CÁTIA CIBELE SEMCHECHEM ESTADO NUTRICIONAL E HÁBITOS ALIMENTARES DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS RESIDENTES EM UM ASSENTAMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO BONITO DO IGUAÇU – PARANÁ GUARAPUAVA 2011 CÁTIA CIBELE SEMCHECHEM ESTADO NUTRICIONAL E HÁBITOS ALIMENTARES DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS RESIDENTES EM UM ASSENTAMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO BONITO DO IGUAÇU – PARANÁ Trabalho de Conclusão de Curso a ser apresentado ao Departamento de Nutrição, da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Nutrição. Orientador(a): Profa. Ms. Adriana Masiero Kühl GUARAPUAVA 2011 ESTADO NUTRICIONAL E HÁBITOS ALIMENTARES DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS RESIDENTES EM UM ASSENTAMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO BONITO DO IGUAÇU – PARANÁ Food habits and nutritional status of hypertensive individuals living in rural settlement, in Rio Bonito do Iguaçu – Paraná SEMCHECHEM, Cátia Cibele ¹ KÜHL, Adriana Masiero ² RESUMO Hábitos alimentares e estado nutricional inadequados, apresentam-se diretamente envolvidos no crescimento da participação das doenças crônicas não transmissíveis no perfil de morbimortalidade da população, sendo que as doenças cardiovasculares se destacam atualmente, como principais causas de morte, atingindo cerca de um terço do total da mortalidade na população adulta brasileira. O presente estudo teve como objetivo verificar a relação entre estado nutricional e os hábitos alimentares de indivíduos hipertensos residentes em um assentamento rural no município de Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. O estudo envolveu 89 indivíduos hipertensos de ambos os gêneros, com faixa etária de 25 a 89 anos. Com relação ao estado nutricional a maioria dos indivíduos hipertensos apresentaram excesso de peso (80,9%), sendo verificadas diferenças estatisticamente significativas entre a presença de excesso de peso e o hábito de consumir embutidos diariamente (p<0,01); entre o estado nutricional e a circunferência da cintura, IMC e a média de consumo dos nutrientes analisados, (p<0,01); indicando que esses fatores podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de maiores complicações associadas a hipertensão entre a população estudada. De acordo com o exposto no presente artigo, conclui-se que a existência de associação entre hipertensão arterial, excesso de peso, circunferência da cintura e hábitos alimentares incorretos, indicam a urgência de medidas capazes de atuar sobre esses fatores de risco, como ações educativas no que diz respeito a alimentação saudável em grupos populacionais específicos. Palavras-chave: Estado nutriconal, Hábitos alimentares, Hipertensão. ABSTRACT Eating habits and inadequate nutritional status, present themselves directly involved in the growth of participation of non-communicable diseases in morbidity and mortality profile of the population, and cardiovascular disease stands today as major causes of death, affecting about one third of the total mortality in the Brazilian adult population. This study aimed to examine the relationship between nutritional status and diet of hypertensive individuals residing in a rural settlement in the municipality of Rio Bonito do Iguaçu - Paraná. The study involved 89 hypertensive patients of both genders, from 25 to 89 years old. Regarding the nutritional status of most hypertensive patients were overweight 80,9%. Being Statistically significant differences between the presence of overweight and the daily embedded habit (p <0,01), between nutritional status and waist circumference, BMI and average consumption of nutrients analyzed (p <0,01), indicating these factors as predictors for the development of major complications associated with hypertension among the population studied. According to the above in this Article, it is concluded that the existence of an association between hypertension, overweight, waist circumference and incorrect eating habits, indicate the urgency of measures to act on these risk factors, such as educational regarding healthy eating in specific population groups. Key-words: Nutritional state, Eating habits, Hypertension. 1 2 Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste –[email protected] Professora Mestra do Dpto de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste –[email protected] INTRODUÇÃO Os assentamentos rurais foram criados no Brasil visando à promoção de um novo modelo de desenvolvimento agrícola. Os assentamentos de trabalhadores rurais tem por objetivo garantir a esses novos produtores o cultivo de alimentos, para o autoconsumo, além de proporcionar condições para melhorar a qualidade de vida. No entanto, as condições de vida dos moradores dessa forma de organização social ainda são pouco estudadas, fazendo com que esta apresente características muito especiais que as diferencia dos demais grupos sociais, até mesmo de pequenos agricultores vizinhos, tendo em vista a grande diversidade cultural normalmente presente nesses ambientes1. Em 17 de abril de 1996, mais de três mil famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Giacomet-Marodim, em Rio Bonito do Iguaçu-Paraná. O assentamento é dividido em oito comunidades (São Francisco, Açude