido da ofensa moral quando uma ação é realizada (ANJOS, 2006). Segundo Anjos (2006), é necessário entender que a consciência da vulnerabilidade do sujeito autônomo é importante para se entender melhor o próprio exercício da autonomia. O reconhecimento da própria vulnerabilidade é ponto de partida para uma ação reflexiva dos problemas enfrentados. Nesta pesquisa foi possível observar a vulnerabilidade dos profissionais. Eles se percebem autônomos quando escolhem agir de uma determinada forma frente a alguma situação quer ela seja técnica ou relacional, mas se tornam vulneráveis quando percebem que a sua ação individual interdepende da ação do outro e vice e versa. Dessa forma esta pesquisa identificou profissionais vulneráveis, mesmo não tendo conferido à palavra vulnerabilidade o exemplo das suas percepções. Foi percebido principalmente nas falas dos enfermeiros a necessidade de se retirar estrategicamente frente a alguma situação ou até mesmo trocar o funcionário de sala para atender a uma determinada cirurgia. Tais atitudes ocorrem em prol do objetivo final do CC, que é atender o paciente de forma que se obtenha êxito da cirurgia mantendo a segurança do paciente e o ambiente em harmonia, muito embora os relatos também apontam que posteriormente a discussão de determinada situação deva ser retomada. O desenvolvimento científico colocou o poder dos sujeitos humanos em evidência. O homem através do conhecimento aliado à tecnologia no CC é capaz de realizar cirurgias antes consideradas impossíveis. Esta pesquisa evidenciou que a classe médica ainda detém o poder e que também as enfermeiras se utilizam de algum poder. Este sentimento de poder, segundo Anjos (2006), não é o mesmo que autonomia, já que essa é uma expressão do poder e corresponde a uma diminuição de espaço para se admitir a fragilidade e a vulnerabilidade. Enquanto o poder e a vulnerabilidade andam juntos, as sociedades sofrem sem limites. É possível Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 96 perceber, portanto, que quando os profissionais do CC se percebem vulneráveis nas suas ações e relações de interdependência é que eles contribuem positivamente para obter e manter uma ambiente harmônico dentro do CC. Devemos então pensar o que perceber nossa própria fragilidade nos torna fortes (ANJOS, 2006). Houve alguns relatos nesta pesquisa que identificaram situações em que se observaram vozes alteradas e comportamentos desrespeitosos. Esta observação traduz um sentido de violência que também é reafirmada por Anjos (2006) ao colocar que a violência demonstra a insegurança do poder, e que quando se percebe esse poder inseguro, mais o indivíduo se cerca de medo e agressividade.” Esta pesquisa demonstrou também que a equipe do CC de um modo geral reconhece que as reuniões científicas multiprofissionais, os protocolos assistenciais e organizacionais são ferramentas que contribuem com a organização do serviço e diminuem a vulnerabilidade tanto dos profissionais quanto do próprio paciente. Esta pesquisa identificou que os profissionais trabalham embasados nos protocolos adotados para a segurança do paciente. (COREN Segurança do paciente). colocar ref. Esta conduta vem sendo adotada por vários serviços, utilizando uma lista de verificação (checklist). O Brasil tornou-se signatário dessa estratégia da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2008 e através da PROQUALIS, tomou como referencia as ações do "Programa de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde (WHO Patient Safety) que define, como uma de suas áreas prioritárias de atuação, as Soluções para a Segurança do Paciente, que são promovidas, disseminadas e coordenadas internacionalmente pelo Centro Colaborador da OMS (WHO Collaborating Centre). A “cultura de segurança do paciente” se embasa em estratégias voltadas para prevenir ou reduzir o risco de dano ao paciente decorrente do processo de cuidado de saúde inseguro. As práticas adotadas em CC para promover a segurança do paciente sofrem quando na visão da equipe multiprofissional a adoção de mais um documento administrativo serve para caracterizar somente a burocracia do CC, deixando de lado a reflexão dos benefícios desta pratica, principalmente por parte dos médicos. Descrevo a seguir Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 97 algumas práticas recomendadas que só alcançam êxito quando há um engajamento da liderança gerencial e clínica e de todos os profissionais envolvidos no cuidado: Realizar o procedimento correto na parte correta do corpo (Performance of Correct Procedure at Correct Body Site). Os casos de procedimentos ou cirurgias na parte errada do corpo ocorrem e são considerados totalmente evitáveis. Resultam de falhas de comunicação e informação, além de falta de padronização nos procedimentos. A principal estratégia para reduzir as ocorrências de dano aos pacientes relacionadas à cirurgia é a implantação do uso de uma Lista de Verificação (checklist), preparada por especialistas para auxiliar as equipes cirúrgicas. A lista padroniza os itens a serem garantidos nas seguintes etapas: antes da indução anestésica, antes da incisão na pele e antes de o paciente sair da sala cirúrgica. Para que obtenha êxito, essa solução requer o engajamento da liderança gerencial e clínica, além dos profissionais envolvidos no cuidado. