DESCONTAMINAÇÃO DE EQUIPAMENTOS
Por Edson Haddad, Mauro de Souza Teixeira e Agnaldo Ribeiro de Vasconcellos
1. Introdução
Os técnicos que estejam envolvidos no atendimento a acidentes envolvendo produtos
químicos perigosos podem se contaminar de diversas maneiras, tais como:
-
pelo contato com vapores, gases, névoas ou material particulado;
por respingos da substância química envolvida no acidente;
pelo contato direto com poças da substância;
pelo contato com solo contaminado;
quando da manipulação de instrumentos ou de equipamentos contaminados.
As roupas de proteção química e os equipamentos de proteção respiratória ajudam a
prevenir a contaminação do usuário. Boas práticas de trabalho também ajudam a reduzir
a contaminação de roupas, instrumentos e equipamentos. No entanto, mesmo seguindo
estas regras de segurança, poderá ocorrer a contaminação.
A descontaminação é um processo que consiste na remoção física dos contaminantes, ou
na alteração de sua natureza química para substâncias inócuas.
De acordo com os Limites de Toxicidade, por meio dos seus valores de DL-50 – Dose
Letal 50, conforme mencionado no Capítulo 3 e mostrado na Tabela 4, apresentados
adiante, existem distintos procedimentos de descontaminação, a saber:
-
procedimentos para substâncias químicas com baixa toxicidade;
procedimentos para substâncias químicas com média toxicidade;
procedimentos para substâncias químicas com alta toxicidade.
2. Procedimentos para descontaminação
O procedimento de descontaminação mais comum é aquele utilizado para as substâncias
com baixa toxicidade, sendo que este poderá ser realizado quando do retorno dos
trabalhos de campo.
Já, para as demais substâncias químicas, a descontaminação deverá ser iniciada ainda
no local da ocorrência, podendo, ou não, ser dada a sua continuidade quando do retorno
dos trabalhos em campo. Os procedimentos de descontaminação para produtos químicos
com alta toxicidade podem requerer, inclusive, a destruição total das roupas de proteção e
dos equipamentos utilizados. Nos procedimentos de descontaminação, o mais importante
é a minuciosidade e não a velocidade.
Observações:
A) Todos os membros da equipe encarregada de realizar os trabalhos de
descontaminação deverão utilizar roupas de proteção e equipamentos de proteção
respiratória, no mínimo um nível de proteção abaixo dos níveis de proteção adotados por
quem estiver sendo descontaminado.
1
B) Caso a descontaminação não puder ser realizada no local da ocorrência, as
roupas de proteção e os equipamentos portáteis de detecção que tenham sido utilizados
por quem estiver sendo descontaminado deverão ser colocados em invólucros plásticos,
para posterior descontaminação em local apropriado.
C) Todas as ferramentas, materiais e equipamentos diversos que tenham sido
utilizados no atendimento e tenham tido sido contaminados, também deverão ser
colocados em invólucros plásticos para posterior descontaminação em local apropriado.
2.1 Descontaminação de Substâncias Químicas com Baixa Toxicidade
(1) lavar toda a roupa com uma Solução fraca de Fosfato Trissódico (1% a 2%);
(2) enxaguar com água limpa;
(3) lavar os cilindros, as máscaras e os acessórios dos equipamentos de proteção
respiratória com uma Solução fraca de Fosfato Trissódico (1% a 2%), tendo-se o
cuidado de enxaguar, porém sem esfregar, as áreas ao redor das válvulas;
(4) enxaguar, novamente, todas as partes dos equipamentos com água limpa;
(5) lavar as mãos e o rosto com água e sabão;
(6) não fumar, não comer, não beber, nem tocar o rosto, antes de haver completado
todas as atividades previstas nas etapas anteriores.
Na Tabela 1, são apresentadas substâncias químicas com baixa toxicidade, para as quais
os procedimentos de descontaminação descritos neste capítulo são normalmente
adequados.