Seco, Sede, Nova Prata, Alta Floresta, Nova Estrela, Nova Santa Rosa e Guadalupe), totalizando 900 famílias, onde aproximadamente 200 indivíduos são diagnosticados como hipertensos pela secretaria de saúde do município. Antes das famílias ocuparem a fazenda Giacomet, o município de Rio Bonito do Iguaçu tinha 4 mil habitantes. Hoje, possui cerca de 20 mil indivíduos2. Atualmente as doenças cardiovasculares se destacam, como principais causas de morte, atingindo cerca de um terço do total da mortalidade da população adulta brasileira3. Considerada um dos maiores problemas de saúde da atualidade, a hipertensão está sendo associada a sérios riscos de morbimortalidade cardiovascular, contribuindo diretamente para a ocorrência de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência arterial periférica e morte prematura4. Segundo vários autores5,6,7,8, a prevalência da hipertensão no Brasil varia de 24,8 a 44,4%, porém de acordo os resultados da Campanha Nacional de Detecção de Hipertensão Arterial (CNDHA) de 2002, realizado com cerca de 31 milhões de pessoas, a prevalência não ultrapassa os 36%9. A hipertensão arterial sistêmica caracteriza-se como uma doença multifatorial, na qual diferentes mecanismos estão implicados, levando ao acréscimo do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, sendo que a obesidade é considerada um importante fator de risco. A redução do índice de massa corporal (IMC) faz com que ocorram diminuições significativas na pressão arterial, sendo este uma das bases da abordagem não farmacológica da doença10. Diversos índices antropométricos têm sido propostos para determinar a associação entre excesso de peso e fatores de risco cardiovascular. A localização de gordura na região abdominal ou obesidade abdominal atualmente se mostra associada a distúrbios metabólicos, dislipidemias, hipertensão arterial e diabetes mellitus11. O aumento do consumo de energia, açúcar, gorduras em geral, principalmente as saturadas, menor consumo de frutas, verduras e grãos, juntamente com a redução da atividade física, levaram ao crescimento da participação das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) no perfil de morbimortalidade da população12. A influência dos avanços tecnológicos da indústria de alimentos, sobre as práticas alimentares contemporâneas, mesmo na zona rural, tem sido motivo de preocupação das ciências da saúde desde que os estudos passaram a demonstrar relação entre a dieta e algumas doenças crônicas associadas à alimentação. Os alimentos excessivamente processados, pobres em nutrientes e ricos em gorduras e açúcar refinado estão cada vez mais populares, e exercem forte influência no hábito alimentar e consequentemente no estado nutricional, sendo fator de risco para o desenvolvimento da obesidade13. Apesar das informações sobre nutrição estarem sendo difundidas com maior frequência e intensidade, expressiva parcela da população ainda adota um padrão alimentar que afeta, de forma negativa, o estado nutricional, que é resultante, entre outras, da maior disponibilidade e consumo de alimentos no domicílio, das condições ambientais e socioeconômicas desfavoráveis14. Diante das situações nutricionais encontradas nacionalmente e do pouco que se conhece sobre a saúde e nutrição de indivíduos hipertensos residentes em assentamentos rurais, o presente estudo teve por objetivo comparar o estado nutricional e os hábitos alimentares de indivíduos hipertensos residentes em um assentamento rural no município de Rio Bonito do Iguaçu – Paraná. METODOLOGIA Esta pesquisa é um estudo transversal, realizado com indivíduos hipertensos de ambos os gêneros, moradores do Assentamento Rural Ireno Alves dos Santos no Município de Rio Bonito do Iguaçu, no estado do Paraná. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COMEP) (Anexo 1) da UNICENTRO, sob o protocolo nº 349/2010. Todos os indivíduos que concordaram em participar da pesquisa leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 1). Foram excluídos da população de estudo, os indivíduos que não concordaram em participar do estudo e aqueles que não compareceram as reuniões mensais do grupo de hipertensos promovidas pela Secretaria de Saúde do município. A coleta de dados foi realizada durante 3 reuniões consecutivas. A aferição de peso (kg), estatura (m) e circunferência da cintura (cm), foi realizada de acordo com a metodologia preconizada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN)15. A coleta de dados constituiu-se ainda na aplicação de um questionário de frequência alimentar (Anexo 2) e no Dia Alimentar Habitual (Anexo 3) ambos adaptados de Fisberg et al.16. Para aferição do peso utilizou-se uma balança eletrônica digital portátil com capacidade de 180 kg e escala de graduação de 100g da marca Plena®, calibrada e colocada em superfície plana. Para aferição da estatura (m) fixou-se uma fita métrica inelástica verticalmente numa parede, sem rodapé e com piso não acarpetado e não abaulado. A partir dos dados obtidos através da avaliação nutricional, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), classificado segundo os pontos de corte da Organização Mundial da Saúde (WHO)17 para adultos e para idosos utilizou-se os pontos de corte recomendados pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)18. Para