Projeto Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste Nota Técnica 13 CONSOLIDAÇÃO DOS ESTUDOS: SÍNTESE DOS RESULTADOS www.redesist.ie.ufrj.br www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br 1 SUMÁRIO GRANDES PROJETOS FEDERAIS: IMPACTOS SOBRE AS ECONOMIAS DOS ESTADOS DO NORDESTE ...................................................................................... 03 CARACTERIZAÇÃO E IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DO ESTADO DE ALAGOAS E PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS .......... 28 INFRAESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O PAC NA BAHIA, .......................... 49 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS EM ESTADOS NORDESTINOS - CEARÁ ........................................................................................ 76 INVESTIMENTOS EM INFRA-ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O CASO DO PAC NO MARANHÃO ............................................................................................ 100 IMPACTOS DOS GRANDES PROGRAMAS FEDERAIS E REFLEXÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PIAUÍ . ............................................................................................................................... 123 OS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA PARAIBANA E A NECESSIDADE DE UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO .................... 143 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DE PERNAMBUCO E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS ............................................. 163 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO RIO GRANDE DO NORTE .................................................................................................................... 183 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO ESTADO DE SERGIPE E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS ............................................................................ 208 2 GRANDES PROJETOS FEDERAIS: IMPACTOS SOBRE AS ECONOMIAS DOS ESTADOS DO NORDESTE Valdênia Apolinário Maria Lussieu da Silva Odair Lopes Garcia Introdução Esta Nota Técnica 13 é uma consolidação dos estudos e sintetiza os resultados apresentados nas Notas Técnicas 10 e 11 dos estados contemplados na pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados Nordestinos”, precisamente no que se refere aos impactos dos Grandes Projetos Federais nos estados do Nordeste1. O projeto de pesquisa foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio do Fundo Especial de Projetos (FEP) e realizado por inúmeras universidades brasileiras, a partir da experiência da RedeSist, ao contar com os seus membros, enquanto coordenadores estaduais. A primeira fase do projeto intitulada “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil” foi realizada entre maio de 2009 e fevereiro de 2010, e envolveu 13 (treze) estados, a saber: Acre, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Esta fase contemplou um histórico da atenção dada aos arranjos em cada um dos estados selecionados, enfatizando como os vários responsáveis pelo apoio percebem o conceito, operacionalizam as ações, se defrontam com os desafios e vantagens em atuar a partir do enfoque em Arranjos Produtivos Locais (APLs). A segunda fase do projeto intitulada “Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados Nordestinos”, objeto desta Nota Técnica, foi realizada entre os meses de março a setembro de 2010, abrangendo os nove estados da Região Nordeste, e 1 As versões completas das 70 Notas Técnicas Estaduais decorrentes do estudo podem ser encontradas em www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br. É parte integrante deste estudo uma primeira etapa que trata da Análise do Mapeamento e Políticas para APLs no Norte, Nordeste e Mato Grosso, cujos resultados compuseram um primeiro livro. 3 teve por objetivo avaliar as informações referentes à identificação, caracterização, estágio de execução dos grandes projetos federais; refletir sobre os seus impactos nas economias estaduais enfatizando o período 2007-2009; e, propor ações para o desenvolvimento dos estados envolvidos. Constituem os Grandes Projetos Federais (GPFs) aqueles relacionados: (i) ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); (ii) à Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP); (iii) ao Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT); (iv) ao Programa Territórios da Cidadania (PTC); (v) e às Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs). O período em que os GPFs são idealizados coincide com um momento em que os indicadores da economia brasileira se mostram relativamente estáveis, a despeito da crise internacional recente. Aspectos como taxa de juros, inflação, câmbio e controle fiscal sinalizam a possibilidade de crescimento do investimento no país e de enfrentamento de problemas que ainda persistem, a exemplo dos que afetam a competitividade brasileira, inibem a produtividade, mantêm a pobreza e as desigualdades regionais/sociais. Desta forma, os projetos acima têm por meta contribuir para o estabelecimento uma infraestrutura econômica e social capaz de superar os entraves à promoção do desenvolvimento mais acelerado e sustentado do Brasil. Quanto à metodologia adotada para analisar os impactos dos GPFs, advertese que a preocupação central não foi estimar numericamente os efeitos destes sobre as economias estaduais, mas indicar em que medida tais projetos superam/minimizam os entraves ao desenvolvimento das economias dos estados da região nordeste, resguardando assim a endogenia destes em relação aos desafios estaduais. Para a realização dos estudos foram coletados e sistematizados dados e informações disponíveis em sites e documentos oficiais, dentre outras fontes secundárias. Equipes estaduais também organizaram e participaram de eventos afins aos temas. Além destas fontes, entrevistas realizadas com policy makers, gestores públicos, lideranças políticas e empresariais foram relevantes análise dos impactos dos projetos e para a proposições de políticas. No rol dos entrevistados em alguns estados encontram-se Secretarias Estaduais, Companhia Docas, Petrobras, Caixa Econômica Federal (CEF), Federação das Indústrias, Termelétricas, Fundação Nacional de Saúde, Departamento Nacional de Infra4 Estrutura de Transportes (DNIT), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Instituto do Meio Ambiente, Universidades Federais, dentre outros. Este capítulo contém três seções, além desta introdução. A segunda apresenta a caracterização e análise dos Grandes Projetos Federais nos estados. A terceira é dedicada às considerações finais e a quarta seção apresenta os estudos realizados nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. 2 Caracterização Análise dos Impactos dos GPFs no Nordeste/Estados Os Grandes Projetos Federais abrangem várias dimensões, com destaque para as econômicas e sociais. Destes, quatro são voltados mais diretamente para as atividades econômicas, quais sejam: PAC, PNLT, PDP e ZPEs. As ações nas áreas de infraestrutura logística estão contempladas no PNLT e PAC. Este último também inclui ações de infraestrutura energética, enquanto as atividades industriais estão contempladas pela PDP e ZPEs. De outra parte, empreendimentos voltados para a infraestrutura social e urbana fazem parte do PAC e do PTC. O Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) constitui um modelo de planejamento nacional de caráter indicativo para o sistema federal de transportes. Foi elaborado nos anos de 2006/2007 para servir de base para os investimentos contidos no Plano Plurianual (PPA) de 2008-2011. O Plano tem caráter nacional e federativo e é direcionado à multimodalidade da matriz de transportes, tendo por princípio beneficiar o território, a segurança nacional e o meio ambiente. Entre seus objetivos estão a retomada do processo de planejamento, a otimização e racionalização dos custos e a inversão da matriz de transporte, dando preferência ao uso mais intensivo e adequado das modalidades ferroviária e aquaviária. Uma ressalva ao PNLT refere-se à metodologia adotada, uma vez que esta toma por base os 110 mais importantes produtos da economia brasileira, que representam 90% do PIB. Todavia, tal fato pode ter deixado de considerar importantes produtos vendidos e comprados nos estados e, conseqüentemente, os trechos por onde se dão os fluxos de comércio. Um exemplo é que importantes BR’s em alguns estados não foram contempladas no Plano, embora devam ter 5 aumentada sua demanda com a expansão de atividades econômicas a médio e longo prazo. O PAC foi lançado em 22 de janeiro de 2007, sendo constituído por um conjunto de medidas que visam contribuir para a elevação das taxas de crescimento econômico do país. As medidas estão organizadas em cinco blocos: investimento em infraestrutura; estímulo ao crédito e financiamento; melhora do ambiente de investimento; desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário; e, medidas fiscais de longo prazo. Os investimentos em infraestrutura têm por objetivo eliminar os principais obstáculos que restringem o crescimento da economia, reduzir os custos e aumentar a produtividade das empresas, estimular o aumento do investimento privado e reduzir as desigualdades regionais. Os empreendimentos em logística previstos no PNLT e que estão em alguma fase de execução estão contidos no PAC. Assim, dada a sua importância e magnitude, os investimentos em infraestrutura previstos no PAC/PNLT receberam atenção especial na presente pesquisa. No PAC, o foco está direcionado a três eixos essenciais: i) Logística (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); ii) Energia (geração e transmissão de energia elétrica, produção e refino de petróleo e gás natural, fontes alternativas e combustíveis renováveis); e, iii) Infra-estrutura social (difusão de energia elétrica para a zona rural, saneamento básico, construção de moradias, metrôs e ampliação do acesso a recursos hídricos). Cabe destacar que o PAC possui empreendimentos considerados exclusivos e regionais. Os primeiros dizem respeito às obras realizadas em cada uma das economias estaduais. O segundo são investimentos que abrangem no mínimo duas unidades da federação. Dentre estes últimos, destacam-se em importância para a economia regional os projetos da Ferrovia Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco. Este último também se destaca pelo caráter polêmico que o acompanha. A tabela 1 compara os investimentos previstos em empreendimentos exclusivos no Brasil e Nordeste. No lançamento do PAC em 2007 estavam previstas ações que totalizavam R$ 321.311,80 milhões de investimentos no país. Considerando os três eixos que constituem o Programa, R$ 46.997,30 milhões (14,63%) correspondiam a obras e ações na infraestrutura logística, R$ 187.736,90 6 milhões (58,43%) na infraestrutura energética e R$ 86.577,60 milhões (26,94%) na infraestrutura social e urbana. Observa-se que após o acréscimo aos valores de 2007 a maior expansão em nível nacional ocorreu nas inversões na infraestrutura social e urbana (acréscimo de R$ 134.559,30 milhões ou 155,42%), seguido do eixo da infraestrutura logística (expansão de R$ 25.187,90 milhões ou 53,59%) e energética (R$ 47.825,30 milhões ou 25,47%). Na região os incrementos seguiram a mesma ordem, mas a expansão nos gastos com o eixo social e urbano cresceu relativamente menos (89,94%), enquanto o aumento das previsões com a logística foi muito semelhante ao verificado em nível nacional (56,56%) e a previsão de gasto na infraestrutura energética cresceu o dobro da nacional (51,03%). Tabela 1 - Evolução dos investimentos previstos em empreendimentos exclusivos no Brasil e Nordeste R$ milhões 2007-2010 UF Pós 2010 SOCIAL E LOGÍSTICA ENERGÉTICA TOTAL GERAL SOCIAL E TOTAL LOGÍSTICA ENERGÉTICA URBANA TOTAL URBANA BR 46.997,30 187.736,90 86.577,60 321.311,80 667,2 124.748,10 81,4 125.496,70 446.808,50 NE 10.202,10 27.421,70 23.050,90 60.674,70 0 6.345,80 81,4 6.427,20 67.101,90 VALOR DOS EMPREENDIMENTOS EXCLUSIVOS - 2009 BR 72.185,20 235.562,20 221.136,90 528.884,30 7.728,70 544.314,20 529,70 552.572,60 1.081.456,90 NE 15.972,50 41.414,70 43.782,50 101.169,70 1.505,40 97.455,00 304,70 99.265,10 200.434,80 ACRÉSCIMOS AOS VALORES DE 2007 BR 25.187,90 47.825,30 134.559,30 207.572,50 7.061,50 419.566,10 448,30 427.075,90 634.648,40 NE 5.770,40 13.993,00 20.731,60 40.495,00 1.505,40 91.109,20 223,30 92.837,90 133.332,90 336,33 550,74 340,31 142,04 1435,74 274,32 1444,45 198,70 TAXA DE VARIAÇÃO BR 53,59 25,47 155,42 64,60 NE 56,56 51,03 89,94 66,74 1.058,38 Fonte: www.brasil.gov.br/pac/relatorios_estaduais. PAC 2007 e Balanço do 3º ano. (Elaboração própria)/NT10-RN 7 Quanto ao Programa Territórios da Cidadania (PTC), trata-se do mais abrangente instrumento de implementação de políticas públicas com enfoque territorial e foi criado por decreto do Governo Federal em 28 de fevereiro de 2008. Os Territórios da Cidadania têm por base os Territórios Rurais definidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), desde 2003. Tais espaços são formados por conjuntos de municípios unidos pelo mesmo perfil econômico e ambiental e com identidade e coesão social e cultural. A gestão de cada um dos territórios é feita por colegiados de composição paritária de membros do Estado e da sociedade civil. Salienta-se que a participação colegiada existente no PTC e a capacidade de integrar várias políticas e ações são reconhecidas como méritos deste programa. O objetivo do programa é contribuir para a superação da pobreza e das desigualdades sociais no meio rural (inclusive de gênero, raça e etnia), desenvolvendo aquelas áreas por meio de ações que contemplem: i) integração das políticas públicas com base no planejamento territorial; ii) participação social na gestão das políticas públicas; iii) ampliação da oferta dos programas básicos de cidadania; iv) integração produtiva das populações pobres e dos segmentos sociais mais vulneráveis; e, v) valorização da diversidade social, cultural, econômica, política, institucional e ambiental das regiões e das populações. Cada um dos grandes temas abrangidos pelo PTC contempla inúmeras ações. O Quadro 1 apresenta exemplos de ações, por temas, nos estados. Direitos e desenvolvimento social: Programa Bolsa Família – Benefício Bolsa Família; Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa com Deficiência; Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa Idosa; Serviço Sócio-Educativo do PETI). Organização sustentável da Produção: Qualificação Social e Profissional de Trabalhadores para o Acesso e Manutenção ao Emprego, Trabalho e Renda em Base Setorial (PlanseQs); PAA - Aquisição de Alimentos Provenientes da Agricultura Familiar; Crédito Pronaf; Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Estruturação e Dinamização de Arranjos Produtivos Locais – CONVIVER; Cresce Nordeste; Nordeste Territorial; Crédito Pronaf; Programa de Implementação e Modernização de Centros Vocacionais Tecnológicos – CVT. Saúde, saneamento e acesso a água: Ampliação do Acesso da População dos Territórios à Atenção Básica por meio da Estratégia Saúde da Família; Ampliação da Cobertura do Trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde à População dos Territórios da Cidadania; Ampliação do Acesso à Saúde Bucal na Atenção Básica. Educação e cultura: Capacitação e Formação Profissional de Nível Médio e Superior para a Reforma Agrária; Implantação de Casas Digitais Rurais; Programa Arca das Letras; Brasil Alfabetizado; ProJovem Campo – Saberes da Terra; Expansão das Escolas Técnicas. 8 Infraestrutura: Concessão de Crédito Instalação às Famílias Assentadas; 2) Implantação e Recuperação de Infra-estrutura de Projetos de Assentamento; Reestruturação de Unidades Produtivas Financiadas pelo Fundo de Terras e da Reforma Agrária; Programa Luz Para Todos; FNHIS - Habitação de Interesse Social; FNHIS - Planos Habitacionais de Interesse Social). Apoio à gestão territorial: Apoio ao Fortalecimento da Gestão Social nos Territórios. Ações Fundiárias: Obtenção de terras para Assentamento de Trabalhadores Rurais. FONTE: PTC. Elaboração Própria/NT10-RN. Quadro 1 – Síntese das Ações previstas do PCT segundo temas Segundo a distribuição dos recursos nos estados, dois temas respondem por grande parte dos recursos aplicados: ‘Direitos e desenvolvimento social’, que contempla os programas de transferência direta de renda, especialmente o Bolsa Família; e, ‘Organização sustentável da produção’, cujos programas visam financiar o custeio e o investimento agropecuários, sendo reembolsáveis. Os impactos mais imediatamente observados destas ações são a redução da pobreza absoluta e da pobreza extrema na Região Nordeste e nos estados. Por outro lado, os recursos alocados aos programas ligados à ‘Organização sustentável da produção’ tiveram comportamento crescente nos últimos anos, o que contribuiu para a geração de indicadores positivos em inúmeras atividades agropecuárias nos Territórios. No tocante à Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), esta foi lançada em maio de 2008 objetivando consolidar o crescimento de longo prazo da economia brasileira, aproveitando o novo cenário de consolidação da estabilidade e previsibilidade econômica. Logo, as metas foram pensadas para uma economia em um ambiente favorável de crescimento e sustentabilidade. Porém, o desencadear da crise financeira internacional restringiu parte das propostas da PDP. O crescimento deveria ser alcançado através do cumprimento de macrometas acordadas com o setor privado, que incluem a ampliação do investimento fixo, da participação das exportações brasileiras no comércio internacional, elevação dos gastos privados em P&D e a dinamização das MPEs. Para atingir essas metas, a política dispõe de instrumentos ações e programas subdivididos em três níveis de política: i) ações sistêmicas, focadas em fatores geradores de externalidades positivas para o conjunto da estrutura produtiva; ii) programas estruturantes para 9 sistemas produtivos, orientados por objetivos estratégicos e tendo por referência a diversidade da estrutura produtiva doméstica; e, iii) destaques estratégicos, temas de política pública escolhidos deliberadamente em razão da sua importância para o desenvolvimento produtivo do País no longo prazo. Os programas para destaques estratégicos que compõem a PDP foram estabelecidas seis dimensões: i) ampliação das exportações; ii) fortalecimento das MPEs; iii) integração produtiva da América Latina e Caribe, com foco inicial no Mercosul; iv) integração com a África; v) produção sustentável; e, vi) regionalização. A Tabela 2 compara os desembolsos do BNDES2 em Programas para Destaques Estratégicos, entre as regiões brasileiras e estados nordestinos. Os dados revelam que as regiões Sudeste e Sul absorveram a maior parte dos recursos desembolsados, para todos os temas. No Nordeste, os estados das Bahia, Pernambuco e Ceará respondem pela maior participação nos desembolsos, também para todos os temas. No tema ‘Exportações’ os estados da BA, PE e CE em conjunto foram responsáveis por praticamente 100% dos recursos absorvidos nos anos analisados neste ‘destaque’. Em ‘Dinamização de MPEs’ os estados da BA, PE e CE em conjunto foram responsáveis por praticamente 70% dos recursos absorvidos nos anos analisados. Para o destaque estratégico ‘Produção sustentável’ os recursos desembolsados são bastante baixos se comparados aos demais, o que sugere que este tema pouco sensibilizou a demanda privada. 2 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o principal responsável pela execução orçamentária da PDP. Assim, como forma de avaliar tal política, utilizou-se como proxy os recursos despendidos pelo BNDES na PDP no período 2008-2009. 10 Tabela 2 – Desembolsos do BNDES em Programas para Destaques Estratégicos da PDP (2008-2009). EXPORTAÇÕES NORDESTE 2008 % 2009 % 127.409.194 0,99 149.874.991 0,96 AL - BA CE 67.043.912 36.489.100 MA PB PE - - 17.073.864 PI - RN 6.802.318 SE - CENTRO OESTE 7.013.348 0,05 NORTE 284.409.520 - 52,62 28,64 - - 13,40 - 5,34 - - 75.585.103 4.777.515 - - 69.512.373 - - - - 50,43 3,19 - - 46,38 - - - 0,15 0,60 SE CENTRO OESTE 22.697.700 2,22 94.095.000 SUDESTE SUL 10.505.945.822 1.906.453.594 81,88 14,86 12.013.980.066 3.349.135.064 76,87 21,43 NORTE SUDESTE SUL 403.178.615 3.904.390.896 2.834.180.889 BRASIL 12.831.231.478 100,00 15.629.782.821 100,00 DINAMIZAÇÃO DE MPE's NORDESTE 2008 % 2009 % 1.011.053.124 11,08 1.471.267.918 12,66 AL 22.443.458 2,22 46.168.695 3,14 BA 321.976.383 31,85 450.992.155 30,65 CE 154.073.124 15,24 248.042.897 16,86 MA 67.872.127 6,71 110.246.086 7,49 PB 55.878.677 5,53 84.667.771 5,75 PE PI 254.355.834 25,16 28.983.545 2,87 299.761.944 20,37 RN 64.254.108 6,36 65.712.725 102.305.147 4,47 6,95 41.215.868 4,08 63.370.472 973.269.341 10,66 1.065.489.818 4,42 494.464.162 42,78 31,06 5.046.778.168 3.541.801.189 BRASIL 9.126.072.865 100,00 11.619.801.255 4,31 9,17 4,26 43,43 30,48 100,00 CENTRO OESTE NORTE SUDESTE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL NORDESTE 2008 % 2009 % AL BA CE MA 32.711.043 - 6.434.192 25.927.112 - 24,10 - 19,67 79,26 - 11.516.981 - 5.453.636 4.803.020 - 11,24 - 47,35 41,70 - PB 349.740 1,07 783.432 6,80 PE PI RN SE - - - - - - - - - - - - - - 8,94 SE CENTRO OESTE 476.892 4,14 16.710.406 12,31 9.159.459 SUL BRASIL 19.838.355 64.811.195 1.633.369 135.704.368 14,62 47,76 1,20 100,00 40.946.408 47.998.522 3.561.763 102.449.584 39,97 46,85 3,48 100,00 NORTE SUDESTE SUL BRASIL - - 12.578.937.851 REGIONALIZAÇÃO NORDESTE 2008 % 2009 % AL BA 7.627.156.702 150.907.897 3.150.180.360 60,63 1,98 41,30 CE MA PB 960.925.835 1.092.356.717 279.281.722 12,60 14,32 3,66 22.067.292.510 260.520.147 3.366.299.359 1.968.816.461 1.599.462.092 370.346.915 66,31 1,18 15,25 8,92 7,25 1,68 PE 1.647.072.216 21,59 PI RN 77.364.861 186.313.461 1,01 2,44 82.753.634 1,08 13.026.464.648 820.270.279 346.896.586 308.216.025 59,03 3,72 1,57 1,40 - 4.951.781.149 - 39,37 - - 100,00 - 11.213.494.767 - - 33.280.787.277 - 33,69 - - 100,00 Fonte: BNDES(b). Elaboração própria. 11 O tema ‘Regionalização’ merece especial atenção pelo fato dos recursos serem destinados exclusivamente às regiões Norte e Nordeste. Na PDP este programa é composto por um conjunto de cinco ações, que são desencadeadas em 26 medidas de apoio/incentivo. São exemplos de medidas de apoio/incentivo: i) Instituir o Programa de Zonas de Processamento de Exportação (ZPE); ii) Financiar investimentos produtivos com recursos do FNE 2009 e aderentes aos PPAs; iii) Executar a Política Nacional de Arranjos Produtivos Locais; iv) Elaborar diagnóstico sobre os impactos das políticas de APL nos Estados; v) Apoiar o desenvolvimento local no entorno de grandes projetos; vi) Apoiar o desenvolvimento de produção familiar; vii) Realizar atendimento direto a empresas; viii) Aumentar a competitividade em áreas prioritárias para PNDR; ix) Promover o desenvolvimento local em áreas e APLs marginalizados de apoio. O Gráfico 1 demonstra a importância do tema ‘Regionalização’ na PDP, que responde por praticamente 50% dos recursos desembolsados, contra 22% em ‘MPEs’ e 30% em ‘Exportações’. Destaque-se que cerca de 65% dos recursos do programa de regionalização da PDP foram absorvidos pelo Nordeste. Fonte: BNDES(b). Elaboração própria/NT10-RN Gráfico 1 - Desembolsos do BNDES em Programas para Destaques Estratégicos da PDP (2008-2009) 12 Os Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP podem ser divididos em três esferas, conforme o Quadro 2. Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas - Complexo Industrial da Saúde; Tecnologias de Informação e Comunicação; Energia Nuclear; Complexo Industrial de Defesa; Nanotecnologia e Biotecnologia. Programas para Consolidar e Expandir a Liderança e Programas para Fortalecer a Competitividade - Complexo Automotivo, Bens de Capital, Têxtil e Confecções, Madeira e Móveis, Higiene/Perfumaria e Cosméticos, Construção Civil, Complexo de Serviços, Indústria Naval e Cabotagem; Couro, Calçados e Artefatos; Agroindústrias; Biodiesel;Plásticos. Programas para Consolidar e Expandir a Liderança e Programas para Fortalecer a Competitividade - Complexo Aeronáutico; Petróleo, Gás Natural e Petroquímica; Bioetanol; Siderurgia e Mineração, Celulose; Carnes. Fonte: PDP. Elaboração Própria. Quadro 2: Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP Estes programas estão orientados por objetivos estratégicos e, segundo a PDP, consideram a diversidade da estrutura produtiva doméstica e buscam: i) manter ou posicionar sistema produtivo ou empresa brasileira entre os cinco maiores players mundiais; ii) manter ou posicionar o sistema produtivo brasileiro entre os cinco maiores exportadores mundiais; iii) construir competitividade em áreas estratégicas; iv) posicionar marcas brasileiras entre as cinco principais de seus respectivos mercados; e v) ampliar o acesso da população a serviços básicos para a qualidade de vida. Os Gráficos 2, 3 e 4 resumem os desembolsos do BNDES nos três Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP, na Região Nordeste. Nos ‘Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas’, dos recursos destinados a região Nordeste praticamente 90% foram destinados ao estado de Pernambuco, enquanto que 8,66% foi absorvido pelo o estado da Bahia (Gráfico 2). Em ‘Programas para Consolidar e Expandir a Liderança da PDP’, dos recursos destinados a região Nordeste 72,91% concentraram-se no estado de Pernambuco e 20,88% no estado da Bahia (R$ 3,4 bilhões). Os demais estados do Nordeste em conjunto são responsáveis por apenas 6,19% dos recursos destinados a região, ressaltando o caráter ainda concentrado dos desembolsos neste tema (Gráfico 3). Nos ‘Programas para Fortalecer a Competitividade’ os estados de Pernambuco, Bahia e Ceará em conjunto foram responsáveis por captar mais de 13 70% dos recursos destinados a região. Os demais estados em conjunto não ultrapassaram a marca dos R$ 4 bilhões (Gráfico 4). Fonte: BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN Gráfico 2 - Desembolsos do BNDES em Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas da PDP (2008-2009) Fonte: BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN Gráfico 3 - Desembolsos do BNDES em Programas para Consolidar e Expandir a Liderança da PDP (2008-2009) 14 Fonte: BNDES(b). Elaboração própria/NT11-RN Gráfico 4 - Desembolsos do BNDES em Programas para Fortalecer a Competitividade da PDP (2008-2009) Assim, do exposto nos estudos quanto à PDP e tomando-se como proxy os desembolsos do BNDES, avalia-se que a absorção dos recursos mostra-se concentrada, tanto na sua perspectiva nacional, com destaque para o Sudeste e Sul, quanto em sua dimensão regional, com destaque para os estados da BA, PE e CE. Desta forma, exceto para o destaque ‘Regionalização’, o total de recursos absorvidos pelo Nordeste são pequenos em comparação com as regiões e concentrados em alguns estados. Adverte-se, contudo que uma possível razão para a baixa demanda empresarial pelos recursos em alguns estados, talvez esteja associada à existência de outros incentivos mais vantajosos e atraentes do que aqueles disponibilizados pelo BNDES, dentro da PDP. Além deste fator, a localização de matrizes de algumas empresas no centro-sul, e conseqüente registro de desembolsos noutra região (exemplo Petrobras), somada à pouca visibilidade da PDP nos estados, podem ser fatores que explicam a baixa absorção dos recursos pelo Nordeste/estados. Considerando a baixa absorção dos desembolsos BNDES na PDP por parte de muitos estados nordestinos, recomendam-se esforços visando ampla e irrestrita divulgação quanto aos instrumentos operados pela PDP, bem como estímulos e apoio 15 ao acesso a estes recursos pelos variados sistemas produtivos existentes, desde os intensivos em conhecimento codificado, quanto os tradicionais. Quanto às Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs), os estudos fazem uma retrospectiva do seu retorno à agenda de política e demonstra que parte dos desafios para a sua implementação relacionam-se à clareza na legislação reivindica pelos capitais que serão atraídos, a exemplo dos prazos dos benefícios concedidos, o perfil de empresas que serão atraídas (se empresas exportadoras de bens de alta tecnologia e/ou exportadoras de commodities locais/regionais processadas em suas instalações), e o impacto destas zonas sobre a estrutura produtiva estadual. A política para implantação de ZPEs sofreu transformações qualitativas significativas no ano de 2001, quando foi elaborado o Projeto de Lei nº 5.456. As mudanças tornaram as ZPEs brasileiras operacionalmente bem mais próximas do modelo internacional. Entre as modificações importantes está a permissão da venda no mercado interno de até 20% de sua produção, além de vantagens fiscais e tributárias como a isenção do PIS-PASEP, do COFINS, do PIS-PASEP-Importação e do COFINS-Importação; carência do Imposto de Renda nos cinco primeiros anos de operação (10 anos no caso das Regiões Norte e Nordeste). Todavia, os estudos revelam que nos estados em que as ZPEs já foram aprovadas, estas ainda não estão em funcionamento. Logo, os impactos de comprometimento com a melhoria do padrão industrial do estado, aumento das exportações, criação de empregos e geração de renda, são apenas potenciais. Por fim, além do desafio de melhor avaliação sobre a adequação desse instrumento para promoção dos sistemas nos quais pretende intervir, o funcionamento efetivo das ZPEs depende ainda de significativos investimentos em infraestrutura, sendo exemplo a logística de transporte ainda inexistente em muitas áreas de instalação de ZPEs, sobretudo o transporte ferroviário interligado à Ferrovia Transnordestina. Além disso, falta clareza quanto ao aproveitamento de variados modais visando estimular o processo de integração entre as diferentes regiões produtoras dos estados com as ZPEs, e dos estados com a economia regional/nacional. 16 3 Considerações Finais Cada um dos Grandes Projetos Federais, individualmente, é capaz de causar impactos socioeconômicos significativos. Assim, é inegável a relevância destes para a economia dos estados do Nordeste. Os estudos revelam que cada um dos estados analisados participa com cerca 2,0% empreendimentos exclusivos (2007 – 2010) previstos no PAC, o que corresponde em alguns casos a aproximadamente 50% do PIB anual de cada estado. Todavia, é preciso reconhecer os limites de qualquer projeto/programa em alterar os desequilíbrios e contradições que caracterizam as economias capitalistas, e ainda, de transformar a estrutura econômica e social que de regiões brasileiras, e do Nordeste, em particular. Assim, reconhecendo este limite, admite-se que os GPFs contemplam obras/ações gerais, porque praticamente idênticas, mas fundamentais na agenda para o desenvolvimento estadual/regional, sendo exemplos a duplicação e melhorias de BRs, o aprofundamento do calado de portos, a internalização da cadeia de petróleo e gás, a construção de aeroporto intermodal como entreposto para o Continente, a implantação de refinarias/usinas eólicas e termelétricas, a construção de estaleiros, o saneamento urbano e rural, o abastecimento de água, a construção e melhoria de habitações, o acesso a energia elétrica, o (re)assentamento de famílias, a atuação a partir Arranjos Produtivos Locais. Logo, é possível afirmar que grandes benefícios decorrerão da conclusão destas obras/ações, sobretudo nas áreas mais diretamente beneficiadas. Contudo, os resultados dos estudos quanto ao estágio de execução das obras/ações revelam que várias não foram concluídas, estando maiormente noutros estágios (em obras, em licitação ou em ação preparatória). Além disso, para algumas ações/obras, o número de municípios atingidos por tais esforços mostravase bastante aquém do total de municípios do estado, sugerindo benefícios apenas locais e com baixo poder de reversão de indicadores econômicos e sociais que ainda caracterizam os estados do Nordeste, a exemplo do elevado déficit habitacional e da baixa cobertura de saneamento. De outra parte, em geral os impactos dos GPFs mostram-se difusos, no sentido de que tanto podem minimizar graves problemas, a exemplo da 17 infraestrutura necessária para a inserção competitiva das empresas nos mercados globalizados. Como, por outro lado, podem deslocar o PIB estadual para outras regiões do estado e/ou reforçar a concentração já existente nas Regiões Metropolitanas, o que resultará em externalidades negativas como violência, favelização, pressão sobre os serviços públicos, criação de novos ‘vazios’. Além do mais, sistemas produtivos mais frágeis podem não sentir impactos isoladamente da oferta de infraestrutura e outros incentivos, o que mantém a importância do olhar sobre as especificidades, já longamente assinalada na primeira etapa deste estudo. Uma preocupação quanto aos GPFs refere-se à incorporação pouco contundente dos elementos constitutivos de uma sociedade do conhecimento, mesmo na PDP, incluindo temas e ações claras de política educacional e de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), que estimulem a consolidação de sistemas estaduais/regionais de inovação e contribuam para a alteração do lugar destas economias na divisão regional/nacional/internacional do trabalho, permitindo o alcance do desenvolvimento numa perspectiva sistêmica e sustentável. A implementação de projetos/programas gerais em diferentes economias estaduais pode manter/aprofundar desigualdades inter e intrarregionais, cabendo atuar também sobre os caminhos que conduzam à efetiva internalização dos efeitos positivos esperados localmente. Por fim, acredita-se que os GPFs somente produzirão efeitos mais permanentes e equilibrados se sustentados em políticas de estado, elaboradas e submetidas à avaliação e permanentemente aperfeiçoadas por policy makers, gestores públicos, lideranças políticas e empresariais, organismos de ensino, pesquisa e representação. A realização deste estudo caminha nesta direção, devendo-se somar inúmeros outros esforços que aprofundem e aclarem o caminho para a geração de oportunidades que compatibilize e conduza ao crescimento econômico, conservação ambiental e equidade social. 4. Apresentação dos Estudos O estudo visou contribuir para uma análise dos impactos dos GPFs nas economias dos estados da região Nordeste, bem como propor políticas para a superação de entraves ao desenvolvimento destas economias, a partir dos efeitos esperados dos projetos. Os resultados ora apresentados estão dispostos em 09 18 capítulos, um para cada estado. Nestes, foram destacados os principais projetos contemplados, identificados o seu estágio de execução e avaliados os seus impactos, além da recomendação de políticas. O Capítulo 2 analisa os impactos dos GPFs no estado de Alagoas a partir da identificação das obras e/ou políticas contempladas. Os projetos/políticas PAC, PTC e PDP aportaram cerca de R$ 4,41 bilhões para Alagoas entre 2008 e 2009, o que representou 24,8% do PIB estadual (de 2007). Em termos de infraestrutura logística, o estado foi contemplado com obras rodoviárias, ferroviárias e portuárias. Dentre estas destacam-se: a Construção do Cais para contêineres no Porto de Maceió, Duplicação e modernização da BR 101/AL Norte e Sul, Ferrovia Nova Transnordestina. Quanto os empreendimentos em infraestrutura energética estavam previstas obras voltadas para usinas termelétricas, gasodutos, linhas de transmissão, levantamentos geológicos, geoquímicos, hidrogeológicos. O Eixo Infraestrutura Social são previstas obras de fornecimento de água, saneamento e habitação, totalizando 254 projetos em Alagoas, beneficiando todos os 102 municípios no estado. As obras contratadas pelo estado, em sua maioria, têm foco na distribuição de água, mas há obras de energia no Programa Luz para Todos e de revitalização de bacias hidrográficas. O capítulo destaca que o eixo cidadania contemplado no PTC deteve a maior parcela da alocação dos recursos previstos, em torno de 71% e é onde se insere ações como transferência direta de renda, a exemplo do Bolsa Família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e Benefício a Idosos e Deficientes. Quanto à análise dos impactos dos GPFs em Alagoas, o capítulo ressalta que, em termos de importância para a economia estadual, somente o PAC e o PTC apresentam-se como relevantes. Isto porque PNLT foi incorporado pelo PAC, não existe atualmente projeto de implantação de ZPE no estado, e a PDP ainda é muito tímida e incipiente. A despeito da importância dos GPFs, o capítulo apresenta desafios ao estado que impedem o seu desenvolvimento em bases sustentáveis. Assim, as recomendações são voltadas para o enfrentamento das fragilidades nos sistemas de educação e saúde, da frágil teia empresarial, da grande grande informalidade das MPEs. 19 O Capítulo 3 apresenta os resultados do estado da Bahia em relação aos GPFs. A análise dos impactos dos GPFs está ancorada sobre os entraves ao desenvolvimento da economia baiana. Entre eles destacam-se a forte concentração espacial e setorial; existência de baixo dinamismo econômico por grande parte dos municípios da Bahia; Infraestrutura logística deficiente e incompleta; baixa integração econômica; Ausência de um sistema regional de inovação; sérios problemas sociais. Nesse sentido, foram particularmente analisados os impactos da PAC como forma de perceber em que medida este programa traria elementos para superação dos entraves elencados. O capítulo destaca o estágio e impactos de obras de infraestrutura logística como o Metrô, o trem urbano de Salvador e construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste. A análise dos projetos de infraestrutura energética destaca o gasoduto (Gasene) e na infraestrutura social e urbana destaca obras voltados para a recuperação da bacia do São Francisco. A despeito dos impactos positivos do PAC previstos para o estado da Bahia, avalia que são insuficientes para alterar a matriz de transporte do estado bem como para superar os graves problemas sociais existente no semi-árido baiano. No que se refere a proposição de políticas, o estudo sugere articular política de planejamento estadual com a nacional para viabilizar a compatibilidade ex-ante das políticas e evitar eventuais redundância; alavancar as cidades médias do Estado, para que possam atuar como campo de atração das cidades muito pequenas; usar todos os instrumentos de política disponíveis para enfrentar o quadro de pobreza estrutural do Estado; revisar o Programa PROGREDIR para reorientar a política local voltada para APLs. O capítulo quatro apresenta o estudo dos GPFs no estado do Ceará. Neste estado, o PAC contemplou 840 projetos, sendo 799 no eixo infra-estrutura social e urbana (habitação e saneamento básico) e 41 na infraestrutura logística e energética. Tais projetos estão concentrados nas regiões próximas à capital e no sul do estado, e somente cerca de 10% estão concluídos. São destaques projetos como a Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco e o Eixão das águas. Dos projetos previstos para o estado do Ceará são exemplos: infraestrutura logística, no que tange a rodovias, o estudo destaca como o de maior investimento a construção do arco rodoviário metropolitano, que liga a BR-116 com o Porto e o Complexo Industrial do Pecém. Também estão contemplados neste eixo obras nos 20 portos do estado. Na infraestrutura energética há obras como implantação de parques eólicos,cujo efeitos é tornar o estado auto-suficiente em geração de energia; usina de biocombustível e projeto de regaseificação de GNL, sendo este apontado como um dos principais projetos de infraestrutura do estado. No eixo infraestrutura social e urbana os investimentos visam garantir segurança hídrica, reforço ao abastecimento de água para consumo humano e industrial (Pecém) advindo do eixão das águas, saneamento básico e urbanização e habitação. Além destes, o Ceará também tem investimentos dentro do PTC, ZPes e PDP. No geral, o estudo avalia que grandes projetos do Governo Federal apresentam consonância com às necessidades do estado, especialmente com relação à infraestrutura. Dentre as propostas mais específicas de políticas, o estudo revela como central a necessidade de se elevar substancialmente a qualidade dos gastos realizados, sobretudo no que se refere à natureza do planejamento realizado e, principalmente, do seu foco. Os impactos dos GPFs na economia maranhense tratados no capítulo 5 estão associados sobretudo ao PAC. Este programa destinou cerca de 500,0 milhões para o Maranhão, superando a própria dimensão de sua economia no contexto brasileiro. Dentro dos eixos previstos no PAC, o estudo revela que a os investimentos em energia foram os mais significativos, contemplando principalmente à construção de hidrelétricas, a despeito de seu impacto ser mais de cunho nacional do que local. A análise sobre os investimentos do PAC demonstra que uma das características presentes nos projetos previsto para o Maranhão são direcionados para uma melhor utilização dos recursos disponíveis no estado. Aponta ainda que o PAC carece de complementação de políticas em nível regional que levem em conta as especificidades locais, sobretudo àquelas que possam contemplar ações voltadas para os setores mais frágeis de economias como a do Maranhão, onde a dotação de infra-estrutura e outros incentivos não têm o efeito multiplicador esperado. Como sugestão de políticas, o estudo aponta que as esferas estaduais e municipais de governo devem se encarregar de suprir as deficiências das políticas federais em questões relativas às especificidades de cada região, de modo que os impactos de iniciativas como o PAC fiquem potencializados, provendo os efeitos do Programa de um caráter mais sistêmico. Nesse sentido, defende que o incentivo à 21 geração, aquisição, difusão e uso de conhecimento no sistema produtivo local, é um bom começo. O capítulo 6 apresenta o estudo dos GPFs no estado da Paraíba. No que se refere ao PAC, os investimentos em infra-estrutura logística previstos contemplam rodovias (duplicação, adequação de capacidade e modernização da BR 101), portos (dragagem, derrocamento, recuperação de cais e melhorias na infraestrutura do Porto de Cabedelo), aeroportos(reforma e ampliação do terminal de passageiros, reforço da pista de pouso, pistas de rolamento, pátios de estacionamentos de aeronaves e obras complementares do Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto). No eixo infraestrutura energética destacam-se obras como usinas termelétricas, empreendimentos de energia eólica e subestação de transmissão de energia elétrica. Destas obras as que se encontram em estágio mais avançado aos empreendimentos de energia eólica. Quanto à infraestrutura social e urbana o estudo desta o Programa Luz para todos, o qual objetiva atender as demandas de energia elétrica no meio rural. Todavia, o capítulo ressalta que as obras de porto e aeroporto são insuficientes para suprir as necessidades já existentes no estado e que os investimentos em energia elétrica mantêm pouca relação com as necessidades locais, além de serem poluentes. Também questiona a capacidade de geração local de ocupação e renda de algumas ações/obras. As políticas recomendadas estão associadas à geração de uma sociedade do conhecimento no estado. O capítulo 7 apresenta o estudo dos GPFs em Pernambuco. O capítulo afirma que 6,29% do valor dos investimentos do PAC destinam-se a Pernambuco, o que representa 2,7 vezes mais investimentos do que sua participação na economia nacional, que foi de 2,34% em 2007, segundo dados do IBGE. Também destaca que 50,38% dos investimentos previstos do período de 2007 a 2010 para Pernambuco estão concentrados na Região Metropolitana de Recife (RMR). Dentre as obras estratégicas encontram-se a Petroquímica de Suape, a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul. Cada um destes grandes projetos apresenta impactos que podem ultrapassar as fronteiras estaduais. Todavia, localmente investimentos como os de Suape estão mudando a dinâmica econômica de Pernambuco, em razão de uma nova configuração urbana das cidades do 22 entorno de Suape, bem como a cadeia de negócios ligados à engenharia civil reivindicada pelos empreendimentos. Dentre recomendações apontadas destacam-se políticas de integração da RAL e da Petroquímica com a economia estadual; apoio financeiro à exportação do pólo naval; aceleração da construção da infraestrutura de transporte; estudos e intervenções nos APLs para evitar que a mudança na matriz de transporte leve a dinâmica de drenagem da economia do interior; implantação efetiva de todos os programas propostos no estudo de impacto ambiental da transposição do Rio São Francisco. O capítulo 8 apresenta o estudo dos GPFs no estado do Piauí. Os investimentos do PAC no estado estão orçados em R$ 11,8 bilhões, 1,8% da previsão de gasto total no país. Nos empreendimentos exclusivos, os maiores gastos estão no eixo infraestrutura social e urbana. O capítulo aponta que o conjunto das obras/ações dos GPFs tiveram impactos positivos na economia piauiense, com destaque para avanços na implantação da infraestrutura econômica e social, promoção econômica a partir do aumento da produção e elevação produtividade e da diversificação da economia estadual e, consequentemente, criação de oportunidades de trabalho e geração de renda. Além destas, enfatiza ações específicas de inclusão social e combate a pobreza. Precisamente quanto à PDP, o estudo revela que no caso do Piauí, não foi possível perceber nenhum tipo de interlocução com o setor privado e considera que as ZPEs são relevantes para a economia do estado. Por fim, o capítulo indica que o enfrentamento das limitações ao desenvolvimento requer um planejamento estratégico que considere a visão geral do estado em relação ao país e ao Nordeste, quanto às suas prioridades e investimentos. Além disso, cabe uma maior articulação com a sociedade civil organizada, inclusive representações do setor empresarial. O capítulo 9 refere-se ao estudo dos GPFs no Rio Grande do Norte. O estado participa com 1,7% do total dos empreendimentos exclusivos do PAC (2007 – 2010) no País e 9,37% na Região Nordeste. O valor total dos empreendimentos previstos no período de 2007 a 2010 totalizam R$ 9.478,10 milhões, distribuídos entre infraestrutura logística (11,05%), energética (54,79%) e social e urbana (34,16%). Para o período pós-2010 o valor 23 previsto atinge R$ 2.565,60 milhões, concentrados quase que totalmente em energia (98,67%) e social e urbana (0,57%). Dentre as principais obras destacam-se a adequação da BR 101/RN, pista do Aeroporto São Gonçalo do Amarante, dragagem e aprofundamento do acesso aquaviário do Porto de Natal, repotencialização do sistema de atracação do Terminal Salineiro de Areia Branca, Usinas termelétricas (Baía Formosa, Vale do Açu e Potiguar III), Refinaria Potiguar Clara Camarão, Parque Eólico Alegria I e II. Os empreendimentos em infraestrutura social e urbana contemplam obras direcionadas para habitação, saneamento básico e recursos hídricos, além de ações na área de distribuição de energia elétrica pelo Programa Luz para Todos. O capítulo enfatiza ainda ações relativas ao PTC e PDP, além da implantação de duas ZPEs. Quanto ao PTC destacam-se os programas de transferência de renda - Programa Bolsa Família (24,74%) e o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa Idosa (4,39%) e com Deficiência (14,55%) – e os de caráter produtivo – Cresce Nordeste (17,40%), Nordeste Territorial (7,10%) e Crédito Pronaf (6,24%). Essas ações, tanto pelo valor do desembolso quanto pelo número de pessoas atendidas são responsáveis pelas principais mudanças ocorridas nos municípios contemplados nos Territórios da Cidadania. Com relação à PDP, é baixa a absorção dos recursos por parte da iniciativa privada potiguar. No destaque estratégico ‘Regionalização’ da PDP, por exemplo, o estado participou com apenas 2,44% dos recursos do programa no Nordeste em 2008. Em 2009 o estado tem sua participação ainda mais reduzida (1,57%). A avaliação geral dos GPFs no capítulo reafirma a importância destes para a economia potiguar, ao tempo em que indica a necessidade de tornar as áreas e setores atingidos efetivamente mais competitivos, mais dinâmicos e menos desiguais em relação ao estado/região/país e de ampliar os benefícios para as demais áreas e atividades não contempladas no estado. Assim, os GPFs constituem um passo fundamental rumo à superação dos entraves assinalados, devendo-se somar a estes esforços políticas de desenvolvimento estadual/regional mais abrangentes e integradas. O Capítulo 10 analisa os principais resultados do estudo em Sergipe. Neste, o principal projeto em andamento é PAC. No eixo infraestrutura logística está prevista a duplicação e modernização da BR-101. No eixo da infraestrutura energética, os recursos objetivam garantir 24 segurança energética e modicidade tarifária para Sergipe e para Região Nordeste, a ampliação da malha de gasodutos de modo a assegurar o suprimento de gás natural, bem como desenvolver e ampliar a produção de petróleo no estado. O capítulo destaca obras como a Usina Termelétrica à óleo em Nossa Senhora do Socorro; Usina Termelétrica à Biomassa em Capela, exploração e produção de petróleo no campo de Piranema em Estância e exploração e desenvolvimento da produção de petróleo no estado (em conjunto com Alagoas). No eixo infraestrutura social e urbana ressalta a ampliação do sistema de esgotamento sanitário de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro (com a revitalização da Bacia do Rio Sergipe e despoluição de praias) e a ampliação do sistema de abastecimento de água de Aracaju e municípios interioranos, dentre outros. O capítulo também enfatiza a importância do PTC e da PDP para o estado de Sergipe. Como reflexão reconhece a importância dos GPFs como forma de eliminar gargalos presentes na economia sergipana, mas afirma ser muito cedo para se fazer uma avaliação precisa dos impactos dos investimentos, sobretudo do PAC, no estado. REFERÊNCIAS AMARAL FILHO, Jair, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Ceará – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Fortaleza/CE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. AMARAL FILHO, Jair, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Ceará e Proposição de Políticas – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Fortaleza/CE, agosto 2010. 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PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Pernambuco e Proposição de Políticas – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Piauí – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Teresina/PI, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Piauí e Proposição de Políticas – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Teresina/PI, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. 27 CARACTERIZAÇÃO E IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA DO ESTADO DE ALAGOAS E PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS1 Maria Cecília Junqueira Lustosa / Coordenadora Estadual – UFAL Francisco José Peixoto Rosário – UFAL Luciana Caetano da Silva – UFAL Geanne Daniella Clementino da Silva – UFAL Michelle Cristiane de Lima Nunes – UFAL2 3 Introdução Com o intuito de analisar os impactos dos Grandes Projetos Federais (GPFs) em Alagoas, este artigo sintetiza a caracterização desses projetos, verifica seus impactos na economia alagoana e tece algumas proposições de políticas visando o desenvolvimento do estado numa perspectiva sistêmica, endógena e sustentável. Alagoas é um dos estados mais pobres do Brasil, apresentando os piores indicadores sociais. Mais da metade da população vive com rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal e cerca de um terço com até um quarto deste. Essa situação de pobreza, associada ao analfabetismo de um quarto da população, geram elevados índices de desnutrição em crianças menores de cinco anos no estado, 9,5% (ENSP, 2006). O Estado foi descaracterizado em suas instituições e organizações voltadas para apoiar o desenvolvimento local, criadas na década de 1960. Com o desmonte da estrutura desenvolvimentista de Alagoas, ao longo dos últimos 20 anos, o estado ficou impossibilitado de acompanhar, minimamente, os novos paradigmas do desenvolvimento econômico global, pautados na incorporação de conhecimentos nos mais diversos campos produtivos. A despeito do quadro de subdesenvolvimento, o atual governo de Alagoas estabeleceu, basicamente, duas vertentes de política de desenvolvimento: a 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Alagoas”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa. 3 Colaboraram ao longo desta segunda parte da pesquisa os estagiários Bruno Pimentel da Silva, Caio Henrique Mendes Alves Pinto, Emanuel Lucas de Barros e Hutemberg de Tácio Bezerra Rodrigues, do curso de Economia da UFAL. 28 primeira, a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia e Logística (SEDEC), está pautada na criação de uma infraestrutura própria para atrair grandes empresas em torno de cinco grandes projetos estruturantes, a saber: i) mineração no agreste, com a Mineradora Vale Verde; ii) expansão da planta de policloreto de vinila (PVC) da Braskem, que irá fornecer matérias primas para as empresas da indústria de plásticos que estão se instalando no estado; iii) estaleiro EISA no município de Coruripe; iv) usinas nucleares, nas margens do rio São Francisco; v) zona de processamento de exportação. A outra vertente é o fomento aos arranjos produtivos locais, com o Programa de Arranjos Produtivos Locais (PAPL), buscando a inclusão social, coordenado pela Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento (SEPLAN) juntamente com o Serviço de Apoio às Micro e Pequena Empresas em Alagoas (SEBRAE/AL). São 13 arranjos alvo da política, todos compostos por micro e pequenas empresas (MPEs), com grande informalidade, sendo oito deles de base agrícola e localizados no interior do estado Conhecendo a atual realidade de Alagoas e o relativo avanço realizado nos últimos anos, é possível traçar um panorama geral dos impactos dos Grandes Projetos Federais (GPFs) na estrutura social e produtiva do estado. São eles: (i) Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), (ii) Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT), (iii) Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), (iv) Programa Territórios da Cidadania (PTC) e (v) Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs). Para a realização deste artigo, foram utilizadas as Notas Técnicas 10 e 11 da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Alagoas”, cujos dados secundários foram obtidos de publicações e sítios da internet dos órgãos oficiais e privados de estatística. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com integrantes das organizações4 responsáveis pelos GPFs no estado. 4 Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Energia e Logística de Alagoas (SEDEC), Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Secretaria de Estado de Infraestrutura (SEINFRA), Agência de Fomento de Alagoas (AFAL), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Eletrobrás Distribuidora de Alagoas (EDAL). 29 Este artigo está dividido em quatro seções além desta introdução. A primeira faz uma caracterização do GPFs em Alagoas. A segunda discute os impactos de tais projetos na economia alagoana. Na terceira seção, são apresentadas algumas proposições de políticas para o desenvolvimento do estado, buscando endogenização produtiva, de forma sistêmica, sustentável e includente. Por fim, a última seção traça as considerações finais. 1 Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Alagoas O PAC tem por objetivo promover o crescimento econômico, o aumento do emprego e a melhoria das condições de vida da população, seguindo um corte temporal5 e estratégico6. As ações deste programa têm como característica uma divisão entre investimentos de abrangência regional (incluem mais de um estado da federação) e estadual (dentro do estado). Alagoas tem orçado R$ 12,8 bilhões do PAC, ou seja, 2% dos investimentos totais para o Brasil. Contudo, até o final de 2010, o estado deverá ter investimentos na ordem de R$ 11 bilhões, divididos em R$ 4,2 bilhões em recursos destinados exclusivamente para o estado (38%) e R$ 6,8 bilhões (62%) em projetos regionais, mas que de alguma forma beneficiam Alagoas (BRASIL, 2010a). Foram aportados, até final de 2009, recursos na ordem de R$ 2,1 bilhões, aproximadamente 16% dos recursos planejados. Os recursos de pessoas físicas para a habitação, que são incluídos nas contas totais, são de R$ 817,4 milhões em empréstimos (BRASIL, 2010b). Esses montantes incluem as obras concluídas ou que apresentam parcelas declaradas de conclusão, não sendo somados os montantes em licitação ou já licitados, mas em estágio de projeto. O montante de investimentos planejados para a Infraestrutura Logística é de R$ 6,3 bilhões aproximadamente, divididos em duas seções: estadual e regional. A primeira compreende as obras rodoviárias, ferroviárias e portuárias, com R$ 878,4 milhões (14%), sendo 60% desse total efetivamente aplicado. Aos empreendimentos regionais foram destinados R$ 5,4 bilhões (86%), com aplicação efetiva de 80% (BRASIL, 2010a). 5 O corte temporal separa os montantes de investimentos previstos até 2010 e após 2010. As áreas estratégicas ou eixos do programa são: Infraestrutura Logística, Infraestrutura Energética e Infraestrutura Social e Urbana. 