ARTIGO DE REVISÃO
RELATÓRIOS DE ADESÃO E DE DIVULGAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DE NATUREZA
SOCIAL E AMBIENTAL POR EMPRESAS BRASILEIRAS
REPORTS OF ADHERENCE AND DISSEMINATION OF INFORMATION ON SOCIAL AND
ENVIRONMENTAL BY BRAZILIAN COMPANIES
Fabiane Zoraia Tribess-Ono*
Laurindo Panucci-Filho**
RESUMO
O presente artigo investiga a adesão e a
divulgação das informações de natureza social e
embiental por empresas brasileiras, e a adoção do
Balanço Social ou Relatórios de Sustentabilidade
em ações que contribuam com o bem estar da
sociedade em geral. A pesquisa teórica foi
predominantemente bibliográfica, e a coleta de
dados se deu por meio da tipologia documental, a
qual se obteve dados para serem analisados de
forma qualitativa. O objetivo da pesquisa foi
identificar quais os modelos de relatórios mais
difundidos atualmente, e quais deles são os
adotados por empresas brasileiras. Os resultados
da pesquisa demonstram que os modelos de
relatórios mais difundidos atualmente estão
sendo adotados por empresas brasileiras (Ibase,
Ethos e GRI), as quais apresentaram acentuada
adesão durante o final da década de 1990 e
meados da de 2000, de onde se observa
estabilidade relativa em numero de empresas.
Mesma característica se observou nas empresas
de todo o mundo, onde as empresas que mais
adotam e divulgam relatórios de sustentabilidade
encontram-se na Europa, e as que menos adotam
e divulgam seus relatórios de sustentabilidade
estão no continente Africano.
Palavras-chave: Balanço Social. Relatórios de
Sustentabilidade. Contabilidade Ambiental.
ABSTRACT
This paper investigates the adherence and
dissemination of information on social and
environmental by Brazilian companies and the
adoption of the Social and Sustainability Reporting
on actions that contribute to the welfare of
society in general. The research was
predominantly theoretical literature and data
collection was done through the documental
typology, which was obtained data to be analyzed
qualitatively. The objective of this research was to
identify which models most widespread reports
today and which ones are adopted by Brazilian
companies. The research result shows that the
models of reports which are currently being
adopted by Brazilian companies (IBASE, Ethos and
GRI), which showed strong adhesion during the
late 1990s and mid-2000, where stability is
observed relative number of companies. Same
feature was observed in companies around the
world, where companies that adopt and disclose
sustainability reports are in Europe and the least
adopt and disclose their sustainability reports are
on the African continent.
Keywords: Report Social. Sustainability Reporting.
Environmental Accounting.
____________________
1 INTRODUÇÃO
Toda empresa com interesse em demonstrar
à sociedade suas práticas de valorização e
melhoria da qualidade de vida dos
funcionários, bem-estar da sociedade e do
meio ambiente, pode demonstrar suas ações
por meio do Balanço Social ou Relatório de
Sustentabilidade.
Embora tenha sua origem na Contabilidade, o
Balanço Social não deve ser visto como um
demonstrativo meramente contábil, mas
como uma forma de explicitar a preocupação
das empresas com o cumprimento de sua
responsabilidade social (GODOY, 2007).
O Balanço Social não é apenas uma
demonstração endereçada à sociedade, mas é
uma ferramenta gerencial, estratégica à
governança corporativa, pois reúne dados
qualitativos e quantitativos de relações da
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-40, 2013.
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ARTIGO DE REVISÃO
empresa com a sociedade e o meio ambiente,
e também informações financeiras, passíveis
de comparação e análise conforme interesse
dos usuários internos (KROETZ, 2000; TORRES;
MANSUR, 2008).
Martins e De Luca (2004), defendem que as
informações de natureza social apresentadas
no Balanço Social, como níveis de emprego,
condições de higiene e segurança no trabalho,
proteção do meio ambiente, entre outras, são
complementares às tradicionais informações
dos demonstrativos contábeis.
O Balanço Social só pode existir a partir da
aceitação de uma responsabilidade social das
organizações empresariais. Enquanto "os
próprios relatórios sociais legitimam o debate
sobre as ações sociais das empresas em
relação à sociedade", pois contêm
informações mensuráveis dos impactos
sociais promovidos pela atividade empresarial
(SIQUEIRA, 2009, p. 10).