análise estatística, reuniram-se as classificações do IMC, em grupos de indivíduos eutróficos e com excesso de peso, onde para o último grupo englobou-se as classificações de sobrepeso, obesidade, obesidade I, obesidade II e obesidade III. Para aferição da circunferência da cintura utilizou-se uma fita métrica inelástica posicionando a pessoa em pé, ereta, com abdômen relaxado, braços estendidos ao longo do corpo e os pés separados numa distância de 25-30 cm. Os pontos de corte adotados foram os preconizados pela Organização Mundial da Saúde (WHO)19, que diferem segundo o gênero. Os participantes foram ainda interrogados por meio de perguntas fechadas propostas por Costa et al.20 (Anexo 2) a respeito de alguns fatores de ricos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Questionou-se sobre a presença ou não de diabetes mellitus, se fumavam, se ingeriam algum tipo de bebida alcoólica frequentemente e se costumavam adicionar mais sal aos alimentos depois de prontos. A avaliação do hábito alimentar foi realizada de forma qualitativa, por meio de um questionário de frequência alimentar (QFA), contendo uma tabela com os principais alimentos dos grupos da pirâmide alimentar. Os entrevistados foram instruídos a responder a frequência de consumo de determinados tipos de alimentos da seguinte forma: menos que uma vez por mês, de 1-3 vezes por mês, de 2-4 vezes por semana, 1 vez por semana, 1 vez por dia, mais que uma vez por dia ou nunca/raramente. Para a análise dos dados, reuniu-se os alimentos em grupos segundo a recomendação da pirâmide alimentar (cereais, leguminosas, carnes, leites e derivados, frutas, hortaliças e vegetais, gordura animal e vegetal) utilizando a maior frequência de consumo dos alimentos de cada grupo, classificando as frequências em diária, não diária ou nunca. Para análise quantitativa utilizou-se o Dia Alimentar Habitual, onde forão questionados os horários, as refeições, o tipo e a quantidade de alimentos consumidos habitualmente. Para avaliar a estimativa da ingestão de nutrientes foi utilizado o Software de Avaliação Nutricional DIETWIN®21. Os valores obtidos de macronutrientes, fibras, energia e alguns micronutrientes como cálcio, ferro, vitaminas A, C, D E, sódio, potássio, colesterol, forão comparados aos valores de referência propostos pelas Dietary Reference Intakes (DRIs)22 segundo o gênero e idade. Considerou-se como consumo satisfatório dos nutrientes, o percentual de adequação entre 90 a 110%. A análise descritiva dos dados foi expressa por meio de frequências, médias e desvio padrão. Para verificar a existência de associação entre as variáveis categóricas de IMC, frequência alimentar e consumo calórico, utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences23 (SPSS), onde realizou-se o Teste T de Student para amostras independentes e comparação de médias, e o Teste Qui-quadrado para analisar a comparação entre as variáveis qualitativas, sendo considerado nível de significância de 0,05 (p<0,05). RESULTADOS A população inicial do estudo era constituída por aproximadamente 200 indivíduos. Destes apenas 89 indivíduos (44,5%) concordaram em participar, 42 (21%) não concordaram e os demais (34,5%) não compareceram no momento das coletas. Deve-se ressaltar que coletas de dados em áreas rurais são sempre mais demoradas e dispendiosas, em comparação às realizadas em áreas urbanas. Tal condição interferiu na quantidade de entrevistas realizadas em cada visita. Observou-se que 71 indivíduos eram do gênero feminino (79,8%) e 18 do gênero masculino (20,2%) com idade entre 25 e 89 anos, apresentando idade média de 51,6 + 10,9 anos. Na tabela 1 observa-se uma frequência ligeiramente superior do grupo de idade entre 50 a 59 anos (n=26) para as mulheres e entre 40 a 49 anos (n=8) para homens. Tabela 1. Distribuição de indivíduos segundo a faixa etária e gênero doAssentamento Rural Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 Idade (anos) Feminino Masculino Total n % n % n % 2 2,82 0 0,00 2 2,25 20 a 29 7 9,86 2 11,11 9 10,11 30 a 39 19 26,76 8 44,44 27 30,34 40 a 49 26 36,62 7 38,89 33 37,08 50 a 59 17 23,94 1 5,56 18 20,22 >60 71 100,00 18 100,00 89 100,00 Total Nota: n= número amostral O gráfico 1 mostra a naturalidade dos indivíduos hipertensos. Evidenciando que a maioria, é composta de pessoas naturais de outros estados do Brasil, totalizando 50,66% da amostra. Gráfico 1. Naturalidade dos Hipertensos residentes no Assentamento Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 O IMC médio da população foi de 31,57 + 6,47 kg/m². Para o gênero feminino o IMC médio encontrado foi de 31,40 kg/m² e para o gênero masculino 32,16 kg/m². Verificou-se que 80,9% (72/89) dos participantes apresentaram excesso de peso, com IMC médio de 33,44 + 5,73 kg/m², e que apenas 19,1% (17/89) eram eutróficos, com IMC médio de 23,68 + 1,72kg/m² (p<0,01). O peso médio encontrado no grupo de eutróficos foi de 58,32 + 5,98 Kg, enquanto que o grupo com excesso de peso apresentou peso médio de 82,15 + 13,53 Kg, havendo significância estatística (p<0,01). Na Tabela 2 é possível observar a situação nutricional dos indivíduos hipertensos conforme o gênero. Nota-se que não houve nenhum indivíduo classificado como baixo peso. Tabela 2 - Situação nutricional, de adultos e idosos, de ambos