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010). Esta pesquisa também visa a contribuir acerca das relações interpessoais no CC e conflitos éticos e os comportamentos diante desses conflitos com a análise dos códigos de ética médica e de enfermagem, pois eles são conjuntos de normas que regulam o exercício de uma profissão incidindo sobre obrigações, responsabilidades e direitos. Os códigos também incluem normas de caráter ético ou moral, que visam a assegurar a integridade do profissional de caráter jurídico e administrativo para assegurar o exercício da sua profissão (NEVES, s.d.). Segundo Anjos e Siqueira (2007) na bioética brasileira há um ponto de encontro entre a ética normativa e a ética aplicada, por meio das deontológias profissionais. Tais autores relatam que os códigos antecedem ao aparecimento da bioética, que surge em um contexto de crise da ética normativa, diante da falência de valores universais para regrarem as condutas humanas. Fortes (1998) corrobora com esta análise quando coloca que para a tomada de decisão ética existem duas correntes: a dos resultados, denominada consequencialista, e a dos deveres, denominada deontológica. O mesmo autor coloca que, na prática, as decisões são tomadas mesclando as regras deontológicas uma vez que vêm de princípios universais, com a avaliação das conseqüências que a ação pode implicar. Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 98 Analisando, portanto, os códigos de ética, observamos que: a bioética tem sido incluída nas diversas disciplinas de saúde por meio de seu conceito pluralista e interdisciplinar. Ainda hoje, mesmo o mais recente Código de Ética Médica (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010) não contempla efetivamente a importância da interdisciplinaridade. Este código parece reforçar o critério de independência e exclusividade profissional, que torna o médico tão vulnerável quanto à equipe de saúde e o doente. Também não faz referencia a interdependência necessária em algumas situações da saúde como é o caso das atividades praticadas realizadas no CC. A título de exemplificar esta inegável afirmação coloco a situação onde a responsabilidade de fornecer uma caixa cirúrgica com o instrumental corretamente esterilizado seguindo as normas específicas desse procedimento é do enfermeiro; a responsabilidade de promover condições anestésicas necessárias ao procedimento cirúrgico é do anestesiologistas e o procedimento cirúrgico em si é do cirurgião. Qualquer falha de um desses profissionais durante o procedimento cirúrgico vulnerabiliza o outro podendo trazer conseqüências ao paciente. A implicação jurídica nesses casos pode ser de responsabilidade de todos. Marques Filho (2006), ao dissertar sobre os processos de cassação do exercício profissional médico do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado de São Paulo, afirma que as infrações cometidas pelos médicos condenados foram mais por falhas eminentemente éticas do que por falhas envolvendo imperícia, imprudência e negligencia. Desta forma coloca que é possível que uma parte considerável dos médicos condenados tenha problemas relacionados mais ao caráter e à honestidade do que a formação técnica. O novo código de ética médica pouco menciona a importante característica constatada nesta pesquisa que é a responsabilidade compartilhada que advém do trabalho multiprofissional e interdisciplinar. Observa-se alguma menção a respeito no XVII Princípio Fundamental do Capítulo I: “As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 99 interesse e o bem-estar do paciente.” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010, p.8). Nesse sentido o Código de Ética da Enfermagem aprovado pela Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) Nº 311/2007 que entrou em vigor a partir de 12 de maio de 2007, coloca que a responsabilidade da prática interdisciplinar é um direito, conforme descrito na Seção II das Relações com os Trabalhadores de Enfermagem, Saúde e Outros, DIREITOS Art.36 - Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade. RESPONSABILIDADES E DEVERES Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe. E ainda por meio dos Princípios fundamentais aponta que: “O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde [...]”