Dos Números Perplexos ao Espaço-Tempo de Minkowski José Carlos Cifuentes Departamento de Matemática Universidade Federal do Paraná [email protected] e [email protected] Minkowski (1864-1909) Homenagem ao sesquicentenário do nascimento de Hermann Minkowski Hermann Minkowski • Lituânia 22/06/1864 – Alemanha 12/01/1909. • Matemático e físico alemão, representante do pensar geométrico em áreas diferentes da geometria, especialmente na teoria de números: a geometria dos números (1896); e na física: a teoria do espaço-tempo como fundamento geométrico da teoria da relatividade de Einstein (1907-1908). • Estudou em Königsberg onde se doutorou com Lindemann em 1885 com uma tese sobre formas quadráticas n-dimensionais, foi colega de Hilbert em Königsberg e em Göttingen e mestre de Einstein na Politécnica de Zurique. I As Funções Hiperbólicas e os Números Perplexos x as Funções Circulares e os Números Complexos Trigonometria e Números Complexos: as fórmulas de Euler complexas • A relação íntima entre a trigonometria e os números complexos começa com a representação desses números em coordenadas polares. Vejamos: se z = x + iy, então, x = r cos e y = r sen , sendo r = z = x2 + y2 e = arg z, donde, z = r (cos + i sen ). • Chamemos de E() = cos + i sen . Então, usando noções de i cálculo diferencial e integral pode-se deduzir que E() = e . Donde i –i teremos e = cos + i sen e e = cos – i sen . Dai resultam as chamadas fórmulas de Euler complexas: cos = (ei + e–i) / 2 e sen = (ei – e–i) / 2i. • Essas fórmulas permitem expressar as funções circulares cosseno e seno em termos de números complexos permitindo uma grande síntese. • Também, devemos a Euler a chamada fórmula mais bela da i matemática, consequência das anteriores: e + 1 = 0 (Lindemann). Fórmula de Euler Mona Lisa de Da Vinci Definição das Funções Hiperbólicas • No cálculo elementar, as funções hiperbólicas são usualmente definidas, a partir da função exponencial, da seguinte maneira: cosh x = ( ex + ex ) / 2 e senh x = ( ex ex ) / 2. Explicitação das Analogias entre as Funções Hiperbólicas e as Funções Circulares Identidade Fundamental • cos2x – [–1]sen2x = 1 cosh2x – [1]senh2x = 1. Paridade • cos(–x) = cosx cosh(–x) = coshx; • sen(–x) = – senx senh(–x) = – senhx. Fórmulas da Adição • cos(x + y) = cosx cosy + [–1]senx seny cosh(x + y) = coshx coshy + [1]senhx senhy; • sen(x + y) = senx cosy + cosx seny senh(x + y) = senhx coshy + coshx senhy. Fórmulas do “Ângulo” Duplo • cos2x = cos2x + [–1]sen2x cosh2x = cosh2x + [1]senh2x; sen2x = 2senx cosx senh2x = 2senhx coshx. Derivadas • Dcosx = [–1]senx Dcoshx = [1]senhx; Dsenx = cosx Dsenhx = coshx. Outras Funções • tanx = senx / cosx tanhx = senhx / coshx; • tan(x + y) = (tanx + tany) / (1 + [–1]tanx tany) tanh(x + y) = (tanhx + tanhy) / (1 + [1]tanhx tanhy). Duas “Trigonometrias” no Plano Funções Circulares Funções Hiperbólicas Questão Norteadora • Qual a razão da analogia entre as funções circulares e as funções hiperbólicas, analogia observada através das diversas identidades que ambas as classes de funções satisfazem, se suas definições, no contexto da geometria analítica, são aparentemente diversas? Primeira Explicação • Uma primeira tentativa de explicação da analogia mencionada pode ser dada no contexto dos números complexos, já que as funções circulares, nesse contexto, adotam a forma das equações de Euler complexas: • cos x = ( eix + eix ) / 2 [cosh x = ( ex + ex ) / 2 e sen x = ( eix eix ) / 2i . e senh x = ( ex ex ) / 2.] • Essa observação, mais do que uma explicação das analogias, dá um indício de que existe ainda uma analogia oculta, a qual trataremos de desvendar nesse trabalho. II A Geometria do Plano Perplexo e a “Rotação” Hiperbólica O Plano Complexo C Representação Cartesiana Características • Conjugado de z = x + iy: z* = x – iy. • Norma: z2 = x2 + y2 = zz*. • zw = zw e z-1 = 1 /z (se z 0). • Círculo unitário: S1 = {z / z = 1}. • C é um corpo e S1 é um grupo multiplicativo. Rumo aos Números Perplexos I • As analogias entre as funções circulares e as funções hiperbólicas sugerem: a existência de uma “trigonometria” diferente da circular euclidiana relacionada com um sistema de números análogo aos números complexos. • Veremos que o novo sistema de números, os números perplexos, representam uma nova estrutura algébrica do plano R2, que não será mais euclidiano, para a qual as funções hiperbólicas constituem a sua “trigonometria”. Portanto, deixando explícito que a trigonometria do plano dependerá de sua estrutura algébrica. Rumo aos Números Perplexos II Como definir esse novo sistema de números? • Sabe-se que i é a unidade imaginária dos números complexos cujo quadrado é i2 = –1. Essa observação e o aparecimento de 1, ao invés de –1, nas fórmulas hiperbólicas anteriores sugere “redefinir” o plano complexo C tomando como unidade imaginária um elemento j cujo quadrado seja j2 = 1. • O novo plano H, que chamaremos de plano perplexo (ou plano hiperbólico devido a sua relação com as funções hiperbólicas), tem elementos da forma z = x + jy com j2 = 1 e, portanto, a seguinte multiplicação: (x1 + jy1)(x2 + jy2) = (x1x2 + [1]y1y2) + j(x1y2 + x2y1). Tais elementos serão chamados de números perplexos. • A multiplicação do plano complexo pode ser expressa como: (x1+iy1)(x2+iy2) = (x1x2 + [–1]y1y2) + i(x1y2 + x2y1). O Plano Perplexo • A partir dai se faz um estudo do plano perplexo H por analogia com o plano complexo C traduzindo diversos conceitos ou definindo os respectivos homólogos, como o conjugado, z* = (x + jy)* = x – jy, e a “norma”, (z) = zz*, isto é, (x + jy) = x2 – y2, que, no caso complexo, dá: z2 = zz* = x2 + y2. • Nesse estudo comparativo obtemos os seguintes resultados, dentre outros: 1) O novo produto, em analogia com o produto complexo, é associativo, 2 comutativo e distributivo a respeito da soma de R . 2) Como no caso complexo, (zw) = (z)(w). 3) Em H, em completa analogia com o caso de C (substituindo o conjugado e a norma complexos pelos seus correspondentes perplexos), temos z tem inverso (z) 0, nesse caso, z–1 = z*/(z). A equação (x + jy) = 0 representa, no plano H, as duas retas diagonais y = x e y = –x, enquanto que em C é apenas a origem. Representação Cartesiana do Plano Perplexo Outras Propriedades Algébricas • O produto de H admite divisores de zero, isto é, elementos não nulos tais que o produto com algum outro elemento não nulo é nulo. • Por exemplo, (1 + j)(1 – j) = 0. • z é divisor de zero (z) = 0. • Isto é, H não é um domínio de integridade, e menos um corpo como C, além disso, prova-se que H R[x] / (x2 – 1) C R[x] / (x2 + 1). As hipérboles, no gráfico, correspondem a (z) = 1 definindo o “círculo unitário hiperbólico” que denotaremos por H1. Ele é também um grupo. Algumas Leis no Plano Perplexo • Lei do Paralelogramo: (z + w) + (z – w) = 2((z) + (w)). • Produto Interno Indefinido: para z = x1 + jy1 e w = x2 + jy2, z , w = x1x2 – y1y2, de modo que z , w = Re(zw*) e (z) = z , z. • Lei de Polarização: z , w = ¼((z + w) – (z – w)). • Lei dos “Cossenos”: (z – w) = (z) + (w) – 2z , w. • Desigualdade de Schwarz Perplexa: z , w2 (z)(w). As Fórmulas de Euler Perplexas • A relação dos números perplexos com as funções hiperbólicas começa com a expressão desses números em forma paramétrica. • Vejamos: se z = x + jy, com (z) = r 0, então, existe uma única hipérbole equilátera, isto é, cujas assíntotas são as retas diagonais y = x e y = –x, 1/2 centrada na origem, de raio (vértice) r = (z) e passando por z, logo, no caso x > 0: x = r cosh e y = r senh , sendo um certo parâmetro. Dai, z = r (cosh + j senh ), em analogia com o caso complexo. • Como no caso complexo, chamando