os gêneros. Assentamento Rural Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 Classificação Feminino Masculino Geral n % n % n % 22 30,99 4 22,22 26 29,21 10 14,08 - 0,00 10 11,24 Obesidade I 10 14,08 6 33,33 16 17,98 Obesidade II 10 14,08 2 11,11 12 13,48 Obesidade III Eutrofia 7 9,86 1 5,56 8 8,99 12 71 16,90 100,00 5 18 27,78 100,00 17 89 19,10 100,00 Baixo Peso Sobrepeso Obesidade* Total Nota: *Classificação para idosos segundo OPAS, 2001. (-) não foram identificados indivíduos nas respectivas categorias. A média encontrada para a circunferência da cintura (CC) foi de 100 + 11,5 cm, sendo de 88,9 + 6,72 cm para os eutróficos e 103,73 + 10,58 cm para o grupo com excesso de peso (p<0,01). Por meio do Teste Qui-Quadrado comparou-se o risco de desenvolver doenças cardiovasculares (DCV) através da circunferência da cintura entre os grupos de eutróficos e excesso de peso, observou-se maior risco em indivíduos com excesso de peso (p<0,01). Porém analisando o gráfico 2, observa-se que a maioria dos indivíduos foram classificados como eutróficos segundo o IMC (64,7%) (11/17) e apresentaram risco elevado ou muito elevado para o desenvolvimento de DCV. P<0,01 Gráfico 2. Risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares segundo o estado nutricional dos indivíduos hipertensos do Assentamento Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 Quando questionados a respeito dos fatores de risco, 17,98% (16/89) dos participantes relataram ter diabetes mellitus tipo I ou II, sendo que destes 15,3% (11/89) possuíam excesso de peso. Com relação aos hábitos de alcoolismo e tabagismo 20,2% (18/89) e 8,99% (8/89) respectivamente, relataram possuir algum desses hábitos frequentemente, sendo que destes 14,4% (13/89) dos que consumiam bebida alcoólica e 6,5% (6/89) dos que tinham o hábito de fumar estavam em excesso de peso. Afirmaram adicionar mais sal aos alimentos, depois de pronto, 12,36% (11/89) dos indivíduos, estando todos em excesso de peso. Gráfico 3. Participação de fatores de risco associados a hipertensão arterial sistêmica, no Assentamento Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 No que se refere ao hábito alimentar segundo o questionário de frequência alimentar o consumo diário de frutas foi maior no grupo com excesso de peso (43,1%;31/89), o mesmo pode ser notado com relação às verduras (51,4%;37/89), porém ainda sim percebe-se um consumo baixo desses alimentos diariamente, visto que a disponibilidade desses alimentos na área rural é superior. O consumo de embutidos apresentou-se maior entre o grupo com excesso de peso (p<0,01). O mesmo pode ser observado em relação ao consumo de conservas (cenoura, pepino, etc.), temperos prontos (caldos, sachês, etc), e gordura animal (gordura saturada) (Tabela 3). Esse consumo diário de alimentos que contém quantidades elevadas de sódio podem ter influenciado os resultados encontrados no dia alimentar habitual, onde a ingestão média de praticamente todos os indivíduos assentados ultrapassou o limite preconizado para o consumo de sódio que é de 1,5 gramas/dia a no máximo 2,3 gramas/dia (tabela 4). Considerando a ingestão individual foi observado que (73,6% ;53/89) dos indivíduos hipertensos com excesso de peso e (52,9%;9/89) dos eutróficos consumiam quantidades aumentadas de sódio. Contrapondo-se ao encontrado nos valores de potássio onde (97,8% ;87/89) dos entrevistados apresentavam consumo abaixo do recomendado, sendo que desses (79,77%;69/89) pertenciam ao grupo com excesso de peso. Com base nos dados obtidos no Questionário de Frequência Alimentar (QFA), elaborou-se a tabela que segue (tabela 3), demonstrando o consumo diário dos grupos alimentares segundo a classificação do estado nutricional. Tabela 3. Características do padrão de alimentação, a partir do consumo diário segundo o estado nutricional, no Assentamento Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 Características Consumo Diário Cereais Sim Não Eutróficos % Excesso de peso % p-valor 100 0 100 0 0,62 94,1 5,9 87,5 12,5 0,34 70,6 29,4 70,8 29,2 0,98 0 100 18,1 81,9 <0,01* 0 100 12,5 87,5 0,3 17,6 82,4 26,4 73,6 0,38 35,3 64,7 34,7 65,3 0,77 Leguminosas Sim Não Carnes Sim Não Embutidos Sim Não Conservas Sim Não Temperos Prontos Sim Não Leites e Derivados Sim Não Frutas Sim Não Verduras Sim Não Gordura Animal Sim Não Gordura Vegetal Sim Não Frituras Sim Não 35,3 64,7 43,1 56,9 0,53 47,1 52,9 51,4 48,6 0,74 64,7 35,3 76,3 23,7 0,17 70,6 29,4 56,9 43,1 0,56 0 100 0 100 0,4 * Significância estatística segundo Teste Qui-Quadrado. Com relação aos macronutrientes observou-se que a média de consumo de carboidratos foi de 390,10g/dia e esteve aumentado na maioria dos indivíduos pertencentes ao grupo com excesso de peso. Quanto aos lipídeos nota-se que apresentaram consumo aumentado em média 25% dos indivíduos. Para o consumo de proteínas, observou-se que a maioria do dos indivíduos hipertensos do em excesso de peso, consomem quantidades de proteína acima do recomendado, com média geral de 1,16 + 0,10 g de proteína por quilo por dia (tabela 4). A média de consumo para as vitaminas A, C, D e E, cálcio e fibras não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Porém o consumo de vitamina A estava abaixo do recomendado na maioria dos indivíduos hipertensos em excesso de peso (70%). Altas taxas de inadequação também podem ser observadas quanto a vitamina C demonstrando um consumo abaixo do recomendado em 50% indivíduos em excesso de peso. Ao analisar o consumo de vitamina E, observou-se que em média 70% dos indivíduos do grupo com excesso de peso apresentam consumo abaixo do recomendado. Esses resultados podem estar associados a baixa ingestão de frutas e vegetais, como foi constatado anteriormente. O consumo de vitaminas e minerais bem como os antioxidantes, se torna extremamente importante, principalmente em se tratando de indivíduos hipertensos. Taxas inadequadas de consumo também foram notadas quanto à vitamina D, onde em média 97% indivíduos eutróficos e em excesso de peso respectivamente apresentaram consumo abaixo do recomendado. Com relação ao consumo de cálcio observou-se que em média 94% dos indivíduos de ambos os grupos apesentaram consumo abaixo do recomendado. As fibras apresentaram uma alta taxa de consumo, estando à média diária de ingestão dentro das recomendações para ambos os grupos e faixas etárias. Para os valores de ferro, sódio, potássio e colesterol, as médias de consumo foram maiores no grupo com excesso de peso, observando tendência estatística na comparação entre os grupos (tabela 4). Com relação ao ferro 53,9% (48/89) apresentavam consumo abaixo do recomendado sendo que destes 63% (30/89) eram mulheres. Quanto às diferenças entre os grupos, o consumo foi menor entre os indivíduos em excesso de peso. A ingestão aumentada de colesterol também foi verificada na maioria dos indivíduos encontravam-se com excesso de peso. Tabela 4 – Médias de consumo de macro e micronutrientes segundo o Dia Alimentar Habitual, de acordo com o estado nutricional, Assentamento Ireno Alves dos Santos, Rio Bonito do Iguaçu, PR, 2011 Variáveis Eutróficos Excesso de peso p-valor Kcal consumidas no DAH Carboidratos (g) Carboidratos (Kcal) Lipídeos (g) Lipídeos (Kcal) Proteína (g) Proteína (g/kg/dia) Proteína (Kcal) Vitamina A (µg) Vitamina C (mg) Vitamina D (µg) Vitamina E (mg) Ferro (mg) Sódio (g) Potássio (g) Cálcio (mg) Colesterol (mg) Fibras (g) 1.684 + 423,20 234,24 + 72,53 936,96 + 290,12 53,58 + 32,11 482,27 + 289,02 75,52 + 34,46 1,31 + 0,60 302,11 + 137,84 584,40 + 778,14 89,99 + 98,03 1,09 + 2,17 13,60 + 13,60 12,06 + 5,40 1,92 + 0,78 1,2 + 0,78 500,63 + 352,34 177,67 + 77,41 34,93 + 9,70 2.124 + 450,68 311,73 + 72,70 1.247 + 290,80 59,75 + 25,92 537,78 + 233,35 81,65 + 30,75 1,01 + 0,40 326,63 + 123,00 773,84 + 1.102,00 102,30 + 105,43 1,87 + 6,15 11,97 + 8,39 15,63 + 7,40 2,22 + 0,93 1,6 + 0,93 525,63 + 232,22 223,53 + 100,54 42,27 + 39,17 <0,01* <0,01* <0,01* 0,40 0,40 0,47 <0,01* 0,47 0,50 0,66 0,61 0,53 0,06** 0,03* 0,03* 0,72 0,08** 0,44 * Significância estatística segundo teste T de Student ** Tendência estatística DISCUSSÃO Com base nos dados obtidos neste estudo, pôde-se verificar alta prevalência de excesso de peso, refletindo o quadro atual encontrado em pesquisas realizadas no Brasil, associado à presença de outros fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares como consumo de bebidas alcoólicas, fumo, diabetes e hábitos alimentares incorretos. Sabe-se que uma das recomendações ao hipertenso constitui-se em uma dieta equilibrada e variada, a qual inclui frutas e hortaliças em maior quantidade do que a usualmente consumida. A população aqui estudada relatou uma inadequação importante para a maioria dos nutrientes analisados, apresentando diferenças de acordo com o estado nutricional, o que demostra diminuição da qualidade da alimentação em meio rural. Com relação a naturalidade dos indivíduos aqui estudados, a maioria era do próprio estado (Paraná), seguido do Rio grande do Sul e Santa Catarina. Segundo Motta24 em estudo realizado em um assentamento no Mato Grosso, a maiorias dos indivíduos assentados eram naturais da região Sudeste do Brasil, seguidos do Nordeste. Em um levantamento realizado em Mato Grosso do Sul a maioria eram naturais do próprio estado, seguido de São Paulo e Paraná25. Essas diferenças devem-se à localização dos assentamentos, mostrando que existe ocupação maior de pessoas oriundas do próprio estado e de regiões mais próximas, como foi constatado no presente estudo. Considerando o estado nutricional segundo Brasil26, cabe destacar que não existem dados científicos que possam inferir sobre o atual perfil nutricional da população do campo. Porém na comparação de três inquéritos nacionais disponíveis (1975, 1989 e 1997), observase que entre adultos de ambos os gêneros, ocorreu a tendência da redução do baixo peso, acompanhada do acréscimo significativo da prevalência de obesidade, sendo a prevalência de sobrepeso e obesidade maior entre as mulheres. Portanto, a situação nutricional observada no Assentamento Rural Ireno Alves dos Santos é similar aos inquéritos nacionais27,28 e de áreas rurais29,30. No que tange à obesidade abdominal de indivíduos hipertensos, Castro et al. 31 , ao estudarem o padrão dietético e o estado nutricional em indivíduos no Rio de Janeiro, verificaram que 25% destes apresentaram risco elevado para o desenvolvimento de DCV. Em estudo conduzido por Ewald et al.32 e outro por Souza et al.33, foi constatada a presença de obesidade abdominal em 58,06% e 35,1% dos participantes, respectivamente. Os achados do