. e, no Capitulo I das Relações Profissionais Art. 1º o enfermeiro tem por direito: Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos. (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007). Desta forma se estabelece deontologicamente o respeito entre os profissionais e que na visão de Pessini (2005) incorpora-se à significação do conhecimento e do cuidado pressupondo então a “interdependência colaborativa”. O cuidado deve ser praticado por profissionais que demonstrem através dos seus pensamentos e atitudes, uma consciência ética e um agir bioético segundo o qual as tomadas de decisão devam perpassar por reflexões seguindo os referenciais bioéticos. Maristella Lopes Gianini 100 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Um outro aspecto ressaltado nos resultados dessa pesquisa afirmam que o enfermeiro é o profissional mais indicado a liderar a equipe do CC, por ter um domínio de todas as atividades realizadas no CC, e que suas atividades devem contemplar a administração e a assistência ao paciente cirúrgico. O enfermeiro apontado nesta pesquisa se aproxima das características de conhecimento, competência, sabedoria, serenidade para tomar decisões em que faça escolhas em nível de atuação profissional, especialmente no gerenciamento de conflitos, uma vez que no trabalho que realiza ele é o profissional que tem um relacionamento mais direto com todos os membros da equipe. Se observarmos que as características de um líder perpassam sempre pela necessidade de optar e de fazer escolhas, encontro no relato de Hossne (2007) o quanto esta tarefa é difícil. Ele coloca que fazer escolhas é sempre angustiante para o ser humano, a tal ponto, que por vezes, preferir não ter outra opção para que não precise escolher. Este estudo mostrou que o trabalho no CC é sempre interdependente, portanto, os profissionais que lá atuam estão constantemente atuando e fazendo escolhas que influenciam diretamente no outro. Diante disso, ao discutir o papel de liderança atribuído ao enfermeiro nesta pesquisa, é necessário discorrer também acerca da competência que é descrita como componente funcional e operativo da autonomia moral. Certas habilidades psicológicas são obrigatórias para a tomada de decisões autônomas, sendo que tais habilidades se estabelecem como parte do processo de desenvolvimento cognitivo moral do indivíduo (URBAN, 2003). Apesar de o objetivo ser sempre o paciente, a atuação direta do enfermeiro com o paciente na SO foi pouco relatada pelos entrevistados, principalmente pelos enfermeiros. Os profissionais percebem sua ausência não somente diante de alguma atividade técnica dirigida diretamente ao paciente dentro da sala, como também através daquele papel de ponte entre todos os envolvidos na cirurgia, trazendo inclusive segurança para a equipe. Alguns justificam essa situação de ausência pela carga excessiva de atribuições. Segundo Farah (2010) o número insuficiente de profissionais para atender a demanda do serviço, leva à sobrecarga de trabalho. Maristella Lopes Gianini 101 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Todavia não é possível negar que esta situação de sobrecarga de trabalho e numero insuficiente de enfermeiros em CC está posta na maioria do Centro Cirúrgicos. O enfermeiro de CC enfrenta uma crise compreendida entre a racionalidade científica do modelo biológico de assistência à saúde e seus valores culturais, sociais e éticos. Assim, em seu cotidiano, vê-se constantemente impulsionado a transferir e adiar suas escolhas e ideais profissionais, entre as decisões tecnocratas sentindo-se cada vez mais, como um instrumento de controle. Esse fato vem pesando sobre si como uma grande e constante ameaça (BONFIM, 2009). O que se percebe, é que a enfermagem é testemunha, em seu cotidiano, de inúmeros problemas e conflitos relativos a questões morais e éticas, tais como atitudes e comportamentos incorretos por parte da própria enfermagem, do corpo médico e das instituições (WALDOW, 2001). Os resultados desta pesquisa identificaram que a enfermagem tem uma preocupação grande em não infringir a ética e não causar conflitos. Contudo, também é apontada como causadora de conflito ético no que diz respeito às relações quando assumem um comportamento autoritário e de desrespeito. Nesta pesquisa pode ser observado que o enfermeiro de CC deve se posicionar diante de situações que ferem princípios éticos e desta forma, ele terá condições de exercer sua autonomia com responsabilidade ao escolher o caminho do seu crescimento, enquanto cidadão e profissional. Siqueira (2003) e Matos Junior e Bazzano (2010) colocam que segundo a nova ética da responsabilidade proposta por Hans Jonas substitui os antigos “Imperativos Kantianos” p. 37, “Age de tal maneira que o principio de tua ação transforme-se numa lei universal” por “Age de tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autentica”. Passos (2000) relata que no CC o importante é a rapidez das decisões, e a eficácia da ação, podendo-se deixar de lado os valores éticos", o que também poderia insinuar a polêmica