de H() = cosh + j senh , podemos j deduzir que H() = e . • Resumindo, temos ej= cosh + j senh e e–j = cosh – j senh , donde resultam as que chamaremos de fórmulas de Euler perplexas: cosh = (ej + e–j) / 2 e senh = (ej – e–j) / 2j, (comparar com as definições originais do cosseno e de seno hiperbólicos). Fórmulas de De Moivre Complexas • As seguintes fórmulas de De Moivre complexas são válidas: • E(1)E(2) = E(1 + 2). • E()-1 = E()* = E(–) e E()n = E(n) para todo n 0. • Observa-se, também, que E() = 1 para qualquer . • Daí resulta que o círculo unitário S1 é um grupo multiplicativo. Fórmulas de De Moivre Perplexas • As seguintes fórmulas de De Moivre perplexas, em analogia com o caso complexo, são também válidas: • H(1)H(2) = H(1 + 2). • H()-1 = H()* = H(–) e H()n = H(n) para todo n 0. • Observa-se, também, que (H()) = 1 para qualquer . • Em termos de H(), a forma hiperbólica dos números perplexos z tais que (z) 0 é a seguinte: • Caso I: (z) > 0 e x > 0 z = r(cosh + j senh ) = rH() = rej • Caso II: (z) > 0 e x < 0. z = r(–cosh + j senh ) = –rH(–) = –re–j • Caso III: (z) < 0 e y > 0. z = r(senh + j cosh ) = jrH() = jrej • Caso IV: (z) < 0 e y < 0. z = r(senh – j cosh ) = –jrH(–) = –jre–j O Grupo H1 e Alguns Subgrupos • Lembremos que H1 = {z H / (z) = 1}, constituído pelas duas hipérboles equiláteras de vértice 1 no plano perplexo. Seus ramos têm a seguinte forma exponencial, o que determina sua condição de grupo multiplicativo, o qual é não conexo. • Região I: z = ej • Região II: z = –e–j • Região III: z = jej • Região IV: z = –je–j • Os ramos I e III formam um subgrupo e o ramo I sozinho também, ele é conexo. Interpretação do “Ângulo” e a “Rotação” Hiperbólica • • • • • O ângulo hiperbólico que aparece nas fórmulas de representação hiperbólica não é um ângulo no sentido geométrico euclidiano, mas adquire o mesmo significado, em termos de uma área, que o ângulo euclidiano. Reinterpretação: Se z = r(cos + i sen ) com r 0, e A é a área que faz z com o eixo x positivo dentro do círculo de raio r, então, = 2A / r2. No caso perplexo temos exatamente a mesma situação: demonstra-se, por meio de uma integração, que o termo que aparece na representação hiperbólica de z, com (z) 0, é igual a 2A / r2, sendo A a área que forma z com o eixo x positivo e a hipérbole equilátera de raio r = (z)1/2 à qual z pertence. Uma rotação no plano complexo de ângulo no sentido antihorário, pode ser expressa mediante a multiplicação por ei. Isto é, se z é não nulo, então, rotar z por um ângulo significa deslocar z através da circunferência de raio r = (z)1/2 nesse ângulo. Isso nos permite definir, por analogia, uma rotação hiperbólica como a multiplicação por ej. Observa-se que se (z) 0, então, ejz é um deslocamento de z ao longo da hipérbole de raio r = (z)1/2 à qual z pertence. III Uma Interpretação Perplexa das Transformações de Lorentz da Teoria da Relatividade As Transformações de Galileu Sistemas Inerciais Transformações de Galileu As Transformações de Lorentz: invariancia da equação de ondas e da velocidade da luz Transformações de Lorentz Equação de D’Alembert (ondas de luz) As Transformações de Lorentz e sua Versão Perplexa Se uma partícula se move ao longo do eixo x com uma velocidade v qualquer, as transformações de Lorentz, a respeito dos sistemas de coordenadas do observador e da partícula, são as seguintes: t = (t – (v/c2)x) e x = (x – vt), onde = (1 – v2/c2)–1/2. Se re-escrevemos o plano perplexo como H = {z = ct + jx / t é a variável tempo, x é a variável espaço e c é uma constante positiva que tem dimensões de velocidade}, então, as transformações de Lorentz, no plano hiperbólico H, adotam a forma de uma rotação hiperbólica z = e–jz sendo = arctanh (v/c). Formulação Perplexa da Lei de Velocidades Relativista • Lei de Velocidades para a teoria da