Tabela 1 – Substâncias químicas com baixa toxicidade
Acetato de Butila
Cloreto de Vinila
Acetofenona
Clorofórmio
Acetona
Cloropentano
Ácido Adípico
Dissulfeto de Carbono
Ácido Cloroisocianúrico
Etanoglicol
Ácido Oleico
Etilenoglicol
Ácido Oxálico
Etilmetilcetona
Álcool Etílico
Formaldeído
Álcool Metílico
Gasolina
Amônia
Glicerina
Benzeno
Hexilacril Metiletiléterato de Etila
Benzoato de Butila
Óleo Diesel
Butadieno
Óleo Lubrificante
Ciclohexano
Óleo Pesado
Cloreto de Amônio
2.2 Descontaminação de Substâncias Químicas com Média Toxicidade
Os procedimentos de descontaminação dessas substâncias podem ser realizados:
-
no local da ocorrência;
em local apropriado.
2
2.2.1 Descontaminação no Local da Ocorrência
(1) lavar as roupas de proteção e os equipamentos de proteção respiratória com água
limpa;
(2) após a lavagem, remover as roupas de proteção e os equipamentos de proteção
respiratória e colocá-los em invólucros plásticos, para o transporte;
(3) não fumar, não comer, não beber nem tocar o rosto, antes de haver completado
todas as atividades previstas nas etapas anteriores.
Observações:
A) Todos os membros da equipe encarregada de realizar os trabalhos de
descontaminação deverão utilizar roupas de proteção e equipamentos de proteção
respiratória, no mínimo um nível de proteção abaixo dos níveis de proteção adotados por
quem estiver sendo descontaminado.
B) Caso a descontaminação não puder ser realizada no local da ocorrência, as roupas e
os equipamentos portáteis de detecção, que tenham sido utilizados por quem estiver
sendo descontaminado, deverão ser colocados em invólucros plásticos para posterior
descontaminação em local apropriado.
C) Todas as ferramentas, materiais e equipamentos diversos que tenham sido utilizados
no atendimento e tenham tido qualquer contato com a substância química, também
deverão ser colocados em invólucros plásticos para posterior descontaminação em local
apropriado.
2.2.2 Descontaminação em Local Apropriado
(1) lavar e esfregar todos os equipamentos de proteção individual, tais como luvas,
botas e roupas de proteção;
(2) enxaguá-los com água limpa;
(3) lavar e esfregar os equipamentos de proteção respiratória;
(4) enxaguá-los com água limpa;
(5) remover e lavar todas as roupas que tenham sido utilizadas sob as roupas de
proteção;
(6) banhar-se com água e sabão, esfregando bem todo o corpo;
(7) ter especial cuidado para as áreas ao redor da boca e das fossas nasais e debaixo
das unhas;
(8) não fumar, não beber, não comer, não tocar o rosto nem urinar, antes de haver
completado todas as atividades previstas nas etapas anteriores.
Na Tabela 2, são apresentados exemplos de substâncias químicas com média toxicidade,
para as quais os procedimentos de descontaminação descritos neste capítulo são
normalmente adequados.
Tabela 2 – Substâncias químicas com média toxicidade
1,1,2 – Tricloroetano
Cumeno
1,4 – Dioxano
Dicloreto de Etileno
Acetaldeído
Diisoprorilamina
Ácido Clorídrico
Etilamina
Ácido Perclórico
Etilenoimina
Nitrometano
Oleum
Óxido de Etileno
Paraldeído
Pentaclorofenol
3
Acrilato de Etila
Flúor
Pentassulfeto de Fósforo
Acroleína
Fluoreto de Hidrogênio
Peróxido de Hidrogênio
Álcool Alílico
Fosfina
Piridina
Anilina
Hidreto de Lítio
Praguicidas, líquidos e sólidos
Brometo de Metila Hidrossulfito de Sódio
Sulfato de Dietila
Bromo
Hidróxido de Sódio
Sulfato de Dimetila
Cianeto de Mercúrio
Isopropilamina
Sulfeto de Dimetila
Ciclohexanol
Lítio
Sulfeto de Hidrogênio
Ciclohexano
Metilamina
Sulfeto de Potássio
Ciclopentano
Metilnaftaleno
Tetracarbonila de Níquel
Clorato de Potássio
Metilparation
Toluidina
Cloreto de Bromo Nitrato de Estrôncio
Trisulfato de Arsênio
Cloreto de Etila
Nitrato de Sódio
Vinil-Éter
Cloreto de Metila
Nitrobenzeno
Xilidina
Cloro
Nitrofenol
Zinco Dietílico
Cloronitrobenzano
Nitroglicerina
2.3 Descontaminação de Substâncias Químicas com Alta Toxicidade
Os procedimentos de descontaminação dessas substâncias podem ser realizados:
-
no local da ocorrência;
em local apropriado.
