UFRGS - Instituto de Letras
OFICINA DE LEITURA:
O mundo por outro olhar: a
violência urbana e o
cenário periférico na
perspectiva de um
marginalizado
LETÍCIA MENDES PEREZ RECHE
RENATA BLESSMANN FERREIRA
Professora Solange Mittmann
Teoria e Prática de Leitura – 2015/1
INFORMAÇÕES
Público alvo
12 alunos, com idades entre 15 a 18 anos, estudantes do 2º
ano do Ensino Médio, provenientes de escolas públicas de
bairro e/ou centrais.
Tempo de duração
Oficina no turno inverso, com 6h/a divididas em seis
encontros de 1h/a cada.
Recursos necessários
Fotocópias dos textos a serem trabalhados, equipamentos
de áudio para reprodução da canção.
OBJETIVOS




Oferecer aos jovens um momento para reflexão acerca
de outras realidades socioeconômicas que eles podem
ou não conhecer a partir da temática da marginalidade
social;
Proporcionar um ambiente de trocas de conhecimentos,
valorizando as vivências de cada aluno e sua opinião
pessoal;
Possibilitar aos estudantes o contato com diferentes
gêneros textuais, bem como descortinar a importância do
uso coerente de cada gênero, de acordo com os
contextos cotidianos;
Oportunizar aos alunos o entendimento, por meio do
produto final, da noção de autoria, e a percepção de si
próprios como sujeitos atuantes na sociedade a partir de
seus discursos.
JUSTIFICATIVA
A escolha da temática propõe um novo olhar
perante o outro, a partir do entendimento que a
realidade socioeconômica que o cerca o constitui como
sujeito. A intenção é que os alunos da oficina, por não
terem
contato
com
a
periferia, repensem a
complexidade do outro e não o vejam de forma
maniqueísta, como se a violência urbana fosse intrínseca
àqueles que nascem em condições econômicas
inferiores. Postos frente à frente com textos que relativizam
a naturalização das ações humanas de acordo com o
estigma social, os estudantes podem tornar-se cidadãos a
partir de um posicionamento crítico em relação à
constituição da sociedade.
UNIDADE TEMÁTICA
“O mundo por outros olhos: a violência urbana e o
cenário periférico na perspectiva de um marginalizado” .
A partir dessa unidade, intenta-se que os alunos, no
decorrer do trabalho com os textos, mudem a sua visão
perante aqueles que moram na periferia. Em um
movimento de textos que se inicia no mais global em
direção ao que trata da realidade mais específica, os
alunos devem repensar a existência do outro, que está
inserido em uma situação totalmente diversa da deles.
Assim, percebendo o que motiva as ações do outro, os
alunos podem ter uma maior empatia com esse outro e,
sobretudo, podem se aproximar da compreensão das
motivações desse sujeito.
RESULTADOS ESPERADOS
Intenta-se que os alunos consigam estabelecer uma
relação entre os textos lidos, os debates feitos e o
contexto social em que estão inseridos. Além disso,
espera-se que, a partir das reflexões linguísticas e sociais
feitas, os alunos possam expandir sua visão de mundo e
possam, dessa maneira, perceber a implicação de suas
ações enquanto sujeitos atuantes na sociedade - inclusive
pela escrita, em que eles podem colocar-se na posição
de autores, pela defesa de seu ponto de vista e opinião.
FORMA DE AVALIAÇÃO
A avaliação será tanto quantitativa quanto
qualitativa, tendo em vista que os alunos devem
participar da leitura, discussão e interpretação dos textos,
bem como devem apresentar qualidade nas tarefas
escritas e dedicação e adequação do produto final.
Além disso, espera-se que os alunos participem dos
debates propostos, trazendo suas experiências em
relação à temática dos textos lidos e colaborando de
maneira positiva em cada encontro.
ATIVIDADES






1º encontro: Manoel de Barros – Sobre Importância
2º encontro: Rubem Fonseca – Feliz Ano Novo
3º encontro: Chico Buarque – O Meu Guri
4º encontro: Carolina Maria de Jesus – Trecho de
Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada
5º encontro: produção final.
6º encontro: leitura para o grupo com comentários
dos colegas.
1º ENCONTRO – POEMA

Apresentação da temática da oficina, bem como dos
textos a serem lidos;

Atividade de pré-leitura:
a)Onde podemos encontrar poesia?
b)Você costuma ler poesia? Em caso afirmativo, quais são
os seus autores preferidos? Se não lê, por que não?
c)Quais são os temas mais comuns que aparecem em
poesias?
d)Que características são comuns a esse gênero textual?