relatividade: Seja z = ej1z e z = ej2z, onde tanh 1 = v1/c e tanh 2 = v2/c. Então, a superposição dos dois movimentos dá z = ej(1+2)z, portanto, se v12 é a velocidade resultante, devemos ter tanh (1 + 2) = v12/c. Finalmente, como tanh (1 + 2) = (tanh 1 + tanh 2) / (1 + tanh 1tanh 2), concluímos que v12 = (v1 + v2) / (1 + v1v2/c2). Os números perplexos são também chamados de números espaço-temporais. IV Os Quatérnios de Hamilton e o Espaço-Tempo de Minkowski A Álgebra Tetradimensional dos Quatérnios Reais • • • • • A álgebra dos quatérnios é um sistema algébrico Q4 muito parecido com o corpo dos números complexos, porém tetradimensional (daí o índice 4) e com um produto não comutativo. Eles foram criados por W. R. Hamilton (1805-1865) em 1843 com o intuito de modelar matematicamente as rotações tridimensionais. Os quatérnios são definidos como elementos da forma w = t + xi + yj + zk com t, x, y, z R e i, j e k são três unidades imaginárias satisfazendo: i2 = j2 = k2 = –1 e ij = –ji = k, jk = –kj = i e ki = –ik = j. É conveniente apresentar os quatérnios do seguinte modo: Q4 = R R3, onde, se w1 = t1 + v1 e w2 = t2 + v2, então, define-se w1 + w2 = (t1 + t2) + (v1 + v2), e w1w2 = (t1t2 – v1 , v2) + (t1v2 + t2v1 + v1v2), sendo , e os produtos escalar e vetorial de R3 respectivamente. Se w = t + v, chamamos de parte real de w a Re(w) = t e parte vetorial de w a Vet(w) = v. Define-se, também, o conjugado e a norma da seguinte maneira: para w = t + v, w* = t – v e (w) = ww* = w2 = t2 + v2. Propriedades Estruturais de Q4 • Q4 é uma álgebra de divisão associativa, porém, não-comutativa, onde se w 0, então, w–1 = w*/(w). • A respeito da comutatividade temos que, se w1 = t1 + v1 e w2 = t2 + v2, então, w1w2 – w2w1 = 2(v1v2). • Em decorrência da propriedade acima, temos que o centro de Q4 resulta ser Z(Q4) = {w Q4 / para todo w’ Q4, ww’ = w’w } = R. • (w1w2)* = w2*w1*. • (w1w2) = w1w22 = w12w22 = (w1)(w2). • Se u R3 com u = 1, então, em Q4, u2 = –1, e o plano Cu = R Ru é isomorfo ao plano complexo C. • A álgebra Q4 não tem divisores de zero pois é associativa e de divisão. Extensão do Plano Perplexo H a R4 • O plano perplexo também pode ser estendido a R4 do seguinte modo: M4 = R R3, onde, se w1 = t1 + v1 e w2 = t2 + v2, então, define-se w1w2 = (t1t2 + v1 , v2) + (t1v2 + t2v1 + v1v2). • A definição anterior equivale a termos: i2 = j2 = k2 = 1 e ij = –ji = k, jk = –kj = i e ki = –ik = j. • Define-se, também, em analogia com o caso dos quatérnios, o conjugado e a norma da seguinte maneira: se w = t + v, então, w* = t – v e (w) = ww* = t2 – v2. Propriedades Estruturais de M4 • M4 é uma álgebra não-associativa e não-comutativa, onde se (w) 0, então, w é inversível e w–1 = w*/(w). • A respeito da comutatividade temos a mesma situação que em Q4: se w1 = t1 + v1 e w2 = t2 + v2, então, w1w2 – w2w1 = 2(v1v2). • Em decorrência disso, temos que o centro de M4 também resulta ser Z(M4) = R. • (w1w2)* = w2*w1*. • (w1w2) = (w1)(w2) – 2v1v22. • Se u R3 com u = 1, então, em M4, u2 = 1, e o plano Hu = R Ru é isomorfo ao plano perplexo H. • A álgebra M4 tem divisores de zero e eles são caracterizados por (w) = 0, isto é, t2 – v2 = 0, o que reproduz o chamado de cone de luz do espaço de Minkowski. • O espaço de Minkowski, na sua versão usual, é apresentado como iR R3, munido da forma quadrática q(it, x, y, z) = (it)2 + x2 + y2 + z2 = –t2 + x2 + y2 + z2. Nós acreditamos termos dado uma outra definição do espaço de Minkowski como uma álgebra, a álgebra de Minkowski. • Na formulação original, a variável t é substituída por it para dar uma aparência euclidiana a esse espaço. Na nossa formulação, o cone de luz corresponde aos divisores de zero da álgebra, os quais são exatamente os elementos não-inversíveis sendo que a forma quadrática q decorre do produto definido em M4: q(w) = –ww*. O