idéia de que os fins justifiquem os meios. Portanto o enfermeiro do CC como líder administrativo deste ambiente deve seguir a Maristella Lopes Gianini 102 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA responsabilidade como a capacidade individual de assumir antecipadamente pelo que se vai fazer e ter consciência das conseqüências das suas ações e omissões. Neste sentido, responsabilidade implica dever perante o frágil e o vulnerável, não como mera consciência passiva, mas como o dever fazer de alguém, em resposta ao dever ser (JONAS,1995). Pautar-se na ética é potencializar as relações por meio da comunicação e solução de conflitos a fim de defender e promover a vida de todos. As condutas dos profissionais de enfermagem incidem não somente sobre o paciente visto como o ser mais vulnerável no CC mas também na equipe que também é vulnerável. (SELLI, 2000; ZOBOLI; SARTÓRIO, 2006). Em bioética, a conduta ética resulta de um discernimento em que é importante ter consciência do ponto de vista que se assume. Desta forma, obtém-se através da contraposição ou soma de diferentes pontos de vista, a qualidade da verdade ética. Hossne (2007) contribui com esta afirmação quando coloca que ao refletir sobre dilemas e conflitos é necessário identificar o “depende”, e aí permitir o equacionamento adequado, pondo em jogo a competência, e sobretudo, a crítica fundamentada no interesse do outro ou de outrem. Esta consideração se tornou necessária nesta pesquisa uma vez que houve questionamentos sobre conflitos éticos e as perguntas não consideraram somente o julgamento dos entrevistados sobre eles mesmos ou indivíduos da mesma categoria profissional. As perguntas buscavam também as opiniões a respeito de outras categorias profissionais, de modo que somando-se as respostas ou observando as contraposições chegou-se a essa analise. As falas apontam que o enfermeiro tem de utilizar a sua autonomia baseada no seu conhecimento técnico científico, nas suas habilidades de relacionamento interpessoal sem prejudicar ou agradar quaisquer que sejam as pessoas ou os motivos. A autonomia do enfermeiro é condicionada também à necessidade de tomadas de decisões para que a dinâmica de funcionamento do CC não seja prejudicada. Cabe a ele promover condições de trabalho adequadas para a equipe Maristella Lopes Gianini 103 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA multiprofissional bem como para prever e atuar em qualquer situação que ofereça risco ao paciente. O papel da instituição mediante à compreensão do trabalho que é realizado pelos enfermeiros no CC, também define ou não o poder a lhe ser conferido para que possa exercer suas atividades no CC com mais autonomia. Aliada a essas condições o que se identifica na nossa pesquisa é a autonomia relacional que revela a nossa habilidade de nos relacionarmos com os outros e nos mantermos nessas relações. De algum modo nossa autonomia é paradoxal uma vez que nossa independência se faz por intermédio da interdependência com outras pessoas. Se reconhecer como ser vulnerável nos leva a elaborar decisões tendo em vista os limites e condicionamentos da nossa própria liberdade (ANJOS, 2006). Atualmente o conhecimento é tão abrangente e ao mesmo tempo fracionado que carece do respeito multiprofissional (PESSINI, 2005, p.11): O conhecimento científico se apresenta hoje como um conjunto de especializações, por vezes desconexas, em que acabamos sabendo sempre mais de cada vez menos, até chegarmos a saber quase tudo de quase nada. É um paradoxo! Esse conhecimento dificilmente transforma-se em sabedoria, se não honrar a contribuição da perspectiva multidisciplinar. O conhecimento de uma disciplina deve vir a somar nas outras para que o cuidado se torne eficiente. A respeito disso, Sá (2010) coloca que o mundo de hoje exige não só o conhecimento técnico, mas também que a nossa inteligência seja avaliada do ponto de vista emocional e no êxito das relações humanas. O conceito de qualidade na área da saúde data do séc. XXI e está permeado por questões que envolvem o emocional humano, o trabalho em equipe, a re-aproximação do indivíduo aos valores humanos e à diminuição da intolerância em relação às diversidades. A análise bioética em uma pesquisa qualitativa requer um cuidado especial para que um determinado conceito não se feche nele mesmo e ao seu autor. Não Maristella Lopes Gianini 104 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA deixando de respeitar o rigor metodológico utilizado nesta pesquisa, mas ao considerar o fato de que vivemos em uma era pós-moderna causada por um colapso geral da confiança no poder da razão, é que concordo com a opinião de Campos (1997) quando coloca que uma mesma situação pode ter várias verdades. Assim, o movimento que acontece atualmente é no sentido de que não há mais a verdade fundamental, da qual não se pode abrir mão. Maristella Lopes