Este instrumento é percebido como um
demonstrativo
que
também
possui
funcionalidade gerencial, por ser composto
por indicadores econômicos, ambientais e
sociais, e apresentar mudanças na qualidade
de vida de parcela da população ou de grupos
específicos, entretanto, o ideal é que
contemple igualmente fatores negativos
relacionados às atividades da empresa.
Por vezes o relatório social é considerado um
forte instrumento para a política de relações
públicas da empresa, em geral, nele são
abordados aspectos positivos, negligenciando
a verdadeira evidenciação do papel social da
organização (SILVA; FREIRE, 2001).
No Brasil, as empresas costumam utilizar
principalmente três modelos de balanço
social: Ibase, Instituto Ethos e Global
Reporting Initiative (GRI), e devem vê-lo como
uma forma de expressar preocupação com o
cumprimento de sua responsabilidade social,
e não como mero demonstrativo contábil
(GODOY, 2007). Frente ao dilema de que as
empresas devem utilizar as informações
contábeis para informar sua ações, suge a
questão que norteia está pesquisa: Em que
estágio se encontra a adesão e a divulgação
das informações na natureza social e
embiental por empresas brasileiras?
Para alcançar a resposta a esta questão, os
objetivos da pesquisa procuram identificar
quais os modelos de relatórios mais
difundidos atualmente e quais deles são os
adotados por empresas brasileiras. O artigo se
justifica pela crescente discussão em torno da
sustentabilidade e bem estar social sem que
hajam muitos estudos difundindo a adesão de
empresas sobre o tema.
1.1 DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS VOLTADOS
AO BEM-ESTAR SOCIAL E AMBIENTAL
As demonstrações de cunho contábil, não se
restringem aos demonstrativos financeiros.
Na década de 1990, especialmente a partir de
1997
acompanhou-se
no
Brasil
a
disseminação da idéia e a adesão voluntária
de empresas à confecção de um
demonstrativo que levava a público o
resultado de ações sociais e ambientais.
Ações estas, que visam à melhoria da
qualidade de vida dos trabalhadores, e da
sociedade como um todo, com atenção às
condições
ambientais,
zelando
pela
preservação, recuperando áreas degradadas e
à reciclagem.
Então,
as
demonstrações
contábeis
aprimoram-se com o objetivo de agregar
informações sociais e ecológicas às
financeiras/patrimoniais, e proporcionar à
sociedade uma alternativa de análise e
avaliação da ação das entidades públicas e
privadas no uso dos recursos naturais
disponíveis e na eficácia da gestão
patrimonial, com os respectivos resultados
acrescentados
ou
adicionados
aos
trabalhadores ou à comunidade em geral
(KROETZ, 2000).
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-40, 2013.
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ARTIGO DE REVISÃO
Este demonstrativo, conhecido por Balanço
Social, doravante denominado Relatório de
Sustentabilidade, voltado a evidenciação de
ações sociais e ambientais, deve ser
elaborado levando em conta os Princípios
Fundamentais da Contabilidade, considerando
ainda a Teoria da Contabilidade, em questões
controversas, que nem sempre são abordadas
nos princípios.
Apesar da existência de modelos de Balanço
Social, inexiste um modelo padrão a ser
adotado, contudo, Kroetz (2000) considera
que ao seguir alguns princípios, como:
pertinência,
objetividade,
continuidade,
uniformidade, consistência ou certificação, é
possível organizar as informações contidas no
demonstrativo.
A inexistência de rigidez pré-determinada
abre espaço à criatividade, entretanto é
preciso estar atento à necessidade de incluir
dados
quantitativos
que
permitam
demonstrar o número de ações desenvolvidas
pela
empresa.
Isto
favorece
o
estabelecimento
de
metas
e
o
acompanhamento continuado, possibilitando
verificar os resultados, programar atividades
corretivas e desenvolver novas ações.
Na seqüência apresenta-se a história do
Balanço Social no Brasil, suas características e
principais modelos utilizados pelas empresas
brasileiras.
1.1.1 O surgimento do balanço social
A Alemanha é apontada por alguns
pesquisadores como o local onde teria
iniciado, na década de 1920, o esforço inicial
para apresentação de um informe cujo
conteúdo seria similar ao que hoje se chama
Balanço Social. Sá (1995) considera que o
balanço social foi desenvolvido na década de
1950, apesar da empresa alemã AEG tê-lo
publicado em 1939.
