1 Levantamento dos custos do dispositivo intravascular periférico na composição dos valores da internação em uma unidade pediátrica – um estudo quantitativo MARTINS TSSa, SILVINO ZRb Survey of the costs of Peripheral the Intravascular Device in the composition of the values of the internment in a pediatric unit – quantitative study RESUMO Trata-se de um estudo sobre os custos do Dispositivo Intravascular Periférico (DIP) na internação em Pediatria. Pesquisa do tipo exploratória-descritiva com tratamento quantitativo dos dados. Após a coleta de dados, os mesmos foram analisados estatisticamente e categorizados em: Perfil Demográfico e Epidemiológico das Crianças internadas na Enfermaria de Pediatria do Hospital Universitário; Os Custos do DIP no Processo de Hospitalização em Pediatria no hospital; e os Custos do DIP na composição da remuneração final das internações pediátricas pagas pelo SUS. Conclui-se que a maioria das crianças internadas era do gênero masculino e residentes fora do município de localização do hospital. Foi utilizada uma média de 27,3 DIP por criança, sendo a principal causa de falha infusional a flebite. A média de permanência do DIP foi de 72 horas. Devido ao elevado quantitativo de DIP utilizado, os gastos do mesmo em relação ao valor da internação pagos pelo SUS variaram em 52% da amostra entre R$25,00 a R$100,00. Espero que tal pesquisa propicie modificações na prática assistencial dos enfermeiros pediátricos e neonatologistas, além de contribuir com estudos relacionados ao custo hospitalar não só no que concerne aos dispositivos venosos, mas principalmente nos custos oriundos de uma internação prolongada. Palavras chave: Cateterismo periférico; Economia da saúde; Cuidados de enfermagem; Enfermagem pediátrica. ABSTRACT This is a study about the costs of DIP -Dispositive Intravascular Peripheric - in pediatrics internment units was raised. Research is characterized as exploratory – descriptive and also quantitative because it aimed to analyze data. After the data collection, the data was analyzed and categorized in: demographic and epidemiologist profiles of interned children to a pediatric medical ward in an university hospital; the costs of DIP in the process of pediatrics hospitalization; and the costs of DIP paid for pediatrics internment by SUS. Therefore the majority of interned children was male children and living out the city where the hospital is located. An average of 27,3 DIP per child was used, related to the main cause of infusion imperfection an phlebitis. The period of DIP permanence was 72 hours. Because of the high use of DIP, the expenses in relation to the internment paid by SUS varied in 52% of the sample between R$25,00 to R$100,00. I hope that research propitiate alterations in practice health of the nurse practitioner pediatric and neonatologist , aside from add up along studies appurtenant to the cost hospital not only at the than it is to concert to the venous catheter , but chiefly at the costs from a internment elongated. Keywords: Peripheral catheterization; Health economy; Nursing cares; Pediatric nursing a Relatora. Mestre em Enfermagem Assistencial – UFF. Enfermeira do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Professora da Universidade Estácio de Sá. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cidadania e Gerência na Enfermagem – NECIGEN. End. Rua Jorge Rudge 14 aptº 1008 – Vila Isabel RJ, CEP 20550 220. E-mail: [email protected] b Orientadora. Professora Titular em Administração em Enfermagem da UFF. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora da FAPERJ. Docente do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde e do Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial. 2 INTRODUÇÃO Nos últimos anos tem crescido entre as autoridades responsáveis pela definição de políticas e investimentos de saúde a preocupação com a efetividade e o custo das ações de saúde. Embora as preocupações tradicionais com a qualidade da assistência à saúde, a cobertura e o acesso aos serviços permaneçam importantes, cada vez mais os responsáveis pelas decisões no setor, seja no âmbito público ou privado, devem se preocupar em obter o melhor resultado possível com os recursos