COMISSÃO DE MINAS E ENERGIA 53ª Legislatura – 1ª Sessão Legislativa Ordinária ATA DA DÉCIMA QUARTA REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA REALIZADA EM 9 DE MAIO DE 2007 Às dez horas e quinze minutos do dia nove de maio de dois mil e sete, reuniu-se ordinariamente a Comissão de Minas e Energia, no Plenário 14 do Anexo II da Câmara dos Deputados, com a presença dos Senhores Deputados José Otávio Germano, Presidente; Neudo Campos e Vitor Penido, Vice-Presidentes; Airton Roveda, Andre Vargas, Arnaldo Jardim, Carlos Alberto Canuto, Carlos Alberto Leréia, Edmilson Valentim, Eduardo Gomes, Ernandes Amorim, Fernando Ferro, Julião Amin, Luiz Paulo Vellozo Lucas, Marcio Junqueira, Marcos Medrado, Paulo AbiAckel, Rogerio Lisboa, Simão Sessim, Vander Loubet e Vicentinho Alves, Titulares; Chico D’Angelo, Edinho Bez, Edson Aparecido, João Matos, Luiz Bassuma, Nelson Meurer, Rodovalho e Urzeni Rocha, Suplentes. ABERTURA: O Senhor Presidente comunicou o início da Audiência Pública, que visava ao debate sobre os gargalos do licenciamento ambiental no Brasil, com enfoque nos empreendimentos do setor elétrico de interesse nacional, em atendimento aos Requerimentos nºs 40 e 51, de 2007, de autoria dos Deputados Rogerio Lisboa e João Pizzolatti, respectivamente. O Senhor Presidente informou que, para tanto, haviam sido convidados os Senhores João Paulo Ribeiro Capobianco, Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente; Nelson José Hubner Moreira, Secretário-Executivo do Ministério de Minas e Energia; Jerson Kelman, Diretor-Geral da Agência Nacional de Energia ElétricaAneel; Bazileu Alves Margarido Neto, Presidente Substituto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais-Ibama; Jonas Fonseca, Gerente de Exploração e Produção do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás-IBP; Adjarma Azevedo, Vice-Presidente e Coordenador de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia Elétrica-Abrace; Luiz Fernando Vianna, Presidente da Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica-Apine; Maurício Otávio Mendonça Jorge, Gerente-Executivo de Competitividade Industrial da Confederação Nacional da Indústria-CNI; e a Senhora Alacir Borges, Coordenadora do Comitê de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica-ABCE. O Senhor Presidente cumprimentou os presentes e, em seguida, informou que a lista de inscrição para os debates se encontrava aberta e que o Deputado que desejasse questionar o expositor deveria dirigir-se primeiramente à Mesa e registrar seu nome. O Senhor Presidente acrescentou que o convidado não deveria ser aparteado e que, somente após encerrada a exposição, os Deputados poderiam fazer seus questionamentos. Em seguida, o Senhor Presidente informou haver recebido do Senhor Procurador da República no Estado do Pará ofício sobre o procedimento administrativo aberto contra o Senhor Jerson Kelman, Diretor-Geral da Aneel, sob a alegação de que este havia apresentado nesta Casa sugestão de projeto de lei com a finalidade de suprimir a realização de licenciamento ambiental para projetos de interesse nacional, sugestão essa revestida de caráter de inconstitucionalidade. O Senhor Presidente esclareceu que o Senhor Jerson Kelman não havia encaminhado tal proposta e, após, manifestou repúdio à referida ação do Ministério Público, que considerava se tratar de cerceamento da possibilidade de emissão de opinião pelos participantes de debates na Câmara dos Deputados. Nesses termos, informou o Senhor Presidente, seria enviada resposta àquele Ministério, no sentido de proteção ao Poder Legislativo. Na seqüência, os Deputados Eduardo Gomes e Arnaldo Jardim manifestaram apoio à atitude do Presidente da Comissão, tendo ambos reforçado a opinião de ser imprescindível a preservação das prerrogativas do Poder Legislativo. O Deputado Eduardo Gomes ainda sugeriu que fosse convidado para debates da espécie representante do Ministério Público. Em seguida, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Jerson Kelman, que, iniciando a sua exposição, contestou o procedimento do Procurador da República no Estado do Pará, tendo afirmado que, em Audiência Pública realizada no último dia doze de abril, o que havia sugerido dizia respeito ao aperfeiçoamento da legislação no sentido de se atribuir ao Ibama não a tarefa de aprovar o estudo de impacto ambiental, mas a de desenvolver o referido estudo, quando se tratasse de projeto estratégico, de interesse do País. O Senhor DiretorGeral da Aneel afirmou, ainda, haver manifestado naquela Audiência Pública o entendimento de que a ameaça de enquadramento em crime ambiental que pairava sobre os agentes técnicos dos órgãos licenciadores constituía o entrave básico ao licenciamento ambiental. Na seqüência, o Palestrante declarou que, em relação ao tema sob comento, o Congresso Nacional estava à frente do desafio de