6 30 Existe apenas uma obra concluída, que corresponde à sinalização de rodovias, enquanto ainda se faz estudos e projetos para as obras de duplicação, melhorias e manutenção das estradas federais em Alagoas – BR 101, BR 316, BR 104 e BR 423 (Tabela 1). Os investimentos em projetos e manutenção estão quase todos concluídos com 60% e 65% respectivamente dos recursos já desembolsados. Tabela 1 – Valor de Obras e Cronograma de execução em Infraestrutura Logística – R$ milhões Valor da obra Obra Construção do cais para contêineres no Porto de Maceió Duplicação e modernização da BR101/AL Norte e Sul Parcela concluída Em obra Em licitação 41,6 0% 41,6 0,0 541,0 0% 0,0 541,0 4,7 0% 4,7 0,0 78,6 65% 27,4 0,0 203,6 60% 81,6 0,0 8,9 100% 0,0 0,0 Ferrovia Nova Transnordestina 5.421,6 0% 4.454,6 0,0 Balanças - Lote 23 Fonte: BRASIL (2010b). 20,5 0% 0 0,0 Controle de velocidade Estudos e projetos contínuos Manutenção Sinalização O foco dos investimentos regionais é a ampliação de linhas logísticas para escoamento de produção, com a construção de novos trechos da Ferrovia Nova Transnordestina e o controle da produção nas estradas, com as balanças nos postos federais. Do total desses recursos, 99,6% foram alocados para a ferrovia e 0,4% para as balanças. Para Infraestrutura Energética, apenas a usina termelétrica à biomassa está pronta e o gasoduto em andamento, o restante dos projetos está em licitação (Tabela 2). A usina termelétrica a óleo não será mais construída. Tabela 2 – Valor de obras e cronograma de execução em Infraestrutura Energética – R$ milhões Obra Usina termelétrica a óleo Usina termelétrica a biomassa Exploração e produção Subestação de Zebu Levantamentos geológicos Levantamentos geoquímicos Valor da obra 704 Parcela concluída 0% 38,4 Em obra Em licitação 0 704 100% 0 0 390,6 0% 390,6 0 36,6 0% 0 36,6 155,7 0% 155,7 0 8,6 0% 8,6 0 Levantamentos hidrogeológicos 62,6 0% 62,6 0 Gasoduto (expansão e criação) 2.485,7 33% 1657,1 0 Linha de transmissão Fonte: BRASIL (2010a). 163,7 0% 133,2 30,5 31 É importante ressaltar que Alagoas possui 23 usinas de açúcar e álcool que poderiam gerar energia elétrica de forma sustentada, contudo apenas uma termelétrica de biomassa foi construída no estado. No relatório do PAC não há prazo de finalização dessas obras. As ações de Infraestrutura Social e Urbana são de responsabilidade do estado e dos municípios, que detêm 98% do valor orçado para essas ações até 2010. No que tange ao andamento das obras de responsabilidade do estado, 80% estão em andamento, 18% estão concluídas e o restante está nas fases de licitação ou contratação. Quanto às obras sob a responsabilidade dos municípios, nenhuma delas foi concluída, mas 90% estão em andamento e as demais em licitação ou contratação (BRASIL, 2010c). Entre projetos de fornecimento de água, saneamento e habitação, somam-se 130 projetos em Alagoas, beneficiando todos os 102 municípios no estado. Os 124 projetos de responsabilidade municipal estão divididos em projetos de fornecimento de água e saneamento (81) e habitação (43). Os primeiros apresentam apenas 26 projetos em obras ou em fase de licitação, correspondendo 32% dos projetos totais. Os projetos de habitação apresentam 14 projetos em andamento, correspondendo também a 32% dos projetos dessa área nos municípios. As obras contratadas pelo estado, em sua maioria, têm foco na distribuição de água, mas há obras de energia no Programa Luz para Todos e de revitalização de bacias hidrográficas (Figura 1). O Canal do Sertão Alagoano é a obra que mais consome recursos nesse eixo do Programa, com 58% dos recursos alocados para as obras de responsabilidade estadual. Figura 1 – Distribuição percentual dos recursos para as obras de infraestrutura social e urbana e urbana de responsabilidade do estado Fonte: Elaboração própria com base em BRASIL (2010a). O Projeto do Canal do Sertão Alagoano foi lançado em 1992 pelo Governo do Estado em parceira o Governo Federal, sob a responsabilidade do Ministério da 32 Integração Nacional (MIN). O Canal terá uma extensão de 250 km, do município de Delmiro Gouveia até Arapiraca, no Agreste alagoano, beneficiando 42 municípios. A previsão de investimentos em obras civis é da ordem de R$ 700 milhões, para o primeiro trecho, sem participação do setor privado. A vazão projetada é de 32 m3/s, a fim de atender a diferentes demandas de água: abastecimento humano, dessedentação animal, agricultura irrigada, pecuária e aqüicultura, agroindústria, turismo e lazer. Atualmente, a demanda de água é de 2 m3/s (FAIÃO et al., 2008). No tocante às obras de responsabilidade dos municípios, Maceió se destaca em termos de prazos de execução. Os demais municípios estão em fase de planejamento e, muitas vezes, ainda nem licitaram os estudos preliminares. Grande parte dos recursos direcionados para Maceió é para habitação (Figura 2) e no interior são as obras de saneamento que recebem a maior parte dos investimentos. Figura 2 – Distribuição dos investimentos em Infraestrutura Social e Urbana para Alagoas quanto à localização Fonte: Elaboração própria com base em BRASIL (2010a). Analisando o total dos investimentos exclusivos de Alagoas, fica claro que as obras de responsabilidade do estado são a menor parte, refletindo sua incapacidade de financiamento de grandes obras estruturantes. Boa parte das obras de saneamento municipal são projetos da alçada da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Esses projetos correspondem por 24% das obras do PAC nesse eixo. O PNLT é um plano de caráter indicativo de médio e longo prazos, constituindo-se em um portfólio de projetos que são inicialmente indicados pelo estado. Quando o PAC foi lançado, em 2007, todos os projetos deste Programa em Alagoas foram a ele integrados. O Plano Estadual de Logística e Transporte (PELT), que representa o capítulo estadual do PNLT está em elaboração sob a responsabilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura de Alagoas (SEINFRA) e da SEDEC. 33 Quanto à PDP, os desembolsos para Alagoas mostram-se concentrados em alguns setores produtivos relevantes para o estado7. Poucos recursos foram aportados para outros setores com potencial de resultados em prazos mais curtos, principalmente àqueles ligados às cadeias produtivas e ao PAPL. Alagoas não possui histórico de projetos importantes na área industrial, fazendo com que a alocação de recursos do PDP para o estado em relação ao Brasil tenha sido irrisória tanto em 20088 quanto em 20099. Uma importante iniciativa da PDP é o Núcleo RENAPI Alagoas, que foi instalado em julho de 2009, o segundo no Nordeste. Sua governança fica a cargo da Federação de Indústria de Alagoas (FIEA), da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da SEDEC. O PTC criou seis Territórios da Cidadania em Alagoas (Figura 3) a partir de um mapeamento das áreas de maior fragilidade social e com o propósito de reduzir as desigualdades regionais e sociais através de ações de fortalecimento da cidadania, de infraestrutura social e de incentivos à atividade produtiva. Figura 3 – Localização dos Territórios da Cidadania em Alagoas Fonte: Elaboração própria. Em de Alagoas, o PTC executou 101 ações, em 2008, e 110 em 2009, com uma previsão orçamentária de R$ 1,63 bilhão para os dois exercícios, o desembolso efetivo fora de R$ 1,34 bilhão. Neste primeiro ano, os maiores desembolsos foram do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), com 56% do 7 Em 2008 e 2009, respectivamente: Bens de Capital (30%-17%); Complexo Serviços (7,4%-25,6%); Construção Civil (6,3%-4,9%); Agroindústria (4,6%-2%); Bioetanol (1,2%-1%); Regionalização (43%41,5%) (BNDES, 2010). 8 Em 2008, R$ 351 milhões foram destinados para o estado, ou seja, 2,1% em relação ao Nordeste e 0,24 % em relação ao país para os mesmo setores. 9 Para 2009, o desembolso foi de R$ 627,2 milhões , representando 1,4% em relação à região e 0,36 % em relação ao Brasil. 34 total, 14% do MIN, 12% do Ministério da Saúde (MS) e 10% do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Juntos, esses quatro ministérios concentraram 92% do desembolso total. Em 2009, como no ano anterior, o MDS concentrou 58,4% do total desembolsado e o MDA, 12,4%. Juntos, eles foram responsáveis por 70,8% do desembolso. As ações desses dois anos foram organizadas em três eixos: cidadania, ação produtiva e infraestrutura social. A alocação de recursos mostra que o eixo cidadania responde por aproximadamente 71% dos recursos. Nele, estão inseridas as ações de transferência direta de renda, a exemplo do Bolsa Família, PETI10 e Benefício a Idosos e Deficientes. Cerca de 21% dos recursos foram aportados no eixo ação produtiva, que inclui liberação de linhas de crédito a unidades de produção inseridas em cadeias produtivas organizadas ou em processo de organização, além de assistência técnica. Ao eixo infraestrutura social restaram 8%, centrados nas obras de esgotamento sanitário para revitalização dos rios São Francisco e Paraíba, no Programa Luz para Todos e no sistema de abastecimento de Palmeira dos Índios. Em relação a 2008, quatro ações responderam por mais de 57% da quantia despendida e somente o Bolsa Família recebeu quase 28% dos recursos. Para 2009, foram cinco ações responsáveis por 63,4% dos desembolsos. Mais uma vez, o Programa Bolsa Família é o que mais recebe recursos, cerca de 29% (Tabela 3). Tabela 3 – Ações que mais receberam recursos do PTC (2008 e 2009) Ação Crédito PRONAF Benefício de prestação continuada da assistência social à pessoa com deficiência Benefício de prestação continuada da assistência social à pessoa idosa Programa Bolsa Família 2008 (R$) % 2009 (R$) % 28.522.878,00 6,2 73.712.174,00 8,4 67.976.099,87 14,7 147.830.227,49 16,8 42.432.191,65 9,2 84.345.957,86 9,6 126.667.608,00 27,5 252.322.364,00 28,7 Cresce Nordeste - - 85.339.331,01 9,7 Total das ações 265.598.777,52 57,6 558.212.732,4 63,4 Total despendido no ano 461.201.561,41 Fonte: Elaboração própria com base em MDS (2009; 2010). 880.525.679,22 Algumas ações tiveram um nível de execução acima das metas física e financeira e outras ficaram aquém do previsto. Essas mudanças podem ser explicadas por: a) mudanças na legislação que alterou valor de repasse, como o 10 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. 35 crédito instalação, de responsabilidade de INCRA; b) de pressão política para liberação de mais recurso para uma ação cujo custo de execução era maior que o previsto no orçamento do PTC11; c) barreiras burocráticas, a exemplo das condições impostas à liberação de linhas de crédito; d) dificuldade de execução atrelada a razões diversas, inclusive à qualidade e quantidade de capital humano. Em relação à ZPE, é inexistente em Alagoas. Há a proposta de implantação deste tipo de programa no município de Murici, mas ainda sem projeto. Entretanto, este município foi um dos mais destruídos com as enchentes de junho de 2010. Os investimentos do governo estadual, da ordem de R$ 60 milhões, para infraestrutura da ZPE foram, então, destinados à reconstrução de diversos equipamentos públicos. Ficou, portanto, suspenso por tempo indeterminado a ZPE no estado. 2 Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia Alagoana Dos cinco GPFs analisados, somente o PAC e o PTC revelaram-se importantes no estudo de caso alagoano. Todos os projetos do PNLT encontram-se no âmbito do PAC e o projeto da ZPE está suspenso por tempo indeterminado. A PDP, de acordo com seus objetivos, seleciona as maiores empresas com capacidade de captar suas linhas de financiamento. Apenas 1,6% das empresas industriais em Alagoas são de grande e médio porte (FIEA, 2007), com predomínio dos setores sucroalcooleiro e químico. O Núcleo RENAPI Alagoas é um esforço para a política de inovação no estado por meio da estruturação e adensamento de um Sistema Regional de Inovações e a eleição de empresas inovadoras. Não obstante, a tradição empresarial do estado não está voltada para a aplicação de inovação e modernas técnicas produtivas. Assim, o impacto das ações do Núcleo pode ser tímido, apesar dos projetos incluídos na rede ainda estarem começando. O grande desafio para a implementação da PDP é fazer seus programas chegarem à ponta, a fim de atingir suas as metas e indicadores estabelecidos. O PAC propõe algumas obras de infraestrutura que visam atenuar essa lacuna estrutural que existe na economia alagoana. Entretanto, o andamento das 11 Os recursos do PTC aportados nas ações aqui analisadas representam um percentual do custo total da ação. O desembolso total da EDAL para financiamento do Programa Luiz para Todos foi de R$ 54,4 milhões em 2008 e R$ 80,75 milhões em 2009. A meta de execução financeira para esses exercícios no PTC foram, respectivamente, R$ 10,6 e 37,2 milhões. O mesmo ocorre com outras ações. 36 obras não está acompanhando o surgimento de novos investimentos no estado. Grande parte dos investimentos do PAC é de âmbito regional e não local, concentrando 86% dos recursos nas obras de Infraestrutura Logística e Energética, implicando em diluição dos valores previstos. Ressalta-se que Alagoas, apesar da infraestrutura econômica e social precárias, recebeu a menor parcela de investimentos do PAC para no Nordeste. Com exceção das obras da subestação de Zebu, o Programa não aporta investimentos para novos pontos de suprimento, fundamentais para atender à futura demanda de energia elétrica no sertão – subestação de Olho d’Água das Flores – e da grande região de Maceió, onde empreendimentos demandantes de energia elétrica estão sendo implantados. A Infraestrutura Social e Urbana do PAC possui elementos em comum com o PTC, principalmente no que se refere ao interior do estado. A agricultura familiar é responsável por 70% do emprego da mão de obra rural em Alagoas e demanda uma presença mais forte do setor público para atender suas necessidades de políticas sociais de educação e saúde, bem como apoio direto na assistência técnica, financiamento e comercialização (CARVALHO, 2007). Assim, os investimentos do PAC no interior do estado poderão ter um grande impacto nessa atividade. Em especial, os perímetros irrigados do Canal do Sertão e o Programa Luz para Todos, que levarão para o interior um novo perfil de cultura agrícola. Não obstante, o Canal do Sertão só tem 45 km acabados dos seus 250 km de extensão previstos em projeto. Nem todos os lotes da obra estão licitados, logo sem previsão para o término da obra. Além do mais, sua viabilidade econômica fica atrelada ao município de Arapiraca, o maior usuário e com maior potencial de agricultura irrigada, porém situado no último quilômetro do empreendimento. A limitação para a implantação bem sucedida dos perímetros irrigados no projeto do Canal do Sertão é a sua forma de governança de abastecimento, que ainda não foi estabelecida pelo governo do estado e a Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), pois Alagoas não tem tradição na comercialização de água bruta. O preço da terra nos locais dos perímetros irrigados aumentou cinco vezes, revelando uma especulação resultante da obra. O impacto atual mais importante do Canal do Sertão não é a maior oferta de água e sim os cerca de 800 empregos 37 locais gerados e todo movimento da economia causado pelo impacto da construção civil nos municípios em que as obras foram concluídas. Os investimentos do PAC, mesmo que não resultem em mudanças significativas de curto prazo na realidade econômica do estado, está aumentando o estoque de investimentos que poderá favorecer a sustentação à demanda efetiva no longo prazo. De imediato, o setor que mais se beneficia com as obras deste Programa é o da construção civil, uma vez que os investimentos em logística, energia, habitação e saneamento requerem obras novas e revitalização das existentes. O PTC é uma reunião de programas existentes anteriormente com nova metodologia de gestão, que se constitui no seu ponto central. Sua construção é lenta e não apresenta resultados imediatos. O Programa reúne ações isoladas dos ministérios, sem sinergias entre elas, ou seja, existem os recursos para determinada ação e os municípios conseguem buscá-los, sem necessariamente atender às necessidades específicas das localidades. Houve aumento no aporte de recursos dos ministérios, mas eles não chegam na ponta como deveriam. Não obstante, essa nova metodologia de gestão das ações fortalece as organizações existentes e possibilita o surgimento outras. A novidade é a proposta de diálogo entre as três esferas de governo e entre os órgãos executores, na perspectiva de aprimorar a prática de planejamento e a articulação entre as ações inseridas no programa. O comitê estadual assume um papel fundamental nesse contexto, cuja responsabilidade é identificar gargalos e oportunidades na perspectiva de alavancar o desenvolvimento local e setorial. Decorridos dois anos de implantação do PTC, ainda é cedo para uma análise mais profunda de seus impactos. Porém, é possível observar movimentos em curso a partir do padrão de consumo e da demanda por crédito direcionado a empreendimentos de pequeno e médio porte, possivelmente com elevação do nível de produção nos municípios dos Territórios, a exemplo do leite no Agreste, setor que lidera a captação de crédito junto ao Banco do Nordeste, com recursos do FNE12. Nas ações de transferência direta de renda – Bolsa Família e Benefícios a Idosos e Deficientes – houve uma redução do déficit social com a inserção de novas famílias e pessoas em programas sociais. Considerando o percentual da população 12 FNE – Fundo Constitucional para Financiamento do Nordeste, com taxa de juros subsidiada (0,5% a 6% ao ano). 38 em estado de pobreza absoluta, é possível afirmar que esse novo aporte de recursos provocou um impacto significativo, especialmente no padrão de consumo. Essa mobilidade social pode ser percebida nos indicadores de renda e consumo, gerando impactos sobre os mais diversos setores, principalmente no comércio. Em algumas famílias, o benefício a idosos e deficientes, que corresponde a um salário mínimo, é a principal fonte de renda. No âmbito das ações de fomento a empreendimentos produtivos, cabe destaque ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), ao crédito liberado pelo Banco do Nordeste com recursos do FNE, ao PAA13 e ao conjunto de ações inseridas na política de reforma agrária, sob a responsabilidade do INCRA/SR-22. O PRONAF e as linhas de crédito do Nordeste Territorial correspondem a ações direcionadas ao fomento e fortalecimento da cadeia produtiva local (aquisição de insumos, produção, beneficiamento e comercialização). As ações coordenadas pelo INCRA/SR-22 são direcionadas à criação e ao fortalecimento dos assentamentos rurais, na perspectiva de dar ao homem do campo condições de extrair da terra seu próprio sustento. Em um estado marcado pela concentração do latifúndio, a distribuição da terra atrelada a condições de uso de forma sustentável, pode melhorar o estado de bem-estar social. Isso, porém, não é o que tem sido observado, considerando as fragilidades de um órgão que sofre forte influência e pressão política. Nas ações de infraestrutura, há pouca execução no âmbito dos Territórios, ficando quase tudo no PAC. Mesmo assim, pode-se destacar a importância do Programa Luz para Todos, cujo objetivo é atender famílias da área rural sem acesso a energia elétrica. Para todo o estado, em 2008 e 2009, as metas alcançadas ficaram acima da meta prevista e, desde que foi criado o Programa, o atendimento corresponde a 98% do déficit estadual. Segundo EDAL, foram realizadas, nestes anos, 28.494 ligações, com desembolso de R$ 135,2 milhões e custo médio de R$ 4.744,00 por ligação. O PTC é importante para Alagoas, apesar do aspecto assistencialista de muitas ações, como a grande participação do Programa Bolsa Família nos recursos desembolsados. Porém, programas estruturantes, como o Cresce Nordeste, Luz 13 PAA – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar. 39 para Todos e o Crédito PRONAF, vêm permitindo que o estado assegure sua posição de maior número de assentamentos ativos no Nordeste. Portanto, se efetivamente alinhado ao PAPL, é o PTC que surge como potencial real de modificar as condições de subdesenvolvimento vigentes em Alagoas. O PTC está diretamente associado aos arranjos produtivos do estado, uma vez que dos 1414 APLs fomentados até 2009, 12 estão geograficamente localizados nos Territórios da Cidadania, sendo oito de base agropecuária (Figura 4). Figura 4 – Os APLs e os Territórios da Cidadania em Alagoas Fonte: Elaboração própria 3 Proposições de Políticas para o Desenvolvimento Estadual As proposições de políticas para o desenvolvimento devem estar ancoradas na distinção entre facilidades de acesso e capacidades dos indivíduos. As facilidades são a oferta de serviços para atender às necessidades fundamentais da coletividade, como educação, saneamento, assistência técnica e crédito. As capacidades dependem das competências adquiridas pelo sujeito, desenvolvidas ao longo de sua vida de acordo com estímulos recebidos: alimentação, cuidados com a saúde, educação, entre outras. Ao tratar de proposições de políticas públicas para Alagoas, deve-se lembrar, primeiramente, a recorrente situação de pauperização do estado nos aspectos econômico e social. Nestas condições, as atividades produtivas ficam comprometidas devido à baixa capacidade de absorção de conhecimentos por parte de uma população urbana e trabalhadores rurais analfabetos. Essa base de 14 Em 2010, o APL de Laticínios deixou de fazer parte do PAPL. 40 conhecimento é necessária para melhorar a forma de gestão e permitir a incorporação de novas tecnologias que aumentem a produtividade da agricultura familiar. Sem a melhoria das capacidades individuais, por meio de melhorias nutricionais, na educação e na saúde, as políticas públicas, como assistência técnica e crédito, podem tornar-se inócuas. A estratégia central para assegurar resultados para qualquer política de desenvolvimento em Alagoas é o aprofundamento de políticas de cunho social. Os grandes projetos estruturantes em Alagoas dependem não só do esforço do governo, mas da construção de uma série de ativos complementares de infraestrutura que dependerá de fatores que, em muitas vezes, estarão fora do controle do estado. Em contraponto, o PAPL, em um período mais curto, pode resultar em benefícios diretos para a comunidade, uma vez que a base do funcionamento dos arranjos já está montada sobre a vocação produtiva local existente. Além disso, o esforço para estruturar os APLs já tem dez anos. Os GPFs estão de alguma forma contribuindo para Alagoas, contudo eles precisam estar integrados a políticas locais de desenvolvimento para potencializar seus impactos. O papel dessa integração deve ser assumido pelo governo estadual, como o grande orquestrador desses projetos, mas apesar dos esforços não há evidências de um planejamento de integração entre os GPFs e as políticas locais. Seria fundamental realizar um mapeamento das diversas políticas, atores e organismos de apoio (agenciadores, academia, bancos, entre outros) sobre os municípios alagoanos para ver as sobreposições e melhor articular os projetos. Há, portanto, a necessidade de políticas específicas para educação básica e formação de mão de obra, principalmente no campo, uma vez que os APLs se ressentem da qualidade dos trabalhadores para absorver novas tecnologias e conhecimentos que possam ser aplicados a produção. Apesar de esforço no sentido de condicionar o Programa Bolsa Família da frequência das crianças na escola, há de se questionar a qualidade da maioria delas, sejam estaduais ou municipais, com infraestrutura precária, professores com baixa qualificação e metodologias de ensino inadequadas para a realidade local. Há também um contingente numeroso de adultos analfabetos ou semialfabetizados na área rural precisam enfrentar os novos desafios do atual mercado agropecuário, com uma nova dinâmica e sob novas pressões relacionadas à qualidade na produção e regularidade de abastecimento. 41 Apesar dos esforços no sentido da interiorização da UFAL, um dos objetivos atingidos pelo PTC, o estado necessita de formação técnica e conta somente com uma escola agrotécnica de responsabilidade federal. Uma forma inovadora de educação é o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do governo federal. Essa modalidade de ensino recebe verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e pode alavancar a formação básica de muitos profissionais necessários para os APLs. Essa política de base pode, além de melhorar a qualidade da mão de obra, reduzir alguns dos piores indicadores socioeconômicos, como os de saúde e mortalidade infantil. Não é possível separar políticas que objetivam melhoria do tecido social e políticas produtivas, pois uma sociedade só exerce determinado modo de produção quando está plenamente adequada a ele. No âmbito das transferências diretas de renda, é preciso planejar o desligamento das famílias, dando-lhes as condições necessárias à geração de renda de forma autônoma, a fim de promover mobilidade e inclusão social. Esta é uma ferramenta eficiente apenas enquanto ação imediata, considerando o caráter de urgência de quem tem fome. No médio prazo, tal política deve ser substituída por políticas de geração de renda, na perspectiva de reduzir o ônus tributário, garantindo maior dinâmica aos mercados e maior competitividade às empresas nacionais em relação ao mercado internacional. Do ponto de vista da produção, a principal proposta de política é a identificação de produtos agrícolas presentes nos APLs ou em cadeias produtivas mais adensadas, como a de Laticínios e a da Química e do Plástico, que possam ser complementares às demandas presentes nos estados vizinhos. Esta última deve incluir o segmento de reciclagem de plástico, numa perspectiva sustentável, com o fechamento do ciclo de vida do produto. Paralelamente, as ações de apoio às MPEs, a exemplo do crédito e da capacitação técnica, devem ser fortalecidas de modo a reestruturar as cadeias produtivas locais, com vistas à redução do índice de falências e à geração de emprego e renda. Ações coordenadas, envolvendo o público e o privado no diagnóstico dos mercados locais e na definição de ações estruturantes, podem resultar em mercados mais dinâmicos e prósperos, desde que tais empreendimentos estejam inseridos em cadeias produtivas organizadas, com canais de escoamento 42 claramente definidos. A formação de cooperativas pode fortalecer pequenos empreendimentos à medida que reduz os custos operacionais, da aquisição de insumos ao abastecimento do mercado. Aproveitar o potencial do Canal do Sertão para o aprofundamento da agricultura familiar é uma forma de implementar estratégias de desenvolvimento local. Esta é uma oportunidade de introduzir a pequena agricultura profissional em Alagoas, pois há quatro perímetros irrigados projetados. Entretanto, será necessário um aporte substancial de assistência técnica rural e novas tecnologias de irrigação praticamente inexistentes no estado, pois os pequenos agricultores não têm tradição no cultivo irrigado. O desenvolvimento profissional da agricultura familiar em Alagoas depende da melhoria do ambiente institucional vigente, principalmente no tocante as regras para crédito, assistência técnica e comercialização. De certa forma, a política de APLs tenta resolver essas questões, porém, devido aos problemas mais básicos de organização social, o resultado desse esforço nem sempre é imediato. Os instrumentos de crédito já estão presentes. Os bancos do Brasil e do Nordeste possuem pacotes voltados para a agricultura familiar via PRONAF, AGROAMIGO e NORDESTE TERRITORIAL. Além desses mecanismos, a Agência de Fomento de Alagoas (AFAL) está atuando junto a cooperativas de produtores e de crédito para conseguir repassar maior volume de recursos e reduzir os riscos de inadimplência dos pequenos produtores. No longo prazo, a melhor política pública para a agricultura seria criar uma produção integrada com uma agroindústria, particularmente a produção oriunda dos APLs, o que não implica em concentração produtiva e fundiária. Produção integrada é uma forma de inserir os pequenos produtores em uma cadeia produtiva maior, mais desenvolvida e adensada. De um lado, os produtores se especializam na produção de matérias primas agrícolas dentro de padrões estabelecidos pelo mercado final. Na ponta final da comercialização, está a empresa âncora – que pode ser uma cooperativa profissional incentivada com crédito e regras de gestão claras – orientada para o mercado e capaz de repassar tecnologia produtiva para os produtores rurais. O mercado para esses produtos está nos estados vizinhos, particularmente as capitais e cidades de médio porte, onde a demanda é maior e relativamente mais sofisticada. Além do mais, o Nordeste é um dos destinos mais procurados pelos 43 turistas e novos mercados serão abertos, mas sua exploração dependerá de padrões de qualidade em acordo com as exigências e certificações nacionais e internacionais. No âmbito da política de reforma agrária, o maior problema está no critério de contratação da assistência técnica para dar suporte aos assentamentos rurais no que se refere ao uso adequado do solo. Enquanto esta ação for utilizada para remuneração camuflada das lideranças dos movimentos sociais, os assentamentos rurais sofrerão com a ausência de um Plano de Desenvolvimento dos Assentamentos Rurais (PDA) que atenda às suas necessidades. Muitos assentados são ex-moradores de áreas urbanas que jamais tiveram qualquer contato com a terra, o que torna a assistência técnica imprescindível à sua sobrevivência no campo. Não é suficiente disponibilizar terra, semente e crédito para plantio. A sustentabilidade de qualquer empreendimento, seja na área rural ou urbana, requer um conjunto de ações bem articuladas, envolvendo vários atores sociais e agentes econômicos. Se por um lado, os grandes projetos estruturantes do governo estadual podem causar um grande impacto na dinâmica econômica em Alagoas, por outro lado, caso eles sejam realmente efetivados, irão esbarrar na precariedade do fornecimento de energia, de água e na qualidade e disponibilidade de estradas. Não obstante, há outros setores que merecem maiores incentivos da PDP, como: Laticínios, pois estão com programas de melhoraria dos processos produtivos; Amilácios de mandioca, a fim de agregar valor ao APL de Mandioca; Alimentos, para atender a crescente demanda popular por massas e biscoitos; Cerâmica, devido ao déficit estadual de materiais para construção, consequência do aquecimento da construção civil; Cadeia Produtiva da Química e do Plástico, que recebeu somente 0,3% dos desembolsos, porém está se organizando e adensando com novos empreendimentos, sendo um dos projetos do Núcleo RENAPI Alagoas. Diante disso, duas condições são postas para a execução dessas políticas em Alagoas, sem considerar a resolução do gargalo social. A primeira, e mais urgente, é o ajuste dos GPFs aos reais interesses do estado. O PAC possui uma grande carteira de projetos, mas que para alcançar o resultado pleno no desenvolvimento local necessita aprofundar os investimentos em: geração e distribuição de energia no sertão e agreste em Alagoas; no aumento e melhoria da malha viária do estado; no redimensionamento do porto; na reconstrução da ferrovia, 44 particularmente nas regiões com potencial agrícola; e, por último, na melhoria das condições de habitação e qualidade de vida da população mais carente. O PTC, por sua vez, acaba por destinar parte de seus recursos para as transferências do Programa Bolsa Família em detrimento do apoio ao produtor rural, do repasse de crédito ou incentivo à criação de cooperativas e melhorias dos canais de comercialização, via Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), por exemplo. Esse descompasso pode acomodar a produção local, impedindo que haja incentivos direcionados para atuação junto aos produtores estabelecidos nesses territórios. A segunda condição é o desenvolvimento de uma política de Ciência e Tecnologia (C&T) que privilegie as necessidades produtivas locais. Tendo em vista que se destaca em Alagoas a agricultura e a produção de químicos, quando se exclui a agroindústria sucroalcooleira. Os produtos da agropecuária tradicionais do estado, com exceção da cana-de-açúcar, são pouco estudados por parte do sistema de pesquisa estadual. O coco, os laticínios, a horticultura, os ovinos e caprinos, a mandioca e a piscicultura não aparecem nos produtos que recebem maiores incentivos e atenção do sistema regional de inovação. Além desses produtos, o setor industrial não deve ser desprezado, mais ainda quando em Alagoas estão sediadas algumas das mais produtivas empresas da agroindústria sucroalcooleira do Brasil e possui duas plantas da segunda maior empresa da indústria petroquímica do país. Portanto, incentivos ao desenvolvimento de produtos, processos e novas tecnologias ligadas a essa indústria pode colocar Alagoas na rota de investimentos nacionais e internacionais para o desenvolvimento tecnológico. Essas indústrias estão passando por profundas mudanças em sua forma de concorrer, baseada fundamentalmente em inovações em produtos e processos industriais. Uma política de C&T voltada para o desenvolvimento do estado deve eleger um grupo de indústrias e setores que possam ser passíveis de incentivos para pesquisa e desenvolvimento local, principalmente via parcerias público-privada. Esse arranjo institucional deve ser conduzido por uma orquestração entre as secretarias de estado envolvidas com o setor produtivo, com a formação e capacitação de mão de obra e com a produção de ciência e tecnologia. Acrescente-se a necessidade da melhoria do conjunto de empresas do estado, que é fundamentalmente composto por MPEs pouco inovadoras, e não 45 consegue ser referência de desenvolvimento empresarial. Empresas exitosas e com potencial de crescimento são importantes fontes de desenvolvimento econômico, no sentido de inocular no sistema econômico novos investimentos, capacitações e tecnologias. Tudo isso é passível de apropriação local, causando um tipo de externalidade positiva. 4 Considerações Finais Alagoas enfrenta alguns grandes gargalos ao seu desenvolvimento em bases sustentáveis, saber: as fragilidades nos sistemas de educação e saúde, que comprometem a formação de mão de obra para uma economia mais competitiva e de maior geração de renda; a frágil teia empresarial, com muita MPEs e grande informalidade; e a apropriação privada da máquina estatal. Desta forma, a melhoria desse cenário passa pela intensificação na fiscalização dos recursos públicos e por investimentos intensivos em políticas sociais não assistencialistas. Para os anos de 2008 e 2009, o PAC aportou recursos da ordem de R$ 2,1 bilhões, o PTC aportou aproximadamente R$ 1,34 bilhões e a PDP cerca de R$ 0,97 bilhões. Juntos, trouxeram R$ 4,41 bilhões para Alagoas. Ou seja, 24,8% do PIB estadual (de 2007) em dois anos, afetando positivamente a demanda agregada. Apesar dos GPFs representarem um complemento para as políticas estaduais e os esforços municipais para as melhorias sociais e econômicas, a condução e a integração desses projetos não estão totalmente em sintonia com as necessidades imediatas para alavancar o desenvolvimento do estado. Os investimentos dos GPFs devem ser potencializados com políticas locais, a fim de não se transformarem em fonte de maior iniquidade entre Alagoas e os demais estados do Nordeste. A razão disso é o esforço de integração regional presente nas ações destes programas para o estado que, se por um lado, facilita os fluxos de mercadorias e serviços de quem produz para quem compra, por outro lado, num estado eminentemente comprador e com baixa densidade empresarial como Alagoas, esse fluxo ocorrerá no sentido de importação total de mercadorias e serviços de outros estados, podendo asfixiar a frágil economia local. Assim, falar em integração regional de Alagoas dentro de um contexto de novos conhecimentos e tecnologias produtivas, só se tornará realidade na medida em que o gargalo social for resolvido. Dessa forma, o processo e as políticas de 46 desenvolvimento estaduais têm que ser analisados pela integração das esferas econômica, social e ambiental. Referências BNDES. Desembolsos da PDP. Arquivo em Excell disponibilizado pela coordenação da Pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados Nordestinos Selecionados”, 2010. BRASIL. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço de 3 anos do PAC. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010a. _______. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço de 3 anos do PAC: Alagoas. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010b. _______. Casa Civil da Presidência da República (Org.). Balanço do PAC em Alagoas. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/>. Acesso em: 8 abril 2010c. CARVALHO, C. P. O.. Economia Popular: uma via de modernização para Alagoas. 2ª edição. Maceió: Edufal, 2007. ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA – ENSP. Súmula. Radis nº 46, junho 2006. Disponível em http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/46/sumula.html. Acesso em: 25 de julho de 2010. FAIÃO, D.; SORGATO, J.; PEDROSA, V. A.. Canal do Sertão Alagoano: o custo da energia elétrica. IX Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste. Salvador, 2008. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE ALAGOAS – FIEA. Relatório de Competitividade. Maceió: FIEA, 2007. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Alagoas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Maceió/AL, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Alagoas e Proposição de Políticas – Alagoas. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Maceió/AL, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/AL). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. 47 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME - MDS. Relatórios de Execução dos Territórios da Cidadania 2008. Brasília: MDS, 2009. _______. Relatórios de Execução dos Territórios da Cidadania 2009. Brasília: MDS, 2010. 48 INFRAESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O PAC NA BAHIA1,2 Hamilton de M. Ferreira Júnior / Coordenador Estadual Renata Adriana P. Fontes Lima Fábio Batista Mota Thiago Reis Góes 1. INTRODUÇÃO Este artigo constitui uma síntese de parte dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do projeto intitulado ‘Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste’. Mais especificamente, se refere às notas técnicas (NTs) 10 e 11, disponíveis em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. O objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão sobre possíveis repercussões futuras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na economia baiana. Isto, tendo em vista à superação ou mitigação de alguns dos “gargalos” estruturais desta economia, especialmente no que tange à sua infraestrutura. É dito que são repercussões futuras porque, aqui, admite-se que a observação de “impactos” na economia requer um horizonte de tempo muito mais amplo, não contemplado na presente investigação, que considerou o período 2007-2009. Trata-se, desse modo, de um estudo exploratório. 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Bahia”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Os autores agradecem a colaboração dos professores Cesar Vaz de Carvalho Junior e Edgard Porto Ramos, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEPLAN), e dos estagiários Alexsandra Andrade Santana (UFBA), Gustavo Orge Orrico (UFBA), Rodrigo Carvalho Oliveira (UFBA), Thiago Henrique Carneiro Rios Lopes (UEFS), Felipe Pereira Freitas Pinheiro (UFBA) e Leib Alem Braunstein (UFBA). Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa. 49 Além do PAC, as NTs 10 e 11 abrangem o estudo de outros três grandes projetos federais (GPFs): o Plano Nacional de Logística de Transporte (PNLT), a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Programa Territórios da Cidadania (PTC). Todavia, no presente artigo, optou-se por discutir, apenas, o PAC. Isto, tendo em vista tanto a sua maior importância relativa para a Bahia como a maior disponibilidade de informações e dados, que permitiram a realização de um estudo mais bem elaborado; para informações mais detalhadas acerca dos demais GPFs na Bahia, vide NTs 10 e 11. Para o cumprimento dos objetivos deste artigo, foram observados os procedimentos metodológicos arrolados no Termo de Referência (TR) para as NTs 10 e 11, disponibilizado pela coordenação geral da UFRN. Em linhas gerais, foi realizada uma análise qualitativa a partir dos resultados das NTs 10 e 11 – cujas informações e dados, de caráter secundário, foram, em boa parte, obtidos em sítios oficiais, periódicos, relatórios, documentos técnicos, dentre outros. Parte das informações ora apresentadas foram dispostas espacialmente, em mapas, para que se pudesse, com mais clareza, observar a disposição dos investimentos do PAC no território baiano. Tal proposta analítica é, de certa forma, próxima do que Nelson (1998) chamou de “teorização apreciativa”. Isto, no sentido de que se trata de uma tentativa de análise empírica, de caráter qualitativo, das informações e dados arrolados nas NTs 10 e 11, segundo a interpretação subjetiva dos autores sobre o objeto estudado. Além desta introdução, este artigo está dividido em mais três seções. A primeira apresenta uma breve contextualização do PAC na economia do Estado da Bahia. A seção seguinte, os “gargalos” ou elos faltantes da economia baiana. A terceira, uma reflexão sobre possíveis repercussões futuras deste GPF na economia estadual, inclusive no que tange aos arranjos produtivos locais (APLs) baianos. A quarta parte apresenta breves reflexões de políticas, tendo em vista o desenvolvimento do Estado. 50 2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO PAC NA BAHIA3 Os investimentos referentes ao PAC na Bahia totalizam R$ 51,5 bilhões, abrangendo ações em infraestrutura logística, infraestrutura energética e infraestrutura social e urbana. Deste montante, R$ 43,0 bilhões estão previstos para os anos de 2007 a 2010; sendo R$ 8,5 bilhões para os anos posteriores a 2010. Tais investimentos encontram-se divididos entre exclusivos do Estado da Bahia e de caráter regional. Na Bahia, os investimentos em infraestrutura logística têm por objetivos incentivar o turismo e escoar a produção regional através da ampliação da malha de transportes rodoviários, aeroviário, ferroviário e marítimo. Os investimentos em infraestrutura energética buscam garantir o fornecimento de energia para o Estado e a região e desenvolver, ampliar e modernizar as atividades relacionadas ao petróleo na Bahia. Por sua vez, os investimentos em infraestrutura social e urbana visam garantir a prestação de serviços essenciais à sociedade. Das áreas de infraestrutura, a logística recebeu a menor parte dos recursos reservados exclusivamente para o Estado da Bahia. Para esta, estão previstos R$ 3.722,1 milhões, distribuídos em rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e marinha mercante. Deste total, R$ 3.558,9 milhões (96%) são para melhoria do transporte rodoviário, englobando obras de sinalização, manutenção, construção, adequação, concessão e estudos e projetos de rodovias, entre outras. O restante dos recursos, R$ 163,1 milhões (4%), destina-se para melhorias dos transportes marítimo, ferroviário e aeroviário. Os investimentos posteriores a 2010 somam R$ 548,2 milhões. No mesmo período, os investimentos previstos para a infraestrutura energética totalizaram R$ 12.500,40 milhões e destinam-se à geração e transmissão de energia elétrica, produção, exploração e pesquisa de petróleo e gás natural e 3 Este tópico está baseado <http://www.brasil.gov.br/pac>. no nono balanço quadrimestral do PAC, disponível em: 51 pesquisa e produção de combustíveis renováveis. Deste total, R$ 7.363,6 milhões (59%) são destinados a área de petróleo e gás natural, R$ 4.988,2 milhões (40%) para geração e transmissão de energia elétrica e o restante, apenas R$ 148,6 milhões (1%), para combustíveis renováveis. Para os anos posteriores a 2010, os recursos previstos totalizam R$ 3.951,7 milhões, divididos entre as áreas de energia elétrica e petróleo e gás natural. Por sua vez, os recursos destinados para investimentos em infraestrutura social e urbana totalizam R$ 12.519,9 milhões, distribuídos nas áreas de saneamento básico, habitação e infraestrutura urbana. Em valores, tais investimentos correspondem a R$ 2,450,10 (20%), R$ 6.176,40 (51%) e R$ 3.603,40 (29%) milhões, respectivamente. As ações na área de saneamento abrangem abastecimento de água, esgotamento sanitário, melhorias habitacionais, entre outras. Os investimentos em infraestrutura urbana são destinados à universalização do acesso a luz, através do programa luz para todos, construção do metrô na cidade de Salvador e investimentos em recursos hídricos através do programa água para todos. Já os investimentos na área habitacional estão divididos em empréstimos para pessoa física e urbanização e produção habitacional. Com relação aos investimentos regionais, os recursos estão destinados para a infraestrutura logística e energética. Do total de R$ 18.221,40 milhões, R$ 11.229,00 milhões são destinados à logística e R$ 6.992,40 milhões para a área energética. O Quadro abaixo apresenta os investimentos do PAC para a Bahia. Eixo Logística Energética Social e urbana Total Empreendimentos exclusivos 2007 – 2010 3.722,10 12.500,60 Pós 2010 548,3 3951,7 12.229,90 28.452,60 290 4790,0 Empreendimentos de caráter regional 2007 – 2010 Pós 2010 9.057,00 2.172,00 5.492,40 1500 14.549,40 3.672,00 Quadro 1 - Investimentos do PAC para o Estado da Bahia, 2007-2010 e pós 2010, em milhões de Reais FONTE: Programa de Aceleração do Crescimento. Obs: Não inclui FNHIS e financiamento habitacional pessoa física 2009 e 2010. 52 3. CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA BAIANA: ELOS FALTANTES A presente seção tem por fim apresentar, de forma breve, alguns dos principais “gargalos” da economia baiana. Isto é, alguns dos aspectos econômicos e sociais que figuram como limitantes ao desenvolvimento do Estado. Para fins de organização e clareza na exposição, tais gargalos foram sumarizados e apresentados em “recortes”, distribuídos nos subtópicos que seguem. 3.1.1. Forte concentração espacial Como sabido, a economia baiana é fortemente concentrada espacialmente. Dentre os pólos mais relevantes da sua economia, destacam-se: a RMS, articulada com a região de Feira de Santana e com os municípios de Alagoinhas, Catú e Pojuca – a chamada Macrorregião de Salvador –, formando o centro industrial e econômico do Estado; o extremo sul, principalmente os municípios de Eunápolis e Teixeira de Freitas, cuja atividade relevante é a produção de papel e celulose; o cerrado baiano, na região oeste, onde o cultivo de soja e algodão, nos moldes do agronegócio, determinam o vetor de crescimento econômico do oeste do Estado; a região de Juazeiro, importante centro de atividades de fruticultura; Vitória da Conquista, Itabuna e Jequié, como pólos de serviços regionais; e Ilhéus, como um pequeno pólo industrial e de turismo. A Figura abaixo apresenta os principais pólos de desenvolvimento econômico do Estado. Nela, pode-se observar que tais pólos estão situados nas bordas do território baiano, deixando, desta forma, um grande vazio de atividades econômicas no “miolo” do seu território. 53 Juazeiro Barreiras Feira de Santana Camaçari Salvador Jequié Itabuna Vitoria da Conquista Concentração Industrial Cidades-Pólo (Comércio/Serviços) Ilhéus Eunapolis Teixeira de Freitas Figura 1 - Principais pólos de desenvolvimento econômico da Bahia FONTE: SEI, 2007. 3.1.2. Forte concentração setorial Alem de espacialmente, a economia baiana é concentrada setorialmente. A indústria de transformação possui um grande peso na composição do valor adicionado do Estado. Dentro deste segmento, há forte participação da indústria química e petroquímica e metal mecânica. Os serviços, sejam eles públicos ou privados, também possuem forte participação no produto baiano. A atividade agrícola, embora possua uma participação de 5,72% na produção do Estado, está bastante concentrada na produção de soja, algodão e frutas. 54 Tabela 1 - Participação dos setores produtivos no VA baiano Indústria de Transformação Construção Civil Indústria Extrativa Mineral Outros Serviços Pecuária e Pesca Agricultura, Silvicultura e Exploração Florestal Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana Serviços de alojamento e alimentação Comércio e serviços de manutenção e reparação Transporte, armazenagem e correio Intermediação financeira, seguros e previdência complementar Administração, saúde e educação públicas FONTE: SEI, 2010. Participação no VA do Estado da Bahia (%) 15,26 7,91 3,28 21,42 2,42 5,72 5,15 2,11 11,85 4,14 3,83 16,91 Além de concentrada em poucos setores produtivos, a base produtiva do Estado apresenta reduzida capacidade de agregação de valor nas suas cadeias. Existem elos faltantes nas principais cadeias produtivas baianas, altamente especializada na produção de commodities, sejam agrícolas – que por sua vez não se articulam, no âmbito do Estado, com a indústria alimentícia –, petroquímicos – basicamente ligado à segunda geração da industria petroquímica –, ou de celulose. Trata-se, portanto, de uma base produtiva pautada em produtos intermediários, complementar à indústria do Sul/Sudeste do país. A exceção é a indústria automobilística, que apresenta alta capacidade de encadeamento. 3.1.3. Municípios com baixo dinamismo econômico Outra característica da economia baiana é que, de forma geral, os seus municípios apresentam baixo dinamismo. Em 2007, segundo dados do IBGE, o PIB dos municípios da RMS representava cerca de 48% do PIB baiano. Os 52% restantes pertenciam aos outros 407 municípios do Estado. Outro indicador que evidência o baixo dinamismo dos municípios da Bahia é a elevada dependência das receitas constitucionais, sobretudo do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Dos 417 municípios da Bahia, no ano de 2007, somente em 9 deles as receitas próprias representavam mais que 30% das suas receitas de transferências e apenas em 4 municípios as receitas próprias representavam acima de 40% das receitas de transferências. Para aproximadamente 55% dos municípios do Estado as receitas próprias equivalem a menos de 5% das receitas de transferência (SEI, 2010). 55 Observa-se também uma forte concentração populacional na RMS, que, segundo dados do IBGE (2010), concentrava, em 2007, 25% da população do Estado. Apenas cinco municípios possuem população acima de 200 mil habitantes. Dentre eles, Salvador, com mais de dois milhões de habitantes, e Feira de Santana, com aproximadamente 570 mil habitantes. No interior do território baiano Figura um grande vazio demográfico. 3.1.4. Infraestrutura logística deficiente e incompleta É também característica da economia baiana a baixa integração territorial e, conseqüentemente, econômica. Existem gargalos de infraestrutura de transporte multimodal que impedem uma maior articulação da economia baiana com os fluxos de comércio nacional e global. As relações comerciais da Bahia se dão, basicamente, com o Sul e o Sudeste do país. Em parte, devido à própria característica da sua indústria, complementar à do Sul e Sudeste do país, e à problemas na sua matriz de transporte. Tal matriz está centrada no modal rodoviário no sentido norte-sul, via BRs 116 e 101; a Bahia não está articulada com a região oeste do Brasil. No modal rodoviário, os principais gargalos se referem à problemas na pavimentação e extensão da malha. A inadequação de algumas rodovias frente à suas demandas, caso das BRs 101, 116 e 324, prejudicam e encarecem a circulação de mercadorias. O transporte ferroviário baiano é extremamente limitado. Restringe-se basicamente à Ferrovia Centro Atlântica (FCA). Trata-se de uma ferrovia antiga com trechos bastante precários, pontos críticos em inúmeras passagens de nível e invasões de suas faixas de domínio. Seu difícil traçado impossibilita o aumento da velocidade dos trens. Um dos pontos críticos que merece destaque é a passagem na ponte rodo-ferroviária D. Pedro II, entre as cidades de Cachoeira e São Felix, sobre o rio Paraguaçu. Esta passagem é uma operação complexa que dura uma hora ou mais, durante a qual o trânsito entre as duas cidades é interrompido. No que se refere ao modal hidroviário, o rio São Francisco é o único que apresenta características favoráveis à constituição de uma hidrovia. Entretanto, o grande problema da hidrovia do São Francisco é o assoreamento do seu leito, 56 provocado pelo desmatamento de sua mata ciliar, o que diminui a profundidade e atrapalha a navegação. Ademais, apresenta trechos com fundo rochoso. Também não existe um terminal hidroviário apropriado para a intermodadalidade em seus pontos de transbordo. Há problemas com a capacidade operacional e o acessos multimodal aos portos. Além disto, devido à alta taxa de ocupação de berços e filas de atracação, são gerados gastos com sobre-estadia ou redução de produtividade nos navios. Ainda há o problema de perda de carga devido à inadequação dos calados para atender navios de grande porte. 3.1.5. Baixa integração econômica4 A Bahia tem na região Sudeste o seu grande parceiro comercial e na indústria de transformação sua principal atividade econômica exportadora. Em 2006, esta região foi o destino de 78,3% das exportações baianas. A forte parceria comercial da Bahia com a região Sudeste foi devida, em grande parte, à relação com São Paulo. Este Estado foi o destino de 54,5% do total das exportações baianas, sendo 48,0% proveniente da indústria de transformação. Por sua vez, a indústria de transformação foi responsável por 76,6% do total de exportações baianas para outros Estados, com destaque para os produtos derivados da química e petroquímica, com 40,8% do total. Por outro lado, as regiões Centro-Oeste e Norte não figuram como parceiros comerciais importantes. No que se refere às relações comerciais da Bahia com o resto do mundo, observa-se que as mesmas também estão fortemente baseadas nos setores da Indústria de Transformação e na Agricultura e produção Florestal. Aproximadamente 50% do comercio exterior baiano é realizado por 5 empresas de grande porte. Acompanhando a lógica da concentração espacial da produção, o valor das exportações baianas apresenta-se bastante concentrado num pequeno número de municípios. Os dez maiores municípios exportadores eram responsáveis conjuntamente por cerca de 87,0% do valor total exportado pelo Estado no ano de 2008. 4 Baseado na NT 4, disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. 57 3.1.6. Ausência de um sistema regional de inovação Outro gargalo estrutural da economia baiana é a ausência de um sistema regional de inovação. Segundo dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), do IBGE (2005), a Bahia se destaca em relação ao Nordeste no que se refere aos gastos com inovação por parte das empresas. A Bahia responde por aproximadamente 40% do total desses gastos, seguida pelo Ceará, com 21,2%, e Pernambuco, com 12,5%. Todavia, a região Nordeste tem apenas 2% do total dos gastos em P&D das empresas do Brasil; e a Bahia 0,8%. Isto sinaliza uma situação periférica da Bahia e do Nordeste no que tange aos gastos em inovação. Esta liderança da Bahia pode ser explicada com o auxílio da Tabela abaixo. Como se pode observar, 12,1% das empresas inovadoras da Bahia estão no segmento de produtos químicos e 3,1% no segmento de máquinas para escritório e equipamentos de informática. Tais segmentos apresentam um percentual de inovação acima da média industrial (IBGE, 2005). Tabela 2 - Distribuição % das empresas inovadoras do NE e dos seus gastos pelos segmentos industriais Empresas Gastos com Intensidade BA CE PE Inovativas* Inovação** tecnológica Indústria Extrativa - - - Alimentícios e bebidas 22,2 22,7 16,5 Produtos têxteis 4,7 5,2 2,8 Baixa Vestuário e acessórios 12,9 3,5 17,3 Baixa Couro, artigos de viagem e calçados Edição, impressão e reprodução de gravações 1,8 6,1 5,7 Baixa 8,5 6,0 Média-baixa Coque, álcool e combustíveis nucleares 0,2 1,1 Média-baixa Produtos químicos 6,0 20,7 12,1 Borracha e plástico 5,6 12,4 25,6 Minerais não-metálicos 11,1 4,4 Média-baixa Metalurgia básica 0,2 1,6 Média-baixa Produtos de metal 5,7 3,2 Média-baixa Máquinas e equipamentos Máquinas para escritório e equipamentos de informática 4,6 1,6 Média-alta 1,0 1,5 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 0,2 0,4 Média-alta Móveis 3,2 0,9 Baixa 1,1 3,1 18,7 2,6 Baixa Média-alta Média-baixa Alta Outros 11,4 7,6 58,1 57,6 78,7 FONTE: IBGE, 2005. * Total de empresas inovativas do Nordeste distribuído em termos percentuais pelos segmentos industriais. ** Total de gastos com atividades inovativas do Nordeste distribuído em termos percentuais pelos segmentos industriais. 58 Ainda com base na Tabela, observa-se que a maior parcela das empresas inovadoras da Bahia é oriunda do segmento de borracha e plástico, com característica tecnológica média-baixa. Por sua vez, o único segmento dinâmico da economia baiana que apresenta um número de empresas inovadoras relevante é o segmento de produtos químicos. Em ‘Outros’, que representa 58,1% das empresas inovadoras, está a maior parte dos segmentos mais dinâmicos e que apresentam maior participação no PIB da Bahia: refino de petróleo, fabricação de celulose e outras pastas, fabricação de produtos de metal, fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários, caminhões e ônibus e fabricação de peças e acessórios para veículos. Dos setores dinâmicos na economia baiana, apenas o de produtos químicos apresenta resultados expressivos em relação ao número de empresas inovadoras e ao total do gasto em P&D das empresas da região Nordeste. Embora a Bahia se destaque em relação aos outros Estados do Nordeste, há uma distância muito grande em relação aos Estados das regiões Sul e Sudeste. 