Diferenciabilidade fracionária na Teoria dos Números Enno Nagel * Estas são as notas que acompanham a minha palestra sobre “Diferenciabilidade fracionária na Teoria dos Números” ministrada no dia 26 de Novembro 2012 no Séminario Aritmética y Geometría em Valparaíso. Sumário 1 Funções diferenciáveis sobre os números reais 2 2 Funções r -vezes diferençáveis sobre espaços p-ádicos vetoriais Definição da diferenciabilidade de grau 1 Diferenciabilidade iterada Diferenciabilidade de grau real Propriedades naturais deste espaço 3 3 4 5 5 3 Programa de Langlands p-ádico 6 4 Representação localmente algébrica Indução de uma Representação Liso, algébrico e localmente algébrico A representação V de Breuil e Schneider 7 7 8 9 5 Reticulado unitário universal Observações gerais * Instituto 10 10 de Matemática da Universidade Federal de Alagoas, Maceió 1 A célula aberta padrão Colando as células abertas 11 11 6 Norma de funções diferenciáveis Restrição à célula aberta padrão O reticulado unitário universal de i(χ )(N ) O exemplo fundamental Caso geral 12 12 13 15 17 7 Conclusão Resumo Conclusão 18 18 19 Referências 19 1 Funções diferenciáveis sobre os números reais Olharemos primeiro a situação clássica sobre R. Seja X ⊆ R um intervalo aberto e f : X → R. Definição. Uma função f é C1 no ponto x 0 ∈ X se f 0(x 0 ) = lim x→x 0 f (x) − f (x 0 ) x − x0 exista. Então f é C1 se f é C1 em todos os pontos x 0 ∈ X e é contínua. Proposição 1.1. (Seja X compacto.) O espaço C1 (X , R) com a norma k f k C1 = max{k f k sup , k f 0 k sup } é completo. Demonstração: Usa teorema fundamental do cálculo. Se R é substituído por um corpo K não-Arquimediano, esta proposição falha. Mas em qualquer forma precisamos de uma compensação deste resultado visto que queremos construir completamentos de G -representações por estas Cr -funções. Por isso vamos mudar a definição de derivabilidade tal que este enuncio fica correto. Primeiro observamos o seguinte: 2 Proposição 1.2. A função f ∈ C1 (X , R) se e só se a função f ]1[ (x,y) = f (x) − f (y) x −y definida para todos x,y ∈ X desiguais estende-se a um função f [1] : X × X → R contínua. Demonstração: A direção ⇐ é fácil. Na outra direção, se (x,y) → (a,a) ∈ X ×X . Então f ]1[ (x,y) = f 0(ξ ) → f 0(a) = f [1] (a,a) com ξ ∈ [x,y] onde a primeira identidade é verdadeira graças ao teorema do valor médio e a segunda porque f é contínua. Isto é suficiente visto que f [1] (X × X ) ⊆ f ]1[ ({(x,y) ∈ X × X diferentes}) pela construção. Corolário. (Seja X compacto.) O espaço C1 (X , R) é completo. Demonstração: Como visto acima, a norma k f k = max{k f k sup , k f [1] k sup } é igual a norma k f k C1 = max{k f k sup , k f 0 k sup }. Quanto a primeira norma, esta proposição é clara. 2 Funções r -vezes diferençáveis sobre espaços p-ádicos vetoriais Definição da diferenciabilidade de grau 1 Seja K um corpo não-Arquimediano não-trivialmente avaliado completo – por exemplo Qp ou Fp ((t)) e as extensões deles. Visto que nesse caso não ha o teorema do valor intermédio com todas suas consequências, em particular o teorema do valor médio usado na prova da Proposição Proposição 1.2 acima, propõe se a definição seguinte para obter um equivalente da Proposição 1.1: Definição. Sejam X ⊆ K aberto e f : X → K. Então f é C1 no ponto a ∈ X se lim (x,y)→(a,a) f ]1[ (x,y) com f ]1[ = f (x) − f (y) e x,y diferentes x −y existe. Então f é C1 se f é C1 em todos os pontos a ∈ X ou igualmente se f ]1[ estende a uma função f [1] contínua. 