trajetória De menino pobre a empresário vitorioso N ão importa o ângulo que se olhe – história de vida, trajetória profissional e método de praticar governança corporativa –, o empresário Sidney Oliveira é diferenciado em relação à grande maioria de seus pares. Aos 55 anos, ele preside a rede de farmácias Ultrafarma, é o próprio garoto propaganda da empresa e não abre mão do estilo centralizador de tocar o negócio. Nascido, como diz, no ‘sertão’ de Umuarama, no Paraná, devido a boa distância da cidade, a ausência de uma escola perto de sua casa, sentenciou sua educação tradicional – jamasi frenquentou uma. “Por perto, não havia”, conta. Isto não afetou sua obstinação em aprender. Alfabetizou-se sozinho, ainda menino, graças aos livros do Mobral feitos para adultos, estudando ao pé das árvores e, muitas vezes, sob a luz fraca de uma lamparina. Aos 9 anos de idade, encontrou emprego numa das poucas farmácias do município. Poliu vitrines, atendeu pessoas, enfim, aprendeu o negócio. E apaixonou-se por ele. “Eu ficava comovido com as pessoas que não conseguiam com2 - LIDE prar remédios por falta de recursos”, lembra. Mais tarde, Oliveira teve a sua própria farmácia e, sem se acomodar, rumou para São Paulo, onde conseguiu um pequeno ponto na avenida Brigadeiro Luiz Antonio. Cerca de onze anos atrás, as acesas discussões travadas em torno do surgimento dos medicamentos genéricos lhe trouxeram uma ideia. Cofiante, o empresário vendeu o que àquela altura já era uma pequena rede de drogarias e O empresário Sidney Oliveira, presidente da Ultrafarma: “Aprendi a ler à luz de uma lamparina” Luiz Ribeiro A história vencedora do presidente da Ultrafarma, Sidney Oliveira, que nasceu na roça e começou a trabalhar aos noves anos de idade. Hoje, ele comanda a maior rede de vendas de medicamentos genéricos do País Central de vendas da Ultrafarma pela internet: baixo custo transferido para o cliente passou um ano recolhido para formatar seu plano. Aproveitou para viajar a países como a Índia, que já tinha liberado os genéricos, para entender como eles eram comercializados e recebidos pela população. “Entendi que o bom caminho era o de estruturar vendas de medicamentos por internet e por telefone, para economizar custos e poder transferir essa economia aos clientes”, explica. “Isso, e mais a proposta de trabalhar basicamente com genéricos, que tem preços menores, formou a plataforma do que a Ultrafarma é hoje”. E hoje, a Ultrafarma é uma gigante do setor. A companhia foi responsável no ano passado pela venda estimada de 100 milhões de unidades de medicamentos, com preço médio de 5 reais. Seus 1,4 mil funcionários atendem, pessoalmente ou pelos meios eletrônicos, cerca de 35 mil clientes por mês. Abrir capital, estudar alguma oferta de compra? Nada disso está nos planos do empresário. “Até já fui assediado para vender o meu negócio, mas tudo aqui tem muito o meu jeito, quem comprasse teria de me levar junto, e isso é meio difícil”, diverte-se. “Nosso plano é do desenvolver o que já temos, crescendo principalmente na comercialização pela internet e pelo televendas”. Além da história singular de menino pobre para a de empresário inovador, Oliveira tem mais um traço particular: a maneira como busca fidelizar seus clientes. A partir de uma pesquisa com métodos A companhia foi responsável no ano passado pela venda estimada de 100 milhões de unidades de medicamentos, com preço médio de 5 reais LIDE - 3 Luiz Ribeiro trajetória científicos, ele descobriu que sua clientela é predominantemente feminina e com mais de 65 anos de idade. Essa informação foi fundamental para que o empresário montasse uma ampla rede de serviços gratuitos à sua clientela. Uma vez por mês, às terças-feiras, por exemplo, a Ultrafarma promove os Ultrabailes, concorridas festas para a terceira idade no melhor estilo ‘baile da saudade’. Os 400 convites que são distribuídos gratuitamente, nas lojas da rede, esgotam-se em questão de minutos, sem que nenhuma divulgação especial tenha de ser feita. “O pessoal já se acostumou”, resume Oliveira. Além disso, num sobradinho numa rua estreita do bairro da Saúde, em São Paulo, diante do próprio escritório da presidência, a Ultrafarma mantém o ‘espaço do idoso’. Nele, sob ar condicionado, com água, café e biscoito à disposição, as senhoras clientes podem, sem gastar nada, participar no coral organizado pela empresa, fazer massagens, ter aulas de dança e yoga e, todas as tardes, ouvir cantores e assistirem a shows de entretenimento. Constantemente, a rede faz doações de medicamentos para asilos. Quanto aos que escrevem cartas e e-mails narrando dificuldades financeiras para comprar remédios, uma comissão de três profissionais da Ultrafarma faz a análise do pedido. Se considerarem as alegações procedentes, a rede promove a venda com fortes subsídios. “Essa atenção ao cliente é uma estratégia de fidelização, mas também é feita porque acho que toda empresa precisa ter responsabilidade social”, justifica Oliveira. No mercado, ele é uma figura polêmica. Compradores agressivos Interior de loja da Ultrafarma: movimento constante de clientes junto aos grandes fabricantes de medicamentos genéricos, Oliveira e a Ultrafarma conseguem praticar preços que, nos últimos onze anos, desde a criação da rede, têm incomodado os concorrentes. “Procuro vender o mais barato possível, o que levou outras redes a também adequarem seus preços”, acredita. Considerado o maior vendedor de medicamentos genéricos do país, ele diz que o momento mais difícil de implantação do negócio foi, justamente, o inicial. “Quando surgiram, havia muita suspeita quanto à credibilidade dos genéricos”, recorda. “Eles passaram a ser melhor aceitos à medida em que o público pode testá-los, na prática, e perceber que realmente dão o resultado esperado”. A confirmação da qualidade e o crescimento da economia, com ênfase nas classes sociais emergentes, acabaram por soprar o impulso que a Ultrafarma precisava para decolar. “Não tenho porque mudar a minha maneira de trabalhar, mas simplesmente desenvolver construi”, conclui Oliveira, empreendedor nato nascido no interior e vitorioso na cidade grande. n Anúncio “Procuro vender o mais barato possível, com isto levo outras redes a também adequarem seus preços”, acredita o empresário Sidney Oliveira 4 - LIDE LIDE - 5