ESPECIAL Uma publicação da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Internacional - Abril/2006 MERCADO Prazos que prejudicam Na hora das negociações, os produtos brasileiros perdem competitividade para os de outros países exportadores devido à morosidade em todo o processo de remessa das cargas A capacidade de o Brasil exportar é prejudicada pela lentidão dos prazos de remessas das cargas ao exterior. “Na escolha por um país, ganha quem oferece, inclusive, o melhor prazo de atendimento. Nesse contexto, perdemos em competitividade”, diz Mário Fernandes da Costa, presidente da Abreti. Pág. 3 Programa beneficia importadores A Empresa Brasileira de InfraEstrutura Aeroportuária (Infraero) implantou no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), o programa VCP-Flex, que beneficia importadores com a redução de até 80% nas tarifas de armazenagem. Para participar do programa, o principal requisito é o comprometimento de clientes e empresas quanto à liberação das cargas em até 26 horas, a partir da entrada das mercadorias no terminal. O interessado deve fazer o preenchimento do termo de adesão ao VCP-Flex. Pág. 4 Movimentação de cargas: estudo aponta 39 dias para o produto brasileiro sair da fábrica até ser exportado Abreti participa da Intermodal O estande da Associação Bra- no país, diretores e funcionários da sileira das Empresas de Transporte entidade e das empresas associadas Internacional (Abreti) na 12ª Inter- discutirão no estande temas perti- modal South America promete ser nentes ao setor. um dos mais movimentados da feira. Esta é a primeira vez que a Abreti Ao longo dos três dias de evento, estará presente na Intermodal. Com o local será o ponto de encontro dois anos de existência, a associação das 12 maiores freight forwarders quer neste momento criar um conjunto do mundo, que, juntas, respondem de critérios que certifiquem todas as por 50% desse mercado. “Nossa empresas que trabalham de forma intenção é captar as informações correta, respeitando o recolhimento dos membros e dos visitantes para de impostos e os processos previs- incrementarmos o comércio exterior tos na legislação. Bax Global, DHL, brasileiro”, explica Wilmar Onedis Eagle, Expeditors, Hellmann, Jas, Gomes, diretor da Abreti. Preocu- Kuehne+Nagel, Panalpina, UPS, TNT pados com a melhoria nos trâmites e UTI são as empresas que fazem parte do comércio exterior e da logística da Abreti. OPINIÃO Problemas e tendências do modal marítimo Roberto Prudente* cidade. Prova disso é o porto de Santos de movimentação e teve um crescimento e investe na modernização e am- de 6,35%, gerando dificuldades para o pliação da capacidade de armaze- atendimento ao comércio exterior. Por namento e escoamento de produtos isso, é importante investir também em nos portos por meio dos terminais de portos alternativos, como o do Rio de contêineres que administra. Já o se- Janeiro (RJ) e de Paranaguá (PR). tor público não assume corretamente No entanto, apesar de todos os a sua parte, deixando de investir na entraves logísticos e de falta de infra-es- infra-estrutura portuária. São muitos trutura, o modal marítimo continua a ser Um dos fatores que influenciou esse os projetos, mas a maioria não sai a grande tendência para as exportações. movimento foi o aumento da frota do papel. Apenas três razões levam o exportador a de navios, aliado a uma redução optar por via aérea: o transporte de pro- do volume de carga exportada, É sempre bom lembrar que as deficiências percebidas no passado levando a uma oferta maior que a e ainda hoje poderão ser as mes- demanda. No ano passado, houve mas daqui a 20 anos. Portanto, os investimentos em infra-estrutura são urgentes e necessários para que os exportadores possam planejar seus negócios. Afinal, cerca de 80% das exportações brasileiras são feitas por meio do modal marítimo. “ É importante investir também em portos alternativos, como o do Rio de Janeiro e de Paranaguá ” O que se busca com