3 Agora nos ocupamos nos do problema de iterar a noção de diferenciabilidade: Como definir uma função duas vezes diferenciável? Observamos que neste caso f [1] é uma função em duas variáveis (ao contrario da função f [1] no caso real) e não podemos iterar esta definição diretamente. Então já é necessário estudar o caso de muitas variáveis para definir a diferenciação múltipla de uma função de uma variável. Lembramos a definição de uma função derivável em argumentos múltiplos. Definição. Sejam V e E espaços vetoriais de dimensões finitas, X ⊆ V aberto e f : X → E. Então f é C1 no ponto a ∈ X se existe um mapeamento linear A tal que para todos ε > 0 existe U ⊆ X aberto tal que f (x + h) − f (x) = A · h + R(x + h,x) com o resto satisfazendo kR(x + h,x)k ≤ ε khk para todos x,y ∈ U . Diferenciabilidade iterada Isto não permite diretamente dar uma definição de diferenciabilidade general, mas motiva a boa perspectiva para proceder em geral. Definição. Sejam V , E,X ⊆ V e f : X → E como acima e supomos que V já tem uma escolha de coordenadas. (Isto é V = Kd com e 1 , . . . ,ed a base natural.) Então f é C1 se para todos x + h,x ∈ X com h ∈ K∗d a função f ]1[ (x + h,x) definida por (x + h,x) 7→ A ∈ HomK (V , E) com A · hk ek = f (x + h 1e 1 + · · · + hk−1ek−1 + hk ek ) − f (x + h 1e 1 + · · · + hk−1ek−1 ) estende-se a uma função contínua f [1] : X × X → HomK (V , E). Notamos que X × X ⊆ V × V é de novo um espaço vetorial com coordenados naturais e im f ⊆ HomK (V , E) é de novo um espaço vetorial de dimensão finita. Definição. Dizemos que f : X → E é C2 se f é C1 e f [1] : X ×X → HomK (V , E) é C1 . (E em geral f é Cn se f é Cn−1 e f [n−1] é C1 . 4 Diferenciabilidade de grau real Lembramos nos que o objetivo era dar uma definição de funções r -vezes diferenciáveis para r ≥ 0 em R. Por isso, escrevemos r = ν + ρ com ν ∈ N e ρ ∈ [0, 1[. Definição. Sejam V , E,X ⊆ V e f : X → E como acima. Então f é Cρ no ponto a ∈ X se para todos ε > 0, existe um U ⊆ X aberto tal que k f (x) − f (x)k ≤ ε kx − y k ρ para todos x,y ∈ U . Em seguida f é Cρ se f é Cρ em todos os pontos a ∈ X . Definição. Dizemos que f é Cr se f é Cν e f [ν] é Cρ . Propriedades naturais deste espaço Com esta definição concluída podemos estudar as propriedades destas funções. Isto fez parte da minha tese. Visto que a definição é complicada e até o momento não tínhamos muita teoria sobre a diferenciabilidade, mesmo as propriedades naturais exigem de bastante trabalho para verificá-las. Por exemplo, nos ([Nag11]) provamos o seguinte: (i) É possível dar uma definição de diferenciabilidade local num ponto. (ii) As funções r -vezes diferenciáveis podem ser compostas. Em particular, ter uma boa definição de uma função r -vezes diferenciável sobre uma variedade r -vezes diferenciável. (Não depende dos atlantes da variedade.) (iii) O espaço Cr (X , E) tem naturalmente uma topologia que torna-o um espaço completo localmente convexo. Então as funções localmente polinomiais de grau ≤ r e também as funções polinomiais (globalmente) densas em Cr (X , E). No caso de uma variável sobre Qp podemos dar descrições mais fácies das funções r -vezes diferenciáveis. 