Artigo original
Caracterização dos usuários com
esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
dos Centros de Atenção Psicossocial
Characterization of the users with schizophrenia
in Psychosocial Care Centers
Mônica Silva Silveira1, Marlizete Maldonado Vargas2, Francisco Prado Reis3, Patricia da Silva4
Resumo
A rede de Saúde Mental de base comunitária no Brasil ampliou a oferta de serviços substitutivos para a população com
doença mental grave. O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil do usuário com transtornos psicóticos nos Centros
de Atenção Psicossocial do Estado de Sergipe (CAPS-SE). Foi conduzido um estudo descritivo, com análise quantitativa
dos dados sociodemográficos e número de internação. Foram estudados 1.444 prontuários com diagnóstico de transtorno
psicótico e encontraram-se 75,3% deles com diagnóstico de esquizofrenia e 24,7% com outros transtornos psicóticos. Os
usuários com menos de 24 anos representavam 33% dos usuários, enquanto 54% estavam igualmente distribuídos nas
faixas etárias de 25-35 e 35-46 anos. Dos sujeitos com diagnóstico de esquizofrenia, 79,9% eram do gênero masculino e
68%, feminino, mostrando relação significativa entre gênero e diagnóstico. A maioria absoluta dos sujeitos não tem profissão.
Quanto ao número de internações, a diferença entre sujeitos diagnosticados como esquizofrênicos para os portadores de
outros diagnósticos aponta predominância significativa do primeiro grupo na faixa com mais de seis internações. Concluise que entre os usuários dos CAPS é predominante o gênero masculino, com comprometimento importante também na
dimensão profissional.
Palavras-chave: Esquizofrenia, transtorno psicótico, hospitalização, CAPS
Abstract
Community based network of Mental Health in Brazil increased the supply of substitute services for the population with grave
mental disorders. The objective of this study was to characterize the profile of the user with psychotic disorders in Psychosocial
Care Centers (PCC) in the state of Sergipe, Brazil. A descriptive study was carried out by means of a quantitative analysis of
the sociodemographic and number of committal data. In this study, 1,444 patients’ records with psychotic disorder diagnosis
were analysed. It was revealed that 75.3% were diagnosed with schizophrenia and whereas 24.7% with other psychotic
disorders. Users with less than 24 years represented 33% of the subjects, while 54% were equally distributed in the age
groups 25-35 and 35-46 years. It was shown that among the users diagnosed with schizophrenia, 79.9% belonged to the male
gender and 68.7% to the feminine gender. The absolute majority of the subjects have no occupation. Concerning the number
of hospitalizations, the difference between subjects diagnosed with schizophrenia for patients with other diagnoses indicates
significant predominance more than first group in the range of six admissions. It was concluded that among the users of the
PPC with schizophrenia the male gender is prevalent, which also signals impairment towards the professional dimension.
Keywords: Schizophrenia, psychotic disorder, hospitalization, PCC
1
2
3
4
Professora de Psicologia; Psicóloga da Secretaria de Saúde do Município de Nossa Senhora do Socorro (SE). Psicóloga do Serviço Social do Transporte/
Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT) de Aracaju (SE); Mestre em Saúde e Ambiente pela Universidade Tiradentes (UNIT). End.:
Rua Dom Pedro I, 118 – Conjunto Sesc Centenário – Ponto Novo – Aracaju (SE) – CEP: 49097-200 – E-mail: [email protected],
[email protected]
Professora do Curso de Psicologia e Mestrado em Saúde e Ambiente da Universidade Tiradentes. Psicóloga; Doutora em Psicologia
Professor titular; coordenador do Curso de Medicina e membro permanente do Curso Mestrado em Saúde e Ambiente da Universidade Tiradentes
Mestre em Psicologia Social (UFPB); Doutoranda em Psicologia Social (UFBA).
Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (1): 27-32
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Mônica Silva Silveira, Marlizete Maldonado Vargas, Francisco Prado Reis, Patricia da Silva
Introdução
Os transtornos mentais causam considerável impacto
na vida de uma pessoa em termos de morbidade, prejuízos
funcionais e baixa qualidade de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio do estudo Global Burden of
Disease realizado em 54 países na década de 1990, estimou
o impacto das 130 condições médicas mais prevalentes no
mundo em termos de morbidade e mortalidade. Os resultados concluíram que 30,8% dos afastamentos do trabalho por
motivo de doenças são decorrentes de transtornos mentais
(OMS, 2001).