3.1.7. Sérios problemas sociais De acordo com os dados da PNAD, 2009, e IPEA e SEI (2010), em 2008, 32,7% da população baiana era considerada pobre, com base na linha de pobreza de meio salário mínimo. Quando considerada a população negra, parda ou indígena, a pobreza atingia 33,9% da população. No que se refere à indigência, e considerando a linha de meio salário mínimo, cerca de 11% da população baiana era tida como indigente, o que corresponde a quase 1,5 milhão de pessoas. Os dados referentes ao Programa Bolsa Família (PBF) evidenciam graves problemas sociais no Estado da Bahia. Em 2009, a Bahia possuía 1.581.639 famílias beneficiadas pelo PBF, sendo o Estado brasileiro com maior número de famílias beneficiadas por este programa. Considerado que, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (BRASIL, 2010d), o número médio de membros das famílias beneficiadas pelo programa na Bahia é de quatro pessoas, tinha-se na Bahia, em 2009, aproximadamente 6,32 milhões de pessoas dependentes do PBF, ou seja, 43% da população do Estado. 59 A Figura abaixo apresenta a distribuição da população baiana beneficiada pelo PBF relativamente à população total dos municípios, para o ano de 2007. No mapa, pode-se observar que os municípios localizados no semi-árido, região mais deprimida economicamente da Bahia, têm parcela expressiva da sua população sendo beneficiada pelo programa. Por outro lado, nos municípios das regiões mais dinâmicas do Estado (litoral, RMS e Oeste baiano), onde há maiores oportunidades de emprego e renda, é muito menor a razão entre a população beneficiária e a população total do município. Legenda PBF - Percentual de beneficiários relativamente à população total do município (2007) 61 - 86 50 - 60 38 - 49 17 - 37 Figura 2 - Distribuição da população beneficiária do PBF relativamente a população total dos municípios, 2007 FONTE: Elaboração própria com base nos dados da Matriz Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, disponível em: <www.mds.gov.br>. Nota: para o cálculo do número de beneficiários foi utilizada a média do Estado - 4 pessoas por família, de acordo com informação o MDS. Aproximadamente 62% dos municípios baianos apresentam mais de 50% da sua população sendo beneficiada pelo PBF (área hachurada da Figura abaixo). A maioria deles está localizada na região semiárida do Estado. A Figura abaixo evidência, também, que os municípios menos dinâmicos (levando-se em 60 consideração o PIB) são aqueles nos quais a maior parcela da população é beneficiada pelo Bolsa Família. Legenda Municípios com mais de 50% da população beneficiária do PBF PIB BAHIA 2006 (Em milhões) 9534,31 - 24072,40 3853,36 - 9534,30 1332,59 - 3853,35 378,87 - 1332,58 0,00 - 378,86 Figura 3 - Associação espacial entre o PIB municipal e a relação da população municipal beneficiária do PBF, 2007 FONTE: Elaboração própria com base nos dados do Programa Territórios da Cidadania; SEI (2010) e IBGE (2010). Na economia baiana, a taxa de desemprego é bastante alta. Segundo dados do estudo de monitoramento das metas do milênio do IPEA e SEI (2010), baseado na PNAD, 9% da população do Estado é desempregada. De todas as regiões metropolitanas do país, a RMS apresenta a maior taxa de desemprego – segundo dados do DIEESE (2010). A Bahia apresenta taxas de mortalidade infantil superiores a do Nordeste. De acordo com IPEA e SEI (2010), com base em dados do Ministério da saúde, na Bahia a taxa de mortalidade em menores de cinco anos por mil nascidos vivos era de 21% em 2008. A Taxa brasileira era de 18% e a do Nordeste brasileiro de 20%. Na Bahia, a taxa de mortalidade infantil em menores de um ano por nascidos vivos era de 18,1%, enquanto o Nordeste apresentava uma taxa de 17% e o Brasil de 15%. 61 No que tange à educação, a Bahia encontra-se abaixo da média brasileira. Em 2008, no Brasil, a taxa de alfabetização entre as pessoas de 15 a 24 anos era de 97,8%. Na Bahia, está taxa era de 97%. Com relação ao percentual de indivíduos de 7 a 14 anos que freqüentam a 1ª a 8ª série do ensino fundamental, a Bahia apresentava uma taxa de apenas 54,6%, enquanto, no Brasil, esta taxa alcançava 94,5% (SEI; IPEA, 2010). 4. O PAPEL DO PAC SOBRE OS ELOS FALTANTES DA ECONOMIA BAIANA5 O PAC costuma ser tomado como a retomada do planejamento pela União, direcionando investimentos para a infraestrutura (logística, energética e social e urbana). Em última instância, tem por objetivo fomentar o crescimento da economia brasileira. Contempla, também, a superação de gargalos na área social, especialmente no que se refere ao saneamento e ao déficit habitacional. O metrô de Salvador, importante intervenção no âmbito urbano, que permitiria maior mobilidade na metrópole baiana, ainda não foi concluído. Ademais, seu traçado e sua extensão são insuficientes para solucionar parte dos problemas da infraestrutura de transporte de massa na região, que vêm se mostrando uma questão bastante complicada e imprimindo um viés negativo do ponto de vista da competitividade regional da metrópole baiana. No que se refere ao trem urbano de Salvador, nada foi realizado. Desse modo, os problemas relacionados a mobilidade urbana tendem a permanecer. Isto, mesmo após as intervenções no âmbito do PAC. No entanto, cabe destacar a iniciativa de construção da chamada Via Expressa portuária, que se constitui como uma importante obra que facilitará o escoamento de mercadorias na região metropolitana, além de reduzir problemas urbanos gerados pelo intenso fluxo de caminhões que circulam na cidade de Salvador. 5 Vide Nota Técnica 10 para maiores detalhes sobre as diversas intervenções do PAC na Bahia. 62 Na área de saneamento, as intervenções tendem a ser refletir nos indicadores de saúde; é sabido que a melhoria de tais indicadores tem repercussões sobre o desenvolvimento econômico. Aqui, destacam-se as intervenções no âmbito da Baía de Todos os Santos, com possibilidade de forte repercussão em atividades ligadas ao setor de turismo, fortalecendo a economia dos municípios ali localizados. Outra importante intervenção é a construção, operação e manutenção do Sistema de Disposição Oceânica do Jaguaribe – a primeira PPP em saneamento básico do país. Da mesma forma, além da geração de empregos na sua fase de construção, esta intervenção poderá requalificar urbanisticamente parte da orla de Salvador, bem como melhorar as condições de esgotamento e, consequentemente, de saúde das populações que margeiam a bacia do rio Jaguaribe. O Projeto Salitre e Baixio de Irecê e a recuperação da bacia do São Francisco são intervenções que tendem a fortalecer bases produtivas locais, seja na agricultura ou pecuária. Estes são projetos que possuem capacidade de estimular a produção local ao possibilitar acesso à água, um dos grandes problemas do semiárido baiano. A Figura abaixo apresenta as demais obras na área de saneamento e acesso à água localizadas na região semiárida. Tais investimentos são importantes tanto do ponto de vista econômico quanto social. Como dito, esta é a região que apresenta os piores indicadores sociais do Estado. 63 Projeto Salitre Baixio de Irecê Sistema Adutor de Jacobina Barragem Gasparino Sistema Integrado Pedro Alexandre Sistema Adutor Cafarnaum Revitalização da Bacia do São Francisco Drenagem em Salvador Estação de Tratamento Barra do Choça e Planalto Programa Águas para Todos. Investimento de R$ 143 milhões Programa Luz para Todos. Investimento de R$ 1,5 bilhão Figura 4 - Intervenções do PAC na Bahia na área de saneamento FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC. De fato, em se efetivando os projetos anunciados, o PAC poderá repercutir positivamente na qualidade de vida da população baiana, uma vez que tende a melhorar os indicadores econômicos e sociais; embora não pareça suficiente para a superação dos graves problemas sociais da região do semiárido. O grau de execução do mesmo ainda é bastante limitado, considerado o prazo inicialmente programado para a conclusão das intervenções. Na área de logística, o principal objetivo das ações do PAC na Bahia são a ampliação da infraestrutura do Estado, com vistas ao aumentando da competitividade da sua economia. Como dito, as relações comerciais da Bahia com outras regiões do Brasil se dão maiormente via modal rodoviário, através das BRs 116 e 101, e se caracterizam por relações Norte-Sul. Desse modo, os investimentos previstos no PAC para a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste permitirá criar um novo canal de articulação das atividades produtivas e comerciais do Estado com outras regiões do Brasil; notadamente o Centro Oeste, o novo vetor de desenvolvimento econômico do país. Isto, devido, em parte, às externalidades positivas que tal intervenção pode gerar, atraindo para o interior do território baiano fluxos de mercadorias que circulam no território nacional e novos investimentos 64 privados; na medida em que estimula potencialidades existentes em alguns subespaços baianos, caso da produção de minério de ferro na região sudoeste da Bahia. Os investimentos do PAC na área de infraestrutura logística, se efetivados, poderão alterar o cenário de integração econômica e territorial da Bahia. Nesta área do PAC, gargalos históricos da economia baiana poderão ser superados; caso do cruzamento ferroviário na região dos municípios de Cachoeira e São Felix e do ramal ferroviário que interliga o porto de Aratú a Camaçarí. Todavia, tais intervenções não permitirão uma alteração significativa na matriz de transporte baiana, concentrada no modal rodoviário. Embora indicado na Figura abaixo, a construção do Porto Sul não está prevista no PAC. Entretanto, a Ferrovia de Integração Oeste–Leste (FIOL), prevista no PAC, só se viabiliza se estiver associada a um porto. Dessa forma, em se efetivando a construção do Porto Sul, interligado a FIOL, e a construção do novo aeroporto de ilhéus (este previsto no PAC), abre-se grande possibilidade para a atração de investimentos privados e para mudanças na lógica econômica do litoral sul baiano; podendo-se constituir num novo vetor de crescimento, contribuindo para a desconcentração da atividade econômica no Estado. 65 BR-116 Construção da Ponte BA/PE Pavimentação da BR-135 PI/BA/MG BR-101 Duplicação e Adequação do Entroncamento com a BR-324 Metrô de Salvador Ferrovia de Integração Oeste Leste Adequação e Melhorias Aeroporto de Salvador RELAM Construção da Via Expressa Portuária LT Ibicoara - Variante Ferroviária Camaçari/Aratú Contorno Ferroviário São Félix/Cachoeira - Adequação e Melhorias Porto de Aratú e de Salvador Drenagem e Derrocamento da Hidrovia do São Francisco Concessão PPP/ BRs 116/324 Novo Aeroporto de Ilhéus Figura 5 - Intervenções do PAC na Bahia na área de infraestrutura logística FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC. Com relação à infraestrutura energética, o gasoduto (Gasene) é a grande intervenção do PAC na Bahia. A sua construção possibilitará a geração de empregos diretos e a dinamização de segmentos como o de hotelaria, alimentação, transporte, telecomunicações e comércio varejista em geral. Ademais, criará oportunidades para empresas atuarem como fornecedores da Petrobrás. Espacialmente, as ações na área energética concentram-se na RMS, fortalecendo, assim, a região mais dinâmica do Estado. 66 UHE Pedra Branca UHE Riacho Seco RELAM RELAM LTIbicoara Ibicoara- LT Brumado Brumado II II Gasene UTE GLobal I UTE Global II UTE Camaçari Pólo de Apoio LT Funil-Itapebi UTE Monte Pascoal UTE Itapebi LT Eunápolis-Teixeira de Freitas II C1 e C2 Figura 6 - Intervenções do PAC na Bahia na área de infraestrutura energética FONTE: Elaboração Própria, baseada no 9º balanço do PAC. 4.1. O PAC E OS APLs BAIANOS6 A Figura abaixo apresenta os 14 APLs baianos identificados e apoiados e a sua localização no mapa estadual7. Tais arranjos são bastante heterogêneos. Isto, tanto do pondo de vista da dinâmica socioespacial em que estão inseridos quanto no que diz respeito à base tecnológica, formalidade das empresas, capacitação técnica e gerencial e inserção comercial. Dentre os arranjos identificados e apoiados, alguns estão distribuídos espacialmente na região mais dinâmica do Estado, a RMS e Feira de Santana, onde as relações formais são mais presentes e as políticas de caráter horizontal (educação, saúde e infraestrutura de transporte) se expressam mais fortemente. Nesta região estão os APLs de TI, transformações plásticas, confecções, fornecedores da cadeia automotiva, fármacos e cosméticos e as empresas de beneficiamento do APL de rochas ornamentais. Na região mais deprimida do Estado, o Semi-árido, onde as condições de infraestrutura são frágeis, encontram-se os APLs de caprinovinocultura, sisal, piscicultura, turismo cultural, rochas ornamentais e derivados de cana (este último com empresas em alguns 6 Com base na NT 7, disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. Atualmente, o Núcleo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais da Bahia (NE-APLs/BA) apóia 14 APLs. Destes, 11 através do PROGREDIR. Os outros três arranjos – cacau, fármacos e cosméticos e turismo cultural –, embora integrem a lista dos APLs apoiados, não são, de fato, beneficiados por políticas específicas de fomento 7 67 municípios na região litorânea). No litoral sul do Estado se localiza o APL de turismo e o de cacau. No Norte do Estado, mais precisamente na cidade de Juazeiro, se localiza o APL de fruticultura e no Nordeste, na cidade de Paulo Afonso, o APL de Piscicultura. Legenda Limite Municipal PIB BAHIA 2006 (Em milhões) 9534,31 - 24072,40 3853,36 - 9534,30 1332,59 - 3853,35 378,87 - 1332,58 0,00 - 378,86 APL- Arranjos Produtivos Locais 1 - Fornecedores Automotivos 2 - Caprinovinocultura 3 - Confecções 4 - Derivados de Cana 5 - Fruticultura 6 - Transformação de Plástico 7 - Psicultura 8 - Rochas Ornamentais 9 - Sisal 10 - Tecnologia da Informação 11 - Turismo Figura 7 - APLs baianos x PIB municipal FONTE: Elaboração própria, a partir dos dados sobre o PIB municipal do IBGE e da lista dos APLs apoiados na Bahia. Os projetos estruturantes ligados à infra-estrutura produtiva e social que estão contemplados no PAC podem provocar externalidades positivas para os arranjos apoiados na Bahia. Estes investimentos são fundamentais não somente para se pensar uma política para APL que tenha um caráter estruturante. Eles se constituem em uma ação necessária para fazer com que a Bahia venha a participar de forma competitiva tanto nos fluxos do comércio interestadual quanto nos internacionais. Inserção esta que vem trazendo alterações na circulação e produção das mercadorias e serviços dentro do espaço nacional. A ausência destes investimentos estruturantes teria como conseqüência um esvaziamento ainda maior do espaço baiano, uma integração de seus extremos para fora do Estado, sem articular o litoral com a parte central, “o miolo” e o Oeste do Estado. 68 A Bahia tem poucas áreas economicamente dinâmicas. O Oeste ainda tímido, com recente desenvolvimento pautado na agroindústria. O litoral desenvolvido, sobretudo na RMS, concentrando as atividades industriais e de serviços e a fruticultura no médio São Francisco. Observa-se, também, alguns municípios dinâmicos, como Jequié e Vitória da Conquista. Portanto, a partir da infra-estrutura econômica e logística adequadas será possível articular estas distintas regiões e criar sinergias entre elas. Conforme observado, na Bahia, existem APLs que se localizam entre estas regiões e que são importantes para a geração de emprego e renda e podem operar como empresas ofertantes de produtos em nichos de mercado para o resto do Brasil e para o exterior – como, por exemplo, os produtos dos APLs de rochas ornamentais, caprinovinocultura, sisal e piscicultura. Uma vez efetivados os investimentos previstos pelo PAC, pode-se esperar alterações significativas na economia baiana. Os projetos relacionados à infraestrutura logística repercutirão espacialmente, alterando a lógica de circulação dos fluxos econômicos que passam pela Bahia e ligará os diversos sub-espaços baianos, hoje pouco articulados, o que permitirá uma maior integração do Estado da Bahia com outras regiões, como o Centro-Oeste do país. Atualmente as relações de produção/circulação da Bahia com outras regiões do Brasil (notadamente com o SulSudeste e Nordeste) ainda ocorrem hegemonicamente pelo modal rodoviário, através das BRs 116 e 101, e se caracterizam por relações Norte-Sul. Dentre os projetos relevantes previstos no PAC e no programa estratégico do Governo do Estado da Bahia, que podem repercutir espacialmente, destacam-se: Construção da Ferrovia de Integração Oeste-leste; Construção da BR 135; Recuperação/Drenagem da Hidrovia do São Francisco; Concessões das BRs 101 e 116; Pavimentação da BR 235, 030. A efetivação destes projetos e suas articulações com outros previstos, como a Ferrovia Transnordestina, podem representar um novo ciclo de desenvolvimento para a região Nordeste e para a Bahia. Tais projetos poderão articular negócios e espaços que representam possibilidades de desenvolvimento de antigas e novas atividades (espacialmente, as relações NorteSul com Oeste-Leste). 69 Além dos projetos relacionados à infraestrutura de transporte, é possível destacar outros que poderão beneficiar as regiões onde estão localizados os APLs baianos. Por exemplo, os projetos de irrigação Salitre e Baixio de Irecê, previstos no PAC, que são fundamentais para a produção no semiárido. Tais projetos beneficiarão fortemente os APLs de fruticultura e caprinovinocultura. A recuperação da hidrovia do São Francisco também pode provocar externalidades positivas para o APL de fruticultura, visto que facilitará a distribuição da produção. 5. REFLEXÕES DE POLÍTICAS Esta parte do trabalho se beneficia do marco analítico utilizado tanto no ‘Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira’ (ECIB), de Coutinho e Ferraz (1994), quanto no ‘Made in Brazil: desafios competitivos para a indústria’, realizado por Ferraz et al (1996). Em ambos, a avaliação percorria uma lista de determinantes ou de condicionantes da competitividade da indústria brasileira e os desafios que o conjunto da economia do país deveria enfrentar. A longa lista de elementos foram enquadrados em sistêmicos, estruturais e empresariais. Assim fazendo, ambos os estudos delinearam um recorte analítico capaz de dar conta de fatores ambientais horizontais (política macroeconômica, estrutura institucional no interior da qual se processa a atividade econômica, relações internacionais, entre outras) e fatores ambientais verticais (políticas para setores regulados e voltadas para alavancar a competitividade de cadeias produtivas específicas). No âmbito dos fatores estruturais, os trabalhos acima apontados observaram os desafios e oportunidades que tanto estreitavam o escopo das políticas internas aceitáveis (como a possibilidade de substituição de importações no novo contexto internacional de comércio) quanto abriam janelas de oportunidades possivelmente aproveitáveis por alguns países. Neste último caso, se introduzidas políticas de indução, estruturação e regime de incentivos voltados para a adoção de estratégias competitivas sustentáveis nas diversas estruturas e configurações de mercado por parte das empresas (fatores empresariais). O alinhamento das estruturas produtivas locais às suas congêneres internacionais disparava um leque de políticas voltadas 70 para a criação, preservação e estímulos à competitividade das específicas estruturas produtivas nos três recortes apontados. A Bahia apresenta problemas sistêmicos, estruturais e empresariais. Na Bahia, o PAC tem um forte componente sistêmico ao fomentar, reestruturar e desenvolver a malha logística do Estado, criar mercados através das políticas de transferência de renda em todos os seus níveis institucionais, servir de mecanismo de indução do investimento privado na economia local. Isto, além de permitir a articulação dos espaços afastados das “bordas” do Estado. A nova malha logística (linhas férreas, novos modais, etc.) pode fazer com que a interiorização de atividades econômicas tenha continuidade não apenas aproveitando os baixos salários locais, mas também outras fontes de autêntica competitividade. A atual taxa de câmbio, em sinal contrário, penaliza a fruticultura irrigada de exportação ao reduzir a margem de lucros dos produtores de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e dos exportadores do Rio Grande do Norte. Ganhar competitividade é um processo lento e de difícil aprendizado. Entretanto, a destruição do padrão de eficiência alcançado por efeito de políticas macroeconômicas inadequadas para os exportadores da região é rápida e muitas vezes irreversível. Outro efeito sistêmico, em parte devido ao estímulo gerado pelo PAC, é a preocupação com a reconstrução das políticas de planejamento em nível estadual. No Estado da Bahia, um claro exemplo desta preocupação foi o “Pensar a Bahia”. Em dezembro de 2009, foi lançado pelo Governo da Bahia, através da Secretaria do Planejamento (SEPLAN), o ciclo de debates ‘Pensar a Bahia – Construindo o nosso futuro’. Tal evento, que se estendeu até março de 2010, foi constituído por rodadas de seminários envolvendo Governo, sociedade, empresários e especialistas e a discussão de temas variados e relevantes para o planejamento das ações de políticas do Estado. Um dos objetivos da SEPLAN foi fazer dos debates insumo à elaboração de um plano de desenvolvimento para o Estado até o horizonte de 2023, quando a Bahia completará 200 anos de independência. Desse modo, espera-se que as diretrizes deste plano – chamado de Plano de Desenvolvimento Bahia 2023: 200 anos de independência – contribuam para orientar a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012 e dos próximos três Planos Plurianuais (PPAs). 71 A articulação da política de planejamento estadual com a nacional parece condição necessária para viabilizar a compatibilidade ex-ante das políticas e evitar eventuais redundâncias. De todo modo, a Bahia é parte do Brasil e do Nordeste e não crescerá com todo seu potencial sem um ajuste nas políticas estaduais de maneira a produzir, sem duplicidade antieconômica, arranjos institucionais viáveis (Parques e Pólos Tecnológicos avançados). Os Estados da região precisam desenvolver jogos cooperativos de soma positiva (rendimentos crescentes) e não apenas políticas de atração de investimentos que esvaziam os Tesouros estaduais e inviabilizam as políticas públicas de oferta de bens públicos, externalidades e geração qualificada de empregos. Certamente algum padrão de especialização com fortes complementaridades inter-estaduais seria muito saudável para a região. Outro ponto à considerar, é que não se deve perder a oportunidade de alavancar as cidades médias do Estado, para que possam atuar como campo de atração das cidades muito pequenas; a Bahia apresenta 417 municípios, que, por isto, não oferecem densidade econômica e escala para negócios de tamanho relevante, mesmo quando de escala muito reduzidas. Nesse sentido, a garantia de um patamar mínimo de serviços públicos nas cidades de pequeno porte não deve obscurecer o fato de que a desigualdade econômica entre os municípios da Bahia não desaparecerá. Dadas as carências locais, “fixar o homem no campo” parece até perversidade, mesmo quando ingênua (a Bahia tem uma região semi-árida que representa 70% da área total do Estado, concentra cerca de 5 milhões de pessoas e produz cerca de 25% do PIB estadual). O ponto é que, dada a heterogeneidade da sociedade e economia local e a enorme extensão territorial do espaço constitutivo do Estado, não se pode prescindir de usar todos os instrumentos de política disponíveis para enfrentar o quadro de pobreza estrutural do Estado. Trata-se não apenas de “inventar tradições”, como nos apresentou Hobsbawm, mas de dar impulso à criatividade para repor ou desenvolver novas instituições pró-desenvolvimento regional. O que certamente não é desejável é recriar instituições fora do tempo e lugar. Ou seja, incapazes de articular interesses econômicos intra-regional, fornecer crédito (que não deu certo no passado recente) ou mesmo induzir ações de âmbito regional que façam avançar as 72 complementaridades estaduais presentes ou a serem criadas. O fato é que as políticas no Nordeste não podem ser estritamente estaduais. O parque industrial do Estado é profundamente carente de sofisticação e complementaridade intra-estadual. Talvez, na verdade, jamais tenha havido qualquer possibilidade de integração inter-industrial no Estado. Não existe dúvida, entretanto, de que o recorte de política com base em APLs se mostra imprescindível. Neste sentido, a revisão do Programa PROGREDIR e sua adequação as características dos seus prováveis demandantes parece ser crucial para reorientar a política local voltada para APLs. Tal adequação deveria buscar, por exemplo, fortalecer, também, o empresariado local, cuja fragilidade figura como severo condicionante da competitividade das empresas baianas. A priorização do foco em APLs, junto com uma reforçada capacidade de governança e gestão do planejamento público e articulação interinstitucional, poderá reverter o quadro atual de pouca efetividade da política de APLs na Bahia; pois, de fato, ela tem muito para contribuir na geração de renda, emprego e coesão social. REFERÊNCIAS ATARDE. Novo ciclo de desenvolvimento econômico e social sustentável. Jornal A Tarde, Salvador, 20 junho 2010, Especial PAC Bahia, Caderno especial, p. 5. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento indústria e Comércio. Programa de Aceleração do Crescimento. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/pac/>. BRASIL. Programa de Aceleração do Crescimento. Balanço 3 anos (Bahia). Disponível em: < www.pac.gov.br >. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível em: <www.mds.gov.br>. COUTINHO, L.; FERRAZ, J. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Editora Papirus – UNICAMP, 1994. DIEESE - DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Disponível em: <www.dieese.org.br>. 73 FERRAZ, J.; KUPFER, D.; HAGUENAUER, L. Made in Brazil: Desafios competitivos para a indústria. Rio de Janeiro: Campos, 1996. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Análise do Balanço de Pagamentos do estado e a importância dos APLs no Fluxo de Comércio – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Salvador/BA, setembro 2009. (NOTA TÉCNICA 4/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Síntese dos Resultados, Sugestões e Recomendações. – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Salvador/BA, janeiro 2010. (NOTA TÉCNICA 7/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Bahia – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Salvador/BA, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. FERREIRA JUNIOR, Hamilton de Moura, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Bahia e Proposição de Políticas – Bahia. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Salvador/BA, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/BA). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas regionais. Disponível em: < www.ibge.gov.br >. Acesso em: 02 de julho de 2010. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), 2005. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 de julho de 2010. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD), 2009. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 de julho de 2010. NELSON, R. The agenda for growth theory: a different point of view. Cambridge Journal of Economics, 22, p.497-520, 1998. SEI - SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DE BAHIA. Monitoramento das Metas do Milênio. Disponível em: <www.sei.ba.gov.br>. 74 SEI - SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DE BAHIA. Rodadas de discussão de temas estratégicos: contribuição ao PPA 2008-2011. Relatório, 2007. Disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br/>. 75 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS EM ESTADOS NORDESTINOS - CEARÁ1 Jair do Amaral Filho / Coordenador Estadual - UFC,2 Maria Cristina Pereira de Melo - UFC Francisco Laércio Pereira Braga - UFC Daniel Campos Lavor - UFC Introdução O presente artigo aborda essencialmente a contextualização e os impactos dos grandes, ou simplesmente, projetos federais no Estado do Ceará em perído recente, além de expressar reflexões sobre o tema e propor políticas. Para a realização deste, utilizou-se de levantamentos de dados e informações secundários disponíveis em relatórios oficiais e em fontes auxiliares. No entanto, entrevistas3 realizadas com policy makers e gestores públicos, lideranças políticas e empresariais constituíram-se em fonte primordial para a análise dos impactos desses projetos no Estado, assim como para as proposições elaboradas. Este artigo está dividido em três seções, além desta Introdução e das Considerações Finais. A seção 1 faz um levantamento breve dos grandes projetos federais até o ano de 2010. Os projetos observados iniciam-se com os de infraestrutura logística, infraestrutura energética, e infraestrutura social e urbana, todos esses relacionados aos empreendimentos do PAC e do PNLT. Em seguida, é apresentada uma caracterização dos projetos referentes à Política de Desenvolvimento Produtivo, ao Programa Territórios da Cidadania, e a Zona de Processamento para Exportação-ZPE. 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Ceará”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Participaram da pesquisa os estagiários Daiane Marques da Silva, Daniel Cavalcante Queiroz de Lima, Felipe Cavalcante Coelho e Renan de Carvalho Figueiredo. 3 Os autores agradecem a todos aqueles que se dispuseram conceder entrevistas, as quais foram essenciais para a fundamentação da pesquisa. 76 A seção 2 busca analisar os impactos dos referidos projetos na economia do Estado. Nesta parte, procura-se manter a mesma ordem dos itens analisados na seção 01. Na seção 3, são desenvolvidas reflexões e proposições acerca das políticas e projetos observados. Pretende-se com isso construir uma apreciação em torno da endogenia dos empreendimentos, utilizando-se também, nessa fase, as sugestões e proposições colocadas pelos entrevistados. Isto permitiu refletir acerca do modelo de política federal, com relação à sua contribuição para o efetivo desenvolvimento da economia estadual. Por fim, ao longo da seção encontram-se sugestões de políticas com vistas à promoção do desenvolvimento do Estado do Ceará. As Considerações Finais concluem este artigo, buscando uma visão sintetizadora do conjunto de informações e reflexões consideradas. 1- Breve Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Economia do Estado do Ceará Nesta seção será feito um breve resgate dos principais empreendimentos que estão sendo realizados no Ceará pelos seguintes programas: (i) Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), (ii) Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT), (iii) Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), (iv) Programa Território da Cidadania (PTC) e (v) Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Os investimentos do PAC estão pautados prioritariamente em infraestrutura, com objetivos voltados para o desenvolvimento sustentável, no que tange à eliminação ou, pelo menos, redução dos obstáculos ao crescimento da economia, pois pretendem favorecer o aumento da produtividade e a redução das desigualdades sociais. Esses projetos de infraestrutura possuem três eixos, a saber: Infraestrutura Logística, Infraestrutura Energética e Infraestrutura Social e Urbana. O número de projetos do PAC no Estado do Ceará totaliza 840, dos quais 799 estão nas áreas de habitação e saneamento básico, e 41 nas áreas de infraestrutura logística e energética. Desse conjunto, 10,2% estão concluídos, 4% em fase de execução, 28% em fase de execução de obras e 57,9% ainda não saíram do papel (BNDES, 2010a). 77 Quando se faz a seleção dos macro-projetos, sejam eles exclusivos do Ceará ou não, percebe-se claramente que esses se concentram principalmente nas regiões próximas à capital, Fortaleza, ao longo do litoral, e na região Sul do Estado (MAPA 01). No mapa em questão é possível verificar três grandes projetos, o primeiro deles é a ferrovia Transnordestina, que cortará todo o estado, desde o município de Penaforte (região Sul do Estado) até São Gonçalo do Amarante. O segundo projeto é referente à Transposição do Rio São Francisco, que beneficiará alguns municípios das regiões do Cariri e do Vale do Jaguaribe. O terceiro grande projeto é o Eixão das águas, que beneficiará os municípios da Região Metropolitana de FortalezaRMF até São Gonçalo do Amarante. Nos municípios com tonalidades de cinza mais clara são contemplados por outros projetos federais. MAPA 01 - Municípios Cearenses Beneficiados pelos Macro-projetos Federais Legenda: Trajeto escuro do Sul do Estado até o Norte refere-se à Transnordestina. Trajeto tracejado em cor escura e clara refere-se ao Eixão das águas. Municípios em cinza escuro referem-se aos àqueles beneficiados pela Transposição do Rio São Francisco. FONTE: Geografia – UFC, Elaboração Própria. 78 1.1 Projetos Federais selecionados – Programa de Aceleração do Crescimento e Programa Nacional de Logística e Transporte 1.1.1 Infraestrutura Logística 1.1.1.1 Transnordestina A Transnordestina é uma ferrovia que integrará sete estados do Nordeste, e poderá beneficiar vários setores econômicos. Seus trens transportarão 11 vezes mais do que as máquinas atuais, o que elevará a capacidade de escoamento agrícola da região Nordeste, especialmente Piauí e Maranhão. Com cerca de dois mil quilômetros de extensão, esta ferrovia permitirá interligar a estrutura produtiva dessa região com as demais regiões brasileiras. Unindo três pontos da malha ferroviária do Nordeste - Missão Velha (CE), Salgueiro (PE), e Petrolina (PE), permitirá alavancar, como foi dito, o desenvolvimento econômico de diversos setores e sistemas produtivos em sua área de abrangência, particularmente os sistemas produtivos gesseiro do Araripe, pedras ornamentais do Cariri e o agroindustrial de Petrolina e Juazeiro. Além disso, permitirá integrar o sistema rodoviário sertanejo com a malha ferroviária já existente, tornando mais eficiente a logística do transporte de cargas. A Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), de natureza privada, investirá na Transnordestina um total de R$ 5.421,6 bilhões, sendo que os vários trechos em construção estão em fases diferentes de andamento, mas a previsão para sua conclusão é para dezembro de 2012 (BNDES, 2010a). 1.1.1.2 Estradas e Rodovias No momento, o maior investimento em rodovias é a construção do arco rodoviário metropolitano, ligando a BR-116 com o Porto e o Complexo Industrial do Pecém. Assim, todo o movimento de carga entre as diversas vias e destinos interligados poderá evitar sua passagem por Fortaleza (a menos que seja realmente seu destino), otimizando o trânsito na cidade. 79 A obra do contorno será executada entre o entroncamento da CE-040 (Messejana), com a BR-020 (Contorno de Fortaleza), e a BR-222, localizado nos municípios de Eusébio, Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú e Caucaia, todos na Região Metropolitana de Fortaleza. Orçado em R$ 162,8 milhões, o empreendimento tem como meta duplicar 32 km de estradas. A data de conclusão é outubro de 2011 (BNDES, 2010a). 1.1.1.3 Portos O programa de dragagem e aprofundamento do acesso aquaviário do Porto de Fortaleza – também conhecido como Porto do Mucuripe - está previsto ainda para o ano de 2010, com a retirada de areia do fundo do mar. O objetivo deste programa de dragagem é aumentar a área para que os navios, principalmente os de grande porte, possam de fato atracar no porto de Fortaleza. Com a obra espera-se atingir uma importante meta, qual seja, a de aumentar a profundidade do Porto para 14 metros, que atualmente é de 10,5 metros, o que irá possibilitar a atracação de navios de até 100 mil toneladas (o dobro da capacidade de recebimento atual). Nessa obra, serão investidos R$ 63,8 milhões. O empreendimento está em fase de ação preparatória (BNDES, 2010a). Outro porto também importante para o Ceará é o Terminal Portuário do Pecém, inaugurado em março de 2002, tendo sido idealizado para propiciar operações mais eficientes a custos reduzidos, com acessos rodoviários e ferroviários, o que o tornaria competitivo em nível nacional. Nesse porto, há vários projetos para torná-lo mais eficiente do que é hoje, entre os quais destacam-se, primeiro, a obra de construção do terminal múltiplos usos – que figura no Programa Nacional de Logística e Transporte – que tem por objetivo evitar congestionamentos de operações que possam ser causados pela implementação e funcionamento da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).4 Com essa usina estima-se um crescimento de 150% na movimentação de cargas no terminal, de modo que estas implementações se mostram de fato necessárias. O segundo, é o terminal 4 A CSP tem como sócios a Vale do Rio Doce (50%) e as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%), projeto este orçado em US$ 4 bilhões com capacidade de produção de 6 milhões de toneladas de placas de aço/ano. 80 intermodal de cargas que servirá de apoio às atividades portuárias complementares, evitando o surgimento de futuros gargalos logísticos. 1.1.2 Infraestrutura Energética 1.1.2.1 Parques Eólicos A implantação de parques eólicos no Estado faz parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) do Governo Federal. Tal programa poderá tornar o Ceará auto-suficiente em geração de energia, mesmo sem possuir fontes hidráulicas para tal finalidade. No geral, são 14 novos parques eólicos implantados no Estado, que terão 518,3 MW de potencia instalada. Somadas às três usinas já existentes, os novos projetos darão ao Ceará 1.060,3 MW de potencia de energia eólica. 1.1.2.2 Biodiesel Petrobrás A usina da Petrobrás Biocombustível, no município de Quixadá, é uma subsidiária criada para concentrar os projetos de biocombustíveis da Petrobrás. A unidade tem capacidade para produzir 57 milhões de litros de biodiesel por ano. Uma das particularidades dessa usina são os sistemas que permitem a realização de manutenção sem comprometer a continuidade operacional, garantindo alto desempenho em relação à sua capacidade e à qualidade do biodiesel. Outro diferencial dessa usina é a grande autonomia para funcionamento devido à capacidade de armazenamento de matéria-prima, bem como de produtos intermediário e final. O valor do empreendimento totalizou R$ 118,60 milhões entre 2007 e 2010, estando a obra totalmente concluída. (BNDES, 2010a). 1.1.2.3 Terminal de Regaseificação de GNL O projeto de regaseificação de GNL da Petrobrás é um dos principais projetos de infraestrutura no Estado.5 Esse empreendimento será um grande marco para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém e para a Endesa-Fortaleza. O terminal 5 Esse projeto, também instalado no Estado do Rio de Janeiro, foi considerado pela KPMG como um dos cem principais projetos de infraestrutura do mundo em 2010. 81 terá capacidade para regaseificar 7 milhões de metros cúbicos/dia, o equivalente a cerca de metade do consumo atual de gás natural destinado ao mercado térmico brasileiro. O gás será usado, prioritariamente, para geração de energia elétrica nas usinas Termoceará, Termofortaleza, ambas no Complexo Portuário e Industrial do Pecém, e Jesus Soares Pereira (RN). Uma das inovações do projeto GNL Petrobras é a transferência de gás natural liquefeito entre os navios - supridor e regaseificador - por meio de braços criogênicos, capazes de suportar temperatura de 162° C negativos. Nesse projeto, foi investido um total de R$ 981 milhões no período de 2007 e 2010, tendo sido concluído no mesmo intervalo de tempo. (BNDES, 2010a). 1.1.3 Infraestrutura Social e Urbana 1.1.3.1 Eixão das Águas Eixo de integração das bacias hidrográficas de Jaguaribe e Região Metropolitana de Fortaleza - mais conhecido como Eixão das águas - é um canal de transposição com 255 quilômetros de comprimento, na forma de um trapézio, com até 3 metros de altura em determinados pontos, e com vazão de 22m3/s. Esse canal formará um complexo de estação de bombeamento, canais, sifões, adutoras e túneis que levará água do açude Castanhão até a RMF onde reforçará o abastecimento de água para o consumo humano além do industrial, no Complexo Portuário Industrial e Portuário do Pecém. O investimento total previsto para esse empreendimento é de R$ 234,30 milhões, entre 2007 e 2010. O empreendimento encontra-se em fase de construção e conclusão, estando os trechos I, II e III já concluidos e oficialmente inaugurados (RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ, 2009; WWW.sohidra.gov.ce.br). 1.1.3.2 Transposição do Rio São Francisco Há várias soluções e objetivos habitando e alimentando o imaginário coletivo da população do Nordeste em relação ao projeto da Transposição do Rio São Francisco. Entretanto, o objetivo principal e real desse projeto é o de oferecer 82 segurança hídrica aos estados mais vulnerávéis nessa questão, na medida em que a transposição completará os açudes estratégicos da região em momentos de déficit hídrico. Nesse sentido, seu principal impacto estará voltado para o consumo humano de uma parte das cidades do semi-árido nordestino. Como externalidade, o projeto irá prover as sedes dos municípios da área de influência, direta ou indireta, da transposição, com sistemas públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário, de forma que os objetivos e benefícios da transposição sejam alcançados de forma mais ampla. O orçamento total dos estudos e projetos está em R$ 6.031.566,19. A previsão inicial para a conclusão da obra estava marcada para final de 2010. (BNDES, 2010a). 1.1.3.3 Metrofor O METROFOR será um metrô com 43 km de extensão, sendo 4km subterrâneos e 4,4 km de elevado, implantado em três estágios, aproveitando ao máximo a malha ferroviária já existente. A concepção do projeto METROFOR pretende modernizar o sistema ferroviário existente na Região Metropolitana de Fortaleza, por meio da eletrificação de suas principais linhas, além da aquisição de material rodante que formará os Trens Unidade Elétricos (TUEs), da instalação de sistemas modernos de sinalização e telecomunicações, da implantação de novas estações, da reforma das estações já existentes, e da melhoria no sistema ferroviário de cargas, dentre outros. Estão previstos recursos da ordem de R$ 804,30 milhões, a serem distribuídos ao longo dos anos entre 2007 e 2010. As obras ainda estão em andamento, com 57,3% realizadas (SEINFRA, 2010). 1.1.3.4 Saneamento e Urbanização O Governo do Estado prevê uma série de investimentos em obras de infraestrutura de água e esgoto até 2010. Trinta municípios terão finalizadas as obras de sistema de abastecimento de água em suas comunidades rurais. Além disso, 29 municípios receberão melhorias no gerenciamento dos sistemas. Dentre os projetos de urbanização e habitação, os de maior valor no Estado se concentram na Capital, englobando, além do Prourb Maranguapinho e Vila do 83 Mar, outros seis projetos financiados pelo PAC: Preurbis Cocó, Maravilha, Lagoa do Urubu, Lagoa do Papicu, Campo Estrela e São Cristóvão e Açude João Lopes. Ao todo são 234 projetos de urbanização no Estado, sobretudo em Fortaleza (20 projetos). Os valores totais destas obras giram em torno de R$ 330 milhões de reais, sendo que algumas estão em andamento e outras em fase de licitação (RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ, 2009). 1.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) pode ser vista como uma ação estratégica que objetiva potencializar os efeitos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Diferente deste, o sucesso da PDP depende menos da ação governamental direta do que da reação do sistema produtivo, ou das empresas, às medidas adotadas. Dessa forma, entre os objetivos da PDP encontram-se, principalmente, resultados a serem alcançados pela iniciativa privada, ou então, a construção de meios facilitadores para tomadas de decisão dos empresários. Assim, podem-se identificar quatro objetivos fundamentais: • Elevação do investimento privado; • Ampliação e fortalecimento dos setores exportadores; • Intensificação das inovações no sistema produtivo; • Fortalecimento das micro e pequenas empresas de potencial exportador. As principais ferramentas da política são: financiamento, regulação e mobilização. 1.3 Programa Territórios da Cidadania – PTC Dentre os 60 territórios beneficiados pelo Programa Território da Cidadania em todo país, seis fazem parte do estado do Ceará, são estes: Inhamus/Crateús, Sertão Central e Vales do Curu/Aracatiaçu. A partir de 2009 foram incluídos também os territórios cearenses Cariri, Sobral e Sertões do Canindé. As unidades territoriais podem ser conferidas no MAPA 02. 84 MAPA 02 - Áreas do Programa Territórios da Cidadania, Ceará (2009) Fonte: Relatório do PAC no Estado do Ceará, 2009. As ações do Programa Territórios da Cidadania estão divididas em três eixos de atuação, são estes: Apoio às Atividades Produtivas, Cidadania e Direito e InfraEstrutura. Desses, o eixo de atuação Cidadania e Direito tem a maior previsão de investimentos, seguido pelo de apoio às atividades produtivas e este pelo de infraestrutura. Para o ano de 2009, estava previsto, somente para a região do Cariri, um total de 84 ações com atuação de 12 ministérios que integram o referido programa, e para a região de Sertões de Canindé um conjunto de 80 ações com a participação de 13 ministérios. Para a região de Sobral, previa-se um total de 78 ações com a parceria de 13 ministérios. 1.4 Zonas de Processamento das Exportações (ZPE´s) As Zonas de Processamento de Exportação, ou ZPEs, surgem a partir da busca de áreas dentro dos países que possibilitem os benefícios de um comércio mais livre dos fatores de produção, reduzindo os custos sem grandes traumas ao 85 sistema produtivo interno. Dessa forma, a produção realizada nas ZPEs deve ser voltada essencialmente para o mercado externo, poupando a indústria nacional de concorrência predatória. No caso do modelo brasileiro, é permitido que até 20% da produção seja destinada ao mercado interno, incidindo sobre esse volume as taxações costumeiras. Dependendo do modelo de ZPE adotado, busca-se também uma maior segurança institucional para as empresas investidoras. Ou seja, nessas áreas, predominam leis específicas que buscam reduzir os riscos típicos das oscilações políticas. No marco institucional brasileiro, este item tem se mostrado um fator importante. Uma vez concedidas isenções fiscais por vinte anos a uma empresa, por exemplo, nem mesmo uma mudança na lei das ZPEs poderia reduzir essas isenções já garantidas. Estas mudanças só passariam a incidir sobre novas empresas. Outra característica importante adotada no modelo é a blindagem cambial dessas empresas, que poderão adquirir insumos no mercado internacional em moeda estrangeira. A conversão para moeda nacional poderá ocorrer somente após a exportação, no que se referir aos pagamentos destinados aos trabalhadores, sócios e ao governo brasileiro. Esses fatores buscam não só estimular o desenvolvimento das empresas exportadoras nacionais, mas também a atração de investidores externos. A ZPE possui a seu favor uma riqueza conceitual a ser considerada. O estabelecimento de zonas de livre comércio voltadas para exportação já é uma prática no mundo desde a década de 1980. Assim, a declaração de que o Ceará, ou qualquer outro estado, possui uma ZPE pode revelar, a princípio, uma série de vantagens de infra-estrutura física e logística, além das diferenciações fiscais e institucionais. Pode ser uma espécie de certificado positivo aos investidores externos. É preciso destacar, entretanto, que a ZPE não se caracteriza ainda e propriamente como investimento do Governo Federal. Na realidade, seu papel, até o momento, tem se limitado à fixação das regras de funcionamento e à definição de propostas de instalação enviadas pelos estados (entre as quais já se aprovou a proposta cearense). Resta ao Governo Estadual a definição do modelo de gestão a 86 ser adotado, que poderá ser público, privado ou misto e, principalmente, a realização de todos os investimentos que irão possibilitar o estabelecimento de fato da ZPE. 2. Análise dos impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Estado. O Estado do Ceará tem recebido diversos investimentos em sua infraestrutura ao longo dos últimos vinte anos, eliminando grandes gargalos que de fato bloquearam o crescimento no passado. Nesse caso, é de se esperar que os novos investimentos que se realizam no momento revelem um potencial ainda maior de impacto sobre a economia, dada a estrutura já construída. A partir disso, busca-se nesta seção identificar a real dimensão dos resultados esperados desses novos investimentos. 2.1 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT) Dentre os projetos do PAC, um deles pode ser considerado, com clareza, o mais transformador, trata-se da ferrovia Transnordestina. Este foi um dos consensos mais consistentes verificados entre os entrevistados e interlocutores consultados durante a pesquisa. A nova ferrovia poderá suprir carências históricas na relação entre interior e RMF, podendo assim implicar em um aumento da competitividade da economia estadual e, em especial, de sua área mais pobre, o Semi-Árido. Esperase, com isso, a revitalização de diversos setores já existentes, assim como o nascimento de novos, até então inviabilizados pelos altos custos de transporte e falta de escala. Adicionalmente, o conjunto de obras na infra-estrutura energética do Porto do Pecém virá complementar um outro projeto também estruturante da economia do Estado, a Siderúrgica do Ceará (BNDES, 2010). Outros projetos também se mostraram adequados, embora seu impacto seja de natureza diferente. Em especial, destaca-se a transposição do rio São Francisco, que eliminará grande parte das incertezas trazidas pela intermitência do rio Jaguaribe; o Eixão, que irá integrar os grandes reservatórios, melhorando o aproveitamento da água; a reforma no Aeroporto Internacional de Fortaleza, 87 garantindo parte da estrutura de incentivo ao turismo; a dragagem do Porto do Mucuripe, permitindo o acesso dos navios maiores; o Terminal Flutuante de Regaseificação de GNL, criando um novo mercado, o que futuramente possibilitará um investimento definitivo; o projeto de construção do arco rodoviário em Fortaleza, que irá melhorar o fluxo de cargas; e o Metrofor, que permitirá uma maior qualidade do transporte urbano e melhorará os fluxos da Região Metropolitana de Fortaleza. Estes últimos projetos, embora essenciais, não se classificam de maneira igual à Transnordestina, pois esta tem a promessa de gerar impactos que ultrapassam as fronteiras do Estado, promovendo a integração regional. Mesmo que se mostrem importantes no sentido de garantir a continuidade do crescimento alcançado, esses projetos não aceleraram realmente a economia. São obras importantes e bem planejadas, mas não se caracterizam claramente como projetos indutores de um novo ritmo de crescimento econômico. Outros projetos se mostram mais polêmicos. Dois grandes investimentos se referem aos parques eólicos e à usina de Biodiesel. Nesses casos, as opiniões tem se mostrado divergentes. Quanto aos primeiros, os entrevistados se dividiram entre o forte apelo ambiental da energia eólica, e o fato dos custos atuais ainda se mostrarem muito elevados. A discussão até o momento ainda não se mostrou totalmente amadurecida, e carece de maior aprofundamento. Quanto à usina de biodiesel, esta mostra grande potencial de resultados, em especial pelo incentivo à plantação da mamona e seus impactos benéficos sobre a pequena produção familiar. Entretanto, a cultura desse produto parece ainda mostrar dificuldades de se impor em vários pontos, dentre eles, o custo de produção e a organização social dos produtores e da comercialização (BNDES, 2010). Um conjunto de outros empreendimentos do PAC se enquadra em uma natureza diferente de investimentos. As despesas relacionadas à habitação, saneamento e urbanização não se caracterizam especificamente como indutoras do crescimento econômico, embora se mostrem, em sua maioria, inquestionavelmente importantes para a saúde pública e qualidade de vida da população. 88 2.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) Na última década constatou-se que o Ceará não tem acompanhado o desempenho das exportações brasileiras. No ano de 2008, enquanto o Brasil mostrou um crescimento de 23,2% de suas exportações, o Ceará cresceu apenas 11,2% (MDIC). Dessa forma, mesmo com a hipótese de que a PDP tenha tido responsabilidade pelo crescimento das exportações brasileiras naquele ano, não teria mostrado o mesmo resultado no Ceará. Os instrumentos da PDP de maior relevância para o Ceará têm sido as linhas de financiamento para os investimentos empresariais, apresentadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES. A partir de 2008, ano inicial da PDP, observa-se uma grande elevação nos empréstimos concedidos às empresas cearenses, passando de R$ 447,9 milhões em 2007, para R$ 1,97 bilhão em 2009, um aumento de mais de quatro vezes no volume total. A maior parte desses recursos tem se concentrado em investimentos ligados à infraestrutura do Estado, ainda que realizados por empresas. Mesmo que os investimentos diretos na indústria tenham crescido substancialmente, a participação nesses recursos foi reduzida de 29,1% em 2007 para 14,6% em 2009 (BNDES, 2010a). Deve-se observar que, dentre as 10 maiores operações, apenas uma trata-se de iniciativa essencialmente privada, o financiamento de capital de giro para a Vulcabrás Nordeste. Quanto às demais, mesmo aquelas realizadas por empresas, tratam-se, na verdade, de investimentos na infra-estrutura portuária e energética do Ceará, que não deixa de ter participação privada. Embora esses resultados apontem com muita clareza para o interesse público envolvido nos investimentos, e para o desenvolvimento tipicamente econômico, revelam a rigidez e a baixa participação dos setores industriais cearenses. Mesmo que os empréstimos destinados ao Porto do Pecém e às empresas de energia elétrica revelem-se importantes, esses pontos não foram caracterizados atualmente como gargalos em nenhuma das entrevistas realizadas. Tratam-se de investimentos estratégicos, preparando uma infra-estrutura para o crescimento de longo prazo do Estado. 89 Com relação às micro e pequenas empresas, observou-se um claro crescimento no número de operações realizadas pelo BNDES no Estado. De 1.219 operações no Ceará em 2007, este número subiu para 6.004 em 2009, quase cinco vezes mais (BNDES, 2010a). Mesmo com uma representativa elevação no volume de recursos, ainda se mostram, entretanto, grandes dificuldades de atender a este público. Enquanto em 2007 as MPE receberam 24,7% do total de recursos do BNDES destinados a empresas no Ceará, em 2009 esse percentual foi reduzido para 13,2% (BNDES, 2010a). Dessa forma, entre 2007 e 2008, um ano de crescimento das exportações cearenses, o número de MPE exportadoras decresceu de 213 para 177 (MDIC). 2.3 Programa Territórios da Cidadania (PTC) O grande diferencial do PTC é integrar várias políticas e programas ao mesmo tempo em que dá oportunidade à população de falar, ser ouvida e participar das decisões relacionadas aos programas. Em razão disso, tem sido observado pelos gestores uma elevação da auto-estima da população envolvida nos territórios da cidadania, que se imbui de sentimento de pertencimento ao local. Essa participação se dá através do colegiado territorial que é um espaço de discussão e negociação das demandas composto metade pela sociedade civil e metade pelo poder público. Neste espaço, ocorrem plenárias territoriais com a presença do prefeito onde são decididas as demandas já debatidas e aprofundadas previamente no comitê territorial específico (saúde, educação, cultura, meio ambiente, por exemplo). No entanto, o desafio é articular o colegiado com os espaços com função semelhante que já existiam nos territórios. Nesse contexto, aliado às linhas de financiamento do Pronaf, do Banco do Nordeste do Brasil-BNB, e aos serviços de assistência técnica dos governos estadual e municipais, têm-se também obtido resultados encorajadores, porém ainda não mensurados, com os projetos ditos produtivos. Estes acontecem na linha da criação de frango caipira, apicultura, psicultura, etc. 90 2.4 Zona de Processamento das Exportações (ZPE) Algumas questões críticas costumam ser levantadas e merecem comentários no que se refere à Zona de Processamento das exportações - ZPEs: Redução na arrecadação - Os critérios de seleção das empresas que irão compor a ZPE deverão prever a possibilidade de empresas exportadoras brasileiras já bem estabelecidas buscarem se introduzir na ZPE e reduzirem sua contribuição. As condições que evitariam um movimento em massa desse tipo devem limitar esses investimentos à ampliação das atividades, e não permitir a simples transposição de local. Não há, dessa forma, como garantir que a arrecadação não cresça menos. O que se observa é que esse seria um caso extremo, que ocorreria nos termos específicos de uma indústria exportadora muito aquecida (ou seja, que já iria crescer sem a ZPE), e com uma cadeia de insumos essencialmente externa. Contrabando - O argumento do contrabando tem surgido em discussões variadas. Entretanto, como as ZPEs são voltadas essencialmente para exportação, contando também com isenção de taxas, esse argumento perde força. Concentração de Investimentos no Litoral - É importante observar que a diferença regional é uma das consequências do forte atraso econômico do semiárido, mas não a causa. Não se pode reduzir a pobreza impedindo o crescimento da região mais desenvolvida. Isso só agravaria o problema (mesmo que reduzisse a diferença). Enfraquecimento da Indústria Local e, em termos agregados, Nacional Como 20% da produção pode ser destinada ao mercado interno (com os impostos incidindo normalmente sobre esse percentual), isso poderá de fato causar uma reacomodação de setores, inclusive encarecendo insumos que passarão a observar uma maior demanda. Constituição de enclave – uma das grandes preocupações associadas à montagem das ZPEs no Brasil diz respeito à formação de enclaves industriais, ou seja, atividades isoladas sem relações orgânicas com os seus entornos, principalmente no que se refere aos fornecedores de insumos e prestação de serviços. É necessário dizer que, este problema, foi admitido pelos interlocutores ou entrevistados por esta pesquisa. 