5 (iv) Seja X ⊆ K aberto. Então f é uma Cr -função se o resto de polinómio de Taylor Rν f (x + h,x) = f (x + h) − [f (x) + f 0(x)h · · · − f (ν ) (x)/ν !hν ] satisfaz uma função de duas variáveis x + h,x uma condição de convergência de grau o(|h|r ). (v) Seja X = Zdp . O espaço de Banach C0 (X , K) (de funções contínuas) tem uma base ortogonal importante que chama-se base de Mahler. Mostra-se que as funções Cr (X , K) são as que os coeficientes de Mahler (an )n∈Nd satisfazem |an |nr → 0 quando |n| = n 1 + · · · + nd → ∞. (vi) Como consequência dos pontos anteriores, nos obtemos que sobre conjuntos abertos U ⊆ Qdp , as funções r -vezes diferenciáveis podem ser descritas igualmente para uma condição de convergência do polinômio de Tayor. 3 Programa de Langlands p-ádico Seja F um corpo p -ádico, isto é, uma extensão finita de Qp e E uma extensão finita (bastante grande) de F. Vamos estudar ações de grupos com coeficientes em F (o corpo do grupo) sobre espaços vetoriais sobre E (o corpo de coeficientes). Definição. Uma representação de Galois p-ádica é uma ação continua do grupo Gal(F̄/F) sobre um E-espaço vet. de dimensão finita. Definição. Seja G = GLn (F). Uma G -representação de Banach unitária é uma ação do grupo G sobre um E-espaço de Banach V tal que a topologia deste pode ser definido por uma norma G -invariante. (I. é kv д k = kv k para todos v ∈ V e д ∈ G .) O programa de Langlands p-ádico: Vagamente, procura uma bijeção natural (a precisar) ρ 7→ Π(ρ) entre as categorias seguintes: {representações p -ádicas de Gal(F̄/F) de dimensão n} l {representações de Banach unitárias de GLn (F)}. 6 • Se n = 2 e F = Qp esta conjetura tem um sentido preciso, a bijeção é mesmo funtorial, e foi verificada por Colmez, Berger, Breuil e outros. • Em todos os outros casos, seja n > 2 ou F ⊃ Qp sabemos praticamente nada. Em [BS07] os autores associam a uma certa família de representações de Galois cristalinas {ρ} uma certa G -representação localmente algébrica V , i. é {ρ} 7→ V = representação localmente algébrica . Conjetura de Breuil e Schneider: Se certas condições necessárias naturais são satisfeitas, então V permita um completamento unitário V ,→ V̂ não nulo. A vaga esperança é que todas as representações de Banach unitárias Π(ρ) correspondentes fatoram através de V̂ , i. é ρ .. .. ρ Π(ρ) .. ) . Π(ρ) 5 ( 6 Û 4 Representação localmente algébrica Indução de uma Representação Notação. Sejam o corpo do grupo F respectivamente de coeficientes E e G = GLn (F) como previamente. Subgrupos importantes em G : Fixamos os seguintes notações: • Seja T ⊆ G o toro em G , i.é o subgrupo de matrizas diagonais com valores em F∗ e T0 ⊆ T seu subgrupo aberto maximal compacto com valores o∗F , as unidades do anel dos inteiros oF de F. • Seja P respectivamente P̄ o subgrupo de matrizas triangulares superiores respectivamente inferiores em G , e • N respectivamente N̄ o subgrupo de P respectivamente P̄ de matrizes cujos valores diagonais equivalem 1. Seja N 0 ⊆ N o subgrupo compacto aberto com valores em oF . 