Gianini 105 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho possibilitou estudar o relacionamento Interpessoal da equipe do CC sob a ótica da Bioética. Os referenciais bioéticos abordados ao longo de toda a pesquisa serviram de base de sustentação das discussões, onde todas as condutas dos profissionais incidem umas sobre as outras. Este estudo trabalhou no universo da equipe multiprofissional do CC com enfoque maior no enfermeiro e suas atitudes. Considerando que o princípio da autonomia remete ao respeito mútuo e às relações que permeiam o trabalho desta equipe podemos afirmar que as observações feitas por eles referindo-se a uma determinada categoria profissional também foram observadas e analisadas como referência aos outros. O CC é local de grandes desafios para o homem. Não somente do ponto de vista técnico cientifico como também das relações humanas que o constituem. A ética também é uma dimensão fundamental na busca da humanização tão ncessaria nos dias de hoje. O termo humanização vem sendo utilizado no âmbito da saúde, sobretudo no que se refere à forma como está sendo tratada a pessoa doente nos hospitais. Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação do profissional da saúde e paciente, acolhendo suas angústias diante de sua fragilidade (PESSINI et al., 2003). É importante, também, ressaltar que a bioética e a ética postulam uma atuação dos profissionais da saúde mais humanizada, focada na relação profissional com o paciente. Contudo não se pode deixar de lembrar que as relações interprofissionais vão influenciar diretamente o cuidado, já que no CC todas as atividades se relacionam. Neste estudo, os relatos que emergiram dos sujeitos entrevistados foram organizados em categorias e os resultados permitiram as seguintes conclusões: - A equipe do CC é multiprofissional e atua de forma interdependente. - O CC mais especificamente a sala de cirurgia é o único local do hospital onde de forma rotineira trabalham profissionais de diferentes formações técnicas ao Maristella Lopes Gianini 106 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA mesmo tempo com um único paciente, onde a ação de um profissional dependente da ação do outro. - Os relacionamentos são bons quando se cultiva uma cultura de responsabilidade compartilhada, de boa vontade, solidariedade, respeito e harmonia. - Os relacionamentos são ruins quando se identifica má vontade, imposições autoritárias e atitudes individualistas. - O enfermeiro é apontado como o profissional mais bem preparado para liderar o CC e trazer coesão e harmonia para a equipe. Ele é referência dentro da equipe multiprofissional - As decisões devem ser tomadas e justificadas. É reconhecida a importância de um conjunto de comportamentos e documentos, bem fundamentados (protocolos institucionais), que respaldam as decisões profissionais. - A abordagem acerca de conflitos éticos causou um certo desconforto sobre os sujeitos desta pesquisa e ao mesmo tempo trouxe relatos de que essa temática necessita ser melhor identificada e exploradas. - Os médicos são identificados como o grupo que com maior freqüência causam os conflitos éticos e os problemas de relacionamentos, especialmente os cirurgiões. - A fragilidade da estrutura hospitalar, caracterizada pela sobrecarga de trabalho, devido ao número insuficiente de profissionais corrobora com a limitação da atuação do enfermeiro no CC especialmente em sua dimensão assistencial em SO, porém há necessidade de maior investigação quanto ao fato dos próprios enfermeiros não mencionarem essas atividades em suas falas. Analisar uma reflexão sobre conflito ético apenas sob o referencial do código de ética, que essencialmente é deontológico, pode levar a uma visão distorcida e muito restrita da questão ética implicada. Portanto, deve ser imperativa a construção da reflexão bioética, porém não se pode esquecer de que as ações de enfermagem estão intrinsecamente ligadas à responsabilização profissional. Portanto, é preciso que os profissionais de enfermagem estejam capacitando-se, científica, técnica e Maristella Lopes Gianini 107 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA humanamente, para cumprir com esses direitos e atender às necessidades, ou seja, prestar assistência com isenção de danos ou com sua minimização (FREITAS et al,, 2005). Assim sendo, o aprofundamento do domínio da bioética e seus referenciais por parte do enfermeiro deverá contribuir para uma maior exigência de reflexão acerca do seu modo de agir. O enfermeiro de CC embasado nos referenciais bioéticos como a sabedoria, autonomia, vulnerabilidade, responsabilidade, liberdade e serenidade devem entender que suas ações precisam ser construídas seguindo essa base de raciocínio. Com isso direitos, deveres, valores, compromissos éticos, devem ser as linhas gerais que governam a sua conduta. O profissional do CC percebe que faz parte