Distribuição das cópias para os alunos, leitura do poema
de forma silenciosa em um primeiro momento e,
posteriormente, uma segunda leitura, em voz alta, feita
com o grande grupo.
MANOEL DE BARROS
SOBRE IMPORTÂNCIA
Uma rã se achava importante
Porque o rio passava em suas margens.
O rio não teria grande importância para a
rã
Porque era o rio que estava ao pé dela.
Pois pois.
Para um artista aquele ramo de luz sobre
uma lata
desterrada no canto de uma rua, talvez
para um
fotógrafo, aquele pingo de sol na lata seja
mais
importante do que o esplendor do sol nos
oceanos.
Pois pois.
Em Roma, o que mais me chamou
atenção foi um
prédio que ficava em frente das pombas.
O prédio era de estilo bizantino do século
IX.
Colosso!
Mas eu achei as pombas mais importantes
do que o
prédio.
Agora, hoje, eu vi um sabiá pousado na
Cordilheira
dos Andes.
Achei o sabiá mais importante do que a
Cordilheira
dos Andes.
O pessoal falou: seu olhar é distorcido.
Eu, por certo, não saberei medir a
importância das
coisas: alguém sabe?
Eu só queria construir nadeiras para botar
nas
minhas palavras.
1º ENCONTRO – POEMA

Compreensão do texto e estudo do texto (a ser feito
individualmente e discutido em grupo):
a)Qual o tipo de relação que o título do poema
estabelece com os versos? Existe alguma crítica implícita?
b)Que tipo de reflexão você acha que o poema propõe?
c)Como o eu lírico encara aquilo que é importante para
os outros? Ele mostra sua visão como sendo positiva ou
negativa?
d)No final do poema, o eu lírico se questiona sobre saber
ou não medir a importância das coisas e levanta a
questão: alguém sabe? Você acha que existe apenas
uma verdade absoluta sobre o valor das coisas?
Justifique.
1º ENCONTRO – POEMA

Leia os versos a seguir, considerando os contextos em que
aparecem no texto:
“Uma rã se achava importante
Porque o rio passava em suas margens.
O rio não teria grande importância para a rã
Porque era o rio que estava ao pé dela.”
a)No trecho acima, aparecem, em dois momentos, uma mesma
palavra: “porque”. A presença dela acrescenta que ideia ao
resto dos versos? Por que o eu lírico a utiliza?
b)Por que outras palavras poderíamos substituí-la, sem que
mudássemos o sentido dos versos?
1º ENCONTRO – POEMA
“Para um artista aquele ramo de luz sobre uma lata
desterrada no canto de uma rua, talvez para um
fotógrafo, aquele pingo de sol na lata seja mais
importante do que o esplendor do sol nos oceanos.”
a)O que você entende com a leitura desse trecho? Por que
talvez o pingo de sol seja mais importante do que o esplendor
do sol? Será que somente para um artista ou para um fotógrafo
o pingo de sol na lata pode ser importante?
b)Já que a nossa oficina trata sobre as diferenças sociais, como
você transporia esse trecho para a divisão social mais comum
em nossa sociedade? Quem seriam as latas e quem seriam os
oceanos? Por quê?
c)Considerando a sua resposta do exercício anterior, como
você explicaria o fato de alguns (as latas) serem iluminados
somente por um pingo de sol, enquanto outros (os oceanos)
serem iluminados por um esplendoroso sol?
1º ENCONTRO – POEMA
“Em Roma, o que mais me chamou atenção foi um
prédio que ficava em frentes das pombas.
O prédio era de estilo bizantino do século IX.
Colosso!
Mas eu achei as pombas mais importantes do que o
prédio.”
a)Lendo os três primeiros versos, você deve ter tido uma
expectativa em relação ao que era importante naquela cena.
Qual era essa expectativa?
b)Com o restante dos versos, a sua expectativa pode ter sido
rompida. Qual palavra introduz o sentido necessário para o
rompimento da expectativa? Que tipo de ideia ela introduz?
c)Por que outras palavras você poderia substituir, mantendo o
sentido dos versos?
d)Em que suas importâncias se diferenciam das dos outros? Que
prioridades existem na sua vida que você acha que podem não
existir na dos seus colegas?
1º ENCONTRO – POEMA
“Eu só queria construir nadeiras para botar nas
minhas palavras.”
a)Você já viu essa palavra em negrito sendo usada antes?
b)Pelo uso no poema, o que você entende como sendo o
significado dessa palavra?
c)Podemos considerá-la um neologismo? Que outras palavras
vem em sua lembrança? Elas podem fazer sentido no texto?
2º ENCONTRO – CONTO