91 Todas essas são questões teoricamente possíveis, mas, em geral, são casos extremos. Como a produção é voltada essencialmente para exportação, tudo deverá ser acompanhado pela elevação da renda interna. Mesmo que alguns setores possam ser prejudicados, esse aumento deverá estimular o crescimento de outros setores (ou até dos mesmos). Em outras palavras, o saldo tende a ser positivo. Para garantir isso, entretanto, é necessário principalmente que se escolham atividades estratégicas, que mostrem um elevado aumento em sua produção devido ao fato de se localizarem em uma ZPE. 3. Análises e Reflexões acerca dos Grandes Projetos e Programas do Governo Federal Se por um lado a infra-estrutura cearense já se mostra fortalecida, liberando os novos investimentos para possibilidades menos urgentes, por outro, a diferença de resultados entre o erro e o acerto se amplifica. O Estado já chega em uma fase em que se exige maiores esforços e investimentos no levantamento de informações e na montagem de uma estrutura renovada de planejamento. Nesta seção, será considerada uma série de proposições na busca do fortalecimento do planejamento do Governo Federal. 3.1 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT) Com relação à infra-estrutura logística, uma série de ações propostas pelos técnicos e executivos da área não foi atendida pelo PAC. Em especial destaca-se a implantação de uma rodovia ligando as regiões do Cariri com o extremo Oeste, assim como rodovias que ligam os pólos urbanos mais importantes. Faltam, portanto, rodovias intermediárias. Essas propostas encontram-se detalhadas nos relatórios do próprio PNLT, que é uma peça de planejamento. A partir das entrevistas e análises realizadas, pode-se observar ainda a existência de três grandes gargalos que não foram contemplados pelas ações do PAC: (i) carência de conhecimento acerca de grandes potencialidades do Estado; (ii) deficiência na formação de mão de obra qualificada, o que remete para à falta de 92 qualidade na educação; (iii) e isolamento excessivo entre três setores essenciais, geração de conhecimento, empresas, e governo. Como pode ser observado, os três tipos de deficiências estão interligados. Estes setores demonstram frequentemente grandes barreiras de comunicação entre si, desperdiçando importantes possibilidades de conciliação de interesses. Esse distanciamento é justamente uma das causas do primeiro gargalo, ou seja, da carência de conhecimentos essenciais. Estudos das riquezas minerais do Estado, ou energéticas, por exemplo, apresentam-se ainda claramente deficitários no Ceará. Uma pesquisa desse tipo se mostra frequentemente custosa para o setor privado, com exceção de explorações pontuais. O Governo do Estado, por outro lado, já despende anualmente volumes consideráveis de recursos para o estímulo ao ensino, pesquisa e inovação nas Universidades. Mesmo assim, estudos desse nível de interesse permanecem indefinidamente inexistentes, pela falta de articulação entre esses setores. Quanto à formação de mão de obra, novamente esse isolamento se mostra presente. As universidades e as instituições de ensino técnico continuam a crescer baseando-se mais em suas condições de oferta do que nas demandas apresentadas pelo mercado. Mesmo as universidades particulares, embora mais flexíveis, mostram-se frequentemente resistentes às mudanças de planejamento, em especial pela cultura de rigidez absorvida das universidades públicas. Por outro lado, a inexistência de uma cultura universitária entre os empresários parece lhes impedir de levar suas demandas à academia. E esse comportamento é recíproco por parte dos acadêmicos, desprovidos de visão empresarial. Esta é, provavelmente, uma das principais causas do baixo ritmo de inovação percebido nas empresas cearenses. Observa-se, nesse caso, a necessidade de estruturas institucionais que despertem a cultura de entendimento entre esses setores. Se bem desenhada, uma estrutura dessa natureza rapidamente se mostraria auto-sustentável, dadas as grandes potencialidades de alinhamento de interesses. Em linha com essa observação, cabe ainda destacar a preocupação dos entrevistados com o fato de que o PAC tem uma abordagem excessivamente física e material quando 93 comparada à falta de atenção em relação aos fatores imateriais, isto é, educação, formação de recursos humanos, conhecimento e inovação. Essas deficiências apontam assim para a falta de conexão dos projetos do PAC com a economia do conhecimento, paradigma do presente e do futuro. 3.2 Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) Com relação à PDP, faz-se necessária uma reflexão específica. Deve-se observar que o resultado dos investimentos governamentais de fomento ao sistema produtivo apresentam uma dinâmica própria. As soluções mais conhecidas como estradas, energia, represas, comunicações etc, já vem sendo realizadas intensivamente nos últimos vinte anos. Atualmente, os problemas dessa natureza são mais pontuais. No caso do Ceará, com a ferrovia Transnordestina encerra-se de certa forma a fase de diagnósticos gerais de deficiências estruturais. Assim, para melhorar a qualidade dos investimentos, é necessário um maior grau de conhecimento de potencialidades e necessidades específicas. Caso contrário, não há como as decisões terem, sistematicamente, um grau elevado de eficiência. Dessa forma, a conclusão mais importante, citada por diversos dos entrevistados, é que se faz necessário exatamente o que se preconiza para o setor privado: maior volume de investimentos em P&D e Inovação, só que, nesse caso, nos empreendimentos específicos do governo. Deve-se observar que pesquisas dessa natureza possuem alta complexidade, como as pesquisas científicas modernas, e exigem a combinação de múltiplos conhecimentos. Em especial, deve-se ter necessariamente a combinação de pesquisadores experientes de maior formação acadêmica, reunidos com executivos experimentados do governo, e com participação realmente representativa dos setores produtivos especificamente selecionados. Estes últimos terão grande responsabilidade sobre os resultados finais, e sua correta seleção é uma das fases que exigirá mais qualidade dos pesquisadores. De certo modo, entretanto, em muito se depende do talento das lideranças envolvidas no processo, como nos investimentos privados em geral. 94 Por fim, deve-se enfatizar que a Política de Desenvolvimento Produtivo-PDP revela muito claramente limites conceituais e operacionais no tocante a dois pontos: desenvolvimento regional e micro e pequenas empresas. Seu alcance em relação a esses campos é muito limitado. Nesse sentido, é oportuno que a PDP eleja como um dos seus principais eixos de ação a abordagem em sistemas e arranjos produtivos, sobretudo aqueles formados por micro e pequenas empresas. Tal abordagem poderá unir a questão do desenvolvimento regional com as micro e pequenas empresas-MPEs. 3.3 Programa Territórios da Cidadania (PTC) Algumas sugestões para melhoria do Programa Território da Cidadania podem ser levantadas. Um dos elementos cruciais a ser desenvolvido é a informação. Precisa-se trabalhar mais para que as informações sobre as políticas, programas e instrumentos cheguem até a população. A política precisa descer ao nível do município (ainda se refere às macrorregiões). Apesar de alguns poucos municípios já adotarem a mesma metodologia do PTC em programas locais, na quase totalidade deles ainda se necessita de modernização da gestão pública para o planejamento, elaboração, e acompanhamento de projetos. Precisa-se avançar na questão institucional visando capacitar os gestores públicos e, por conseguinte, modernizar a gestão. No âmbito dos beneficiados, estes também carecem de modernização da gestão. Programas de capacitação continuada poderiam ser implementados de forma a obter resultados eficientes, em substituição ao que se faz hoje que são, na verdade, ações pontuais, específicas e rápidas. Sugerem-se, ainda, políticas voltadas para o semi-árido dentro do Programa Luz para Todos, ampliando a rede para fins produtivos com o objetivo de permitir a irrigação e garantir a cultura permanente no período da seca. No âmbito do poder municipal, as interações são frágeis e a busca por maior participação tem que passar necessariamente por um processo de capacitação dos gestores públicos nessa esfera de poder. 95 3.3 Zona de Processamento para Exportação É essencial que o Governo Federal defina critérios claros para uma análise ágil e transparente das empresas interessadas em se instalar na ZPE. Para isso, deverá levar em conta os objetivos e estratégias nacionais, supervisionando e avaliando sua perfeita aplicação. Entretanto, para que as repercussões sobre as economias locais sejam potencializadas, faz-se também necessário um grande volume de conhecimento sobre as particularidades e potencialidades locais. Dessa forma, é essencial a participação dos Estados na definição de seus critérios específicos. Mesmo que o Governo Federal mantenha o controle de todo o processo burocrático, os Estados devem intervir na definição das prioridades locais. Considerações Finais Durante o processo de análise realizado neste trabalho buscou-se precisão e isenção sobre o tema, analisando dados reais, e ouvindo diferentes opiniões, por vezes conflitantes, de atores conhecedores profundos de suas áreas específicas. Em alguns momentos, a empreitada pareceu por demais ambiciosa para o limite de tempo definido. Em diversas ocasiões permaneceu, ainda, o desejo de um maior aprofundamento. Nesse caso, entretanto, optou-se sempre por expor a dúvida que ainda persiste, remetendo-se às carências ainda existentes de conhecimento. De maneira geral, entretanto, pode-se avançar que os grandes projetos do Governo Federal têm se mostrado bem alinhados às necessidades do Estado do Ceará, especialmente com relação à infraestrutura. Após um período de grande escassez de investimentos federais, as intervenções analisadas trazem em conjunto a perspectiva da formação de uma economia fortalecida, assim como o Estado, com maior competitividade de suas regiões, e mais atratividade aos investimentos externos. Ao mesmo tempo, uma vez planejados, os referidos investimentos públicos poderão fortalecer o tecido sócio produtivo local. Tais constatações se mostram revitalizadoras, trazendo expectativa de progresso para um dos estados com maior percentual de pobres do país, onde o 96 tema do crescimento econômico toma frequentemente o papel central nas discussões sobre as políticas públicas. Entretanto, dado o tom de urgência que o tema costuma assumir no Ceará, a impressão de progresso e continuidade sofre o desgaste de tudo aquilo que se depara com expectativas exacerbadas. O Ceará ainda tem muita ansiedade, típica das regiões em desenvolvimento. Apesar de muitos indicadores socioeconômicos mostrarem melhorias, a complexidade da sociedade atual acaba por criar novos problemas como o aumento da violência nas grandes cidades, e a chegada impressionantemente rápida das drogas e do crime organizado nas pequenas cidades do interior. Apesar do desemprego não ser o causador direto dessas questões, ele é capaz de potencializar enormemente o problema, pela falta de expectativas atraentes no cotidiano dos mais jovens. Além disso, as falhas ainda graves dos serviços públicos de saúde e educação de qualidade tomam dimensões extremas em uma sociedade com um número tão grande de pobres, em torno da metade da população estadual. Diante disso, observa-se que o Ceará precisa da aceleração da economia em seu sentido estrito, ou seja, do aumento na velocidade do crescimento conectando com a economia do futuro, a do conhecimento. Foram destacadas diversas propostas mais específicas de políticas. A questão central, entretanto, é que é preciso uma elevação substancial na qualidade dos gastos realizados. Para que o Governo Federal possa de fato atender e superar as expectativas do Estado, não basta elevar o volume de recursos, mas elevar a natureza do planejamento realizado e, principalmente, do seu foco. É necessária uma maior base de conhecimento, aprofundado e amadurecido. Todas as propostas remetem de alguma forma à necessidade de um novo papel do Governo, como liderança planejadora do desenvolvimento, assumindo-se como uma entidade dual: por um lado, mais externa, livre dos diversos grupos de influência ideológicos e políticos locais, capaz de trazer uma visão isenta; por outro lado, mais interna e profunda, capaz de absorver e descobrir uma maior quantidade de conhecimentos e informações necessários para uma política de crescimento mais transformadora, ou seja, rumo ao desenvolvimento sustentável. 97 Na realidade, grande parte desse papel poderia, teoricamente, ser assumido localmente, em vista da descentralização promovida pela Constituição de 1988. O Governo do Estado do Ceará tem condições financeiras relativamente boas para desempenhar esse papel. Entretanto, politicamente, não parece capaz de se colocar nessa posição. Dessa forma, o Governo Federal tem diante de si duas opções: assumir a responsabilidade de completar o trabalho que o Estado não realiza sozinho, ou se eximir da responsabilidade, e continuar desempenhando seu papel atual. É uma questão de escolha. Cabe lembrar que, dentro do pacto federativo, o governo federal tem duas funções cruciais a serem preenchidas, quais sejam: primeira, a de coordenar as ações dos governos estaduais e municipais, e por vezes completá-las, e, segunda, promover a equidade estrutural entre os entes da federação. Neste caso, sugere-se que o papel do governo federal vá além da redistribuição de renda, realizada por meio das transferências, e promova também a equidade das condições estruturais responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento econômicos. Os projetos e investimentos em curso são um bom começo. Referências AMARAL FILHO, Jair, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Ceará – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Fortaleza/CE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. AMARAL FILHO, Jair, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Ceará e Proposição de Políticas – Ceará. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Fortaleza/CE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/CE). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. BNDES. Consulta sobre valores de operações. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transpar ente/Consulta_as_operacoes_do_BNDES/ MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Relatório de Macrometas e Medidas – PDP. Disponível em: www.pdp.gov.br 98 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Dados do Comércio Exterior. Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/ RELATÓRIO DO PAC NO ESTADO DO CEARÁ. 8º Balanço (maio a agosto de 2009). Comitê Gestor do PAC. SECRETARIA DE INFRAESTRUTURA DO ESTADO DO CEARÁ (SEINFRA). Disponível em: www.seinfra.ce.gov.br/. SECRETARIA DE RECURSOS (WWW.sohidra.ce.gov.br) HIDRICOS DO ESTADO DO CEARÁ 99 INVESTIMENTOS EM INFRA-ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO: O CASO DO PAC NO MARANHÃO1 João Gonsalo de Moura / Coordenador Estadual - UFMA Eunice Paraguassu Moura - Uniceuma Introdução Desde o início da década de 80, no século anterior, uma das características mais evidentes da economia brasileira tem sido a deterioração da capacidade do setor público em destinar recursos para rubricas relacionadas a investimentos, principalmente àquelas áreas de grande repercussão na atividade produtiva, como é o caso da infra-estrutura econômica e social. Diante desse quadro, não é surpreendente que a década seguinte (anos 90 do século XX) tenha sido também marcada por uma variedade de estudos que mostravam a preocupação dos economistas com a importância das inversões públicas em áraes como energia, transportes, comunicação, saneamento, dentre outras, para reconduzir o País a uma trajetória de crescimento sustentado. Constituem exemplos de trabalhos nessa direção as inciativas de Ferreira (1994 e 1996); Ferreira e Malliagros (1998); Pêgo Filho et all (1999), dentre outros. Tais estudos procuravam, sobretudo, destacar a importância da retomada dos investimentos públicos sobre as taxas de crescimento econômico do país, associando o fraco desempenho alcançado em períodos anteriores à concomitante redução da capacidade do Estado em viabilizar recursos para a área de infraestrutura. No entanto, conforme destacado por Domingues et all (2008, p.07), em meio a esta grande preocupação dos economistas acadêmicos com o tema, se tornavam cada dia mais evidentes os elos de ligação entre infra-estrutura e crescimento, sobressaindo-se a idéia de que, obras estruturantes nas áreas de energia, transporte, comunicação, saneamento, etc., produzem efeitos positivos imediatos 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Maranhão”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 100 sobre a produtividade dos investimentos privados, viabilizando assim maiores retornos e, consequentemente, uma gama mais abrangente de projetos que se tornam viáveis. Na verdade esta discussão não se limitou ao período acima especificado, uma vez que o país permaneceu praticamente inerte quanto a esta questão, até mesmo diante do começo de um novo século, prorrogando assim o período de letargia econômica. A diferença que se afigura nesta nova fase, contudo, é que tal condição fica atribuída, de forma mais enfática, à deficiência do Estado em remover os gargalos que, com o passar do tempo, se tornavam mais evidentes. Mas somente após a consolidação da estabilidade macroeconômica, consolidada ao longo do primeiro mandato do atual governo, pôde-se então promover o retorno do Estado ao seu papel de provedor de infra-estrutura econômica e social, de modo a viabilizar um processo mais demorado e robusto de crescimento econômico no País. Nesse novo contexto, ao contrário das iniciativas passadas, o Estado não aparecia sozinho, tendo agora a iniciativa privada, e as próprias empresas estatais, como parceiros. Além disso, também como novidade, a esfera federal aparece aliada às esferas estaduais e municipais de governo, de modo a evitar a sobreposição de tarefas e desperdício de recursos, harmonizando suas ações. Esta, na verdade, é uma das principais características do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 2007 com a intenção de viabilizar um montante de investimentos da ordem de R$504 bilhões. Embora existam outras iniciativas oriundas da esfera federal com a finalidade de romper com os gargalos que estavam a inibir a capacidade de crescimento da economia brasileira, é com o PAC que se torna mais evidente a preocupação do Estado em voltar a prover a infra-estrutura econômica e social necessárias ao desenvolvimento mais acelerado e sustentado do País. Iniciativas como o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT); Programa Territórios da Cidadania (PTC); Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), etc. também são dignos de menção nessa nova configuração, constituindo um novo contexto caracterizado pelos Grandes Progetos Federais (GPFs). No entanto, no caso deste trabalho, estaremos analisando especificamente o PAC. Ou seja, nos interessa neste trabalho refletir sobre alguns dos prováveis desencadeamentos resultantes de investimentos em infra-estrutura em economias pouco desenvolvidas, e ainda carentes de uma estrutura produtiva minimamente 101 sólida, como é o caso da economia maranhense. Certamente, em casos assim, deve haver uma tendência ainda mais exacerbada dos prováveis impactos sobre variáveis como a geração de emprego e renda. Portanto, o objetivo deste trabalho é produzir algumas reflexões sobre os impactos do PAC sobre a economia maranhense, de forma que possamos estabelecer proposições que contribuam para garantir um padrão de desenvolvimento que se materialize em um contexto de sustentabilidade e convergência, ensejando assim a redução das diferenças entre regiões e indivíduos. Na tentativa de atingir os objetivos propostos, o presente trabalho encontrase assim dimensionado: além desta introdução, na primeira seção será feita uma contextualização do PAC na economia maranhense a partir de critérios como características locais e adequação dos investimentos previstos. Na segunda seção serão analisados os impactos propriamente ditos, enfatizando os mecanismos de propagação na economia. Na seção seguinte, a terceira, lançaremos esforços sobre a possibilidade de políticas complementares, ou mesmo pequenas correções nas ações em cursos, de modo que possamos garantir a sustentabilidade e abrangência do processo de desenvolvimento em nível local. Além disso, a quarta seção traz os indícios de alguns fatores ausentes no referido programa, deixando para a última etapa deste estudo as considerações finais. 1. Contextualização do PAC no Maranhão Ao ser lançado em janeiro de 2007 o PAC pode ser compreendido como uma tentativa de sistematizar e coordenar um conjunto de ações do Estado (nas esferas federal, estadual e municipal) e dos agentes privados para acelerar o ritmo de crescimento da economia. Trata-se, na verdade, de uma espécie de retorno do Governo Federal à operacionalização de sua tarefa de agente indutor do desenvolvimento, visando, sobretudo, o aumento do número de empregos e melhoria das condições de vida da população. Assim, no sentido de remover os gargalos resultantes de uma infra-estrutura deficiente, o foco fica direcionado a três eixos essenciais: i) Logística (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); 102 ii) Energia (geração e transmissão de energia elétrica, produção e refino de petróleo e gás natural, fontes alternativas e combustíveis renováveis); iii) Infra-estrutura social (difusão de energia elétrica para a zona rural, saneamento básico, construção de moradias, metrôs e ampliação do acesso a recursos hídricos). Segundo Domingues et all (2007) o mecanismo de propagação dos efeitos dos investimentos públicos nessas modalidades produzem impactos significativos sobre a produtividade e, por conseguinte, sobre o padrão de vida das regiões. Ou seja, para uma dada quantidade de fatores mobilizados, se passarmos a dispor de mais estradas, energia e meios de comunicação; resultará em maior produtividade dos recursos produtivos, além de reduzir os custos médios de produção, estimulando ainda mais as inversões por parte dos agentes privados. Uma maior produtividade deve causar, certamente, um movimento de elevação da remuneração dos fatores, inclusive da mão-de-obra, estimulando assim a demanda por bens e serviços. No caso do estado do Maranhão, os investimentos previstos pelo PAC, para o período 2007 / 2010, registram um montante da ordem de R$ 9,1 bilhões, cuja distribuição pode ser contemplada no gráfico 1, a seguir. Gráfico 1: Investimentos do PAC em infra-estrutura no Maranhão Fonte: Elaboração própria a partir de informações do BASA, 2009. Obs. Valores em R$ bilhões. 103 A importância dos montantes anunciados no gráfico 1 se torna mais evidente quando comparamos aquelas cifras com os valores previstos no âmbito geral do Programa, algo que se aproxima dos R$ 504 bilhões. Contextualizando assim a importância dos recursos destinados ao Maranhão, no gráfico 2, abaixo, tem-se uma comparação dos valores destinados ao estado com a própria importância de sua economia, bem como da população local em relação aos habitantes do País como um todo. Gráfico 2: Contextualização dos Investimentos do PAC no Maranhão Fonte: Elaboração própria a partir de informações do IBGE. Obs. Valores em %. Portanto, os investimentos do PAC em infra-estrutura no Maranhão assumem um peso que ultrapassa a própria dimensão de sua economia no contexto brasileiro. Se considerarmos que 1,8% de todos os recursos do Programa serão investidos no estado, teremos assim uma maior representatividade desses recursos em relação ao PIB estadual, que corresponde apenas a algo em torno de 1,2% da produção nacional de bens e serviços. Ainda no gráfico 2, também se observa que o Maranhão abriga 3,3% da população do País. Isto, quando comparado à representatividade de sua produção interna, demonstra que o PIB per capita maranhense é um daqueles cujo valor está abaixo da média nacional. Daí a importância, inclusive, dos investimentos previstos no PAC estarem destinando cifras relativamente mais representativas para a economia do referido estado. 104 Mas a configuração descrita no parágrafo anterior não constitui algo que tenha a finalidade precípua de provocar uma espécie de convergência do PIB per capita maranhense em direção à média nacional. De outro modo, trata-se apenas de uma coincidência emanada da necessidade de aproveitar alguns recursos naturais que, por sorte, o Maranhão ainda dispõe em abundância. Algo que torna esta sugestão bastante plausível é a própria representatividade dos investimentos em energia previstos para o estado; da ordem de R$ 5,6 bilhões, conforme se observa no gráfico 1. Nesta rubrica estão contemplados, principalmente, os gastos referentes à construção de hidrelétricas, que têm como principal finalidade resolver um problema que é de abrangência nacional, e não algo específico da economia local. É importante destacar, ainda em relação à mesma questão, que o Maranhão dispõe de um significativo potencial hidrelétrico, resultante de uma vasta disponibilidade de rios propícios a tal fim, principalmente nas fronteiras com os estados do Piauí e Tocantins. Ou seja, uma vez que a maior parte dos investimentos do PAC destinados ao Maranhão estão relacionados, de forma direta, com obras que visam o aproveitamento do potencial hidrelétrico do estado, pode-se concluir então que grande parte dos expressivos montantes previstos para o estado, tem como finalidade exclusiva o aproveitamento de recursos naturais disponíveis, muito mais que produzir um cenário de convergência da renda per capita estadual, mesmo que isto possa acontecer como decorrência. 2. Impactos dos Investimentos do PAC Ao contrário da maioria dos trabalhos que tratam do tema, que geralmente se propõem a estimar numericamente os efeitos de determinado montante de investimento sobre as taxas futuras de crescimento da economia, a intenção preponderante neste estudo está centrada na análise dos prováveis mecanismos através dos quais os efeitos do investimentos trazidos pelo PAC podem se propagar no âmbito da economia local, de modo que possamos evidenciar e compreender alguns benefícios que, de outro modo, poderiam não ficar explícitos, tendo sua verdadeira dimensão até mesmo negligenciada. 105 Tomando este ponto de vista como parâmetro, uma avaliação dos impactos de iniciativas como o PAC na economia maranhense deve ter como foco dois aspectos importantes, a saber: i) As prováveis diferenças entre os desdobramentos de curto prazo em relação àqueles que devem se manifestar apenas em período mais extenso, de modo que apareçam com maior nitidez as possibilidades que tendem a se materializar no estado com a presença do PAC; ii) Os caminhos através dos quais os efeitos do PAC devem seguir para afetar os setores mais eficientes, como também aqueles que operam sob condições bastante rudimentares. Ou seja, como se manifestam os reflexos dos investimentos que estão por se consolidar no estado, diante da perspectiva de uma economia que apresenta um sistema produtivo caracterizado pela presença de setores que operam em grau máximo de eficiência e desempenho; convivendo lado a lado com outros setores cujos métodos e técnicas nos remetem a uma estrutura ineficiente e de baixa performance. Tendo em vista os propósitos incorporados nas ações que constituem o PAC, sugerimos então que as mesmas devem se justificar pelos possíveis reflexos que poderão produzir no horizonte de longo prazo (porque são dinâmicos), e nos caminhos que os impactos numa economia como a do Maranhão podem percorrer, partindo dos setores mais eficientes em direção ao setores mais atrasados, visivelmente menos incorporados nessas iniciativas governamentais. No âmbito dessa perspectiva de quando e como o PAC pode afetar o padrão de desenvolvimento local, tendo como foco uma economia baseada em profundas diferenças setoriais, resumiremos a seguir os prováveis efeitos que deverão estar presentes em um horizonte de tempo mais longo, aprofundando as possibilidades de melhoria dos níveis de competitividade da economia maranhense, considerando os mecanismos que devem operar no sentido de fazer transbordar efeitos positivos dos setores mais competitivos para aqueles mais atrasados. 106 2.1 Impactos de especialização Uma primeira fonte de ganhos decorrentes do PAC pode estar relacionada aos melhores destinos possibilitados aos fatores de produção existentes no estado. Por estarem voltados para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, conforme mencionado na seção anterior, tem-se a oportunidade de promover um maior grau de especialização da economia local em atividades com maior facilidade de adaptação. Para que uma região possa ter sua economia operando com eficiência não basta haver apenas a plena utilização dos recursos disponíveis. Nada garante que o pleno emprego está ocorrendo da forma mais apropriada e adequada possível, principalmente quando a alocação em vigor é o resultado da atuação apenas das forças de mercado. Certamente, para alcançar o melhor uso dos recursos de uma região, muitas vezes se faz necessária a ação (interferência) do Estado na economia. Os grandes projetos federais no estado do Maranhão têm como uma de suas principais características a tentativa de aproveitar os recursos naturais existentes no estado, tendo os investimentos do PAC em energia como um dos melhores exemplos que podem ilustrar esta situação. Nesse sentido, a especialização pode trazer ganhos de eficiência por meio da realocação, ou seja, do remanejamento dos fatores entre os setores operantes na região. Ao proporcionar um maior grau de especialização a economia local poderá colher os resultados da maior e melhor divisão do trabalho, aproveitando de modo mais racional os recursos disponíveis. O aumento na produtividade decorrente deste movimento pode ser entendido como aumento da produtividade resultante da melhor eficiência alocativa. 2.2 Ganhos de produtividade A produtividade da força de trabalho de uma região também é o resultado dos meios disponíveis para serem utilizados pelos indivíduos como auxílio ao desempenho de suas tarefas. Em outros termos, quanto maior for a quantidade de 107 máquinas, equipamentos, ferramentas à disposição do trabalhador, maior tenderá a ser a sua performance em um determinado período de tempo. Ou seja, quando se consegue disponibilizar uma maior quantidade de capital físico e de infra-estrutura por trabalhador, a tendência natural é que haja maior produtividade da força de trabalho, resultando em maior remuneração deste fator de produção, ou, no caso, aumento da remuneração média do trabalho. Dessa forma, ao se analisar o conteúdo de ações como aquelas que estão previstas no PAC pode-se dizer que os ganhos de produtividade, e a consequente melhoria na remuneração média do trabalho, decorre da maior disponibilidade de capital (físico e de infra-estrutura) por trabalhador. 2.3 Impactos de padrões tecnológicos Uma terceira fonte de melhorias decorrentes da presença de grandes investimentos, como os que estão previstos no PAC, pode resultar de uma aceleração do grau de difusão de novas tecnologias, geralmente em maior proveito dos setores menos eficientes. Os setores mais produtivos normalmente atuam em mercados globalizados, onde impera um ambiente altamente competitivo. Neste caso, as unidades produtivas têm que enfrentar não apenas os seus concorrentes internos, mas, sobretudo, aquelas unidades instaladas nas mais diferentes regiões do planeta. Sendo assim, as empresas se vêem obrigadas a operar dentro de padrões que utilizem os mais avançados conhecimentos tecnológicos, de forma a não serem superadas em algum mercado específico. Assim, a presença de grandes empreendimentos voltados para fora em uma determinada região viabiliza a atração de novos modelos, conhecimentos, equipamentos, ferramentas, métodos, etc., que de outra forma não haveria possibilidade de se viabilizar. Existem diversos canais por meio dos quais se dá a difusão dessas tecnologias em benefício dos demais setores operantes em uma região. Uma das formas mais prováveis de viabilização desse mecanismo de transmissão é que, ao transferirem algumas atividades para empresas fornecedoras, por exemplo, as empresas cedentes desejam que as mesmas continuem sendo executadas com o uso mais racional dos recursos empregados, tendo em vista que as tarefas delegadas fazem parte do produto final. 108 Em termos de produção isto dizer significa que, da mesma forma que antes, os produtos precisam continuar sendo produzido da forma mais eficiente possível, o que constitui um incentivo à difusão de tecnologias para unidades produtivas fornecedoras. Mas existem também formas indiretas de viabilizar a transferência de tecnologia em um processo de maior integração entre setores competitivos e não competitivos. O fato dos primeiros utilizarem mão-de-obra altamente qualificada, detentora de altos níveis de investimento em capital humano (conhecimentos, habilidades, experiências, etc.), viabiliza a atração de indivíduos com tais características para determinado local que, de outra forma, não haveria possibilidade de fazê-lo. A presença de uma força de trabalho altamente qualificada, em uma região específica, permite, por exemplo, a adoção de técnicas mais modernas nos negócios em geral, dado que esses indivíduos contribuem sobremaneira para a difusão desses métodos, o que proporciona uma melhor organização da produção, através da difusão e adoção dos mesmos pelo sistema produtivo local. Tais possibilidades capacitam o sistema produtivo de uma região a operar com melhores indicadores de eficiência e desempenho, refletindo-se, por meio dos rendimentos auferidos, em uma melhoria de bem-estar dos indivíduos. A viabilização de investimentos de grande porte em economias como a do Maranhão, conforme previsto no conteúdo do PAC, enseja a propagação de efeitos como estes. 2.4 Impactos de escala Um dos grandes empecilhos ao alcance dos níveis de eficiência e desempenho por parte das unidades produtivas presentes em uma região é assegurar a escala mínima de produção necessária para conduzir os custos unitários a um patamar condizente com as condições mínimas de sobrevivência. Isto é ainda mais comum quando se trata de micro e pequenas empresas, em uma economia que apresenta escassez de infra-estrutura de transportes, dificultando o acesso a mercados. Muitas empresas desaparecem rapidamente do mercado por conta de uma escala de produção bastante reduzida, uma vez que não conseguem distribuir seus 109 custos fixos por uma quantidade de produtos mais elevada. Este gargalo torna os custos de produção incompatíveis com os preços vigentes no mercado. Diante de um grande conjunto de iniciativas como o PAC, que apontam na direção de viabilizar rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, etc. a tendência é que o acesso a mercados distantes das áreas que circundam os empreendimentos seja facilitado substancialmente, incrementando a possibilidade de uso de uma escala de produção mais ampliada. Outro mecanismo de ampliação de escala de produção, decorrente da presença de grandes empreendimentos numa economia como a do Maranhão, é a abertura de espaço para que os demais setores possam, por exemplo, se enquadrar como fornecedores dos empreendimentos de porte mais avantajado, melhorando assim o grau de utilização de suas estruturas, ou até mesmo viabilizando o próprio incremento das mesmas. Portanto, diante dessas possibilidades, uma fonte de ganhos mais evidentes com a presença de investimentos como aqueles previstos pelo PAC para o Maranhão, como é o caso de uma refinaria de petróleo, pode resultar em ganhos emanados da ampliação da escala em outros setores da economia, principalmente naqueles formados por unidades de pequeno e médio porte. 3. Avaliação das Políticas A teoria do crescimento econômico apresenta uma extensa lista de fatores que devem ser testados quando os governos desejam interferir na atividade econômica procurando acelerar as taxas de expansão da atividade econômica. Fatores de produção como capital físico, capital humano, recursos naturais e tecnologia, surgem imediatamente em nossas mentes quando desejamos tratar do tema. Mas sempre os economistas tiveram consigo a percepção de que não basta somente atribuir à escassez desses fatores o fraco desempenho produtivo de determinada região, embora seja quase óbvio afirmar que, se os mesmos estiverem disponíveis em quantidades mais elevadas, maior deverá ser a produtividade e, consequentemente, do padrão de vida potencial da sociedade. Visto sob este olhar o crescimento econômico é visto como um processo contínuo de melhoria da eficiência produtiva do sistema, tendo como medida central 110 a produtividade do trabalho. Trata-se aqui de uma forma de resumi-lo a uma questão meramente técnica, onde crescimento se confunde com desenvolvimento, pois quanto maior for a eficiência do trabalho maior também será a sua remuneração e, consequentemente, melhor o padrão de vida. No entanto, sem descartar esta visão, dada a sua utilidade em certas circunstâncias, entende-se aqui que existem fatores importantes a serem incorporados a esta análise, se apresentando como de fundamental importância a incorporação das especificidades locais. Normalmente, no conteúdo de iniciativas como o PAC predomina a visão relacionada à questão meramente técnica. Entretanto, ao final desta seção, consideraremos a possibilidade da introdução de elementos referentes às especificidades locais como uma alternativa que pode contribuir efetivamente para a potencialização dos efeitos positivos de um programa como aquele que constitui o objeto do presente trabalho. Ou seja, sem desconsiderar a importância que uma iniciativa como o PAC representa para economias como a do Maranhão, destacaremos abaixo algumas ações complementares no sentido de fazer com que características locais divergentes não constituam um empecilho ao alcance dos resultados esperados. 3.1 Políticas baseadas nas quantidades físicas de fatores As políticas voltadas para o crescimento devem priorizar variáveis que possam afetar a disponibilidade de capital físico (investimento), incrementar o estoque de capital humano (educação, treinamento, etc.) o conhecimento a respeito de como combinar recursos para produzir bens e serviços (tecnologia). Ou seja, políticas de crescimento devem atacar os empecilhos que inviabilizam a evolução dos seguintes fatores (BEDÊ, 2008, p. 36): i) Investimento em capital físico – taxa de juros, taxa de câmbio, ambiente institucional, direitos de propriedade, segurança jurídica, liberdade política, acesso a crédito, etc.; 111 ii) Investimento em capital humano – universalização da educação, educação continuada, instrução profissional, treinamento nas empresas, estágio, etc.; iii) Progresso tecnológico – estímulo à pesquisa, proteção à propriedade intelectual, garantias aos registros de marcas e patentes, etc.; iv) Uso racional dos recursos naturais – proteção ao meio ambiente, fontes renováveis de combustíveis, reciclagem de resíduos, etc. Nos casos enumerados acima a finalidade específica é basicamente aumentar a eficiência do trabalho e garantir sustentabilidade ao processo de expansão econômica com o uso racional dos recursos. Alguns pesquisadores, cientes de que esta não é a única alternativa de abordar a questão, passam a argumentar em prol de outras proposições que, também de modo isolado, não dão conta do problema por completo. 3.2 Políticas baseadas na eficiência alocativa Uma das proposições que não pode ser vista como alternativa, mas complementar às anteriores, é aquela que procura centrar o foco na questão da realocação de recursos. Ou seja, esta vertente evidencia as alternativas de utilização dos recursos existentes para obter maiores níveis de produção e rendimento. Trata-se então de uma abordagem que não cogita a possibilidade do mercado promover uma alocação eficiente para os fatores de produção, havendo espaço para a interferência do poder público (GENEREUX, 1995, p.77). Quais seriam então as alternativas de política à disposição do Estado para induzir os recursos a encontrar alternativas de emprego que possam aumentar sua capacidade de gerar bens e serviços e colocá-los à disposição da sociedade? i) Abertura comercial – remover barreiras tarifárias, desonerar as exportações, remover barreiras quantitativas (quotas), política cambial favorável, etc. ii) Benefícios e isenções fiscais – isenções e subsídios para bens que causem externalidades positivas na produção e/ou no consumo, aplicar tributos à 112 produção de bens que causem externalidades negativas na produção e/ou no consumo, benefícios para setores estratégicos, etc. As ações acima especificadas têm a capacidade de conduzir a economia para um estágio mais avançado de alocação dos recursos, elevando a produtividade e reduzindo custos, possibilitando assim uma maior disponibilidade de bens e serviços para o consumo e um melhor padrão de vida. 3.3 Políticas baseadas na capacidade de inovação Uma terceira opção diz respeito àqueles que fazem questão de abordar o tema de forma mais aprofundada, dando ao mesmo uma conotação de desenvolvimento, ao invés da visão simplificada do crescimento. Neste caso, o que importa para o desenvolvimento é capacidade que a economia dispõe de gerar inovações. Ou seja, importa agora o potencial disponível para mudanças de natureza radical na forma de funcionamento do sistema (BEDÊ, 2008, p. 35-36). São as mudanças relativas à introdução de novos produtos, novos processos, novas formas de negociação, novos insumos, etc. que fazem com que a economia seja conduzida a um novo estágio, rompendo definitivamente com o equilíbrio anterior. Aqui as políticas de desenvolvimento devem estar voltadas para o aumento a capacidade do sistema em gerar inovações, de modo que a economia esteja sempre rompendo com o estágio em que se encontra, movendo-se para estágios mais elevados. São políticas derivadas desta abordagem (BEDÊ, 2008, p.36): i) Inovações primárias – incentivo à pesquisa aplicada nas empresas, apoio ao desenvolvimento de produtos, criação de novos materiais, etc. ii) Inovações secundárias – capacitação empresarial, aplicação de processos modernos em empresas de pequeno porte, difusão de novos produtos e técnicas de produção, etc. 113 Não é necessário que a inovação esteja ligada ao novo. Ao contrário, tratase da introdução de métodos, técnicas, produtos, processos, materiais, etc. em determinados setores, ou regiões, mesmo que estes não representem novidade em outros lugares ou tipos de empreendimento. A inovação é algo novo para quem a introduz, não importando se outros já fazem uso daquele modelo. Por esta razão faz-se necessário mobilizar os atores locais com o intuito de promover gerar, assimilar, trocar e utilizar novos conhecimentos (CASSIOLATO, LASTRES & STALIVIERI, 2008, P.12-15). 3.4 Políticas baseadas na demanda efetiva Também merece destaque o grupo que observa o crescimento como um processo resultante de estímulos proveniente da maior procura por bens e serviços, devendo a ação do Estado está voltada para garantir que a demanda efetiva seja sempre suficiente para absorver aquilo que os agentes decidiram colocar no mercado, ou, de outro modo, criar as condições para induzir os tomadores de decisão a produzir quantidades mais elevadas, de modo que o pleno emprego dos recursos possa ser alcançada. Esta versão também carece da crença na incapacidade do mercado em criar uma alocação eficiente dos recursos existentes, sendo o desemprego a situação normal produzida na ausência do Estado. Por isto, quando houver escassez de demanda efetiva, as políticas governamentais devem ser acionadas para eliminar do mercado o excesso de oferta (GENEREUX, 1995, p. 45-46). A ação das políticas econômicas deve se fazer sentir na economia por meio dos seguintes instrumentos: i) Política fiscal – aumento dos gastos governamentais, redução de tributos para aumentar a renda disponível, etc. ii) Política monetária – aumento da oferta de moeda, potencialização da capacidade bancária de criar meios de pagamento, etc. Tem-se aqui uma concepção de política que vislumbra a capacidade que os estímulos iniciais de renda possuem de se propagar na economia, possibilitando o amento da oferta de bens e serviços. A expansão da demanda se reflete na 114 produção, e não nos preços, principalmente devido ao fato dos defensores de tais políticas acreditarem que a economia trabalha sempre com desemprego, ou, do mesmo modo, com recursos ociosos, podendo ser colocados à disposição do processo de produtivo (GENEREUX, 1995, p. 50-51). 3.5 Especificidades locais e políticas públicas Fugir da listagem de políticas enumeradas acima constitui uma tarefa das mais complexas para quem tem a finalidade apenas de sugerir algumas reflexões sobre os impactos de programas como o PAC em uma economia como a do estado do Maranhão. Mas existe ainda a possibilidade de proporcionar um certo grau de relevância à análise aqui empreendida, mesmo sem que se produza grandes novidades. Por exemplo, foi mencionado anteriormente que a economia maranhense inclina-se para uma dicotomia acentuada resultante da presença de um setor composto por grandes empreendimentos exportadores, utilizando o que há de mais moderno em termos de equipamentos, tecnologia, etc., com alto grau de competitivamente; convivendo na companhia de outros setores cuja característica marcante é o rudimentarismo e ineficiência em seus métodos e técnicas. Além disso, a força de trabalho utilizada por esta parte competitiva da economia local atende a padrões de qualificação que se distancia enormemente do trabalhador médio do estado, resultando em grandes distorções em termos de remuneração do trabalho. Assim, dado que a realidade da economia maranhense está bem distante dos padrões em que operam os grandes empreendimentos exportadores, se situando em padrões bem inferiores, fica estabelecida uma espécie de distanciamento entre os dois lados. Embora tenha havido transbordamentos importantes ao longo do tempo, carregando alguns benefícios da parte mais competitiva para a parte menos competitiva, tal processo poderia (e deveria) se dar em escala bem mais ampliada. Isto acarretaria em um ponto de maior equilíbrio, transformando o Maranhão numa economia mais eficiente e de mais alta performance. Mas é exatamente neste ponto que entram as particularidades que os formuladores de iniciativas como o PAC devem absorver, no sentido de planejar 115 medidas que sejam mais eficazes, ao considerar as diferenças locais em seu conteúdo. Diante desta proposição, pode-se dizer que as políticas até aqui apresentadas são exequíveis e viáveis apenas quando observamos o País de forma ampla. Por exemplo, não é possível lançar um perfil de política monetária apenas para o Maranhão. Quando os policymakers assumem um determinado posicionamento sobre a oferta monetária, esta decisão abrange do mesmo modo todas as unidades da federação. Instrumentos assim assumem as mesmas características para todo o País, embora saibamos que os diferentes estados são afetados de modo diferente na distribuição dos custos e benefícios de tais iniciativas. Por exemplo, a formação dos indivíduos, a cultura empreendedora, etc. são capazes de diferenciar os impactos de um mesmo volume de investimentos em diferentes regiões. Embora não seja possível diferenciar a política, devido as peculiaridades de cada unidade da federação, os benefícios e malefícios resultantes das mesmas tendem a impactar de modo diferente em cada região. Isto acontece sem nenhuma garantia de que as regiões mais atrasadas recebam maior parcela dos prováveis benefícios, e aquelas que são mais adiantadas incorram em maior parcela dos prováveis malefícios. A política de crescimento, ou desenvolvimento, não pode se contentar que todos cresçam à mesma velocidade, sob pena de sacramentarmos e perpetuarmos as diferenças já existentes. Por isto, algo há que ser concebido, para além das políticas monetária e fiscal (de incidência universal), de modo que os mais atrasados sejam contemplados com um desempenho mais acelerado do que a performance experimentada pelos mais adiantados. Nesse contexto, entra em cena o papel das esferas locais de poder, no sentido de tentar influir para que os reflexos das políticas de abrangência geral tenham os efeitos esperados em nível local. Como então agir para acelerar o processo de crescimento (desenvolvimento), em uma economia como a do Maranhão, sabendo que, por exemplo, existe uma forte dicotomia entre os setores produtivos que caracterizam a economia do estado? Em casos assim, admitindo que as disparidades entre setores sejam realmente significativas, poderíamos sugerir intervenções à parte no sentido de potencializar os seguintes efeitos: 116 i) Aumentar o grau médio de eficiência da economia. Neste aspecto, mesmo as medidas abrangentes podem servir a este propósito, tendo em vista que, por exemplo, uma maior disponibilidade de capital físico, ou de infraestrutura, tende a tornar o sistema produtivo mais eficiente, independente de qual setor estejamos tratando; ii) Realocar recursos produtivos entre os setores. Para alcançar padrões de eficiência mais elevados, faz-se necessário transferir recursos dos setores menos eficientes para aqueles mais eficientes, apressando então o encontro de uma posição mais próxima do equilíbrio entre os mesmos; iii) Aumentar a eficiência nos setores menos competitivos. Neste caso, dado que estes são constituídos, geralmente, por empreendimentos de micro e pequeno porte, as necessidades mais prementes nos remetem a uma política que vise difundir elementos como capacitação, inovação e cooperação, de modo que a capacidade inovativa seja potencializada. Portanto, sem deixar de mencionar a importância das políticas de abrangência geral, se faz necessário definir medidas de natureza mais específica, de modo a enquadrar anomalias que se manifestam no ambiente local, potencializando assim os efeitos das ações empreendidas em cada região. No caso, por estarem presentes no âmbito dessas anomalias, instituições como os governos locais devem adotar medidas complementares às políticas de âmbito nacional, de modo a obter os resultados que concretamente são esperados em casos dessa natureza. As esferas locais de poder podem assim assumir o papel de enquadramento das medidas de abrangência nacional nas particularidades que o sistema produtivo local demanda, agindo em parceria com outras esferas do poder público e demais atores, principalmente aqueles envolvidos com a questão do desenvolvimento em nível regional. Cabe então um papel ativo às esferas locais de poder, adotando políticas que potencializem os impactos de ações federais nas diferentes regiões do País, voltando-se principalmente para iniciativas que visem a geração, aquisição e uso de 117 conhecimentos, gerando capacitações e inovação (CASSIOLATO E LASTRES, 2003, P.26-27). 4. Fatores Ausentes no PAC Alguns dos aspectos mais importantes contidos no PAC, objeto da análise aqui empreendida, podem ser resumidos nos seguintes termos: i) Forte concentração dos investimentos em infra-estrutura econômica; embora alguns programas, como Territórios da Cidadania, terminem por abranger iniciativas que dizem respeito à esfera da infra-estrutura social; ii) Forte inclinação dos formuladores para uma visão que está centrada nos aspectos positivos da elevação da taxa de investimento em capital físico, negligenciando outros fatores de produção que influenciam diretamente sobre o nível de competitividade da economia, como capital humano e a tecnologia; iii) Não há uma separação explícita entre os fatores que podem atuar sobre a oferta de bens e serviços, em relação àqueles que podem se manifestar sobre a demanda efetiva. Por exemplo, o Programa Territórios da Cidadania contém iniciativas que vislumbram os aspectos de oferta (Luz para Todos), bem como iniciativas que se manifestam sobre a demanda (Bolsa Família). Ao não discriminar claramente essas diferenças, transparece a perspectiva de que os formuladores não tiveram a clara noção da importância de diferenciar esses elementos; iv) A maioria das ações previstas não podem ter seus impactos previstos apenas para determinadas unidades da federação, dado que os efeitos decorrentes transbordam para as demais, considerando que não existem barreiras significativas no comércio entre essas unidades geográficas; v) Elementos como desenvolvimento educação (capital (tecnologia), humano), incentivo à apoio à inovação pesquisa e (progresso tecnológico) e reformas institucionais (ambiente), não são enfatizados 118 claramente no PAC, embora sejam vitais para uma política que tenha como finalidade acelerar as taxas de crescimento econômico. Dessa forma, pode-se dizer o PAC ataca um dos problemas mais graves do País, que é a baixa disponibilidade de infra-estrutura na economia, o que inibe a capacidade do ambiente de negócios no Brasil em oferecer uma estrutura condizente com a inserção competitiva de suas empresas nos mercados globalizados. Neste aspecto, podemos prever grandes benefícios resultantes das ações em execução nesse instante, principalmente em economias mais carentes desses investimentos, como é o caso do Maranhão. Por outro lado, ao deixar de incorporar explicitamente elementos como a qualificação (uma política educacional), apoio à pesquisa e desenvolvimento (progresso tecnológico), além da ausência explícita de incentivos à inovação, tem-se aqui uma falha que limita a nossa capacidade de identificar, a partir das ações delineadas, uma perspectiva seguramente sistêmica e sustentada. Tais ausências talvez possam ser ainda mais sentidas em economias como a do Maranhão, onde o uso de métodos e técnicas rudimentares dificulta sobremaneira o acesso dos negócios locais a mercados organizados. 5. Considerações Finais No caso exclusivo de uma análise para o nível estadual, como foi sugerido ao longo deste trabalho, vislumbrar os reflexos de um programa como o PAC se torna uma tarefa das mais complexas. É que os transbordamentos dos impactos para outras regiões, sobretudo por conta da inexistência de barreiras às trocas entre unidades da federação, se tornam uma perspectiva totalmente aberta. Mas um outro aspecto ainda mais importante no plano estadual é a diversidade de impactos do PAC, considerando que as estruturas produtivas nesses espaços geográficos podem apresentar grandes diferenças. No caso em tela, representado pelo Maranhão, chamamos a atenção para o fato de haver algumas particularidades nas características locais que requerem uma interpretação dos reflexos de modo condizente com a mesma. Evidenciamos o fato de existir na 119 economia maranhense duas estruturas setoriais bem distintas, que convivem lado a lado, provocando influências mútuas entre as mesmas. A discussão referente às especificidades da economia local produziu algumas reflexões importantes, assim resumidas: i) As políticas preconizadas pelo PAC assumem um caráter praticamente idêntico para todo o País, diferenciando-se apenas pelo volume de recursos aplicados em cada unidade da federação; ii) No caso do Maranhão, uma das características presentes nos projetos a serem executados é que, em grande parte, os investimentos estão direcionados para uma melhor utilização dos recursos disponíveis no estado, o que poderá resultar em ganhos de maior eficiência alocativa em período mais alongado; iii) O PAC traz consigo uma noção de influenciar na melhoria das condições de oferta (maior e melhor infra-estrutura), bem como a tentação de acionar mecanismos que produzam efeitos multiplicadores sobre a renda, via demanda efetiva (Bolsa Família), sendo ambos de grande repercussão na economia local; iv) Ficam negligenciados os efeitos que, talvez, sejam os mais significativos em termos de ganhos para o ambiente local, provocados pela realocação de recursos, provenientes dos setores menos competitivos para os setores mais competitivos; v) Por não tratar das especificidades locais, o PAC carece de um complemento em nível regional que as considere. Somente assim poderiam ser contempladas ações, por exemplo, direcionadas para os setores mais frágeis de economias como a do Maranhão, onde o simples provimento de infra-estrutura e outros incentivos não tem como causar, isoladamente, impactos na proporção requerida. É exatamente no último fator evidenciado acima que queremos centrar as mais importantes reflexões neste documento, quais sejam: 120 i) As esferas estaduais e municipais de governo deveriam se encarregar de suprir as deficiências das políticas federais em questões relativas às especificidades de cada região, de modo que os impactos de iniciativas como o PAC ficassem potencializados. ii) Ao invés de atuar como simples parceiros do Governo Federal em programas como o PAC, as esferas locais de poder poderiam e deveriam ir além, elaborando políticas complementares às políticas nacionais, de modo a potencializar os reflexos das mesmas sobre o ambiente local; Convém esclarecer que não é o caso de afirmarmos aqui que os investimentos previstos pelo PAC não produzirão efeitos positivos sobre o sistema produtivo de economias como a do Maranhão. Ao contrário, não há como deixar de reconhecer a existência de reflexos positivos sobre a economia maranhense. A proposição mais importante é que, para se adequar a um caráter mais sistêmico, e ter seus impactos potencializados, algumas especificidades locais precisam ser incorporadas ao conteúdo do PAC. Isto passa pela mudança no perfil de participação das esferas regionais de poder, deixando de lado a condição exclusiva de parceiras em determinadas obras, para se colocar numa condição de complementaridade, delineando políticas próprias que intensifiquem o desenvolvimento de suas unidades. O incentivo à geração, aquisição, difusão e uso de conhecimento no sistema produtivo local pode apontar um bom começo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEDÊ, M. A. O PAC e o crescimento da economia brasileira. Revista Integração. Ano XIV, № 52, p. 33-41, 2008. BASA. Programa de aceleração do crescimento na Amazônia: impactos e oportunidades. Contexto Amazônico. Ano 2, № 13, jan, 2009. CASSIOLATO, J. R. & LASTRES, H. M. M. O foco em arranjos produtivos e inovativos locais de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume & Dumará, 2003. 