de uma equipe e que as relações interpessoais no CC refletem na assistência. É através do seu auto-conheciemento reconhecendo suas forças e suas fraquezas e percebendo sua própria fragilidade e vulnerabilidade, que este profissional se tornará forte e competente para atuar. Deve também conhecer as atribuições dos outros profissionais para reconhecer e atuar frente a interdependência. Existem muitas questões éticas e bioéticas a serem trabalhadas e refletidas em torno das práticas no CC e pelos membros que os integram. Este ambiente que constantemente sofre transformações sociais e tecnológicas necessita ser melhor investigado, abrir-se ao diálogo e ao conhecimento da sociedade. Os resultados desta pesquisa permitem afirmar que no CC o trabalho em equipe é imperativo, as relações são difíceis, mas podem melhorar quando o respeito e o reconhecimento de sua vulnerabilidade forem a base dos relacionamentos. Apontado como profissional mais apto a liderar e trazer coesão à equipe no CC, o enfermeiro necessita de competência e habilidades próprias para saber lidar com conflitos e trazer segurança para todos. Sugiro então que ele procure embasar suas ações e decisões através do que Hossne (2007) coloca que é exercício da bioética: liberdade para optar por valores freqüentemente em conflito, a ausência Maristella Lopes Gianini 108 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA de julgamentos preconceituosos, humildade para respeitar o outro e grandeza para alterar a opção caso ela se mostre equivocada. O enfermeiro experiente, atualizado, com conhecimento técnico científico para prestar uma assistência de qualidade e segurança, conhecimento administrativo para gerenciar as atividades realizadas, uma grande capacidade de trabalhar em equipe e uma boa comunicação interpessoal, deve assumir uma espécie de ponte entre todos os envolvidos na dinâmica do CC, inclusive com o próprio paciente. De acordo com Anjos (2006), o desenvolvimento científico põe em evidência o poder dos sujeitos humanos, em sua capacidade racional e operacional. Assim o desenvolvimento do conhecimento humano coloca o saber como a forma mais importante de poder, mas o poder não é o mesmo que autonomia, embora a autonomia seja uma forma de poder muito valorizada no mundo moderno. O enfermeiro do CC deve ter muito claro que o fato de ele ser líder de coesão e harmonia no CC não lhe confere o poder sobre a autonomia dos membros da equipe. Ele tem de ter consciência que sua autonomia está sempre relacionada com as conseqüências de sua atuação de modo que sua conduta e tomadas de decisão devam sempre ser buscadas através do seu discernimento, do equilíbrio e da boa vontade em decidir para o bem. Devemos discutir a importância do papel da enfermagem no CC e sua visibilidade diante da sociedade. A enfermagem ainda não tem a verdadeira noção do quanto à sociedade depende dela e de qual é o seu poder. Um hospital e mais diretamente o CC, não funciona sem a enfermagem. Ela não entra apenas na segurança e no cuidado do paciente, ela é a engrenagem de todo movimento no CC. Para tanto, é também urgente que os administradores reconheçam este profissional. O trabalho realizado pelo enfermeiro, do ponto de vista da equipe, não é congruente com a expectativa institucional. O que ficou demonstrado nesta pesquisa é que a instituição quer gerenciamento, mas a equipe quer também participação na assistência dentro da SO. É preciso que as instituições percebam que a equipe do CC identifica no enfermeiro a ponte técnico-administrativa e das relações que permeiam todo o trabalho realizado no CC. Para tanto, e necessário oferecer condições para que esse profissional possa atender essa expectativa. O contingente Maristella Lopes Gianini 109 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA de pessoal de enfermagem, principalmente de enfermeiros é insuficiente para atender essa necessidade. Também o número insuficiente de técnicos e anestesiologistas dificultam a atuação do enfermeiro diante da distribuição de salas. Diante dessa situação é premente que esse olhar administrativo seja revisto. Este estudo propõe que o enfermeiro do CC, esteja embasado em referenciais bioéticos para guiar sua conduta e nortear suas tomadas de decisão, de modo a poder atuar como Ponte entre os saberes nas Relações Multiprofissionais. Uma vez que esta pesquisa aponta que as relações interpessoais interferem no ambiente e também na qualidade da assistência prestada ao paciente cirúrgico, acredito que o enfermeiro deva fazer esse papel de ponte de ligação entre todos os profissionais que atuam no CC. Desta forma no ambiente do CC onde a saúde enfrenta tantos desafios e onde tantos profissionais se encontram para realizar um trabalho interdependente, é imperativo que exista alguém que possa cumprir esse papel. A visão bioética neste sentido transforma o enfermeiro em agente que