disponíveis. Isto se deve principalmente a três fatores: a tendência sempre crescente dos custos da saúde frente a recursos sempre limitados; a crescente pressão de usuários e consumidores cada vez mais organizados e exigentes; e a identificação de muitas fontes de desperdícios na organização e prestação de serviços de saúde 1. Esta tendência se traduz primeiro pela aplicação crescente de técnicas econômicas de avaliação como a Análise Custo-Benefício e a Análise Custo-Efetividade. Estas técnicas consistem basicamente em confrontar os custos de uma intervenção ou programa de saúde com o impacto ou benefício obtido. Quanto maior a relação Impacto/ Custo, mais o programa será eficaz sob o ponto de vista econômico. Estas técnicas são cada vez mais utilizadas na alocação de recursos entre programas alternativos, e para avaliar o mérito de intervenções específicas, protocolos de tratamento, tecnologias ou medicamentos 2. Neste contexto, como Enfermeira pediatra me inquietava visualizar o comportamento de dor em decorrência de punções de repetição, pois, se por um lado, a punção venosa e a infusão de líquidos específicos eram imperiosas; por outro, a dor no momento da punção e as iatrogenias decorrentes da demanda do procedimento e sua manutenção, causavam desconfortos e alterações de ordem sensorial, emocional, física e psíquica 3. Observei o quanto é complicado o processo de adaptação entre pais e crianças internadas, devido à nova condição a que as mesmas eram submetidas. A não interação dos pais com a equipe, sobretudo a de enfermagem, pois é ela que mais interage diretamente com a criança, aliada à grande tecnologia de ponta, podem determinar a não adesão dos pais ao tratamento, dificultando, certamente, a efetiva recuperação dos seus filhos 4. Quando os pais são atendidos em suas necessidades de forma adequada, eles participam ativamente nos cuidados de seus filhos hospitalizados beneficiando tanto a criança quanto a família4. Entretanto, percebo que mesmo os pais que foram devidamente orientados, no momento da internação ou nas etapas subseqüentes, demonstram temor, ansiedade e 3 nervosismo. Acredito que a analogia que os pais fazem entre o procedimento invasivo e a dor, somados ao choro da criança, talvez seja a explicação para determinado comportamento. Durante a minha prática assistencial comecei a observar como a punção venosa era estressante para a criança. A mesma associava aquele momento à dor e ao sofrimento, para a família, que na maioria das vezes já se encontrava esgotada devido aos procedimentos realizados durante a internação e também para o profissional de enfermagem que, entre outros motivos, encontrava-se cansado devido à carga horária de trabalho e acabava tendo insucesso nas tentativas de punção venosa. As várias tentativas para se conseguir um acesso periférico acarretavam: aumento do estresse em todos os participantes envolvidos naquele momento, desperdício de material, visto que a cada tentativa de punção venosa se usa um dispositivo intravascular periférico, aumentando também a possibilidade de riscos às infecções. Desta forma tive por objetivos: Levantar os custos do Dispositivo Intravascular Periférico utilizado durante a internação em uma unidade pediátrica; Identificar as causas de substituição do Dispositivo Intravascular Periférico nos acessos venosos durante a internação em uma unidade pediátrica; Correlacionar o custo do Dispositivo Intravascular Periférico na composição da remuneração final das internações pediátricas pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Tal pesquisa torna-se relevante por oferecer a partir de seus resultados subsídios aos administradores hospitalares permitindo-lhes criar estratégias para gerenciar a redução dos custos com acessos venosos e garantir assim a melhoria da qualidade da assistência prestada, no que tange não só a realocação de recursos economizados nessa esfera, mas também na redução do estresse gerado ao cliente, acompanhante e equipe de enfermagem. Este estudo foi extraído da dissertação de mestrado em enfermagem, aprovada em novembro de 2007 no Programa de Mestrado Profissional Assistencial em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense. METODOLOGIA Toda pesquisa deve basear-se em uma teoria, que serve como ponto de partida para a investigação bem sucedida de um problema. A teoria, sendo instrumento de ciência, é utilizada para conceituar os tipos de dados a serem analisados. Para ser válida, deve apoiar-se em fatos observados e provados, resultantes da pesquisa. A pesquisa dos problemas práticos pode levar á descoberta de princípios básicos e, freqüentemente, fornecer conhecimentos que tem aplicação imediata 5. 