Em suas investigações, Tinoco (1984)
constatou que nos anos 60, as críticas ao
governo Nixon (EUA) e às entidades que o
apoiavam na guerra do Vietnã, trouxeram
consigo além dos pedidos do cessar guerra,
exigências quanto as relações sociais internas
e externas das entidades. Surgindo então as
primeiras informações sociais publicadas
anualmente com o balanço patrimonial.
Kroetz (2000) afirma que na década de 70,
especialmente na França, pesquisadores
demonstraram interesse sobre dados
estatísticos relacionados aos problemas
socioeconômicos, favorecendo a evolução da
contabilidade e o envolvimento de seus
profissionais.
Ferreira et al. (2004) explicam que alguns
autores mencionam os Estados Unidos como
precursor no desenvolvimento deste tipo de
relatório, mas foi na França em 1977, o país
no qual esta prática foi regulamentada por lei
(Lei nº 77.769 du 12 juillet 1977 relative au
bilan social de l'entreprise) à época a lei
priorizou informações da área de recursos
humanos. Desde então, é exigida sua
publicação, contudo, efetivamente começou
em 1979.
No Brasil, a primeira proposta de um balanço
social aplicável à realidade brasileira surgiu
em meados dos de 1976, e foi formulado por
um grupo de estudiosos da responsabilidade
social da empresa, ligados à Associação dos
Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) e à
Fundação Instituto de Desenvolvimento
Empresarial e Social (FIDES).
O grupo formado por membros da ADCE e da
FIDES, que desenvolvia estudos desde a
década de 70, ocupou-se em acompanhar o
tema “Balanço Social”, observar o que era
feito em outros países e analisar a forma ideal
para aplicar no Brasil.
No evento organizado pela FIDES, em 1980, o
"modelo" brasileiro foi considerado adequado
em seus aspectos conceituais e práticos, ao
final foi lançado o livro Balanço Social na
América - Latina. Logo após, foram
promovidos, por mais de 10 anos, seminários
em vários estados da federação para divulgar
a incentivar sua aplicação. E em 1991 tornou-
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ARTIGO DE REVISÃO
se objeto de anteprojeto de lei, mesmo assim,
não se popularizou. Contudo, ainda na década
de 90, o Balanço Social encontrou defensores
de expressão, que sensibilizaram a
comunidade política e empresarial brasileira
para a importância de sua publicação.
O Balanço Social obteve ênfase a partir de
1997, quando o tema responsabilidade social
e ambiental foi impulsionado no Brasil graças
ao estímulo do sociólogo Herbert de Souza, o
Betinho, ao mostrar que havia direitos ainda
desconhecidos por grande parte da população
(NOSSA; FIÓRIO; SGARBI, 2006).
Com o apoio do Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (IBASE), Betinho
desenvolveu ações para implantar um Balanço
Social adequado à realidade brasileira e
contou com a colaboração de algumas
entidades empresariais e públicas para sua
concretização.
externa e ambiental.
Tinoco (2001, p. 34) considera que a missão
da contabilidade enquanto ciência é de
"reportar informação contábil, financeira,
econômica, social, física, de produtividade e
de qualidade" àqueles que dela precisam, e
assim verifica-se o quão estreitamente está
ligada à finalidade do Balanço Social, dado seu
poder eqüitativo e de comunicação.
Entretanto, o Balanço Social possui limitações
próprias, como: privacidade (de indivíduos ou
instituições); sigilo (não comprometer a
eficácia ou continuidade da instituição);
subjetividade (evitar expressões com duplo
sentido); uniformidade ou consistência (teor
comparativo), utilidade (equilíbrio da
informação) e economicidade (benefício
superior
ao
custo
da
informação),
apresentadas por Kroetz (2000).
A elaboração e a
publicação do Balanço
Social pelos gestores
constitui-se no melhor
exemplo
de
accountability.
Accountability
representa a obrigação
que as organizações têm
de prestar contas dos
resultados obtidos, em
função
das
responsabilidades que
decorrem
de
uma
delegação de poder, a
seus parceiros sociais, os
stakeholders (TINOCO;
KRAEMER, 2008, p. 91).