A esquizofrenia, considerada uma das mais graves doenças psiquiátricas, afeta desfavoravelmente a vida dos pacientes
em vários domínios (Salokangas et al., 2001). Sua incidência
universal varia, mas, em geral, afeta entre 0,5 e 1,5% da população adulta. A incidência é comparável em todas as sociedades, estando na faixa de 0,5 a 5% em cada 10.000 pessoas
por ano (Abreu & Gil, 2003). Estudos têm apontado que seus
efeitos podem variar de acordo com o sexo, mostrando maior
comprometimento nos homens quando comparados às mulheres (Cardoso, 2005; Thomas et al., 2010).
A incidência e a prevalência de esquizofrenia mostram variação proeminente entre determinadas regiões. Os homens
são mais suscetíveis de desenvolver a esquizofrenia do que as
mulheres. O status de migrante, comunidade rural ou urbana,
de nascimento ou residência e avançada idade paterna, infecção pré-natal e nutrição estão associados aos fatores de risco
acrescidos no desenvolvimento da esquizofrenia (Mcgrath &
Susser, 2009).
O diagnóstico dos transtornos mentais pode se fundamentar em diversas teorias, algumas enfocam os mecanismos
psicológicos, ambientais ou biológicos. Os parâmetros de
classificação nosológica usualmente utilizados são a Classificação Internacional de Doenças CID-10, elaborada pela OMS
(1993), e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens
Mentais (DSM-IV, 2002).
Segundo o DSM-IV (2002), a esquizofrenia é uma perturbação com duração mínima de 6 meses e inclui no mínimo 1
mês de sintomas da fase ativa, ou seja, 2 ou mais dos seguintes:
delírio, alucinação, discurso desorganizado, comportamento
amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos.
Segundo o CID-10 (1993), os transtornos psicóticos se
agrupam entre esquizofrenia (F20), transtornos esquizotípicos
(F21), transtornos delirantes persistentes (F22), transtornos
psicóticos agudos e transitórios (F23), transtornos delirantes
induzidos (F24), transtornos esquizoafetivos (F25) e outros
transtornos psicóticos não orgânicos (F28) e psicose não orgânica não especificada (F29). Os subtipos da esquizofrenia
são definidos pela sintomatologia mais frequente no momento
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Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (1): 27-32
da avaliação e são classificados em: paranoide (F20.0), hebefrênica (F20.1), catatônica (F20.2), indiferenciada ou residual
(F20.3) e simples (F20.6).
Em levantamento realizado por Medeiros (2005) em todos
os municípios da Paraíba atendidos no Programa de Saúde
Mental em 2004, o diagnóstico prevalente encontrado foi do
grupo F20-F29, com 24,4% de casos, transtornos episódicos e
paroxísticos com 22%; em terceiro lugar, ficou o grupo F40F49, que engloba os transtornos neuróticos relacionados ao
estresse e, por último, transtornos somatoformes, com 19,4%
casos. A amostra não apresenta diferença com relação ao sexo,
mais na faixa etária existe a predominância de 20 a 39 anos.
Há consenso, segundo Silva (2006), em se atribuir a desorganização da personalidade verificada na esquizofrenia
à interação de variáveis culturais, psicológicas e biológicas,
entre as quais se destacam as de natureza genética. Estudos
com famílias, gêmeos e adotados têm indicado a existência
de um componente genético para esquizofrenia. Foi estimado que o componente genético representaria cerca de 70 a
80% da suscetibilidade total para desenvolver a doença. Por
ser um transtorno psicótico prevalente e muito complexo, a
esquizofrenia é, muito provavelmente, um transtorno etiologicamente heterogêneo, isto é, devem existir, por exemplo, casos de esquizofrenia da forma genética e da forma ambiental
(Vallada-Filho & Samaia, 2002).
Os principais fatores de risco dos transtornos mentais
graves são: a história familiar (1º grau) de psicose; personalidade vulnerável (esquizotípica e esquizoide); funcionamento
pré-morbido alterado; antecedentes de traumatismo craniano
(TC) e quoeficiente de inteligência baixo (QI) (Edwards &
Mc Gorry, 2002).