Atividade de pré-leitura:
a)Por que meios contos são divulgados?
b)Que características são comuns a esse gênero textual?
c)Com o título “Feliz Ano Novo”, que tipo de história você
imagina encontrar? Como podem ser os personagens e o
que eles podem estar fazendo?
d)No texto anterior, conversamos sobre a importância de
cada coisa no mundo e as várias visões existentes sobre
cada importância. Você acha que, entre camadas
sociais diferentes, pode haver mudanças de prioridades?
Justifique e dê exemplos.

Distribuição da cópia do conto para os alunos e leitura
em voz alta feita pelo professor.
OBS: neste link tem o conto: http://www.releituras.com/rfonseca_feliz.asp
2º ENCONTRO – CONTO

Compreensão do texto e estudo do texto (a ser feito
individualmente e discutido em grupo):
a)Releia a sua resposta da questão sobre o título, na
atividade de pré-leitura. A história narrada aconteceu
como você imaginou? O que aconteceu de diferente?
Para a sua resposta, considere o último trecho do conto:
“Quando o Pereba chegou, eu enchi os copos e disse, que o próximo
ano seja melhor. Feliz Ano Novo.”
b)Você deve ter percebido que o autor não transcreve a
fala dos personagens como normalmente aparece nos
livros. Apesar disso, nós conseguimos entender qual
personagem diz o quê. De que forma o autor consegue
fazer isso?
c)Você também deve ter notado que o autor optou por
escrever seu conto de maneira mais coloquial. Por que ele
fez essa escolha?
2º ENCONTRO – CONTO
d)Há dois grupos diferentes no conto. Quais são eles e
qual é a realidade de cada um?
e)Retomando o poema de Manuel de Barros, quais são as
importâncias de cada um desses grupos?
F)Você acha que a violência que acontece dentro da
mansão pode ser justificada pela vida que os assaltantes
levavam? Se eles vivessem em uma realidade diferente,
que tipo de ações você acha que eles teriam?
g)Você acha que os assaltantes sofrem algum tipo de
violência? Justifique.
h)Retomando a canção de Chico Buarque, você
percebeu alguma semelhança no caso das duas
histórias? Quais?
2º ENCONTRO – CONTO

Leia os trechos a seguir, considerando os contextos em
que aparecem no texto:
“Onde você afanou a TV, Pereba perguntou.
Afanei, porra nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô
Pereba! Você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa
estarrada no meu cafofo?”
a)Você pode não conhecer algumas palavras do trecho, mas,
mesmo assim, você provavelmente entendeu o narrado. Quais
palavras foram essas e por que outras você poderia substituir?
b)Essas palavras desconhecidas provavelmente são conhecidas
por outras pessoas, porque são gírias. Por que você acha que o
autor preferiu usar essas palavras, e não outras, mais
conhecidas?
c)Que tipo de visão Pereba tem em relação ao amigo de
mesma classe social? Ele corrobora a visão que normalmente é
atribuída a pessoas como o narrador?
2º ENCONTRO – CONTO
“Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e
fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.”
a)Como o narrador vê Pereba?
b)Qual a relação entre ter estudos e poder chutar a macumba
que quiser?
c)O que você pode inferir desse trecho, dito pelo narrador
2º ENCONTRO – CONTO
“O quarto da gordinha tinha as paredes forradas de couro. A banheira
era um buraco quadrado grande de mármore branco, enfiado no chão.
A parede toda de espelhos. Tudo perfumado. Voltei para o quarto,
empurrei a gordinha para o chão, arrumei a colcha de cetim da cama
com cuidado, ela ficou lisinha, brilhando. Tirei as calças e caguei em
cima da colcha. Foi um alívio, muito legal. Depois limpei o cu na colcha,
botei as calças e desci.”
a)Que ligações podem ser feitas com o início do texto, em que
é apresentada ao leitor a situação caótica do banheiro na
moradia dele?
b)O que o ato do narrador representa? Por que ele fez o que
fez?
2º ENCONTRO – CONTO
“Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o
que quiserem não faremos nada.
Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do
pescoço.
Podem também comer e beber à vontade, ele disse.
Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo
para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles, nós não
passávamos de três moscas no açucareiro.”
a)A intenção da vítima não era a de irritar o assaltante. Por que
ele decidiu dizer o que disse?
b)Por que o assaltante se sentiu ofendido com a oferta da
vítima?
c)O que significa ser apenas “três moscas no açucareiro”?
3º ENCONTRO – CANÇÃO

Atividade de pré-leitura:
a)Você sabe o que é uma canção?
b)Que características são comuns a esse gênero textual?
c)Você costuma perceber a relação entre a letra e a
melodia das canções que ouve?
d)Você conhece alguma canção que trate da questão
da marginalidade social ou da violência urbana? Qual?

