Sala Especializada 11 - Destruição dos restos culturais e rebrotes
DESTRUIÇÃO QUÍMICA DOS RESTOS CULTURAIS
MODIFICADOS PARA TOLERÂNCIA A HERBICIDAS
DE
ALGODOEIROS
GENETICAMENTE
Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Embrapa Algodão- Núcleo Cerrado- Goiânia-GO
Introdução
O cultivo do algodoeiro geneticamente modificado para tolerância a herbicidas aumentou
consideravelmente no mundo, inclusive no Brasil, nos últimos anos. No cerrado brasileiro é
crescente a demanda por essa tecnologia, tendo em vista os benefícios que ela pode propiciar à
cotonicultura, como mais uma estratégia do manejo integrado das plantas daninhas.
Os eventos transgênicos atualmente disponíveis para a tolerância do algodoeiro a herbicidas
foram desenvolvidos com base nas moléculas glufosinato de amônio (algodão Liberty Link - LL) e
glifosato. Para este último herbicida existem três eventos liberados no Brasil, o Roundup Ready (RR),
o Roundup Ready Flex (RF) e o Glytol.
O cultivo de algodoeiros transgênicos tolerantes a herbicidas trouxe comodidade e facilitou
o manejo em várias regiões do planeta, embora problemas de resistência de algumas espécies
invasoras a esses herbicidas tenham aumentando substancialmente nos Estados Unidos, devido a
falhas na execução do manejo integrado das plantas daninhas.
No Brasil, devido à necessidade de destruição dos restos culturais do algodoeiro após a
colheita, é fundamental aprimorar a destruição química por meio de herbicidas, principalmente nos
algodoeiros tolerantes ao glifosato, este um dos principais herbicidas usados no processo de
manejo fitossanitário pós-colheita de algodoeiros convencionais não transgênicos para tolerância a
herbicidas (NTTH).
Uso de herbicidas na destruição dos restos culturais de algodoeiros transgênicos
As estruturas vegetativas e reprodutivas originadas nas rebrotas dos restos culturais do
algodoeiro servem de alimento e abrigo para insetos e fitopatógenos durante a entressafra, os quais
no cultivo seguinte podem atacar novos algodoeiros com maior intensidade. Em virtude desses
sérios problemas fitossanitários, legislações nos principais estados brasileiros produtores de
algodão estabelecem prazos para eliminação dos restos culturais, bem como determinam o período
de vazio sanitário.
Na prática de destruição dos restos culturais, muitos agricultores utilizam implementos
pesados de preparo do solo, como as grades aradoras e as grades niveladoras. Esses equipamentos
movimentam excessivamente o solo, eliminam a cobertura vegetal que o protege da erosão,
favorecem a desagregação do solo e a formação de camadas compactadas na subsuperfície.
Consequentemente, esse manejo não condiz com os princípios básicos de conservação do solo e
com o sistema plantio direto (SPD), o qual preconiza o não revolvimento do solo, sua cobertura
permanente com resíduos vegetais e a rotação de culturas.
A roçagem ou a trituração dos restos culturais do algodoeiro, e o uso dos herbicidas 2,4-D e
o glifosato, têm sido as técnicas mais utilizadas para o controle da rebrota de algodoeiros
convencionais NTTH em áreas sob SPD. A inserção dos algodoeiros transgênicos tolerantes a
Brasilia, 3-6 Setembro 2013
herbicidas alterou o sistema de manejo da cultura e, por consequência, o processo de destruição
química deve ser ajustado.