conciliar as dimensões ambiental, social, econômica e da segurança energética, para que o País alcançasse o desenvolvimento ambientalmente sustentável. Encerrando a sua exposição, o Senhor Jerson Kelman declarou, ainda, acreditar não ser suficiente questionar o processo de licenciamento ambiental apenas sobre quais os impactos sociais e ambientais provocados pela realização do empreendimento. Na sua opinião, era fundamental a resposta ao questionamento sobre que impactos decorreriam da não-realização desse empreendimento. O Senhor Presidente agradeceu os esclarecimentos prestados e concedeu a palavra ao Senhor Bazileu Alves Margarido Neto, que, inicialmente, apresentou o histórico do licenciamento ambiental federal nos últimos anos, tendo registrado haver crescentes demandas pela agilização desse licenciamento, que era percebido como um processo cartorial. O Palestrante declarou que essa visão não correspondia à realidade, tendo esclarecido que, na verdade, o licenciamento ambiental se tratava de uma profunda análise das condições do empreendimento, dos impactos ambientais por ele provocados e, principalmente, da capacidade de suporte desses impactos pelo meio destinado à sua instalação. O Senhor Presidente Substituto do Ibama prosseguiu discorrendo sobre os aspectos dos conflitos socioambientais e de competências e sobre a judicialização concernentes ao processo do licenciamento. Ao final, o Palestrante tratou das condições imprescindíveis à condução do referido processo de forma mais ágil e com menor grau de conflitos. O Senhor Presidente agradeceu os esclarecimentos prestados e concedeu a palavra ao Senhor João Paulo Ribeiro Capobianco, que iniciou sua apresentação declarando ser o licenciamento ambiental uma questão estratégica para o Ministério do Meio Ambiente e que se tratava de um instrumento de suporte ao desenvolvimento e não de um processo ideológico. Ele acrescentou que ao licenciamento cabia garantir o atendimento aos legítimos interesses da sociedade brasileira e que, para isso, o Governo Federal estava comprometido envidando esforços no sentido de superar as dificuldades impostas pela atual demanda na área ambiental. O Expositor esclareceu, ainda, não existir pressão de setores do Governo para que as respostas da área ambiental a empreendimentos sejam afirmativas, mas para que sejam rápidas. Finalizando, o Senhor João Paulo Ribeiro Capobianco declarou que o Ministério do Meio Ambiente entendia a necessidade de aprimoramento do processo de licenciamento de modo a se atingir rapidez e eficiência que levariam à efetividade no atendimento às demandas da sociedade brasileira em relação à implementação de empreendimentos na área de desenvolvimento. O Senhor Presidente agradeceu os esclarecimentos prestados e concedeu a palavra ao Senhor Nelson José Hubner Moreira, que, inicialmente, afirmou que a questão do licenciamento ambiental no Brasil se ligava à questão energética do País, que possuía uma matriz de fontes renováveis, limpas, invejada mundialmente em razão das atuais discussões em termos das mudanças climáticas. O Secretário-Executivo do Ministério de Minas e Energia ressaltou que, apesar dessa matriz, o Brasil não tinha aproveitado todo o seu potencial energético, em parte devido às questões da sustentabilidade ambiental. O Senhor Nelson José Hubner fez ver, então, a necessidade de se realizar o debate dessas questões num patamar absolutamente técnico, bem como se elaborar um planejamento energético com vistas a se alcançar equilíbrio entre as variáveis econômica e ambiental. Ao final, o Palestrante apresentou sugestões para se atender a demanda crescente por licenciamento ambiental no País, tendo defendido o fortalecimento do Ibama e dos órgãos ambientais nos Estados. O Senhor Presidente agradeceu os esclarecimentos prestados e, concedendo a palavra ao Senhor Maurício Otávio Mendonça Jorge, este abordou aspectos do diagnóstico da situação do licenciamento ambiental, destacando a insegurança jurídica decorrente da subjetividade do processo e defendeu o planejamento e a existência de regras claras como solução para o sistema de que se trata. Finalizando, o representante da CNI afirmou se constituir um desafio o aperfeiçoamento do que já existia em termos de gestão do licenciamento e declarou estar a Confederação Nacional da Indústria disposta a participar de forma construtiva no sentido de aprimorar a legislação pertinente ao tema. O Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Jonas Fonseca, que manifestou a preocupação do IBP em relação à possibilidade de perda de investimentos na área de petróleo e gás, em decorrência dos entraves no processo de licenciamento, que elevariam sobremaneira os custos para as empresas investidoras. O Expositor afirmou que, se atendida a Agenda Comum MMA/Ibama/IBP, seria evitada a fuga de investimentos do País. Em