2.3.1 Descontaminação no Local da Ocorrência
(1) lavar as roupas de proteção e os equipamentos de proteção respiratória com água
limpa;
(2) após a lavagem, remover as roupas de proteção e os equipamentos de proteção
respiratória e colocá-los em invólucros plásticos para o transporte;
(3) não fumar, não comer, não beber nem tocar o rosto, antes de haver completado
todas as atividades previstas nas etapas anteriores.
2.3.2 Descontaminação em Local Apropriado
(1) lavar e esfregar todos os equipamentos de proteção individual, tais como luvas,
botas e roupas de proteção;
(2) enxaguá-los com água limpa;
(3) lavar e esfregar os equipamentos de proteção respiratória;
(4) enxaguá-los com água limpa;
(5) remover e lavar todas as roupas que tenham sido utilizadas sob as roupas de
proteção;
(6) banhar-se com água e sabão, esfregando bem todo o corpo;
(7) ter especial cuidado para as áreas ao redor da boca, das fossas nasais e debaixo
das unhas;
(8) não fumar, não beber, não comer, não tocar o rosto nem urinar, antes de haver
completado todas as atividades previstas nas etapas anteriores;
(9) procurar atendimento médico, informando-o sobre o produto envolvido na
ocorrência.
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Observação: Ao chegar ao local de trabalho, todos os invólucros plásticos contendo os
materiais contaminados deverão ser colocados em uma área isolada e ao ar livre, para
impedir o contato de outras pessoas com os mesmos.
Na Tabela 3, são apresentados exemplos de substâncias químicas com alta toxicidade,
para as quais os procedimentos de descontaminação descritos neste capítulo são
normalmente adequados.
Tabela 3 – Substâncias químicas com alta toxicidade
Acrilonitrila
Adiponitrila
Aldrin
Alilamina
Arsina
Cianeto de Hidrogênio
Cianogênio
Cloropicrina
di-Brometo de Etileno 2,4 – Diisocianato de Tolueno
Dioxina
Fósforo
Fosgênio
Metilhidrazina
Nitrato de Urânio
penta-Borano
penta-Sulfeto de Antimônio tetra-Etileno de Chumbo
tetra-Metileno de Chumbo tetra-Óxido de Nitrogênio
3. Recomendações
Nos casos em que houver a necessidade de ser realizada a substituição dos cilindros de
ar, as pessoas encarregadas de substituir os cilindros e de descontaminá-los, deverão
usar roupa de proteção e equipamento de proteção respiratória, devendo ser realizadas
as seguintes etapas:
(1) lavar o cilindro de ar com água limpa, antes do mesmo ser removido;
(2) colocar o cilindro removido e lavado em um invólucro plástico para o transporte
e a sua posterior descontaminação em local apropriado.
Outro aspecto importante, diz respeito à descontaminação de equipamentos que tenham
sido utilizados nos atendimentos envolvendo substâncias químicas.
Sempre que for possível, deverão ser adotadas ações apropriadas, de modo a prevenir a
contaminação dos equipamentos portáteis de detecção e de coleta de amostras.