7 O método mais evidente para construir representações sobre um corpo p-ádico E desse grupo é o seguinte: Pegamos • Copias de grupos menores T1 = GLn1 (F),. . .,Td = GLnd (F) com n 1 + · · · + nd = n, e • Representações E-lineares χ 1 , . . . , χd delas. Seja T = T1 × · · · × Td ⊆ G o produto delas e escrevemos χ = χ 1 ⊗ · · · ⊗ χd para a representação de T associada pelo produto tensorial destas. Definição. A G -representação E-linear, ou igualmente o E[G]-modulo, induzida indTG χ do E[T ]-modulo χ ao grupo G é definida como o E[G]-modulo indTG χ = χ ⊗E[T ] E[G]. O Exemplo mais elementar. • Sejam n 1 = . . . = nd = 1, isto é, T1 = . . . = Td = F∗ , e • χ 1 , . . . , χd : F∗ → E∗ caráteres. Obtemos χ : T → E∗ . Como F∗ é abeliano e T = P ab (= quociente ab. max.), segue que χ se estende unicamente através da projeção natural P → T ao caráter χ : P → E∗ . Descrição explicita: A G -representação induzida se descreve explicitamente como indG χ = {f : G → E : f (p̄д) = χ (p̄) · f (д) para p̄ ∈ P̄,д ∈ G}, P̄ onde G opera pela translação a direita notada por f д := f (·д). Escrevemos de agora em diante sucintamente i(χ ) para indG χ. P̄ Liso, algébrico e localmente algébrico Além da estrutura de grupo G tem duas propriedades adicionais: • A sua topologia totalmente desconexa herdada do corpo F, e • a sua estrutura de variedade algébrica. 8 Definição. Seja V uma G -representação. Um vetor v em V é liso respectivamente algébrico respectivamente localmente algébrico se a sua órbita ov : G → д 7→ V д ·v é um mapa localmente constante respectivamente racional respectivamente localmente racional. Anotamos que ov é localmente algébrico se ha um espaço da dimensão finita V0 ⊆ V e um grupo aberto G 0 ⊆ G tais que ov : G 0 → V0 é (a restrição de) um mapeamento algébrico. Definição. Denotamos com i(χ )lc respectivamente i(χ )alg respectivamente i(χ )la a G -subrepresentação dada por todos vetores lisas respectivamente algébricos respectivamente localmente algébricos em i(χ ). Visto que G opera pelas translações temos explicitamente que • i(χ )lc consisti das funções localmente constantes, • i(χ )alg nas funções algébricas de G , isto é, das funciones polinomiais nas coordenadas {Xij : i, j = 1, . . . ,n} de G e a sua determinante det(X 11 , . . . ,Xnn ), e • i(χ )la das funções sobre G que se restringem localmente a uma função algébrica dessas. A representação V de Breuil e Schneider • Um caráter θ : T → E∗ é não-ramificado se ele é trivial sobre T0 ⊆ T (e então fatorando através do quociente T /T0 = Zn deles). • Um caráter algébrico ψ : T → F∗ é dominante se ele é da forma (t 1 , . . . ,tn ) → t 1i 1 · · · tnin onde as potencias satisfazem i 1 ≤ . . . ≤ in . (Eles parametrizam via ψ 7→ indG (ψ )alg todas as representações algébricas P̄ irreduzíveis de GLn .) Exemplo de Breuil e Schneider: Seja χ = θψ o produto de um caráter nãoramificado e algébrico. Então a representação induzida localmente algébrica construída por Schneider e Breuil V é dada por V = i(χ )la . 9 Escrevemos sucintamente i(χ ) = i(χ )la . 5 Reticulado unitário universal Lembramos que conjeturalmente, se certas condições naturais são satisfeitas, V = i(χ ) possui uma seminorma G -inv. k·k não nula. Introduzimos o maior dos espaços de Banach unitários sobre V . Definição. Seja V uma G -representação. O completamento unitário universal V → V̂ de V é a G -representação de Banach unitária tal que para todo morfismo de G -representações E-linear V → W com W uma G -representação de Banach unitária temos V ( V̂ /5 W . Vamos explicitar este