Geralmente as empresas abordam tópicos
similares em seus Balanços Sociais ou
Relatórios de Sustentabilidade, porém é
comum existir prejuízo nas tentativas de
comparabilidade das informações, dado a
diversidade em especial por estar livre de
padrões.
1.1.2 Características do demonstrativo de
ações sociais e ambientais
O demonstrativo das ações sociais e
ambientais desenvolvidas por iniciativas
privadas, que evidencia o lado social das
empresas, a relação entre empresa,
empregados, comunidade e com o meio
ambiente é comumente chamado Balanço
Social, também denominado: Relatório de
Sustentabilidade, Relatório Social Anual,
Relatório de Desempenho Sócio-ambiental,
entre outros.
A iniciativa de publicar o demonstrativo
reflete
transparência,
pois
divulga
informações que vão além da evidenciação de
dados econômico-financeiros, expõe as
atividades das áreas social interna, social
Ao divulgar os demonstrativos de ações sócioambientais,
as
empresas
evidenciam
informações à sociedade e, dessa forma
atendem às expectativas dos stakeholders ao
apresentar contábil e financeiramente o
compromisso da empresa com atividades de
cunho social. O interesse das empresas em
tornar públicas ações que se distinguem de
sua missão econômica, caracterizadas como
de responsabilidade social, cresce ao longo
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quais
as
políticas
praticadas, seus reflexos
no
patrimônio,
objetivando evidenciar a
participação delas no
processo de evolução
social. Sem essa prática,
jamais uma empresa
poderá apresentar pleno
êxito em programas de
qualidade,
pois
tal
intenção exige quebra de
preconceitos,
transparência
administrativa e uma
constante e ininterrupta
ligação da organização
com seus funcionários,
acionistas, fornecedores,
sociedade em geral,
entre
outros
interessados (KROETZ,
2000, p. 71).
dos últimos anos. O ganho no campo
econômico diz respeito à imagem de empresa
cidadã e socialmente responsável é cada vez
mais valorizada pelos clientes e público em
geral. A causa social fortalece a dimensão
ética da marca, reforçando os seus atributos
simbólicos e aumenta a base de clientes, o
que promove ganhos excedentes (SANTOS;
HABECK; ASSUNÇÃO, 2007).
Nas próximas décadas o Balanço Social deverá
assumir papel de destaque, pois "será um dos
principais instrumentos a serem utilizados nas
relações sociais e econômicas das sociedades
e poderá auxiliar de forma competente, na
avaliação e análise de seus resultados
macroeconômicos” (SANTOS, 2003, p. 14).
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
concorda que o Balanço Social é o melhor
demonstrativo para divulgar à sociedade as
ações desenvolvidas pelas empresas, como:
indicadores sociais, corpo funcional, gastos e
investimentos.
Contudo,
solicita
às
companhias de capital aberto apresentação
de
Relatório
de
Administração
e
Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Companhias de capital aberto por vezes
incluem informações de cunho social e
ambiental no Relatório de Administração, que
além de possuir linguagem menos técnica,
apresentam dados e informações adicionais
úteis aos usuários para a tomada de decisões.
Enquanto a DVA, foca os elementos
beneficiados com os recursos provenientes do
desempenho da empresa: empregados,
governo, acionistas, financiadores e a própria
empresa a partir de suas retenções.
A divulgação do RA e da DVA, não inviabiliza a
produção e divulgação do Balanço Social ou
Relatório de Sustentabilidade, mesmo porque,
os objetivos aos quais se propõem são
distintos,
e
pode-se
considerá-los
complementares, visto que:
O
Balanço
deve
demonstrar claramente
Nele, o quesito transparência incorpora a
exposição de todos os fatores envolvidos,
entretanto, tem sido freqüente o uso do
balanço social com viés positivo, com
destaque principal aos aspectos benéficos da
empresa em prol da sociedade, em vez de
externalizar o verdadeiro papel da
organização (SILVA; FREIRE, 2001).
O ponto alto das discussões sobre o balanço
social é na maioria das vezes a falta de
padrões para comparabilidade, o que
inviabiliza análises relativas, que poderiam
destacar a eficiência das empresas em áreas
específicas.
A padronização dos demonstrativos sociais
tende a favorecer a comparabilidade entre
distintos períodos e empresas, assim como
acontece com demonstrativos financeiros,
além de acompanhar sua evolução e incluir a
divulgação de possíveis influências negativas,
geralmente negligenciadas.