Os equipamentos portáteis de detecção, normalmente, não são contaminados, a menos
que recebam respingos das substâncias químicas; porém, uma vez contaminados, tornase muito difícil limpá-los, sem danificá-los. Qualquer instrumento delicado que não possa
ser facilmente descontaminado deve ser protegido durante o seu uso. Os equipamentos,
então, podem ser envolvidos em sacos plásticos, dotados de algumas pequenas
aberturas, de forma a permitir a ventilação do equipamento e facilitar a realização das
medições necessárias.
Os equipamentos e materiais de madeira são difíceis de descontaminar, uma vez que os
mesmos absorvem substâncias químicas. Dessa forma, os mesmos deverão ser mantidos
no local e manuseados por técnicos que estejam utilizando equipamentos de proteção
individual adequados. Ao final do atendimento, esses equipamentos e materiais de
madeira deverão ser descartados.
5
Os veículos utilizados nos atendimentos, tais como caminhões, pás-carregadeiras e
outros equipamentos pesados são de difícil descontaminação. Normalmente, os métodos
de descontaminação mais utilizados consistem, basicamente, em se lavar o veículo com
água pressurizada ou esfregar as áreas acessíveis com uma solução de detergente e
água sob pressão. Especial cuidado deverá ser dado aos pneus, às esteiras e às pás dos
veículos. As pessoas encarregadas da descontaminação desses equipamentos deverão
estar adequadamente protegidas, pois o método de descontaminação empregado pode
gerar misturas e aerossóis contaminantes.
As soluções de lavagem e de limpeza deverão ser armazenadas, por exemplo, em uma
bacia grande ou em uma piscina pequena. Posteriormente, essas soluções deverão ser
transferidas para tambores, os quais, por sua vez, deverão ser rotulados adequadamente
e enviados para tratamento ou disposição final adequada.
Quanto às substâncias químicas que não se encontram listadas nos procedimentos aqui
apresentados, as mesmas poderão ser classificadas quanto à sua toxicidade, por meio do
seu valor de DL50 - Dose Letal 50, a qual representa a dose capaz de matar 50% da
espécie testada, a saber:
-
substâncias químicas de alta toxicidade: aquelas substâncias químicas cujo DL 50
Oral seja menor que 50 mg/kg ;
substâncias químicas de média toxicidade: aquelas substâncias químicas cujo DL50
Oral seja de 50 mg/kg a 5 g/kg ;
substâncias químicas de baixa toxicidade: aquelas substâncias químicas cujo DL50
Oral seja maior que 5 g/kg .
Na Tabela 4 são apresentadas Faixas de DL50 Oral, para ratos, e Faixas de Dose Letal
Provável, para o homem.
Tabela 4 – Faixas de “DL 50 oral, para ratos” e de “dose letal provável, para o
homem”
DL50 oral, para ratos (mg/kg)
Dose Letal Provável, para o homem
<1
algumas gotas
de 1 a 50
uma colher de chá
de 50 a 500
30 g ou 30 ml
de 500 a 5.000
500 g ou 500 ml
de 5.000 a 15.000
1 kg ou 1 litro
> 15.000
> 1 kg ou 1 litro
Fonte: Prof. Dr. Anthony Wong
4. Descontaminação em campo
Os procedimentos de descontaminação em campo dependem dos seguintes fatores:
-
planejamento inicial;
proteção para a equipe de descontaminação;
extensão da descontaminação;
eficácia da descontaminação;
equipamentos;
soluções para descontaminação;
estabelecimento de procedimentos.
6
4.1 Planejamento Inicial
No plano de descontaminação inicial assume-se que todas as pessoas e equipamentos
que deixaram o local do acidente encontram-se extremamente contaminados. O sistema
de trabalho é, então, estabelecido para a descontaminação, por meio da lavagem e
limpeza, pelo menos uma vez, de todas as roupas de proteção que tenham sido utilizadas
na operação.