O relatório da OMS, que prevê para 2020 um aumento
de 3% em relação a 2000 nos transtornos mentais e comportamentais que causam incapacidade grave nos portadores,
aponta, como fatores de predisposição, a pobreza, o gênero,
a idade, os conflitos e catástrofes, as graves doenças físicas e
o ambiente familiar e social. Os transtornos mentais já representam quatro das dez principais causas de incapacitação em
todo o mundo e esse crescente ônus vem a representar um
custo enorme em termos de sofrimento humano, incapacidade e prejuízos econômicos (OMS, 2001).
No ano de 1989 foi dada entrada no Congresso Nacional
o projeto lei n.º 10.216/2001 do Deputado Paulo Delgado, que
propôs a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país
(Brasil, 2005). Somente no ano de 2001, após tramitação no
Congresso Nacional, é que a promulgação da referida lei foi
redirecionada à assistência em Saúde Mental, privilegiando o
oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária.
Caracterização dos usuários com esquizofrenia e outros transtornos psicóticos dos Centros de Atenção Psicossocial
Desde então, foram criados, para os portadores de sofrimento
psíquico, os Núcleos de Apoio Psicossociais (NAPS), que,
após alguns anos, ampliaram as atividades oferecidas, passando a se denominar Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e
Hospitais-dia (Brasil, 2004).
Os CAPS são distribuídos de acordo com características
discriminadas no atendimento a pacientes com transtornos
graves e persistentes. Têm-se três modalidades de serviços
estabelecidos: CAPS I – Serviço de Atenção Psicossocial com
capacidade operacional para atendimento em municípios com
população entre 20.00 e 70.000 habitantes; CAPS II – Serviço
de Atenção Psicossocial com capacidade operacional para
atendimento em municípios com população entre 70.000 e
200.00 habitantes; CAPS III – Serviço de Atenção Psicossocial
com capacidade operacional para atendimento em municípios com população acima de 200.000 habitantes. Também é
disponibilizado os CAPSi, para o atendimento de crianças e
adolescentes, e o CAPS/AD, que é o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (Brasil, 2005).
A função desse serviço é prestar atendimento clínico em
regime de atenção diária, evitando, assim, internação em
hospitais psiquiátricos e promovendo a inserção social das
pessoas com transtorno mental de forma gradual e planejada
(Brasil, 2009).
No Estado de Sergipe, após implantação dos CAPS, foi
criado dispositivo para regular o controle à internação, por
meio dos quais se destaca a obrigatoriedade do usuário, antes da admissão em clínicas psiquiátricas conveniadas pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), ser consultado pela urgência
psiquiátrica, à qual caberá deixá-lo por um período determinado para observação e estabilidade do quadro de crise ou
transferi-lo para as clínicas psiquiátricas. Há dois CAPS 24
horas na capital do Estado que atendem usuários em crise,
evitando assim a internação em hospitais (Brasil, 2007).
Este artigo teve o objetivo de descrever e analisar o perfil
psicossocial dos usuários com o diagnóstico psiquiátrico de
transtorno mental grave da esquizofrenia dos CAPS do Estado de Sergipe.
transtorno psicótico F20-F29 (CID-10) em um total de 1.814.
Foram considerados para o estudo 1.444 prontuários, segundo
os seguintes critérios de inclusão: ter todos os dados solicitados pelo formulário de entrevista inicial a fim de se obterem
todas as informações necessárias; frequência regular nos CAPS
do Estado de Sergipe, ou seja, que estivessem comparecendo
regularmente para o tratamento sem apresentar faltas durante
os meses de novembro e dezembro de 2008, que antecederam o
período de coleta de dados no mês de janeiro de 2009. Critérios
de exclusão: formulário do primeiro atendimento incompleto
ou usuário com mais de dois meses ausente do serviço.
Método
Trata-se de um estudo documental, transversal e descritivo, tendo como objeto o diagnóstico e as identificações dos
usuários dos Serviços de Referência em Saúde Mental (CAPS)
do Estado de Sergipe.
Considerações éticas
A pesquisa foi submetida à aprovação pela Coordenação
de Saúde Mental do Estado de Sergipe e Coordenadores dos
CAPS, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Tiradentes (UNIT) com aprovação (parecer n.o 081108), de
acordo com os Requisitos da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde e suas complementares, de modo a utilizar
os materiais e dados coletados com a garantia de total privacidade da identidade dos casos levantados nos prontuários.