A inexistência de uma forma específica tende
a acarretar inconsistências até de um ano
para o outro, dentro de um mesmo relatório,
havendo risco de quebra na seqüência de
informações, uma vez que indicadores
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ARTIGO DE REVISÃO
poderão ser incluídos ou extraídos sem
motivo revelado (SIQUEIRA; VIDAL, 2003).
Há
pontos
conflitantes
quanto
a
obrigatoriedade ou não da apresentação do
balanço social por parte das empresas, uma
corrente defende que a obrigatoriedade
distorceria a natureza voluntária da ação,
outra defende que a com a obrigatoriedade
viria a padronização do modelo e a
possibilidade de comparar as informações
entre empresas até do mesmo setor.
Compreende-se que apesar do balanço social
ter grande flexibilidade quanto às suas
informações e proporcionar às entidades
liberdade no seu preenchimento, a coleta e
análise dos dados deve ser criteriosa,
observando o conjunto de informações para
que seu conteúdo estabeleça uma relação
clara entre a empresa e a sociedade.
A inexistência de padronização quanto ao
formato do Balanço Social no Brasil, torna
comum o prejuízo nas tentativas de
comparabilidade das informações, entretanto,
há modelos nacionais e internacionais que
auxiliam a identificação e coleta de dados,
cuja adesão é voluntária, assim como sua
publicação.
exigências do mercado, formado por um
público mais consciente e por investidores
mais exigentes e preparados (KROETZ, 2001).
No país nenhuma entidade ou empresa está
obrigada a elaborar ou divulgar Informações
de Natureza Social ou Ambiental, mas aquelas
que o fizerem deverão adotar a NBC T 15, que
trata das Informações de Natureza Social e
Ambiental, foi aprovada pelo Conselho
Federal de Contabilidade em 2004 e entrou
em vigor em janeiro de 2006.
O interesse em divulgar ações que
ultrapassam
o
ambiente
econômicofinanceiro é crescente, e as empresas
brasileiras têm acompanhado a tendência
mundial, aumentando a adesão ao modelo
mais utilizado na atualidade, proposto pela
GRI, e exibido a seguir, assim como os
modelos desenvolvidos no Brasil, pelo
Instituto Ethos e pelo Ibase.
1.2.1 Modelo do Ibase
O modelo de Balanço Social criado no Brasil
foi lançado em 1997 pelo Instituto Brasileiro
de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que
o coloca como ferramenta de transparência e
prestação de contas da empresa para com a
sociedade.
1.2 RELATÓRIOS DE DIVULGAÇÃO
Os modelos de relatórios sociais mais
difundidos atualmente entre as empresas
brasileiras são: o Balanço Social proposto pelo
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase), o do Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), e
o G3 desenvolvido pela Global Reporting
Initiative
(GRI),
uma
organização
internacional.
As
organizações
têm
publicado
demonstrações com maior transparência e
qualidade, evidenciando aspectos qualitativos
do patrimônio (econômicos) e, ao mesmo
tempo, a preocupação com o bem-estar social
e ambiental, com vistas a atender as
O modelo de Balanço Social do Ibase possui
43 indicadores quantitativos e oito
indicadores qualitativos, 51 no total,
organizados em sete categorias que
apresentam dados e informações de dois
exercícios anuais da empresa. As sete
categorias são: 1) Base de cálculo; 2)
Indicadores sociais internos; 3) Indicadores
sociais externos; 4) Indicadores ambientais; 5)
Indicadores do corpo funcional; 6)
Informações relevantes quanto ao exercício
da cidadania empresarial e 7) Outras
informações.
O formato do BS proposto pelo Ibase
compreende uma página, que segundo a
instituição, tem como objetivo "fazer com que
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ARTIGO DE REVISÃO
ele não perca sua comparabilidade nem suas
principais características: a simplicidade e o
fácil entendimento” (CUSTÓDIO; MOYAL,
2007b, p. 12).
Este modelo é utilizado por diversas empresas
em parte pela simplicidade das informações
que requer, muitas vezes, é utilizado como
complemento por empresas que elaboram
relatórios mais detalhados, e o Instituto Ethos
incorpora parte dos temas propostos pelo
Ibase em seus indicadores de Balanço Social.