presente estudo mostram que nessa população 89,88% apresentarão obesidade abdominal, e que 93,1% dos indivíduos hipertensos com excesso de peso tinham risco muito elevado para o desenvolvimento de DCV. Com relação a outros fatores de risco associados a hipertensão arterial, dados semelhantes ao presente estudo foram observados em estudo realizado por Jardim et al.34 e Lessa et al.35 onde observou-se associação positiva entre a hipertensão arterial e abandono do tabagismo (ex-fumantes), e a maior prevalência de hipertensão arterial foi verificada entre os não-fumantes. Costa et al.20, verificaram em uma população de indivíduos hipertensos de área urbana, uma prevalência de 30% de fumantes, cerca de 12% dos entrevistados adicionavam quantidade extra de sal a sua alimentação, cerca de 65% ingeriam algum tipo de bebida alcoólica, aproximadamente 6% dos indivíduos referiram diabetes mellitus e 53% dos participantes apresentavam sobrepeso ou obesidade. Percebe-se então que esses resultados são similares aos resultados obtidos no presente trabalho, mesmo observando a diferença entre a região rural e urbana. Os hábitos alimentares inadequados têm sido relacionados a fatores de risco para doenças crônicas. Acredita-se que a dieta exerça papel fundamental na melhora da resposta imunológica, no retardo do envelhecimento e na prevenção de inúmeras doenças. O consumo adequado de vitaminas e minerais é importante para a manutenção das diversas funções metabólicas do organismo. Assim, a baixa ingestão de macro e micronutrientes podem levar a estados de carência nutricional, sendo conhecidas diversas manifestações patológicas por ela produzidas. Quanto à qualidade da ingestão alimentar observada, percebe-se que o consumo de legumes, verduras e frutas, como fonte de micronutrientes, não foi expressiva. Os resultados demonstram que o consumo desses alimentos, entre os assentados, foi insuficiente, como também foi verificado por Levy-Costa et al.36, segundo análise da POF de 2002 – 2003, para a população brasileira. Uma alimentação pobre em frutas e hortaliças e baseada em alimentos ricos em gordura e sal, como foi verificado no presente estudo, parecem ser precursoras de agravos à saúde, particularmente associada aos níveis pressóricos. É neste contexto que a relação sódio/ potássio vem sendo utilizada como marcador da qualidade da alimentação, visto que uma dieta mais adequada com relação ao sódio e ao potássio pode estar relacionada ao maior consumo de frutas e hortaliças e menor consumo de alimentos industrializados, como os embutidos e enlatados 37. No presente estudo observa-se um consumo insuficiente de potássio, associado ao excesso de sódio, o que segundo Fietz1 são fatores que se encontram diretamente relacionados ou sobrepeso e obesidade além de um aumento na prevalência de hipertensão arterial visto que ambos os fatores promovem um aumento na excreção de cálcio e consequentemente diminuição na sua reabsorção. Pode-se perceber em relação ao hábito alimentar da população estudada que, indivíduos hipertensos em excesso de peso possuem o costume de ingerir embutidos diariamente, fato preocupante já que o elevado consumo desses alimentos podem aumentar a ingestão diária de sódio, além do baixo consumo de frutas e verduras ricas em potássio, sendo este um importante fator de risco para os aumento dos níveis pressóricos, além de associação a fatores de risco para o desenvolvimento de DCV. No que se refere as proteínas, sabe-se que estas têm papel fundamental no organismo, agindo na reparação e construção de tecidos, além de fornecer energia e melhorar o funcionamento do organismo, funções importantes principalmente para trabalhadores rurais que exercem função de sobrecarga física38. Deve-se, no entanto atentar para os excessos como foi o observado no estudo em questão, pois em excesso as proteínas aumentam o risco de problemas renais e de osteoporose39. A ingestão de gorduras totais esteve próximo à adequação em estudo realizado por Bandoni e Jaime40, assim como os resultados aqui expostos, onde a maioria (70%) apresentou consumo adequado. No entanto deve-se atentar para a qualidade da gordura ingerida, visto que a maioria, 76,3% do grupo com excesso de peso, relatou ingerir gordura saturada diariamente, sendo este um importante fator de risco para o desenvolvimento de complicações associadas à obesidade. Segundo Mahan41 um consumo excessivo de lipídeos associado à presença de hipertensão, pode ocasionar elevação dos níveis de colesterol, triglicerídeos e fosfolipídeos na corrente sanguínea, sendo este um importante fator de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares e, consequentemente, mortalidade. Resultados encontrados por Enes42, por meio de análise referente à população da Região Norte e Sul, revelaram reduzida ingestão das vitaminas C, D e E entre a amostra em geral, tanto para o meio urbano como rural. Dados semelhantes ao presente estudo podem ser observados segundo análise da POF28 onde as maiores prevalências de inadequação foram também para cálcio, vitaminas, A, C, D e E. Esse resultado indica que as principais fontes desses alimentos não estão disponíveis ou não são consumidos pela população estudada. Deve-se salientar que a vitamina E exerce importante função antioxidante e confere proteção