Sujeitos
Foram examinados nesta pesquisa todos os prontuários de
usuários dos CAPS de Sergipe com diagnóstico psiquiátrico de
Locais
Todos os CAPS do Estado de Sergipe – dos CAPS I (20.00
e 70.000 habitantes), II (70.000 e 200.00 habitantes) e III
(acima de 200.000 habitantes), inaugurados entre os anos de
1999 e 2007 estão distribuídos em 19 municípios: Aquidabã,
Aracaju, Barra dos Coqueiros, Canindé do São Francisco, Estância, Itabaiana, Itabaianinha, Itaporanga, Japoatã, Lagarto,
Maruim, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Socorro, Poço Verde, Propriá, São Cristóvão, Salgado, Simão Dias,
Tobias Barreto.
Procedimentos
A coleta de dados foi realizada por meio do formulário
padronizado pelos Serviços de Saúde Mental, o qual é preenchido no decorrer dos primeiros atendimentos, constando os
dados sociodemográficos (gênero, idade, escolaridade, profissão, estado civil, renda pessoal, coabitação, data de admissão
no serviço e número de internação e tipo de transtorno psicótico F20-F29 segundo CID-10).
Para análise dos dados, os dados sistematizados alimentaram um banco construído através do software Statistical
Package of Social Science (SPSS) 16.0, que serviu de base para
a geração de tabelas com testes da estatística descritiva, como
distribuição de frequências absolutas e relativas, percentual
simples e análises bivariadas e teste qui-quadrado de Pearson
ao nível de significância estatística < 0,05%.
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Mônica Silva Silveira, Marlizete Maldonado Vargas, Francisco Prado Reis, Patricia da Silva
Resultados
O número total de usuários com diagnóstico de transtorno psicótico nos CAPS de Sergipe foi de 1.444, sendo 1.088
(75,3) com esquizofrenia e 356 (24,7) com outros tipos de
transtornos psicóticos (Tabela 1).
Ao relacionar a idade com o tipo de transtorno, observouse que, entre os usuários de 17 e 24 anos, 11,6% tinham o
diagnóstico de esquizofrenia. De 25 e 35 anos, 34,2% eram
esquizofrênicos e na faixa etária de 36 a 46 anos, o percentual foi de 28,6%. Dos usuários com mais de 46 anos, 25,6%
tinham diagnóstico esquizofrenia. Entretanto esses dados não
demonstram nível de significância estatística (Tabela 2).
Segundo os resultados da Tabela 3, ao analisar a frequência relativa da esquizofrenia de acordo com o gênero dos
usuários, 79,9% dos usuários do gênero masculino e 68,7% do
gênero feminino foram diagnosticados como esquizofrênicos,
sendo que a prevalência no grupo masculino foi fortemente
significativa.
Ao cruzar os dados do tipo de diagnóstico de transtorno psicótico com o exercício de uma profissão (Tabela 4),
Tabela 1 - Distribuição dos usuários com diagnóstico de transtornos
psicóticos nos Centros de Atenção Psicossocial do Estado de
Sergipe, 2008
Diagnóstico
Esquizofrenia*
Outros Transtornos**
Total
n
1088
356
1444
%
75,3
24,7
100
* Esquizofrenia (F20)
** Outros Transtornos: Esquizotípico (F21), Transtornos psicóticos agudos e
transitórios (F-23), Psicose não-orgânica não especificada (F-29)
observou-se que, dos usuários com esquizofrenia, 75,4% não
tinham profissão; 16,7% tinham profissão e 7,8% não constava
nenhum tipo de profissão no prontuário. Já os usuários com
outros transtornos psicóticos, 75,8% não tinham profissão;
17,1% possuem profissão e 7% não consta nenhum tipo de
profissão no prontuário.
Ao relacionar o diagnóstico de transtornos psicóticos
com o número de internações, os resultados mostram que
a maioria dos usuários com diagnóstico de esquizofrenia
já estiveram internados, havendo um discreto predomínio
de três a cinco internações. O teste do qui-quadrado de
Pearson aponta a significância estatística desses resultados
(Tabela 5).
Discussão
Constata-se a predominância do diagnóstico de esquizofrenia entre os usuários dos CAPS sergipanos. Não se encontraram estudos semelhantes, mas pode-se apontar o de Medeiros (2005), que fez um levantamento nos serviços de Saúde
Mental no Estado da Paraíba e encontrou a prevalência nos
diagnósticos do grupo das esquizofrenias e psicoses (24,45%).
Também, Coutinho et al. (2002), em pesquisa realizada com
3.223 pacientes internados em 20 hospitais psiquiátricos do
Rio de Janeiro, encontraram a esquizofrenia como diagnóstico mais frequente (42,1%).
