UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
ÉTICA E CONTEMPORANEIDADE
PROFESSOR ANTÔNIO CÉSAR
ACADÊMICA RITA MÁRCIA AMPARO MACEDO
Texto sobre o Discurso sobre as Ciências e as Artes – Se o
restabelecimento das ciências e das artes contribuiu para purificar o espírito.
Jean-Jacques Rousseau
Logo na advertência de seu discurso Rousseau enfatiza que o objetivo
maior de seu escrito é a preocupação com a felicidade do gênero humano e
que ele ousou escrever sobre o que ele considerava “à frente do seu tempo”
quando diz “é preciso não escrever para tais leitores, quando se quer viver
além de seu século.”
É com esse espírito filosófico que Rousseau começa escrevendo seu
discurso e com ele ganhou o prêmio da academia de Dijon no ano de 1750,
prêmio que para ser conquistado exigiu do autor modificações no texto original
para a adequação aos moldes da academia, que Rousseau deixa claro na
advertência, último parágrafo.
A questão central do discurso é: O estabelecimento das ciências e das
artes contribuiu para purificar ou para corromper os costumes?
Quando Rousseau trata a questão, ele levanta outro problema: Que
partido tomar? Ele põe à prova os ensinamentos da Academia como ele
mesmo deixa claro quando diz “não é a ciência que maltrato,..., é a virtude que
defendo diante de homens virtuosos.”
Parte 1 – Rousseau começa seu discurso com uma interpretação da
renovação do espírito do homem sobre o esclarecimento, a renovação de suas
convicções, através das luzes da razão buscando a compreensão sobre o
mundo, a natureza, procurando as respostas “a passos gigantes”, depois de
um longo período de ignorância. Trata-se de uma revolução para trazer o
homem à luz da razão.
“Foi o eterno flagelo das letras que as fez renascer entre nós.”
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Através das mudanças políticas e sociais que muda a visão européia
que possibilitou esse momento de revolução. “Na França as letras juntou-se a
arte de pensar”, procurando tornar os homens mais sociáveis.
“O espírito tem suas necessidades, assim como o corpo”. É assim que
Rousseau fundamenta a nova sociedade, dando as letras, as ciências e as
artes um papel prioritário nessa nova maneira do homem de se portar nessa
urbanidade de costumes. Quanto mais letrada uma sociedade mais imponente
e importante ela se torna “eis o gosto adquirido pelos bons estudos e
aperfeiçoamento no comércio do mundo.” A preocupação de Rousseau são os
moldes sobre as maneiras e as formas de ensinamentos das artes,
relembrando dos costumes rústicos, porém naturais. A natureza do homem
deve repousar na felicidade e no vigor da alma e não nas riquezas e nas
pompas do homem opulento, isso não são indícios de virtudes.
O papel das artes de modelar as nossas maneiras e ensinar uma forma
de linguagem as nossas paixões retira a naturalidade do homem uniformizando
os sentimentos, atitudes e gestos para uma vida em sociedade. Essa forma de
convivência adquirida pelos costumes europeus padronizam e perpetuam
hábitos que se tornam identidades de um povo.
Rousseau diz “... nossas almas se corrompem à medida que nossas
ciências e nossas artes se encaminharam para a perfeição.” Esse é um
processo comum de uma sociedade que deixa de levar em consideração
valores naturais individuais para uma (padronização) normatização das artes e
das ciências, desprezando as virtudes. A Europa passa por esse momento,
enquanto que outras civilizações já o passaram como o Egito, a Grécia, Roma,
Constantinopla, todas sucumbidas pelos maus costumes, da opulência dos
conhecimentos, da uniformidade do convívio social.
Fazendo oposição os pequenos povos (chamados bárbaros) preservam
seus costumes e fazem de suas virtudes sua própria felicidade.
Faz-se então uma comparação entre duas cidades gregas. Enquanto
Esparta despreza as artes, as ciências e a filosofia, Atenas torna-se a cidade
das artes, da filosofia, dos oradores, da linguagem e do bom gosto.
Sócrates como representante maior faz referencia à ignorância “Só sei
que nada sei”, desprezando dessa forma as vãs ciências, dando exemplo na
virtude.
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Roma por sua vez enfraqueceu-se após a negligenciar suas virtudes em
detrimento das transformações dos seus costumes.
O estado natural do homem o conserva bom e o contato com as ciências
corrompe sua natureza e Rousseau questiona “a ciência e a virtude seriam
incompatíveis?” Essa é uma maneira de confrontar o homem em seu estado
natural com esse novo homem amante das ciências e das artes e todo o
percurso histórico da evolução das sociedades.
Parte 2 – A criação mitologia das ciências pelos povos Egípcios e gregos
relatam um deus inimigo do repouso dos homens. Rousseau atribui ao
nascimento das ciências e das artes aos “vícios humanos “e faz a relação com
a certeza de seus objetivos “que faríamos das artes, sem o luxo que as nutre?
Sem as injustiças dos homens, de que serviria a jurisprudência?...”.
As incertezas dos caminhos científicos de investigação pode nos
conduzir a estradas falsas, mas a verdade é apenas uma, demonstrando uma
fragilidade dos percursos que as ciências fazem para chegar aos seus
objetivos, questionando seus resultados na vida prática do cidadão comum
questionando dessa maneira utilidade das ciências na vida do Estado.