completamento. Por isso precisamos da observação seguinte. Interlúdio: Seminormas e Reticulados. Definição. Seja E um corpo p -ádico e o = oE seu anel de inteiros. Um reticulado num E-espaço vetorial V é um o-modulo L tal que para todo v ∈ V ha λ ∈ K∗ tal que λ · v ∈ L, isto é, K · L = V . Observação. A noção de um reticulado L num espaço vetorial V equivale a uma seminorma k·k sobre V na seguinte maneira: k·k → 7 L = B≤1 (V ) = {x ∈ V : kx k ≤ 1} L 7→ k·k def. por kv k := inf {c ∈ | E∗ | : v ∈ λL com |λ| = c} Notamos que a equivalência entre uma seminorma k·k e a sua bola de unidade B≤1 vale igualmente sobre R. A diferença é que o = B≤1 (F) é um anel e então L = B≤1 (V ) um reticulado. Observações gerais Seja, como em nosso caso, a G -representação V finitamente gerado. Temos a caraterização seguinte. 10 Observação. O espaço de Banach V̂ é o completamento relativamente à seminorma k·k L associada á qualquer reticulado L finit. gerado como oE [G]-módulo. Chamamos L do reticulado unitário universal da G -rep. V . Seja G um grupo compacto, V uma G -representação e k·k 0 uma norma qualquer sobre V . Então a norma k·k sobre V dada por kv k = max{kv д k 0 : д ∈ G}. é G -invariante. Isto raciocino torna plausível que a forma de L somente depende da parte não compacta em G . Proposição 5.1. O reticulado unitário universal L da G -representação i(χ ) é dado por qualquer reticulado finitamente gerado como oE [P]-modulo. Demonstração. (Veja [Nag12, Corollary 3.3]): Usa a decomposição de Iwasawa G = KP com K = GLn (oF ) um subgrupo max. compacto aberto de G . A célula aberta padrão Pela definição temos uma noção bem definida do suporte de uma função em i(χ ) como subconjunto em F := P̄\G . Podemos: • Olhar a inclusão da célula aberta padrão N ,→ F (com imagem densa), e • definir i(χ )(N ) = {f : G → E em i(χ ) com suporte em N }. Este subespaço é estável sob a ação de P . Descrevemos no paragrafo seguinte esta P -representação em mais detalhe. Colando as células abertas Construímos uma família de isomorfismos entrelaçando da G -representação i(χ ) como se segue: 11 • Seja W = NG (T )/T o grupo de Weyl das matrizes de monômios em G . Temos uma operação bem definida por W sobre os caráteres χ : T → E∗ pela conjugação χ w = χ (·w ). • Seja δ P : tn 7→ | Adn (t)| a função modular de P = T N . Temos im δ P /δ Pw ⊆ p 2Z e então (δP /δPw )1/2 é bem definido. • Seja θw = θ w ((δ P̄ /δ w )1/2 . Supomos que θ é regular, isto é, θw = θ se e P̄ somente se w = 1, e que i(χ ) é irredutível. Proposição (Operadores de entrelaçamento). Existe uma família de isomorfismos de G -representações Tw : i(χw ) → i(χ ) com χw = θw χ para todo w ∈ W . Os operadores de entrelaçamentos Tw para w ∈ W nos permitem colar i(χ ) a partir da célula aberta padrão N . Mais exatamente: Proposição (Colagem através dos entrelaçamentos). Temos i(χ ) = X Tw (i(χw )(N )). w∈W Corolário (da Proposição acima e Proposição 5.1). O reticulado unitário universal L de i(χ ) é da forma X L= Lw w∈W onde Lw = Tw (Lw ) com Lw o reticulado unitário universal da P -representação i(χw )(N ). ⇒ Vamos estudar a P -representação i(χ )(N ) e o seu reticulado unitário universal L. 6 A norma unitária de funções diferenciáveis Restrição à célula aberta padrão Denotamos a operação de T por conjugação a esquerda respectivamente a direita sobre N por t n = tnt −1 respectivamente por nt = t −1nt . 