Em relação à faixa etária, a de 20 a 39 anos, foi predominante no levantamento de Medeiros (2005) e uma faixa etária bem
mais ampla no estudo de Rabelo et al. (2005): de 22 a 50 anos.
Tabela 2 - Distribuição dos usuários com diagnóstico de transtornos psicóticos por faixa etária nos Centros de Atenção Psicossocial do
Estado de Sergipe, 2008
Faixa etária
<24
25-35
36-46
>46
Esquizofrenia*
n
338
286
299
165
%
11,6
34,2
28,6
25,6
Outros transtornos psicóticos**
n
%
138
14,9
104
32,6
94
29,5
20
23,3
Total
n
476
242
393
185
%
33,0
27,0
27,2
12,8
χ² = 6,412 (b); qui-quadrado de Pearson (p=0,347)
* Esquizofrenia (F20)
** Outros Transtornos: esquizotípico (F21), Transtornos psicóticos agudos e transitórios (F-23), Psicose não-orgânica não especificada (F-29)
Tabela 3 - Distribuição dos usuários com diagnóstico de transtornos psicóticos por sexo nos Centros de Atenção Psicossocial do Estado de
Sergipe, 2008
Sexo
Masculino
Feminino
Total
Esquizofrenia*
n
%
686
79,9
402
68,7
1088
75,3
Outros transtornos psicóticos**
n
%
173
20,1
183
31,3
356
24,7
Total
n
859
585
1444
χ² = 23,259(b); p < 0,000
* Esquizofrenia (F20)
** Outros Transtornos: Esquizotípico (F21), Transtornos psicóticos agudos e transitórios (F-23), Psicose não-orgânica não especificada (F-29)
30
Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (1): 27-32
%
100
100
100
Caracterização dos usuários com esquizofrenia e outros transtornos psicóticos dos Centros de Atenção Psicossocial
Tabela 4 - Distribuição dos usuários com diagnóstico de transtornos psicóticos por profissão nos Centros de Atenção Psicossocial do Estado
de Sergipe, 2008
Diagnóstico
Esquizofrenia*
Outros
Transtornos**
Total
Sem profissão
n
%
820
75,4
Com profissão
n
%
182
16,7
Sem informação
n
%
85
7,8
n
1087
Total
%
100
270
75,8
61
17,1
25
7
356
100
1090
75,5
2443
16,8
110
7,6
1444
100
χ² = 6,412(a); p = 0,88
* Esquizofrenia (F20)
** Outros Transtornos: Esquizotípico (F21), Transtornos psicóticos agudos e transitórios (F-23), Psicose não-orgânica não especificada (F-29)
Tabela 5 - Distribuição dos usuários com diagnóstico de transtornos psicóticos por número de internações nos Centros de Atenção
Psicossocial do Estado de Sergipe, 2008
Número de internações
Nenhuma
1a2
3a5
Mais de 6
Esquizofrenia*
n
338
286
299
165
%
31,1
26,3
27,5
15,2
Outros transtornos
Psicóticos**
n
%
138
38,8
104
29,2
94
26,4
20
5,6
Total
n
476
242
393
185
%
33,0
27,0
27,2
12,8
χ² = 24,871(a); p<0,0001
* Esquizofrenia (F20)
** Outros Transtornos: Esquizotípico (F21), Transtornos psicóticos agudos e transitórios (F-23), Psicose não-orgânica não especificada (F-29)
Em relação ao gênero dos usuários de serviços psiquiátricos ambulatoriais ou de internação, em todos os estudos
levantados encontrou-se que a predominância é masculina
(Coutinho et al., 2002; Medeiros, 2005; Rabelo et al., 2005),
sendo que, em alguns estudos, como o de Miranda et al.
(2008), a diferença relacionada ao gênero é altamente significativa. O gênero é um importante fator preditivo no curso e
evolução da esquizofrenia. O autor apontou que as mulheres
têm um prognóstico melhor que os homens em relação ao número de reinternações psiquiátricas. Os homens apresentam
também frequência maior de transtornos da personalidade
pré-mórbida, maior probabilidade de permanecerem solteiros
e idade de início da doença mais precoce (Chaves, 2000).