1.2.2 Modelo do Instituto Ethos
Em 1998, o Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, foi criado por um
grupo de empresários e executivos
procedentes da iniciativa privada. Neste
mesmo ano desenvolveram segundo modelo
de Balanço Social no Brasil, e foi chamado
manual
“Responsabilidade
Social
nas
Empresas – Primeiros Passos”.
Trata-se
de
uma
organização
nãogovernamental, e tem por missão mobilizar,
sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus
negócios de forma socialmente responsável,
tornando-as parceiras na construção de uma
sociedade justa e sustentável (ETHOS, 2009).
Desde 2001 publica o Guia de Elaboração do
Balanço Social, que incentiva as organizações
a perceber quão intrinsecamente a produção
do balanço social está relacionada à gestão da
responsabilidade social empresarial. Em 2007
foi elaborada a sétima edição do guia, que
passou a se chamar Guia para Elaboração de
Balanço
Social
e
Relatório
de
Sustentabilidade, a fim de elevar a qualidade,
a consistência e a credibilidade dos relatórios
das empresas (CUSTÓDIO; MOYAL, 2007a). O
Ethos tem como associados empresas de
diferentes setores e portes, cuja principal
característica é o interesse às práticas da
responsabilidade social.
A Global Reporting Initiative (Iniciativa Global
para Apresentação de Relatórios) é uma
organização internacional sediada em
Amsterdã, na Holanda, mas que foi criada nos
EUA em 1997 pela iniciativa conjunta da
organização
não-governamental
norteamericana Coalition for Environmentally
Responsible Economics (CERES) e do Programa
Ambiental das Nações Unidas, United Nations
Environmental Programme (UNEP).
Trata-se de uma organização independente
desde 2002, que conta com a participação
ativa de representantes de diversas áreas de
conhecimento, e é um centro de colaboração
oficial do UNEP.
A ideia de elaborar uma estrutura para
divulgar informações sobre sustentabilidade
foi concebida em 1997 e, em 2000, foram
lançadas as primeiras Diretrizes para
Elaboração de Relatórios de Sustentabilidade
GRI, atualmente denominada G3.
O relatório de sustentabilidade criado pela
GRI é o modelo mais disseminado
internacionalmente e encontra-se em sua
terceira edição - G3, sua última revisão data
de 2006. No Brasil sua utilização tem sido
crescente sendo um dos modelos mais
utilizados.
O modelo de relatório G3 da GRI possui 79
indicadores de desempenho distribuídos em
três categorias: econômica, ambiental e
social. Sua estrutura é definida, a partir destes
três tipos de indicadores, compostos por seis
categorias de indicadores de desempenho:
econômico, do meio-ambiente, referentes a
práticas trabalhistas e trabalho decente; a
direitos humanos e à sociedade.
Para cada indicador existe um conjunto de
protocolos,
que
orienta
o
correto
preenchimento, organiza e estabelece
parâmetros precisos para as informações a
serem divulgadas, o que confere caráter de
comparabilidade entre os indicadores.
1.2.3 Modelo da GRI
Este modelo de relatório possui detalhamento
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-40, 2013.
33
ARTIGO DE REVISÃO
para as seis categorias de desempenho que
propõe, auxilia o reconhecimento e
divulgação da informação por parte da
empresa, de modo a favorecer a
transparência. Detalhes sobre o conteúdo a
discorrer no relatório, referente aos
indicadores de desempenho ambiental.
receberam ainda um tratamento analítico, ou
que ainda podem ser reelaborados de acordo
com os objetos da pesquisa” (GIL, 2009), e o
tratamento desses dados serão objeto de
apreciação qualitativa.
Ao submeter o relatório à GRI, a empresa
deve declarar o nível de aplicação da
estrutura modelo em seu documento, para
isso, há uma escala de três níveis, intitulados,
C, B e A. Em cada um dos níveis os critérios de
relato indicam a evolução da aplicação ou
cobertura da estrutura de relatórios proposta
pela GRI. E, se utilizar verificação externa para
o relatório, feita por empresas especializadas,
poderá ainda autodeclarar um ponto a mais
em cada nível, utilizando para isto um sinal de
adição, como C+, B+, A+.