4 Assim, este estudo trata-se de uma pesquisa de campo do tipo exploratória descritiva com tratamento quantitativo dos dados. A coleta de dados foi realizada na enfermaria de pediatria do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) localizado no município de Niterói, constituída por 17 leitos, sendo 05 para lactentes (faixa etária 45 dias a 1 ano e 11 meses), 06 para pré-escolar (faixa etária 2 a 5 anos e 11 meses) e 06 para escolar (faixa etária de 6 a 11 anos e 11 meses) e adolescente (faixa etária 12 a 17 anos e 11 meses). Foi utilizado um instrumento denominado ficha de controle do cliente com acesso venoso periférico. A população do estudo foi formada por 19 crianças de 1 mês a 14 anos internadas na Enfermaria de Pediatria no período de novembro de 2006 a abril de 2007. Como critério de inclusão na amostra, as crianças deveriam ter como pré-requisito a necessidade de terapia medicamentosa por via endovenosa por um período superior a sete dias e ter o aceite do seu responsável em participar da pesquisa. Foram excluídas da amostra as crianças com doenças hematológicas. O cliente só participou do estudo se, após a orientação do seu responsável este manifestasse aquiescência, com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; tal documento foi preenchido em três vias: uma para o prontuário, uma para o cliente e outra para o pesquisador. Está pesquisa teve as bases éticas e legais atendendo as determinações da Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece as Diretrizes e Normas de pesquisa envolvendo seres humanos 6. Aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF, sob nº. 071/06. Antes de iniciar a coleta de dados foi realizado um treinamento em serviço com as 06 (seis) equipes de enfermagem, tal atividade teve como finalidade informar os objetivos do trabalho e solicitar a colaboração de todos para uma evolução de enfermagem minuciosa constando qualquer intercorrência com o acesso venoso do cliente participante da pesquisa. Orientações dadas no treinamento: a) toda criança que fizesse parte da pesquisa teria um aviso no quadro localizado no posto de enfermagem; b) toda perda de acesso venoso deveria ser relatada, constando o motivo da perda e quantificação das tentativas necessárias para puncionar um novo acesso, usando a cada tentativa um novo dispositivo e nunca reaproveitando o mesmo; c) especificação do local de inserção do dispositivo (ex: dorso da mão direita) e tipo de dispositivo utilizado. 5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA A presente pesquisa foi desenvolvida para atender os requisitos de uma dissertação de mestrado, em que os prazos são definidos independentemente do pesquisador. Na época da coleta de dados houve interdição da enfermaria devido a um surto de varicela, houve greve dos residentes médicos e até uma obra emergencial devido ao rompimento de uma tubulação de esgoto que se encontrava localizada dentro do posto de enfermagem. Devido ao tamanho da amostra, não é possível generalizar os dados, mesmo nesse cenário de estudo. Destaca-se que no valor repassado pelo SUS ao hospital, de acordo com a doença apresentada pela criança, outros insumos e serviços estão incluídos nesse valor, contudo o foco da pesquisa evidenciou apenas o custo do DIP em relação ao valor pago pelo SUS. RESULTADO E DISCUSSÕES Os dados oriundos da coleta de dados foram tratados estatisticamente e organizados em três categorias: I. Perfil Demográfico e Epidemiológico das Crianças internadas na Enfermaria de Pediatria do HUAP; II. Os Custos do DIP no Processo de Hospitalização em Pediatria no HUAP; e III. Os Custos do DIP na composição da remuneração final das internações pediátricas pagas pelo SUS, os quais são apresentados a seguir. I. Perfil