Estudos consideram que o estrógeno desempenhe papel de
proteção das mulheres para esquizofrenia, fazendo com que
as mesmas tenham idade de início mais tardia e requeiram
doses menores de neurolépticos. Também, os sintomas positivos (alucinações, delírios e perturbações do pensamento) e
sintomas negativos (pobreza na fala e pensamento) ocorrem
de formas menos grave que nos homens. Episódios psicóticos
agudos ocorrem em períodos do ciclo com baixos níveis de
estradiol (Usall, 2003; Huber et al., 2001).
Os transtornos mentais já representam, há décadas, quatro
das dez principais causas de incapacitação em todo o mundo
e esse crescente ônus vem a representar um custo enorme
em termos de sofrimento humano, incapacidade e prejuízos
econômicos (OMS, 2001).
Observa-se que ainda é muito alto o número de internações
dos usuários dos CAPS diagnosticados como portadores de es-
quizofrenia. Silva et al. (1999), no estudo sobre perfil demográfico e socioeconômico de internos em hospitais psiquiátricos,
afirmaram que a evolução da doença e das internações comprometem definitivamente a situação econômica desses pacientes.
No período entre a primeira internação psiquiátrica e aquela
por ocasião do censo, observou-se redução de 50% do número
sujeitos com alguma ocupação provedora de renda.
Segundo Rabelo et al. (2005), há altos percentuais de portadores de doenças psiquiátricas que não possuem documentos
de identificação civil, aliados aos diversos indicadores de risco
ou exclusão social encontrados na população de seus estudos.
A previsão da OMS de aumento de 3% nos transtornos
mentais e comportamentais que causam incapacidade grave
nos portadores para 2020 está ancorada em fatores de predisposição que compreendem a precariedade econômica,
a pobreza, o sexo, a idade, os conflitos e catástrofes, graves
doenças físicas e o ambiente familiar e social das populações
(OMS, 2001).
Observa-se que, no Brasil, a reestruturação da oferta de
serviços de saúde mental decorrente da reforma psiquiátrica
vem oportunizando a substituição na oferta de clínicas psiquiátricas por serviços extra-hospitalares. Nesse caso, o CAPS
tem sido referência de base para a população com transtorno
mental grave, reduzindo o número de leitos hospitalares e o
número de internações (Brasil, 2009).
Ainda é necessário se atentar para a necessidade de redimensionamento das atividades de planejamento na oferta
de serviços que direcione propostas terapêuticas compatíveis
com as comorbidades dessa população.
Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (1): 27-32
31
Mônica Silva Silveira, Marlizete Maldonado Vargas, Francisco Prado Reis, Patricia da Silva
Conclusão
O perfil psicossocial dos usuários dos CAPS do Estado de
Sergipe apresentou características sociodemográficas que corroboram outros estudos científicos, como o acometimento da
doença nos primeiros anos da vida adulta e o comprometimento
na preparação e no acesso ao mercado de trabalho. Observouse que o diagnóstico da esquizofrenia foi prevalente em todos
os CAPS investigados; que os usuários são, na sua maioria, do
gênero masculino, fato corroborado pela literatura.
Quando se relacionaram os transtornos psicóticos com
o número de internações, os resultados mostraram que, de
um modo geral, houve um número maior de internações em
virtude de outros transtornos psicóticos do que por esquizofrenia. Entretanto, na faixa de mais de seis internações, os
usuários com diagnóstico de esquizofrenia tiveram ocorrência
bem mais elevada que os portadores de outros transtornos. A
doença afeta o indivíduo na sua fase mais produtiva, sendo que
vários aspectos da sua vida são atingidos, provocando o comprometimento do funcionamento social e ocupacional dos portadores e, consequentemente, de seu ambiente familiar que, por
sua vez, pode representar um maior risco de comorbidades.
A articulação entre as instâncias do SUS e o processo de
gestão das políticas Nacional e Estadual com o Programa
Nacional de Avaliação do Sistema Hospitalar-Psiquiatria
(PNASH/Psiquiatria), prioridade nas políticas de desinstitucionalização, muitas vezes não são acompanhadas de uma
atenção integral ao usuário de Saúde Mental. Os usuários
desse sistema devem ser atendidos nas suas necessidades de
reintegração social, partindo da reconstrução de vínculos, por
meio dos quais se observa uma grande dependência dos pontos de vista pessoal e social, principalmente dos homens que
são acometidos precocemente com transtornos psicóticos.
Referências
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Recebido em: 08/07/2010
Aprovado em: 28/02/2011
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Caracterização dos usuários com esquizofrenia e outros transtornos