os investimentos na infra-estrutura portuária é o equilíbrio para enfrentar os picos do dutos de alto valor agregado e de cargas comércio exterior. Se ontem o volume especiais, incluindo alguns tipos de pe- das exportações bateu recordes e recíveis que não podem ficar 15 dias em hoje está menor, poderá amanhã trânsito em um navio; a procura mesmo novamente crescer. O que se es- por parte dos fabricantes de produtos de pera é ter a tranqüilidade de saber alta tecnologia que têm utilizado o modal que, se houver aumento das vendas marítimo sempre que possível, pois as- externas, haverá suporte logístico sim conseguem reduzir seus custos de suficiente para atender o cliente no transporte; além dos atrasos de fabrica- prazo e com planejamento. ção que levam à opção por embarques De qualquer forma, a indústria com trânsito mais rápido. uma grande pressão para que os armadores disponibilizassem mais navios, mas agora o volume das exportações tem caído. Equilibrando essa distorção, o valor do frete para a importação tende a aumentar devido à maior procura. Como o comércio exterior está totalmente atrelado ao câmbio, as empresas se vêem obrigadas a enfrentar os altos e baixos da moeda norte-americana em relação ao real. Afinal, quem se arrisca a prever a cotação do dólar em novembro? Em um ano bastante volátil devido às eleições, é um grande desafio para todos saber como estarão a economia, as taxas de juros e a movimentação da Bolsa de Valores em face desse cenário político. brasileira e o mercado estão ativos e Durante os últimos meses houve re- pulsantes. Só o governo não reage a duções de frete na maioria das rotas, en- *Vice-presidente da Associação Brasileira contrando-se estabilizados no momento. das Empresas de Transporte Internacional (Abreti) EXPEDIENTE essa demanda com a mesma velo- 2 Arquivo Canal de Comunicação (SP), que no ano passado bateu recorde O setor privado faz a sua parte ESPECIAL Especial ABRETI é uma publicação da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Internacional (Abreti), produzida pela Canal de Comunicação – Diretora Responsável: Adriane Abdo – Editora: Ana Heloísa Ferrero – Projeto Gráfico e Editoração: Selma Quinália – Revisão: Juliana Boa – Colaboraram para esta edição: Ana Heloisa Ferrero, Angela Gusikuda, Maria Finetto e Marina Franco – Endereço para correspondência: Rua Tenente Gomes Ribeiro, nº 212 - Cj. 41 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP: 04038-040. Fone/Fax: 11 5084-6439, e-mail: [email protected] Os artigos assinados e opiniões são de total responsabilidade de seus autores. Nenhum material desta publicação pode ser reproduzido sem prévia autorização. ABRETI Redução da margem de lucro MERCADO Prazos que prejudicam Outro problema enfrentado pelos Matéria de capa agentes de cargas internacionais é a desvalorização do dólar em relação ao esteve tão bem. Somente nos últimos real. Mário Fernandes da Costa explica três anos, as exportações nacionais que, com a receita das empresas em cresceram aproximadamente 95%, pas- moeda norte-americana, a margem de sando de US$ 60,4 bilhões em 2002 para lucro diminui. “Nesta situação, temos US$ 118,3 bilhões no ano passado, se- que recuperar nossa rentabilidade, gundo dados do Ministério do Desenvolvi- cortando custos e renegociando os mento, Indústria e Comércio Exterior. Mas a preços com os clientes. Corte de capacidade do país em exportar é posta em custos pode implicar redução de em- cheque quando o assunto é prazo de re- pregos e perda de mão-de-obra qua- messa. A via-crúcis feita pelos produtos da lificada, que em geral demora para ser Arquivo Canal de Comunicação O comércio exterior do Brasil nunca fábrica até os portos ou aeroportos é velha conhecida dos executivos que trabalham no setor, dentro ou fora do Brasil. “Infelizmente, todos já estão acostumados com essa ineficiência brasileira. O prazo de atendimento faz parte da matriz de decisão na hora da compra de um produto ou