121 CASSIOLATO, J. R.,LASTRES, H. M. M. & STALLIVIERI, F. Políticas estaduais e mobilização de atores políticos em arranjos produtivos e inovativos locais. In: LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. R. & MACIEL, M. L. (orgs.). Arranjos produtivos locais: uma alternativa para o desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: e-papers, 2008. DOMINGUES, e. P. MAGALHÃES, A. S. & FARIA, W. R. Impactos dos investimentos do PAC em Minas Gerais: efeitos sobre o crescimento e desigualdade. Texto para Discussão № 339. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2008. FERREIRA, P.C. e MALLIAGROS, T.G. Impactos produtivos da infra-estrutura no Brasil – 1950/95. Pesquisa e planejamento econômico, v.28 nº 2, 315-338, 1998. FERREIRA, P.C. Investimento em infra-estrutura no Brasil: fatos estilizados e relações de longo prazo. 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Investimento e financiamento da infra-estrutura no Brasil. 1990/2002, IPEA (T 680). 1999. 122 IMPACTOS DOS GRANDES PROGRAMAS FEDERAIS E REFLEXÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PIAUÍ1 Francisco de Assis Veloso Filho / Coordenador Estadual Cleber de Deus Pereira da Silva Fernanda Rocha Veras e Silva Francisco Prancacio Araújo de Carvalho2 3 1 BREVE CARACTERIZAÇÃO DOS GPFS NO ESTADO O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi lançado em 2007 com o objetivo de enfrentar os problemas que dificultam o crescimento econômico, promovendo as infra-estruturas energética, logística e transportes, social e urbana. Os investimentos do PAC no Piauí estão orçados em R$ 11,8 bilhões, 1,8% da previsão de gasto total no país. Os investimentos previstos entre 2007 e 2010 são de R$ 10,2 bilhões; após 2010, a previsão de gastos é da ordem de R$ 1,6 bilhão. A previsão de empreendimentos exclusivos no Piauí é de R$ 3,5 bilhões. Representa 52,7% dos empreendimentos de caráter regional e 34,5% do total de empreendimentos previstos entre 2007 e 2010. Nos empreendimentos exclusivos, os maiores gastos estão no eixo infraestrutura social e urbana. A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) tem por objetivo central a promoção do crescimento econômico e o alcance de metas relacionadas com elevação do investimento fixo em relação ao produto, aumento do gasto do setor privado com P&D, ampliação das exportações brasileiras no comércio internacional e elevação do número de MPEs exportadoras. 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Piauí”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), instituição responsável pela execução do projeto nessa unidade da federação. 3 Nessa etapa também fizeram parte da equipe de pesquisa os seguintes estudantes: Carla Dlijanne Fortes Silva Macêdo, Flávia Nayana Azevedo da Silva, Giovanna de Neiva Barriviera e Ismael do Nascimento Silva. 123 Seus programas foram organizados em três níveis distintos: Ações Sistêmicas, Programas Estruturantes e Destaques Estratégicos e os instrumentos principais podem ser divididos em quatro categorias: instrumentos de incentivo, compras governamentais, instrumentos de regulação e apoio técnico. Como parte da PDP, a atuação do BNDES no estado abrangeu iniciativas relacionadas com programas estruturantes e com destaques estratégicos, as quais compreenderam desembolsos de, respectivamente, R$ 241,7 e R$ 1.633,8, nos anos de 2008 e 2009. Os gastos com regionalização demonstram a importância da descentralização da produção e do emprego através, sobretudo, de ações voltadas para o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs). No Piauí, o lançamento do edital para arranjos produtivos, no valor de R$ 5,0 milhões, com recursos oriundos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza Rural (FECOP) e do BNDES. O Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) foi elaborado pelo Ministério dos Transportes em parceria com o Ministério da Defesa, através do Centro de Excelência em Engenharia de Transportes. O principal objetivo do PNLT é planejar e organizar uma infra-estrutura básica de transporte com maior eficiência e eficácia que coopere decisivamente para o desenvolvimento econômico do país assegurando a equidade social. De acordo com documento oficial do Ministério dos Transportes o PNLT é um plano de caráter indicativo, de médio e longo prazo, associado ao processo de desenvolvimento socioeconômico do País, em que 90% das obras previstas estão contidas no PAC. Divididas em três etapas de execução (2008-2011, 2012-2015 e pós 2015), as obras do PNLT buscam solucionar problemas de estrangulamento logístico no pais, além de identificar e prevenir outros futuros gargalos. No tocante ao estado do Piauí, são poucas as ações do PNLT. Suas obras privilegiam, basicamente, a zona produtora de soja no cerrado piauiense no sentido de melhorar o escoamento da produção local, uma vez que o sistema logístico do estado é precário. Localizadas na região sul do estado, principalmente nas regiões de divisa interestadual (Piauí-Maranhão e Piauí-Bahia) as ações são em grande parte de construção, pavimentação e/ou adequação de estradas. As Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) são áreas delimitadas com o objetivo de instalação de empresas voltadas para a produção de bens com a 124 finalidade de exportação. Essas empresas podem operar com redução e/ou isenção de impostos e contribuições. A primeira ZPE proposta pelo Estado do Piauí está projetada para o município de Pavussu, vizinho do município de Elizeu Martins, tendo como fator crítico para sua implantação a construção da Ferrovia Transnordestina, que permitirá a ligação de parte do sertão nordestino, nos estados do Piauí, Maranhão e Bahia, área de produção agropecuária e fronteira agrícola em expansão, aos dois mais importantes portos da região Nordeste: Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. Aprovada a proposta de criação dessa ZPE, compromete-se o governo do estado a constituir uma empresa administradora, conforme as diretrizes e prazos estipulados na legislação específica. Essa empresa deverá ser uma sociedade anônima, integradas por empresas-âncora que pretendam se instalar na área e deverá se responsabilizar pela realização dos investimentos acima previstos para implantação da primeira etapa do projeto. Espera-se que essa zona de processamento atraia empresas interessadas na industrialização e exportação de produtos dos complexos agroindustriais de grãos e de biocombustíveis, resultantes da exploração agropecuária dos cerrados dos estados do Piauí e do Maranhão, assim como das empresas de mineração que realizam pesquisas geológicas ou que já se instalaram na área, atuantes, por exemplo, na mineração de calcário, ferro, níquel e fosfato, algumas das principais ocorrências minerais da região. A Prefeitura Municipal de Parnaíba também apresentou proposta de criação de uma zona de processamento nesse território, à qual destinou uma área de 270,2 hectares, com fácil acesso à infra-estrutura disponível no município. Em termos de vantagens locacionais, o projeto enfatiza a disponibilidade de infra-estrutura econômica: oferta adequada de energia do sistema hidrelétrico e a implantação de usinas eólicas na área litorânea, a existência de um aeroporto com capacidade de receber vôos internacionais e ligações rodoviárias com os portos de Pecém e de Itaqui. O projeto refere-se a estudos que identificam as potencialidades econômicas da região: pecuária de leite, aqüicultura (carcinicultura, piscicultura) e pesca artesanal, fruticultura irrigada, extrativismo vegetal (babaçu e carnaúba) e caprinoovinocultura. Destaca a tradicional indústria de fármacos, extraídos de vegetais 125 dessa região: pilocarpina, pilosina, rutina, quercetina, rahmnose, crisarobina, l-dopa, lapachol, resina e jalapa e óleo de rícinio. Essa zona de processamento poderá atrair empresas interessadas na industrialização e exportação desses produtos regionais, definindo um modelo de ZPE voltada para negócios “verdes” ou sustentáveis. O Programa Territórios da Cidadania (PTC) é parte da agenda social do governo federal e compreende um conjunto de iniciativas com ênfase nas transferências condicionadas de renda associadas às ações complementares; no fortalecimento da cidadania e dos direitos humanos; na cultura e na segurança pública e na infra-estrutura. Os objetivos específicos do programa são os seguintes: a) inclusão produtiva das populações pobres dos territórios; b) busca da universalização de programas básicos de cidadania; c) planejamento e integração de políticas públicas; e d) ampliação da participação social. Os recursos destinados ao programa estão previstos no PPA 2008-2011 e alcançam o volume de R$ 11,3 bilhões, assim distribuídos, conforme os grupos de ações: organização sustentável da produção, direitos e desenvolvimento social; saneamento e acesso à água, educação e cultura, infraestrutura, apoio à gestão territorial e ações fundiárias. No estado do Piauí, a execução desse programa envolve dezesseis ministérios, diversos órgãos estaduais e prefeituras e inúmeras associações. Para o exercício de 2008, foram previstas 97 ações com o custo estimado em R$ 961, 8 milhões; para o ano de 2009, 111 ações, orçadas em R$ 1,4 bilhão. 2 ANÁLISE DOS IMPACTOS DO GPFS NA ECONOMIA ESTADUAL O estado constitui um sistema periférico da economia nacional porque ficou à parte dos principais processos de modernização econômica ocorridos em regiões específicas do país, ao longo do século passado. Trata-se de uma economia que gera um pequeno produto (0,5% do produto nacional) e, como resultado, oferece o menor rendimento médio do país: sua renda per capita representa 32,2% do valor médio nacional e 69,1% da média nordestina (dados de 2007). Esta situação de subdesenvolvimento é configurada também com a aplicação de um indicador mais completo de avaliação: o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Com o IDHM 0,656, o estado ocupava a 25ª posição no ranking 126 das 27 unidades da federação, no ano 2000; nas dimensões específicas – longevidade, educação e renda - os índices estaduais são, respectivamente, 0,653; 0,730 e 0,584. O IDHM do Brasil é de 0,766, enquanto os índices das dimensões situam-se, respectivamente, em 0,727; 0,849; e 0,723. Todos os índices do estado encontram-se abaixo das médias do país, mas a distância é maior na dimensão renda. O estado oferece menores oportunidades para uma vida longa e saudável, de acesso ao conhecimento e de opções de trabalho e obtenção de rendimentos. Tendo como referência esse perfil, deve-se também destacar os aspectos positivos e potencialidades do estado, aos talentos de sua gente, manifestados na riqueza de sua história e de sua cultura, soma-se, por exemplo, a estrutura educacional já implantada, principalmente na cidade de Teresina, em torno de um núcleo constituído por uma universidade federal, um instituto tecnológico e uma universidade estadual, abrangendo também bons colégios com elevado desempenho nas avaliações nacionais desses estabelecimentos. Acrescente-se à riqueza histórico-cultural e ao capital humano os recursos ambientais dos variados ecossistemas que compõem o território estadual e que podem ser utilizados de maneira sustentada e sustentável para o seu desenvolvimento. O estado forma uma área de transição em termos climáticos e vegetacionais, entre uma zona semi-árida e uma área de clima semi-úmido, ao longo do vale do Parnaíba, onde se encontram dois biomas: a caatinga e os cerrados. Situa-se preponderantemente sobre a bacia sedimentar do Piauí-Maranhão; pequena porção ao norte e uma faixa na porção sudeste ocorrem sobre rochas cristalinas. Há disponibilidade de terras agricultáveis, de recursos hídricos e de ocorrências minerais a serem exploradas. As belezas da paisagem e a hospitalidade de seu povo constituem atrativos para o turismo, a exemplo do eixo Jericoacoara – Delta – Lençóis. Nessa visão geral devem ser situados os grandes programas federais. O PAC e a PNLT concentram seus esforços na dotação da infraestrutura logística (rodovias, ferrovias, porto marítimo e aeroportos), energética (geração e transmissão de energia, pesquisas exploratórias de petróleo e gás natural e levantamentos geológicos e minerais) e ambiental e urbana (eletrificação rural, recursos hídricos, bacias hidrográficas, saneamento e habitação). Em termos relativos, o Piauí recebeu menos investimentos que os demais estados da região Nordeste no ciclo de expansão dos anos de 1970 e 1980. Os 127 investimentos desses programas procuram suprir essa defasagem e dotar o estado da infraestrutura e dos serviços necessários ao seu desenvolvimento. A PDP estabelecida pelo governo federal é importantíssima na promoção dessas economias regionais. Lembrar que no cálculo do IDHM, as distâncias são maiores na dimensão renda. Essa política abrange ações sistêmicas, programas estruturantes e destaques estratégicos e utiliza-se dos instrumentos econômicos de incentivos, compras governamentais, regulação e apoio técnico. O governo estadual não conseguiu estabelecer a sua própria política produtiva e não aproveitou adequadamente as oportunidades abertas pela política produtiva nacional e atuou de maneira fragmentada junto a esse setor. Em decorrência, os resultados alcançados ficaram abaixo das possibilidades abertas pela atuação federal. A falta de planejamento estratégico e a ausência de uma política econômica suficientemente detalhada têm reflexos na discussão dos projetos de implantação de ZPEs no estado. A política econômica do estado deve utilizar de maneira articulada os diversos instrumentos de promoção econômica disponíveis, inclusive as estruturas como ZPEs, submetidos ao crivo da análise econômica que traz elementos para a tomada de decisões, tendo em vista a oportunidade e viabilidade de aplicação desses instrumentos. Quanto ao PTC, concentra-se na superação da pobreza e na geração de trabalho e renda no meio rural, com atuação em três eixos: ação produtiva, cidadania e infraestrutura. No Piauí, foram selecionados seis territórios de atuação, segundo o zoneamento estabelecido no planejamento regional: Cocais, Entre Rios, Carnaubais, Vale do Canindé, Vale do Guaribas e Serra da Capivara. Envolveu a atuação de dezesseis ministérios, em articulação com o governo estadual, prefeituras municipais e associações locais. No triênio 2007-2009, foram executadas ações que significaram a aplicação de R$ 1,96 bilhão, valor correspondente a 36,3% dos recursos aplicados no Nordeste. Em conclusão, os grandes programas federais estudados tiveram impactos positivos na economia piauiense: realizaram investimentos com avanços na implantação da infraestrutura econômica e social necessária, implementaram medidas de promoção econômica no sentido do aumento da produção, da elevação da produtividade e da diversificação da economia estadual (onde se destaca o apoio aos arranjos produtivos), as quais resultaram na criação de oportunidades de 128 trabalho e geração de renda. Além desses resultados, executaram ações específicas de inclusão social e combate a pobreza. Cabe ao estado e aos municípios dessa unidade da federação iniciativas no sentido do desenvolvimento humano e da sustentabilidade, assumindo suas responsabilidades e aproveitando as oportunidades abertas pelo governo central e suas agências. 3 REFLEXÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO Planejamento da infraestrutura econômica e social Os programas federais analisados abrangem os temas mais relevantes para o desenvolvimento regional, temas que devem constar do planejamento estratégico do estado. Algumas dessas iniciativas extrapolam os limites territoriais e os interesses diretos da sociedade piauiense, estão relacionadas com alternativas técnicas e políticas de abrangência regional ou nacional. Condições ambientais específicas, aspectos históricos e situações regionais colocam o estado frente a um conjunto de projetos de infraestrutura econômica interligados. Há casos de profunda interdependência entre as iniciativas, e outros, em que os projetos podem ser excludentes entre si, isto é, a escolha de uma opção torna inviável a outra opção. Do ponto de vista estadual, o rio Parnaíba constitui o núcleo dessa discussão. Em torno dele há os seguintes empreendimentos de infraestrutura: a) restauração da navegabilidade do rio Parnaíba, com obras e serviços de recuperação e manutenção do canal e da hidrovia; b) conclusão das eclusas da represa de Boa Esperança (recuperação das obras civis e implantação da parte mecânica); c) conclusão do porto marítimo de Luís Correia, na foz do rio Igarassu, no delta do Parnaíba; d) recuperação do ramal ferroviário Altos/Parnaíba/Luís Correia, interligando a ferrovia São Luís/Teresina/Fortaleza, com o porto acima indicado; e) construção de cinco novas represas no rio Parnaíba, para fins de geração de energia hidrelétrica. Ao lado desses projetos, corre a implantação da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia Transnordestina, que interligarão as regiões produtoras de grãos nos cerrados do 129 sul do Maranhão e do sudoeste do Piauí a dois grandes portos marítimos: Itaqui (MA) e Suape (PE). Há ligações também com as propostas de implantação de um pólo agroindustrial e/ou de um “porto seco” em Teresina e com o projeto da ZPE de Parnaíba. A esse núcleo básico, acrescente-se a implantação de um pólo agroindustrial e/ou “porto seco” em Teresina, para fins de beneficiamento da soja produzida nos cerrados drenados pelo alto curso do rio e seus afluentes, como forma de viabilizar a hidrovia e o porto, do ponto de vista do volume de cargas; assim como a reativação do ramal ferroviário Altos/Luís Correia e a ZPE de Parnaíba. Tendo em vista a construção da ferrovia Norte-Sul e da ferrovia Transnordestina, cabe discutir a viabilidade da restauração da hidrovia do Parnaíba e desses empreendimentos diretamente vinculados: implantação de um pólo agroindustrial em Teresina, a conclusão do porto marítimo em Luís Correia e a recuperação do terminal ferroviário Altos/Luís Correia. Esses dois empreendimentos de interesse nacional atendem justamente as áreas agrícolas dos cerrados do Piauí e do Maranhão que poderiam escoar sua produção pela hidrovia do Parnaíba. A discussão do porto ganhou uma certa autonomia com relação à hidrovia do Parnaíba, apesar de ter sido inicialmente projetado para funcionar em articulação com essa via de transporte. As obras do porto tiveram início em 1976 e foram paralisadas cerca de dez anos depois, tendo sido implantada parte de sua infraestrutura (abrigo, parte de um dos cais e acessos). As obras foram retomadas recentemente, na perspectiva de conclusão de um dos cais e da operacionalização de um terminal de granéis líquidos para o abastecimento da região norte do estado com derivados de petróleo. Nesse contexto, projetou-se também a recuperação do ramal ferroviário Altos/Luís Correia, permitindo a ligação dessa estrutura com a ferrovia São Luís/Teresina/Fortaleza. Adicionalmente a essas controvérsias, estudos do setor elétrico recomendam a implantação de cinco novas hidrelétricas no curso do rio Parnaíba para aumentar a capacidade do sistema CHESF, tendo em vista projeções de ampliação da demanda nesse setor. A implantação de mais cinco barragens no rio, adicionalmente àquela já existente e cujas comportas nunca foram concluídas, poderia inviabilizar o uso do rio como hidrovia, tendo em vista a elevação dos custos e do tempo dos deslocamentos? 130 Não há posicionamentos explícitos sobre as alternativas que relacionam esses empreendimentos. O PPA 2008-2011 e o PAC avançam no sentido da hidrovia e das hidrelétricas. A PNLT concentra-se na opção desse setor: a hidrovia. O governo do estado apenas acompanha o governo federal, na lógica imediatista de que qualquer investimento é aceito e bem-vindo. Além dessas obras estruturantes, os GPFs abrangem intervenções em segmentos nos quais, segundo o pacto federativo, é maior a competência das unidades da federação. É importante aproveitar essa fase de crescimento econômico e de expansão do gastos do governo federal, mas as políticas nessas áreas não devem ser desenhadas tendo em vista apenas aspectos conjunturais. O setor de saneamento constitui uma prioridade, talvez até mesmo uma emergência. O modelo centralizado do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), com base em Companhias Estaduais de Saneamento Básico (CESB), entrou em colapso ainda nos anos de 1980, com a crise econômica então enfrentada pelo país, inclusive com a extinção do órgão central do sistema: o Banco Nacional da Habitação (BNH). A falta de políticas e de recursos para financiamento do setor resultou na perda da capacidade de coordenação da maioria dos estados, em dificuldades para a gestão das companhias estaduais e na queda da qualidade dos serviços. Um novo marco regulatório foi estabelecido somente vinte anos depois, com a Lei n° 11.445, de 05/01/2007, que estabeleceu diret rizes nacionais para o saneamento básico. No momento, encontra-se em fase de transição, na qual uma das principais questões é o tema da concessão desses serviços pelos municípios, entes federados dotados dessa atribuição no novo modelo. A questão do financiamento do setor tem sido encaminhada com a participação da CEF e com programas de investimentos do governo federal, a exemplo do PAC. O principal órgão do saneamento ambiental no Estado do Piauí é a sua companhia estadual de saneamento básico: AGESPISA. Grande parte das dificuldades enfrentadas por essa empresa tem suas causas na falência do modelo do setor. A AGESPISA opera serviços de abastecimento de água em 144 dos 222 municípios do Piauí. Há sistemas públicos de esgotamento sanitário em apenas quatro das cidades do estado, também gerenciados pela AGESPISA. Nos demais municípios funcionam sistemas autônomos, administrados pela prefeitura municipal, com a assistência da FUNASA. Como desdobramento do novo 131 marco regulatório, criou-se uma companhia regional de saneamento mediante consórcio de municípios do sul do estado: a CORESA Sul do Piauí. A situação dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no Estado do Piauí apresenta-se bastante mais grave do que na média nacional, sendo que os indicadores atuais de cobertura são ainda inferiores àqueles verificados na Região Nordeste. Nas áreas urbanas do estado, 76,0% dos domicílios estão conectados às redes de abastecimento de água, e apenas 4,0% estão ligados à rede coletora de esgotos. Quando consideradas as fossas sépticas, o percentual de atendimento em esgotamento sanitário sobe para 69,0%. Deve-se, entretanto, destacar que 336 mil domicílios urbanos do Estado (19,0%) não dispõem sequer de um banheiro ou sanitário (dados da PNAD, 2001). São altos os custos para implantação e operação de sistemas de abastecimento de água e de esgotamentos sanitário. No Piauí, as sedes municipais estão dotadas de alguma estrutura de abastecimento de água; contudo, a maioria desses sistemas tem abrangência limitada e seu funcionamento é intermitente. A cobertura de esgotos sanitários é pequena e cabem discussões de alternativas tecnológicas, como unidades sanitárias e sistemas isolados, tendo em vista aspectos de financiamento e de gestão ambiental. A discussão de modelos organizacionais aberta pela novo marco é fundamental. Parece ultrapassado o modelo centralizado em uma companhia estadual, inclusive pelas dificuldades de operação de diversos pequenos sistemas municipais. Há indicações de maior viabilidade para de um modelo que considere companhias regionais, mediante consórcio de municípios, e sistemas autônomos municipais, com assistência técnica e financeira dos governos federal e estadual. As áreas de drenagem pluvial e de limpeza de resíduos sólidos urbanos cabe também aos municípios. União e estados devem se articular para atuar prioritariamente em casos que extrapolem as competências e recursos locais. Por exemplo, o controle das enchentes do rio Poti na área urbana de Teresina dependem da construção de uma barragem no curso desse rio, no município de Castelo do Piauí. Os governos municipais devem ser apoiados e fiscalizados no exercício do seu papel. Atenção especial nos serviços de coleta e disposição adequada do lixo urbano, o que envolve inovações como seleção de materiais nos domicílios, coleta 132 seletiva reaproveitamento/reciclagem de materiais, bem como grandes investimentos na implantação e operação de aterros sanitários. A preocupação com iniciativas locais também deve constar da política habitacional. São importantes as políticas, os programas e os investimentos do governo federal e de suas agências, como a CEF. Mas o estado deve reconhecer, valorizar e difundir experiências locais bem sucedidas. O município de Teresina, por exemplo, detém larga experiência no setor de habitação popular, abrangendo medidas de regularização fundiária, urbanização de áreas de baixa renda e melhorias habitacionais/sanitárias. Na área de transportes e trânsito, deve-se atentar para as mudanças em curso na sociedade, em especial os desdobramentos da urbanização no estado. Os programas de investimentos em rodovias sempre deram destaque às necessidades de escoamento da produção. Deve-se atentar para a ampliação dos deslocamentos de pessoas em busca de serviços (comércio, educação, saúde) e para fins de trabalho, entres as sedes de municípios e das zonas rurais para as áreas urbanas de um mesmo município. Esse aumento de fluxos e de volumes de pessoas em deslocamentos coloca novos problemas e redefine prioridades, como os temas de educação para o trânsito, controle de trânsito e prevenção de acidentes. Cabem amplas campanhas de sinalização de cidades e rodovias, habilitação de motoristas/motociclistas e fiscalização dos meios de transporte nos principais municípios do estado. Política de Promoção Econômica Como o sucesso da PDP depende de mobilização do setor produtivo, é importante que após a implementação desse conjunto inicial de medidas sejam criados mecanismos capazes de promover uma maior articulação com os estados. Também se faz necessário desenvolver mecanismos eficientes para acompanhamento dos impactos locais dos programas desenvolvidos no âmbito dessa política. O alcance das macrometas depende da resposta do empresariado aos objetivos e programas definidos, mas, no caso do Piauí, não foi possível perceber nenhum tipo de interlocução com o setor privado no que se refere à operacionalização da PDP. 133 Outras questões pontuais, observadas na elaboração desse trabalho e levantadas pelos empresários piauienses no Fórum Piauí 2020, são imprescindíveis para o alcance dos objetivos pretendidos na PDP, entre as quais pode-se destacar: (i) regulamentação do projeto que trata das compras governamentais; (ii) ampliação da regulamentação da lei geral para um maior número de municípios; (iii) implementação de políticas públicas voltadas para o aprimoramento técnico e científico, como programas de capacitação empresarial e de recursos humanos, certificação e metrologia; (iv) intensificação de programas destinados à ampliação das exportações das MPEs dado que, em geral, a busca por mercados externos exige inovação ao mesmo tempo em que mobiliza fundos públicos e incentivos. A instalação de ZPES no Piauí A proposta de projetos de implantação de ZPEs é relevante e oportuna para o Piauí. Do ponto de vista da formulação de políticas, retoma debates sobre o fortalecimento da indústria e a relevância desse setor para o crescimento econômico, tendo em vista seus efeitos sobre a economia regional: agregação de valor a produtos agrícolas e minerais, criação de oportunidades de trabalho e demanda por serviços especializados, possibilidades de articulação com arranjos produtivos em que predominam micro e pequenas empresas, constituição de novas áreas de produção no território estadual e diversificação da economia. O estado nunca definiu e implementou com firmeza uma “política industrial”. O tema consta dos planos estaduais e há uma lei de incentivos, com alguns resultados positivos na atração de investimentos para o setor. Houve tentativas de instalação de distritos industriais nas principais cidades do estado, mas apenas três foram implantados, ainda que de forma parcial, nos municípios de Teresina, Parnaíba e Picos. O município de Teresina conta com núcleos de produção para microempresas e está implantando com sucesso o “Pólo Industrial Sul”. Desde os anos de 1980, publicações oficiais indicam a proposta de um “pólo agroindustrial” nessa cidade, que de fato já existe (indústrias de beneficiamento de grãos, massas e outros produtos agropecuários), mas não como resultado de um projeto específico. Ao final daquela década (1980) surge a proposta das zonas de processamento de exportações e, no início dos anos 1990, a proposta de implantação de estações 134 aduaneiras de interior (“portos secos”), como instrumentos de promoção regional nos estados do Nordeste. Essas propostas guardam semelhanças, porque são focadas na promoção das exportações de produtos manufaturados. Há dois projetos de implantação de ZPEs no Piauí, um de iniciativa do governo estadual – a ZPE do Nordeste (Pavussu/Elizeu Martins) – e outro da Prefeitura Municipal de Parnaíba – a ZPE de Parnaíba. A proposta de criação de um “porto seco” em Teresina foi atualizada para a forma de “Centro Logístico, Industrial e Aduaneiro” (CLIA), conforme regulamentação mais recente. Como se procurou demonstrar, há, no Piauí, iniciativas em torno das duas propostas, mas até o momento não foi possível mobilizar empresas que reunissem as capacitações e os recursos necessários à implantação e operacionalização dessas estruturas, apesar dos avanços já realizados. A indiscutível a importância da implantação de estruturas industriais/exportadoras, como ZPEs e CLIAs, para a promoção do desenvolvimento regional. Contudo, cabe avaliar a adequação desses instrumentos de promoção econômica aos sistemas econômicos nos quais se pretende intervir. Os métodos e as técnicas da área de planejamento econômico (“análise de projetos”, “planejamento estratégico”, etc.) podem trazer elementos para tomada de decisões e negociações em torno desses empreendimentos. Essa análise econômica pode contribuir na formulação da política econômica do estado, em especial numa “política industrial”, com indicações sobre a viabilidade a articulação entre os diversos instrumentos, tendo em vista as condições atuais e as perspectivas da economia piauiense, no contexto da região Nordeste e dos interesses mais amplos do país. A política econômica do estado deve compor e articular os instrumentos disponíveis a partir de decisões políticas submetidas a uma análise econômica criteriosa. A experiência do PLANAP é exemplar; na elaboração desse plano procurou-se agregar conhecimento da realidade, com participação da sociedade e articulação entre os níveis de governo. O programa florestal que constitui o núcleo da estratégia de crescimento econômico da bacia foi elaborada e avaliado em termos de sua viabilidade econômica. Assim, a “política industrial” do estado, parte de uma estratégia mais geral de desenvolvimento econômico, deve considerar análises das condições atuais e das perspectivas da economia piauiense e articular os instrumentos disponíveis – 135 inclusive ZPEs - , tendo em vista sua viabilidade econômica (e sustentabilidade ambiental). Especificamente quanto às ZPEs, deve-se avaliar se o estado reúne as condições locacionais e a dotação de infraestrutura econômica básicas para esse tipo de empreendimento, frente às condições já disponíveis em outros estados da região (áreas industriais, portos marítimos, aeroportos internacionais, ferrovias, rodovias, abastecimento adequado de energia elétrica, etc.) Territórios e Cidadania O impacto das ações do PTC no conjunto da economia e no desenvolvimento da cidadania no estado do Piauí é diferenciado entre os seis territórios constituídos. A distribuição de recursos obedece a critérios que tentam contemplar a heterogeneidade demográfica, social, política e econômica dos municípios beneficiados e encontra seus limites precisamente no baixo grau de integração das ações executadas ao longo dos anos de 2007, 2008 e 2009. A fragmentação excessiva das ações se constitui num empecilho para promover mudanças na infraestrutura e implantação de uma lógica participativa mais direta nas decisões de interesse publico das cidades pertencentes aos territórios da cidadania. A explicação para esse fenômeno pode ser encontrada em três variáveis que influenciam diretamente qualquer projeto de desenvolvimento social, político e econômico: a) a inexistência de uma burocracia moderna nas prefeituras capaz de executar e avaliar as ações previstas nos vários programas durante sua vigência; b) a incipiência organizacional dos conselhos gestores, comitês executivos e associações fundadas para implementar as ações nas respectivas cidades dos territórios contemplados; c) o grau de participação da sociedade civil no processo de elaboração das propostas fomentadas e custeadas pelo governo federal, estadual e municipal. A inexistência de um aparato burocrático eficiente nas cidades (prefeituras) desses territórios se constitui num enorme entrave para quaisquer atividades que visem mudar determinadas condições sociais, políticas e econômicas. A dependência estrutural (de recursos federais) das prefeituras desses municípios e seus elevados graus de pobreza e subdesenvolvimento não tornam possível um investimento na capacitação de funcionários e gestores objetivando superar as 136 condições impeditivas que eventualmente agilizariam a execução de políticas públicas no plano municipal. A grande questão nesse ponto é a seguinte: teriam essas prefeituras condições reais de coordenarem e executarem políticas públicas diante de mecanismos tão limitadores e condições subótimas de atuação do aparato burocrático municipal? Pelos resultados das ações executadas nota-se claramente que essa variável explicativa é fundamental e deve ser considerada na explicação dos êxitos e limites de políticas públicas voltadas para reduzir os níveis de desigualdades entre as regiões, estados e municípios. A incipiência organizacional dos conselhos gestores, associações e comitês executivos estaduais pode ser apontada como outra variável limitadora do sucesso de programas federais que objetivem fortalecer ou incentivar políticas públicas de desenvolvimento regional na área da cidadania. Em regra, a formação desses órgãos de deliberação é uma exigência legal para os municípios receberem recursos e serem contemplados por quase todos os tipos de programas e políticas públicas concebidos pelo governo federal. Um dos entraves fundamentais nesse quesito diz respeito à baixa qualificação técnica dos membros que compõem esses órgãos. Tendo em vista que a composição desses conselhos é constituída pelos representantes dos órgãos executores (ministérios, prefeituras, órgãos estaduais, etc.), isso já impõe limites à ação dos membros da chamada sociedade civil. A centralização, no processo de formulação e planejamento, e a composição majoritária dos representantes das agências oficiais, introduzem um viés que em tese pode produzir resultados antagônicos aos inicialmente concebidos. Se a idéia é envolver um maior número de associações, conselhos, órgãos e redes sociais, necessariamente essa variável deve ser considerada. A terceira variável, grau de participação da sociedade civil, é outro indicador importante para se avaliar o desenvolvimento da cidadania nas cidades que fazem parte dos diversos territórios da cidadania. Essa variável relaciona-se diretamente com a anterior. O grau ou nível de associativismo dos municípios prediz que a existência de um leque de associações traz consigo a possibilidade da sociedade civil e de outras instituições concorrentes exercerem um controle democrático mais efetivo e de influenciarem na tomada de decisões políticas. Desta maneira, supõe-se 137 onde for maior a vida comunitária, mais progressista e competitiva é a disputa política No entanto, não há uma tradição de participação na maioria esmagadora das cidades brasileiras. Mesmo havendo um investimento para se capacitar as pessoas numa gama variada de atividades, as realidades sociais, políticas e econômicas dos municípios contemplados com recursos do programa território da cidadania são bastantes adversas ao envolvimento dos cidadãos nas escolhas e decisões que afetem os interesses dessas mesmas comunidades. No geral, como ocorre nas experiências dos orçamentos populares, as associações são chamadas a elegerem as prioridades de um determinado território. Todavia, como os recursos são liberados pelo poder executivo, essa participação se restringe ao momento inicial da formulação. Nas etapas de execução e fiscalização o controle fica bastante limitado. No contexto das regiões brasileiras essa tradição associativa é ainda mais escassa. A grande questão é mensurar como os grandes programas federais podem alterar essa realidade. Somente a continuidade de tais projetos poderá de fato alterar essa lógica de pouco envolvimento nas discussões dos temas, problemas e soluções que digam respeito à elaboração de políticas públicas transformadoras de práticas verticalizadas de relações entre estado e sociedade civil. Uma das questões levantadas no Comitê de Articulação Estadual do PTC é a grande fragmentação das ações nas cidades contempladas pelas ações dos territórios da cidadania. A excessiva descentralização das ações entre as várias cidades dificulta enormemente a coordenação de um plano estratégico onde se possa avaliar gradualmente os reais impactos das medidas tomadas nas ações. Outra questão salientada é o desinteresse da maioria dos membros de comitês, associações e órgãos envolvidos no programa território da cidadania em participarem das atividades de avaliação dos resultados das ações. No geral, a participação fica limitada aos dirigentes que coordenam aquelas ações e organizam as atividades de execução das metas estipuladas pelos ministérios. Não obstante, a estratégia do PTC é inovadora. Sendo um projeto que se encontra em execução e com duração apenas de três anos, a meta de integrar e articular inúmeras ações em diversos estados do país objetivando superar condições extremamente desfavoráveis é altamente positiva. Nesse caso, o desencadeamento de uma iniciativa que vislumbre alterar padrões de comportamento na relação entre estado e sociedade civil, planta um germe que poderá render grandes benefícios se 138 houver uma continuidade dos objetivos propostos num programa dessa natureza. Ou seja, os grandes programas federais somente produzirão efeitos permanentes quando se constituírem em políticas de estado e forem permanentemente aperfeiçoadas mediante avaliação de todas as instituições, agências, órgãos e associações do estado e sociedade civil. Assim, as bases para prováveis mudanças estruturais podem estar sendo edificadas. A proposição de políticas públicas e sociais para área de cidadania deve levar em consideração os limites detectados e as variáveis que mais diretamente podem interferir no êxito dos objetivos previstos quando da formulação dos grandes projetos federais. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este projeto de pesquisa abrangeu duas etapas, uma primeira voltada para a identificação de arranjos produtivos e das políticas para arranjos e uma segunda etapa para estudo dos impactos de grandes programas federais em unidades da federação selecionadas. Os levantamentos, análises e indicações da primeira etapa do projeto devem ser consideradas como um quadro geral para a segunda etapa dos estudos. Como um dos resultados da primeira etapa, chegou-se à indicação de que existe no estado um quadro geral favorável à formulação de políticas e ao planejamento governamental: a existência de planos elaborados de forma participativa e descentralizada, com estratégias de crescimento econômico claramente definidas, onde figuram de maneira destacada os arranjos produtivos. Ainda nesse quadro geral, cabe destacar as articulações existentes entre organizações do governo federal, do governo estadual e do terceiro setor, como ficou demonstrado nos levantamentos realizados. O PPA 2008-2011 é o instrumento que consolida as orientações para a atuação do governo estadual nesse período. Suas diretrizes consideram quatro dimensões (social, econômica, ambiental e institucional) e dez eixos de ação (SEPLAN-PI, 200?c). Foi elaborado de forma participativa, tendo como suporte a divisão do Estado em macrorregiões, territórios de desenvolvimento e aglomerações de municípios, metodologia já empregada na elaboração do PPA 2004-2007 e do PLANAP. 139 A estratégia proposta pelo governo estadual busca um processo de desenvolvimento que articule as quatro dimensões citadas no sentido do crescimento econômico com inclusão social e uso sustentável dos recursos ambientais. A estratégia de crescimento econômico diversificado abrange a introdução de inovações e a elevação da produtividade da agricultura familiar, a promoção de um modelo agroindustrial articulando empresas-âncora com agricultores familiares e médios produtores rurais, com efeitos dinâmicos sobre o consumo e benefícios para os setores de comércio e de serviços. No núcleo dessa estratégia, o Programa de Produção de Bioenergia do Piauí (SEPLAN-PI, 200?a) prevê a inclusão do Estado na produção de energias renováveis e ambientalmente sustentáveis, com base no cultivo de produtos agrícolas como cana-de-açúcar, mamona, pinhão-manso, soja eucalipto e outras espécies florestais, matérias-primas para a produção de etanol e do biodiesel e fontes de biomassa. Espera-se a participação de grandes empresas do ramo e a formação de clusters, nos moldes do programa florestal previsto no PLANAP. Foram apontadas também limitações na organização e na atuação do setor público do Estado, as quais reduzem a capacidade de formulação e de implementação de políticas e os seus efeitos na promoção das atividades econômicas e dos arranjos produtivos. São elas: i) inexistência de um plano de desenvolvimento e insuficiência dos debates e do detalhamento da estratégia de crescimento econômico proposta; ii) fragilidade institucional e defasagens no quadro de recursos humanos da área de promoção econômica; iii) dificuldade de articulação intra-governamental e iv) ausência de sistemas operacionais de acompanhamento e de avaliação. No contexto dessa estratégia de desenvolvimento e das limitações acima apontadas devem ser situados os grandes programas federais em execução no estado. Considera-se fundamental a ampliação da infra-estrutura de suporte ao desenvolvimento (logística, energia elétrica e recursos hídricos), de investimentos em ferrovias, produção e distribuição de energia elétrica, habitação, saneamento, turismo e irrigação, nos termos programados pelo PAC e pela PNLT. Pode-se constatar a existência de uma articulação mais ampla entre as estratégias estaduais e as ações do governo federal articuladas pela PDP: o Piauí também busca alcançar o crescimento econômico, através do desenvolvimento de 140 setores estratégicos, com educação de qualidade e uma agenda social pautada sobretudo em programas de transferência de renda. Essa articulação é vista pela análise dos principais instrumentos da PDP: a) instrumentos de incentivo: crédito e financiamento, capital de risco e incentivos fiscais; b) poder de compra governamental: compras da administração direta e de empresas estatais; instrumentos de regulação técnica, sanitária, econômica, concorrencial; c) apoio técnico: certificação e metrologia, promoção comercial, gestão da propriedade intelectual, capacitação empresarial e de recursos humanos; e d) coordenação intragovernamental e articulação com o setor privado. O PTC procura combinar estratégia territorial, articulação de relações federativas, integração de políticas públicas e participação social no sentido do promoção do desenvolvimento local/regional. Os objetivos específicos do programa são: a) inclusão produtiva das populações pobres dos territórios; b) busca da universalização de programas básicos de cidadania; c) planejamento e integração de políticas públicas; e d) ampliação da participação social. O enfrentamento das limitações acima apontadas poderia tornar mais efetiva as políticas e os programas de desenvolvimento econômico implementados no estado. Reafirma-se a relevância do planejamento estratégico para a promoção do desenvolvimento do Piauí, considerando a visão geral desse território do ponto de vista do país e do Nordeste, assim como as perspectivas de próprio estado e as opções da sociedade piauiense quanto às prioridades e investimentos relevantes. A articulação com a sociedade civil organizada, inclusive representações do setor empresarial, é indispensável. Reafirma-se também a relevância da definição de uma política econômica estadual, que considere o fortalecimento institucional dos órgãos do setor: SEPLAN, GGE APL e SEDET; a elaboração de estudos técnicos e análises de viabilidade econômica de programas e projetos e a importância da abordagem de arranjos, tanto na etapa de análise econômica como instrumento de política. REFERÊNCIA VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Piauí – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, 141 Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Teresina/PI, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. VELOSO FILHO, Francisco de Assis, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Piauí e Proposição de Políticas – Piauí. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Teresina/PI, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PI). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. 142 OS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NA ECONOMIA PARAIBANA E A NECESSIDADE DE UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO1 Paulo Fernando de M. B. Cavalcanti Filho / Coordenador Estadual2 Avaní Terezinha Gonçalves Torres3 Márcia de Lima Pereira4 Tabira de Souza Andrade5 Águida Cristina Santos Almeida6 1. Introdução O mais brilhante dos economistas brasileiros afirmou que o objetivo das sociedades periféricas, de buscar alcançar o desenvolvimento, seria um mito, pois pressupunha duas premissas falsas: que o subdesenvolvimento seria um estágio anterior e inferior da evolução sócio-econômica das nações e, em segundo lugar, que seria possível a todas as nações alcançarem e permanecerem, em conjunto, no estágio posterior e superior de “desenvolvidas” (FURTADO, 1961). A primeira premissa falseia os mecanismos endógenos da forma de organização das economias capitalistas, a qual, para que possa promover a acumulação, gera e pressupõe a desigualdade. A segunda falseia o fato dos recursos naturais do planeta serem finitos, tornando uma impossibilidade fática a replicação e generalização global do padrão de produção e consumo das sociedades “desenvolvidas”. Desta forma, avaliar os impactos e a adequação do modelo de promoção do desenvolvimento colocado em prática pelo Governo Federal na Região Nordeste, através 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Paraíba”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB ([email protected]), coordenador do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE e pesquisador associado da REDESIST/IE-UFRJ. 3 Professora Assistente da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 4 Professora Assistente da Unidade Acadêmica de Economia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 5 Professora Assistente do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal da Paraíba – UFPB e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 6 Professora Assistente da Unidade Acadêmica de Economia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tecnologia e Empresas/NETE ([email protected]). 143 da estratégia de implantação de Grandes Projetos Federais (GPF), exige reconhecer os limites de qualquer modelo/estratégia. Alterar a estrutura social através de transformações na estrutura produtiva paraibana (e brasileira) implica enfrentar, politicamente, os grupos de interesse econômico, a hierarquia de poder local e suas ligações regionais/nacionais/internacionais. Reconhecidos estes contornos, o desafio a ser enfrentado pela sociedade paraibana pode ser sumarizado em duas metas: crescer sua renda per capita em ritmo superior à média nacional e eliminar a pobreza e o analfabetismo neste mesmo período. Para tal epopéia se faz necessário superar um conjunto de 12 gargalos internos, que estrangulam o potencial da economia estadual, agravam ameaças externas e bloqueiam/atenuam as oportunidades: 1) precária qualidade na formação educacional; 2) inadequado perfil da qualificação profissional; 3) inadequado perfil da pesquisa científicotecnológica; 4) insuficiente grau de integração do sistema de inovação local; 5) defasado padrão de especialização produtiva e tecnológica local; 6) precariedade e inadequação do perfil da infraestrutura física; 7) reduzida disponibilidade de financiamento para o setor privado local; 8) reduzida capacidade fiscal e financeira dos governos estadual e municipais; 9) reduzida eficiência/eficácia/efetividade da gestão pública; 10) envelhecimento da infraestrutura institucional; 11) adversas condições políticas; 12) adversas condições naturais. A sociedade paraibana demonstra crescente insatisfação com o crônico e prolongado processo de relativa estagnação econômica e social que caracteriza a sua trajetória histórica no último meio século. A Paraíba parece ter vivenciado uma experiência única que reuniu condicionantes externos (regionais, nacionais e mundiais) e internos, associados a características de isolamento político, econômico e social, que tornaram o estado um ator meramente passivo frente aos fortes movimentos associados à globalização das economias, bem como, quanto aos processos transformadores da nascente Sociedade do Conhecimento. Analisando-se a estrutura produtiva, verifica-se que indústria paraibana é especializada em Arranjos Produtivos com perfil de baixo conteúdo tecnológico, focados em produtos tradicionais (alimentos, minerais não-metálicos, bebidas, calçados, têxtil), os quais, predominam nas relações comerciais com o resto do país. A indústria de transformação representava, em 2006, apenas 10% do valor adicionado e cerca de 22,2% do PIB estadual, mas alcançava 53,7% das transações interestaduais e 92% das exportações paraibanas. A sua agropecuária não possui grande expressão no comércio 144 interestadual, pois apresenta reduzido peso no valor das vendas paraibanas, a exemplo dos APLs de avicultura, fruticultura e bovinocultura, incluindo leite e derivados. De outro lado, os negócios envolvendo “serviços” representam cerca de 80% das fontes de receitas do Governo estadual, mas sua ênfase não está nos arranjos mais dinâmicos e sofisticados tecnologicamente, e sim no comércio varejista e atacadista, entre outros. No aspecto espacial, há um crescente deslocamento do PIB estadual em direção ao litoral do estado, em um processo de concentração territorial de população e renda que trás em seu bojo os riscos e externalidades negativas já experimentados por outras capitais nordestinas: violência, favelização da periferia, desestruturação familiar, etc.. No interior do estado, por outro lado, formam-se “vazios”: demográficos, econômicos e de Políticas Públicas. Ainda na dimensão territorial, a Paraíba já apresentava, historicamente, uma forte dependência econômica de Pernambuco, uma vez que este é o principal destino das vendas paraibanas e, também, a principal origem de suas compras. O recente e intenso processo de transformação da estrutura produtiva pernambucana, com forte ampliação da indústria na composição do PIB, a partir dos volumosos investimentos recebidos por aquele estado, tenderão a intensificar a escala e o escopo desta integração produtiva, comercial e cultural. Desta forma, ao oferecer amplas oportunidades de emprego, Pernambuco poderá vir a “drenar” parte significativa dos recursos humanos qualificados no estado da Paraíba, bem como, devido a sua mais sofisticada e ampla oferta de serviços a capital pernambucana poderá vir a se beneficiar significativamente da obra de duplicação da BR – 101, que liga as duas capitais mais próximas do país. Este contexto, finalmente, se defronta com fatores macrodinâmicos que tornam inevitável o seu rompimento e, portanto, a mudança das condições estruturais da economia paraibana, configurando o alicerce para um novo padrão de desenvolvimento. Entre estes fatores, destacam-se: a. A ascensão da nova Sociedade do Conhecimento e a consolidação do processo de Globalização produtiva, financeira, tecnológica e cultural, tornam a produção de conhecimento pervasiva a toda sociedade; b. Ressurgimento de Políticas e Ações de foco, ou com impacto, Regional, tais como os programas Territórios da Cidadania, Programa de Aceleração do Crescimento, Plano Nacional de Logística e Transporte, Expansão e Interiorização das IFES; c. Novas orientações no âmbito de agências e instituições promotoras do 145 desenvolvimento, em especial aquelas provenientes dos bancos de desenvolvimento nacional e regional; d. Desenvolvimento relativo/absoluto dos estados vizinhos da Região, que possuem estreitas relações comerciais, produtivas, científicas, sociais e culturais com a Paraíba, a exemplo de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará; Neste novo contexto, as forças político-sociais comprometidas com um processo de transformação das estruturas sócio-econômicas do estado da Paraíba devem abordar a questão do desenvolvimento a partir dos condicionantes históricos, que se configuram tanto em desvantagens (como a baixa disponibilidade de recursos naturais e um padrão de financiamento dependente de fontes externas) e obstáculos (o patrimonialismo das elites locais e conflitos políticos exacerbados e mutuamente destrutivos). Para o rompimento deste processo circular de causação cumulativa, que reproduz a estagnação econômica e a má-distribuição de renda se faz necessária a conjugação de forças endógenas, comprometidas com um novo modelo de desenvolvimento para a sociedade local, associadas ao aproveitamento de oportunidades surgidas exogenamente (tais como os projetos federais estruturantes e os bancos de desenvolvimento) e de vantagens locais (presença de grandes universidades e situação logística privilegiada), associados a um conjunto de vetores de transformação presentes em escala estadual, nacional e global. 2. Caracterização e grau de execução dos Projetos Federais na Paraíba 2.1. PAC: Os investimentos no segmento de infra-estrutura logística No que concerne aos investimentos em infraestrutura logística, dos modais que compõem este eixo, quais sejam: rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e hidrovias, a Paraíba foi beneficiada com investimentos apenas nos três primeiros segmentos, mesmo assim, com exceção das obras/ações direcionadas ao modal rodoviário paraibano, as iniciativas do ente federal definidas para o segmento portuário e aéreo do estado são insuficientes para atender às necessidades locais. As BR-101 e BR-230 fazem parte da lista de obras no estado da Paraíba. Com relação à BR-101, destaca-se a duplicação, adequação de capacidade e modernização do subtrecho divisa PB/RN e divisa PB/PE. As obras referentes à BR101/NE, a partir do investimento de R$ 412 milhões, ainda não foram concluídas. O 146 último levantamento feito pelo governo federal aponta a seguinte situação: divisa RN/PB, divisa PB/PE – 129 km: 89% da duplicação e modernização efetuadas. Com relação à BR-230, principal eixo de fluxo de pessoas e mercadorias na Paraíba, interligando o sertão ao litoral paraibano, o PAC inclui a duplicação e modernização do trecho paraibano. A obra iniciou-se em 2006, através de um convênio firmado entre o DNIT e o DER/PB, e foi concluída em junho de 2009. Somada à duplicação, previa-se a recuperação de pista existente. No projeto de modernização, o governo federal previa investir entre o período de 2007-2010 cerca de R$ 84 milhões (DNIT, 2010). No segmento aéreo paraibano, apenas o Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto, localizado no município de Bayeux, foi contemplando, com reforma e ampliação do terminal de passageiros, reforço da pista de pouso, pistas de rolamento, pátios de estacionamentos de aeronaves e obras complementares, no valor de R$ 18,0 milhões. A obra foi concluída no ano de 2007. Por fim, para o Porto de Cabedelo, o único terminal marítimo da Paraíba, a previsão de investimento de R$ 105 milhões, dos quais R$ 60 milhões seriam efetivamente aplicados na “dragagem e derrocamento” e o restante seria destinado à recuperação de cais e melhorias na infraestrutura do Porto. Entretanto, não se apresentou projetos em tempo hábil, o que comprometeu o investimento orçado num primeiro momento. Prevê-se a conclusão das obras no segundo semestre de 2010. 