às membranas celulares contra danos causados pela produção de radicais livres. Assim como a vitamina C, onde sua deficiência tem sido considerada como fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Possui ainda ação na conversão do colesterol em ácidos biliares, no metabolismo iônico de minerais e no processo de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, no sistema imunológico e no processo de cicatrização43. A carência de vitamina C vem sendo associada a níveis mais altos na pressão arterial, ao risco de doenças cardiovasculares, além de desequilíbrios no metabolismo lipídico44. Os resultados do presente estudo demonstraram que, de maneira geral, o consumo da vitamina C, foi baixo (40%) e, portanto, motivo de preocupação. As principais fontes de vitamina C são as frutas e verduras frescas, onde também se observa consumo abaixo do recomendado. O baixo consumo (correspondente à média de consumo) de vitamina A, verificado no Assentamento, também foi observado em outras regiões do Brasil. Segundo VelásquezMeléndez et al.45, o valor correspondente à mediana de consumo de vitamina A de adultos na área metropolitana da grande São Paulo foi de 496 μg/dia, valor próximo ao observado no Assentamento Ireno Alves , que foi de 679,12 μg/dia para a população total. De acordo com Santos46, a hipovitaminose A ocorre, principalmente, nos bolsões de pobreza, nas regiões periféricas das grandes cidades e no meio rural. Devido à sua grande concentração em poucos alimentos, a vitamina A poder ter apresentado baixa ingestão em virtude do não consumo de suas fontes alimentares. Com base nos resultados obtidos, pode-se inferir que o consumo dessas vitaminas (A, C, D e E) no Assentamento Rural Ireno Alves dos Santos é classificado como baixo e revela uma situação preocupante, considerando a importância das mesmas para a manutenção da saúde. Segundo Fietz1 o cálcio é um mineral envolvido em vários processos metabólicos durante a infância, lactação e gravidez. Tem sido demonstrado que nos adultos acima de 35 anos existe correlação direta entre a idade e a perda de massa óssea e, consequentemente, maior risco para fraturas e osteoporose. Fato este que reforça a preocupação com a baixa ingestão de cálcio e vitamina D no Assentamento Ireno Alves, já que a maioria da população estudada é composta por mulheres e em faixa etária de maior risco de carências desse mineral. Quanto ao ferro, o presente estudo aponta que 63% das mulheres hipertensas estudadas apresentavam consumo abaixo do recomendado. Assim como em estudo realizado por Lopes et. al47 em um assentamento em Minas Gerais. O fator desencadeador mais importante da carência de ferro é o desequilíbrio entre a quantidade necessária para repor as perdas obrigatórias deste mineral, e assim garantir a manutenção das funções que desempenha, e a quantidade que a dieta oferece. Portanto, duas vias podem contribuir para o aparecimento de deficiências: o aumento das perdas, que causam aumento da demanda por reposição e a qualidade da dieta, esses fatos podem ser ainda mais agravados em se tratando de mulheres em idade fértil, visto que essas necessitam de quantidades maiores desse nutriente46. Sabendo a importância da ingestão de fibras na redução do colesterol plasmático, no auxílio do trânsito intestinal, redução de peso corporal e que pode proporcionar uma diminuição no consumo de alimentos mais calóricos, contribuindo assim para a manutenção de saúde48,49,50, tendo em vista que softwares utilizados para avaliação do consumo nutricional costumam por vezes superestimar a quantidade de fibras, os valores aqui encontrados foram satisfatórios. Resultados semelhantes ao presente estudo foram encontrados por Santos et al.51 em análise dos grupos de alimentos como fontes de nutrientes associados a ações positivas na redução da pressão arterial, constatando que: o leite como fonte de cálcio tem relação entre o seu baixo consumo e ocorrência de hipertensão arterial; o consumo de frutas, verduras e leguminosas como fonte de potássio, além de serem ótimas fontes do mesmo induzem a queda da pressão arterial, e ainda são fontes de fibras. Diante do exposto, percebe-se que os indivíduos em excesso de peso apresentaram forte inadequação com relação a todos os nutrientes e grupos da pirâmide alimentar sendo este um maior agravante para a saúde dos mesmos. CONCLUSÃO De acordo com o exposto no presente artigo, conclui-se que a presença de hipertensão arterial, excesso de peso e a ocorrência de hábitos alimentares errôneos entre a população estudada, indicam urgência de medidas capazes de atuar sobre esses fatores de risco, como ações educativas no que diz respeito à alimentação saudável, que podem interferir decisivamente sobre a determinação da prevalência e desenvolvimento de complicações no perfil de saúde desse grupo populacional. Percebe-se ainda que a avaliação do estado nutricional e alimentar é de grande utilidade e importância para o estabelecimento de estratégias de intervenção visando à prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que os marcadores de risco relacionados à nutrição, como os antropométricos e dietéticos, podem ser modificados com a adoção de estilo de vida saudável e controle do peso corporal, uma vez que um padrão alimentar mais balanceado e saudável