VII ENCONTRO ENSINO EM ENGENHARIA PROGRAMA COOPERATIVO DOCÊNCIA, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA - APROXIMAÇÕES Maria Helena Silveira " Eu o desejo mais do que espero, á muitas coisas na república da Utopia, que mais do que esperar as desejo para nossas cidades." UTOPIA-Tomas Morus (1515) Inglaterra. Educação é necessidade e desejo, vontade de construir a vida, busca de constituir sentido que emerge da análise crítica da genealogia das crises. A crítica das experiências, por uma comunidade, pode ajudar a delinear uma pedagogia adequada às circunstâncias, melhorando a ação docente. O professor precisa a cada passo voltar a situar-se como um estrangeiro perplexo que interroga o mundo atual e seu próprio passado. Isso mantém as aberturas, as não- certezas, que lhe permitirão deslocar-se quando entender que há necessidade, nisso recriando-se. A cultura nunca é uma soma de fragmentos de experiências e conhecimentos: é sempre a organização mental geral de experiências e conhecimentos multiplamente interligados. Compreender que a sociedade é um sistema complexo de relações e interações leva a não excluir técnicas e tecnologias da sociedade. As invenções técnicas ocorrem dentro da sociedade. Tudo é produto da cultura, do trabalho dos homens. A sociedade é algo mais do que um conjunto de instituições hierarquizadas. As comunicações são formas de relação social e os sistemas de comunicação tem que ser vistos como instituições sociais. Falar que imprensa, rádio, televisão, vídeo, redes de computação alteraram o mundo é uma imprecisão. Há efeitos sociais evidentes de usos diversos, dessas tecnologias, em sociedades diferentes. Uma tecnologia é sempre social em sentido amplo, faz parte de diversas redes. Está ligada de modo vário e complexo a outras relações e instituições sociais. Cada tecnologia resulta de um recorte de conhecimentos necessários para vir a desenvolver habilidades e aplicações. Os problemas enfrentados nas engenharias, para desenvolvimento de produtos ou aparelhos, não são apenas avanços tecnológicos, muitas vezes são, também, questão de uma habilidade especial, de técnica. A técnica é vista como uma habilidade específica, particular ou, a aplicação de uma habilidade. Em qualquer reflexão mais geral é preciso relacionar as invenções técnicas a suas tecnologias e às instituições ou ao Estado. Na educação formal, o exercício docente exige o emprego de técnicas específicas, que encaminham as atividades do discente para constituir, em relações com diferentes pessoas e fontes, seus próprios conceitos, integrando simultaneamente o novo (para ele) nas amplas teias do conhecimento historicamente acumulado. Por isso é preciso afirmar que não há transmissão de saberes, nem aceleração de aprendizagem possível, o processo exige observação, reflexão, práticas, leituras, experimentação, etc., para constituir o percurso educativo. Cada um tem necessidade de um certo tempo para percorrer as atividades que o levarão a apropriar um tema, essa é a zona de desenvolvimento proximal ou aproximativo (Z.D.P), de que fala Vigotsky. Nesse período se garante um direito inalienável de aprender a incluir, excluir, conectar, ordenar, distinguir, deslocar, projetar, corrigir, manipular, classificar, intercalar, identificar - operar sobre o que se quer conhecer. Não basta ouvir/anotar. Não se pode separar conteúdos de ações pedagógicas. O ensino científico sendo formativo, desenvolve a mentalidade, leva a maior racionalidade. Tem que ser ativo. O trabalho prático-teórico do aluno não pode apenas reproduzir problemas e experiências já resolvidas, tem que apresentar soluções prováveis para algo de real. O planejamento das atividades do estudante torna-se o cerne da programação dos docentes num ensino moderno. Ensinar ciência é apresentar a gênese, as marcas da evolução dos conteúdos e das metodologias, dar um sentido cultural aos objetivos de cada disciplina e estimular, além da busca da cientificidade de cada campo, a coragem da aventura de investigar e experimentar. Cada tópico incluído no programa tem que aludir a algumas conexões e problematizar outras que indicam possibilidades de trabalho. Cada enfoque escolhido carrega as marcas da visão de mundo que se propõe a organizar o saber. Na organização do processo docente nunca há neutralidade e isenção. Cada um recorta ou reúne sensações, percepções e informações de acordo com seus interesses e uma concepção de ciência. A escolarização desenvolve seletivamente formas do que propõe como racionalidade, dos métodos que considera adequados, vindo a configurar, ou não, se houver rigidez autoritária, as capacidades que levarão a ultrapassar o espontaneísmo ingênuo ou, a submissão paralisante a linhas pré-estabelecidas. Observação e experimentação têm que ser controladas por hipóteses, confrontando o que se supõe ser verdade com aquilo que os resultados apontam. Isso de certa forma ensina a eficácia e a submissão às regras de investigação, evitando veleidades individualistas. Bons projetos saem de experiências acumuladas, de debates, de contraposições teóricas, que podem levar a passar de uma concepção a outra, porque ensinam a pensar criticamente. Muitas vezes, o que se chama observação científica, inclui uma mudança de ponto de vista filosófico, por ter sido criadas circunstâncias para poder ver o que antes estava vedado à especulação. Isso é ver com olhos da mente. Em princípio é preciso partir da curiosidade, do desejo, da habilidade(do professor) de apontar um futuro, um além que ainda precisa ser desenhado e pensado, do desafio de formular soluções para problemas reais, do projeto a ser configurado, da pesquisa e exame de alternativas prováveis. Ao valorizar mais as propostas oriundas de grupos estudantis, que apontam percursos novos do que a reprodução das certezas copiadas de computadores, livros ou codificações, criam-se hábitos intelectuais duradouros de fuga ao que já está feito e fechado. Mantém-se a inquietação, a crítica e a perplexidade que podem gerar o pensamento criador sobre a prática profissional em qualquer área e sobre a sociedade em que se quer viver. Ao praticar multifacéticamente o estudo de cada tema — unidade de conhecimento — o exame do entorno, do contexto, das relações histórico-sociais de sua produção pode-se, talvez, conseguir romper com a linha reprodutivista da educação, que tem anulado tantas jovens inteligências e sensibilidades, quanto esterilizado o entusiasmo de professores condenados a serem elos na cadeia das injustas hierarquias do poder, quando não conseguem como corpo docente planejar seu próprio trabalho. Desejar fazer ciência e docência ligadas a seu contexto é partir de que a conceituação de ambiente, hoje, não é como em outros tempos, analisar natureza. É natureza, técnica, tecnologia, ciência, trabalho, arte, artifício e história dentro de um projeto coletivo, num espaço que inclui verticalidades. Maria Helena Silveira - [email protected] Faculdade de Letras - UFRJ Departamento de Estruturas - Escola de Engenharia - CT - Ilha do Fundão Telefone: 0xx21-2562-8003