Para tal, é estabelecido um corredor, denominado Corredor de Redução de Contaminação
e também conhecido por CRC, cuja extensão dependerá do número de estações que
forem necessárias para a completa descontaminação dos envolvidos, número esse que
variará de acordo com os tipos de roupa de proteção que foram utilizadas e com o espaço
disponível no local.
Os trabalhos iniciam-se na primeira estação, com a descontaminação do equipamento de
proteção que estiver mais contaminado – geralmente, são as luvas e as botas – e
avançam até a última estação, com a descontaminação do equipamento que estiver
menos contaminado.
Desta forma, a contaminação vai diminuindo à medida que a pessoa se movimenta de
uma estação para a outra mais à frente, sendo que cada procedimento requer uma
estação própria.
Dentro do CRC, todas as áreas distintas, de descontaminação dos técnicos, dos
equipamentos portáteis de detecção, das roupas removidas e demais equipamentos e
materiais, devem ser demarcadas com placas, indicando os procedimentos a serem
realizados em cada uma das estações e também para orientação da equipe a ser
descontaminada, sendo que o espaçamento entre cada uma das estações de
descontaminação deve ser, no mínimo, de 1 metro.
O plano inicial de descontaminação poderá ser modificado eliminando-se estações que
forem desnecessárias, ou mesmo, poderá ser adaptado para as condições locais. Por
exemplo, o plano inicial requer a lavagem e a limpeza completa das roupas de proteção,
no entanto, se forem utilizadas luvas, botas e roupas de proteção, todas descartáveis, as
etapas de lavagem e de limpeza desses materiais poderão ser omitidas. Assim, todas as
ações que são realizadas no CRC são limitadas pelas ações que devem ser executadas
em cada estação.
4.2 Proteção para a Equipe de Descontaminação
Os equipamentos de proteção individual a serem utilizados pela equipe de
descontaminação dependem do nível de proteção requerido, o qual é determinado por
alguns fatores, tais como:
-
expectativa de contaminação dos técnicos;
contaminação visível dos técnicos;
o tipo da substância química contaminante;
os riscos oferecidos pela substância química contaminante à pele e ao sistema
respiratório;
os materiais particulados e os vapores orgânicos e inorgânicos presentes na área do
CRC;
7
-
as concentrações desses gases e vapores.
Conforme já mencionado no Capítulo 2.2.1, a equipe encarregada de realizar os trabalhos
de descontaminação deverá utilizar roupas de proteção e equipamentos de proteção
respiratória, no mínimo, um nível de proteção abaixo dos níveis de proteção adotados por
quem estiver sendo descontaminado.
4.3 Extensão da Descontaminação
Os procedimentos de descontaminação podem ser extensos, em razão dos seguintes
fatores:
-
modificação do plano inicial;
tipo da substância química contaminante;
intensidade da contaminação;
níveis de proteção requeridos e tipos das roupas utilizadas;
atividades realizadas;
áreas de contaminação nas roupas de proteção;
motivos para se deixar o local do acidente.
4.3.1 Modificação do Plano Inicial
O plano de descontaminação inicial deve, obrigatoriamente, ser adaptado às condições
encontradas no local do acidente. Essas condições podem requerer mais ou menos
descontaminação que o inicialmente planejado e, também, dependerá de uma série de
fatores, alguns dos quais são destacados a seguir.
4.3.1.1 Tipo da Substância Química Contaminante
A extensão da descontaminação depende do efeito que a substância contaminante
apresenta para o corpo humano, sendo que os contaminantes não apresentam o mesmo
grau de toxicidade ou outro perigo associado.
Nas situações onde exista a suspeita ou o conhecimento de que os técnicos envolvidos
no atendimento poderão ser contaminados, é necessária a adoção de procedimentos para
a sua completa descontaminação. Se substâncias químicas menos perigosas estiverem
envolvidas, os procedimentos de descontaminação podem ser adotados em um nível
menor.