2.2. PAC: Os investimentos no segmento de energia elétrica No que se refere aos investimentos em infra-estrutura energética para realização no período 2007 a 2010 correspondem a cerca de R$ 1,7 bilhão e apenas R$ 8,1 milhões após este período. Dentre os investimentos têm-se quatro usinas termelétricas, 11 empreendimentos de energia eólica e uma subestação de transmissão de energia elétrica7. No que diz respeito às termelétricas, das quatro previstas, três estão em obras, com previsão de início das operações ainda este ano, embora atrasadas, sendo uma localizada em Campina Grande (Borborema Energética S.A), com capacidade de geração de energia de 169 megawatt/ hora dia, e os outros dois estão em instalação no Distrito industrial de João Pessoa (Termoparaíba e Termonordeste), com capacidade conjunta de geração de energia 7 Este empreendimento ainda encontra-se em fase de licitação e não tem previsão de início das obras. 147 de 280.341.280 Megawatts. O empreendimento Santa Rita de Cássia (Companhia Multiner), ainda se encontra em licitação da obra, com previsão das operações para 2011, a qual deverá ofertar 174,6 MW, com investimentos de R$ 349,2 milhões. Os relativos atrasos no início das operações se justificam pela ausência de recursos advindos de linhas de financiamento via BNDES, implicando na necessidade de se buscar recursos em instituições financeiras privadas, cujas taxas de juros eram relativamente elevadas, o que implicou na ampliação do montante financeiro de investimentos, no caso da Usina Termelétrica de Campina Grande. No que se refere à geração de energia eólica, dez geradores, pertencentes ao Parque Eólico Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A, já foram instalados no município de Mataraca, situado no Litoral Norte do Estado, com capacidade de geração individual de 4800 KW. O outro empreendimento já instalado é composto por 13 geradores eólicos, que constitui o Parque Eólico Milleniun, também localizado no município de Mataraca e com uma capacidade de geração de energia elétrica de 0,0095% da capacidade do País. Os empreendimentos na Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A. correspondem a R$ 250 milhões e os investimentos no Parque Eólico Milleniun em torno de R$ 45 milhões. Tais empreendimentos pertencem à Pacific Hydro Ltda, cuja base é australiana e a implementação se deu por meio do Proinfa. A escolha do município de Mataraca deu-se ainda pela favorabilidade da força dos ventos e a infraestrutura existente, sobretudo no que se refere à acessibilidade do município como a rodovia federal BR 101, que interliga os Estados do Nordeste a partir da faixa litorânea, e a BR 230, que possibilita o acesso ao Porto de Cabedelo/PB. Outro elemento favorável à instalação refere-se ao apoio do governo do Estado com incentivos fiscais. Cabe destacar ainda a melhora logística dada com a ampliação da PB 065 (SANTOS, 2008). Ainda cabe destacar o Programa Luz para todos, o qual objetiva contemplar o atendimento das demandas de energia elétrica no meio rural através de: Extensão de Rede, Sistemas de Geração Descentralizada com Redes Isoladas e Sistemas de Geração Individuais. No que se refere aos investimentos na Paraíba, até fevereiro de 2010, foram da ordem de R$ 350 Milhões, dos quais 65% foram repassados pelo Governo Federal na forma de subvenção, uma vez que são oriundos da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), correspondendo a 50.083 unidades consumidoras, incluindo domicílios rurais, poços comunitários, escolas e postos de saúde, com uma 148 população beneficiada superior a 250.000 pessoas, correspondendo ainda a 88,98% das demandas cadastradas no Programa. 2.3. A Política de Desenvolvimento Produtivo/PDP na Paraíba Até março de 2010, dentre os principais segmentos apoiados pela PDP na Paraíba destaca-se a Política de Regionalização, com recursos de R$ 723 milhões, alocados nas seguintes ações: expansão da capacidade produtiva e modernização de empresas; Estudo realizado por pesquisadores da UFPB e UFCG para “Análise dos Mapeamentos de APLs da Paraíba”; Política de fomento a APLs considerados prioritários no Estado, através de parceria entre Governo do Estado e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)8. Outro segmento que se destaca é o fomento ao financiamento de Bens de Capital cujo montante de recursos nesse mesmo período foi da ordem de R$ 269.920,020, cerca de 0,34% do montante do Brasil. No que concerne às Micro e Pequenas Empresas, como segmento estratégico, corresponderam a gastos da ordem de R$ 174 milhões e uma das formas identificadas de atuação nesta perspectiva remete ao Programa Primeira Empresa - PRIME, lançado em 2009 vinculado à FINEP, o qual proporcionou apoio a 118 empresas, dos municípios de Campina Grande, Cabedelo e João Pessoa com geração de 596 postos de trabalho9. As ações implementadas no Estado tiveram maior montante de Investimentos em 2009, com recursos totais de R$ 829.502.865, mas segmentos historicamente importantes para o Estado, como é o caso de Couro e Calçados e têxteis e confecções, receberam poucos recursos. 2.4 Os Territórios da Cidadania na Paraíba De acordo com LIRA (2009), são seis os territórios que compõem o programa no estado: Borborema, Cariri Ocidental, Curimataú, Médio Sertão, Zona da Mata Norte e Zona da Mata Sul. Nota-se que o Território Rural do Cariri foi divido e somente a parte ocidental tornou-se Território da Cidadania. As ações nos Territórios são divididas em sete grupos: Direitos e Desenvolvimento Social, 8 O Governo da Paraíba ofereceu contrapartida equivalente aos recursos do banco, cerca de R$ 7 milhões Várias instituições integraram o comitê de elaboração do edital e de seleção de projetos, entre estas a UFPB. 9 Informações disponíveis em http://www.portalinovacao.mct.gov.br/pi/prime/indicadores/ 149 Organização Sustentável da Produção, Saúde, Saneamento e Acesso à Água, Educação e Cultura, Infra-Estrutura, Apoio à Gestão Territorial e Ações Fundiárias. No ano de 2009 o desempenho do programa, nos territórios paraibanos pode ser assim descrito: no território Borborema ocorreu um total de 74 Ações com a atuação de 11 ministérios, com valor previsto de R$ 400 milhões; No Cariri foram 72 Ações com a atuação de 10 ministérios que, com valor previsto de R$ 217, 5 milhões; no Médio Sertão, um total de 71 Ações com a atuação de 10 ministérios, com valor previsto de R$ 132,8 milhões; na Zona da Mata Sul foram 74 Ações com a atuação de 12 ministérios, com valor previsto de R$ 580,7 milhões; no Curimataú foram 65 Ações com a atuação de 10 ministérios, com valor previsto de R$ 52,9 milhões; no Curimataú foram 56 Ações com a atuação de 11 ministérios, com valor previsto de R$ 89,2 milhões. 2.5 O Eixo Leste: A Transposição do São Francisco na Paraíba O Eixo Leste levará água às regiões de Pernambuco e da Paraíba. A captação será feita no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta – PE, se estenderá por um caminhamento de 220 km até o rio Paraíba – PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Está prevista uma capacidade máxima de 28 m³/s, com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano. Periodicamente, em caso de sobras de água em Sobradinho, este excedente hídrico irá para as bacias receptoras: Poço da Cruz/PE e Epitácio Pessoa (Boqueirão/PB). Segundo o Tribunal de Contas da União, somente 22% dos municípios a serem beneficiados teriam capacidade de receber a água, por insuficiente avanço na parte das obras que são da esfera estadual. Assim, o prazo para a conclusão do eixo leste, final de 2010, não será compatível com as necessidades de ampliação da rede de esgotamento sanitário estadual. A Agência Nacional de Águas suspendeu, provisoriamente, a transposição para a Paraíba, até que se providencie o que falta para a realização da obra no estado. 3. Análise dos impactos dos Grandes Projetos Federais na Paraíba 3.1 Energia elétrica Os investimentos em energia elétrica não estão sendo efetivados para atender essencialmente uma necessidade em nível estadual. Em primeiro lugar, as 150 Usinas Termelétricas, movidas a óleo ou carvão, mais poluentes, tem se instalado com mais intensidade no Nordeste, pois encontram maior resistência de obtenção de aval na região sudestina, que embora estejam no topo dentre os maiores consumidores, possuem órgãos ambientais que atuam com mais rigor e Estados e Prefeituras que não incentivam tais empreendimentos. Embora esta emissão possa ser minimizada através da instalação de filtros, especialistas afirmam que permanece ainda uma grande preocupação com o impacto global causado pelas emissões de CO². Com a ampliação das usinas termelétricas tem-se a necessidade de ampliação e reforço nas linhas de transmissão que interligam as regiões que fazem parte do Sistema Integrado Nacional e dado que as usinas operarão em sistema Standy by, ficando ociosa parte do tempo, pode resultar numa majoração da tarifa de energia. É discutível a perspectiva de geração de Emprego e Renda, pois apenas uma parte do emprego é absorvido por residentes no estado. Com relação à mão de obra especializada no segmento de energia térmica, apesar de Campina Grande contar com Universidades e desenvolvimento na área de tecnologia, a mão de obra local não atendia as especificidades do empreendimento, sendo em sua grande maioria advinda do Sul e Sudeste e apenas alguns do mercado local. Cabe ainda destacar que as termelétricas farão uso do Porto de Suape para recebimento do óleo combustível que será utilizado para a geração de energia, visto que o Porto de Cabedelo não tem estrutura adequada para tal atividade, onerando o transporte até a unidade geradora e implicando em menores possibilidades de arrecadação fiscal para o Estado. No que se refere aos investimentos em energia eólica, apesar da energia ser “limpa”, há riscos de externalidades negativas no local por conta da localização dos geradores instalados a beira mar do Distrito de Barra de Camaratuba, Mataraca-PB. Outro aspecto refere-se à geração de emprego não ser relevante para Estado, pois a Empresa tem escritório em Natal-RN. 3.2 Infraestrutura Logística Do ponto de vista social, a principal contribuição da duplicação das BR-101, principalmente, e BR-203 é a redução da ocorrência de acidentes automobilísticos, enquanto que do ponto de vista econômico os impactos ocorrerão de duas formas distintas e em momentos diferentes do tempo. 151 Durante a execução da obra haverá uma expansão da demanda local, que se distribuirá, espacial e funcionalmente, entre os fornecedores. No tocante à demanda primária, associada ao ato de investir, esta impactará três componentes distintos: a) fornecedores de insumos, tais como a indústria de cimento e assemelhados, que possuem significativa produção local, com grandes empresas; b) fornecedores de máquinas e equipamentos (veículos e outros), que estão localizados, em regra, fora do estado da Paraíba, representadas diretamente pelas construtoras vencedoras das licitações ou por empresas a quem estas alugam os itens de capital necessários à obra; c) mão-de-obra associada diretamente à construção da estrada, que, em parte, será local, principalmente os de menor qualificação e os demais, de maior formação técnica e superior, serão em boa medida provenientes dos estados de origem das construtoras. Os efeitos multiplicadores desta expansão da demanda primária se distribuirão de formas distintas, associadas a cada componente listado: a) a indústria de cimento (e outros minerais não-metálicos) instalada na Paraíba deverá expandir sua produção, o que impactará a renda local. Também crescerá a receita e lucratividade da indústria fornecedora de insumos básicos, como energia, água e comunicações, peças e componentes (de fora do estado). b) os fornecedores de máquinas e equipamentos provocarão repercussões na renda e no emprego fora do estado. c) a massa salarial local, entretanto, não irá integralmente internalizar os efeitos multiplicadores da renda no estado. Os gastos com consumo familiar majoritariamente impactarão os alimentos in natura (tais como hortifrutigranjeiros, apicultura e a caprinocultura). O consumo de confecções, para segmentos de baixa renda é principalmente proveniente da produção do agreste pernambucano, impactando apenas o comércio varejista local. A produção de calçados pode ter sido impactada, neste caso, pelas MPEs localizadas no estado, enquanto o comércio local poderá ter propiciado uma expansão no emprego, mas em postos precários, associado a pequenos estabelecimentos. Após a conclusão do investimento, haverá um impacto mais significativo em termos de expansão da oferta, que beneficiará diretamente as empresas e, indiretamente, os consumidores: a) melhoria nas condições de logística para distribuição e escoamento da produção local, especialmente em termos do comércio interestadual e internacional, 152 através da interação com outras modalidades de transporte como ferrovias e portos (SANTOS, 2008). Os principais APLs beneficiados: alimentos e bebidas, calçados, têxtil e minerais não-metálicos. A mesorregião da mata paraibana apresenta condições climáticas propícias a atividades agropecuárias, o que permite a exploração intensiva de frutícolas, bem como culturas alimentares, além da associação entre a apicultura e a produção de fitoterápicos. b) o comércio local, principal destino das compras paraibanas realizadas em outros estados (particularmente Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Norte); c) a expansão do turismo litorâneo apresenta-se como a perspectiva mais óbvia, nos municípios de Cabedelo, João Pessoa e Conde.Todas estas oportunidades, entretanto, necessitam de um adequado e permanente monitoramento para proteção ao meio-ambiente. No tocante ao transporte aeroviário, pelo tamanho da população e do PIB, uma parte da demanda que poderia ser dirigida para os aeroportos paraibanos, tem sido atendida pelo aeroporto do Recife, o qual poderá em breve mostrar sinais de saturamento. Faz-se imprescindível construir um novo aeroporto, do contrário o crescimento econômico local esbarrará em um gargalo logístico. O Nordeste movimenta um fluxo de passageiros em torno de 30% do total do país, o que mostra a importância do turismo para esta Região. Os aeroportos locais estão subrepresentando o estado, pois atendem 3,7% deste movimento regional (o PIB estadual representa cerca de 6% do NE), o que demonstra o gargalo que representam para a economia local e como os estados vizinhos estão beneficiandose deste “vazamento” de passageiros para expandir suas economias. O objetivo seria destravar o gargalo do acesso dos viajantes ao turismo estadual, uma vez que a logística é complexa para viagens nacionais para João Pessoa e Campina Grande, com pouquíssimos vôos e praticamente sem flexibilidade de horários. Assim, boa parte dos turistas desloca-se a partir de Natal e Recife, por via rodoviária, apenas para um city tour ou hospedando-se por poucos dias. Assim, todo o trade turístico estadual é gravemente prejudicado. Uma alternativa para o Porto de Cabedelo estaria na instalação de uma base naval da Marinha Brasileira, uma vez que o país necessita descentralizar sua frota, a qual permanece na base do Rio de Janeiro em quase 80% de seus navios. O Nordeste é um dos espaços estratégicos a serem protegidos, pela sua exposição oceânica, e a Paraíba localiza-se no ponto mais oriental das Américas. 153 3.3 Política de Desenvolvimento Produtivo Há necessidade de maior capacitação, sobretudo na área de gestão e especificamente gestão da inovação, como elemento estratégico no mercado, de forma a intensificar a elaboração de projetos para subvenção através da PDP. Também, muitos instrumentos da política industrial ainda não se encontram efetivamente disponíveis para MPEs, com exceção das relacionadas à Tecnologia da Informação, e/ou estas tem dificuldades para utilizar estes instrumentos e as respectivas políticas de financiamento, como é o caso de setores tradicionais da economia. Apesar dos esforços na promoção de eventos que divulgam a PDP no Estado, esta ainda não ocorre de maneira efetiva, sendo em parte desconhecida, tanto na esfera produtiva como em parte do corpo técnico das Instituições de apoio. 3.4 Territórios da Cidadania As ações do governo federal, através do Território da cidadania, representam o mais direto impacto nas condições de vida da população local, e podem ser classificadas a partir de três critérios (LIRA, 2009) : i) reforma social: são ações de caráter relevante (como o Bolsa Família), mas de natureza provisória, pois basta uma alteração na orientação governamental para que seja suspenso o fluxo de recursos assistenciais previsto, anulando o seu efeito. ii) reforma estrutural produtiva: de caráter permanente, em cujo caso mesmo havendo mudanças de governo, ou de orientação de políticas, o impacto da ação permanece, como é o caso de uma reforma agrária. Esse tipo de reforma provocaria, de fato, uma mudança na estrutura social e da economia da região, alterando a configuração de concentração fundiária10; iii) manutenção da estrutura produtiva já existente e de defesa ou proteção de grupos fragilizados política e socialmente. É o caso das ações do programa de demarcações e de regularização de terras, assim como outras ações semelhantes. 3.5 Transposição do São Francisco Alguns especialistas apontam a possibilidade de conflitos dado o novo “estoque” de água com a conclusão desse grande projeto federal. Na Paraíba pode-se perceber que o eixo leste é o de maior relevância já que perpassa por microrregiões que historicamente representam os menores índices de densidade pluviométrica. A bacia do Rio Paraíba será a que receberá as águas, perpassando pelo cariri Paraibano, de forma 10 Na Paraíba, de acordo com dados de 1999, mais de 60% das propriedades rurais pertenciam a não mais que 6 mil famílias. 154 a aumentar as garantias de estoques hídricos para consumo humano em diversos municípios paraibanos que serão atendidos pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueirão e Acauã. Por outro lado, os valores indicados para a cobrança do uso no eixo leste, são superiores aos estimados pelo eixo norte, ou seja, o custo da água pode vir a torna-se inviável para atividades agrícolas. Um dos pontos frágeis está relacionado com a gestão dessa nova água disponível, que precisa ser gerida eficientemente pela instituição gestora, no caso a Agência Estadual das águas da Paraíba. Serão investidos mais de R$ 1,22 bilhão exclusivamente em obras dentro do Estado, mas não estão incluídos neste montante a implantação das Vilas Produtivas Rurais e nem os equipamentos elétricos e mecânicos que ainda não foram computados exclusivamente para o estado da Paraíba. A transposição de fato pode potencializar os arranjos produtivos paraibanos, sobretudo, se os pequenos agricultores obtiverem recursos financeiros e técnicos. 4. Proposições de políticas para o desenvolvimento estadual A partir da abordagem de arranjos e sistemas produtivos e inovativos é possível articular o método histórico-estrutural, característico da tradição cepalina, ao método evolucionário, usado pela teoria neoschumpeteriana, de tal forma a compreender a lógica interna e alguns dos principais mecanismos de realimentação do processo de subdesenvolvimento que marca a sociedade paraibana ao longo do último meio-século. Inicialmente, parte-se dos seguintes fatos estilizados: A economia brasileira gera um valor, em bens e serviços, ao longo do ano, que pode ser decomposta, de forma simples, em dois componentes (FURTADO, 1976): o Custo Social de Reprodução/CSR da população e o valor complementar, ao qual denominaremos Excedente. Uma parte deste Excedente é apropriado pelo Estado nacional na forma de tributos e redistribuído através dos seus gastos. Uma fração desta renda em poder do Governo Federal é transferida aos estados, em parte diretamente à população local, em parte através da concessão de crédito e incentivos federais a investimentos privados, e outra parcela é apropriada pelos Governos estaduais e municipais. Desta forma, o controle sobre os Governos estadual e Municipais, bem como, as Instituições, públicas e privadas, que disponibilizam fomento e apoio a grupos econômicos, sejam estes locais ou externos, permite ao Poder local redistribuir a fração do Excedente nacional, acrescida da apropriação de parcela do 155 excedente local, através dos mecanismos estatais: Incentivos fiscais; compras públicas; Cargos comissionados; empregos temporários na máquina pública; Desta forma, o grupo no poder transfere renda do estado para seu núcleo de controle, para os “agregados” por conveniência política e econômica, e para uma fração dos marginalizados controlados eleitoralmente. Estes últimos constituem massa de analfabetos, “puros” ou funcionais, ou ainda dos instruídos, mas subempregados, e portanto, de fácil substituição em suas atividades, o que permite serem cooptados como alavanca para conquista do controle estatal local. Atuam, também, como amortecedores sociais da insatisfação da massa de marginalizados, que permanece presa a atividades econômicas que, ou por sua natureza, ou pela falta de intervenção pública transformadora, apresentam baixíssima produtividade, frágeis relações sistêmicas, isolamento das fontes de aprendizado inovativo, gargalos técnicos, logísticos e comerciais, cristalizando uma estrutura produtiva incapaz de promover as condições de vida locais. Uma vez que o acesso ao emprego temporário dos “subcontratados” se dá para atividades não-produtivas e não-inovativas, a migração opera como outro mecanismo de controle da magnitude e da distribuição do excedente local, pois é funcional em manter o custo social de reprodução agregado em níveis reduzidos. Através desta estrutura social e política, preserva-se o perfil produtivo e a estrutura econômica do estado, reproduzindo-se as condições sociais e políticas, em um círculo vicioso. As formas de acesso ao excedente apropriado localmente, determinam a posição na hierarquia social e distribuição de renda. A desigualdade é fruto desta hierarquia, que retroalimenta todo o sistema, manifestando-se em padrões de consumo diferenciados, em níveis educacionais assimétricos, em valores culturais distintos e estratificação social. 156 Figura 1 Circuito de Reprodução do Subdesenvolvimento Poder Coação Valores História Mercado Cresc. Populacional Acesso a educação Perfil produtivo Perfil de consumo Tributos/Gasto público Inovações Nível de Educação Finanças Propriedade Controle do estado inovatividade Mantém baixo o custo Social de Reprodução Materializa como Excedente parte da riqueza gerada Garante a capacidade de apropriar-se do excedente Migração Hierarquia social Sistema de preços Políticas Públicas Difusão Define a distribuição do excedente e a Desigualdade social Fonte: Representação própria, a partir de FURTADO (1974) Para a implantação de um “novo modelo de desenvolvimento” se faz necessário o rompimento deste circuito de reprodução do subdesenvolvimento, em quatro frentes: 1) Democratização e Interiorização do acesso às formas de apropriação do excedente local; 2) Reconfiguração do Perfil Técnico-Científico, Inovativo e Produtivo Local; 3) Amplificação e Valorização da Cultura Local; 4) Grandes Projetos Estruturadores Locais, de origem endógena. A democratização e interiorização do excedente necessitam de processo articulado de disponibilidade dos dois principais mecanismos de geração e apropriação de riqueza: crédito produtivo e conhecimento. O crédito produtivo deve ser disponibilizado aos produtores informais, às MPEs, aos articulados em associações e cooperativas, bem como outras formas inovadoras a serem constituídas. De outro lado, a ampliação dos campi de IES, de escolas de ensino profissionalizante e dos pólos de educação à distância devem propiciar elevação do nível de conhecimento científico-tecnológico relevante para o contexto local. Concretamente, no entorno de cada campi universitário/tecnológico e escola profissionalizante, o crédito seria favorecido (prazo, taxas e garantias) para investimentos que demonstrassem associação entre o conhecimento gerado nas ICTs/IES e o perfil produtivo local, bem como, em atividades que gerassem “amenidades” urbanas, de tal forma a melhorar as condições de vida e a oferta de serviços e amenidades urbanas, fixando “cérebros” no interior do estado, elevando a 157 produtividade econômica e reduzindo o número de marginalizados. O efeito em larga escala permitiria iniciar um processo de eliminação dos empregos públicos temporários, sem provocar uma convulsão social, melhorando a situação fiscal do estado e ampliando a magnitude do excedente local, permitindo formas produtivas deste, através de investimentos públicos de impacto social. A reorientação do perfil e papel das ICTs e IES é fundamental, direcionando o grosso dos seus esforços para um perfil formativo e inovativo voltado, de um lado, às especificidades locais, e de outro, às novas tecnologias “portadoras de futuro”. Para tal, faz-se necessária a constituição de Fundos estaduais de apoio à pesquisa e extensão, formado com recursos federais e estaduais (provenientes da “folga fiscal” obtida), de tal forma a induzir a formação e dedicação de pesquisadores à problemática estadual. A homogeneização da formação educacional, eliminaria o privilégio de educação de qualidade, em escolas privadas, como critério de hierarquização social e apropriação de riqueza. Para tal, se faz necessária a erradicação do analfabetismo funcional, universalização do ensino médio e massificação do ensino universitário. Espera-se elevar a produção, produtividade e geração local de excedente, bem como, alterar a estratificação social, dar acesso ao excedente e distribuição de renda, transformando relações políticas e sociais A valorização desverticalização da produtiva Cultura e Local exige regionalização um das processo indústrias nacional culturais, de com reorientação do padrão de consumo, ajustado à diversidade local. Resultaria deste movimento a expansão da produção local de cultura, redução da desigualdade de consumo, reforço da produção de bens e serviços de raízes culturais locais. O estado da Paraíba exibe um elevado percentual de trabalhadores com nível de formação universitária, especialmente de mestrado e doutorado, mas para os quais não há suficiente demanda por parte do setor privado ou público (excetuando-se as universidades), resultando em evasão de cérebros ou subutilização. Esta capacidade excedente apenas tende a se intensificar nos próximos anos, caso não haja o adequado aproveitamento destes recursos humanos. A Construção De Capacidades Inovativas Locais e Endógenas visa criar condições para o surgimento de Grandes Projetos Estruturadores de origem local. A implementação de um processo de intenso esforço de capacitação de recursos humanos, prévio à instalação dos empreendimentos que deverão absorver este contingente de mão-de-obra, muito provavelmente resulta em riscos de 158 ociosidade/desperdício de recursos humanos, com subseqüente “fuga de cérebros” para outras localidades. Desta forma, um modelo baseado em grandes projetos de origem externa ao estado/região, não desenvolveriam inovações localmente, pois já o fazem em centros de pesquisa de suas matrizes. Justifica-se, portanto, a importância de se desenvolver capacidades empresariais tecnológicas localmente, tendo como fonte importante de novos conhecimentos o sistema de C&T local. A Base Científico-Tecnológica Local destaca-se regionalmente, e nacionalmente em termos relativos, em vista da baixa densidade da comunidade científica nacional e, principalmente, regional. Em termos absolutos, a comunidade acadêmica paraibana e, particularmente, aquela integrante das IES públicas, mostra-se suficiente para sustentar, inicialmente, os objetivos de pesquisa na fronteira da ciência e os esforços cooperativos de desenvolvimento tecnológico, desde que uma fração significativa desta tenha como linhas de pesquisa temas relevantes para a economia e sociedade locais. Ressalta-se, ainda, que, agregando-se a infra-estrutura científico-tecnológica distribuída na Paraíba e em Pernambuco, reúne-se um subsistema regional de inovação líder na Região. Neste sentido, os investimentos em infraestrutura deveriam priorizar a integração da Paraíba e Pernambuco, através não apenas dos meios tradicionais (rodovias e telefonia), mas primordialmente pelas TICs, através de redes metropolitanas interestaduais e disponibilização de acesso gratuito e em banda larga à rede mundial de computadores no entorno das IES e ICTs. 5. Considerações finais Os GPFs, em geral, materializam o excedente nacional em formas excludentes, que reproduzem a desigualdade: acesso ao crédito/incentivos federais; acesso ao conhecimento tecnológico; poder de mercado para fixar elevadas margens de lucro; propriedade da terra, da água, do capital produtivo. Estes investimentos ampliam o excedente, pois impactam a produção local pelo aumento da produtividade econômica, mas, como regra, redistribuem para fora do estado a maior parte do excedente gerado, seja na forma de remessa de lucros para matrizes localizadas, geralmente, na região sudestina ou no exterior, seja na forma do pagamento de juros, ou ainda por tributação federal. 159 A parcela menor do excedente gerado é apropriada localmente pela altagerência dos empreendimentos (usualmente de origem não-local) e pela tributaçãolocal, que reproduzem o padrão de distribuição desigual. Adicionalmente, o perfil dos investimentos realizados não se vincula às áreas “portadoras de futuro” associadas à nova Sociedade do Conhecimento: são projetos de um paradigma envelhecido. A Paraíba sequer beneficiou-se, em escala significativa, dos impactos parciais e fragmentados que este modelo “exógeno” de desenvolvimento regional pretende implantar no Nordeste. Suas possibilidades, entretanto, estão abertas para um novo modelo, vinculado à produção de conhecimento e a formas mais justas de distribuição da riqueza social. Uma nova geração de Políticas resultará em vários impactos positivos para a economia e a sociedade paraibana, pois permitirá às empresas locais moverem suas capacidades tecnológicas para estágios superiores. A existência de capacidades científicas que (historicamente) evoluíram à frente das necessidades empresariais locais (embora desconectadas destas) indica que o esforço de adaptação das linhas de pesquisa acadêmica para atender às demandas empresariais é significativamente menor do que o esforço de criação de uma capacidade de pesquisa previamente inexistente. Assim, as Políticas Públicas e as estratégias produtivas devem ser mutuamente aderentes e factíveis, de modo a evitar a dispersão de esforços e recursos, comportamento rentista e oportunista e incompatibilidade de objetivos. Esta aderência e factibilidade não dependem, isoladamente, das ações ou de projetos específicos, mas resultam de um conjunto de ações e intervenções estratégicas, formuladas por todas as instituições comprometidas com este projeto. 6. Referências Bibliográficas Avaliação da Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP DECOMTEC/FIESP 2008.Disponível em: <http://academico.direitorio.fgv.br/ccmw/images/5/57/DECOMTEC.pdf>. Acesso em: 10 de maio de 2010. BRASIL. Ministério dos Transportes. Disponível em: <www.br101nordeste.com.br>. Acesso em 18 fev. 2010. CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais na Paraíba – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais 160 no Nordeste. João Pessoa/PB, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. CAVALCANTI FILHO, P. F. M. B, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia da Paraíba e Proposição de Políticas – Paraíba. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. João Pessoa/PB, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PB). Disponível em http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/. Comissão especial para inspecionar termelétrica. Disponível <http://www.cmjp.pb.gov.br/Noticia/2949_comissao-especial-para-inspecionartermeletrica>. Acesso em: 31 de julho de 2010. em: Furtado, C. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura. (1961). __________ Prefácio a Nova Economia Política. Rio de Janeiro. Paz e Terra (1976). Incentivos para instalação de termoelétrica no município (Portal da Transparência PMCG). Disponível em: http://www.pmcg.pb.gov.br/transparencia/eixos/trabalhar/09.php. Acesso em: 20 de julho de 2010. KOMATSU, Alberto. 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Dados do IBGE demonstram que a taxa de crescimento real do PIB pernambucano vem se acelerando desde 2004 a um ritmo superior àquele observado no País e na Região Nordeste. O intenso crescimento econômico observado em Pernambuco pode ser creditado a diversos fatores: i) macrofundamentos em nível nacional; ii) política de distribuição de renda baseada em elevação do salário mínimo e na expansão de programas como o Bolsa Família e iii) decisões estratégicas de desenvolvimento regional. Os macrofundamentos afetam a conjuntura estadual, pois a redução da taxa real de juros, a estabilidade da inflação e do câmbio e o controle fiscal levam à possibilidade de crescimento do investimento e, principalmente, do consumo das famílias em todo o território nacional. O crescimento do consumo foi reforçado pela redistribuição de renda provocada pelo aumento real do salário mínimo e redistribuição direta de renda. Já as decisões estratégicas de desenvolvimento regional são reflexo de um conjunto de planos implementados pelo Governo Federal, os chamados “Grandes Programas Federais” - GPFs: (i) o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); (ii) a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP); (iii) o Programa Nacional de 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Pernambuco”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Estagiários: Ariany Maria Araújo Gomes - UFRPE; Lutemberg Francisco de Andrade Santana UFRPE; Rafaela Rodrigues Lins – UFRPE e Tarcísio Regis de Souza Bastos – UFRPE. 163 Logística e Transporte (PNLT); (iv) o Programa Territórios da Cidadania (PTC) e (v) e as Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs). O presente artigo tem por objetivo refletir sobre os impactos dos GPFs na economia de Pernambuco e propor políticas públicas que intensifiquem estes impactos. Os GPFs materializam-se na forma de investimentos. Desta feita optou-se por focar a análise nos investimentos que apresentam o maior volume de recursos e, conseqüentemente o maior impacto esperado. São eles: o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), a Refinaria Abreu e Lima (RAL), o Pólo Petroquímico de Suape, a Ferrovia Nova Transnordestina, o Pólo Farmacoquímico e o Projeto de Transposição do Rio São Francisco. O artigo está organizado em quatro seções além dessa introdução e das referências bibliográficas. Na primeira apresenta-se uma contextualização dos GPFs na economia de Pernambuco; a seguir realiza-se a análise dos impactos econômicos dos GPFs; posteriormente são feitas reflexões e proposições de políticas e, por fim, apresentadas algumas considerações finais. Acrescente-se que as seções apresentam a mesma estrutura, ou seja, estão subdividas conforme o tipo de GPF analisado. 2. Contextualização dos GPFs na economia de Pernambuco O PAC consiste em uma plataforma estratégica do governo federal que visa estimular o crescimento da economia brasileira através do investimento em obras de infra-estrutura. Estima-se que 6,29% do valor dos investimentos destinem-se a Pernambuco. Isto implica que o estado está recebendo 2,7 vezes mais investimentos do que sua participação na economia nacional, que foi de 2,34% em 2007, segundo dados do IBGE. Os recursos empregados para a execução do PAC não são originários apenas do Tesouro Federal, mas também de parcerias público/privadas e investimento de empresas estatais. Entre as obras contidas no escopo do PAC que possuem impacto muito relevante para Pernambuco pode-se citar: o Estaleiro Atlântico Sul (Pólo Naval), a Refinaria Abreu e Lima, a Nova Ferrovia Transnordestina, o Pólo Farmacoquímico, o Pólo Petroquímico e a Transposição do Rio São Francisco. 164 2.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroquímica Suape, Refinaria Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul O Complexo Industrial Portuário de Suape representa o principal espaço de atração de investimento industrial de Pernambuco. O argumento de atração está calcado no fato de Suape ser um porto com calado que permite navios de grande porte, bem como possibilidade de expandir-se rapidamente; a área do complexo ainda permite a implantação de muitas indústrias; Suape é um centro logístico natural dado sua localização próxima a diversas capitais e cidades de médio porte do Nordeste e da proximidade com a Europa. Entre os investimentos estimulados pelo PAC e pelo PDP que se instalaram em Suape estão: o EAS, a Petroquímica Suape e a RAL. Os levantamentos realizados indicam que 50,38% dos investimentos previstos do período de 2007 a 2010 para Pernambuco estão concentrados na Região Metropolitana de Recife (RMR). Esta alta participação deve-se ao fato de Suape estar na RMR. A Petroquímica de Suape tem como produtos o ácido tereftálico (PTA), poliéster, e seus subprodutos (incluindo o politereftalado de etileno – PET), sendo considerada uma empresa que se convencionou chamar de 2ª e 3ª gerações. A empresa pernambucana está inserida na fase intermediária e final da cadeia produtiva, gerando encadeamentos a sua montante e jusante. Atualmente o Brasil possui três pólos petroquímicos em operação: Pólo Petroquímico de São Paulo, de Camaçari-BA e de Triunfo-RS. Apesar da existência destes três pólos, a produção brasileira de poliéster é muito pequena, uma vez que estes pólos concentram-se em outros produtos derivados do petróleo. Na atual conjuntura o Brasil importa todo o PTA necessário para sua indústria química, pois a única fábrica deste produto na América Latina encontra-se no México. Em 2009 o Brasil apresentou déficit na balança comercial de PTA e das aplicações no setor têxtil do poliéster de US$ 1,07 bilhões. Esta alta dependência de importação de poliéster e seus derivados diminui a competitividade brasileira de toda a cadeia têxtil, e, em menor proporção, de embalagens e filmes. Como o Brasil é importador destes produtos, o complexo têxtil (incluindo confecções) possui custo mais elevado do que os concorrentes asiáticos que contém toda a cadeia produtiva em seus países. Assim, Petroquímica Suape tem uma importância estratégica em nível nacional, uma vez que permite substituir importações e melhorar a posição da balança comercial brasileira. 165 Atualmente a Petroquímica Suape é controlada totalmente pela Petrobrás e a CITEPE pela Petroquisa, que por sua vez já é uma subsidiária da Petrobrás. O mercado alvo é o Mercosul, concorrendo com a fábrica existente no México. A unidade produtora de PET tem tamanho similar à recentemente montada em Suape pela M&G, mas os administradores não crêem que haverá dificuldades de colocar o produto no mercado, tendo em vista, como já mencionado anteriormente, o forte crescimento da demanda mundial. A decisão estratégica da empresa controladora foi a de instalar indústria em Pernambuco, mais próxima das ligações à jusante. Conseqüentemente, o vínculo principal da empresa com a economia do estado é, tornar-se fornecedora de unidades processadoras de PTA e PET já instaladas em Pernambuco. Apenas esta ligação trará impactos positivos importantes tendo em vista o déficit de comércio exterior estadual em produtos químicos orgânicos de R$ 594,5 milhões em 2006 (Moutinho et al, 2010b). A outra ligação potencial forte da Petroquímica de Suape com a economia pernambucana está no segmento têxtil. Moutinho et al (2010a) mostrou que o estado possui três importantes pólos produtivos de confecções, dois deles na RMR (Paulista e Recife) e um no agreste (Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe). Desta feita, a existência de oferta de fios de poliéster poderia atrair empresas do setor têxtil que passariam a ter vantagem competitiva por estar próximo ao mercado fornecedor de insumos por um lado e do mercado consumidor do outro. No que tange à Refinaria Abreu e Lima (RAL), é um projeto da Petrobras em parceria com a PDVSA (Petróleo da Venezuela S.A) e tem previsão de entrar em funcionamento em 2012, tendo capacidade de processar 230 mil barris de petróleo pesado por dia. O Brasil tem, atualmente, 13 refinarias, sendo 11 da Petrobras e 2 particulares. A RAL representa um aumento de 11,5% na capacidade de refino nacional. A RAL é o projeto de maior investimento em andamento no estado de Pernambuco. Orçado em US$ 12,3 bilhões, está sendo financiado por entidades públicas e privadas. Mesmo na fase de construção, a RAL já tem gerado várias oportunidades de empregos, principalmente nos setores de metalmecânica, construção e montagem, eletroeletrônico, hidráulico, manutenção industrial e de projetos de engenharia. 166 É válido lembrar que construção naval já foi uma atividade consolidada no Brasil, que sucumbiu ao longo do tempo. A retomada desta atividade no Brasil é uma decisão estratégica ligada, principalmente, à descoberta da presença de petróleo na camada pré-sal. O aumento da produção de petróleo cria forte demanda por navios petroleiros, gaseiros e plataformas. O Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota), que tem recursos oriundos do BNDES e do Fundo da Marinha Mercante (FMM), estabelece que o Estaleiros contatratados para construção de navios e plataformas de petróleo devem atingir o índice mínimo de 70% de compras de equipamentos e serviços de fornecedores nacionais. Esta retomada da indústria naval brasileira, tem em Pernambuco sua principal referência, pois dos 49 navios previstos pelo Promef para o Brasil, 30 (cerca de 61%) sairão dos Estaleiros de Suape. O maior dos estaleiros é o EAS, ao qual está destinado aproximadamente R$ 5,5 bilhões, o que equivale a 17,34% do orçamento do PAC. O empreendimento é formado pelo consórcio Grupo Camargo Côrrea, Grupo Queiroz Galvão, PJMR Empreendimentos e Samsung Heavy Industries/SHI. 2.2. Ferrovia Transnordestina e a duplicação das rodovias BRs O setor de transporte de cargas no Brasil enfrenta uma série de entraves que afetam a sua eficiência. Estudo realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) identificou os principais gargalos de logística e transporte no Brasil: (i) o desbalanceamento da matriz de transportes, (ii) a legislação e fiscalização inadequadas, (iii) a deficiência da infra-estrutura de apoio e (iv) a insegurança nas vias. A criação do Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT) em 2007 pelo Ministério dos Transportes em parceria com o Ministério da Defesa teve como motivação principal a superação dos gargalos logísticos do País. Os investimentos em logística previstos para Pernambuco se concentram basicamente nas obras da Nova Ferrovia Transnordestina e da duplicação de novos trechos das BRs 232 (São Caetano a Arcoverde), 101 (PE-PB, PE-AL e contorno de Recife), 408 (Camaragibe a Timbaúba) e 104 (que atravessa de Norte a Sul o Agreste Pernambucano). Além dessas, estão sendo ampliadas e melhoradas as estruturas do Porto de Suape, Porto do Recife e Aeroporto do Recife. Entretanto, a Nova Transnordestina é o principal projeto em infraestrutura logística que o Estado de Pernambuco receberá. De acordo com os dados do PNLT (apud Governo de 167 Pernambuco), 54,7% dos investimentos previstos entre 2008 e 2011, nos diversos tipos de modais, destinam-se às obras da Nova Transnordestina. A Nova Transnordestina se estenderá por um trecho de 1.728 km dos quais pelo menos 688 km passarão por Pernambuco e o restante pelos Estados do Ceará e Piauí. Esta obra demandará cerca de R$ 4,5 bilhões, sendo que aproximadamente R$ 2,2 bilhões serão aplicados em Pernambuco. A Ferrovia terá a capacidade de transportar 30 milhões de toneladas de carga por ano, com um potencial de armazenagem estática nos terminais portuários Pecém e Suape de 900 mil toneladas. Serão gerados cerca de 70 mil empregos na fase de construção e estimase que aproximadamente 550 mil postos de trabalhos serão criados direta e indiretamente graças a Nova Transnordestina (CSN, 2010). 2.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE O Pólo Farmacoquímico de Pernambuco, localizado às margens da BR-101 no município de Goiana, Zona da Mata Norte de Pernambuco permite a interiorização do desenvolvimento. Três importantes empresas puxarão os investimentos e o ritmo de crescimento da produção de medicamentos e outros farmacológicos: a Hemobrás – Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia – estatal federal vinculada ao Ministério da Saúde; uma fábrica da multinacional farmacêutica Novartis; e uma unidade da Lafepe Química, laboratório público pernambucano, o segundo maior do Brasil. Outras empresas serão atraídas para atender diversas demandas de serviços e produtos. A Hemobrás e Novartis estarão investindo neste projeto mais de US$ 500 milhões cada, totalizando um aporte de US$ 1,1 bilhão. Até o momento, o cronograma das obras está atrasado, primeiro, por alterações no projeto orientadas pela Agência Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) e, paralisação, em razão do cancelamento e retomada da licitação das obras iniciais. A localização do Pólo em Goiana deve-se a fatores como: i) está às margens da BR-101 distante 63 km de Recife (PE) e 40 km de João Pessoa (PB); ii) fácil acesso a três portos (Suape, Recife e Cabedelo) e a um aeroporto internacional; iii) disponibilidade de lençol aqüífero; iv) ar puro e com temperatura ambiente com média de 23ºC; v) proximidade com três centros de ensino e pesquisa (Recife, João Pessoa e Campina Grande). O Governo do Estado 168 desapropriou 345 ha de um terreno em Goiana para as futuras instalações das empresas. A Hemobrás foi criada pela Lei 10.972 (02/12/2004) para tornar o Brasil autosuficiente em alguns elementos importantes (Fatores VIII, IX, Complexo Protombínico e o Fator de Von Willebrand) para o tratamento de doenças e casos médicos até 2014. Considerando que, atualmente o Brasil precisa importar cerca de R$ 800 milhões, prejudicando o equilíbrio da Balança Comercial, com a operacionalização da Hemobrás, estima-se que serão economizados 25% dos recursos gastos atualmente. A transferência tecnológica e a capacitação de funcionários-chave serão realizadas pelo Laboratoire Français du Fractionnement e des Biotechnologies num total de R$ 16 milhões. A compra dos equipamentos será feita com outra empresa, ainda em estudo, a um valor previsto de R$ 262,8 milhões. Os demais gastos são com as obras, R$ 252,8 milhões e com o prédio administrativo, R$ 7,5 milhões. O valor estimado para faturamento do empreendimento é de R$ 961 milhões anuais a partir do 5º ano de funcionamento. 2.4 Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco Conforme dados do Ministério da Integração Nacional, a Região Nordeste possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28% da população brasileira. Além da escassa quantidade de água para sua população residente, os recursos hídricos são mal distribuídos ao longo de toda Região: enquanto o Semi-Árido da Bacia do São Francisco dispõe de 2.000 a 10.000 m3/hab/ano de água disponível em rio permanente; o Semi-Árido do Nordeste Setentrional, compreendendo parte do estado de Pernambuco e os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, dispõe de pouco mais de 400m3/hab/ano através de açudes construídos em rios intermitentes e em aqüíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas águas. A ONU estabelece um limite mínimo de 1.500 m3/hab/ano de disponibilidade hídrica para garantir as necessidades básicas de sobrevivência de uma sociedade, patamares esses que revelam que a situação de vulnerabilidade daquela população. O projeto de transposição do São Francisco surgiu com o argumento de sanar essa deficiência hídrica na região do Semi-Árido através da transferência de água do rio para abastecimento de açudes e rios menores na Região Nordeste. Os objetivos 169 básicos são: aumentar a oferta de água, com garantia de atendimento ao SemiÁrido; fornecer água de forma complementar para açudes existentes na região, viabilizando melhor gestão da água; reduzir as diferenças regionais causadas pela oferta desigual da água entre bacias e populações. Atualmente o projeto da transposição pertence ao eixo de Infraestrutura Social dos investimentos do PAC, os quais contemplam a difusão de energia elétrica para a zona rural, saneamento básico, construção de moradias, metrôs e ampliação do acesso a recursos hídricos. O PAC garantiu mais de R$ 5 bilhões para obras, estudos, projetos e demais ações do Projeto São Francisco, que engloba a construção de dois canais, os Eixos Norte e Leste. A obra beneficiará uma população estimada de 12 milhões de habitantes e está prevista para ser concluída em 2025. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a captação de água do rio São Francisco será de cerca de 3,5% da sua vazão disponível (MI, 2004). O Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (PRSF) é coordenado pela Secretaria- Executiva do Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Ministério da Integração Nacional e tem um prazo de execução de 20 anos. O PRSF terá sua continuidade assegurada com recursos do PAC entre 2007 e 2010 na ordem de R$ 1,3 bilhões. As ações previstas consistem em obras de saneamento básico (resíduos sólidos, esgoto), contenção de barrancos e de controle de processos erosivos, melhoria da navegabilidade e recuperação de matas ciliares. No que tange à integração das bacias, as obras ocorrerão por meio da construção dos Eixos Norte e Leste. O Eixo Norte fará a captação nas imediações de Cabrobó (PE), percorrerá cerca de 400 km, conduzindo água aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao cruzar Pernambuco este eixo disponibilizará água para atender as demandas de municípios inseridos em três sub-bacias do rio São Francisco: Brígida, Terra Nova e Pajeú. Para atender a região do Brígida, no oeste de Pernambuco, foi concebido um ramal de 110 km de comprimento que derivará parte da vazão do Eixo Norte para os açudes Entre Montes e Chapéu. O Eixo Leste, por sua vez, captará no lago da barragem de Itaparica, na divisa de Pernambuco com a Bahia, começando em Floresta, passando por um caminhamento de 220 km até o rio Paraíba (PB), após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um ramal de 70 170 km que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca. Em todo Estado de Pernambuco serão 113 municípios atendidos, e aproximadamente três milhões de pessoas beneficiados pelas obras e mudanças no ambiente e hidrografia das regiões. Dados do site do MI afirmam que o Eixo Leste já apresenta 49% de suas obras realizadas, o Eixo Norte possui 37% e o Canal do Sertão Alagoano/AL (64,7 km) já finalizou 57% de suas obras. 3. Análise dos impactos dos GPFs na economia de Pernambuco 3.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroquímica Suape, Refinaria Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul O impacto da Petroquímica Suape pela ótica do insumo produto foi implementado por Campos e Kehrle (2007) e indicou que o crescimento da economia estadual seria na ordem de 4,03% do PIB somente em decorrência da construção do parque fabril da Petroquímica. A construção da RAL gerará incremento de 5,99% e o EAS de 0,47%. O Plano Diretor de Suape realiza estudo similar, mas focando o aumento da economia tendo em vista a operação das empresas e a partir de uma atualização da matriz-insumo produto de 1999 para 2006. Em virtude das diferenças de agregação que foram necessárias para a atualização da matriz, parte da produção da Petroquímica Suape foi lançada em Indústria Química e parte em Refino de Petróleo e Indústria Petroquímica, o que impede relatar os efeitos da Petroquímica Suape em separado da RAL. Contudo, os valores são bastante elevados, pois o crescimento da produção da “indústria química” estimado é de 74,29%, do “refino de petróleo e indústria petroquímica” de 1.885,48% e o da “indústria de transformação de material plástico” de 32,56% após a entrada em operação de todos os investimentos estruturadores em curso em Suape. Os impactos diretos gerados pela Petroquímica consistem basicamente em mudança no fluxo comercial do estado e a geração de emprego e renda. Ao invés de importar PTA, o Estado passará a importar nafta e paraxileno (que poderá vir de outros estados da União) passando a ser um fornecedor de PTA para todo o Brasil e tendo capacidade de exportar para a Argentina. A elevação da produção de resina PET deverá elevar o saldo comercial já positivo de Pernambuco neste produto. Ao 171 mesmo tempo, impactos positivos poderão ser sentidos na exportação de filmes para embalagens e de fios de poliéster. A análise dos impactos indiretos deve, portanto, focar em externalidades positivas e negativas que são geradas no funcionamento do novo empreendimento. Olhando à montante, nota-se que a existência da Refinaria ao lado da Petroquímica gera a possibilidade de uma empresa ser supridora da outra quando forem feitos planos de expansão da Petrobrás na produção de nafta. Logo, a implantação da Petroquímica ao lado da Refinaria, mesmo não gerando encadeamentos neste momento, gesta vantagens em médio prazo para um setor econômico ainda em implantação. Outra externalidade positiva é a possibilidade de atração de empresas têxteis para processar os fios a serem produzidos, com vistas no amplo mercado estadual que já é exportador de vestuário. Tal fato, contudo, deve ser melhor qualificado. A configuração produtiva de confecções pernambucana não é capaz de gerar estes efeitos com facilidade. Isto se deve aos seguintes fatos: i) os dois principais pólos produtivos (notadamente os que configuram APLs – Recife e agreste) são baseados em micro-empresas informais; ii) o pólo produtivo de Paulista, apesar de ser de empresas médias e formais, não possui densidade suficiente; iii) a concepção da direção da Petroquímica no tocante ao setor têxtil apresenta perfil muito focado na ‘oferta’; e iv) a oferta de mão-de-obra qualificada no setor têxtil é inadequada. Ao mesmo tempo, a entrevista com os dirigentes da Petroquímica revelou uma postura de desconhecimento do mercado têxtil e um sentimento de que apenas o fato de haver uma oferta de fios no estado é capaz de atrair empresas. Como a preocupação dos dirigentes da Petroquímica Suape é com estratégias em nível nacional, não existe grande preocupação se os beneficiados com a produção de fios pernambucana sejam fábricas no Sul e Sudeste que deixarão de importar fios do exterior e passarão a comprar de Pernambuco. Quando a RAL estiver em operação, o Brasil poderá deixar de importar óleo diesel, o que impactaria positivamente na balança comercial nacional e estadual, assim como ocorre com a Petroquímica Suape. A construção da RAL e da Petroquímica Suape geram grande demanda para o segmento metalmecânico em sua fase de construção, e alguma demanda para sua manutenção. Contudo, a pequena densidade deste em Pernambuco diminui os efeitos multiplicadores da construção. Mas, conjugando esta demanda com a existente na construção dos 172 navios do pólo naval, o potencial de crescimento deste segmento se amplia bastante. Tal fato pode ocorrer tanto pela atração de fornecedores quanto pelo crescimento de empresas pernambucanas. Duas empresas já foram atraídas: a FASAL e a Máquinas Piratininga. Além dos fornecedores de grande porte, a RAL necessitará também de micro e pequenas empresas como fornecedores. Para isso está realizando, em convênio com o SEBRAE-PE, capacitação empresarial para esses micros e pequenos empresários potenciais que poderão atender diversas demandas da refinaria, tais como: serviços gerais, alimentação, ensaios empresarias e serviços técnicos. O conjunto de investimentos realizados em Suape mudou a dinâmica econômica de Pernambuco visto que: i) a configuração urbana das cidades do entorno de Suape está se alterando e ii) a cadeia de negócios ligados à engenharia civil aqueceu-se vertiginosamente, pois, além da modernização da infraestrutura e da construção das indústrias a demanda habitacional cresceu alavancada pelo financiamento bancário e pelo crescimento da renda no estado. 