VI Simpósio de Pós-Graduação e Pesquisa em Nutrição e Produção Animal – VNP – FMVZ – USP – 2012
PERCEPÇÃO DE CONSUMIDORES DE PRODUTOS ORGÂNICOS SOBRE
BEM-ESTAR ANIMAL
Fabíola Fernandes Schwartz¹; Augusto Hauber Gameiro2
¹Pós-graduanda, PPGADR/UFSCar, [email protected];
2
Professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal (FMVZ/USP),
[email protected]
INTRODUÇÃO
O bem-estar dos animais de produção é resultante das práticas de manejo
realizadas pelos produtores, que são reflexo da sinalização econômica que recebem dos
mercados (McINERNEY, 2004). Assim, como parte de pesquisa de mestrado sobre a
percepção social de bem-estar animal (BEA) na cadeia de produção de ovos orgânicos
no estado de São Paulo, buscou-se conhecer a percepção sobre BEA de consumidores
desta cadeia produtiva, reconhecendo-se a importância do posicionamento do
consumidor como fonte de pressão para a elaboração e aplicação de legislação e
impulso de mercados.
MATERIAL E MÉTODOS
No mês de abril de 2012 foram realizadas 32 entrevistas com consumidores em
três feiras de orgânicos do estado de São Paulo: na capital e nas cidades de Piracicaba e
Campinas. Os consumidores nas feiras foram abordados ao término de suas compras e
solicitados a responder questões de uma entrevista semiestruturada sobre seu
entendimento de BEA e o porquê de sua opção por produtos orgânicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos resultados mostrou-se condizente com outras pesquisas. Buscou-se
evidenciar as opiniões, sentimentos e intenções comportamentais dos entrevistados.
Quanto ao perfil socioeconômico dos entrevistados, 75% eram mulheres, com idade
entre 19 e 84 anos, e média de 51 anos; e homens entre 31 e 57 anos, com média de 41
anos. Entre os entrevistados homens 37,5% apresentaram renda de 4 a 10 salários
mínimos (sm) e outro grupo de 37,5%, renda acima de 20 sm. Entre as mulheres, 41,7%
apresentam renda entre 10 a 20 sm.
Quanto à escolaridade entre as mulheres, 56% tinha nível superior completo,
20%, ensino médio e 3%, ensino fundamental (relatado como “primário”). Entre os
homens, 87% tinham nível superior completo e 12, 5%, ensino médio.
Esses resultados, demonstrando a prevalência de consumidores do sexo
feminino, com renda média a alta e escolaridade de nível superior, são comuns a outras
pesquisas como as de Cerveira e Castro (1998a) na cidade de São Paulo, as de Rucinski
e Brandenburg (2005), na feira de orgânicos de Curitiba PR; Doriquetto et al. (2008)
em Vila Velha e Vitória/ES e Junqueira et al. (2010), no Distrito Federal.
Das razões para a opção por produtos orgânicos, a opção pelo consumo é
configurada fundamentalmente por questões de saúde, para 94% dos entrevistados. O
sabor como diferencial positivo foi citado por 22% dos entrevistados e a maior
durabilidade desses alimentos, por 9%. Apenas 6,25% mencionam questões ambientais
e um critério voltado a questões sociais, por exemplo; o comércio justo, foi mencionada
1
também por apenas 6,25%, que dizem preferir contemplar com sua opção de compra
diretamente os produtores, nas feiras, e não as redes de supermercados.
Especificamente quanto ao conhecimento sobre BEA e importância dada ao seu
conceito, 53% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento sobre o tema,
considerando importante e relevante as preocupações com BEA. No entanto, os
entrevistados não demonstram um conhecimento claro sobre o conceito e práticas de
BEA, havendo bastante confusão quanto à qualidade sanitária e organoléptica do
alimento (presença de hormônios na carne de frango, resíduos de antibióticos, sabor da
carne dependendo da ração que o animal recebe) e a qualidade de vida do animal
propriamente dita (vida livre e possibilidade de pastejo, abate humanitário).
Dos entrevistados, 24% consideram que o BEA tem um impacto positivo sobre a
qualidade sanitária e/ou organoléptica do produto; 25% já ouviram falar, mas têm um
conhecimento remoto ou deturpado deste conceito; 19% não sabem do que se trata ou
nunca ouviram falar e apenas 12,4% mencionam preocupação com o impacto ambiental
das criações animais; 34% tem a tendência de ver a qualidade dos alimentos de origem
animal, sob a ótica da saúde humana, confundindo a questão de bem estar animal com a
segurança do alimento oriundo destes animais. Confirma-se, assim, a tendência a um
posicionamento utilitarista da maioria da sociedade, conforme evidenciado por Molento
(2002). Uma vez inquiridos sobre o assunto, os entrevistados mostram-se compassivos
com a causa, mas 19% mencionam que esta questão não tem peso em sua opção de
compra.
Além disso, 9,4% dos entrevistados preferem não aprofundar os conhecimentos
sobre questões de BEA, uma vez que se sentem impotentes diante da situação, por não
vislumbrarem alternativas ao atual cenário da produção animal; 16% não aprovam a
abordagem sensacionalista normalmente dada às questões da falta de BEA nas
produções pecuárias convencionais. Consideram que este tipo de abordagem mais afasta
do que aproxima o consumidor das causas de BEA.
CONCLUSÕES
Os resultados destas entrevistas, em consonância com os de outros autores
citados, confirmam a carência de informação sobre BEA dos consumidores. Chama a
atenção esta carência de informação principalmente ao considerar-se o alto nível de
renda e escolaridade dos entrevistados.
Segundo Hötzel e Machado Filho (2004), Nordi et al. (2007) e Franchi et al.
(2012) a desinformação da sociedade com relação aos animais de produção tem sido um
fator limitante para a implantação do conceito de bem-estar animal. A difusão de
conhecimentos com relação ao bem-estar dos animais de produção, bem como sobre a
cadeia produtiva tendem a municiar a sociedade para um consumo mais ético.
Em prol do desenvolvimento ético e econômico das cadeias de produtos de
origem animal e, especificamente da cadeia de produção animal orgânica, que ainda
inicia a sua estruturação no país, sugere-se trabalhos de conscientização e educação da
população sobre o tema.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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livres
dos
municípios
de
Vila
Velha
e
Vitória,
ES.Disponível
em:
<
http://www.ecampo.com.br/Conteudo/Pesquisas/VisPesquisas.aspx?ch_top=1>Acesso em: 15 ago. 2012.
2
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orgânicas. 2010. Horticultura Brasileira, v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010.
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Disponível
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http://archive.defra.gov.uk/evidence/economics/foodfarm/reports/documents/animalwelfare.pdf>. Acesso em: 24 set.
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XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA - ZOOTEC, 2007, Londrina. Anais...Londrina: ABZ, 2007. 1
CD-ROM.
RUCINSKI. J.; BRANDENBURG, A. Consumidores de alimentos orgânicos em Curitiba. Paraná. 16.f.
Monografia de pós-graduação (Curso de Ecologia, Meio ambiente e Desenvolvimento) Universidade Federal do
Paraná, Paraná, 2005.
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