Distribuição da letra para os alunos e reprodução da
canção.
CHICO BUARQUE
O MEU GURI
Quando, seu moço, nasceu meu
rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe
dar
Me trouxe uma bolsa já com tudo
dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de
documentos
Pra finalmente eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Como fui levando não sei lhe
explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice, ele um dia me
disse
Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!
Chega estampado, manchete,
retrato
Com venda nos olhos, legenda e as
iniciais
Eu não entendo essa gente, seu
moço
Fazendo alvoroço demais
Chega no morro com
carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu,
gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos está um
horror
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo eu não disse, seu
moço!
Ele disse que chegava lá
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri!
É o meu guri e ele chega
Chega suado e veloz do batente
Traz sempre um presente pra me
encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
3º ENCONTRO – CANÇÃO

Compreensão do texto e estudo do texto (a ser feito
individualmente e discutido em grupo):
a)Que história é cantada por Chico? Qual é o trabalho
do menino e como termina a canção?
b)Em nenhum momento é mencionado, explicitamente, o
serviço do menino. Quais elementos da canção te
auxiliam a descobri-lo?
c)A melodia e o ritmo da canção estão em consonância
com o que é cantado ou destoam entre si? Justifique.
d)Qual poderia ser uma solução para ajudar o menino a
mudar de vida? Você acha que essa é uma história
comum entre as crianças e jovens brasileiras?
e)Existe alguma relação entre essa canção e os dois
textos já lidos, Sobre Importância e Feliz Ano Novo? Quais
podem ser traçadas?
3º ENCONTRO – CANÇÃO

Leia os versos a seguir, considerando os contextos em que
aparecem no texto:
“Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar”
a)Você consegue perceber a diferença de significado entre os
termos em negrito? Quais são os diferentes sentidos? Qual é a
classe de palavras de cada um?
b)A palavra “nem” não somente está funcionando como uma
negação, mas também deixa implícita outra informação. Que
informação é essa?
3º ENCONTRO – CANÇÃO
“E na sua meninice, ele um dia me disse
Que chegava lá
(...)
Desde o começo eu não disse, seu moço!
Ele disse que chegava lá”
a)A partir da segunda estrofe e por cinco vezes ao longo da
canção, podemos ler uma fala que o próprio guri repetia muito.
Na sua opinião, qual é esse lugar em que o menino gostaria
tanto de chegar?
b)Discuta com os colegas a questão anterior. Todos pensaram
no mesmo lugar? Por que alguns chegaram em lugares
diferentes?
c)Com base em um fato que é mostrado explicitamente na
canção, onde é o lugar em que o menino de fato chegou? Cite
as estrofes que explicam sua resposta.
3º ENCONTRO – CANÇÃO
“Chega no morro com carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos está um horror”
a)De onde você acredita que o menino tira tantas pulseiras,
relógios, carteiras, gravadores, já que, no início da canção, é
dito que a mãe não tinha sequer nome para dar para ele?
b)O que você acha da afirmação, em negrito, da mãe do
menino? A mãe está sendo coerente?
3º ENCONTRO – CANÇÃO
“Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais”
a)Nessa estrofe, ficamos sabendo onde o menino chegou, mas
isso não é dito explicitamente. Como você chegou à conclusão
do que aconteceu?
b)Por que a mãe não entende as outras pessoas? Para ela, o
filho chegou onde ela esperava?
3º ENCONTRO – CANÇÃO
“Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
(...)
Olha aí!
É o meu guri!”
a)Na sua opinião, quem poderia estar contando a história dessa
canção?
b)Há uma mudança no final de uma das estrofes, já que, ao
longo da canção, sempre aparece uma mesma fala: “Olha aí! É
o meu guri e ele chega!”, e, depois de um acontecimento, a
fala que encerra a canção se torna apenas: “Olha aí! É o meu
guri!”. Por que você acha que ocorre essa mudança? O que ela
representa no sentido do discurso do narrador?
4º ENCONTRO – DIÁRIO

Atividade de pré-leitura:
a)Quais são as características de um diário?
b)Você conhece algum diário que ficou famoso?
c)Qual é a motivação da pessoa que escreve um diário?
Quais são os temas possíveis de ser encontrados em um
diário?

