FAMAT em Revista Revista Científica Eletrônica da Faculdade de Matemática - FAMAT Universidade Federal de Uberlândia - UFU - MG Î ¥ Þ Problemas e Soluções Número 10 - Abril de 2008 www.famat.ufu.br 184 FAMAT em Revista - Número 10 - Abril de 2008 Comitê Editorial da Seção Problemas e Soluções do Número 10 da FAMAT EM REVISTA: Luiz Alberto Duran Salomão (coordenador da seção) Ednaldo Carvalho Guimarães Marcos Antônio da Câmara FAMAT em Revista - Número 10 - Abril de 2008 185 Problemas Propostos 37. Para todo número primo p, demonstre que os números p +1 + p± p +1 − p são ambos irracionais. 38. Demonstre que o polinômio X 2 n + X n + 1 é divisível pelo polinômio X 2 + X + 1 se, e somente se, n não é múltiplo de 3. 39. Seja ABC um triângulo que tem inraio (raio do círculo inscrito) r e circunraio (raio do círculo circunscrito) R. Demonstre que R ≥ 2r. 40. Seja P um ponto interior ao triângulo ABC cujos lados medem a, b e c e cuja área vale S. Demonstre que o produto das distâncias de P aos lados do triângulo é menor do 8S 3 que ou igual a , sendo que a igualdade ocorre somente se P for o baricentro do 27 abc triângulo. 186 FAMAT em Revista - Número 10 - Abril de 2008 Resolução dos Problemas da Revista número 9 33. Demonstre que a soma dos cubos de três números inteiros consecutivos é divisível por 9. 3 3 1a Resolução: Veja que n 3 + (n + 1) + (n + 2 ) = 3n 3 + 9n 2 + 15n + 9 . Portanto, bastanos mostrar que 3n 3 + 15n = 3n n 2 + 5 é divisível por 9. Para n = 3k , para algum inteiro k, é claro que 3n n 2 + 5 é múltiplo de 9. Caso n = 3k + 1 , n 2 + 5 = 9k 2 + 6k + 6 . Por fim, caso n = 3k + 2 , n 2 + 5 = 9k 2 + 12k + 9 . Assim, nos dois últimos casos, n 2 + 5 é, claramente, múltiplo de 3. Portanto, concluímos que 3n n 2 + 5 é múltiplo de 9 em ambos os casos. 2a Resolução (enviada pelo leitor Otoniel Nogueira da Silva): Observe que 3 3 n 3 + (n + 1) + (n + 2) =3(n³ - n) + 9( n² + 2n +1). Portanto, é suficiente mostrar que n 3 − n é múltiplo de 3, para todo inteiro n. Ora, pelo Pequeno Teorema de Fermat, n 3 ≡ n(mod 3) , o que quer dizer que n 3 − n é, de fato, divisível por 3, para todo inteiro n. ( ) ( ) ( ) 34. Em um tetraedro regular tomam-se seções paralelas a duas de suas arestas que não se intersectam. Determine a seção de área máxima. Resolução: Seja ABCD o tetraedro dado. O quadrilátero MNKL, obtido ao se intersectar o tetraedro com o plano, é um paralelogramo, com LK paralelo a MN e LM paralelo a NK. A área desse paralelogramo é dada pelo produto KN ⋅ KL ⋅ senα , onde α é a medida do ângulo LKˆ N . Portanto, a área da seção depende apenas do produto KN ⋅ KL já que senα é uma constante para todas as seções em questão. Representando por x o comprimento do segmento AK, teremos, como conseqüência da semelhança dos KN AD − x KL x triângulos envolvidos que = = e . Multiplicando essas duas AB AD CD AD AB ⋅ CD ( AD − x )x . Daí, como o fator igualdades termo a termo, obtemos KN ⋅ KL = AD 2 AB ⋅ CD é constante, o produto KN ⋅ KL será máximo quando o fator ( AD − x )x o for. AD 2 2 2 AD ⎞ ⎛ AD ⎞ ⎛ Porém, esse fator pode ser reescrito como − ⎜ x − ⎟ +⎜ ⎟ e, assim, é fácil ver 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ ⎝ AD que seu valor máximo é alcançado quando x = , o que conclui o problema. 2 35. A função f ( x) = cos x , definida para x ≥ 0 , é periódica? Justifique sua resposta. Resolução: Suponha que a resposta seja afirmativa. Assim, existe T > 0 tal que cos x + T = cos x , para todo x ≥ 0 . Nessa última igualdade, façamos primeiramente x=0 e, a seguir, x =T e obteremos, respectivamente, cos T = 1 e cos 2T = cos T = 1 . Daí, teremos simultaneamente que T = 2kπ e 2T = 2lπ , para determinados inteiros positivos k e l. Dessas duas últimas igualdades, dividindo uma pela outra, tiraremos que 2 = l , o que é uma k contradição. Portanto, a função f ( x) = cos x , definida para x ≥ 0 , não é periódica. FAMAT em Revista - Número 10 - Abril de 2008 187 36. De quantas maneiras 2n, sendo n um natural, pode ser expresso como a soma de quatro quadrados de números naturais? Justifique sua resposta. Resolução: Suponha que a 2 + b 2 + c 2 + d 2 = 2 n . Vamos representar por 2 p a maior potência de 2 que divide os quatro inteiros a, b, c e d. Dividindo ambos os membros da equação acima por (2 p ) = 2 2 p , obtemos a1 + b1 + c1 + d1 = 2 n − 2 p , onde pelo menos um dos quatro inteiros a1 , b1 , c1 e d1 é ímpar. Se exatamente um ou exatamente três dos 2 2 2 2 2 inteiros a1 , b1 , c1 e d1 forem ímpares, então a1 + b1 + c1 + d1 é ímpar e, portanto, nesses casos a igualdade inicial é impossível. Se dois desses inteiros são ímpares, digamos a1 = 2k + 1 e b1 = 2l + 1 , e os outros dois são pares, digamos c1 = 2m e d1 = 2n , então podemos escrever 2 2 2 2 [ ] a1 + b1 + c1 + d1 = 4k 2 + 4k + 1 + 4l 2 + 4l + 1 + 4m 2 + 4n 2 = 2 2(k 2 + k + l 2 + l + m 2 + n 2 ) + 1 o que é uma contradição, pois 2 n − 2 p não pode ter um fator ímpar. Por fim, se todos os quatro inteiros forem ímpares, digamos a1 = 2k + 1, b1 = 2l + 1, c1 = 2m + 1 e d1 = 2n + 1, teremos 2 2 2 2 a1 + b1 + c1 + d 1 = 4k 2 + 4k + 1 + 4l 2 + 4l + 1 + 4m 2 + 4m + 1 + 4n 2 + 4n + 1 2 2 2 2 = 4[k (k + 1) + l (l + 1) + m(m + 1) + n(n + 1) + 1] . Note que a expressão acima, interior aos colchetes, é ímpar; ainda, seu valor só pode 2 0 = 1. Isso acarreta que n − 2 p = 2, n = 2 p + 2, e k = l = m = n = 0, a1 = b1 = c1 = d1 = 1, a = b = c = d = 2 p . Concluindo, se n é ímpar, então 2 n não pode ser escrito como soma de quatro quadrados; se n é par, n = 2p, então 2n pode ser expresso como soma de quatro quadrados somente da seguinte maneira: ( 2 2 p = 2 p −1 ) + (2 ) + (2 ) + (2 ) . 2 p −1 2 p −1 2 p −1 2 188 FAMAT em Revista - Número 10 - Abril de 2008