O bicho chamado mudança Por Pedro Elias Ferreira Pinto Mudar é a certeza! Que o homem veio ao mundo predestinado à mudança, não há dúvida. Certamente a mais radical acontece no momento do nascimento: o recém-nascido encontra um ambiente totalmente novo, até hostil, apesar de superprotegido. Daí para frente, as muitas fases da vida implicam mudanças constantes no ser e no estar. Quanta coisa se passa, quanto se aprende e quanto se muda? Quanto foi (ou é) desafiante, divertido, difícil e, até mesmo, ruim. São percepções diferenciadas, influenciadas e sentidas a partir do ponto de vista do observador, dos seus conhecimentos e experiências, interesses e preferências, sobretudo, da sua disposição para viver cada mudança. Se a mudança faz parte da evolução da vida, por que tanta resistência a ela? Pessoas, organizações e até mesmo nações inteiras perdem oportunidades que valem ouro, e que possivelmente não mais terão, apenas porque resistiram, fincaram pé em suas posições, se fecharam para um mundo de possibilidades. Imagine quantas boas empresas foram à bancarrota, “apenas” porque seus acionistas, executivos e colaboradores se fecharam em si mesmos e não foram capazes de enxergar além dos seus próprios horizontes. Resistiram ao novo e, assim, não tornaram as suas organizações dinâmicas e, por consequência, deixaram de viabilizá-las no longo prazo. São incontáveis os exemplos de pessoas que, sem perceber, “morrem para a vida” simplesmente por reagirem negativamente a mudanças ou ideias de outros, muitas vezes guardando ressentimentos e esperando por uma oportunidade de ir à forra. Nações decidem pelo caminho da guerra antes de se esgotarem todos os recursos para a paz. Algumas mesmo após o término da guerra rejeitam ajuda de seus antigos inimigos e põem em risco a pequena possibilidade de salvar vidas humanas, como foi visto no episódio do submarino russo, o Kursk (ago/2000). Algumas palavras e comportamentos estão no cerne da questão das resistências veladas ou explícitas: orgulho, vaidade, poder, ceticismo, individualismo, baixa estima, insegurança, desesperança, incompreensão, desmotivação, incompetência, arrogância, falta de visão, inflexibilidade, zona de conforto etc. Por isso é tão comum ouvir por aí: _ a modernidade é legal, mas me deixe quieto no meu canto; _ aqui está ótimo, eu sei tudo, “tá tudo dominado”; _ eu sou assim mesmo; _ as coisas aqui são assim mesmo; _ isso aqui nunca vai funcionar; _ os “homi” mandaram fazer assim, manda quem pode ... e assim por diante. É desta forma que muitas pessoas se deparam com crises e sofrem quando constatam que “perderam o bonde da mudança.” Como diz o Toquinho, “o futuro não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar, sem pedir licença muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar ...” A sorte do mundo é que há muita proação e reação positiva. Se não fosse assim, a ficção ainda seria apenas ficção, não seria possível dar a volta ao mundo em algumas poucas horas, o homem não teria pisado na lua e não estaria em conexão com as tantas e espetaculares oportunidades. A população do mundo já poderia ter se evaporado sem o avanço científico ou estar ainda vivendo em cavernas, disputando a sobrevivência com animais selvagens. Para ser menos drástico, todos poderiam estar vivendo isolados no mundo, sem comunicação, sem energia elétrica e sem a cura para doenças elementares. Vale refletir: para cada sucesso obtido quantos foram os insucessos e os erros grandes ou pequenos? Que bom que há pessoas que não se acomodam e que, pelo contrário, se incomodam, seguem em frente e fazem acontecer. E agora? Há inúmeras “receitas” para lidar com o bicho mudança, mas certamente todas passam por um momento duro e, na maioria das vezes, solitário: cada indivíduo tem que sair da sua zona de conforto, se conscientizar e tomar a decisão de mudar e crescer. O desafio que se apresenta é manter a mente aberta para novas idéias e para inovação, desenvolver flexibilidade para analisar e considerar pontos de vista diferentes e decidir pelos melhores caminhos. Aos líderes cabe a missão de estimular e criar condições para que as pessoas à sua volta reúnam os elementos necessários para a sua própria tomada de decisão. Será preciso, cada vez mais, compreender que crenças, hábitos, visão, ritmos, sentimentos, percepções, fazem das pessoas seres distintos, diferentes entre si. Se mudar é a certeza, lidar com a certeza é saber que tudo muda, é estar preparado para lidar com a incerteza. É atuar no presente, aproveitar oportunidades e construir o futuro. Pense nisso! * Pedro Elias Ferreira Pinto, Mestre em Administração, Consultor e Coach na Academia Brasileira de Talentos.