Ainda são incipientes os trabalhos disponíveis na literatura brasileira sobre a destruição
química dos restos culturais de cultivares transgênicas de algodoeiro. Em experimentos realizados
pela Embrapa (dados ainda não publicados) no cerrado de Goiás, na região de Santa Helena de
Goiás, durante dois anos, observou-se que os herbicidas chlorimuron ethyl, diclosulam, glufosinato
de amônio, carfentrazona, paraquat e metsulfurom metílico, em associação ao 2,4-D amina, não
foram efetivos para o controle da rebrota dos algodoeiros RF. Em trabalho realizado em 2011
verificou-se que o melhor tratamento foi obtido por meio da associação dos herbicidas 2,4-D,
glufosinato de amônio e carfentrazona, em três aplicações, sendo a primeira com 2,4-D amina
[1.000 g/ha do ingrediente ativo (i.a.)] + glufosinato de amônio (400 g/ha do i.a.) aos 30 dias após a
trituração (DAT) dos restos culturais; a segunda aplicação com carfentrazona (50 g/ha do i.a.) aos
50 DAT e a terceira novamente com carfentrazona (50 g/ha do i.a.) aos 70 DAT. Porém, como a
população na época da colheita foi de 70.000 plantas/ha, estimou-se que em um hectare
sobrariam, depois de 20 dias da última aplicação, cerca de 5.600 restos culturais de algodoeiros
com rebrota. Três aplicações sequenciais dos herbicidas paraquat e carfentrazona, no intervalo de
20 dias entre cada aplicação, também não foram suficientes com o objetivo de controlar as
rebrotas dos algodoeiros. O trabalho foi repetido em 2012 em Santa Helena de Goiás, nas mesmas
condições de solo, tendo sido verificado novamente que o melhor tratamento foi o mesmo do ano
anterior que teve como base o 2,4-D, o glufosinato de amônio e a carfentrazona, porém a
porcentagem de rebrota foi alta (77%), ou seja, a porcentagem de controle foi de apenas 23%.
Considerando a população média por ocasião da colheita, que foi de 100.000 plantas/ha, verificouse que em um hectare sobrariam, depois de sessenta dias da aplicação dos herbicidas dos melhores
tratamentos, cerca de 77.000 algodoeiros RF. Em síntese, mesmo os melhores tratamentos não
foram suficientes para destruir os restos culturais.
Em algodoeiros convencionais NTTH, também tem sido observado que, normalmente,
nenhum herbicida por si só proporciona 100% de controle dos restos culturais, conforme trabalhos
citados por Silva et al. (2011). No caso do algodoeiro transgênico LL, devido à possibilidade de uso
do glifosato no processo de destruição química, os melhores resultados têm sido verificados por
meio da mistura de 2,4-D + glifosate, similarmente ao obtido para os algodoeiros convencionais
NTTH.
Considerações finais
Os resultados obtidos até então demonstram que o método químico de destruição dos
restos culturais de algodoeiros tolerantes ao glifosato não pode ser recomendado de forma isolada,
devendo-se associá-lo aos métodos físico (mecânico) e cultural. Porém, é fundamental aprimorar os
estudos nessa linha de pesquisa, envolvendo doses de novas e antigas moléculas herbicidas e suas
associações. Também é importante estudar época e horário de aplicação, volume de solução a ser
aplicado, associação de surfactantes ou espalhantes adesivos para facilitar a absorção dos
herbicidas pelos algodoeiros fisiologicamente estressados no final do ciclo, tendo em vista a
necessidade de aumentar a eficiência de controle.
Algodoeiros geneticamente modificados para tolerância aos herbicidas hormonais 2,4-D e
Dicamba estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos, inclusive com tolerância concomitante aos
herbicidas glifosato, glufosinato de amônio e 2,4-D. Apesar de ser uma opção interessante para o
Brasilia, 3-6 Setembro 2013
manejo de plantas daninhas na cotonicultura brasileira, essa tecnologia poderá dificultar ainda mais
a destruição química dos restos culturais do algodoeiro.
Referência bibliográfica
SILVA, O.R.R.F. da; LAMAS, F.M.; FERREIRA, A.C. de B.; SOFIATTI, V.; MEDERIOS, J. da C. Manejos
dos restos culturais do algodoeiro. In: FREIRE, E.C. (Ed.) Algodão no cerrado do Brasil. Associação
Brasileira dos Produtores de Algodão – ABRAPA. Aparecida de Goiânia, 2011, p.331-344.
Brasilia, 3-6 Setembro 2013
Download

destruição química dos restos culturais de algodoeiros