Distribuição da letra para os alunos, leitura silenciosa e,
posteriormente, leitura em voz alta pela professora.
CAROLINA MARIA DE
JESUS
14 DE JULHO DE 1958
“... Está chovendo. Eu não posso ir catar papel. O dia que chove eu sou mendiga.
Já ando mesmo trapuda e suja. Já uso o uniforme dos indigentes. E hoje é sábado. Os
favelados são considerados mendigos. Vou aproveitar a deixa. A Vera não vai sair
comigo porque está chovendo. (...) Ageitei um guarda-chuva velho que achei no lixo e
saí. Fui no frigorifico, ganhei uns ossos. Já serve. Faço uma sopa. Já que a barriga não fica
vazia, tentei viver com ar. Comecei desmaiar. Então resolvi trabalhar porque eu não
quero desistir da vida.
Quero ver como é que eu vou morrer. Ninguém deve alimentar a ideia de suicidio.
Mas hoje em dia os que vivem até chegar a hora da morte, é um herói. Porque quem
não é forte desanima.
... Vi uma senhora reclamar que ganhou só ossos no Frigorífico e que os ossos
estavam limpos.
– E eu gosto tanto de carne.
Fiquei nervosa ouvindo a mulher lamentar-se porque é duro a gente vir ao mundo
e não poder nem comer. Pelo que observo, Deus é o rei dos sabios. Ele pois os homens e
os animais no mundo. Mas os animais quem lhes alimenta é a Natureza porque se os
animais fossem alimentados igual aos homens, havia de sofrer muito. Eu penso isto,
porque quando eu não tenho nada para comer, invejo os animais.
... Enquanto eu esperava na fila para ganhar bolachas ia ouvindo as mulheres
lamentar-se. Outra mulher reclamava que passou numa casa e pediu uma esmola. A
dona da casa mandou esperar (. ..) A mulher continuou dizendo que a dona da casa
surgiu com um embrulho e deu-lhe. Ela não quiz abrir o embrulho perto das colegas, com
receio que elas pedissem. Começou pensar. Será um pedaço de queijo? Será carne?
Quando ela chegou em casa, a primeira coisa que fez, foi desfazer o embrulho porque a
curiosidade é amiga das mulheres. Quando desfez o embrulho viu que eram ratos mortos.
CAROLINA MARIA DE
JESUS
14 DE JULHO DE 1958
Tem pessoas que zombam dos que pedem.
Na fabrica de bolacha o homem disse que não ia dar mais bolacha. Mas as
mulheres continuaram quietas. E a fila estava aumentando. Quando chegava alguem
para comprar, êle explicava:
– O senhor desculpe o aspecto hediondo que êste povo dá na porta da fabrica.
Mas por infelicidade minha todos os sabados é êste inferno.
Eu ficava impaciente porque queria ouvir o que o dono da fabrica dizia. E queria
ouvir o que as mulheres dizia. Que dilema triste para quem presencia. As pobres
querendo ganhar. E o rico não queria dar. Ele dá só os pedaços de bolacha. E elas saem
contentes como se fossem a Rainha Elisabethe da Inglaterra quando recebeu os treze
milhões em joias que o presidente Kubstchek lhe enviou como presente de aniversario.
O dono da fabrica vendo que elas não iam embora, mandou dar. A empregada
nos dava e dizia:
– Quem ganhar deve ir-se embora.
Eles alegam que não estão em condições de dar esmola porque a farinha de trigo
subiu muito. Mas os mendigos já estão habituados a ganhar as bolachas todos os
sabados.
Não ganhei bolacha e fui na feira, catar verduras. Encontrei com a dona Maria do
José Bento e começamos a falar sobre o custo de vida.”
4º ENCONTRO – DIÁRIO