agrega e contribui positivamente para a manutenção da harmonia das relações e do trabalho em equipe. A posição ideal do profissional autônomo no CC é aquela quando o enfermeiro percebe que algumas decisões dependem de critérios médicos e quando os médicos percebem que algumas decisões também dependem de critérios de enfermagem e que ambos influenciam e são influenciados pelo trabalho de toda a equipe. Nada substitui o que se assimila no contato direto com o paciente, com o ambiente de trabalho e com as relações sociais. A competência resulta do conhecimento e da experiência. A disciplina teórico-prática e mesmo a especialização em CC não pode ser aprendida apenas em laboratório, com poucas atividades práticas, ou por meio de livros e palestras. O aprendizado do enfermeiro em CC tem que ser basicamente prático. Acredito que através do modelo de residência poderemos proporcionar o aprendizado prático do enfermeiro no CC aliado a princípios e referencias bioéticos, contribuindo, assim, para preparar melhor esse enfermeiro a enfrentar seu futuro profissional no CC. Maristella Lopes Gianini 110 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Observa-se que determinantes históricos e situacionais promovem o avanço e o retrocesso no modelo de estrutura do CC centrado no cirurgião. Porém só se avança quando se incorpora uma ação interdisciplinar com reconhecimento dos saberes convergentes e a responsabilidade compartilhada. Maristella Lopes Gianini 111 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA REFERÊNCIAS ALMEIDA, E. A.; BRAGA, E. M. Reflexos sobre educação e enfermagem. Rev. SOBECC, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 19-23, jul./set. 2006. ANJOS, M. F. 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Maristella Lopes Gianini 120 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu,________________________________________,RG_________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo intitulado “ O Enfermeiro e o Relacionamento Interpessoal da Equipe do Centro Cirúrgico – Uma Reflexão a Luz da Bioética” que será desenvolvido pela pesquisadora Maristella Lopes Gianini, sob a orientação da Profª Drª Luciane Lucio Pereira e co-orientação do Prof. Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos, com o objetivo de analisar o relacionamento inter-pessoal da equipe multiprofissional que atua no Centro Cirúrgico; Identificar a valorização atribuída ao enfermeiro do Centro Cirúrgico e analisar a autonomia do enfermeiro dentro da equipe do Centro Cirúrgico, em situações de dilemas e/ou conflitos éticos. Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) pela pesquisadora, de forma clara e detalhada, livre de qualquer coerção sobre a pesquisa e os procedimentos nela envolvidos. Sei que serei entrevistado e a mesma será gravada em dispositivo próprio para a utilização apenas nesse estudo. Fui igualmente informado(a) que: - terei liberdade de solicitar a qualquer momento esclarecimentos sobre o estudo; - estará garantida a retirada de meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade; - será preservada minha identidade, permanecendo confidencial nos dados coletados; - as informações obtidas serão analisadas em conjunto a dos demais pesquisados; - terei o direito de saber a qualquer momento, sobre os resultados parciais da pesquisa; - não correrei quaisquer riscos quanto da minha participação nesta pesquisa, principalmente no que se refere a minha atuação profissional; Maristella Lopes Gianini 121 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA - não existirão despesas pessoais em qualquer fase do estudo, nem qualquer compensação material ou financeira relacionada à minha participação; Qualquer dúvida entrar em contato com a pesquisadora Maristella Lopes Gianini, pelo telefone (11) 5549-1520 ou celular (11) 9217-8218, ou pelo email [email protected]. Em caso de qualquer problema ético entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo pelo telefone (11) 3465-2669 Local e data___________________________,________/___________. Assinatura do sujeito de pesquisa.:_________________________________ Assinatura da pesquisadora.:______________________________________ Maristella Lopes Gianini 122 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA APÊNDICE B ROTEIRO DA ENTREVISTA Código do Entrevistado:__________. Idade: ________anos. Sexo:______________. Formação profissional:________________________________________________. Tempo de formado:__________________________________________________. Tempo que trabalha em CC:___________________________________________. Tempo que trabalha na instituição:_______________________________________. Outros Locais de trabalho:_____________________________________________. Funções que desempenha:____________________________________________. 