4.3.1.2 Intensidade da Contaminação
A intensidade da contaminação das roupas de proteção ou de outros objetos e
equipamentos, normalmente, é determinada visualmente. Se, na inspeção visual, for
constatada uma intensa contaminação, certamente uma descontaminação minuciosa será
necessária. Se uma grande quantidade de contaminante permanecer nas roupas de
proteção, por um longo período, o mesmo poderá infiltrar na roupa, ou seja, permear no
tecido ou mesmo danificá-lo.
4.3.1.3 Níveis de Proteção Requeridos e Tipos das Roupas Utilizadas
8
Os níveis de proteção e os tipos das roupas de proteção utilizadas determinam, em um
primeiro momento, o esquema da linha de descontaminação. Cada nível de proteção
requerido apresenta diferentes problemas na descontaminação dos equipamentos.
4.3.1.4 Atividades Realizadas
O trabalho que cada técnico executa no atendimento determina o potencial de sua
exposição às substâncias químicas. Assim, as atividades indicam o esquema da linha de
descontaminação. Por exemplo, fotógrafos, coletores de amostras e operadores de
equipamentos, bem como outras pessoas que estejam presentes na zona de exclusão
executando tarefas que não os coloquem em contato com os contaminantes, podem não
necessitar de lavagem e limpeza das suas roupas. Diferentes linhas de descontaminação
podem ser estabelecidas para as diferentes funções, bem como determinadas estações
podem ser omitidas no corredor de redução de descontaminação.
4.3.1.5 Áreas de Contaminação nas Roupas de Proteção
A contaminação das áreas superiores das roupas de proteção representa um risco maior,
uma vez que pode ocorrer a inalação de concentrações perigosas de compostos
orgânicos voláteis, tanto pelos técnicos que as utilizaram como pela equipe que realiza a
descontaminação.
4.3.1.6 Motivos para se Deixar o Local do Acidente
Os diferentes motivos para se deixar o local do acidente
necessidade e a extensão da descontaminação. Por exemplo,
zona de exclusão para receber ou entregar equipamentos
ferramentas ou outros instrumentos e, de imediato, retornou
necessitar de descontaminação.
também determinam a
um técnico que saiu da
portáteis de detecção,
àquele local, pode não
Já um técnico que saiu da zona de exclusão para substituir o cilindro de ar, ou para trocar
uma máscara ou um filtro de proteção, necessitará de algum grau de descontaminação.
As idas e vindas individuais ao CRC para uma pausa nos trabalhos, refeições ou ao
término das atividades no final do dia, necessitam, obrigatoriamente, de uma minuciosa
descontaminação.
4.4 Eficácia da Descontaminação
Não existe nenhum método para, imediatamente, se determinar quão eficaz e efetiva será
a descontaminação. Alterações da cor, manchas, danos provocados pela corrosão e a
presença de substâncias químicas ainda aderidas à superfície de equipamentos e de
objetos, são indicativos de que os contaminantes não foram totalmente removidos dos
equipamentos em descontaminação.
No entanto, a observação visual indica apenas a contaminação superficial e não a
permeação e a absorção pelas roupas, ferramentas e equipamentos, sendo que muitos
contaminantes não são facilmente notados. Um método simples para se determinar a
eficácia da descontaminação é o teste de limpeza, no qual, retalhos de tecidos e/ou de
papel são esfregados nos equipamentos e nos objetos suspeitos de estarem
contaminados e, a seguir, são analisados em laboratório.
9
4.5 Equipamentos
Os equipamentos, materiais e acessórios para descontaminação, geralmente, são
selecionados de acordo com a sua disponibilidade.
Outras considerações, tais como o fácil manuseio dos equipamentos, também devem ser
observadas. Por exemplo, escovas de cabo longo e escovas de cerdas macias podem ser
utilizadas na remoção dos contaminantes; baldes, regadores e borrifadores com água
podem ser utilizados para lavar e enxaguar os equipamentos. Piscinas infantis podem ser
utilizadas para receber as águas de lavagem; e, sacos plásticos e sacos de lixo podem
receber roupas e equipamentos contaminados.