Compreensão do texto e estudo do texto (a ser feito
individualmente e discutido em grupo):
a)Os recursos linguísticos por ela utilizados nos revelam,
assim como fez Rubem Fonseca no conto Feliz Ano Novo,
uma preocupação em demonstrar, a partir da linguagem,
a realidade da personagem, ou apenas denotam o
conhecimento linguístico da autora?
b)Com que propósito você acha que a autora escreveu
esse trecho?
c)Como você poderia descrever Carolina e sua vida a
partir do que você leu?
d)Que violências são expostas no trecho que você
acabou de ler?
4º ENCONTRO – DIÁRIO
e)Como a personagem diferencia os favelados dos
mendigos?
f)Assim como em Feliz Ano Novo, aqui também são
apresentados dois grupos distintos. Quais são eles e o que
os representa?
g) Tanto na canção de Chico Buarque, como no conto
de Rubem Fonseca e no trecho do diário de Carolina
Maria de Jesus há o elemento da fome. Por que esse
elemento esteve presente nos três textos? O que eles têm
em comum?
4º ENCONTRO – DIÁRIO

Leia os trechos a seguir, considerando os contextos em
que aparecem no texto:
“Tem pessoas que zombam dos que pedem.”
a) A quem a personagem se refere nesse trecho?
b) A personagem está concluindo ou criticando algo?
c) Considerando o restante do contexto do trecho, qual foi a
zombaria?
4º ENCONTRO – DIÁRIO
“Quando chegava alguem para comprar, êle explicava:
– O senhor desculpe o aspecto hediondo que êste povo dá na
porta da fabrica. Mas por infelicidade minha todos os sabados é êste
inferno.
Eu ficava impaciente porque queria ouvir o que o dono da fabrica
dizia. E queria ouvir o que as mulheres dizia. Que dilema triste para quem
presencia. As pobres querendo ganhar. E o rico não queria dar. Ele dá só
os pedaços de bolacha. E elas saem contentes como se fossem a
Rainha Elisabethe da Inglaterra quando recebeu os treze milhões em
joias que o presidente Kubstchek lhe enviou como presente de
aniversario.”
a) A que povo o dono da fábrica se refere?
b) Por que o dono caracteriza esse povo como tendo “aspecto
hediondo”? O que significa ter esse aspecto?
4º ENCONTRO – DIÁRIO
c)O dono da fábrica não parece sentir compaixão pelas
mulheres que lhe pedem ajuda. O que você achou das falas e
ações do personagem, visto a situação de pobreza e de fome
das mulheres?
d)Relembre com seus colegas o enredo de Feliz Ano Novo.
Nesse conto, quem tinha o poder eram os assaltantes; as vítimas
eram os ricos. No diário, quem tem o poder e a partir do que
esse poder é materializado?
e)Quem está sofrendo uma violência: o dono, por ser
importunado na porta da fábrica, ou as mulheres, que não têm
o que comer?
f)Que função exerce a citação à Rainha Elisabethe? Para que a
personagem menciona a Rainha?
5º ENCONTRO – ESCRITA

Produção final: cada aluno deverá optar por um dos
quatro gêneros textuais estudados (poesia, conto,
canção ou diário) para escrever sobre a temática
“Violência versus Marginalidade social – Um caminho de
duas mãos?”, tendo de problematizar a tangência de
ambos. Para tal escrita, os alunos devem considerar as
discussões feitas em aula, que propiciaram o
entendimento dos motivos das ações do outro a partir da
leitura de textos cujos protagonistas estavam em uma
situação periférica. Os alunos devem escrever na oficina e
entregar para as professoras assim que terminarem.
6º ENCONTRO – LEITURA


Leitura em roda, para comentários do grupo: os textos,
lidos e comentados pelas professoras, deverão ser
entregues aleatoriamente entre os participantes, para
que cada um fique responsável por ler, em voz alta, o
texto do colega. A partir da leitura de cada texto, deverá
ser aberto um tempo para a discussão do que foi escrito
pelo autor, de modo que os alunos construam não
somente a sua identidade como autores, mas também
seu posicionamento crítico perante o que leem.
Os alunos serão, a partir das observações das professores
e dos comentários dos colegas, incentivados a reescrever
o texto e entregar no próximo encontro.
BIBLIOGRAFIA
 BARROS,
Manuel de. Meu Quintal é maior do
que o Mundo. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva,
2015.
 BUARQUE, Chico. O Meu Guri. In.: Almanaque.
Manaus: Universal Music, c1993. 1 CD. Faixa 3.
 FONSECA,
Rubem. Feliz Ano Novo. Ed.
Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
 JESUS, Carolina Maria de Jesus. Quarto de
Despejo – Diário de uma Favelada. 9ª ed. São
Paulo: Ática, 2007.
Download

Feliz Ano Novo