12 Lema 6.1. Pela restrição a N temos uma injeção de P -representações i(χ )(N ) ,→ Cla cpt (N , E) = {f : N → E : loc. pol. e de sup. cpt.} se definamos o grupo P opera sobre Cla cpt (N , E) como f p = χ (p)f (·t n) para todos p = tn ∈ P com t ∈ T ,n ∈ N . Nota. Notamos que N é um produto de copias de A1 = Spec(F[X ]) e então Calg (N , E) = {f : N → E polinomial }. Denotamos a imagem desta injeção f 7→ f |N por ψ −la Ccpt (N , E) ={f : N → E de suporte compacto : Para todos n ∈ N ha U 3 n aberto em N tal que f |U = p|U para um p ∈ IndGP̄ (ψ )alg }. O reticulado unitário universal de i(χ )(N ) Proposição 6.2. Sejam • 1N0 a função característica de N 0 ⊆ N , e • ū o vetor do peso maximal único (a menos de um escalar) invariante pelo grupo P̄ da G -representação racional irredutível i(ψ )alg . ψ −la O reticulado unitário universal L da P -rep. Ccpt (N , E) é L = oE [P] · f com f = 1N0ū |N . Demonstração: Usa que t N 0 ⊆ N 0 fica arbitrariamente diminuto e depois translata por N . A parte algébrica provem da teoria de rep. racionais. Seja T + o submonoide dominante de T dado por + T := { t1 ... ! td : |t 1 | ≥ . . . ≥ |td |} = {t ∈ T : t N 0 ⊆ N 0 }. ψ −la Proposição. O ret. L ⊆ Ccpt (N , E) é livre ⇔ |χ (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + . Recordamos primeiro o feito importante que L é livre se e somente se a sua seminorma associada k·k L é uma norma. 13 Esboço da Prova da Necessariedade: Observamos que L é em particular estável sob a ação de P . Seja f = 1t N0 ⊗ u |N com u o vetor do peso maximal da G -representação i(ψ )alg . Temos u |N = 1 e f t = χ (t) · 1t N0 ⊗ u |N para t ∈ T . Porque f n = f (·n) para n ∈ N , segue f = X 1t N0n = 1/χ (t) · n∈N / t N 0 X f tn para t ∈ T + . n∈N / t N 0 Graças a k f tn k = k f k para p = tn ∈ P a desigualdade triangular implica que k f k ≤ 1/|χ (t)| maxn∈N / t N0 k f tn k = 1/| χ (t)|k f k . Estratégia da prova da Suficiência. Observação. O reticulado L é livre ⇔ A seminorma assoc. k·k L é uma norma. ⇒ Basta achar uma norma k·k tal que k·k ≤ k·k L . Visto que L = oE [P] · f com f = 1N0 ⊗ ū |N , temos per def.: ⇒ A seminorma k·k L é a maior seminorma tal que P deixa o gerador f invariante. Porque satisfaz achar um tal norma menos de equivalência e P é um grupo, estamos reduzidos ao seguinte: Conclusão: Basta construir uma norma k·k satisfazendo: (A) Invariância sob translação por N . (B) Ha um número constante C ≥ 1 tal que k 1t N0 ⊗ ū |N k ≤ C · | 1/θψ¯(t)| para todos t ∈ T . Simplificações adicionais. Supomos que |χ (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + . O ψ −la reticulado L ⊆ Ccpt (N , E) so depende da valorização |χ | : T → | E∗ | e por isso constatamos as seguintes simplificações adicionais: • A condição |χ (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + implica em particular que | χ (z)| = 1 para todos z no centro Z de G . • Como θ (t) = 1 e |ψ (t)| = 1 para todos t ∈ T0 podemos supor que χ é trivial sobre T0 . Corolário. Desde já podemos supor sem perda de generalidade que χ : T /T0Z → E∗ . 14 O exemplo fundamental Supomos n = 2, isto é, G = GL2 (F) e então N = F. Pela escolha de um uniformizador π de F obtemos um isomorfismo ∼ Z → T /T0Z n 7→ tαn com tα = π ! 