Demográfico e Epidemiológico das Crianças internadas na Enfermaria de Pediatria do HUAP Quanto à procedência das crianças, dos 19 (100%) clientes que compuseram a amostra da pesquisa 06 (31,5%) eram do município de São Gonçalo, 05 (26,3%) do município de Itaboraí, 05 (26,3%) do município de Niterói e 01 (5,2%) do município de Cachoeira de Macacu, Queimados e Nova Iguaçu, respectivamente. Observa-se que, embora o Hospital Universitário Antônio Pedro se localize no município de Niterói, a maioria dos pacientes era de outros municípios. Tal fato se explica pela precariedade dos hospitais localizados nessas regiões, acarretando evasão dos pacientes para o município de Niterói, além do HUAP ser o hospital de referência da área Metropolitana II. No que tange à faixa etária podemos constatar que dos 19 (100%) clientes, 32% eram escolares, 31% eram pré–escolares, 21% lactentes e 16% adolescentes. Quanto ao perfil epidemiológico das crianças 63,1% eram do gênero masculino e 36,8% do feminino. Quanto aos principais diagnósticos de admissão, 16% foram de pneumonias, 16% politraumatismos, 11% por osteomielites e outros 11% por sepses. 6 Verifica-se que os tipos de doenças apresentadas pelos clientes requerem uma terapia endovenosa por um período superior a sete dias. Na Figura 1 observa-se a correlação estatística entre a admissão da criança no HUAP, na Enfermaria de Pediatria e a alta hospitalar da mesma. Figura 1. Período de permanência da criança, desde a entrada na emergência Pediátrica, admissão na enfermaria de Pediatria e a alta hospitalar. A diferença entre a admissão no HUAP e na enfermaria ocorre porque o cliente entra primeiramente pela Emergência Pediátrica, onde é realizada a burocracia da admissão e só depois vai para a Enfermaria de Pediatria. A média de dias de internação dos clientes ocorreu da seguinte forma: 33% estiveram internados num período de 07 a 10 dias ou de 21 a 30 dias, respectivamente, 24% estiveram internados entre 11 a 20 dias e 10% estiveram internados num período superior a 30 dias. II. Os Custos do DIP no Processo de Hospitalização em Pediatria no HUAP Nesta categoria são apresentados os custos do DIP, tendo em vista as principais causas da perda de um acesso venoso periférico (Tabela I) e o período de internação. Constata-se que a maior causa de perda do acesso é por flebite. Uma das características da terapia intravenosa é a necessidade de sua manutenção ser condicionada a um tempo de duração determinado pelas condições clínicas do paciente. Este tempo será maior de acordo com a necessidade do paciente, geralmente excedendo o período de 24 horas. A flebite, a infiltração e o extravasamento são as complicações mais 7 freqüentemente relacionadas ao uso de DIP, podendo interferir também em seu tempo de permanência 7;8. Tabela I.Causas de perda dos acessos venosos periféricos Na Figura 2 é demonstrado o número de DIP utilizados durante o período de internação na Enfermaria de Pediatria. É elevado o quantitativo de DIP, pois a equipe foi orientada que a cada tentativa de nova punção deveria ser usado um novo dispositivo, nunca reaproveitando o mesmo. Figura 2. Relação entre os dias de internação e a quantidade de DIP utilizados 8 Na Figura 3 visualiza-se o custo do DIP em relação ao valor repassado pelo SUS para cada tipo de internação, segundo a doença de admissão. Para tal foram utilizados indicadores como: o número de DIP utilizados durante o período de internação na Enfermaria de Pediatria (Figura 2); causas de perda de acesso venoso periférico durante o período de internação na Enfermaria de Pediatria (Tabela I) e os locais de punção venosa efetiva, isto é, o tempo de permanência do dispositivo compreendido entre o início e o término da utilização do mesmo9, tendo em vista o tempo em que o cliente ficou hospitalizado na Enfermaria de Pediatria. Figura 3. Relação entre o total gasto com os DIP e o valor repassado pelo SUS por internação. 