Plano Nacional de Educação, a greve das universidades federais, e os dilemas da educação nacional. Desde o final do ano de 2010 está sendo analisada por uma comissão especial de deputados o projeto de lei 8035/10 que institui o Plano Nacional de Educação (PNE) 2011/2020, sendo que após o projeto inicial ter recebido várias emendas, o debate sobre os destinos da educação no país será retomado. O PNE compreende a formulação de uma política de estado que terá duração de uma década e que determinará o caráter da educação nos seus mais variados níveis, indo desde a pré-escola até o ensino superior. Esse é um momento em que além de serem abertos espaços na conjuntura para que haja o debate sobre a educação nacional, possamos compreender os projetos educacionais em disputa, representados por diferentes concepções de sociedade. Desde a formulação do PNE 2001/2010 há um forte tensionamento entre os interesses do governo federal e do estado brasileiro, que vinculam toda a educação as demandas do mercado de trabalho e dos empresários, e os reais interesses da sociedade brasileira, que reivindica uma educação pública, gratuita e de qualidade. O PNE 2001/2010 foi formulado num contexto em que ainda ocorria uma reestruturação na política educacional do país, tendo como ponta de lança a Reforma Administrativa do Aparelho do Estado em 1995 seguido da estruturação da LDB (Lei 9.394/96), dos parâmetros curriculares nacionais (PCN), das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e do próprio PNE 2001/2010. Isso tudo abriu um campo que tem possibilitado, hoje, enormes ataques à educação pública. Um dos principais debates em foco nesse momento de discussão do novo PNE, assim como aconteceu em 2001, é sobre o financiamento da educação. Além de toda a lógica que o PNE carrega – não basta só fazer a crítica aos parcos recursos destinados a educação, mas também ao projeto de educação representado pelo PNE, um projeto vinculado com as demandas da burguesia – o debate sobre o financiamento ganha centralidade porque só a intenção política de resolver os problemas educacionais não basta, é preciso investimento e destinação de recursos e isso tem sido um dos principais percalçosencontrados para que haja a elevação da qualidade da educação. O percentual de recursos destinados a educação em 2001 evidenciou as contradições de um governo neoliberal, que ao invés de investir nas necessidades da sociedade brasileira preferia manter os privilégios dos banqueiros. O plano previa investimento de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) a serem alcançados até 2011. O artigo foi vetado por Fernando Henrique e o veto foi mantido pelo presidente sucessor, Lula da Silva. A falta de investimentos fez de um plano audacioso um fracasso, sendo que ao final da sua vigência 2/3 das suas metas não foram cumpridas, os índices de analfabetismo pouco se alteraram, a valorização dos professores não foi efetivada e todos os problemas apontados em 2001 ou permanecem os mesmos ou ainda são maiores que naquela época. Agora em 2012, ao ser reiniciado o debate sobre o PNE, novamente vimos as mesmas contradições presentes em 2001, onde um governo dito dos trabalhadores, e que teve como um dos pontos centrais na campanha de presidente a valorização da educação, investe 47% do orçamento público para pagamento de juros e amortização da dívida pública e não destina nem 5% deste mesmo montante para a educação. O novo PNE novamente prevê os mesmos 7% do PIB em educação (tanto para as públicas, quanto e especialmente para as privadas!) até 2020. Ao contrário, as organizações de trabalhadores e da sociedade brasileira reivindicam o investimento de 10% do PIB pra educação pública já. Após alguns embates, onde até os organismos coletivos do capital apontaram para a necessidade de investimento de 10% do PIB, o governo acenou com uma proposta mediada de 7,5%. Mas afinal, qual a relação entre estes números, a lógica de educação contida no PNE e a conjuntura da educação nacional? Desde o ano passado presenciamos, a nível nacional, uma grande articulação de lutas de professores que brotam por todos os cantos do país, indo desde lutas contra os corte no financiamento público para a educação até reivindicações pelo pagamento do piso nacional. Além disso, em 2011 presenciamos uma onda de ocupações de reitorias pelo movimento estudantil que sente os efeitos da contra-reforma universitária de Lula/Dilma/PT. Em 17 de maio desse ano, ganha força também a categoria dos docentes das instituições federais, que após um longo tempo sem reajuste salarial sofre com a precarização da sua carreira e inicia uma das maiores greves nacionais dos últimos anos, que hoje conta com 48 universidades com aulas paralisadas. Somado a isso, 16 universidades presenciam greves estudantis e também os servidores técnicos administrativos apontam para a greve a partir de 11 de junho. Desde 2004, quando foram instituídos os primeiros pontos, via decreto presidencial, da contra-reforma universitária (SINAES, PROUNI, Lei de Inovação Tecnológica) presenciamos o crescente sucateamento da universidade pública, que foi amplamente potencializada em 2007 com a aprovação do REUNI, projeto que amplia as vagas da universidade pública porém não prevê igual investimento em recursos humanos e infra-estrutura física, amplia a taxa de aprovação dos egressos (90%, implementando quase que uma aprovação automática) e aumenta o número de professores por aluno. Não é por acaso que uma das principais reivindicações de estudantes, professores e também técnicos administrativos nas universidades públicas hoje são, para além de questões corporativas, a falta de condições para aulas, falta de materiais, salários defasados, formação precária, entre outros. Cada vez mais vimos professores doentes, que se tornam aulistas e não tem condições de trabalhar com pesquisa e extensão (rebaixando o nível da qualidade de ensino); estudantes indignados com as condições da educação e que lotam assembléias estudantis; e também a falta de diálogo com os governos para encaminhar a resolução destes problemas. Toda essa política de precarização do ensino superior público será levada também para outros níveis de ensino com a aprovação do PNE 2011/2020. Todas as metas do REUNI, a política de colocar as demandas dos empresários a frente das necessidades dos trabalhadores, o fortalecimento do setor privado e o desleixo com a educação pública serão aprovadas numa só lei, tornar-se-ão política de estado. Nisso tudo a greve nacional das universidades públicas serve como um termômetro que aponta para qual será o rumo da educação nacional caso o novo PNE do governo seja aprovado. Diante disso, há a necessidade do fortalecimento da luta dos trabalhadores por uma educação que realmente contemple suas necessidades e, que para que isso aconteça, é preciso também dar combate a política do governo federal de desmonte da educação pública, enfrentando a contra-reforma universitária e também tendo posicionamento contrárioem relação ao novo PNE. Por 10% do PIB para a Educação Pública JÁ! Contra a Reforma Universitária de Lula/Dilma/PT! Expansão tem que ser com qualidade! Fora REUNI e “Novo” PNE!