Como o requisito da pesquisa é identificar o
estágio em que se encontra a adesão e a
divulgação das informações na natureza social
e embiental por empresas brasileiras, foi
necessário conhecer o número de empresas
que elaboram e divulgam tais demonstrativos.
Estas empresas encontram-se em espaço
disponibilizado pela GRI, em seu endereço
eletrônico, para que os interessados registrem
a adoção do modelo, com o seguinte
chamado "If you publish a GRI report and you
wish to be included on the list, please register
your report with us! You can also register your
older reports in this way". Assim,
disponibilizam para o público em geral, a lista
atualizada regularmente, com informações de
empresas que elaboram e divulgam RS G3/
GRI no mundo desde 1999. (cf. GRI, 2009).
Desta forma, identificou-se a evolução do
número de empresas brasileiras que aderem
aos três modelos de relatórios de
sustentabilidade mais utilizados no Brasil:
Ibase, Ethos e GRI.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva,
pois tem como objetivo primordial descrever
características de determinado fenômeno e
estabelecer relações entre variáveis da
pesquisa (COOPER; SCHINDLER, 2003; GIL,
2009; RAUPP; BEUREN, 2008; RICHARDSON,
2007) A tipologia da investigação teórica da
pesquisa é a bibliográfica, porque abrange o
referencial teórico já publicado, reunindo
conhecimentos em relação ao tema estudado,
servindo de apoio ao levantamento da
pesquisa (GIL, 2009; RAUPP; BEUREN, 2008;
RICHARDSON, 2007).
Quanto à coleta de dados, a tipologia
preponderante adotada é a documental, pois
esta, “vale-se de materiais que ainda não
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os balanços sociais publicados por empresas
brasileiras de acordo com o modelo Ibase,
apresentaram crescimento contínuo de 1997,
quando as primeiras informações foram
divulgadas, até 2004. As últimas informações
de acompanhamento divulgadas pelo Ibase
referem-se ao ano de 2005, conforme
apresentado na Figura 6.
FIGURA 6 - Evolução Anual do Número de Empresas Brasileiras que Apresentaram Balaços Sociais - Modelo
IBASE 1997 - 2005
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-40, 2013.
34
ARTIGO DE REVISÃO
235
227
2004
2005
250
200
176
150
195
124
100
60
50
9
21
38
0
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
FONTE: Balanço Social, Dez Anos (IBASE, 2008)
Segundo o Instituto Ethos (2009), a evolução
no número de adesões pelo modelo proposto
(FIGURA 7) justifica-se pelo aumento de
empresas que utilizam os indicadores como
ferramentas de gestão de suas cadeias de
relacionamento (cadeia produtiva e/ou cadeia
de distribuição), e a utilização por grupos
regionais que promovem a responsabilidade
social, ao discutir seus dilemas e procurar em
conjunto caminhos que levem à consolidação
de práticas socialmente responsáveis.
FIGURA 7 – Evolução Anual do Número de Empresas Brasileiras que Apresentaram Balaços Sociais - Modelo
Instituto Ethos 2000 – 2008
1050
900
750
617
642
2005
2006
852
860
2007
2008
600
442
450
323
235
300
150
71
120
0
2000
2001
2002
2003
2004
FONTE: Indicadores Ethos de Responsabilidade Social (ETHOS, 2009)
A partir da observação da Figura 8 é possível
acompanhar a evolução do número de
empresas brasileiras que aderiram ao formato
internacional proposto pela GRI, e lançam
suas informações à comparabilidade pelo
mercado.
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-39, 2013.
35
ARTIGO DE REVISÃO
FIGURA 8 – Evolução Anual do Número de Empresas Brasileiras que Apresentaram Relatórios de
Sustentabilidade - Modelo GRI 2000 - 2008
75
67
60
45
32
30
18
15
1
1
2000
2001
6
5
2002
2003
8
10
2004
2005
0
2006
2007
2008
FONTE: Gri Reports List (GRI, 2009)
Verifica-se que a adoção do modelo da GRI
pelas empresas brasileiras apresentou
evolução expressiva de 2005 a 2008,
crescendo respectivamente: 80%, 78% e
109%. As adesões a este modelo de relatório
de
sustentabilidade
cresceram
expressivamente também a nível mundial ao
longo dos três últimos anos, conforme se
apresenta na Figura 9:
FIGURA 9 – Evolução Anual do Número de Empresas que Apresentaram Relatórios de Sustentabilidade no
Mundo - Modelo GRI 1999 - 2008
1043
1050
900
750
690
600
516
450
376
287
300
150
10
123
140
2001
2002
175
45
0
1999
2000
2003
2004
2005
2006
2007
2008
FONTE: GRI Reports List (GRI, 2009.)