1 . Além disso, recordamos que χ = θψ com • um caráter não ramificado θ : F∗ → E∗ , e • um caráter algébrico dominante ψ que podemos escrever na forma ( a d ) 7→ ak+l bl com k + l ≥ l em Z. Proposição 6.3. Obtemos a descrição explicita Cψ −la (N , E) = Clp≤k (F, E) :={f : F → E : f loc. pol. de grau ≤ k com suporte compacto} e ação de P dada • por f t = χ (t)f (d/a · _) para todo t = a d ∈ T , e • por f n = f (· + n) para todo n ∈ N . Demonstração: A representação algébrica irredutível I (ψ )alg de peso maximal ψ tem uma base de produtos de k fatores consistindo das funções de coordenadas a e b na linha superior e da det. Restringindo a N da as funções de monômio 1 1 , 1 X , . . . , 1 Xk . 1 1 1 Seja r = v(χ (tα )) ∈ R com v a valoração de E normalizada tal que v(p) = 1. • Recordamos que | χ | : T /T0 Z → | E∗ | com Z = T /T0Z e o reticulado L em Cψ −la (N , E) somente depende de | χ | , obtemos que r determina L respectivamente k·k L . 15 • Pelo suposto | χ (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + obtemos r ≥ 0. Visto • a descrição explicita de Cψ −la (N , E) na Proposição 6.3 prévia, ∼ • que χ : T → T /T0Z → E∗ e Z → T /T0Z via n 7→ tαn , as propriedades (A) e (B) acima da norma k·k = k·k L associada a L sobre Clp≤k (F, E) se traduzem como se segue. Basta construir k·k sobre Clp≤k (F, E) satisfazendo: (a) Ha um número constante C > 0 tal que k 1π n oF x k k ≤ C · |π | (k−r )n para todos n ∈ Z. (b) Ela é invariante sob translação. Para não nos perder em tecnicalidades, supomos aqui que r = 1. Funções diferenciáveis. Definição. Seja f ∈ Clp≤k (F, E). Definamos a função f ]1[ por f ]1[ (x,y) = f (x) − f (y) x −y para todos x,y ∈ F diferentes. Como funções localmente polinomiais são em particular diferenciáveis, mostrase facilmente que k f ]1[ k sup = sup{| f ]1[ (x,y)| : x,y ∈ F} < ∞. Definição. A norma k·k C1 é definida sobre Clp≤k (F, E) por k f k C1 = k f ]1[ k sup . Proposição. A norma k·k C1 satisfaz as Propriedades (a) e (b) acima. Demonstração: Ad (a): Pois o supremo de k f ]1[ k sup concorre todos pares de elementos diferentes em N , ele não muda sob translação por N . Ad (b): Mostramos que k 1π n oF x k k C1 ≤ |π | (k−1)(n−1) = C · |π | (k−1)n com C = 1/|π |n > 0 para todos n ∈ Z. Colocamos U = π n oF e δ = dia(U ) = |π n | . Distinguimos dois casos: 16 (i) Temos |x − y| ≤ δ : Distinguimos dois casos: (a) Temos |x | ≤ δ : Então f ]1[ (x,y) é um polinomial de grau total k − 1 em x,y com |x |, |y| ≤ δ e por isso | f ]1[ (x,y)| ≤ δ k−1 . (b) Temos |x | > δ : Então f (x) = f (y) = 0 e f ]1[ (x,y) = 0. (ii) Temos |x − y| > δ . Então | f ]1[ (x,y)| < δ −1 k f k sup ≤ δ −1δ k = δ k−1 . Caso geral Restamos no caso n = 2, isto é, no caso de uma variável Cψ −la (N , E) = Clp≤k (F, E). Seja r ≥ 0 um número real qualquer. Definição. Seja i ≥ 0 e h 1 , ..,hi ,hi+1 ∈ F. Def. o operador de quociente de diferença iterado ∆i _(·; h 1 , ..,hi ) sobre Clp≤k (F, E) por ∆0 f = f e ∆i+1 f (·; h 1 , ..,hi ,hi+1 ) = ∆i f (· + hi+1 ; h 1 , ..,hi ) − ∆i f (·; h 1 , ..,hi ). Definição. Escrevemos r = ν + ρ ∈ R≥0 com ν ∈ N e ρ ∈ [0, 1[. Definimos a norma k·k Cr sobre Clp≤k (F, E) por k f k Cr = sup x ∈F,h∈F∗ν +1 |∆ν +1 f (x ; h)| . |h 1 | · · · |hνk | · |hνk +1 | ρ Supomos agora n ≥ 2 qualquer. Definição. Seja h = (1h ; . . . ; d h) ∈ Fi 1 × · · · × Fid . Definamos o operador de lp quociente de diferença iterado em múltiplas variáveis ∆i _(·; h) sobre Ccpt (F, E)⊗ · · · ⊗ Clp cpt (F, E) por ∆i _(·; h) = ∆i 1 _(·; 1h) ⊗ · · · ⊗ ∆id _(·; d h). Definição. Seja r ∈ Rd≥0 com d ∈ N. Escrevemos r = ν + ρ com parte inteira ν ∈ Nd e parte fracionária ρ ∈ [0, 1[d . Definamos k f k Cr := sup x ∈Fd , h∈F∗ν1 +1 ×···×F∗νd +1 |∆ν +1 f (x ; h)| k k k ρk k=1,...,d (| h 1 | · · · | hνk | · | hνk +1 | ) Q aqui 1 = (1, . . . , 1) ∈ Nd . 