seguida, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Adjarma Azevedo, que afirmou que o problema relativo à questão ambiental dizia respeito ao aspecto de gerenciamento e apresentou pontos a considerar para acelerar e viabilizar investimentos em infra-estrutura. Na seqüência, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Luiz Fernando Vianna, que apresentou os dez gargalos do licenciamento ambiental no setor elétrico discutidos no Fórum das Associações para o Meio Ambiente, tendo apontado causas e propostas de solução dos problemas. Logo após, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Alacir Borges, que abordou propostas de regulamentação para agilizar o licenciamento ambiental: regulamentação do artigo 231 da Constituição, no que diz respeito ao aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas; regulamentação do artigo 23 da Constituição, para fixar normas de cooperação e definir as competências de cada ente federativo nos processos de licenciamento ambiental; e regulamentação da compensação ambiental da Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza-SNUC. Concedida a palavra ao Deputado Rogerio Lisboa, Autor de um dos Requerimentos que haviam dado origem à Audiência Pública, este indagou sobre a possibilidade de se criar um programa de certificação de empresas que, eventualmente, realizassem estudos de impacto ambiental. O Parlamentar também apresentou sugestão para que, nos casos de grandes empreendimentos, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente participassem do processo de licenciamento desde o início, evitando, assim, problemas que seriam detectados somente na finalização dos procedimentos. Ele afirmou se tratar a sugestão de idéia exposta pelo Deputado José Otávio Germano, Presidente da Comissão. Debateram, ainda, a matéria os Deputados Arnaldo Jardim, que indagou sobre a morosidade do processo de licenciamento, o diálogo com o Poder Judiciário e a mudança do padrão energético do País, a partir da inclusão de fontes de energia suja na próxima rodada do leilão para contratação de energia futura; Marcio Junqueira, Ernandes Amorim e Vicentinho Alves, que levantaram questionamentos acerca da precariedade existente na Região Norte do País em relação ao atendimento às necessidades da população na área energética; Airton Roveda, que manifestou preocupação com os entraves ao licenciamento advindos da atuação do Ministério Público e de algumas organizações não governamentais; e Fernando Ferro, que afirmou haver necessidade de reestruturar o Ibama, fortalecendo a sua estrutura. O Parlamentar afirmou, ainda, que o Ministério Público deveria participar das discussões sobre as limitações legais impostas aos empreendimentos hidrelétricos. Encerrados os debates e concedida a palava aos Expositores, para respostas às indagações formuladas e apresentação das considerações finais, o Senhor João Paulo Ribeiro Capobianco esclareceu que o modelo de licenciamento praticado no Brasil se baseava na relação de dependência e isenção entre os atores, cabendo ao empreendedor a responsabilidade pela elaboração do estudo do impacto ambiental a partir de um termo de referência criado pelo Poder Público, que só participava da análise do referido estudo, razão por que não seria possível a atuação do Ibama no início do processo, conforme previsto na legislação brasileira. O representante do Ministério do Meio Ambiente acrescentou que, do ponto de vista da decisão, um dos entraves residia na questão da subjetividade, que poderia conduzir à necessidade de complementação, situação agravada pelo fato de ser o técnico responsável pela análise do estudo passível de processo judicial, sem defesa pelo Estado, o que gerava instabilidade na tomada de decisão, afetando os prazos. Sobre a certificação de empresas para realizarem o estudo de impacto ambiental, o Senhor João Paulo Ribeiro Capobianco afirmou que a solução poderia estar na certificação de consultores que auxiliariam os empreendedores no momento da elaboração do referido estudo. Finalizando, o Expositor declarou não considerar possível o diálogo com o judiciário durante o desenvolvimento do processo. Em seguida, o Senhor Jerson Kelman reafirmou a necessidade da visão holística sobre o processo do licenciamento e declarou considerar imprescindível a participação do Ibama no início do processo de licenciamento, acrescentando que, se existe impedimento legal para isso, que fosse modificada a legislação. ENCERRAMENTO: Nada mais tendo havido a tratar, o Senhor Presidente encerrou os trabalhos às quatorze horas e vinte e cinco minutos. E, para constar, eu, ____________________ Damaci Pires de Miranda, Secretária, lavrei a presente Ata, que, depois de aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e encaminhada à publicação no Diário da Câmara dos Deputados. ____________________ Deputado José Otávio Germano, Presidente.