serviço. Não somente o preço do produto é considerado, mas todos os Mário Fernandes da Costa: prazos comprometidos pelas precárias condições do transporte rodoviário e pelas barreiras alfandegárias nos portos e aeroportos do país componentes de custo. Nesse contexto, formada. Além disso, a capacidade de investimentos das empresas é afetada, uma vez que algumas passam a nem sequer gerar caixa para manter a atividade”, diz o presidente da Abreti. O cenário atual faz com que muitas companhias de freight forwarders recorram a bancos. “Normalmente, existem duas alternativas: a busca de dinheiro junto a bancos brasileiros que o Brasil perde competitividade”, afirma conhecido tráfego caótico de algumas possuem uma das maiores taxas de Mário Fernandes da Costa, presidente da cidades e as próprias barreiras alfande- juros do mundo, ou a renegociação Associação Brasileira das Empresas de gárias nas estradas, portos e aeroportos. de prazos de pagamento de fornece- Transporte Internacional (Abreti). Tudo isso contribui para que o tempo de dores, que já não têm mais muita mar- Um recente estudo do Banco Mundial transporte e, conseqüentemente, o custo gem para negociação. Você repassa aponta que um produto brasileiro leva, em sejam mais altos”, explica. O estudo isso para o seu preço, trazendo um média, 39 dias entre a saída da empresa do Banco Mundial aponta a Dinamarca risco a mais para o seu negócio.” até a entrega ao porto. Com essa mo- como o país mais desenvolvido nesse O alto risco de perda de divisas rosidade, o Brasil fica ao lado de países aspecto, pois demanda apenas cinco pode ser exemplificado também atra- como Butão e Camarões. Hoje, a média dias para a operação de exportação. vés da responsabilidade que cada mundial para esse processo é de 27 dias. Países como México e Argentina ne- companhia tem nos processos. “Em “Não saberia dizer se o número apontado cessitam, em média, de 18 e 23 dias, muitos casos nos responsabilizamos pelo Banco Mundial está correto, porém respectivamente. por erros de terceiros no decorrer da ele me parece um tanto exagerado. Exis- A possibilidade de unificar todo o operação, o que significa a possibili- tem casos em que realmente o atraso é processo de fiscalização dos órgãos dade de pagamento de multas, sem enorme, como falta de documentação ou brasileiros ligados à exportação para a garantia de que seremos reembol- outros entraves burocráticos”, observa o diminuir a demora pode ser uma das sados pelos responsáveis.” Diante presidente da Abreti. alternativas para agilizar parte do pro- dessas barreiras, Costa ressalta a No entanto, Costa lembra que, inde- cesso, segundo o presidente da Abreti. importância da ética nos procedi- pendentemente da média levantada pelo Para ele, se houvesse eficiência aliada mentos realizados pelas empresas estudo, a morosidade existe e há outros à tecnologia, o tempo dos processos associadas à Abreti. “A entidade é a fatores que complicam os prazos de seria reduzido. “A solução seria dotar o favor do trabalho correto. Em longo exportação. “Nosso transporte rodoviário sistema de fiscalização de ferramentas prazo, as companhias de sucesso sofre com a precariedade das rodovias modernas, buscando agilidade nos pro- são as que têm a ética como parte e infra-estrutura em geral, o que faz com cessos”, diz Costa. dos valores corporativos.” que se diminua a velocidade de escoamento de produtos. Soma-se a isso o já Continua na pág. 4 ESPECIAL ABRETI 3 Continuação da pág. 3 Tal modernidade já está a ca- folha salarial das empresas brasileiras conjunto de ações que vão desde minho dos portos e aeroportos sejam de funcionários que trabalham coisas básicas como o entendimento brasileiros. Brevemente, a Receita para cumprir obrigações governamen- da legislação, que muitos, na verdade, Federal deverá disponibilizar, em tais. “A Abreti apóia todas as iniciativas não compreendem, até a melhoria de caráter experimental, o Siscomex- que vão ao encontro da