1 – Pra você quem é a equipe do CC? 2 – Como você percebe o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no CC, quais os fatores condicionantes (restritivos e promotores)? 3 – Em sua opinião qual o papel do enfermeiro nesta equipe? 4 – Você identifica situações de conflito ético no trabalho desta equipe? Sim ou Não? Quais? 5 – Em sua opinião como você percebe a atuação do enfermeiro diante destas situações? 6 – Como você identifica a autonomia do enfermeiro? 7 – Você gostaria de fazer mais alguma colocação a respeito do que já foi falado? Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA ANEXO A Carta de Princípios das Entidades Camilianas: A Província Camiliana Brasileira da Ordem dos Ministros dos Enfermos Padres e Irmãos Camilianos - declara publicamente seu compromisso de fidelidade aos ideais do fundador, São Camilo de Léllis, atualizando seu carisma e espiritualidade para servir, com amor evangélico e competência profissional, às novas gerações em suas múltiplas necessidades, dando atenção preferencial aos mais carentes e excluídos da sociedade. A missão profética que herdamos do nosso fundador, e que somos chamados a levar adiante, consiste em "testemunhar no mundo o amor sempre presente de Cristo para com os doentes", no respeito e na defesa incondicional dos valores humanos, cristãos e católicos. Em conformidade com esta missão, os Camilianos dão ênfase especial à valorização da vida e da saúde, da pessoa humana, de seus profissionais, e à competente e fiel administração de suas obras. Quanto à valorização da vida e da saúde, os Camilianos, seus profissionais e respectivas entidades respeitarão todas as suas dimensões - biológica, psíquica, social e espiritual. Empenhar-se-ão em promovê-las e cuidá-las, até o limite de suas possibilidades, segundo os valores éticos, cristãos e eclesiais, dentro de uma visão holística e ecumênica, repudiando tudo quanto possa agredir ou diminuir sua plena expressão. Quanto à valorização da pessoa, as entidades camilianas caracterizar-se-ão pelo reconhecimento e defesa da dignidade fundamental de todos os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Os que atuam em instituições camilianas deverão primar pela atenção, pelo respeito, cuidado personalizado e amor efetivo para com todos os que utilizarem seus serviços, sem discriminação. Quanto à valorização de seus profissionais, as entidades camilianas reconhecerão neles seu principal e verdadeiro patrimônio, conscientes de que é por seu intermédio e graças à sua dedicação que serão preservados os valores ora professados em favor da vida e saúde da pessoa humana. Cientes do seu valor, as entidades camilianas desenvolverão e aplicarão uma política de recursos humanos que possibilite, de forma integrada, o desenvolvimento, a capacitação profissional e a formação espiritual de seus profissionais, propiciando um clima de união, fraternidade e co-responsabilidade entre todos os integrantes de suas instituições assistenciais, educacionais, sociais e religiosas. A eles seja oferecida e incentivada também a oportunidade de envolvimento na saúde comunitária e no engajamento voluntário. Quanto à administração, as entidades camilianas empenhar-se-ão na busca incessante de conhecimentos humanos, éticos, científicos, tecnológicos e pastorais capazes de garantir a utilização racional dos recursos disponíveis em benefício da humanização e da qualidade dos serviços na comunidade, segundo o ideal de São Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Camilo. Além da excelência administrativa, as entidades camilianas terão sempre presente o compromisso fundamental de respeito e preservação dos valores que professamos, colocando-se efetivamente a serviço da vida e da saúde das pessoas, sobretudo as mais carentes e excluídas, e valorizando seus profissionais. Dessa forma, a administração não terá um fim em si mesma, mas será um excelente instrumento para a viabilização da visão cristã de valores no mundo da saúde, bem como para o exercício eficiente e eficaz do carisma camiliano, tornando-nos agentes de transformação. As entidades camilianas estudarão e estabelecerão estratégias adequadas que possibilitem a avaliação de seus recursos e energias, para desenvolvê-los sempre mais, respeitadas suas respectivas áreas de atuação social, assistencial e educacional. Elas buscarão a integração, sinergia de esforços e recursos, mútua ajuda e colaboração, parcerias em áreas afins, fortalecendo-se na unidade e na missão, em vista da promoção e construção de uma sociedade mais saudável, justa e solidária. Fonte: www.camilianos.org.br Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA ANEXO B Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA ANEXO C – REGIMENTO INTERNO CENTRO CIRÚRGICO Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA ANEXO D - CARTA DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (COEP) DO CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Maristella Lopes Gianini