4.6 Soluções para Descontaminação
Os equipamentos de proteção individual, as ferramentas e os demais equipamentos
contaminados, normalmente são limpos e descontaminados com água e/ou com um
produto detergente e com escovas de cabos longos e cerdas macias, enxaguando-se
posteriormente com água limpa. Uma vez que este processo pode não ser completamente
eficiente na remoção de alguns contaminantes, em alguns casos, a substância química
contaminante pode reagir com a água. Assim, uma boa opção é utilizar soluções
químicas, como descontaminante; porém, isso requer que a substância contaminante seja
identificada, sendo que a solução de descontaminação apropriada deve,
obrigatoriamente, ser selecionada e escolhida com a ajuda de um profissional de Química.
4.7 Estabelecimento de Procedimentos
Uma vez que os procedimentos de descontaminação tenham sido estabelecidos, todas as
pessoas que necessitarem ser descontaminadas deverão receber instruções precisas de
como proceder em cada estação de descontaminação. É recomendável que painéis sejam
colocados em cada estação, informando as atividades que ali deverão ser realizadas. O
tempo para a descontaminação também deve ser estimado, com antecedência. As
pessoas que estejam utilizando máscaras autônomas devem deixar as áreas de trabalho
com ar suficiente nos cilindros, de forma a poderem chegar ao CRC e, ali, passarem por
todas as etapas de descontaminação.
5. Procedimentos de descontaminação em campo
Os procedimentos de descontaminação em campo devem ser adaptados às condições
encontradas no local do acidente e devem ser realizados, conforme previsto no plano
inicial estabelecido.
5.1 Procedimentos de Descontaminação
Os procedimentos de descontaminação, basicamente, são os seguintes:
-
estação 1
estação 2
estação 3
estação 4
estação 5
estação 6
estação 7
=
=
=
=
=
=
=
entrega e separação dos equipamentos utilizados;
lavagem e enxágüe das luvas externas e das botas de proteção;
lavagem e enxágüe da roupa de proteção e do conjunto autônomo;
remoção do cilindro de ar, porém sem retirar a máscara de proteção;
remoção das botas de proteção;
remoção da roupa de proteção, sem retirar a máscara de proteção;
remoção das luvas de proteção externas;
10
-
estação 8 = lavagem, enxagúe e remoção das luvas de proteção internas;
estação 9 = remoção da máscara de proteção;
estação 10 = remoção das roupas internas;
estação 11 = lavagem do corpo;
estação 12 = vestimento de roupas limpas e calçados.
Observação: Conforme já mencionado, os encarregados dos trabalhos de
descontaminação deverão utilizar roupas de proteção e equipamentos de proteção
respiratória, no mínimo, um nível de proteção abaixo dos níveis de proteção adotados por
quem estiver sendo descontaminado.
5.1.1 Estação 1: Entrega e Separação dos Equipamentos Utilizados
➢
Procedimentos: receber os equipamentos utilizados, tais como equipamentos de
detecção ferramentas, materiais de coleta e rádios, separá-los e depositá-los em
invólucros plásticos.
➢ Equipamentos necessários: recipientes de vários tamanhos; invólucros plásticos.
5.1.2 Estação 2: Lavagem e Enxágüe das Luvas Externas e das Botas
➢
Procedimentos: esfregar as botas e as luvas externas, com a solução de
descontaminação ou detergente com água; enxaguar com água.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 80 litros a 110
litros; solução de descontaminação ou detergente; duas ou três escovas de cabo
longo; duas ou três escovas de cerdas macias; água limpa.