3.2. Ferrovia Nova Transnordestina e a duplicação das rodovias BRs Diversos impactos e transformações na economia de Pernambuco são esperados em decorrência das obras de infraestrutura logística vinculadas à duplicação das BRs e construção da Nova Transnordestina. A expectativa da CSN é que somente a obra da ferrovia deverá gerar: i) redução dos custos logísticos; ii) aumento do valor das terras do cerrado nordestino; iii) reorganização espacial da produção agrícola; iv) atração de novos empreendimentos para a região; v) estímulo ao projeto nacional de biodiesel. A redução dos custos de transporte é a causa principal geradora desses possíveis impactos e a lógica é que a melhora da infraestrutura logística é capaz de promover um incremento substancial na produtividade do transporte de cargas. A Nova Transnordestina terá trens transportando 11 vezes mais potentes do que as máquinas atuais, o que elevará a capacidade de escoamento em 20 vezes a um consumo de combustível 72% inferior. De fato, os investimentos logísticos provocarão uma reformulação da matriz de transporte do Estado que afetará a organização do espaço produtivo em Pernambuco, em virtude da intensificação das relações comerciais entre empresas, ou dos chamados efeitos linkages. Em outros termos, a melhoria da infraestrutura 173 logística cria condições para que várias aglomerações econômicas possuam novos canais de comunicação e comercialização, possibilitando novas perspectivas e ações estratégicas para os empreendimentos locais, facilitando não somente o comércio interno, mas também as exportações e o acesso a novas informações e inovações. O gesso e o granito do APL gesseiro do Araripe de Pernambuco poderão facilmente atravessar todo o Estado a partir do trecho Trindade-Salgueiro-Suape previsto para a Nova Transnordestina. A via ferroviária também é uma opção para o transporte de gás natural para suprir as calcinadoras enquanto não existir o gasoduto ligando a região a Caruaru. Prevê-se a captação e movimentação, pela Ferrovia, de 3 milhões de toneladas de gesso e gipsita. Caso se viabilize a Hidrovia do São Francisco e a ligação do Ramal Petrolina-Parnamirim, a movimentação pode alcançar, no mesmo ano de referência, cerca de 5,5 milhões de toneladas (Governo de Pernambuco, s/d). Os APLs de fruticultura, vitivinicultura também poderão ampliar significativamente o seu volume de escoamento da produção através dos trechos Petrolina-Parnamirim, Salgueiro-Suape da Nova Transnordestina. Este corredor logístico, além de promover a integração multimodal de transporte (duplicação das BRs e ferrovia Transnordestina), prevê ainda a implantação de empresas de logística que serão responsáveis pela armazenagem, montagem e distribuição dos produtos. Algumas dessas empresas inclusive já começam a se instalar no Complexo de Suape. Outra iniciativa do gênero está prevista para Salgueiro: a Plataforma Logística Multimodal em Salgueiro/PE (PLMS). 3.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE A criação de um pólo biotecnológico em plena zona canavieira de Pernambuco gera um contraste com a realidade subdesenvolvida da população por tratar-se de segmento de alta tecnologia. A tradição do setor sucroalcooleiro perpassa a história e economia do estado, trata-se uma realidade enraizada sobre a cultura e identidade do território da mata pernambucana, que por vezes parece arrefecer o surgimento de outros segmentos econômicos, como também de não contribuir com o desenvolvimento socioeconômico da população. Goiana é um dos poucos exemplos da zona da mata onde a diversificação econômica apresenta-se embrionariamente. Contudo, tal diversificação está baseada em atividades primárias, extrativistas ou agroindustriais que agregam pouco valor. Assim, a implantação de 174 um pólo farmacoquímico em Goiana representa o potencial de mudança no perfil econômico e social do município. Serão 900 empregos diretos que fogem ao padrão de trabalho degradante com salário mínimo sazonal das usinas canavieiras ou mesmo das aposentadorias rurais e outros benefícios de transferência direta dos Governos. Contudo, o maior questionamento é se é possível treinar os residentes da região para assumirem postos nas linhas produtivas, ou se haverá apenas transferência de pessoas capacitadas para a cidade. Se esta segunda opção ocorrer, os impactos sociais não serão tão positivos, pois diminuirá a coesão social atualmente existente. 3.4. Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco Há muita polêmica em torno deste projeto. De um lado o Governo defende que a transposição promoverá a garantia de água para o desenvolvimento sócioeconômico dos estados mais vulneráveis à seca. Por outro lado, alguns ambientalistas, profissionais da área de recursos hídricos e membros da sociedade civil organizada contra-argumentam que haverá impactos ambientais negativos podendo desmatar matas ciliares, poluir o Rio, modificar seu ecossistema, extinguir ou reduzir espécies, comprometer a vazão do Rio, além de não atender toda a população do Semi-Árido que sofre com o problema da seca. A polêmica em torno da transposição ocorre, sobretudo, em relação ao Eixo Norte, que prevê o desvio de águas para o Ceará. Isto porque o Eixo Leste, que levará água para Pernambuco e Paraíba utilizará rios dentro da própria bacia, o que não configura transposição. Com vistas a avaliar os prós e os contras da transposição o RIMA traz uma lista com os impactos nas mais variadas dimensões do bem-estar da população potencialmente afetada. A ponderação entre os impactos positivos e negativos do relatório apresenta problemas, pois supôs que a água transposta seria utilizada para produção agropecuária, além da humana, o que não é possível por lei, nem recomendável tendo em vista as vazões do projeto. Diante da ambigüidade acerca do impacto líquido que a obra da Transposição deverá trazer para as regiões contempladas por ela, é difícil assumir uma posição definitiva sobre se de fato haverá benefícios para a economia de Pernambuco. A própria geração de empregos com as obras e a intensificação do comércio e serviços que está ocorrendo no seu entorno pode não representar um ganho permanente para a população, já que também se espera êxodo e desestruturação 175 de laços familiares das populações que precisarão ser deslocadas nas regiões por onde passarão os canais. 4. Reflexões e proposições de políticas Foi demonstrado, então, que o grande volume de investimentos federais em Pernambuco é um dos fatores responsáveis pela mudança de rumo no padrão de crescimento econômico. Ao mesmo, os GPFs poderão gerar mudanças na estrutura de oferta que levem à melhoria no padrão de desenvolvimento. Para auxiliar que esta potencialidade se efetive são necessárias ações complementares, algumas de cunho mais pontual, conforme se apresenta nesta seção. 4.1. Complexo Industrial Portuário de Suape: Petroquímica Suape, Refinaria Abreu e Lima, Estaleiro Atlântico Sul A grande concentração dos GPFs no complexo de Suape, além de apresentar os impactos positivos já comentados, gera dois grandes problemas a serem enfrentados. O primeiro refere-se à enorme concentração produtiva que está sendo gestada no estado. Esta concentração gera desde problemas políticos sobre a divisão dos impostos gerados (que se concentrarão em um ou talvez dois municípios) até problemas de deslocamento de mão-de-obra como a geração de emprego em municípios no extremo sul da RMR quando a maior parte das pessoas desempregadas com experiência em empregos industriais mora no extremo norte. A forte implantação de empresas em Suape também gerou a necessidade de se reduzir o tamanho da área de reserva ambiental. Somando a isto está o fato de que os GPFs estão ligados ao setor de petróleo e gás, reconhecido por gerar acidentes ambientais de grandes proporções. Ou seja, os GPFs gerarão desequilíbrios políticos, sociais e ambientais além dos impactos positivos já citados. Assim, o principal norte para políticas públicas deve ser a mitigação destes desequilíbrios. Parte disto já está previsto no Programa Territórios da Cidadania (PTC) que descentraliza os esforços do Governo Federal na área social. Contudo, os dados deste programa indicam que há a necessidade de maior celeridade em sua implantação. O volume de investimentos e empregos gerados fora da RMR ainda é insuficiente para contrabalançar a enorme concentração em Suape. Infelizmente ainda não existem notícias de políticas que visem mitigar os efeitos ambientais dos projetos em Suape. 176 A forte alteração da estrutura produtiva estadual no complexo de Suape explicitou a grande carência de mão-de-obra qualificada em diversos segmentos produtivos. Parte desta carência já vem sendo sanada com a implantação de escolas técnicas, ampliação da rede de ensino superior e iniciativas do sistema S. A grande dificuldade será transformar pessoas com baixa escolaridade e nenhuma experiência anterior no trabalho industrial em operadores de máquinas computadorizadas e com alta precisão. No tocante à RAL o mais importante é fortalecer o processo de criar fornecedores locais a partir de micro e pequenas empresas. É sabido que a Petrobrás possui política de contratação que exige dos seus fornecedores alto nível de qualidade, formalização e grande porte. Mesmo estes fornecedores devem provar que usam fornecedores que também seguem aos preceitos de qualidade da Petrobrás. Tal atitude é necessária e não deve ser mudada. Mas o processo atual de cadastramento e treinamento pelo SEBRAE de eventuais fornecedores é insuficiente para que haja a criação de uma rede relevante de micro e pequenos empresários ligados aos grandes fornecedores da Petrobrás. O BNDES deve descentralizar ainda mais suas linhas de financiamentos para facilitar a formalização e a busca pela qualidade destes empresários. Pelo que foi exposto anteriormente, a implantação da Petroquímica Suape trará impactos positivos de grande monta para a economia estadual. Contudo, o formato que vem sendo adotado pode levar a que a empresa torne-se um enclave dentro da economia estadual, pois apenas três grandes empresas são potenciais compradoras da petroquímica, sendo que uma delas também será concorrente em um dos produtos finais, o PET. O fato da M&G ter deixado a sociedade da Petroquímica e possuir unidade de fabricação de PET de grandes dimensões, pode fazer com que seja estratégico manter outros fornecedores (mesmo importando) para garantir a competitividade no médio e longo prazo. Desta feita, é preciso que políticas públicas sejam moldadas para que ocorra a integração da empresa, principalmente com a cadeia têxtil e de confecções. Para tanto a sugestão é que haja a liderança do Governo Estadual em programa que tente estimular esta integração. A partir de estudos realizado por Moutinho et al (2010a), a instituição que deveria liderar este programa seria o ITEP. Como este órgão já está realizando atividades juntos aos APLs de confecções, poderia ser o catalizador de ações que levassem a parcerias entre médias empresas de 177 confecções do estado com alguma grande empresa têxtil no sentido de inovação em tecidos, principalmente seguindo a linha dos ‘tecidos inteligentes’. O pólo naval que está em gestação em Suape está totalmente focado em atender às necessidades de um único comprador, a Petrobrás. Tal estratégia é muito arriscada e pode levar a que dentro de uma ou duas décadas o pólo venha a definhar, como já ocorreu com outros pólos navais no Brasil e no mundo. O BNDES deve criar mecanismos financeiros para que estes estaleiros possam atender não apenas a Petrobrás, mas também vender equipamentos para outras petroleiras e armadores do mundo. 4.2. Ferrovia Transnordestina e a duplicação das rodovias BRs O principal problema que se apresenta em todos os GPFs de cunho logístico em Pernambuco é o considerável atraso nas obras. A morosidade na desapropriação de terras, na obtenção de licenças ambientais e até mesmo na construção dilui os impactos de geração de emprego e renda ao longo de mais anos, o que diminui eventuais transbordamentos para outros setores além da construção civil. Ao mesmo tempo os impactos positivos com a mudança da estrutura logística são postergados. Também é digno de nota a ausência do projeto da CSN do trecho PetrolinaParnamirim, o qual será fundamental para o escoamento da produção da fronteira agrícola irrigada do Vale do São Francisco e traria a possibilidade de melhorar o escoamento da produção agrícola do oeste baiano. O principal desafio para a elaboração de políticas públicas está, contudo, nos efeitos de uma mudança tão drástica da matriz logística. Os modelos teóricos que tratam da questão do custo de transporte sobre o ordenamento territorial mostram que mudanças deste tipo ocorrem em bifurcação, ou seja, a região que recebe a ferrovia e a melhoria de rodovias pode tanto apresentar um crescimento vertiginoso quanto a drenagem de suas atividades produtivas. Um bom exemplo deste tipo de risco se encontra na atividade gesseira da região do Araripe. A construção da Nova Transnordestina pode representar uma ameaça às empresas do APL gesseiro, pois como a água é um recurso escasso na região, a redução dos custos de transporte possibilitada pela nova ferrovia, pode tornar mais barato o transporte da gipsita em pó para ser hidratada em outras regiões abundantes em água do que fabricar os artefatos de gesso na própria 178 região. Conseqüentemente, há uma tendência esperada de haver transferência das fábricas de artefatos de gesso do Araripe para a Zona da Mata ou RMR, o que neste caso aprofundaria ainda mais a concentração produtiva já existente nessas regiões. Neste caso específico de Araripe, para que ainda seja rentável produzir artefatos em gesso na região do Araripe é preciso haver diferencial competitivo com base em inovação tecnológica. 4.3. Pólo Farmacoquímico e Biotecnológico de Goiana – PE A criação desse Pólo precisará de investimentos nas áreas educacional, profissional, empresarial e de construção de capital social no município de Goiana. O Pólo irá necessitar de um grande contingente de mão-de-obra com características que a microregião não possui. A redução dos custos de transporte e a proximidade de Recife e João Pessoa (dois importantes centros universitários e de pesquisa que estarão envolvidos diretamente com o pólo) geram a possibilidade de que o pessoal acima de médio escalão não venha a morar em Goiana, diminuindo os impactos positivos deste empreendimento e fazendo com que os esforços de descentralização e deslocamento produtivo que este projeto personifica não surtam efeito esperado. Desta feita uma importante política pública é dotar o município de infraestrutura social que seja capaz de fixar a mão-de-obra no próprio município. Dado ao volume bilionário desses investimentos e a representação do seu impacto para a economia e sociedade, seria importante e plausível que as empresas previstas para o pólo se articulassem junto ao Governo Estadual e Federal ou SENAI para que fosse criada ao menos uma escola técnica e profissional e também unidades avançadas de Campi das universidades objetivando a capacitação de seus possíveis funcionários, auxiliando, assim, na fixação da mão-de-obra. 4.4. Transposição do Rio São Francisco e a economia de Pernambuco Como já citado anteriormente, a forte oposição à realização da transposição do São Francisco promoveu a apresentação de um grande conjunto de programas propostos pelo relatório de impacto ambiental. Cumpre destacar que, boa parte dos programas propostos é desejável para a região da transposição, mesmo que a mesma não seja efetuada, ou seja, atende a carências já existentes. Também é importante salientar que as propostas de convivência com a seca feitas pelos 179 opositores da transposição não devem ser postas de lado, supondo que apenas a transposição será capaz de resolver o problema da seca. 5. Considerações finais Neste artigo pode ser visto que os impactos positivos dos GPFs envolvem o aquecimento conjuntural da economia pernambucana e a mudança em sua estrutura de oferta, com a inserção de subsetores antes inexistentes e a acentuada melhoria da matriz logística. Alterações tão radicais na oferta certamente levam a que o aquecimento hoje existente se converta em um processo dinâmico de ganho de vigor econômico. Contudo, a concentração dos investimentos industriais e o formato dos investimentos logísticos, podem levar a que se intensifique a concentração intraestadual de renda. As políticas propostas no artigo visam diminuir a probabilidade de que isto ocorra e aumentar as chances de que o desenvolvimento se espraie de forma mais justa entre as microrregiões pernambucanas. A partir das análises anteriores é possível elencar um conjunto de medidas que podem ser tomadas visando ampliar os impactos positivos dos GPFs e também reduzir os seus impactos negativos: i) criação de políticas mais explícitas de descentralização na atração de investimentos, passando pela facilitação no processo de concessão de crédito; ii) agilização na implantação do PTC; iii) políticas de integração da RAL e da Petroquímica com a economia estadual, principalmente a partir do ITEP; iv) política de apoio financeiro à exportação do pólo naval; v) avaliação dos cursos de capacitação e da colocação dos egressos para certificar-se de que os mesmos estão suprindo a necessidade de mão-de-obra e gerando oportunidades para as pessoas; vi) aceleração da construção da infraestrutura de transporte; vii) estudos e intervenções nos APLs para evitar que a mudança na matriz de transporte leve a dinâmica de drenagem da economia do interior; viii) construção de infraestrutura social em Goiana para fixação de mão-de-obra qualificada; ix) implantação efetiva de todos os programas propostos no estudo de impacto ambiental da transposição do Rio São Francisco. Referências CAMPOS, L. H. R.; KEHRLE, L. R.. Uma utilização da matriz de insumo-produto para avaliação de três investimentos estruturadores em SUAPE. In: V Encontro Nacional de Estudos Regionais e Urbanos, 2007, Recife. V ENABER. Recife: ABER, 2007. 180 CNT, COPPEAD/ UFRJ. Transporte de cargas no Brasil: Ameaças e oportunidades para o desenvolvimento do País. Diagnóstico e plano de ação. Disponível em: http://www.cnt.org.br/portal/(F(0SwtYplGi1mZf3bcAxRmVCiYJd_seJ2EIg85coFR20I Y9Cn20roLFaKjtZODYvqjc5Xfca3Y7LKSmt1MyW9oi5bqzKYUNVuJWaOH9VA941))/ arquivos/cnt/downloads/coppead_cargas.pdf. 2010. CSN. Transnordestina Logística S.A. 2010. Disponível em: http://www.csn.com.br/portal/page?_pageid=595,244768&_dad=portal&_schema=P ORTAL. FARIA, C. Transposição do Rio São Francisco. 2008. Disponível <http://www.infoescola.com/hidrografia/transposicao-do-rio-sao-francisco/>. em GOVERNO DE PERNAMBUCO. S/D. Disponível em: http://www.google.com.br/#hl=ptBR&source=hp&q=%22Nordeste%3A+Economia+e +InfraEstrutura%22+transnordestina&btnG=Pesquisa+Google&aq=f&aqi=&aql=&oq= %22Nordeste%3A+Economia+e+InfraEstrutura%22+transnordestina&gs_rfai=&fp=8 bdc8aec77382032. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL (MI). Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional: Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Julho de 2004. Disponível em <http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp>. _____________________. Projeto São Francisco. <http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp> Acesso em agosto de 2010. MOUTINHO, L. M. G. et al. Mapeamento, metodologia de identificação e critérios de seleção para políticas de apoio nos Arranjos Produtivos Locais – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, maio 2009. (NOTA TÉCNICA 2/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Análise do Balanço de Pagamentos do estado e a importância dos APLs no Fluxo de Comércio – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, setembro 2009. (NOTA TÉCNICA 4/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Caracterização, Análise e Sugestões para Adensamento das Políticas de Apoio a APLs Implementadas nos Estados – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, dezembro 2009. (NOTA TÉCNICA 5/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. 181 MOUTINHO, L. M. G. et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais em Pernambuco – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. MOUTINHO, L. M. G. et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia de Pernambuco e Proposição de Políticas – Pernambuco. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Recife/PE, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/PE). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. 182 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO RIO GRANDE DO NORTE1 Valdênia Apolinário / Coordenadora Estadual Maria Lussieu da Silva Odair Lopes Garcia João Matos Filho Denílson da Silva Araújo Rosangela dos Santos Alves Pequeno Estévani Pereira de Oliveira Yuri Cesar de Lima e Silva2 3 INTRODUÇÃO Este capítulo constitui uma síntese das pesquisas desenvolvidas no âmbito do projeto “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste”, especialmente nas Notas Técnicas 10 e 11. Seus objetivos são analisar os impactos dos GPFs na redução dos gargalos econômicos e sociais do Rio Grande do Norte e propor ações que possam elevar seu grau de endogeneidade. Além desta introdução este artigo está dividido em mais três seções. A primeira apresenta aspectos sócio-econômicos e desafios ao desenvolvimento do estado. Na segunda caracterizam-se os principais gargalos da economia local frentes às ações executadas pelos Grandes Projetos, incluindo uma avaliação qualitativa dos seus impactos. A terceira apresenta as considerações finais e propõe políticas e ações para superar os gargalos remanescentes e aumentar a endogeneidade dos efeitos dos GPFs. 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Rio Grande do Norte”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2 Agradecemos a todas as instituições públicas e privadas que colaboraram com a realização desta pesquisa. 3 Agradecemos ao estagiário Igor Costa Freire Luzardo por sua participação na segunda etapa da pesquisa. 183 2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E DESAFIOS AO DESENVOLVIMENTO DO ESTADO Parte-se do princípio que os GPFs têm por suposto eliminar ou reduzir os gargalos da economia local, entendidos aqui como restrições que limitam ou impedem o crescimento econômico e a equidade social. A endogenia, caracterizada pelas interações geradas localmente, favorece o desenvolvimento pelo seu efeito multiplicador tanto na economia como em outras dimensões sociais. A endogenia dos grandes projetos também mantém relação com as características locais, tais como a disponibilidade de recursos naturais, humanos, ciência e tecnologia e de coordenação, entre outros. Todos estes aspectos definem o grau de interação entre as políticas e ações dos GPFs com a economia estadual/local. O Rio Grande do Norte (RN) é um estado relativamente pequeno. Localizado na porção oriental da região Nordeste (NE), possui um território de 52.796,791 km2, o que corresponde a 0,62% do território nacional e 3,41% do nordestino (IDEMA, 2002). A contagem da população realizada pelo IBGE em 2007 somou 3.014.228 habitantes, representando 5,85% da população nordestina e 1,64% da brasileira. A economia potiguar apresentou desempenho bastante satisfatório no período entre 1985 e 2006. A sua taxa geométrica de crescimento (3,45% aa) foi maior que a brasileira (2,93% aa) e a do NE (2,58% aa)4. Neste último ano o PIB atingiu R$ 20.557 milhões (0,87% do PIB nacional), classificando o estado em 18º lugar entre as demais unidades da federação e na 5ª colocação no contexto nordestino. Seu PIB per-capita alcançou R$ 6.754, ficando 12,01% acima da média regional (R$ 6.029), mas representando somente 53,23% da média nacional (R$ 12.688). Esse valor colocava o estado na 3ª posição no NE e em 22ª no país (IBGE, 2008a). A economia do estado depende fortemente dos gastos públicos. A participação dos gastos em administração, saúde e educação públicas e seguridade social atingiram 25,81% do valor agregado bruto (VAB) em 2006. Em seguida vem o comércio (12,73%), revelando a menor importância da produção local. Uma das características do sistema produtivo potiguar é sua dependência da exploração de recursos naturais. Entre as atividades industriais, a extrativa mineral participava com 10,17% do VAB em 2006, reflexo do seu grande potencial mineral, 4 Calculado a partir do PIB a preços de mercado constantes de 2000. Dados disponíveis em www.ipea.gov.br/ipeadata. 184 com registro de significativas reservas em mais de trinta elementos. Entretanto, a prospecção, extração, refino e transformação do petróleo e gás é a principal atividade da indústria, compondo uma cadeia produtiva integrada com interação significativa entre os agentes. A indústria de transformação (6,97% do VAB) é baseada na produção de bens de consumo duráveis. As indústrias de alimentos e bebidas, têxtil, confecções, calçados, minerais não metálicos, borracha e plástico e química, respondiam por mais de 90,35% do valor bruto da produção industrial em 2006 (PIA/IBGE, 2008). As maiores empresas são filiais de grupos nacionais e regionais, cujas matrizes estão localizadas nos estados do sudeste, com plantas espalhadas por diversos estados do Nordeste e em outras regiões do país. As atividades relacionadas ao turismo expandiram-se nos últimos anos, tornando o estado um dos principais destinos nacionais e internacionais, refletindose na participação de 2,50% das atividades de alojamento e alimentação no VAB. As atividades turísticas têm efeitos sobre uma ampla gama de atividades. A construção civil (5,78%), através de investimentos na formação da infraestrutura, equipamentos turísticos e construção de imóveis é uma delas, assim como as atividades imobiliárias, cuja participação (8,29%) ultrapassou a da indústria de transformação na composição do VAB. Na agropecuária, a pecuária e pesca (3,50%) suplantaram a importância da agricultura (2,86%) na formação do VAB. Nas atividades da pecuária leiteira, a melhoria da qualidade do rebanho bovino provocou um crescimento significativo na produtividade da produção de leite e seus derivados. A expansão e melhora do rebanho de ovinos e caprinos também foram significativas nos últimos dez anos. Na aqüicultura o estado se tornou o maior produtor e exportador nacional de camarão. No APL da carcinicultura existe um elevado grau de integração. Os produtores locais dominam a tecnologia e são auto-suficientes em todos os elos da cadeia, contando com o apoio de pesquisas desenvolvidas no próprio estado. A pesca oceânica, realizada por empresas que utilizam modernas técnicas para captura e a posição privilegiada em relação ao trajeto dos cardumes, tornaram o estado o maior produtor e exportador nacional de atum, meca e espécies afins5. 5 A participação dos outros componentes no VAB em 2006 foi: produção e distribuição de energia elétrica, gás, água e saneamento básico – SIUP - (2,56%), transporte, armazenagem e correio (3,73%), intermediação financeira (3,68%), serviços de informação (3,05%) e serviços prestados às empresas (3,00%) 185 Na agricultura, a fruticultura representa cerca de 50,0% do valor bruto da produção. Aqui também o estado destaca-se em relação às culturas de melão, melancia, banana, castanha de caju e abacaxi. Produzidas por grandes, médios e pequenos produtores são destinadas ao abastecimento dos mercados nacional e internacional. Deve-se salientar que a maioria dessas atividades é apoiada por políticas públicas estaduais. Além disso, apesar de serem commodities minerais ou agropecuárias, a produção local incorpora doses significativas de tecnologia, geralmente desenvolvidas em parceria com instituições locais de ensino e pesquisa, que possibilitam a manutenção de grande parte das atividades, apesar dos efeitos perversos da taxa de câmbio sobre os principais produtos da pauta de exportações do estado. Uma das conseqüências do padrão de crescimento baseado na disponibilidade de recursos naturais é a concentração produtiva onde estes estão disponíveis ou são ambientalmente favoráveis. Aliados à concentração construída historicamente, apenas oito municípios - Natal, Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Areia Branca, Macau e Guamaré -, detinham 63,57% do PIB em 2006 e abrigavam 45,97% da população em apenas 8,84% da área total do estado. Em contrapartida, 139 dos menores municípios somavam apenas 20,36% do PIB, ocupando 66,00% da área e contendo 35,56% da população do estado. À concentração espacial da produção e da riqueza corresponde a concentração pessoal da renda. A PNAD do ano de 2008 revela que 44,2% da população local auferia rendimento domiciliar per capita de até ½ salário mínimo, o que os classifica na faixa de pobreza absoluta; outros 20,2% estavam na categoria de extrema pobreza, com rendimento domiciliar per capita de até ¼ de salário mínimo (IPEA 2010). Assim, cerca 2/3 dos habitantes do estado são classificados como pobres ou miseráveis. Condições semelhantes são observadas na infraestrutura urbana. Segundo dados da Fundação João Pinheiro, em 2007 o déficit habitacional do estado era de 117.647 residências, das quais 85.191 localizavam-se nas zonas urbanas e 32.456 nas zonas rurais6. Os indicadores de saneamento básico mostram que 82,8% do 6 O conceito utilizado pela Fundação para estimar o déficit habitacional está explicitado na NT 11/RN. O déficit total correspondia a 14,0% do total de residências particulares de 2007, enquanto a média nacional era de 11,1% e a regional de 15,0% (Tab. 3.5 da NT 11/RN). 186 total da população não tem acesso à coleta de esgoto, embora o índice de cobertura dos que dispõem de abastecimento de água distribuída por rede geral atingisse 88,1%. Os indicadores de educação da PNAD de 2009 mostram que 13,81% das pessoas com dez anos ou mais de idade não têm instrução ou tem menos de um ano de estudo, 27,38% têm de um a quatro anos, 19,71% cursaram de 5 a 8 anos, 25,86% têm de 9 a 11 e 7,86% têm 12 anos ou mais de escolaridade. As características socioeconômicas apresentadas acima revelam a importância que as políticas públicas podem assumir na superação dos entraves ao desenvolvimento do estado. 3 GARGALOS EM INFRAESTRUTURA E IMPACTOS DOS GPFs 3.1. PAC E PNLT O PAC envolve os empreendimentos voltados para a superação/redução dos gargalos em infraestrutura logística, energética e social e urbana, concentrando o maior volume de recursos aplicados no estado entre os GPFs. O valor total dos empreendimentos previstos no período de 2007 a 2010 totalizam R$ 9.478,10 milhões, distribuídos entre infraestrutura logística (11,05%), energética (54,79%) e social e urbana (34,16%). Para o período pós-2010 o valor previsto atinge R$ 2.565,60 milhões, concentrados quase que totalmente em energia (98,67%) e social e urbana (0,57%). Tabela 1 - Investimentos previstos pelo PAC no Rio Grande do Norte EIXOS 2007-2010 PÓS 2010 TOTAL R$ MILHÕES PART.% R$ MILHÕES PART.% R$ MILHÕES PART.% LOGISTICO 1.047,00 11,05 19,50 0,76 1.066,70 8,86 ENERGÉTICO 5.193,60 54,79 2.531,40 98,67 7.725,00 64,14 SOCIAL E URBANO 3.237,50 34,16 14,70 0,57 3.252,20 27,00 TOTAL 9.478,10 100,00 2.565,60 100,00 12.043,90 100,00 Fonte: Balanço do 3º ano do PAC/Elaboração própria. A seguir são examinados os gargalos em cada um desses eixos e avaliados os impactos esperados das respectivas ações. 187 3.1.1. Gargalos e impactos dos investimentos em infraestrutura logística A precariedade do sistema de transporte é apontada como um dos principais obstáculos para a competitividade da economia nacional. No Rio Grande do Norte é uma restrição à recepção de grandes blocos de investimentos. Além disso, como produtor e exportador de commodities minerais e agrícolas tal infraestrutura é fundamental para a competitividade da produção local. No PNLT estão previstas vinte e duas intervenções abarcando os quatro modais, sendo que parte deles está no PAC. 3.1.1.1. Modal rodoviário O volume de produtos comercializados no mercado interno em 2008 atingiu cerca de 288 mil toneladas de frutas, 23 mil toneladas de camarão, 6.124 toneladas de peixes, 3.100 mil toneladas de sal marinho, 706 mil toneladas de cimento e, prevê-se, dez milhões de toneladas de ferro em 2010. Para atender a essa demanda, o estado conta com oito rodovias federais e a malha estadual, sendo que no PAC estão previstas somente a duplicação e a adequação da rodovia BR 101 e de trechos da BR 226. Intervenções nos trechos estaduais das BR´s 104, 304 e 437, assim como a via de acesso ao Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante estão incluídas no PNLT, sem prazo para execução. Nas outras três BR´s (405, 406 e 110), que cortam o estado, não estão previstas ações específicas (Fig.1). 188 Fonte: Elaboração Própria Figura 1- Empreendimentos previstos em infraestrutura logística no Rio Grande do Norte A adequação e duplicação da BR 101 é a mais significativa, pois em seu traçado até Pernambuco interliga os portos de Areia Branca/RN, Natal/RN, Cabedelo/PB e Suape/PE. Além disso, corta as regiões metropolitanas das capitais desses estados, onde se concentram a produção industrial e de serviços. No seu percurso também se encontram importantes atividades do agronegócio, principalmente a produção de açúcar e de álcool, e as atividades turísticas. Para além de Pernambuco, ela interliga o estado com seus principais parceiros comerciais na região Sudeste. No trecho em construção, a BR 101 atravessa sete municípios potiguares, nos quais obras complementares tornarão mais seguro e fluente o tráfego de cargas e pessoas. Além disso, os efeitos da obra serão potencializados por outros GPFs, como a construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante e a instalação da ZPE de Macaíba, ambos na Região Metropolitana de Natal. A adequação do entorno da cidade de Mossoró contribuirá para desafogar o tráfego nas rotas que seguem para o estado do Ceará, utilizadas para o escoamento 189 do sal marinho, cimento e frutas, com destino aos portos cearenses ou estados do sudeste e centro-oeste através da BR 116. 3.1.1.2. Modal aquaviário Os principais itens da pauta de exportação do estado em 2008 somaram 167 mil toneladas de frutas, 6 mil toneladas de camarão, 2,4 mil toneladas de pescado, 300 mil toneladas de sal e, estima-se que serão exportadas 10 milhões de toneladas de ferro em 2010. As mercadorias são transportadas por rodovias para os portos de Natal/RN, Pecém/CE, Fortaleza e Suape/PE7. Pelo porto de Natal é exportado principalmente açúcar, enquanto pelos portos cearenses são escoadas as frutas e por Suape a maior parte dos produtos da indústria de transformação e o minério de ferro. O Porto-Ilha de Areia Branca é dedicado à exportação de sal marinho. Dois obstáculos impedem a maior utilização dos portos potiguares: a pequena profundidade das áreas de evolução e atracação das embarcações e a baixa freqüência das linhas de navegação, principalmente no porto de Natal. Parte do problema da profundidade será resolvida pelas ações estabelecidas no PNLT e contempladas no PAC. Os investimentos na dragagem, aprofundamento, ampliação de berço de atracagem do Rio Potengi permitirá o recebimento de navios com capacidade entre 60 mil/t a 65 mil/t, dobrando a capacidade atual do porto de Natal. No Porto-Ilha a repotencialização do sistema de atração e as melhorias no terminal de estocagem permitirão aumentar o número de embarcações atendidas e a ancoragem de navios de até 80 mil/t. A atração de mais carga para o porto de Natal criará demanda para superar o gargalo representado pelo limitado número de linhas. Também se espera o estabelecimento de linhas de cabotagem que levará à endogenização de atividades voltadas para o mercado local, hoje realizadas em estados vizinhos. A redução do preço final de mercadorias beneficiará o consumidor do estado e tornará mais competitiva a produção local. Complementarmente, a navegação de cabotagem reduzirá o tráfego nas rodovias. 7 A participação do Porto de Natal no valor total da balança comercial em 2008 foi de 25,37%, menor que a de Pecém (26,41%) e pouco mais do que por Suape (26,41%), sendo o restante escoado por outros portos. 190 Os melhoramentos realizados no Porto-Ilha reduzirão o custo unitário do transporte do sal, permitindo inclusive que os produtores locais concorram em melhores condições com as importações, uma vez que pelo porto também é escoada parte da produção consumida pelas nos estados do Nordeste, Sudeste e Sul do país. No PNLT está prevista a construção do Terminal Transportador de Correia de Longa Distância (TCLD) em Porto do Mangue, destinado ao escoamento do minério de ferro, complementando a construção ferroviária entre Jucurutu e Porto do Mangue, com o objetivo de integrar nesses modais a exportação de minério de ferro, que hoje utiliza caminhões bi-trens em uma viagem de 185 km até atingir a ferrovia Transnordestina na Paraíba, seguindo por mais 350 km até o porto de Suape (PE). Esta composição de modais (rodoviário e ferroviário), totaliza 535 km até o porto de Suape (PE). Todavia, as jazidas distam 125 km dos pontos costeiros mais próximos. 3.1.1.3. Modal aéreo O principal fluxo de transporte aéreo do estado é o de passageiros, formado na sua maior parte por turistas nacionais e estrangeiros. Atualmente conta-se com dois aeroportos. O Aeroporto Internacional Augusto Severo localizado em Parnamirim, à 10 km de Natal atende à demanda nacional e internacional; o segundo, localizado em Mossoró, tem capacidade para receber vôos domésticos, ligando o município às principais capitais do país. Contudo, este último encontra-se inoperante para vôos comerciais há quatro anos. O Aeroporto Internacional passou por uma grande reforma para ampliação e modernização em 2001, mas sua capacidade instalada foi superada em 2006, quando recebeu 996 vôos internacionais e 8.383 domésticos, movimentando cerca de 1,4 milhões de passageiros, operando a 121% de sua capacidade instalada (AGN, 2008). A estimativa é de que cinco milhões de passageiros e 16 a 20 mil toneladas de carga serão transportados em 2020. Esses fluxos deverão ser atendidos principalmente pelo Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante que se encontra em construção. A pista de pouso foi construída, e as obras de terraplanagem, drenagem, pavimentação e a infra-estrutura de proteção ao vôo e 191 navegação aérea estão previstas para serem entregues em dezembro de 2010. A primeira fase do projeto está prometida para 2014. Esse empreendimento constitui um complexo aeroportuário intermodal, que exigirá investimentos em rodovias, ferrovias e no transporte marítimo. Após sua conclusão, será um dos maiores aeroportos do mundo e o maior da América do Sul, funcionando como um entreposto para o continente. A conclusão da primeira fase permitirá o atendimento de cinco milhões de passageiros/ano e 25 mil toneladas de carga/ano. Ao término das obras, sua capacidade será de 40 milhões de passageiros/ano e de 1,5 milhões de toneladas de carga/ano. Os efeitos multiplicadores do conjunto de atividades a serem desenvolvidas no complexo aeroportuário são enormes. Espera-se a geração de cerca de 30 mil empregos diretos. Além de eliminar o gargalo representado pela infraestrutura aérea atual, sua instalação deverá atrair empresas de serviços especializadas, e suas atividades deverão ser complementares à instalação da ZPE de Macaíba. Entretanto, para o Aeroporto Augusto Severo o PNLT prevê uma ação de construção, sem prazo para ser realizada, o que mantém o gargalo representado pela excedente demanda atual. 3.1.1.4. Modal ferroviário A ausência do transporte ferroviário é um dos principais gargalos logísticos enfrentados pelo estado. Produtor e exportador de commodities minerais e de frutas, o custo torna o transporte rodoviário o menos indicado. Os ramais ferroviários existentes estão desativados. No PNLT estão previstas somente a implantação e construção da ligação entre Jucurutu e Porto do Mangue - destinada ao escoamento do minério de ferro -, e a remodelação do trecho entre Afonso Bezerra e Mossoró, dedicada principalmente ao transporte de sal. A preocupação com esse gargalo fez com que a Associação Comercial e Industrial de Mossoró realizasse estudo de viabilidade técnica e econômica para a construção de um trecho ferroviário ligando Mossoró a Natal. Nesse estudo, estavam previstas a recuperação dos trechos Ceará-Mirim/Macau e do trecho urbano da linha 1 da CBTU, além da construção de ligações ferroviárias entre Mossoró/Assu, Mossoró/Areia Branca, Assu/Afonso Bezerra, Guamaré à linha Afonso Bezerra/Macau, Natal/São Gonçalo do Amarante e Jucurutu/Assu. No total 192 seriam recuperados 242,0 km e construídos 228,2 km de linhas, revelando necessidades bem acima das previstas no PNLT. Essas linhas transportariam minério de ferro, frutas, óleo diesel, cimento ensacado e calcário, integrando os modais ferroviário, aéreo e marítimo. Também viabilizaria a implantação da ZPE do Sertão, já autorizada. O transporte urbano de passageiro na Região Metropolitana de Natal é deficiente, tanto em capacidade como nos trajetos oferecidos. Estudo realizado sobre as perspectivas de crescimento da Região Metropolitana de Natal propõe a implantação de um sistema de transporte urbano moderno – Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – como solução mais adequada para superar as deficiências atuais e evitar o agravamento futuro, como aquelas propostas pelo PNLT para outras capitais de estados nordestinos. 6. 3.1.2. Gargalos e impactos dos investimentos em infraestrutura energética Os empreendimentos exclusivos em infraestrutura energética previstos no PAC estão concentrados na geração e distribuição de energia elétrica, na construção de uma refinaria para produção de gasolina e nafta e em ações que visam o desenvolvimento da produção de petróleo e gás nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará (Fig. 2). O valor dos empreendimentos previstos nesse eixo atingia R$ 5.193,6 milhões até 2010 e R$ 2.531,4 milhões pós-2010. 3.1.2.1. Geração e transmissão de energia elétrica Os investimentos em geração compreendem cinco usinas termelétricas (UTE) e dois empreendimentos para geração de energia eólica. Em fins de 2009, duas UTE’s haviam sido construídas (Assú e Potiguar III), duas estavam em processo de licitação (Baia Formosa e MC2 de Macaíba) e outra se encontrava em obras (Termonordeste). Os dois empreendimentos para geração de energia eólica (UEE) Alegria I e Alegria II -, encontravam-se em processo de licitação. Dois projetos de distribuição de energia elétrica complementam as ações desse eixo. A implantação da linha de transmissão Paraíso-Açu II e a instalação da 193 subestação Natal III. A linha de transmissão encontrava-se em obra no final de 2009, enquanto a implantação da subestação encontrava-se em processo de licitação. Fonte: Elaboração Própria. Figura 2 - Localização dos empreendimentos em energia previstos no PAC A entrada em operação das UTE’s e UEE’s tornará o estado auto-suficiente na produção de energia elétrica, pois a oferta potencial ultrapassa a demanda atual de cerca de 600 MW. Essas unidades produzem nos momentos em que há picos de demanda ou quando a capacidade dos reservatórios das hidrelétricas tende a níveis críticos. Assim, constituem uma importante reserva para o sistema elétrico nacional uma vez que a energia gerada é disponibilizada ao mercado através do Sistema Integrado Nacional (SIN). Os impactos derivados das UTE’s na economia local são limitados. Isto porque, uma vez realizados os investimentos, dos quais as máquinas e equipamentos constituem a maior parcela e têm origem externa, sua capacidade de alavancar novas atividades é relativamente pequena. Além disso, o emprego de mão-de-obra direta para sua operação é reduzido. A UTE de Assu, entretanto, foge a esse padrão, pois também produz vapor, utilizado para injeção nos campos de petróleo localizados no município de Alto do Rodrigues. Por esse motivo ela opera continuamente e emprega cerca de oitenta trabalhadores. No caso das UEE’s, como os estados vizinhos também terão 194 unidades implantadas, existe a possibilidade de emergir um arranjo produtivo que inclua vários elos dessa cadeia, ampliando os efeitos multiplicadores e endogeneizando as suas atividades. 3.1.2.2. Empreendimentos em petróleo e gás A prospecção, exploração e obtenção de derivados do petróleo e gás se transformaram na principal atividade econômica do estado. O espaço ocupado tende a crescer a cada rodada de licitação para licenciamento de novas áreas, envolvendo maiores investimentos para sua exploração, transporte, refino e distribuição. A área de exploração de petróleo em terra cobre boa parte da região oeste. As plataformas localizadas em quatro pontos da costa (Pescada, Arabaiana, Ubarana e Agulha) constituem a maior fonte da produção. A logística no processo de exploração e distribuição do petróleo e gás envolve a utilização de oleodutos, rodovias e navios. Parte da produção dos poços é transportada por caminhões até reservatórios ligados ao oleoduto para conduzi-los à Unidade de Tratamento e Processamento de Fluídos (UTPF), localizada em Guamaré. A produção das plataformas chega até esse ponto através de oleoduto ou conduzido por navios. Nessa unidade são transformados em gás liquefeito de petróleo (GLP), querosene de aviação (QAV) e óleo diesel. A essa estrutura deverá ser acrescida a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), com a finalidade de produzir gasolina e nafta. O empreendimento, incluído no PAC em 2008, deverá ser concluído em 2010. A inversão de R$ 450,0 milhões representa apenas 8,66% do total dos investimentos previstos para o período 20072010 nesse eixo. A RPCC terá capacidade de processar 30 mil barris de petróleo/dia, produzindo 4,5 mil barris de gasolina automotiva diariamente. O volume de produção será suficiente para abastecer o mercado potiguar, considerando o consumo mensal de aproximadamente 22,6 milhões de litros. Este empreendimento, somado à produção já existente de óleo diesel e querosene de aviação, tornará o estado auto-suficiente em todos esses derivados, os quais poderão ser exportados para os estados vizinhos a partir de expansão posterior da produção potiguar. Os empreendimentos relacionados à extração e refino de petróleo, ao contrário dos dedicados à geração de energia elétrica, têm grande potencial multiplicador. A implantação da RPCC complementa a planta de refino já existente. 195 Além da geração de empregos diretos, estimado em 700 trabalhadores, a entrada em operação da Refinaria e a expansão prevista das atividades na planta de Guamaré deverão causar um impacto significativo nas empresas locais fornecedoras de bens e serviços - cuja estimativa de faturamento em 2010 era de cerca de R$ 500 milhões - complementando ação desenvolvida no sentido de endogeneizar e induzir a multiplicação dos efeitos dos investimentos. 3.1.3. Gargalos e impactos dos investimentos em infraestrutura social e urbana No contexto do PAC os investimentos em infraestrutura social e urbana englobam ações que visam melhorar as condições de vida da população. Os empreendimentos deste eixo contemplam obras direcionadas para habitação, saneamento básico e recursos hídricos, além de ações na área de distribuição de energia elétrica pelo Programa Luz para Todos. 3.1.3.1 Habitação Como salientado, o déficit habitacional do estado era crescente e estimado em 117.647 domicílios, dos quais 72,4% estavam localizados nas áreas urbanas. Além disso, existia carência de projetos de urbanização. Os recursos do PAC para essa área estavam estimados em R$ 142,1 milhões, distribuídos entre 67 projetos que contemplavam 39 municípios. Desse total, 86,9% foram destinados para os projetos de urbanização com a finalidade de melhorar a condição de vida das famílias de baixa renda. O restante foi destinado a ações de provisão habitacional (12,1%), elaboração de Planos Municipais de Habitação (0,9%) e prestação de assistência técnica (0,1%). A maior parte dos recursos financeiros concentrou-se nos três maiores municípios potiguares: Natal (78,1%), Parnamirim (6,7%) e Mossoró (1,2%). Na capital foram destinados ao reassentamento de famílias localizadas em beiras de córregos e áreas de risco em várias comunidades; em Mossoró, para a provisão habitacional da favela do conjunto Vingt Rosado; em Parnamirim, para a urbanização da comunidade quilombola Moita Verde. Avalia-se que o impacto dessas obras sobre o déficit habitacional total será muito pequeno (0,6%), pois atingiu apenas 717 famílias, das quais 31,8% residem 196 em Assu e Mossoró. A despeito disso, tais impactos são fundamentais para a melhoria das condições de vida da população das comunidades beneficiadas. 3.1.3.2 Saneamento Básico No estado, o abastecimento de água atingia 81,8% do total dos domicílios permanentes e em 81,8% deles o lixo era coletado regularmente. O esgotamento sanitário, entretanto, só atendia 17,7% dos domicílios, colocando em risco a saúde de 82,1% da população (PNAD, IBGE, 2008). A esse problema, soma-se a disposição inadequada do lixo recolhido, ampliando o problema ambiental e de saúde pública8. As obras de saneamento básico do PAC englobam os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e drenagem urbana. Sob a responsabilidade do Ministério das Cidades encontram-se 62 empreendimentos distribuídos em 19 municípios, com investimentos previstos de R$ 844,0 milhões. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) é responsável por 155 projetos distribuídos em 93 municípios pequenos, com aporte financeiro estimado em R$ 78,4 milhões. Tendo em vista a precariedade das condições de esgotamento sanitário, os 100 projetos aprovados somaram R$ 499,0 milhões (54,1% do total). Entretanto, somente as obras de esgotamento sanitário do município de Arez foram concluídas, enquanto 57% encontravam-se em ação preparatória e 32% tinham obras em andamento no final de 2009. A seleção dos empreendimentos foi orientada pelos baixos índices de cobertura dos serviços de esgotamento sanitário. Os municípios selecionados, com exceção de Mossoró (31,2%), Natal (31,4%) e São Gonçalo do Amarante (34,8%), apresentavam menores índices ou nenhuma cobertura. Mesmo concentrando a maior parte dos recursos financeiros para execução dos projetos direcionados ao esgotamento sanitário, eles não são suficientes para eliminar esse gargalo histórico. Assim, espera-se que com os recursos do chamado PAC 2 a cobertura atinja 86% da população da capital e amplie o serviço no interior do estado. 8 Comparativamente, a média de cobertura no Nordeste é de 32,2% e de 52,5% no Brasil. 197 3.1.3.3. Recursos Hídricos As ações do PAC na área de recursos hídricos distribuem-se em projetos de irrigação e do Proágua, que trata dos sistemas adutores para distribuição de água para consumo humano e dessedentação animal. Além desses, também foi incluída a interligação de bacias do Rio São Francisco. Os investimentos em recursos hídricos, no que se refere às adutoras, tiveram início na década de 1990 com o objetivo de fornecer água de forma mais equilibrada para os municípios do estado, uma vez que existia um grande conjunto de pequenos açudes e a presença de grandes reservatórios de água – como é o caso do Açude Itans, Gargalheiras e Armando Ribeiro. Por outro lado, não existia água subterrânea em quantidade suficiente em algumas áreas. As obras das adutoras previstas no PAC foram pensadas a partir do sistema já existente. Desta forma, a Adutora do Alto Oeste busca beneficiar 26 municípios e alguns distritos na Regional de Pau dos Ferros. A adutora do Seridó tem como objetivo principal dotar a região de um sistema integrado de abastecimento de água potável, com capacidade para atender às respectivas populações até o ano de 2027. E por fim, a Adutora Serra de Santana, em sua terceira etapa já concluída, visa o abastecimento de água nas comunidades de sua área de influência, substituindo o precário sistema anterior que abastecia parte da região com água não apropriada para o consumo humano. No Rio Grande do Norte, o Eixo da Transposição do Rio São Francisco abrange a bacia do rio Piranhas–Açu, onde suas águas entram na bacia deste rio na Paraíba e acaba beneficiando o Alto Oeste do estado, região que é considerada a mais carente de recursos hídricos. Assim, o principal impacto da entrada do eixo da transposição do São Francisco no Sistema Adutor Alto Oeste é a contribuição para a garantia do abastecimento de água, uma vez que este enfrenta problemas climáticos típicos de uma região semi-árida, dentre os quais se destaca a elevada evaporação dos reservatórios já existentes. Além disso, apresenta a possibilidade de geração de um excedente de água capaz de ser utilizado também em atividades produtivas. 198 3.2. IMPACTOS DO PTC Conforme ressaltado 44,2% da população potiguar estavam classificados na faixa de pobreza absoluta e outros 20,2% encontravam-se na categoria de extrema pobreza, somando cerca de 2/3 do total de habitantes do estado, grande parte dela pertencente à zona rural. Nesse contexto, é que se pode avaliar a importância do PTC, que foi instituído em 2008 no Rio Grande do Norte, dando continuidade à abordagem territorial adotada desde 2003 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Atualmente, os territórios são constituídos por conjuntos de municípios reconhecidos como espaço de identidade cultural historicamente construídos, em cuja agregação se leva em conta indicadores sociais (IDH, incidência do PBF, entre outros). Existiam seis Territórios da Cidadania até 2009 (Fig. 3), coincidindo e ampliando os Territórios Rurais anteriormente delimitados pelo MDA. Em 2010 foram acrescentados mais quatro Territórios abrangendo o restante do estado. Fonte: Emater/RN. Figura 3 - Mapa dos territórios da cidadania do Rio Grande do Norte – 2010 199 As políticas implementadas nos exercícios de 2008 e 2009 foram agrupadas pelo MDA em sete temas e 54 tipos de ações, das quais 22 consumiram R$ 719 milhões, representando 95% do total de recursos. Nesse conjunto, destacam-se os programas de transferência de renda - Programa Bolsa Família (24,74%) e o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social à Pessoa Idosa (4,39%) e com Deficiência (14,55%) – e os de caráter produtivo – Cresce Nordeste (17,40%), Nordeste Territorial (7,10%) e Crédito Pronaf (6,24%). Essas ações, tanto pelo valor do desembolso quanto pelo número de pessoas atendidas são responsáveis pelas principais mudanças ocorridas nesses municípios. 3.2.1. Programas de transferência direta de renda O PBF é a ação mais importante nos Territórios da Cidadania segundo o critério de alocação de recursos. Trata-se de um programa de transferência direta de renda com condicionalidades que tem por objetivo assistir famílias em situação de pobreza e pobreza absoluta, além de contribuir para a redução da desigualdade na distribuição da renda e garantir a elevação dos níveis de educação e saúde das crianças e adolescentes. Em 2010 foram atendidas 170.070 famílias residentes nos municípios incluídos no PTC. O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social é um direito que garante um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria subsistência ou de tê-la provida por sua família. Em 2009, 5.959 maiores de 65 anos receberam R$ 31,5 milhões, enquanto 19.454 pessoas deficientes receberam R$ 104,7 milhões. Assim, os recursos alocados nesses Programas nos territórios do Rio Grande do Norte atingiram R$ 314 milhões. Os impactos mais visíveis da implementação desse conjunto de programas foi a imediata redução das taxas de pobreza e, consequentemente, a retirada de parcelas expressivas da população da condição de pobreza extrema e absoluta: entre 1995 e 2008, os dados da PNAD revelam que o percentual de pobreza absoluta no estado caiu de 63,8% em 1995 para 44,2%, enquanto o percentual de pobreza extrema, que era de 34,5% decresceu para 20,2% no mesmo período. 200 3.2.2. Programas de incentivos à produção O Cresce Nordeste é um programa de crédito instituído pelo Governo Federal em 2004 e desde então administrado pelo Banco do Nordeste com vantagens em relação às taxas de juros e prazos de pagamento. Sua fonte dos financiamentos é o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Em 2009, o montante de recursos alocados para o Rio Grande do Norte foi de R$ 125 milhões através de 216 contratos. Nordeste Territorial foi a denominação dada à estratégia lançada pelo BNB em junho de 2008, cuja concepção básica associa geração de negócios à organização de cadeias produtivas. Até o final de 2009 foram identificadas 16 cadeias produtivas no Nordeste entre as quais se incluem a bovinocultura de leite; bovinocultura de corte; turismo; couro e calçados; petróleo gás; saúde; cana-deaçúcar; silvicultura; avicultura; ovino-caprinocultura de corte. No Rio Grande do Norte ocorreram 596 operações no valor de R$ 51 milhões nos seis Territórios da Cidadania em 2009, representando 51,3% das operações contratadas no estado (1.162), mas correspondendo a 76,6% do valor total das operações. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF foi criado em 1996 com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído por agricultores familiares. No Rio Grande do Norte os valores contratados atingiram R$ 44,8 milhões com 8.743 contratos nos Territórios da Cidadania, o que representou 91,07% do valor total contratado no estado. Portanto, a soma dos financiamentos das atividades produtivas em 2009 atingiu R$ 221 milhões, mas o resultado se deve principalmente ao longo período em que esses Programas estão sendo mantidos. Nos Territórios da Cidadania observam-se experiências positivas de expansão, integração industrial e inserção dos produtos da agricultura familiar nos mercados internos – privado e institucional – e nos mercados de commodities agrícolas, entre os quais o leite bovino e caprino, mel de abelha e amêndoa de castanha de caju são os mais importantes. Deve-se salientar que políticas públicas no âmbito estadual também contemplam esses segmentos, reforçando os efeitos dos programas federais. 