No último ano, o número de relatórios
apresentados a GRI elevou-se em pouco mais
de 50%. Dos 1043 relatórios apresentados por
empresas de todo o mundo, praticamente
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-39, 2013.
36
ARTIGO DE REVISÃO
6,5% são provenientes de empresas
brasileiras, e quando distribuídos por região
(Figura 10), verifica-se que 47% são oriundos
da
Europa.
FIGURA 10 - Distribuição Percentual de Empresas que Apresentaram Relatórios de Sustentabilidade no
Mundo, por Região - Modelo GRI 2008
7%
12%
14%
5%
15%
47%
América Latina
África
Ásia
Europa
América do Norte
Oceania
Fonte: GRI Reports List (GRI, 2009)
A Europa é o continente que está à frente na
relação por número de empresas que
apresentam tais relatórios de sustentabilidade
(GRI, 2009), o que é compreensível por ter
sido precursora na cobrança de maior
responsabilidade social pelas empresas, lá as
primeiras reivindicações datam da década de
1970. Enquanto isso, no Brasil o processo está
em fase de expansão, tendo conquistado em
parte a aceitação das organizações e sua
defesa
por
algumas
instâncias
governamentais.
4 CONCLUSÃO
O estudo evidencia que a relativa
preocupação com o desenvolvimento
sustentável do meio ambiente e das pessoas
move interesses distintos em mesma direção,
e a evidenciação de práticas responsáveis de
sustentabilidade converge para modelos que
denotem transparência nas ações de
empresas e corporações, e o Balanço Social
ou Relatórios de Sustentabilidade surgem
como resposta aos anseios de respeito e
comprometimento com a sustentabilidade,
em geral.
Em resposta à questão norteadora da
pesquisa, a adoção dos relatórios de
sustentabilidade por empresas brasileiras
estão em crescimento constante, desde o
final da década de 1990. O que denota uma
busca
pelas
melhores
práticas
de
responsabilidade social e sustentabilidade no
que tange o respeito ao meio ambiente e as
pessoas.
Entre os relatórios de sustentabilidade mais
adotados (Ibase, Ethos e GRI), os dois
primeiros entraram numa relativa estagnação
de crescimento, enquanto o terceiro – GRI,
tem mantido o crescimento, seguindo a
tendência mundial. Talvez seja uma indicativa
de que empresas de todo o mundo buscam
um mesmo modelo para a evidenciação de
suas práticas.
O estudo destacou que tanto empresas
brasileiras quanto as do mundo todo, focaram
suas preocupações no sentido de produzir
resultados econômicos e financeiros sem
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-39, 2013.
37
prejudicar o desenvolvimento sustentável
daqueles que indiretamente, não estão
relacionados diretamente com os ganhos das
empresas. Porém, a preocupação com a
imagem de socialmente responsável entre as
empresas de grande porte e de atividades
variadas, serão as aderentes dos relatórios de
sustentabilidade e divulgação da preocupação
com
questões
ambientais
e
de
sustentabilidade.
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USP
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____________________
Dados sobre Autoria
*Mestre em Contabilidade e Especialista em
Projetos pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), com Graduação em Ciências Econômicas
pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
E-mail: [email protected]
**Bacharel em Ciências Contábeis pela
Universidade Estadual de Maringá-UEM/Brasil
(2001). Especialista em Contabilidade e
Controladoria Empresarial pela Universidade
Estadual de Londrina-UEL/Brasil (2004) e,
Especialista em Contabilidade e Planejamento
Tributário pela Faculdade Cidade Verde-FCV/Brasil
(2007).
Mestre
em
Contabilidade
pela
Universidade Federal do Paraná-UFPR/Brasil
(2010). É professor universitário no ensino
superior e atua na área de Administração
E-mail: [email protected]
Artigo enviado em agosto de 2012 e aceito em
2013.
Biblionline, João Pessoa, v. 9, n. 1, p. 27-39, 2013.
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relatórios de adesão e de divulgação das informações de natureza