Espaço-Tempo de Minkowski Conferência “Espaço e Tempo”: Minkowski, 21/09/1908 • “Doravante, o espaço por si só, e o tempo por si só, estão condenados a desvanecer-se em meras sombras, e apenas uma espécie de união dos dois preservará uma realidade independente”. V A Equação de Ondas e a Relação ESPAÇO + TEMPO = MOVIMENTO no Contexto dos Números Perplexos Teoria de Funções de Variável Perplexa I • Um capítulo muito importante no desenvolvimento da matemática dos números complexos é a teoria de funções e subseqüente cálculo complexo, isto é, a teoria da diferencial e da integral no plano complexo. Nesta seção daremos os primeiros passos no desenvolvimento de uma teoria análoga para o plano perplexo. Por exemplo, encontraremos condições de diferenciabilidade análogas às de Cauchy-Riemann, as quais nos conduzirão, no caso perplexo, ao invés da equação de Laplace, à equação de ondas unidimensional, chamada também de equação de D’Alembert. • Entendemos por funções perplexas, funções (de uma variável) da forma f : H onde R2. Podemos supor que é um subconjunto aberto e conexo de R2 quando for necessário. Vemos, então, que toda função desse tipo pode ser escrita como f(x , y) = u(x , y) + jv(x , y), sendo u = Re (f) e v = Im (f). Observa-se que f(x , y) = f(z , z*) pois x = (z + z*)/2 e y = (z – z*)/2j. Teoria de Funções de Variável Perplexa II • A função mais importante da análise matemática tal vez seja a função exponencial. No caso complexo, define-se, para z = x + iy, como exp z = ex(cos y + isen y) = ex E(y), • Observa-se que Re(exp z) = excos y e que Im(exp z) = exsen y. • No caso perplexo, podemos, recorrendo ao desenvolvimento em série de ejy, obter (lembrando que j2 = 1 e, portanto, jn = 1 para n par e jn = j para n ímpar) que ejy = cosh y + jsenh y, motivando a seguinte definição para a exponencial perplexa: exp z = ex(cosh y + jsenh y) = ex H(y). • Neste caso, Re(exp z) = excosh y e Im(exp z) = exsenh y. • Verifica-se, denotando por ez = exp z, que ez+w = ez ew. Diferenciabilidade de Funções Perplexas I • No caso perplexo, podemos tentar a mesma definição de diferenciabilidade que no caso complexo: se f = u + jv é uma função perplexa, e z é um elemento de seu domínio, definimos a derivada de f em z (se existir) como: Df(z) = limh0(f(z + h) – f(z)) / h. • Dizemos, então, que f é H-diferenciável em z. Nesse caso, h deve se aproximar de zero por caminhos diferentes das diagonais do plano, pois ai h não é inversível, e ter o mesmo limite por todos eles. Diferenciabilidade de Funções Perplexas II • • Se f é H-diferenciável em z, então, fazendo h se aproximar da origem pelos eixos x e y, como no caso complexo, pois ai h é inversível, e exigindo a igualdade dos dois limites, obtemos as que chamaremos de equações de Cauchy-Riemann perplexas para f no ponto z: u/x(z) = v/y(z) e u/y(z) = v/x(z), donde, como no caso complexo, Df(z) = u/x(z) + jv/x(z). Neste caso, combinando adequadamente as equações de Cauchy-Riemann obtemse que u e v são soluções da equação de D’Alembert no plano ou equação de ondas unidimensional: 2u/x2(z) – 2u/y2(z) = 0 e 2v/x2(z) – 2v/y2(z) = 0. Espaço + Tempo = Movimento • As condições de Cauchy-Riemann (complexas ou perplexas) equivalem à condição seguinte: f/z* = 0, o que significa que uma função f H-diferenciável é só função de z e não de z*, isto é, as variáveis x e y (ou t e x no caso físico) não são duas variáveis reais senão uma variável perplexa!!! • Podemos considerar a equação de ondas como a típica equação do movimento (da luz, se considerarmos a constante c). • Se u(x , y) é solução da equação de ondas, então u(x , y) é parte real de uma função perplexa H-diferenciável, portanto, que só depende de z!!! • Isso dá significado à relação espaço + tempo = movimento, pois as equações de Lorentz constituem uma transformação