OPINIÃO 068 A PAC for all Seasons? Os Primeiros 50 Anos Arlindo Cunha A União Europeia (U.E.) comemora este ano os 50 anos da PAC. Descontando o objectivo último da construção de uma paz duradoura e de uma estabilidade económica e social no Velho Continente, um dos maiores sucessos do projecto de integração europeia, a par do Mercado Único e do Euro, foi indiscutivelmente a criação e funcionamento da Política Agrícola Comum (PAC). Foi precisamente pela agricultura que começou a concretização da União Aduaneira, que consubstanciava naquela época a essência do projecto da Comunidade Económica Europeia (CEE). Não é difícil entender tal prioridade numa Europa que tinha o seu aparelho produtivo agrícola em grande parte destruído, que tinha que recorrer sistematicamen- te às importações e à ajuda alimentar americana para assegurar a sobrevivência das suas populações, e que tinha mais de um quarto da sua população ativa no setor. Como também não é difícil compreender porque é que numa sociedade tão deficitária em bens alimentares, a PAC nasceu sob o signo proteccionista, pois precisava de encorajar rapidamente a sua produção num contexto de relativa ineficiência estrutural. Por tais razões, a PAC que começou a operar em 1962 consistia numa política de preços de garantia para os principais produtos agrícolas - sempre que estes não conseguissem escoamento no mercado a preços mínimos - e num elevado nível de proteção na fronteira. Os agricultores retiravam, assim, os seus rendimentos da venda dos seus produtos no mercado – mas num mercado condicionado pela proteção externa. O problema é que, com tão generosas condições que quase eliminavam o risco, pouco mais de 10 anos após o seu funcionamento, a PAC começou a gerar produções que o mercado interno não conseguia absorver. Sicco Mansholt, grande líder e animador das negociações que levaram à Conferência de Stres, primeiro Comissário responsável pela Agricultura e justamente considerado o “pai” da PAC, entendeu isso logo no final dessa mesma década, tendo apresentado um plano para a reformar com profundidade. Todavia, a PAC era tão popular entre os agricultores devido ao enorme aumento dos rendimentos que proporcionou nos primeiros anos, que o poder político não teve força para afrontar a contestação dos agricultores, tendo o famoso Plano Mansholt ido parar à gaveta. Temos, assim, que no início da década de 1990, a PAC gastava cerca de metade do seu orçamento a comprar produções excedentárias que o mercado não escoava e outros 50% a livrar-se desses excedentes, subsidiando a sua exportação para países terceiros. Como seria previsível, chegou o momento em que o dinheiro não chegava para sustentar tamanha generosidade. E foi então que em 1992 se fez a primeira grande reforma da PAC desde o seu início, que se traduziu numa mudança radical de modelo: reduzir drasticamente os preços de garantia dos produtos que causavam mais desequilíbrios, baixar proporcionalmente a proteção na fronteira e compensar essa redução de preços com ajudas diretas aos produtores, que eram baseadas nas superfícies cultivadas e no respetivo efetivo pecuário. Esta reforma foi aprofundada em 1999, 2003 e 2008. PATRIMÓNIO 069 Em consequência do processo de reformas, acabaram-se os excedentes, os subsídios à exportação e as compras públicas quase terminaram, a produção e as exportações aumentaram e o rendimento dos agricultores subiu. A PAC da atualidade tem muito pouco a ver com a que se iniciou em 1962, com mais de dois terços do seu orçamento a ser destinado a ajudas diretas aos agricultores e um terço ao desenvolvimento rural. A agricultura continua a ser um pilar central do projeto europeu, quer para garantir um povoamento ordenado do território, quer para preservar paisagens, valores e património construído e ambiental, quer para continuar a garantir a segurança e regularidade dos abastecimentos agroalimentares, quer ainda para contribuir mais para colmatar o défice alimentar mundial. Por tal razão, a PAC continua a ter total razão de ser. Todavia, para ser capaz de responder aos desafios de hoje, tem que continuar a evoluir. Foi neste sentido que a Comissão Europeia apresentou no ano passado as suas propostas para a reforma desta política após 2013. Reforma essa que vai no sentido de uma maior equidade no apoio a conceder entre os diferentes tipos de agricultura, entre regiões, entre países e entre agricultores. SABIA QUE… A Francesinha nasceu há 60 anos n’ ”A Regaleira?” É, a par das famosas tripas, um dos petiscos mais carismáticos de uma cidade que faz da boa mesa um dos principais trunfos da sua hospitalidade. Falamos, é claro, da Francesinha, que este ano completa 60 anos desde que Daniel David Silva, ex-emigrante em França e então empregado do restaurante “A Regaleira”, decidiu criála, inspirado na tosta francesa conhecida por “croque-monsieur”. Diz quem sabe que o principal e mais precioso “segredo” reside na compo- sição do molho que envolve esta iguaria tão apreciada e conhecida não só em Portugal como até internacionalmente. Afinal, não é impunemente que, em 2011, foi considerada uma das 10 melhores sanduíches do mundo pelo New York Times e pelo Aol Travel, um megasite norte-americano especializado em destinos turísticos e lazer, que, com alguma piada, assinalava a ostentação do diminutivo de uma sanduíche “de babar” que - segundo a sua própria expressão - de “pequena tem muito pouco”. É, a par das famosas tripas, um dos petiscos mais carismáticos de uma cidade que faz da boa mesa um dos principais trunfos da sua hospitalidade.