9 Dos 19 clientes, 84,2% utilizaram uma média de 27,3 DIP. Esta quantidade algumas vezes excedia o número de dias de internação, pois 50% permaneceram internados entre 7 a 20 dias e 37% entre 21 a 30 dias. Durante o tempo de manutenção da terapia em veia periférica, muitos problemas, denominados como falhas da infusão impedem que a terapia tenha continuidade num vaso venoso, implicando sempre na retirada do dispositivo intravenoso e inserção de um novo dispositivo em outro local 9. Como dito anteriormente, as falhas da infusão são consideradas seqüelas iatrogênicas da terapia intravenosa e as mais observadas são a flebite e o extravasamento ou infiltração 10. Se considerarmos que as falhas da infusão são aquelas que resultam na interrupção da mesma enquanto ela é ainda necessária, a obstrução e a saída acidental do dispositivo intravenoso também constituem falhas da infusão 11. Os dispositivos intravasculares periféricos utilizados neste estudo foram do tipo Jelco® das marcas BD insyte e angiocath. O primeiro é feito de biomaterial vialon, podendo permanecer na veia por, no máximo, 72 horas; já o segundo, é feito de polímero siliconizado, permanecendo na veia até 48 horas 12;13. 10 Assim, quanto às causas de perda de acesso venoso periférico durante o período de internação na Enfermaria de Pediatria é possível afirmar que 63,1% dos clientes tiveram maior perda de acesso venoso periférico causada por flebites, 31,5% tiveram perda de acesso venoso periférico causada igualmente por flebite e por infiltração e 5,2% teve perda de acesso causada apenas por infiltração. Embora o dispositivo intravenoso do tipo cateter plástico sobre agulha apresente menor ocorrência de extravasamento ou infiltração, ele é associado a uma maior ocorrência de flebite, que é a mais importante complicação destes dispositivos. Isto se deve ao fato destes dispositivos permanecerem por maior tempo em uma inserção e ser a flebite, tanto a físicoquímica, quanto à mecânica e a infecciosa, uma complicação ligada ao tempo de permanência de um cateter numa inserção 8. Em estudo sobre o tempo de permanência do DIP 14 , autores verificaram que os cateteres inseridos em crianças permaneceram por um tempo médio de 42,35 horas. Aproximadamente 13% dos 496 cateteres inseridos estudados permaneceram por mais de 72 horas, e 5,7% permaneceram por mais de 96 horas. Nesta pesquisa constatamos que a mediana de permanência do DIP foi de 72 horas, evidenciando que o elevado quantitativo gasto de DIP estava diretamente relacionado à habilidade e técnica de punção da equipe de enfermagem. O Centers for Disease Control (CDC) recomenda a substituição de cateteres como procedimento para prevenir flebite e infecção relacionada ao cateter, fixando o tempo de permanência máxima de 04 dias. Este tempo foi determinado através dos estudos realizados pelo CDC que demonstraram o quanto a colonização bacteriana de cateteres aumenta quando os mesmos são deixados no local por tempo superior a 96 horas 15. Na minha prática, entretanto, tenho observado cateteres que apresentam complicações inflamatórias muito antes deste tempo, como também cateteres que permanecem por maior tempo sem mostrar sinais ou sintomas de inflamação. Além disso, existem situações de pacientes que apresentam poucas veias acessíveis, constituindo-se como um fator de impedimento de nos ater a estas diretrizes. Ocorre que certos grupos de pacientes têm poucas veias viáveis (Ex: pacientes pediátricos e idosos) e assim, as veias puncionadas devem permanecer com o mesmo cateter até a ocorrência de falha, porque a remoção preventiva do mesmo pode trazer mais prejuízos do que benefícios. Quando um local de inserção apresenta sinais de flebite antes que tenha sido decorrido o tempo estabelecido como limite para permanência da mesma, a indicação da remoção do cateter é baseada na presença destes sinais 8. 