O abuso do tempo, a vaidade e o luxo e são vistos como conseqüências
das ciências e das artes, sendo esses grandes males para os homens. O luxo
que representa o esplendor do Estado que para Rousseau um paradoxo “o luxo
é diretamente oposto aos bons costumes?”. Nesse contexto, para algumas
nações os homens são tratados como mercadorias, um homem só vale para o
Estado o que ele consome “... em algumas nações os homens não valem nada
e em outras valem menos do que nada”. Faz-se referência a povos pobres que
conquistaram nações que viviam na riqueza, fazendo uma reflexão sobre
valores e costumes sobre sabedoria, política e tesouros acumulados por anos
de Impérios. A virtude, a força e a coragem constroem nações duráveis.
Um artista que tem sua obra diversa, diferente do padrão de sua época
sofre em ter que adequar sua abra em detrimento ao reconhecimento social
dos seus contemporâneos. Esse dilema é representado na frase: “... o que não
sacrificastes de belezas másculas e fortes à nossa falsa delicadeza”. É
evidenciada dessa forma a corrupção dos do gosto. O artista que não atender
as exigências daquela dita civilização será esquecido, fadado ao anonimato,
talentos desperdiçados em detrimento de padrões estéticos que podam gênios.
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As formas simples de se retratar a natureza, relembrando e refletindo
sobre os costumes são cada vez mais esquecidas, a natureza pura e simples
cede lugar a pinturas extravagantes de imagens sublimes e santas que revelam
tempos magníficos.
Os costumes mudam o luxo de expande em detrimento da coragem que
se enerva, das virtudes que se dissipam, essa é a representação da
disseminação das ciências e das artes no Estado.
“Os romanos confessaram que a virtude militar se extinguira entre eles à
medida que começaram a se reconhecer em quadros, gravuras... e a cultivar
belas artes”.
O papel da educação nessa nova sociedade tem um papel fundamental,
pois educa os jovens para ensinar-lhes sobre ciências, letras e artes, porém
não lhes ensinam virtudes e costumes e seus deveres patrióticos, ignorando
sua própria língua, não reconhecendo seu passado, desprezando seus
antepassados.
Como educar as crianças então? O que fazer para torná-las cidadãos
que reconhecem a sua história identificando-se com sua origem e cultivando
bons costumes? O que elas não devem esquecer e o que devem aprender?
Procurar afastar-lhes das más ações, do contato com obras vis que não
acrescentam nenhum tipo de virtude, evitando os abusos dessa desigualdade
criada pela distinção de talentos.
O redimensionamento que a nova sociedade toma, reproduz uma
civilização de profissionais, enquanto que o cidadão se extingue. A própria
sociedade das ciências e das artes cria padrões para que seus membros se
adéqüem a fim de compartilhar os conhecimentos produzidos por ela. Essas
instituições consolidam a forma de governar seguida pelos reis da Europa,
esses homens das letras e das artes procuram seguir normas para poder
produzir suas obras e assim obterem o reconhecimento dentro das academias
a qual pertencem.
Isso permite que os cidadãos possam desfrutar de todo esse
conhecimento produzido, preenchendo uma lacuna que a própria sociedade
cria, “... pois que ninguém busca remédios para males que não existem”.
Em uma sociedade das ciências e das artes o papel do agricultor de
torna inferior ao do filósofo. Os filósofos se encarregam de transmitir
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conhecimentos advindos do convívio humano. Essa crítica a filosofia surge pela
necessidade de eternizar extravagâncias do espírito humano “como os
devaneios de Hobbes e os de Spinoza”, passando pela corrupção dos
costumes do seu século, chegando o dia em que os homens se agitará diante
de tanta perplexidade e quererá retornar ao seu estado de ignorância e de
inocência, pois entenderão que aqueles escritos não representam leis
imutáveis ou certezas eternas e que o espírito humano está corrompido pelas
palavras e pelo exacerbado valor que se dá as sociedades das ciências e das
artes, dessa maneira o homem voltaria ao seu estado de pureza de gosto e de
felicidade, resgatando as artes realmente úteis a uma sociedade com valores e
costumes que com o passar dos séculos ficariam na história da humanidade
com a capacidade de explicar fenômenos de forma atual, porque transcende ao
seu tempo, se torna imprescindível para a história do homem.
“A arte de conduzir os povos é mais difícil do que a de os esclarecer”.
Governar para a felicidade, utilizando os conhecimentos para a criação de um
estado de virtude, onde a ciência e o trabalho harmonioso conduzirá o gênero
humano à sua plenitude.
Aos homens das ciências e das artes que não conseguem transpor o
seu tempo pela qualidade de suas obras e pelo seu potencial de superação
resta a obscuridade, cultivando a virtude. Sendo a virtude tão simples, seria
necessário tantos artifícios para encontrá-la? Sendo essa a verdadeira filosofia,
escutar a voz da virtude com simplicidade fazendo a reflexão sobre a
importância de ter a virtude como elemento máximo, sem se importar com a
glória, voltando a viver em harmonia com o que se cultiva e o que se faz.
Com isso o discurso cumpre o seu papel de levar aos homens a clareza
da importância das virtudes e dos costumes para não corromper o seu espírito
de comunidade e dando real valor as coisas da natureza. O interesse patriótico,
de coletividade cede lugar à igualdade dos gestos, dos gostos e das artes
cabendo ao homem o papel de reavaliar se essa associação de interesses não
inibe a identidade do seu povo.
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Texto sobre o Discurso sobre as Ciências e as Artes