Escrever... o assunto pode ser o mesmo, mas a forma de dizê-lo...há tantas!! Chico Buarque nos presenteou com a linda canção “O meu guri”. Nela, o poeta-músico retrata uma difícil e triste situação com lirismo e delicadeza. A partir dessa história, os alunos da 2ª série do Ensino Médio produziram narrativas. Antes de lê-las, a letra da música desse grande compositor brasileiro. Professora Prunella O Meu Guri Chico Buarque Quando, seu moço Nasceu meu rebento Não era o momento Dele rebentar Já foi nascendo Com cara de fome E eu não tinha nem nome Prá lhe dar Como fui levando Não sei lhe explicar Fui assim levando Ele a me levar E na sua meninice Ele um dia me disse Que chegava lá Olha aí! Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí! Olha aí! É o meu guri e ele chega! Chega suado E veloz do batente Traz sempre um presente Prá me encabular Tanta corrente de ouro Seu moço! Que haja pescoço Prá enfiar Me trouxe uma bolsa Já com tudo dentro Chave, caderneta Terço e patuá Um lenço e uma penca De documentos Prá finalmente Eu me identificar Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí! Olha aí! É o meu guri e ele chega! Chega no morro Com carregamento Pulseira, cimento Relógio, pneu, gravador Rezo até ele chegar Cá no alto Essa onda de assaltos Tá um horror Eu consolo ele Ele me consola Boto ele no colo Prá ele me ninar De repente acordo Olho pro lado E o danado já foi trabalhar Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí! Olha aí! É o meu guri e ele chega! Chega estampado Manchete, retrato Com venda nos olhos Legenda e as iniciais Eu não entendo essa gente Seu moço! Fazendo alvoroço demais O guri no mato Acho que tá rindo Acho que tá lindo De papo pro ar Desde o começo eu não disse Seu moço! Ele disse que chegava lá Olha aí! Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí Olha aí! E o meu guri!... Disponível em <http://letras.mus.br/chico-buarque/66513/> Acesso em 21/09/13. Imagine uma favela do Rio de Janeiro, sobe e desce de trabalhadores a toda hora do dia, busca por um caminho melhor e um futuro melhor constante. A nossa história começa nesse cenário, em um contexto bem comum e cotidiano do local: subir na vida. O problema é que nem todos são honestos o bastante para isso... Em 1995, nasce Vitinho, sem ser planejado, sem estrutura, nem nome sonhado. Filho de traficante já morto, já iniciou sua vida sozinho, sua mãe Valquíria fazendo o que podia para seu filho sustentar, acreditava que ele subiria na vida, mesmo diante das dificuldades, ela via sucesso nos olhos do menino. Vitinho começar a trabalhar logo cedo, com a desculpa de não atrapalhar sua mãe sempre pedindo dinheiro. Sempre trazia presentes: corrente de ouro, relógio, carteira, gravador, lenço e até bolsa com tudo dentro. Valquíria rezava quando ele descia o morro em busca de “trabalho’’ e chorava se demorava a voltar. Esse emprego não tinha horário, chegava sempre com pressa, sempre olhando na janela, parecia que sempre tinha algo a esconder. Mal sabia Valquíria que sua casa era muito além de um lar, era um abrigo para bandido... Num belo dia, “cara’’ de Vitinho estampada no jornal, manchete, legenda e as iniciais. Correria na vizinhança, barulho de tiro e gritos no ar. Valquíria vê Vitinho deitado, acha que está olhando para o céu, vendo desenhos nas nuvens, mal sabia ela que ele já estava no céu, o corpo estava olhando para o destino de sua alma. Mais uma mãe decepcionada, mais um filme que se transforma em curta metragem, mais uma história que tinha tudo para ser um romance e acaba como um artigo policial. Camila Ramos No alto do morro, na favela, onde não se sabe ao certo onde moram ladrões ou onde mora família. Mistura de culturas, raças, nações e conhecimentos. Onde há crianças sem rumo de vida, de sobrevivência, mães que não sabem nem sequer o nome do bebê que irá nascer em breve, mas o coloca no mundo. Nasce, então, da mãe, o guri sem nome, sem previsão. Não se sabe como essas crianças são criadas, mas que boa parte delas pretendem chegar lá." Lá onde?" O guri cresce e vai trabalhar, chega suado, exausto, querendo descansar, mas antes entrega à mãe um presente. Todos os dias uma coisa nova, correntes de ouro, que nem há pescoço para colocar; bolsas, com documento, pulseiras, lenços e chaves, para ela finalmente se identificar. E o guri chega ao morro com o carregamento de presentes, cimento, relógio, pneu, gravador. E a mãe rezando até ele chegar cá no alto, está rolando uma onda de assaltos horrível. Quando chega seu guri, bota ele no colo para niná-la. Não se dá conta e quando acorda, o guri já foi trabalhar. E o guri chega. Chega estampado nos jornais do vizinho, de manchete, com letras grandes, com venda nos olhos, legenda e as iniciais. Neste momento, as pessoas começam a fazer alvoroço, demais até para a pobre mãe, que hoje sabe que seu guri no mato está e está lindo de papo pro ar, olhando as nuvens, pensa a mãe. Ela disse desde o começo que ele chegaria lá, seu guri chegaria e chegou. Seu guri. Michelle Antunes