11 Acredito desta forma que o grande número de DIP utilizados durante as internações foi devido às: falhas infusionais, poucas veias viáveis da clientela pediátrica e falta de um elemento na equipe de enfermagem habilidoso em punções venosas. As conseqüências interferem diretamente na alocação de recursos materiais na unidade, gerando um aumento de consumo. Nesse estudo, destaca-se que os locais efetivos de punção venosa nessa clientela foram 23% realizadas no dorso da mão esquerda, 22% no dorso da mão direita, 13% no antebraço direito, 10% no antebraço esquerdo, 10% na fossa cubital esquerda, 08% na fossa cubital direita, 05% no dorso do pé direito, 04 % na região cefálica, 03% na jugular externa e 02 % no dorso do pé esquerdo. Esses resultados reforçam que o local de fixação do cateter também não demonstrou diferença estatisticamente significante entre outros grupos de estudo, em que a predominância se dá nos antebraços e nas mãos 14. Ao trazer esse tipo de indicador espero que os profissionais de enfermagem observem e reforcem os locais de ocorrência de punção efetiva na clientela pediátrica e que possam assim direcionar melhorar seus esforços para tais regiões anatômicas no momento em que forem realizar punção venosa periférica, pois estará reduzindo custos, estresse e poupando esforços e tempo. III. Os Custos do DIP na composição da remuneração final das internações pediátricas pagas pelo SUS Nesta categoria são apresentados dados que mostram o tempo de internação pago pelo SUS por cada tipo de doença, relacionando-o ao tempo real de permanência de cada cliente (Tabela II e Figura 4), os custos dos acessos venosos durante o período de cada internação e os custos dos DIP quando comparados aos custos da internação. Para tal utilizei indicadores como: o período de internação pago pelo SUS e a real permanência do cliente no HUAP, os custos dos acessos venosos em relação ao que o SUS repassa para o hospital. Tabela II. Relação entre os dias de internação e valor (R$) por tipo de doença preconizado pelo SUS e os dias que efetivamente a criança esteve internada. 12 Figura 4. Relação entre a Permanência da criança no HUAP e a preconizada pelo SUS. Importante esclarecer que o SUS paga para o HUAP o valor da internação pela doença diagnosticada no cliente (a permanência máxima de internação é o dobro de dias estipulado pelo SUS, após esse tempo cobra-se permanência extra; ex: o SUS paga R$ 808,67 por um cliente internado com sepse por 20 dias, depois desse período cada dia a mais de internação o SUS paga R$ 13,28). Só é pago à parte pelo SUS, a infusão de hemoderivados, tomografia 13 computadorizada, procedimentos cirúrgicos, nutrição enteral, nutrição parenteral, albumina, diárias no Centro de Tratamento Intensivo, diárias de acompanhante e permanência extra. No valor pago pelo SUS por cada doença estão incluídos “serviços hospitalares” (todas as medicações, insumos, roupas, almoxarifado e impressos usados durante a internação), “serviço profissional” (todos os profissionais que atenderam aquele cliente durante a internação; exceto anestesista que é pago à parte) e “exames” (todos os exames diagnósticos realizados durante a internação; exceto tomografia computadorizada). O custo do DIP para o hospital é de R$3,20 por unidade, o qual é adquirido após parecer técnico favorável do material e menor cotação no pregão eletrônico que é efetuado pelo Serviço de Compras do hospital. Assim, no que se refere à questão do período de internação pago pelo SUS e a real permanência do cliente no HUAP, constata-se que 100% da amostra deste estudo esteve internada por um período superior àquele preestabelecido pelo SUS como suficiente para a recuperação de determinada doença. Acredito, a partir dos dados apresentados que a tabela de repasse de verbas do SUS encontra-se arcaica e desatualizada no que tange ao tempo máximo de internação para a recuperação das doenças. Desta forma é preciso haver uma reestruturação e remodelagem do modelo de repasse de verbas aos hospitais. Quanto aos custos com acessos venosos oriundos de uma internação superior a sete dias constata-se que em 52% dos casos foram gastos, um valor que variava entre R$ 25,00 e 100,00 com acessos venosos; em 21% dos casos foram gastos, com acessos venosos, um valor superior a R$ 200,00; em 16% dos casos foram gastos um valor inferior a R$ 25,00 e em 11% dos casos, um valor que variava entre R$ 100,00 a 200,00 com acessos venosos. É importante lembrar que quando me refiro aos custos com acessos venosos só está incluído o valor do dispositivo periférico utilizado durante as punções venosas. Figura 5. Custo percentual do DIP em relação ao custo total do valor da internação. 