201 3.3. PDP E ZPEs: IMPACTOS PREVISTOS A estrutura industrial do estado baseia-se na exploração de recursos naturais, na indústria extrativa mineral e em sua indústria de transformação prepondera a produção de bens de consumo duráveis. A alteração dessas características não deverá ocorrer a curto e médio prazo, considerando o padrão de financiamento observado na PDP e as perspectivas estruturais das ZPEs. Os destaques estratégicos da PDP abrangem diversos complexos produtivos e buscam a ampliação das exportações, o fortalecimento das MPEs, a integração produtiva da América Latina e Caribe, a integração com a África, a produção sustentável e a regionalização. Tomando por base os valores financiados pelo BNDES às empresas do estado, verifica-se que os mesmos são relativamente pequenos quando comparados com os demais estados da região: em 2008, para o financiamento das exportações foram destinados R$ 6,8 milhões, o que correspondeu a 5,34% do total regional; para as MPEs foram alocados R$ 64,3 milhões (6,36%) e para a regionalização R$ 186,3 milhões (2,44%). Em 2009, o programa voltado para exportações não recebeu financiamentos, enquanto para MPEs atingiram R$ 102,3 milhões (6,95%) e nos financiamentos para regionalização foram aplicados R$ 346,9 milhões (1,57%). Os Programas Estruturantes para Sistemas Produtivos contemplados na PDP abrangem três Programas: Mobilizadores em Áreas Estratégicas, Consolidar e Expandir a Liderança Fortalecer a Competitividade. Nos Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas foram destinados para a região Nordeste, em 2009, 3,29% (R$ 370 milhões), sendo que no Rio Grande do Norte foram alocados apenas R$ 1,0 milhão. Na região Nordeste foi concentrado 20% dos recursos destinados ao Programa para Consolidar e Expandir a Liderança (cerca de R$ 16,3 bilhões), dos quais ao Rio Grande do Norte foram destinados em torno de R$ 20,1 milhões. Finalmente, para os Programas para Fortalecer a Competitividade ao Nordeste foi destinado 8,57% (R$ 12,8 bilhões), e o Rio Grande do Norte recebeu apenas R$ 580 milhões. A capacidade de alterar o perfil econômico pode ser avaliada pela distribuição setorial dos recursos: nas áreas estratégicas R$ 1 milhão (100% do total) foram concentrados no setor de tecnologia de informação e comunicação; para consolidar e expandir a liderança os R$ 18,5 milhões (92,14%) estão concentrados no setor de 202 mineração e para Fortalecer a Competitividade os recursos foram concentrados nos setores: bens de capital + FINAME (R$ 276,3 milhões - 47,64% do total); complexo de serviços (R$ 219,9 milhões - 37,91%); e têxtil e confecções (R$ 40,8 milhões ou 7,03%). Com relação às ZPEs, as duas já aprovadas no estado também não deverão alterar a composição da produção industrial. A ZPE de Macaíba, autorizada em julho de 2010, encontra-se em fase preparatória para licitação da PPP que definirá a empresa que administrará a ZPE e em sua implantação deverão ser investidos cerca de R$ 9,0 milhões de reais. A expectativa para a atração de investidores externos esta ZPE aponta para as indústrias de bens de consumo duráveis, os quais participam com mais de 90% do valor bruto da produção industrial potiguar9. A atração de multinacionais deverá provocar um aumento na intensidade média de capital e de produtividade da indústria local. A possibilidade de direcionar até 20% da produção para o mercado interno também aumentará a participação da indústria local nos fluxos de comércio. Os efeitos multiplicadores com a endogeneização através da compra de insumos locais, entretanto, dependerão de sua composição, mas não deverá ser muito elevada, levando-se em consideração o que se observa com a indústria já instalada e o panorama internacional. A ZPE do Sertão será instalada no município de Assu numa área de aproximadamente um mil hectares. A instalação da infraestrutura está orçada em R$ 18 milhões de reais, embora a área já conte com água tratada e encanada, cabeamento ótico, energia, sinal de telefonia celular e internet. Sua viabilidade depende da instalação de um modal ferroviário que a ligue à Transnordestina, uma vez que deverá se dedicar ao processamento de minerais disponíveis na região oeste do RN e em outros estados do Nordeste, tendo em vista o aumento da demanda verificado no mercado internacional por essas commodities. Ao basear-se no processamento de minerais, essa ZPE se diferencia totalmente do padrão internacional. Sua operação, segundo seu idealizador, deverá ocorrer através de transferência de tecnologia de ponta os para produtores locais de empresas internacionais que estejam na vanguarda tecnológica das respectivas áreas. Nesse sentido, sua concretização representará a endogeneização completa, 9 Aventa-se a possibilidade de atração de empresas voltadas para a microeletrônica e informática, interagindo com as atividades do Instituto de Neurociências de Natal. 203 por consumir matéria-prima local/regional, introduzir inovações em segmentos que atualmente encontram-se defasados através da transferência tecnológica. Portanto, como o maior volume de recursos da PDP está concentrado em atividades da indústria mineral, serviços, têxtil e confecção e as atividades esperadas para as ZPEs vão nessa direção, ambos tendem a reforçar a estrutura industrial existente. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS Cada um dos GPFs promove impactos específicos sobre diferentes dimensões devido a sua natureza, constituindo um processo cujas interações são complexas e difíceis de serem abarcadas em sua totalidade, por ocorrerem em espaços e temporalidades diferentes, com seus efeitos se estendendo por longos períodos de tempo. De outra parte, não é realista esperar que os obstáculos que limitam o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte sejam superados exclusivamente com os GPFs implementados atualmente. Em primeiro lugar nem todos são de responsabilidade do Governo Federal. Em segundo, são muitos e não podem ser suplantados em espaço curto de tempo. Entretanto, mesmo sobre aqueles que estão sendo projetados podem ser feitas algumas observações sobre seu andamento e desempenho. A primeira delas é o fato de que alguns dos empreendimentos, como a adequação da BR 101 e o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, estão em execução há muito tempo. A BR 101 está em construção desde 2005 e o Aeroporto está projetado desde 1996. Tendo por base esses dois casos, a expectativa em relação aos investimentos programados e aqueles que sequer entraram nos Programas, é desalentadora. Em segundo lugar, deve-se ter em conta que muitos empreendimentos previstos no PAC pertencem, por concessão, à iniciativa privada. Entre esses, os investimentos nas UTEs, UEEs e, principalmente, a recuperação do transporte ferroviário, dependem da esfera de decisão privadas, aumentando as incertezas em relação à sua execução. A avaliação dos impactos, mesmo que qualitativa é difícil de ser efetuada. Por exemplo, embora no geral os impactos dos empreendimentos e ações do PAC no 204 eixo social e urbano possam ser considerados pequenos (redução de 0,6% do déficit habitacional do estado), seus efeitos localizados são significativos. O fornecimento de água potável e a cobertura de saneamento básico reduzem a incidência de moléstias de veiculação hídrica, melhorando a qualidade de vida, a produtividade e a eficiência das populações por elas atendidas. Sob o aspecto da endogenia, o caso mais significativo se observa na cadeia do petróleo e gás, onde ações direcionadas ao desenvolvimento de fornecedores locais fizeram com que fossem introduzidas inovações em produtos e processos, disseminando essas práticas e aumentando a eficiência geral do sistema. Nessa mesma cadeia ocorre a integração com institutos de pesquisa, universidades, centros de tecnologia e de formação de recursos humanos, constituindo um modelo que deveria ser estendido a outras atividades produtivas e APLs do estado. Logo, uma avaliação geral dos GPFs reafirma a importância destes para a economia potiguar, ao tempo em que indica a necessidade de tornar as áreas e setores atingidos efetivamente mais competitivos, mais dinâmicos e menos desiguais em relação ao estado/região/país e de ampliar os benefícios para as demais áreas e atividades não contempladas no estado. Assim, os GPFs constituem um passo fundamental rumo à superação dos entraves assinalados, devendo-se somar a estes esforços políticas de desenvolvimento estadual/regional mais abrangentes e integradas. Desta forma, visando conferir maior grau de endogenia dos GPFs frentes aos desafios e limitações ao desenvolvimento do estado, apresentam-se proposições de políticas. • Promoção da Endogenia: com exceção da carcinicultura, em todas as demais atividades do estado existem oportunidades para adensar as cadeias produtivas, especialmente quando se tem em conta as possibilidades abertas pelos GPFs na infraestrutura logística. Para isso, estruturar a política pública visando apoiar novos APLs, bem como os já identificados é fundamental, na medida em que permite a geração local de ocupação e renda; • Melhoria na qualidade dos Gastos Públicos: a adoção de medidas que possam aumentar a efetividade dos gastos públicos, especialmente nas áreas mais carentes (esgotamento sanitário, saúde, educação básica, abastecimento de água) seriam fundamentais para reduzir os gargalos e 205 permitir um maior aproveitamento dos investimentos dos GPFs e daqueles que virão com o PAC 2; • Desconcentração do Crescimento e do Desenvolvimento Econômico: a lógica do capital naturalmente faz com que os investimentos acabem sendo concentrados nos espaços em que ocorrem as atividades mais dinâmicas, como é o caso da maioria dos investimentos previstos pelos GPFs. Portanto, é necessário que se adote políticas específicas para o aproveitamento dos recursos disponíveis nos outros espaços ou se criem vantagens comparativas para dinamizá-las; • Mudanças na matriz de transportes e na Infraestrutura Logística: o PNLT apresentou duas lacunas. Primeiramente, BR’s importantes ficaram fora do horizonte dos investimentos propostos. A segunda, foi não contemplar totalmente o modal ferroviário, importante para o estado. A elaboração de um Plano Estadual de Logística de Transporte deverá levar essas questões em consideração e pleitear que investimentos sejam feitos nesses dois modais. • Implantação de Políticas Públicas voltadas para a Ciência e Tecnologia: é preciso que o Estado promova ações voltadas para o desenvolvimento científico e inovações tecnológicas capazes de potencializar as iniciativas de desenvolvimento econômico do estado. • Implantação de uma Política de reestruturação e modernização da administração pública estadual: deve ser priorizada a formação e qualificação de recursos humanos, bem como reintroduzir o planejamento e a avaliação como prática para uma gestão pública eficiente, eficaz e efetiva. REFERÊNCIAS APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Caracterização dos Grandes Projetos Federais no Rio Grande do Norte – Rio Grande do Norte. PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Natal/RN, maio 2010. (NOTA TÉCNICA 10/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. APOLINÁRIO, Valdênia, et al. Impactos dos Grandes Projetos Federais na Economia do Rio Grande do Norte e Proposição de Políticas – Rio Grande do Norte. 206 PROJETO DE PESQUISA (BNDES / FUNPEC) – Análise do mapeamento e das políticas para arranjos produtivos locais no Norte, Nordeste e Mato Grosso e dos impactos dos grandes projetos federais no Nordeste. Natal/RN, agosto 2010. (NOTA TÉCNICA 11/RN). Disponível em: <http://www.politicaapls.redesist.ie.ufrj.br/>. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (Governo de Minas Gerais). Déficit Habitacional no Brasil 2007. Brasília, 2009. Disponível em: http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-deficit-habitacional-nobrasil. Acesso em: 02 mai. 2010. GOVERNO FEDERAL. Territórios da cidadania. Disponível www.territóriosdacidadania.gov.br. Acesso em: 28 de abril de 2010. em: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR (MDIC). Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), 2008. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/pdp/>. Acesso em: 07 dez. 2009. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Manual ZPE. In: Arquivo PDF 2009, 53p. 207 IMPACTOS DOS GRANDES PROJETOS FEDERAIS NO ESTADO DE SERGIPE E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS1 Dean Lee Hansen / Coordenador Estadual - UFS2 Elmer Nascimento Matos - UFS Rodrigo Rocha Pereira Lima - FASER Michele Santos Oliveira - UFS Daniela Regina Santos de Jesus - UFS, Ricardo Oliveira Lacerda de Melo - UFS3 INTRODUÇÃO O estado de Sergipe está localizado na Região Nordeste, possui 21,9 mil km2 sendo, em termos territoriais, o menor estado da Federação Brasileira. O território sergipano está dividido em 75 municípios e possui uma população estimada de 1.939.426 habitantes, o que representa 1,1% da população brasileira e 3,9% do total da região Nordeste. Aproximadamente 536.505 pessoas, ou seja, 27,7% da população sergipana reside na zona rural. Em 2007, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Sergipe foi de 0,770, denotando que embora seu IDH de 0,816 ainda esteja abaixo da média geral do Brasil, o nível de desenvolvimento e condições de vida da população sergipana foi avaliado como superior ao do Nordeste, que apresentou IDH de 0,749. Tal comparação mostra que embora no âmbito regional Sergipe tenha apresentado melhores condições de vida, quando comparado a outros estados da federação fora da região Nordeste, seu IDH ainda reflete a permanência de desigualdades regionais, expressas sobretudo nos indicadores de longevidade, renda e educação (Oliveira, 2010). No que se refere à economia do estado, a participação do PIB sergipano no PIB nacional permaneceu constante durante o intervalo de 2002 a 2007 (Jesus, 2010). Somados, esses dados mostram que o caso sergipano caracteriza-se como um ótimo objeto para o estudo 1 Este artigo é uma versão resumida da pesquisa “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais no Nordeste – Sergipe”, financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, através do Fundo Especial de Projetos – FEP, sob a coordenação geral da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (ver Hansen et al., 2010a e 2010b). 2 Os autores agradecem o importante papel desempenhado na pesquisa pelos bolsistas Lídia Carvalho Silva, Alisson Diego Rocha do Nascimento, Eliane Correia dos Santos Silva e Fernanda Marília dos Santos. 3 Colaborador externo. 208 do potencial de desenvolvimento impulsionado pelos investimentos dos Grandes Projetos Federais (GPFs). Deste modo, o presente artigo busca avaliar o impacto dos Grandes Projetos Federais implementados em Sergipe, como também propor políticas públicas a fim de operacionalizar ou aperfeiçoar a gestão dos grandes projetos no estado. A pesquisa em tela corresponde às Notas Técnicas 10 e 11 do projeto do BNDES “Análise do Mapeamento e das Políticas para Arranjos Produtivos Locais no Norte e Nordeste do Brasil e dos Impactos dos Grandes Projetos Federais em Estados Nordestinos Selecionados”. O artigo é composto por quatro seções. A primeira seção contextualiza os Grandes Projetos Federais existentes em Sergipe, mais especificamente os programas PAC, PDP, e PTC. Na seção 2, são analisados os impactos dos GPFs na economia sergipana. Os resultados estão baseados em dados secundários e em entrevistas realizadas nas instituições responsáveis pelos projetos federais em Sergipe. A seção 3 apresenta reflexões e proposições de políticas sobre os GPFs em Sergipe. Este artigo também faz amplo uso do material coletado em entrevistas. Por fim, a seção 4 traz as conclusões finais do artigo. CONTEXTUALIZAÇÃO DOS GPFS NA ECONOMIA DO ESTADO DE SERGIPE O avanço e consolidação do crescimento e desenvolvimento econômico e social requerem projetos de desenvolvimento de alcance nacional, ou seja, que tenham origem em escalas mais amplas, como é o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), do Programa Nacional de Logística e Transporte (PNLT)4, do Programa Territórios da Cidadania (PTC) e do programa Zonas de Processamento de Exportação (ZPE)5. E esta exigência apresenta-se de forma acentuada em áreas de desenvolvimento mais críticas, como a da região Nordeste do Brasil e, especificamente, de Sergipe. Neste sentido, é preciso compreender e assinalar como os grandes projetos de abrangência nacional e regional estão inter-relacionados com a agenda do desenvolvimento brasileiro. 4 5 Sergipe não foi agraciado até o momento com obras do PNLT. Em Sergipe, a ZPE ainda está em fase de finalização. 209 Contextualização do PAC na economia do estado No caso de Sergipe, o principal projeto em andamento no estado é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo Governo Federal em 2007 e que tem por finalidade alavancar o crescimento global da economia brasileira. O programa objetiva por meio da promoção de investimentos em vetores de infraestrutura eliminar gargalos e criar externalidades, estimular investimentos privados e reduzir as desigualdades regionais e sociais. Também abrange ações para ampliação do crédito, incentivos fiscais, aumento na qualidade do gasto público e melhoria da gestão governamental. Embora os investimentos públicos em infraestrutura mereçam a principal atenção por conta da sua importância para a aceleração do crescimento e do grande volume de recursos alocados, outras medidas importantes contempladas pelo Plano para estimular o investimento produtivo privado são o estímulo ao crédito e ao financiamento, a melhoria do ambiente de investimento, a desoneração e administração tributária e as medidas fiscais de longo prazo. A distribuição regional dos investimentos mostra preocupação em combater as desigualdades regionais, conforme mostra a Tabela 1. A região Nordeste foi contemplada com investimentos totais expressivos, sobretudo na infraestrutura Social, Urbana e Energética, sendo ultrapassada apenas pelo Sudeste. A região Norte foi a terceira em investimentos totais alocados. Tabela 1 - Brasil - Distribuição regional dos investimentos do PAC por infraestrutura, em R$ bilhões – 2007 - 2010 Região Logística Energética Social e Urbana Total Norte 6,3 32,7 11,9 50,9 Nordeste 7,4 29,3 43,7 80,4 Sudeste 7,9 80,8 41,8 130,5 Sul 4,5 18,7 14,3 37,5 Centro-Oeste 3,8 11,6 8,7 24,1 Nacional 28,4 101,7 50,4 180,5 Total 58,3 274,8 170,8 503,9 Fonte: Programa de Aceleração do Crescimento: 2007-2010 (material para a imprensa), disponível em www.brasil.gov.br/pac. 210 O PAC destinou para Sergipe cerca de 9,3% do PAC do Nordeste e 1,5% do seu total nacional. Após 2010, está prevista a alocação de mais R$1,6 bilhões. Outros investimentos serão realizados por meio dos empreendimentos de caráter regional, com destaque para a ampliação do gasoduto que ligará Sergipe a outros estados nordestinos (R$1,6 bilhões). A Tabela 2 traz uma síntese desses investimentos. Tabela 2 - Sergipe - Investimentos do PAC por eixo, em R$ milhões - 2009 Eixo Logística Energética Social Urbana TOTAL e Empreendimentos Exclusivos Empreendimentos de Caráter Regional 2007 – 2010 Pós 2010 2007 – 2010 Pós 2010 607,8 - - - 3.247,0 1.598,3 1.598,6 315,1 2.004,2 - 5.859,0 1.598,3 16,0 1.614,6 315,1 Fonte: PAC Sergipe - 7º balanço: janeiro a abril de 2009, disponível em www.brasil.gov.br/pac. A infraestrutura logística objetiva ampliar a estrutura já existente para melhorar as condições da interligação de Sergipe com os demais estados do Nordeste e apoiar o turismo com a duplicação e modernização da BR-101. Os investimentos previstos totalizam R$ 607,8 milhões, o equivalente a 8,1% do total do Nordeste. No eixo da infraestrutura energética, os recursos do PAC em Sergipe estão sendo direcionados para obras que objetivem garantir segurança energética e modicidade tarifária para Sergipe e para Região Nordeste, a ampliação da malha de gasodutos de modo a assegurar o suprimento de gás natural, bem como desenvolver e ampliar a produção de petróleo no estado. Até 2010, a alocação prevista de recursos do PAC exclusivamente para o setor de infraestrutura energética do estado é de R$ 3,2 bilhões, o que equivale a 11% do total destinado para a região Nordeste. Para que tais objetivos sejam alcançados, planeja-se a execução das seguintes obras: construção da Usina Termelétrica à óleo em Nossa Senhora do Socorro; construção da Usina Termelétrica à Biomassa em Capela; 211 exploração e produção de petróleo no campo de Piranema em Estância e exploração e desenvolvimento da produção de petróleo no estado (em conjunto com Alagoas). Os investimentos dos recursos do PAC no eixo de infraestrutura social e urbana têm como metas a universalização do acesso das famílias à energia elétrica, através do programa Luz Para Todos; melhorar as condições de vida da população por meio da ampliação do sistema de esgotamento sanitário de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro (com a revitalização da Bacia do Rio Sergipe e despoluição de praias); ampliar o sistema de abastecimento de água de Aracaju e municípios interioranos; urbanizar favelas removendo moradias localizadas em áreas de risco em Aracaju e outros municípios e construir habitações em dezenas de municípios. Os valores alocados para este eixo correspondem a R$ 2,0 bilhões e representam 4,9% do total investido no Nordeste. Há ainda outros investimentos em andamento previstos no PAC, mas que são frutos de emendas parlamentares e/ou obrigações constitucionais. Entre eles estão o Plano de Desenvolvimento da Educação (expansão da Rede Federal de Ensino Superior e de Escolas Técnicas), o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) e o programa Territórios da Cidadania (o crédito PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Programa Bolsa Família e o Programa ProJovem entre outros). Contextualização do PDP na economia do estado O objetivo da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) é o de promover a competitividade de longo prazo da economia brasileira, consolidando a confiança na capacidade de crescer, com uma maior integração dos instrumentos de política existentes, fortalecimento da coordenação entre instituições de governo e aprofundamento da articulação com o setor privado. Dos mais de 800 instrumentos sistematizados dentro da PDP, os que apresentam maior facilidade para visualização e mensuração são os financiamentos do BNDES, que cresceram de forma significativa de 2008 a março de 2010. Dentre os setores mais relevantes para a economia sergipana, os que mais se beneficiaram das linhas de financiamento do BNDES, entre janeiro de 2008 e 212 março de 2010, foram as atividades do complexo de serviços, a construção civil, as agroindústrias, de produção de bioetanol, têxteis, de confecções, madeira e móveis. Os dados referentes aos desembolsos do BNDES em Sergipe mostram que apenas nos três primeiros meses de 2010, já foram investidos mais de 60% de todo o valor desembolsado em 2008 nas MPEs. Esse dado revela que o BNDES tem conseguido expandir sua atuação no estado, ver Tabela 3. Tabela 3 - Sergipe - PDP - Desembolsos do BNDES por área - 2008 a 2010* Áreas Regionalização Bens de Capital+FINAME MPEs Complexo de Serviços Construção Civil Agroindústrias Bioetanol Plásticos Carnes Têxteis e Confecções Madeira e Móveis Higiene, Perfumaria e Cosméticos Tecnologia de Informação e Comunicação Aeronáutico Biodiesel Celulose e Papel Complexo Automotivo Complexo Industrial de Saúde Couro, Calçados e Artefatos Defesa Exportação de Serviços Exportações Indústria Naval e Cabotagem Mineração Petróleo, Gás natural e Petroquímica Produção Sustentável Siderurgia TOTAL 6 Fonte: BNDES * 2008 2009 2010 82.753.634,41 308.216.024,52 55.371.432,74 71.436.535,78 87.918.501,67 38.661.514,52 41.215.868,34 63.370.471,50 27.756.071,27 24.372.230,00 188.408.300,63 21.791.202,33 14.298.939,16 10.689.584,45 7.897.736,66 9.868.121,68 12.825.427,86 5.649.476,94 0,00 0,00 500.000,00 1.999.999,00 1.282.064,77 348.326,67 392.140,00 1.276.115,20 338.000,00 4.282.574,03 913.424,91 277.903,34 9.625,03 318.398,07 68.375,63 0,00 0,00 62.917,49 50.645,12 278.160,99 46.045,54 0,00 0,00 3.041,89 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 93.000,00 0,00 1.960,66 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 426.000,00 229.995,75 0,00 0,00 256.603,68 0,00 0,00 0,00 0,00 27.371,31 0,00 0,00 251.135.644,52 676.076.074,00 158.772.045,02 Janeiro a Março de 2010 A existência de um número significativo de ações no âmbito da PDP em conjunto com o paulatino e constante aumento dos desembolsos realizados no âmbito da linha de financiamento destinada à compra de máquinas e equipamentos 6 Dados enviados diretamente pela área responsável do BNDES. 213 novos (FINAME), conforme informações disponibilizadas pelo BNDES, também permitem inferir a ocorrência de uma modernização das empresas sergipanas. Contextualização do PTC na economia do estado Com base no modelo de territorialização, o Programa Território da Cidadania (PTC), proposto pelo MDA, consiste em um programa do governo estadual de Sergipe sob a forma de estratégia de desenvolvimento territorial sustentável que tem por objetivo a superação da pobreza e a geração de emprego e renda no meio rural. As ações deste programa procuram atender às necessidades do território no qual atuam por meio da inclusão produtiva das populações pobres, do planejamento e integração de políticas públicas, buscando a universalização de programas básicos de cidadania e através da ampliação da participação social. Para tanto, suas ações têm como foco o combate às desigualdades e a pobreza no meio rural orientado pela perspectiva da estratégia territorial e dos territórios de identidade. Não obstante, a exequibilidade das ações do PTC depende de forma significativa da consolidação das relações federativas e da integração de políticas públicas. O destaque dado pelo PTC às ações federais está refletido na mobilização de 19 Ministérios, dos quais 15 estão executando ações, a exemplo do Ministérios da Casa Civil, Educação, Desenvolvimento Social e da Integração. Além dos ministérios, o PTC também conta com a participação de outros Órgãos do Governo Federal tais como a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco do Nordeste (BNB), o Banco do Brasil (BB) e o Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O projeto abarca 135 ações que foram definidas sob três eixos estruturantes, a saber: apoio às Atividades Produtivas, Cidadania e Direitos e Infraestrutura. Suas ações estão voltadas, deste modo, para a organização sustentável da produção, para questões fundiárias, para a educação e cultura, para os direitos e desenvolvimento social, saúde, saneamento e acesso a água, para o poio à gestão territorial e para a infraestrutura. Os recursos captados pela região Nordeste alcançaram a cifra de R$ 5,4 bilhões. A forma como os recursos destinados para o estado de Sergipe foram distribuídos por ações pode ser verificada na Tabela 4. 214 Tabela 4 - Sergipe - PTC - Recursos Distribuídos por Ações - 2010 GRUPO AÇÕES VALOR Ações Fundiárias 1 R$ 7.245.000,00 Apoio à Gestão Territorial 5 R$ 718.964,00 Direitos e Desenvolvimento Social 11 R$ 252.114.886,68 Educação e Cultura 13 R$ 68.304.949,48 Infraestrutura 3 R$ 19.966.670,00 20 R$ 192.562.595,11 Saúde, Saneamento e Acesso à Água 18 R$ 117.454.148,04 Total 71 R$ 658.367.213,13 Organização Produção Sustentável da FONTE: MDA, por meio de entrevista concedida pela articuladora estadual (2010). ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS GPFs NA ECONOMIA SERGIPANA Impactos do PAC na economia do estado Os projetos de infraestrutura do PAC visam acelerar o crescimento econômico por meio do desbloqueio de estrangulamentos responsáveis pela perda de dinamismo da economia brasileira. Estes projetos buscam, portanto, através da redução dos gargalos na oferta de infraestrutura (transporte e energia), minimizar a incerteza microeconômica das atividades produtivas e melhorar a competitividade sistêmica da economia (Carneiro, 2008). Neste âmbito, avalia-se que os investimentos direcionados para o eixo do petróleo e gás são os que apresentam maior potencial para dinamizar a economia sergipana. Esta asserção é corroborada não apenas pelo volume de recursos alocados (R$3,2 bilhões) mas, principalmente, pela participação significativa do setor na formação do PIB do estado, que deverá crescer com o aumento da produção. Como demonstra a Tabela 5, e segundo a série de dados disponibilizados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), já é possível identificar nos últimos anos uma recuperação e crescimento da produção de petróleo e gás em Sergipe. Esta recuperação tem permitido o aumento da arrecadação de royalties pela receita estadual e pelos diversos municípios, garantindo para estes últimos uma importante, senão a maior, fonte arrecadadora de recursos. 215 Tabela 5 - Brasil e Sergipe - Produção de petróleo e gás natural e royalties distribuídos: 1999-2008 Produção de petróleo (mil barris) 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Terra 8.740 8.904 9.212 9.681 10.840 11.433 11.909 12.044 12.889 12.371 Mar 5.079 4.564 3.860 3.251 2.650 2.530 2.307 2.300 2.404 4.823 SE Total 13.819 13.467 13.072 12.932 13.490 13.962 14.216 14.344 15.293 17.194 Brasil Total 400.78 2 450.62 6 471.86 2 530.85 5 546.08 0 540.71 7 596.25 5 628.79 7 638.01 8 663.27 5 SE/BR (%) 3,4 3,0 2,8 2,4 2,5 2,6 2,4 2,3 2,4 2,6 3 Produção de gás natural (milhões m ) 1999 Terra 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 59,7 58,6 59,3 59,6 66,2 76,3 79,0 84,2 93,2 91,2 Mar 806,4 815,0 752,5 741,9 666,3 601,2 538,7 525,2 453,9 766,5 SE Total 866,0 873,6 811,9 801,4 732,5 677,4 617,7 609,4 547,1 857,8 Brasil: total 11855, 2 13282, 9 13998, 8 15525, 2 15792, 1 16971, 2 17699, 2 17706, 2 18151, 7 21592, 7 SE/BR (%) 7,3 6,6 5,8 5,2 4,6 4,0 3,5 3,4 3,0 4,0 Royalties distribuídos 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 SE/BR (%)¹ 5,0 4,6 4,2 3,9 3,9 3,9 3,8 3,8 4,0 4,2 SE/BR (%)² 4,2 3,4 2,9 3,8 3,7 3,5 3,3 3,3 4,0 4,2 Fonte: ANP, disponível em www.anp.gov.br, acesso em 31/07/2010. ¹ Refere-se aos royalties distribuídos entre os Estados brasileiros. ² Refere-se aos royalties distribuídos entre os municípios brasileiros. Embora seus efeitos sejam percebidos nos municípios produtores (devido aos royalties distribuídos), a maior beneficiária do setor extrativista mineral é Aracaju. Isso ocorre não apenas por ela ser a sede das principais empresas do núcleo do setor, mas também por concentrar o maior número e os mais importantes fornecedores de produtos e serviços. Aracaju também tem sentido os efeitos positivos deste setor através do efeito renda. A grande massa salarial gerada tem contribuído para a geração de externalidades nos setores terciário (serviços e comércio) e da construção civil, isto porque grande parte dos seus trabalhadores residem e realizam seu consumo na capital. Ao fomentar a agroindústria sucroalcooleira, os investimentos no grupo de Biocombustíveis têm ajudado a consolidar as regiões norte e noroeste de Sergipe como produtoras de etanol, contribuindo deste modo para a geração de renda e 216 emprego. Contudo, devido às suas características ela tende a criar naquelas regiões uma concentração fundiária atrelada à monocultura da cana-de-açúcar, o que é preocupante, uma vez que pode contribuir para o agravamento do quadro social. Por sua vez, avalia-se que os investimentos atrelados aos blocos de Recursos Hídricos, Saneamento, Habitação e Educação permitirão alavancar o capital social de Sergipe, fator fundamental para impulsionar não apenas melhorias nas condições de vida da sua população, mas também ajudar a estruturar condições para o desenvolvimento dos APLs, principalmente aqueles ligados ao setor da construção civil, como é o caso do APL de cerâmica vermelha. Como o setor da construção civil é o segmento econômico mais favorecido pelos impactos dos investimentos do PAC em Sergipe, ele atua positivamente sobre a indústria de cimento (empresas dos Grupos Votorantin e João Santos) e sobre os APLs sergipanos7 de cerâmica vermelha dos municípios de Itabaianinha e de Itabaiana (que produzem principalmente telhas e tijolos). Os efeitos do PAC sobre a economia sergipana estão contribuindo positivamente para a manutenção da trajetória de crescimento anual do PIB do estado acima das médias nacional e regional, como já vinha ocorrendo em anos anteriores à sua implementação. Tomando como base a literatura sobre a economia regional brasileira que trata da integração das economias nacional e regional a partir da década de 1970 no ciclo econômico, é possível deduzir que as economias regionais mais favorecidas com os investimentos do PAC tendem a acelerar seu crescimento com os efeitos positivos decorrentes. Contudo, também é necessário levar em consideração que os efeitos do PAC sobre as economias estaduais são difusos, não garantindo, portanto, uma relação linear entre as Unidades da Federação mais beneficiadas pelos investimentos do PAC e aquelas que recebem os efeitos mais positivos (LEMOS, 2009). Isto porque os grandes eixos de investimentos são demandantes de indústrias de bens de capital, de bens intermediários e de bens de consumo duráveis, e essas indústrias estão concentradas nos estados das regiões Sudeste e Sul e no estado do Amazonas. Com isto, a ocorrência de vazamentos inter-regionais 7 Sobre o mapeamento dos APLs em Sergipe ver a Nota Técnica 5/SE - BNDES. 217 de renda tendem a minimizar os efeitos potenciais de crescimento das economias estaduais mais contempladas com os recursos do PAC. E este é o caso de Sergipe, onde predomina a indústria de bens de consumo não duráveis, e da maioria dos estados do Nordeste em que a participação em relação ao Brasil do VTI é inferior ao da participação do emprego. Como chama a atenção Lemos (2009: 183-4), “As economias estaduais menos desenvolvidas, com estruturas produtivas menos complexas, possuem baixos efeitos multiplicadores intra-regionais, que resultam em maiores vazamentos inter-regionais.” Segundo o estudo efetuado por Lemos (2009) os estados do Nordeste (à exceção do Ceará) estariam apresentando impactos positivos do PAC abaixo da média nacional. No caso específico de Sergipe os impactos seriam negativos, em função dos enormes vazamentos de renda inter-regional e intra-regional, contudo esta afirmação soa de forma estranha. Se considerarmos o efeito renda, a geração de impostos e as compras realizadas junto à economia sergipana por determinados setores componentes do PAC, como é o caso do setor de petróleo e gás, terminaremos duvidando daqueles efeitos regressivos. Atendo-nos ao setor de petróleo e gás, podemos verificar que a entrada em operação da plataforma marítima de Piranema (da Petrobras) proporcionou uma inflexão na produção de petróleo e gás em Sergipe que causou, consequentemente, efeitos dinâmicos sobre o seu PIB, emprego e renda. Não obstante, Matos (2009) destaca a fragilidade da base industrial da economia sergipana, em razão de: primeiro, da forte dependência do processo de acumulação de capital estadual frente aos investimentos originários do Estado nacional e de outras regiões, a exemplo dos incentivos fiscais do sistema 34/18/FINOR da Sudene, dos investimentos realizados pelo II PND e daqueles atraídos em tempos mais próximos pela “guerra fiscal”; segundo, como os capitais locais se integraram de forma reduzida àqueles processos, eles se metamorfosearam de modo a encontrar espaço de valorização e vetores de investimentos compatíveis com seu papel ao longo da dinâmica de integração produtiva nacional. Sem porte competitivo na indústria, os capitais locais encontraram espaço no setor terciário, principalmente no comércio, nas atividades imobiliárias e da construção civil, nos serviços sob outorga do setor público 218 (comunicações e transporte, por exemplo) – pois durante o período sob os anos de chumbo da ditadura militar brasileira, prestaram serviços políticos e depois sob o guarda-chuva dos acordos políticos eleitorais, conseguiram, mesmo que de forma cíclica, capturar o Estado nacional, estadual e municipal –, e mais recentemente passaram a atuar no setor de turismo, garantindo eixos de acumulação de capital sob os interesses mais imediatos e dependentes das intermediações da própria elite econômica e política local. Como o PAC privilegia investimentos produtivos locais com base na dotação de recursos naturais, não seria possível mudar aquela estrutura industrial. Por outro lado, como a política pública estadual de desenvolvimento industrial resume-se à guerra fiscal através do Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI), este termina por não priorizar políticas específicas de atração de indústrias de maior intensidade tecnológica e de maior Valor de Transformação Industrial (VTI), conseguindo apenas atrair investimentos industriais em função da competitividade espúria, principalmente calcada na baixa remuneração da mão de obra. A manutenção desse quadro sem alterações na competitividade sistêmica da economia sergipana implica numa continuidade na acumulação de capital pela indústria de Sergipe, mas ao custo ou em detrimento de um maior adensamento tecnológico de suas cadeias produtivas. Por conseguinte, pode-se concluir que Sergipe apresenta um quadro desalentador para a sua estruturação, modernização e diversificação industrial, formado pela ausência de políticas públicas orientadoras e indicadoras de seu espaço como escolha locacional em um projeto integrado nacionalmente e a sua substituição pelas livres forças de mercado, pelo caos competitivo da guerra fiscal, pela depauperação de suas condições infraestruturais, pela política macroeconômica voltada aos interesses da órbita financeira em detrimento da produtiva e pela sua menor capacidade em concorrer com outras regiões para atrair segmentos centrados em ciência e tecnologia (Matos, 2009). Assim, ainda que os investimentos em infraestrutura possam desobstruir gargalos e permitir ganhos de externalidades, seus efeitos sobre a capacidade dinamizadora do desenvolvimento econômico e social permanecem limitados, não alterando significativamente o quadro de vantagens comparativas estadual. 219 Como pode ser observado na pesquisa de campo relatada na Nota Técnica 11 do BNDES, o Quadro 2 (Hansen et al., 2010b), oferece uma perspectiva complementar a esses argumentos identificando as principais transformações ocorridas em Sergipe impulsionadas pelo PAC. Ao basear-se nas entrevistas realizadas com os dirigentes das instituições ou dos gestores responsáveis pelos projetos e ações no estado, ela oferece uma visão de como os atores envolvidos na implementação dessas políticas públicas percebem o ambiente socioeconômico e avaliam a efetividade dos processos em que estão diretamente envolvidos. Os representantes da ACESE e da SEPLAN-SE apontam como um dos principais efeitos do PAC o crescimento da valorização imobiliária da região, afirmação que, por sua vez é contradita pela Prefeitura de Maruim. A FAPITEC salienta o crescimento dos investimentos em infraestrutura e a dinamização do setor de construção civil promovida pelos programas de habilitação. Aponta também para importantes avanços na área de transportes, que resultaram num aumento significativo na circulação dos produtos e, assim, na incrementação do comércio. De um modo geral, verificou-se a existência de consenso ente os entrevistados de que os impactos do PAC no estado ainda não aparecem de forma nítida, o que dificulta uma identificação mais precisa. No que toca à questão sobre se o PAC tem estimulado os investimentos privados, as respostas foram unanimemente positivas. Segundo os entrevistados, vários setores foram beneficiados, sendo o da construção civil aquele que apresenta os dados mais significativos. Outros setores apontados como diretamente beneficiados pelo PAC foram o agronegócio, a indústria naval, o setor de energia (especialmente o de Etanol), a indústria extrativa, o setor de turismo (com investimentos no parque hoteleiro) e nos setores de bens de consumo de massa, como vestuário, confecções, calçados e bebidas. Impactos da PTC na economia do estado A identificação do grau de desenvolvimento dos Grandes Projetos Federais (GPFs) em relação à economia do estado e entorno do PTC foi realizada a partir dos dados coletados nas entrevistas realizadas com os gestores das instituições que estão diretamente ligadas às ações do programa. No que segue, serão salientadas 220 as principais informações coletadas sobre o impacto da PTC para o desenvolvimento de Sergipe. Para a SEPLAN/SE, o PTC tem fortalecido a infraestrutura produtiva do estado ao apoiar vários programas, tais como: o de construção de armazéns de grãos, casas de mel e beneficiadoras de milho no Alto Sertão Sergipano; a construção de três casas de farinha no Território do Baixo São Francisco e de uma Beneficiadora de mandioca, em processo de licitação, no Território do Sertão Ocidental; na construção de um Mercado Atacadista no município de Poço Verde e ao promover capacitações em diferentes áreas e apoio na assistência técnica e extensão. O MDA, que está envolvido em várias das principais ações ligadas ao PTC, enfatizou ações já executadas ou parcialmente executadas até o momento, a saber: a assistência social, técnica e jurídica às famílias acampadas; a assistência técnica e a capacitação de assentados; a assistência técnica e a extensão rural (ATER) para mulheres rurais; a assistência técnica e a extensão rural (ATER) para os Quilombolas; a ATER para agricultores familiares; a concessão de crédito para a instalação de famílias assentadas; o crédito PRONAF; a disponibilização de insumos para a agricultura familiar; a elaboração do Plano Safra Territorial; a implantação de casas digitais rurais; o licenciamento ambiental de assentamentos da reforma agrária; a obtenção de terras para o assentamento de trabalhadores rurais; a organização produtiva das mulheres trabalhadoras rurais; o programa Arca das Letras e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). No que diz respeito à avaliação das instituições sobre a melhoria dos indicadores de saúde, saneamento e acesso à água, bem como às melhorias nos indicadores da educação e da cultura no estado e das populações no entorno onde estão localizadas as ações do PTC, verificou-se a existência de algumas divergências entre a avaliação de duas instituições. Para a CODEVASF, as ações destinadas a melhorar o fornecimento de água potável apresentam resultados positivos e mensuráveis. Em sua avaliação essas ações proporcionaram uma melhora na qualidade de vida das populações localizadas a 15 km do rio São Francisco. Além disso, os efeitos positivos das ações de saneamento básico e da coleta e tratamento de resíduos sólidos decorrentes dos projetos de compostagem contribuem para a racionalização no tratamento do lixo com a existência de aterro 221 sanitário, bem como para geração de emprego e renda através do reaproveitamento de resíduos sólidos nos aterros sanitários. Já sob a ótica da SEPLAN/SE, os programas direcionados, sobretudo, para as áreas de saneamento e educação tiveram um índice de execução abaixo do estimado e que por isso precisam ser reavaliados. Quanto aos programas para a educação no campo, a SEPLAN/SE avalia que os baixos índices de execução são um reflexo da ineficiência das administrações municipais. REFLEXÕES E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICAS Reflexões e proposições de políticas sobre o PAC Como visto na seção anterior, ainda é muito cedo para se fazer uma avaliação precisa dos impactos dos investimentos do PAC na economia sergipana. Contudo, avalia-se que para que estes surtam os efeitos desejáveis na promoção do desenvolvimento do estado, as fases de operacionalização e de gestão dos projetos precisam ser acompanhadas por políticas de coordenação capazes de oferecer respostas eficientes aos problemas identificados em sua fase de execução, bem como aos fenômenos que têm historicamente obstado o desenvolvimento do estado, a exemplo da forte dependência do processo de acumulação de capital estadual frente aos investimentos originários do Estado nacional e de outras regiões e da concomitante baixa integração dos capitais locais nos investimentos destinados ao desenvolvimento da base industrial do estado. Várias são as linhas apontadas como empecilhos para o bom andamento do PAC no território nacional e na economia sergipana, daí as mais amplas proposições de políticas públicas que foram recolhidas nas entrevistas feitas com os representantes das instituições responsáveis pela gestão ou acompanhamento dos projetos financiados pelo PAC em Sergipe. Embora as proposições levantadas apresentem um grau de convergência, algumas delas estão mais diretamente ligadas às percepções dos interlocutores estruturadas a partir de seu campo específico de atuação e das funções que desempenham. Entretanto, a efetiva implementação e transmissão dos efeitos positivos do PAC para o território sergipano ainda é obstada por fatores que requerem atenção, tais como a ausência de investimentos em outras áreas de infraestrutura e logística, 222 a melhoria dos fatores de competitividade sistêmica e a introdução de demandas específicas regionais e não apenas eixos de investimentos transversais, bem como a melhoria da gestão e acompanhamento dos projetos do PAC8. Para a Secretária de Estado do Planejamento, Habitação e do Desenvolvimento Urbano de Sergipe, Maria Lúcia de Oliveira Falcón, é necessário implementar políticas públicas de distribuição de renda, mudar o perfil industrial de Sergipe, desconcentrar intra-regionalmente as atividades produtivas do estado, universalizar o caráter republicano da máquina e da política pública estadual. Ela também destaca a necessidade de alocar investimentos para a ampliação do porto com a colocação de equipamentos que trabalhem com contêineres; para a ampliação do aeroporto de Aracaju e a criação do aeroporto em Canindé, para facilitar o escoamento da produção; para a duplicação da BR235, para escoar a produção da Bahia pelo porto e a necessidade de políticas públicas voltadas para a setorialização e por fim ampliação da capacidade energética. Como o entendimento para a ampliação e melhoria das políticas públicas está atrelado aos interesses representados, a Associação Empresarial e Comercial de Sergipe (ACESE)9 aponta a reforma tributária como o principal entrave para a melhoria do ambiente econômico sergipano, mas também indica outras linhas necessárias de políticas públicas. Ele também apresenta as seguintes considerações e sugestões de políticas: A economia sergipana também apresenta outros gargalos como os presentes nas linhas de financiamento específicas para atender determinados segmentos (porte, tipo de produto); na qualificação da mão de obra, inclusive na construção civil, e os provocados pela baixa de diversidade de produtos, que dificulta o acesso a novos mercados e que também implica na abertura de novos campos de investimento; Para o Prefeito do Município de Maruim10, as potencialidades locais devem ser mais estimuladas e exploradas em linha com a ideia do desenvolvimento local o que incluiria: 8 Ver também Quadro 7 na Nota Técnica 11 do BNDES– Hansen et al., 2010b. O entrevistado foi o Gerente Executivo da ACESE, Ben-Hur Neres de Barros. 10 Gilberto Maynard. 9 223 a identificação da vocação das pessoas da comunidade: como cada município apresenta potencialidades específicas, deveria-se dividir a economia em setores e voltar os investimentos para a capacitação de pessoas, promovendo assim o desenvolvimento da economia local. De um modo geral, avalia-se que, para obter sucesso, a adoção de programas de investimentos em infraestrutura, como é o caso do PAC, precisa contar de forma simultânea com mecanismos de coordenação de acompanhamento e de gestão dos projetos, sem os quais tenderá a se afastar de seus objetivos. Além disso, os programas de investimentos em infraestrutura precisam ser acompanhados por políticas públicas que permitam a sua plena adoção, sem criar restrições impositivas, sobretudo nas diretrizes macroeconômicas. No caso brasileiro, deve-se evitar o choque de interesses entre os princípios norteadores da adoção do Plano de Aceleração do Crescimento e as políticas econômicas, sobretudo a monetária e a cambial. Reflexões e proposições de políticas sobre o PDP Apesar da PDP ser considerada de grande importância para estimular o desenvolvimento produtivo do Estado, os representantes da classe empresarial apontam que o grande problema é a dificuldade de acessar os instrumentos da PDP, o que ocorreria, sobretudo, devido à falta de conhecimento, por parte do setor produtivo, sobre a existência dos mais de 800 instrumentos. Em diálogos mantidos entre os representantes da classe empresarial com os gestores da PDP foram solicitadas medidas direcionadas para a organização das informações referentes aos instrumentos das políticas públicas, de forma que os empresários possam identificar aqueles que são mais adequados para o seu caso, o que possibilitaria uma maior aproximação entre a PDP e o setor produtivo. A grande dificuldade da PDP para atingir um número significativo de empresas pertencentes aos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais identificados em Sergipe, é o alto grau de informalidade de tais empreendimentos. Para que tais empresas possam usufruir da grande maioria dos benefícios concedidos através da PDP, fazem-se necessários programas voltados ao estímulo 224 da cultura empresarial, voltados para os micro e pequenos empresários, bem como pacotes de estímulos à formalização de suas atividades11. Reflexões e proposições de políticas sobre o PTC Sobre o PTC, ainda com base no questionário aplicado, frente à solicitação de que apresentassem uma visão crítica sob a forma de sugestões a respeito de políticas públicas que poderiam ser implementadas com o fim de aprimorar os Grandes Projetos Federais de modo a aumentar seu impacto no desenvolvimento regional e local de Sergipe, os entrevistados apresentaram algumas sugestões 12 sintetizadas no que segue. O representante da Empresa de Desenvolvimento Sustentável do Estado de Sergipe (PRONESE) destacou a necessidade de desenvolver políticas baseadas em novas pesquisas e que repercutam na agricultura familiar de Sergipe. Ele também sugeriu a implementação de um maior compartilhamento de projetos entre as secretarias de Estado e os Ministérios de modo a possibilitar que as políticas convirjam na mesma direção, sendo necessário, portanto, maior integração entre as políticas e programas estabelecidos pelas instituições que participam do Conselho de Ações do Estado de Sergipe (CAE). Além disso, salientou a importância do desenvolvimento de estratégias que estimulem as instituições a pensarem coletivamente a estrutura de processos produtivos, bem como pensarem num crescimento ordenado das pequenas e médias cidades. Seguindo a mesma linha, a representante da Secretaria de Estado do Planejamento, Habitação e do Desenvolvimento Urbano (SEPLAN/SE) acrescentou que o impacto no desenvolvimento Territorial, local ou regional dos Grandes Projetos Federais terá maior efeito quando seu planejamento considerar os projetos implementados como complementares e não como projetos individualizados, reforçando, assim, a afirmação de que a articulação entre as instituições e a integração das políticas deve ser perseguida pela Coordenação do PTC. 11 Ver o Quadro 8 na Nota Técnica 11 do BNDES– Hansen et al. (2010b). O Quadro 9 da Nota Técnica 11 do BNDES – Hansen et al. (2010b) traz uma mostra mais completa das sugestões apontadas para o PTC. 12 225 Por fim, as sugestões apontadas pelo MDA dizem respeito à construção de uma estratégia estadual para feiras, a construção de escolas no campo que permitam o acesso a bibliotecas, e maior articulação das políticas públicas através de grupos de trabalhos nos colegiados e nos ministérios. CONSIDERAÇÕES FINAIS A retomada da preocupação com o crescimento econômico levou o Governo Federal a lançar o Programa de Aceleração do Crescimento em 2007, tendo por fim não apenas atingir aquele objetivo, mas também o de reduzir as desigualdades regionais e de ampliar a inclusão social. Com isto, a geração de externalidades produtivas e de redução das mazelas sociais poderão mostrar que a agenda de decisão das políticas econômicas não deve ter como única meta a estabilidade monetária, mas um caráter multidimensional onde o desenvolvimento econômico e social seja o fim de qualquer projeto de Nação. O PAC é uma tentativa, embora contraditória com a política monetária e cambial, de recolocar o Brasil numa trajetória de crescimento e desenvolvimento econômico, através do fomento das atividades produtivas, da geração de renda e de emprego. Ao longo da história econômica brasileira, os períodos em que o capital financeiro esteve submetido à regulação foram os que apresentaram as maiores taxas anuais de crescimento econômico: 1950-59 – 7,1%, 1960-69 – 6,1%, 1970-79 – 8,9% e caindo após a desregulamentação: 1980-89 – 3,0%, 1990-99 – 1,7% e 2000-09 – 3,3%. Assim, embora existam limitações sobre a indução das atividades econômicas, o PAC representa para as economias estaduais a possibilidade de eliminar gargalos presentes em suas atividades produtivas e de gerar externalidades para o investimento privado. Embora Sergipe ainda sofra com vazamentos de renda inter-regional e intra-regional, os impactos do PAC têm representado fatores de melhoria para o ambiente de investimentos, sobretudo daqueles oriundos da carteira de investimentos do setor de petróleo e gás. Outra atividade que tem se beneficiado de forma significativa com o PAC é a cadeia produtiva da construção civil. Contudo, ao longo de sua implementação e execução têm sido diagnosticados entraves para o seu bom desempenho. Dentre eles ganham destaque as falhas de coordenação e de gestão dos projetos, como é o caso da 226 duplicação da BR101 saída norte de Aracaju que se arrasta por vários anos, ver Hansen et al. (2010a) Além desta questão, embora seus investimentos contribuam para a desconcentração produtiva inter-regional, o PAC tem contribuído negativamente para a manutenção ou reprodução do fenômeno da desconcentração concentrada. Isto porque os maiores núcleos urbanos são os mais contemplados com investimentos de infraestrutura, principalmente os sociais urbanos. Outro problema identificado na pesquisa é a necessidade de sua implementação, dado seu caráter multidimensional, concomitante com outras políticas econômicas de estímulo à atividade econômica, para evitar a volatilidade dos recursos investidos. No caso PDP, verificou-se que sua atuação desencadeou uma dinâmica mais acelerada para o desenvolvimento produtivo do país, desenvolvendo e buscando novos instrumentos que permitam que o setor produtivo brasileiro dê um salto rumo à competitividade. O PDP proporcionou a criação de diversos instrumentos, muitos deles originados em discussões entre os ministérios e o próprio setor produtivo, o que permitiu uma maior adequabilidade dos instrumentos em relação às reais necessidades das empresas, avançando significativamente em relação à política anterior (Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE), que não gerou os resultados esperados. Apesar desta maior aderência entre a nova política de desenvolvimento produtivo e as necessidades das empresas, ainda existe uma lacuna a ser preenchida, que diz respeito à dificuldade de se conhecer todos os instrumentos existentes, para então poder buscar se apropriar dos benefícios por eles gerados. Diante desta situação faz-se necessária a promoção de algumas ações que poderão corrigir as distorções existentes, permitindo a manutenção da PDP no caminho traçado. Verifica-se, então, a necessidade de se desenvolver ações no sentido de facilitar a formalização de um número significativo de empresas que poderiam alcançar patamares econômicos mais elevados, caso pudessem contar com os incentivos da PDP. Outra ação importante é a criação de um portal que permita aos empresários identificar os instrumentos adequados às necessidades de suas empresas. Como sugestão poder-se-ia criar um portal onde as empresas respondessem algumas 227 perguntas-chave (porte, setor, etc.) e o sistema indicasse quais dos instrumentos existentes são os mais adequados para suas necessidades e especificidades. Por fim, o objetivo do PTC, a partir de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável, é o de superar a pobreza e gerar trabalho e renda no meio rural. Em Sergipe, até o presente, os recursos do PTC totalizaram R$ 658.367.213,13. Várias de suas ações já trouxeram benefícios como o fortalecimento da infraestrutura produtiva, construção de casas de farinha, eletrificação rural, assistência técnica e extensão e cursos para promover a inclusão produtiva. No entanto, também se verificou a existência de gargalos como a baixa efetividade das ações decorrente do descumprimento dos compromissos firmados pelos prefeitos dos municípios apoiados. Para melhorar a situação foram indicadas sugestões interessantes, especialmente a ideia de criação de estratégias institucionais comuns de gerenciamento e monitoramento dos projetos em todas as suas fases, o que incentivaria as instituições a ampliar seu papel na coordenação do processo de desenvolvimento no estado e a pensar coletivamente a estrutura de processos produtivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARNEIRO, Ricardo. (2008) Impasses do desenvolvimento brasileiro: a questão produtiva. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, n. 153. Campinas, HANSEN, Dean Lee, et al. 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