5.1.3 Estação 3: Lavagem e Enxágüe da Roupa de Proteção e do Conjunto
Autônomo
➢
Procedimentos: proteger as válvulas da máscara autônoma, para evitar o seu
contato com a água, embrulhando partes do conjunto de proteção respiratória em
um involucro plástico; lavar a roupa de proteção e a máscara autônoma,
esfregando-as, com escovas de cabo longo ou escovas de cerdas macias; utilizar
grande volume de solução de descontaminação ou detergente com água; lavar o
cilindro de ar com esponjas ou panos; enxaguar com água.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 110 litros a 180
litros; solução de descontaminação ou detergente com água; duas ou três escovas
de cabo longo; duas ou três escovas de cerdas macias; baldes pequenos;
esponjas ou panos; água limpa.
5.1.4 Estação 4: Remoção do Cilindro de Ar, Sem Retirar a Máscara de Proteção
➢
Procedimentos: desconectar a traquéia e fechar o cilindro; permanecer com a
máscara fixada ao rosto; remover o restante do equipamento e colocá-lo em um
recipiente adequado.
➢ Equipamentos necessários: invólucros plásticos ou bacias grandes.
5.1.5 Estação 5: Remoção das Botas de Proteção
➢
Procedimentos: remover as botas e depositá-las em um invólucro plástico.
11
➢
Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 110 litros a 180
litros; invólucros plásticos; bancos.
5.1.6 Estação 6: Remoção da Roupa de Proteção
➢
Procedimentos: remover a roupa de proteção e colocá-la em um invólucro
plástico.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 110 litros a 180
litros; invólucros plásticos; bancos.
5.1.7 Estação 7: Remoção das Luvas de Proteção Externas
➢
Procedimentos: remover as luvas externas e depositá-las em um invólucro
plástico.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 80 litros a 110
litros; invólucros plásticos.
5.1.8 Estação 8: Lavagem, Enxágüe e Remoção das Luvas de Proteção Internas
➢
Procedimentos: lavar com a solução de descontaminação ou detergente com
água; repetir esta ação, tantas vezes quantas forem necessárias; enxaguar com
água limpa.
➢ Equipamentos necessários:
bacia; solução de descontaminação ou
detergente com água; balde; mesa; invólucros plásticos; água limpa.
5.1.9 Estação 9: Remoção da Máscara de Proteção
➢
Procedimentos: remover a máscara de proteção e colocá-la em um invólucro
plástico; evitar o contato com o rosto da pessoa que estiver sendo
descontaminada.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 110 litros a 180
litros; invólucros plásticos.
5.1.10 Estação 10: Remoção das Roupas Internas
➢
Procedimentos: remover as roupas internas e colocá-las em um invólucro
plástico; observar que essas roupas internas devem ser removidas, o quanto antes
possível, uma vez que existe a possibilidade de que uma pequena quantidade da
substância química contaminante possa ter contaminado as roupas internas,
durante a remoção da roupa de proteção.
➢ Equipamentos necessários: recipientes com capacidade para 110 litros a 180
litros; invólucros plásticos.
5.1.11 Estação 11: Lavagem do Corpo
➢
Procedimentos: tomar banho, caso os contaminantes envolvidos forem altamente
tóxicos, corrosivos ou capazes de serem absorvidos pela pele; não sendo possível
o banho completo, lavar as mãos, os braços, o rosto, as pernas e os pés.
➢ Equipamentos necessários: água; sabão; chuveiro; balde ou bacia; toalhas;
bancos; mesa.
12
5.1.12 Estação 12: Vestimento de Roupas Limpas e Calçados
➢
Procedimentos: vestir roupas limpas e calçados
➢ Equipamentos necessários: mesas; cadeiras; armários; roupas limpas; calçados;
considerar que um veículo, preferencialmente um furgão, possa ser necessário
para essa etapa.
6. Bibliografia
-
HADDAD, Edson: Descontaminação, CETESB, São Paulo, 1990. 21p. (Apostila do
Treinamento de Hazmat, ao Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, São Paulo,
1990).
-
CETESB: Manual de Procedimentos para o Atendimento a Acidentes com Produtos
Químicos Divisão de Operações de Riscos, São Paulo, 1991.
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DESCONTAMINAÇÃO DE EQUIPAMENTOS