17 ; + • Lembramos que, como variedade algébrica, N ' A1Φ com Φ+ = {εi − ε j : i < j ∈ {1, . . . ,n}} as raízes positivas de G. (Aqui εi : T → F∗ a função avaliando a coordenada i do toro.) • Então Calg (N , E) = {f : N → E polinomial } e por conseguinte Cla (N , E) = {f : N → E loc. polinomial com sup. compacto }. Conclusão: Temos uma identificação natural ι: O ∼ Clp (F, E) → Cla (N , E). α ∈Φ+ + Definamos r ∈ RΦ≥0 como se segue: Temos um isomorfismo N∆ → T + /T0Z Y (nα ) 7→ tα α ∈∆ com ∆ = {εi − εi+1 } as racinas simples. + Definição. Definamos r ∈ RΦ≥0 por v(χ (tα )) rα := 0 se α ∈ ∆, caso contrário. Definição. Fornecemos Cla−ψ (N , E) com a norma k·k definida por k f k = kι −1 (f )k Cr . Proposição (Lema 2.17 em [Nag12]). A norma k·k satisfaz as Propriedades (A) e (B) acima. 7 Conclusão Resumo • Construímos a G -representação localmente algébrica i(χ ) = {certas funções f : G → E localmente algébricas }. 18 • Obtivemos que a sua seminorma unitária maximal k·k L é dado pelo reticulado X L= Tw (Lw ) w∈W com Lw ⊆ i(χw )(N ) = { todas f ∈ i(χw ) suportadas em N } e certos isomorfismos Tw : i(χw ) → i(χ ) para todos w ∈ W . ∼ ψ −alg • Via f 7→ f |N observamos que i(χ )(N ) → Ccpt certas funções localmente polinomiais. (N , E) se descreve como • Mostramos que Lw é livre se, e só se, | χw (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + pela construção de uma norma k·k Cr ≤ k·k L de certas funções r -vezes + diferenciáveis para r ∈ RΦ≥0 . Conclusão Corolário. Supomos que para todo w ∈ W vale |χw (t)| ≤ 1 para todos t ∈ T + . Então o reticulado unitário universal L da G -representação i(χ ) é da forma L= X Lw com Lw livre. w∈W • Isto ainda não mostra diretamente que L mesmo é livre. • Até agora somente o caso G = GL2 (Qp ) é resolvido em geral por Berger e Breuil em [BB10]. A demonstração deles esquisitamente revolta ao lado da representações de Galois usando a Correspondência de Langlands estabelecida para n = 2 e F = Qp . Esperamos que esta estratégia ajuda resolver o caso mais geral através um raciocínio mais direta. Referências [BB10] L. Berger and C. Breuil, Sur quelques représentations potentiellement cristallines de GL2 (Qp ), Astérisque 330 (2010), 155–211. [BS07] C. Breuil and P. Schneider, First steps towards p -adic Langlands functoriality, J. Reine Angew. Math. 610 (2007), 149–180. MR 2359853 (2009f:11147). DOI 10.1515/CRELLE.2007.070. 19 [Nag11] E. Nagel, Fractional non-Archimedean differentiability, Univ. Münster, Mathematisch-Naturwissenschaftliche Fakultät (Diss.), 2011. zbMATH 1223.26011. Confer http://nbn-resolving.de/urn:nbn:de: hbz:6-75409405856. [Nag12] , The intertwined open cells in the universal unitary lattice of an unramified algebraic principal series, preprint (2012), 44 p. Confer http://www.math.jussieu.fr/~nagel/publications/ InterOpenCells.pdf. 20