diminuição de estradas e sistemas de transportes, Carga, em que o importador comu- custos e agilização dos processos de simplificação tributária, modernização nica com antecedência o produto exportação, desde, é claro, que não de processos de fiscalização, que en- que dará entrada na aduana. Hoje, interfiram no dever da autoridade alfan- volvem muitos investimentos e muitos é preciso ver primeiro a mercadoria. degária e tributária”, admite. anos de desenvolvimento. O Brasil “É uma excelente iniciativa, é uma Para o presidente da Abreti, a tem capacidade para desenvolver tudo das formas de melhorar o trabalho solução para resolver este imbróglio isso. Temos tecnologia de ponta, mão- de fiscalização”, opina o executivo. envolve uma série de fatores. “Não de-obra qualificada, temos tudo para Atualmente, estima-se que 15% da existe fórmula mágica. É preciso um termos sucesso”, afirma. EM PAUTA e da Suécia. Para as associações que integram a Redução de tarifas em Viracopos Aliança, entre elas a Abreti, o grande arco Os importadores que utilizam o de apoios é que vai garantir o processo Aeroporto Internacional de Viraco- de melhoria do comércio internacional. pos, em Campinas (SP), poderão Aliás, o grande objetivo do movimen- ter redução de até 80% nas tarifas to é justamente desenvolver, propor, de importação de armazenagem, conseguir aprovação e implementar um com o VCP-Flex, novo programa da sistema aduaneiro moderno que proteja Infraero. O principal requisito para a os interesses nacionais e facilite o co- participação no programa é o com- mércio exterior. prometimento de clientes e empresas Procomex II quanto à liberação das cargas em até A atuação do Procomex este ano 26 horas, a partir da entrada das merDesses, 30 têm algum tipo de benefício será concentrada em três frentes: proces- O programa poderá ser aplicado tarifário para importação de mercadorias. sos, sistemas e temas. A primeira refere- em lotes de mercadorias com valor Portanto, o número potencial de usuários se à criação de grupos de trabalho para agregado mínimo de US$ 50 por do novo programa é alto. Alguns impor- analisar os processos/fluxos nas ope- quilo e valor CIF (custo + seguro + tadores, diz, já estão usando o programa rações de importação e de exportação frete) mínimo de US$ 5 mil, que não para a retirada dos mais diversos tipos dos modais aéreo, marítimo e terrestre, sejam contemplados por regimes de carga: de peças automobilísticas a visando à diminuição do tempo desses aduaneiros especiais da Receita Fe- eletroeletrônicos. processos. cadorias no terminal de cargas. Na segunda frente, serão oferecidos deral (como Linha Azul e Recof). O 4 VCP-Flex quer acelerar os processos Procomex I sistemas para modernização do fluxo de importação para colocar o terminal A Aliança Pró-modernização Logís- aduaneiro, enquanto na terceira serão de cargas de Viracopos entre os mais tica do Comércio Exterior (Procomex) já discutidos temas específicos e imediatos eficientes do mundo. comemora uma das metas alcançadas: que afetam o comércio exterior como a “O objetivo é premiar a eficiência a interação da sociedade civil com os Instrução Normativa (IN) 455, que estabe- da cadeia logística dos importadores órgãos governamentais. Desde a criação leceu os procedimentos para habilitação brasileiros”, afirma Carlos Alber- da Aliança, em 2004, iniciou-se um bom do responsável legal da pessoa jurídica to Cardoso Alcântara, gerente de entrosamento entre as 32 associações (importador/exportador) junto ao Sisco- logística da Infraero no Aeroporto fundadoras do movimento e represen- mex e credenciamento de representantes de Viracopos. Segundo ele, hoje o tantes da Secretaria Adjunta da Receita dos importadores e exportadores para aeroporto registra um número de Federal do Brasil e de aduanas interna- a prática de atividades relacionadas ao aproximadamente 500 importadores. cionais, como as da República Tcheca despacho aduaneiro. ESPECIAL ABRETI