14 A partir dos dados demonstrados anteriormente calculou-se o valor gasto apenas com DIP durante a internação de cada participante da pesquisa. Após, comparou-se esse valor com o valor pago pelo SUS por cada internação e chegou-se a conclusão de que em nenhum caso o valor gasto com DIP ultrapassou o valor pago pelo SUS pela internação, mas em diversos momentos esses valores estiveram bem próximos. Desta forma, entende-se alguns aspectos inerentes ao caos que assola os hospitais públicos, pois, por exemplo, se de um total de 100% pago por uma determinada doença, 31% foram gastos apenas com DIP, sobram 69% para compor os gastos com alimentação, exames, medicamentos e realização de fotocópia de impressos fundamentais a composição de um prontuário, entre outros. Fica evidente o descaso que paira na saúde publica brasileira. CONCLUSÃO Ao terminar este estudo, entendo que o mesmo não traz como intuito tentar explicar as causas da precariedade do setor saúde. 15 O que se pretendeu em uma pesquisa na qual as conclusões emanaram de dados quantitativos, foi à busca de alternativa(s) para a redução de custos tangíveis e intangíveis com acessos venosos. É importante ressaltar que as três categorias evidenciadas neste estudo não são estanques, elas estão intimamente interligadas. Conclui-se que a maioria das crianças internadas era de escolares e pré-escolares e do gênero masculino, residentes foram do município de localização do HUAP, permanecendo internadas em sua maioria por um período de 7 a 10 dias ou de 21 a 30 dias. Foi utilizada uma média de 27,3 DIP por criança, sendo a principal causa de falha infusional a flebite. A média de permanência do DIP foi de 72 horas, evidenciando que o elevado quantitativo gasto de DIP estava diretamente relacionado à inabilidade e falta de técnica de punção da equipe de enfermagem. Devido ao elevado quantitativo de DIP utilizado, os gastos do mesmo em relação ao valor da internação pago pelo SUS variou em 52% da amostra entre R$25,00 a R$100, 00, muitas das vezes representando de 19 até 31% do valor recebido pelo hospital por determinada doença. Diante de todas as considerações apresentadas até o momento acredito que a natureza invasiva dos procedimentos relacionados à terapia intravenosa deve ser a principal preocupação dos profissionais da saúde diretamente envolvidos com a administração de fluídos e medicamentos intravenosos aos pacientes. Assim, o estudo e a pesquisa que tenha como objeto o estabelecimento de medidas profiláticas para o surgimento das complicações decorrentes do uso de cateteres devem avançar no nosso meio, assim como uma preocupação maior com o ensino desses procedimentos nos cursos de nível médio e superior. Se enveredarmos na discussão da importância dos procedimentos de acesso vascular, em particular o periférico, realizado rotineiramente nas enfermarias de todos os hospitais, chegaremos inevitavelmente no campo da ética profissional, e teremos que reconhecer que é preciso dar a esse procedimento um caráter de excelência e rigor que o mesmo requer e que em última análise, é um direito de todo paciente e uma questão de cidadania. Deve ser enfatizada a educação permanente de forma a desenvolver as habilidades técnicas dos profissionais que têm a responsabilidade de prover o acesso venoso periférico. Espero que tal pesquisa modifique de forma efetiva a prática assistencial dos enfermeiros pediátricos e neonatologistas, além de contribuir com estudos relacionados ao custo hospitalar não só no que concerne aos dispositivos venosos, mas principalmente nos custos oriundos de uma internação prolongada. 16 Portanto, urge prosseguir investigando nessa linha teórico-metodológica para favorecer o processo de consolidação da enfermagem como profissão reconhecida e prestigiada pelos seus componentes (os profissionais) e seus dependentes (a população). REFERÊNCIAS 1. Moraes E, Campos M G, Figlie, NB, Laranjeira RR, Ferraz MB. Conceitos introdutórios de economia da saúde e o impacto social do abuso de álcool. Rev. Bras. Psiquiatria. 2006; 28(4):321-325. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbp/v28n4/2304.pdf 2. Couttolenc BF. Por que avaliação econômica em saúde? Rev. Assoc. Med. Bras. 2001; 47(1):18-19. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ramb/v47n1/a22v47n1.pdf 3. Neuman B. 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