pode e deve ser incentivado por promover, a longo prazo, mudanças mais consistentes no perfil antropométrico da população. Dado à carência de dados referentes a população residente em assentamentos e principalmente hipertensos pertencentes a essas localidades, ressalta-se também a importância de mais estudos na área, para que assim possa se estabelecer um perfil nutricional e alimentar dessa população. AGRADECIMENTOS Aos meus pais pelo amor carinho, dedicação e palavras de estímulo que foram tão importantes frente ao cansaço diário. E, sobretudo ao meu pai, que se foi em meio a minha caminhada acadêmica, porém sempre lembrado pela sua presença marcante, firme e segura, principalmente nos momentos de dificuldades ao longo desse trajeto. À minha querida amiga Carla Zanelatto, sempre presente, pela amizade, apoio e incentivo durante os anos acadêmicos, e, sobretudo na coleta de dados. Aos participantes pela hospitalidade, paciência e honestidade transmitidos durante a coleta de dados. À Secretária Municipal de Saúde de Rio Bonito do Iguaçu, pela imensa colaboração, não medindo esforços para que este se realizasse. À Professora Ms. Adriana Masiero Kühl pelas orientações e correções realizadas. À professora Ms. Angélica Rocha de Freitas pelo auxílio na análise estatística. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Fietz VR. Estado nutricional consumo de alimentos e condições socioeconômicas das famílias de assentamento rural em Mato Grosso do Sul. 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O Senhor (a), que é residente no Assentamento Ireno Alves dos Santos, portador de hipertensão arterial e participa das reuniões promovidas pela Secretaria de Saúde do município, está sendo convidado a participar voluntariamente desse projeto. O objetivo desse estudo é verificar o seu estado nutricional e seus hábitos alimentares, o que trará grande benefício para o Senhor (a), pois este conhecimento poderá trazer melhorias para a sua saúde. Participando desta pesquisa o Senhor (a) ainda receberá informações sobre o seu estado de saúde e orientações gerais para melhoria da qualidade de vida. Caso o Senhor (a) aceite participar desse estudo, passará por uma avaliação nutricional, onde será pesado em balança digital e sua estatura e circunferência da cintura serão aferidas. Essas medidas são essênciais para a sua avaliação nutricional. Além disso, o Senhor (a) será entrevistado e terá que responder a algumas perguntas e um questionário sobre seu dia alimentar habitual e frequência do consumo de determinados alimentos, e bebidas consumidos costumeiramente nas refeições, durante essa avaliação. Caso o Senhor (a) tenha dúvidas sobre alguma questão relacionada ao projeto de estudo, tem toda a liberdade de procurar pelas pesquisadoras, a Professora Adriana Masiero Kühl e a Acadêmica Cátia Cibele Semchechem nos telefones 42 99776444 ou 43 91574487, respectivamente. Sua participação nesse estudo é voluntária, sendo que não receberá nenhum valor em dinheiro, podendo retirar seu consentimento e deixar de participar do estudo a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ao Senhor (a). Mas quero lembrar que sua participação nesse estudo é fundamental para que ele se realize. Os resultados obtidos são estritamente confidenciais e em nenhum momento seu nome será divulgado. Eu, ______________________________________________________, li o texto acima e compreendi a natureza e objetivo do estudo do qual fui convidado a participar. Compreendi que tenho total liberdade em interromper minha participação no estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo a mim. Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo. _______________________________________ Assinatura do(a) Participante ___________________________ Cátia Cibele Semchechem Acadêmica de Nutrição Data ____/____/____ ____________________________ Adriana Masiero Kühl Professora Orientadora Anexo I Anexo II QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR Alimento Arroz Massas em geral Macarrão instantâneo Bolo Bolacha salgada Bolacha doce sem cobertura Bolacha recheada/cobertura Pão Feijão Ervilha Carne Carne bovina Carne de frango Carne de peixe Carne de porco Vísceras (fígado, coração, moela) Ovo (galinha e codorna) Salsicha Linguiça Mortadela Presunto/ Salame Leite Iogurte Queijo (prato, minas, etc) Requeijão Frutas Legumes/verduras/hortaliças Conserva (pepino, cenoura, etc.) Óleo vegetal Banha de porco Maionese industrializada Creme de leite Margarina Manteiga Tempero pronto (caldo de carne) Frituras/salgados(coxinha,esfiha) Nunca/ raramente <1 1-3 Mais 2-4 x/ 1x/ 1x/ x/ x/ 1x/dia semana semana dia mês mês Anexo III Anamnese e Avaliação Nutricional Nome:______________________________________________________________ Data de Nascimento: _____/____/_____ Idade:_______Gênero: ( ) F ( )M Naturalidade: ___________________________________ Avaliação do Estado Nutricional Fatores de risco: Peso (kg) Estatura (cm) CC (cm) IMC (kg/m²) Sim Fuma Consome bebida alcoólica Possui diabetes Costuma adicionar sal aos alimentos quando já servidos em seu prato? Dia Alimentar Habitual Refeição Café da manhã _______ h Lanche da manhã _______ h Almoço _______ h Lanche da tarde _______ h Jantar _______ h Ceia _______ h Alimento/bebida consumidos Quantidade Não