de “rotação” dadas por uma exponencial que é H-diferenciável. VI Outros Rumos: O Plano Parabólico As Estruturas Canônicas do Plano • Uma análise de todas as estruturas algébricas do plano resulta de tomar como unidade imaginária um elemento e tal que e2 = + e com e números reais dados. • A partir de uma análise da existência de inversos, consegue-se definir, para z = x + ey: z* = (x + y) – ey e (z) = zz* = (x + (/2)y)2 – (D/4)y2 onde D = 2 + 4, de modo que o inverso de z, no caso de existir, tenha a forma z–1 = z*/(z). • A menos de isomorfismo, só existem três estruturas possíveis do plano: i) o plano complexo C, que corresponde a e2 = –1 no caso D < 0, ii) o plano perplexo H (plano hiperbólico ), que corresponde a e2 = 1 no caso D > 0, e iii) um terceiro plano, que chamaremos de plano parabólico P, que corresponde a e2 = 0 no caso D = 0, e para o qual pode-se tomar como unidade imaginária um elemento k, sendo, então, que todo z em P é da forma z = x + ky com k2 = 0. O Plano Parabólico • No plano parabólico P, o conjugado e a norma adotam a seguinte forma: z* = x – ky e (z) = zz* = x2. • Um elemento z = x + ky é inversível se e somente se x 0. Vemos, então, que o eixo y corresponde aos elementos não inversíveis de P. • A norma provém também de um produto interno (não definido positivo) dado também por z , w = Re(zw*) = x1x2 se z = x1 + ky1 e w = x2 + ky2. • Nesse caso, é satisfeita a seguinte (des)igualdade de Schwarz: z , w2 = (z)(w). Um Fato Inesperado! • Os planos C e H não podem ser linearmente ordenados de modo que a ordem seja compatível com as operações algébricas, isto é, de modo que sejam satisfeitas as seguintes propriedades: z w implica z + u w + u, e z w e u 0 implica zu wu. No entanto, o plano parabólico P pode ser linearmente ordenado pela ordem lexicográfica, isto é, a ordem seguinte: x + ky r + ks se x r e, no caso de ser x = r, se y s. Nesse caso, o “plano” P admite, então, uma reinterpretação como uma “reta” não-standard, isto é, uma reta estendida com elementos novos infinitamente próximos de cada número real e, portanto, com elementos infinitesimais, isto é, infinitamente próximos de zero. De fato, todo elemento da forma ky é um infinitesimal no sentido de que para qualquer real positivo r temos, – r ky r. • O plano parabólico é, portanto, uma reta, e a matemática dos números parabólicos, em particular, a análise matemática sobre essa reta, está ainda para ser desenvolvida! O “Plano” Parabólico • No plano parabólico, obtemos que ekx = 1 + kx, donde a analogia força construir uma nova trigonometria definindo as funções cosseno parabólico e seno parabólico da seguinte maneira: cosp x = 1 e senp x = x. • A função tangente parabólica pode também ser definida como tanp x = senp x/cosp x = x. • Para as funções parabólicas obtemos, dentre outras, as seguintes identidades: • cosp2 x – [0]senp2 x = 1, • cosp (x + y) = cosp x cosp y – [0]senp x senp y, • senp (x + y) = senp x cosp y + cosp x senp y, • Dcosp x = [0]senp x e Dsenp x = cosp x. • Do ponto de vista gráfico, as funções parabólicas são um caso limite entre as funções circulares e as hiperbólicas. A analogia é completa! A “Rotação Parabólica” e as Transformações de Galileu • No caso parabólico, se z = e– kz é uma “rotação” no plano P (= {z = ct + kx / t é a variável tempo, x é a variável espaço e c é uma constante positiva que tem dimensões de velocidade}), com = arctanp (v/c) = v/c, então, a rotação mencionada é equivalente à seguinte transformação: t = t e x = x – vt, que são as conhecidas transformações de Galileu da física Newtoniana. • É um maravilhoso ponto de contato entre Matemática e Física e uma bela homenagem aos 450 anos do nascimento de Galileu! • Aqui cabe a seguinte pergunta: a que “realidade” física corresponde uma rotação (euclidiana) no plano complexo C?